Centro Universitário de Belo Horizonte DANIELA BELINELLI SILVA O LADO AVESSO DA INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS – internacionalização defensiva em um cenário incipiente BELO HORIZONTE 2008 AcroPDF - A Quality PDF Writer and PDF Converter to create PDF files. To remove the line, buy a license. 3 DANIELA BELINELLI SILVA O LADO AVESSO DA INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS – internacionalização defensiva em um cenário incipiente Monografia apresentada ao Centro Universitário de Belo Horizonte como requisito parcial à obtenção do título de bacharel em Relações Internacionais Orientador: Clégis Dolabella Romeiro BELO HORIZONTE 2008 AcroPDF - A Quality PDF Writer and PDF Converter to create PDF files. To remove the line, buy a license. 4 DANIELA BELINELLI SILVA O LADO AVESSO DA INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS – internacionalização defensiva em um cenário incipiente Monografia apresentada ao Centro Universitário de Belo Horizonte como requisito parcial à obtenção do título de bacharel em Relações Internacionais Área de concentração: Ciências Humanas Monografia aprovada em: 11 de dezembro de 2008. Banca examinadora: _____________________________________________________________________________________ Prof. Cláudio José Faleiros, Uni-BH _____________________________________________________________________________________ Prof. Sandra Elisabeth de Leão Rodrigues Diniz, Uni-BH AcroPDF - A Quality PDF Writer and PDF Converter to create PDF files. To remove the line, buy a license. 5 Aos meus pais, Vera Lúcia e Hélio Olímpio, dedico. AcroPDF - A Quality PDF Writer and PDF Converter to create PDF files. To remove the line, buy a license. 6 Sinceros agradecimentos aos meus pais, eles foram peças essenciais à realização desse sonho, uma vez que almejam para mim um futuro muito mais promissor que eu própria poderia desejar; o amor e esperança deles me fizeram continuar e conseguir vencer. Não poderia deixar de agradecer toda minha família, que enumeradas vezes me colocaram em suas orações, aos amigos por todo apoio e momentos felizes; e ao meu namorado Felipe, pelas horas de dedicação, por todo amor e por estar sempre do meu lado me mostrando que além de sonhar, realizar também é possível. Agradeço ao meu orientador Clégis Romeiro, por toda dedicação, paciência, atenção, compartilhamento de idéias e conhecimentos. E a Deus além de agradecer, eu peço que fique sempre comigo. AcroPDF - A Quality PDF Writer and PDF Converter to create PDF files. To remove the line, buy a license. 7 “O sucesso nasce do querer, da determinação e persistência em se chegar a um objetivo. Mesmo não atingindo o alvo, quem busca e vence obstáculos, no mínimo fará coisas admiráveis”. (José de Alencar) AcroPDF - A Quality PDF Writer and PDF Converter to create PDF files. To remove the line, buy a license. 8 RESUMO Esta monografia trata do lado avesso da internacionalização das empresas brasileiras, o enfoque é dado na implementação de uma estratégia defensiva em um palco onde a internacionalização de empresas é um fenômeno ainda incipiente. O capítulo um busca prover informações necessárias, assim como teóricas – abrange globalização, internacionalização de empresas, o Brasil e o comércio internacional – para o melhor entendimento e correlação de vertentes presentes no capítulo dois. Este primeiramente compreende o lado positivo da internacionalização das empresas brasileiras, o que dá margem à notificação de outro movimento presente, o da internacionalização defensiva; que tem como hipótese a motivação de fuga de custos nacionais. O objetivo deste trabalho é delimitar as motivações e extremar os resultados visíveis da ainda incipiente internacionalização das empresas brasileiras, introduzindo o lado avesso dessa. Palavras-chave: Globalização. Brasil e o Comércio Internacional. Internacionalização de empresas. Internacionalização Defensiva e Incipiente. AcroPDF - A Quality PDF Writer and PDF Converter to create PDF files. To remove the line, buy a license. 9 LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Os principais vendedores de produtos para o Brasil................................... 31 Tabela 2 – Os principais compradores dos produtos brasileiros................................... 31 Tabela 3 – Características das firmas exportadoras brasileiras.................................... 34 Tabela 4 – Setores de potenciais exportadoras brasileiras........................................... 34 Tabela 5 – Aglomerações industriais exportadoras de grande escala.......................... 35 Tabela 6 – As 100 Empresas Multinacionais Emergentes Mais Transnacionalizadas Origem, Incidência Setorial e Grau de Internacionalização – 2005............................... 45 Tabela 7 – As 100 Empresas Emergentes com Capacidade de Desafiar Globalmente as Incumbentes Setoriais - 2006........................................................................................ 48 Tabela 8 – Tendência de Resposta Empresarial aos Fatores de Impulsão à Internacionalização........................................................................................................ 49 AcroPDF - A Quality PDF Writer and PDF Converter to create PDF files. To remove the line, buy a license. 10 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 – Distribuição da população brasileira por região......................................... 32 Gráfico 2 – Brasil. Participação na importação brasileira (por estado)2005................. 36 Gráfico 3 – Brasil. Exportações e importações totais (em toneladas) – 1989 -2005.... 37 Gráfico 4 – Investimento Externo Direto no Brasil........................................................ 40 AcroPDF - A Quality PDF Writer and PDF Converter to create PDF files. To remove the line, buy a license. 11 LISTA DE QUADROS Quadro 1 – Identificação dos riscos internos................................................................ 22 Quadro 2 – Identificação dos riscos externos............................................................... 24 Quadro 3 – Geral Brasil................................................................................................ 33 AcroPDF - A Quality PDF Writer and PDF Converter to create PDF files. To remove the line, buy a license. 12 SUMÁRIO Pág. INTRODUÇÃO......................................................................................................... 1 GLOBALIZAÇÃO, CONSIDERAÇÕES INTERNACIONALIZAÇÃO SOBRE A INSERÇÃO DE ECONÕMICA 13 EMPRESAS DO BRASIL E NO MUNDO.................................................................................................................... 15 1.1 Globalização: interpretações sobre o fenômeno................................................ 15 1.2. Fatores determinantes da internacionalização de empresas............................ 19 1.3. Considerações sobre a inserção econômica do Brasil no mundo..................... 25 2 O LADO AVESSO DA INTERNACIONALIZAÇÃO DAS EMPRESAS BRASILEIRAS – INTERNACIONALIZAÇÃO DEFENSIVA EM UM CENÁRIO INCIPIENTE.......... 38 2.1. Internacionalização das empresas brasileiras................................................... 38 2.1. Internacionalização defensiva em um cenário incipiente.................................. 42 3 CONCLUSÃO....................................................................................................... 52 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................................ 55 AcroPDF - A Quality PDF Writer and PDF Converter to create PDF files. To remove the line, buy a license. 13 INTRODUÇÃO O princípio ordenador de tudo é definido a partir de um fenômeno, o da globalização. Este fenômeno nos remete à idéia de interdependência entre os países, não somente no campo econômico, mas também nas esferas política, social e cultural. É inerente a este processo o desenvolvimento e alastramento das tecnologias de informação e comunicação, e o acesso a meios de transportes cada vez mais velozes e baratos, facilitando a utilização dos mesmos. Uma de suas expressões mais evidentes é a abertura da economia, haja vista que a globalização financeira proporciona a livre circulação de produtos e capitais entre os países, o que a priori tende a aumentar o bem-estar social, pois o indivíduo passa a ter mais variedades e oportunidades. Elementarmente, com a crescente participação do comércio externo na oferta e demanda de bens e serviços domésticos, a maior concorrência leva a busca de eficiência, eficácia e qualidade. Com o processo, surgiu também a possibilidade de empresas adentrarem territórios estrangeiros – com a globalização produtiva, foi possível também transnacionalizar a produção –, almejando melhores condições de produção e a evidente maximização dos lucros. De forma nominal ao Brasil, tal abertura foi fator fundamental para a modernização da economia interna. O consumidor brasileiro passou a contar com produtos importados, classificados como de maior qualidade e menor preço, o que, conseqüentemente, levou as empresas brasileiras a disponibilizarem também produtos com menores preços e maior qualidade. É fato que o processo de globalização atingiu de forma surpreendente e rápida as relações internacionais entre países e empresas. AcroPDF - A Quality PDF Writer and PDF Converter to create PDF files. To remove the line, buy a license. 14 O investimento no país estrangeiro, feito por empresas de países emergentes, como é o caso do Brasil, é um fenômeno que pode ser considerado recente. Desde a crise do início do ano de 1980, surgiu a necessidade de internacionalizar as empresas nacionais para concretizar o sistema industrial implementado no Brasil, ainda jovem na época. Porém após uma grande espera, o que pode ser percebido hodiernamente é que quando o movimento de internacionalização de empresas brasileiras começa a ganhar fôlego, verifica-se que o processo está acontecendo às avessas. Em certo sentido, o processo de internacionalização é pensado como uma forma de as empresas se resguardarem das oscilações encontradas em seus países de procedência. Comumente, a internacionalização é vista como a consolidação de uma estratégia produtiva de expansão da empresa, com o acúmulo de eficiência, eficácia e competências, que habilita a pujança de produzir no exterior. Porém ultimamente, várias empresas que não possuem “status de líderes”, mas que encontram entraves no mercado interno, grande oneração tributária e excesso de burocracia, partem para a internacionalização como um processo defensivo; como uma reação à impossibilidade de crescer internamente. Este processo sublinha a predominância de fatores microeconômicos adversos ao crescimento das empresas em solo nacional. Diante destes fatos torna-se imprescindível voltar as atenções para a internacionalização defensiva, sendo esta a internacionalização vista do lado avesso, pois o Brasil ainda apresenta um grau incipiente – dado o envolvimento tardio com o mercado internacional – de empresas nacionais em âmbito internacional, e também pelo fato de ser uma economia em desenvolvimento, incapaz de lidar e sustentar esse tipo de distorção estrutural, reforçam a importância do estudo e conscientização do tema. AcroPDF - A Quality PDF Writer and PDF Converter to create PDF files. To remove the line, buy a license. 15 1 GLOBALIZAÇÃO, INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS E CONSIDERAÇÕES SOBRE A INSERÇÃO ECONÔMICA DO BRASIL NO MUNDO. 1.1 GLOBALIZAÇÃO: Interpretações sobre o fenômeno O termo "globalização" tem sido empregado como um neologismo, não existe uma definição que seja aceita por todos. Pode ser tudo e pode ser nada. Sim, porque, a rigor, nada é sinônimo de tudo… Na verdade, tudo é uma evasiva, pois não esclarece nada. Tudo é resposta de preguiçoso. É resposta de quem não quer se comprometer. Eis a resposta mais simples e contundente para definir globalização: é a interdependência financeira entre as nações. Se quiser se estender: é a conjunção de forças poderosas, onde se destaca a tecnologia, que torna as nações interdependentes, financeiramente e economicamente. (PELUFFO, 2008, grifo nosso). Globalização é freqüentemente associado a jargões econômicos e, de forma mais específica, ao crescente acesso a meios de comunicação e trocas de informações, assim como a mobilidade internacional do capital e de produtos. Apesar de divergentes concepções, observa-se um relativo consenso de que é a representação de um fenômeno que confere enormes desafios, a globalização abrange mais do que o fluxo monetário e de mercadorias; implica a interdependência dos países e das pessoas, além da uniformização de padrões como está ocorrendo em todo o mundo, compreende também o espaço social e cultural. A partir de um ponto de vista econômico sobre o fenômeno da globalização, este pode ser dividido em dois processos principais, são eles: globalização financeira e globalização produtiva. AcroPDF - A Quality PDF Writer and PDF Converter to create PDF files. To remove the line, buy a license. 16 Na Globalização Financeira pode ser apontado o grau de mobilidade dos capitais como o elemento central dessa nova ordem. Assim, a globalização financeira pode ser caracterizada como uma ordem na qual são eliminadas as restrições à mobilidade de capital. Este fenômeno vem tomando forma desde os anos 80 e abrange os processos de expansão dos fluxos financeiros internacionais, que pode ser representado em forma de empréstimos, financiamentos e investimentos em portfólio1; abrange tanto os países desenvolvidos quanto os subdesenvolvidos. Compreende o aumento do grau de integração entre os sistemas financeiros nacionais, de maneira que títulos e ações passam a pertencer a pessoas de outros países – o que aumenta o fluxo de investimentos cruzados – troca entre países desenvolvidos e em desenvolvimento. E por fim engloba o aumento da concorrência nos mercados internacionais de capitais, os investidores que podem ser bancos ou instituições financeiras não bancárias, acabam desenvolvendo o mercado de capitais2, isso ocorre também nos países desenvolvidos e em desenvolvimento. Esta globalização determina a integração dos mercados financeiros nacionais em um grande mercado financeiro internacional, a partir de processos como: ascensão de idéias neoliberais3, o que propiciou o aumento da desregularização do sistema financeiro, permitindo a abertura da economia para o capital. Países desenvolvidos aderem a esta prática, e os em desenvolvimento acabam sendo obrigados a seguir o fluxo devido às crises do petróleo e da dívida externa. O fim do sistema Bretton Woods acabou trazendo muita instabilidade para o sistema financeiro internacional. Para se proteger dos riscos causados pelo fim desse sistema monetário, que propiciava regras 1 A decisão de investir em portfólio é dada em contrapeso ao risco de perda de capital. Os indivíduos que possuírem algum grau de aversão ao risco irão, como forma defensiva, manter uma parte de sua riqueza sob a forma de moeda como uma estratégia defensiva contra o risco considerado. 2 Mercado de capitais é um sistema de distribuição de valores mobiliários, que tem o propósito de proporcionar liquidez aos títulos de emissão de empresas e viabilizar seu processo de capitalização. É constituído pelas bolsas de valores, sociedades corretoras e outras instituições financeiras autorizadas. 3 O neoliberalismo foi um programa político-ideológico-econômico voltado a viabilizar a superação da crise do capitalismo no contexto da nova etapa do processo de globalização que se iniciou na década de 1980. Esse programa mantém a essência do liberalismo clássico, cujo autor é Adam Smith, e busca a maximização da utilidade do indivíduo e a não intervenção do Estado na economia. AcroPDF - A Quality PDF Writer and PDF Converter to create PDF files. To remove the line, buy a license. 17 para regulamentar as relações comerciais e as relações financeiras, os atores desenvolveram novos instrumentos financeiros para se protegerem de novas crises. Empresas e investidores pulverizaram investimentos em capital, ao invés da esfera produtiva, incentivados pela crise do petróleo. E por fim, o fator da ordem sistêmica: consumidores perdem poder de compra e empresas diminuem a produção, além de menor investimento, o que leva os agentes a investirem mais no sistema financeiro e, conseqüentemente, os mercados de capitais são expandidos, tanto internamente, quanto externamente. Já a Globalização Produtiva é dada a partir de três processos distintos: o acirramento da concorrência internacional, o avanço do processo de internacionalização da produção4, e o elevado grau de integração entre as estruturas produtivas das economias nacionais. Ao tratar de globalização produtiva faz-se necessário a distinção de internacionalização da produção, que se dá na esfera produtiva; e a internacionalização que se restringe à esfera comercial: importação ou exportação, que são meios de inserção comercial no sistema econômico internacional. No entanto, no âmbito da inserção produtiva no sistema econômico internacional, tornam-se relevantes dois pontos: as relações contratuais e os investimentos externos diretos. O primeiro ponto ocorre quando um agente econômico estrangeiro opera no âmbito da economia nacional, através de subsidiários ou filiais. O segundo ponto se torna possível a partir das participações do resto do mundo na produção de bens e serviços nacionais. Segundo dados obtidos na UNTAD, World Investiment Report, Genebra, United Nations Conference on Trade and Development, diversos números; a partir de meados dos anos 80, houve um aumento extraordinário dos fluxos de investimento externo direto e 4 Ocorre quando os residentes de um país têm acesso a bens e serviços originados de outros países. AcroPDF - A Quality PDF Writer and PDF Converter to create PDF files. To remove the line, buy a license. 18 das relações contratuais, assim como das empresas transnacionais. Entretanto os dados demonstraram também um comportamento marcadamente cíclico dessas variáveis e, como resultado, não há evidência em favor da aceleração do processo de internacionalização da produção. Por outro lado, na medida em que o investimento externo direto, as operações das empresas transnacionais e as relações contratuais em escala mundial aumentaram mais do que o total da renda mundial, pode-se argumentar em termos da maior integração entre as economias nacionais.5 Em epítome, ocorreu o processo de integração das estruturas produtivas domésticas, em uma estrutura produtiva internacional. É importante ressaltar a importância dos mecanismos que condicionam esta ordem: as relações contratuais e os fluxos de investimento de investimento direto externo, e a operação das empresas transnacionais, pois a globalização produtiva é o que dá início à internacionalização de empresas. 1.2. INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS A partir de vários estudos em torno do tema internacionalização de empresas, esta pode ser definida através da atuação de uma empresa em diferentes países, gerindo movimentos de fatores de produção, como transferências de capital, desenvolvimento de projetos em cooperação com parceiros estrangeiros; ou simplesmente comercializando os seus produtos em outros países. A internacionalização abrange todo o tipo de intervenção avançada nos mercados externos, compreendendo todas as fases, desde a exportação, até o investimento direto no exterior. 5 Análise com base em dados colhidos de 1981 a 1995. AcroPDF - A Quality PDF Writer and PDF Converter to create PDF files. To remove the line, buy a license. 19 Nenhuma empresa nacional está, de todo, livre da influência de forças envolventes estrangeiras ou internacionais, porque existe sempre a possibilidade da concorrência de importações ou de concorrentes estrangeiros que estabelecem operações no seu próprio mercado. (Donald A. Ball; Vendell H. Clloch, 2005, in ABRANTES, Antônio [200-]). A internacionalização, no sentido macro-econômico6, é relacionada ao conjunto dos fluxos de trocas de matéria-prima, produto final ou semi-acabado, serviço, tecnologia, dinheiro, idéias e pessoas, efetuadas entre Estados. Nas palavras de Alem e Cavalcanti (2005): a estreita correlação entre o comércio exterior e os investimentos externos diretos torna a internacionalização uma necessidade para que as empresas possam aumentar sua competitividade e enfrentar a concorrência internacional. Dada a relação existente entre comércio e investimentos, a maior liberdade de fluxos financeiros entre os países tem permitido a mescla de capitais e a instalação de filiais em outros países, dando a muitas empresas características internacionais. (ALEM; CAVALCANTI, v 12. n.24, p 44, 2005). Para GOULART et al. (1999, p.21), internacionalização é “um processo crescente e continuado de envolvimento de uma empresa nas operações com outros países fora de sua base de origem”. No entendimento de HYMER7 (1979): 6 A Macroeconomia pode ser entendida segundo Paulo Nunes - Economista, Professor e Consultor de Empresas - como a ciência que estuda o comportamento da Economia na sua globalidade. 7 HYMER, S. The international operations of national firms: a study of direct foreign investiment. Cambridge, MA: MIT Press, 1960. AcroPDF - A Quality PDF Writer and PDF Converter to create PDF files. To remove the line, buy a license. 20 a internacionalização das empresas está ligada a uma vontade de tirar proveito de uma concentração industrial crescente e de um poder reforçado sobre o mercado que as conduzem, na sua procura de uma melhor rentabilidade, de um mercado nacional aos mercados internacionais. (citado por HAGEDOORN; SCHAKERNAAD, 1995). Existem várias definições e modelos em torno do tema Internacionalização de Empresas, o trabalho limita-se ao modelo de Dunning (1993), possivelmente o principal estudioso do processo de internacionalização de empresas. Fica explícito que o modelo pode possuir algumas limitações, visto que é a simplificação de uma realidade vastamente complexa, o trabalho se abstém aos fatores mais relevantes traçados por Dunning. John Dunning (1993) mapeou quatro estratégias, que delimitam os processos motivadores para a internacionalização de empresas: a) Busca de mercados: utilizando-se desta estratégia, a empresa explora os benefícios de novos e diversos mercados. b) Busca de matérias-primas: nesta estratégia, a empresa busca explorar a custos minorados, os recursos naturais disponíveis no país estrangeiro. c) Busca de eficiência: as empresas transnacionais tentam conseguir vantagens sobre a escala e racionalização da produção. d) Busca estratégica: a empresa busca aglomerar estruturalmente um conjunto de competências, tais como a aquisição de ativos estratégicos voltados à inovação de produtos, propiciando maiores vantagens competitivas naquele mercado. AcroPDF - A Quality PDF Writer and PDF Converter to create PDF files. To remove the line, buy a license. 21 Estas quatro estratégias são motivadoras, no sentindo de que quando uma empresa direciona-se à expansão internacional, leva-se em conta que as perspectivas de crescimento no país de origem já não são suficientemente atrativas; ou então as empresas começam a identificar oportunidades mais interessantes no exterior, traduzindo-as em benefícios. Os benefícios gerados se desdobram em dois pólos distintos, porém complementares: as empresas de caráter transnacional8 e os seus países de origem. Percebe-se então que os países mais fechados, com baixo grau de inserção internacional, são conseqüentemente os menos desenvolvidos e menos competitivos. No entanto, ao buscar oportunidades no mercado internacional as empresas comprometem recursos, envolvem-se com novas tecnologias, freqüentam ambientes culturais, jurídicos, políticos, financeiro e econômico diversos, o que faz crescer o grau de incerteza dos resultados e os riscos e as ameaças das operações. As empresas precisam passar por processos de identificação, análise e respostas aos riscos encontrados no mercado, com o objetivo de maximizar os resultados e minimizar as perdas. O quadro a seguir procura identificar os riscos relacionados ao processo de internacionalização das empresas, quantificar esses riscos sob o ponto de vista financeiro, desenvolver um conjunto de respostas aos riscos envolvidos e atinar as respostas da empresas aos riscos. 8 De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), empresas transnacionais são aquelas compostas da matriz e filias estrangeiras. AcroPDF - A Quality PDF Writer and PDF Converter to create PDF files. To remove the line, buy a license. 22 Quadro 1 Identificação dos riscos internos: Risco Causas e características 1. Estudo de viabilidade técnica, econômica e financeira incorreto ou mal interpretado Feita por pessoal pouco especializado na área, a avaliação pode superestimar a capacidade da empresa em disputar os mercados externos. Em outra análise, o relatório pode estar correto, mas ser mal interpretado pelo consultor e pela empresa. 2. Surgimento de focos de resistência entre funcionários ou na alta direção da empresacliente Se uma parte da direção ou dos funcionários possui razões – reveladas ou não – para se opor às atividades de internacionalização, mas essas razões não foram conhecidas e/ou trabalhadas durante o projeto. 3. Incorreções no processo de determinação nos mercados-alvo Por uma abreviação nos processos de levantamento e escolha de mercados, ou pela inadequada aplicação de técnicas de leitura de dados, podemos selecionar grupos de clientes com potencial inferior ao estimado ou necessário à sobrevivência da empresa. 4. Falhas Apreensão de características metodológicas nos cognitivas e dimensionamento de testes de mercado potencial de mercado incorreto podem levar a situações em que as vendas fiquem muito fora do previsto – para mais ou para menos. 5. Escolha equivocada Ao não estimar corretamente das estratégias de dificuldades ou potenciais de internacionalização mercado, a empresa pode ser levada a iniciar o seu processo de internacionalização por uma via inadequada, com impactos negativos nos seus lucros. 6. Nomeação de Escolhendo bancos com pequena intermediários inábeis credibilidade internacional, no desempenho de empresas transportadoras mal suas atividades aparelhadas e administradas e agentes aduaneiros inexperientes, a empresa poderá enfrentar dificuldades adicionais no projeto. 7. Erros na condução Caso tenha havido problemas na Quantificação e desenvolvimento de respostas aos riscos Risco elevado em razão de diferentes metodologias, embebidas de forte componente subjetivo, levarem os autores do estudo ou os consultores contratados a incorrerem em falhas graves de análise. O procedimento adequado é, ao se notar qualquer possibilidade de discrepância de visões, buscar a opinião de outros experts nesse mercado. Risco elevado, pois o receio à mudança é fato corriqueiro nas organizações. O procedimento adequado é, desde o princípio, buscar estabelecer canais de comunicação com todos os envolvidos, dando-lhes incentivos e oportunidades para manifestar-se. Risco médio, dada a diversidade dos mercados e de suas características. É importante revisar com cuidado cada uma das etapas correspondentes a este momento do projeto e fornecer subsídios claros para o trabalho de teste de mercado, etapa posterior a esta. Risco médio, pois as técnicas disponíveis para aferir tais quesitos já se encontram consagradas, havendo um bom número de fontes e profissionais habilitados a desenvolver seu uso. Risco baixo, já que é possível, durante a análise das alternativas disponíveis, ponderar as opções e, dentre elas, eleger a que ofereça as melhores perspectivas. Risco baixo, pois os parceiros disponíveis no Brasil e no exterior são bastante conhecidos, apresentam seus currículos abertamente no mercado e possuem mecanismos de autoregulação dentre seus pares que os tornam internacionalmente bem reconhecidos. A exemplo do que foi exposto na 2a AcroPDF - A Quality PDF Writer and PDF Converter to create PDF files. To remove the line, buy a license. 23 dos processos de reorganização funcional da empresa 8. Opções logísticas caras ou demoradas demais para o mercado-alvo etapa 2 deste monitoramento de riscos, e os focos de resistência de funcionários e da alta gerência permaneçam, ou que, durante o processo de adaptação da empresa aos novos padrões de qualidade internacionais, haja inabilidade no relacionamento entre a consultoria e os elos de poder dentro da empresa, isso pode comprometer o bom andamento do projeto. Na ânsia de buscar a melhor opção, os gerentes podem priorizar fatores que gerem um desequilíbrio na relação custobenefício ou ofereçam uma solução logística inadequada ao cliente. etapa deste monitoramento de riscos, o risco é elevado, pois o receio à mudança é fato corriqueiro nas organizações. O procedimento adequado é, desde o princípio, buscar estabelecer canais de comunicação com todos os envolvidos, dando-lhes incentivos e oportunidades para manifestar-se. Risco elevado, não tanto pela alta possibilidade de sua ocorrência, mas pelo impacto que poderá causar nos negócios. Avaliar com cuidado as opções disponíveis e ter um amplo domínio sobre as necessidades específicas de cada mercado são a chave para dirimir este risco. 9. Má gestão das Não monitoramento das Risco elevado, devido às distâncias vendas externas atividades do canal de distribuição muitas vezes levarem o fornecedor a externa, gerando ineficiências nos descuidar-se do controle sobre os processos. processos de vendas externas. No contrato de fornecimento, deve-se prever os mecanismos de acompanhamento do trabalho do distribuidor, bem como um sistema de remuneração que evite a construção de relacionamentos conflituosos com o canal. 10. Inexistência de A internacionalização das Risco médio, a ser evitado criando-se mecanismos de empresas é um processo que, canais apropriados para que haja um comunicação normalmente, ocorre em paralelo fluxo interno de informações entre as eficientes ou na esteira de uma fase de partes envolvidas. crescimento, na qual as estruturas antigas de comunicação organizacional muitas vezes não mais comportam as atuais necessidades. Fonte: MAXIMINIANO, Antônio; et al. Projeto de Internacionalização de empresas industriais. AcroPDF - A Quality PDF Writer and PDF Converter to create PDF files. To remove the line, buy a license. 24 Quadro 2 Identificação dos riscos externos: Riscos Causas e características 1. Instabilidades cambiais afetarem as relações entre comprador e vendedor Mudanças nas relações políticoeconômicas internacionais, crises cambiais ou financeiras podem alterar as condições usuais de comercialização, inviabilizando mercados específicos ou todo o projeto. 2. Mudanças políticas O governo brasileiro ou do afetando os programas mercado destino podem interferir de internacionalização nas regras de Comércio Internacional, afetando os planos da empresa exportadora. 3. Chegada de novos Mudanças no panorama competidores, mais concorrencial são uma realidade eficientes ou dispostos tanto para o mercado interno a iniciar uma guerra de quanto externo. preços 4. Percepção Este é um risco que está no limite equivocada, pelo entre os fatores internos e mercado, sobre os externos à empresa. Relaciona-se conceitos oferecidos ao domínio insuficiente de pela empresa a seus conhecimentos sobre as clientes. características do mercado destino, seus valores e crenças. Quantificação e desenvolvimento de respostas aos riscos Risco elevado, pois esses fenômenos estão fora das possibilidades de controle da empresa. Sua probabilidade de ocorrência, no entanto, é muito pequena, sobretudo para a atividade exportadora, vista hoje pelo governo como uma alternativa real de crescimento econômico e de busca de justiça social. A empresa, no entanto, deve sempre buscar firmar contratos de longo prazo, fazendo hedge de seus recebíveis e diversificando seu portifólio de clientes. Risco baixo, devido ao atual cenário. A exemplo do exposto acima, a empresa deve sempre buscar firmar contratos de longo prazo e diversificar seu portifólio de clientes. Mais uma vez, a empresa deve sempre buscar firmar contratos de longo prazo, diversificando seu portifólio de clientes. Risco elevado, pois estamos lidando com uma cultura diferente da nossa, fato que pode trazer graves conseqüências ao sucesso do empreendimento. Devemos, para dirimir este risco, escolher parceiros internacionais com fortes raízes culturais locais e identificadas com o sucesso do nosso projeto. Fonte: MAXIMINIANO, Antônio; et al. Projeto de Internacionalização de empresas industriais. De modo geral, a internacionalização de empresas permite a absorção de novas tecnologias, o aprimoramento de capacidade gerencial, a obtenção de recursos financeiros com maior facilidade e menores custos. Isto possibilita um aumento da eficiência de atuação em determinado mercado. Quando uma empresa investe e intensifica seu processo de internacionalização, a mesma aumenta a capacidade competitiva perante os concorrentes. Este processo pode ser considerado parte vital AcroPDF - A Quality PDF Writer and PDF Converter to create PDF files. To remove the line, buy a license. 25 para a sobrevivência de uma empresa, visto que não existe refúgio seguro no mercado interno, a concorrência das empresas estrangeiras está em todo lugar. 1.3. CONSIDERAÇÕES SOBRE A INSERÇÃO ECONÕMICA DO BRASIL NO MUNDO9. A partir de análises históricas, é possível perceber que o Brasil sempre evitou confrontos com outras nações para promover sua inserção no mercado regional e global, celebrando acordos e tratados, e sempre observando as dimensões da globalização. A inserção global do Brasil ocorre com a alternância recorrente de suas políticas de comércio exterior, adotando em certos momentos o protecionismo da produção interna, e em outros a livre competição internacional, defendendo a concorrência com o exterior. O Brasil foi descoberto e governado por uma elite que tinha como intuito a exportação – que se dava por parte de colonizadores via exploração – de produtos como: cana de açúcar, ouro, café, madeira, borracha. Foi a importação o único meio de acesso a produtos industrializados por mais de cem anos. No entanto o país começou a desenvolver sua capacidade empresarial, o que deu margem ao surgimento das primeiras indústrias brasileiras. A industrialização brasileira começou a se desenvolver com base na sociedade agro-exportadora. Até o século XIX, o Brasil podia ser considerado um país pouco dinâmico economicamente, com uma estrutura financeira que não propiciava e nem estimulava o desenvolvimento das indústrias, e o mercado interno era pequeno. 9 Informações com base na obra: GONÇALVES, Reinaldo et al. A nova economia internacional: uma perspectiva brasileira. Rio de Janeiro: Campus, 1998. 392 p. AcroPDF - A Quality PDF Writer and PDF Converter to create PDF files. To remove the line, buy a license. 26 De acordo com Suzigam10 “Até o final do ano de 1920, os princípios que norteavam a política econômica brasileira eram claramente liberais: mercado livre de câmbio, tarifa fiscal, política fiscal tradicional de orçamento equilibrado e austeridade monetária”. (SUZIGAM, 1976, citado por GONÇALVES, 1998, p 247). As políticas governamentais brasileiras objetivavam apenas evitar que as seguidas crises cambiais que estavam ocorrendo paralisassem o país. Porém a proteção da indústria brasileira se dava de forma involuntária, o que gerou ótimos resultados para o país. Apesar das proteções à produção industrial presentes em alguns períodos da época não serem consideradas, conseqüências de uma política protecionista, e sim do estrangulamento cambial e do desequilíbrio fiscal do Brasil, não houve apenas políticas de proteção que ocorreram acidentalmente. No ano de 1930, por exemplo, foram tomadas várias medidas de apoio à industrialização, onde o fator determinador à proteção foi a política cambial. Em 1949, a indústria brasileira já tinha tido um avanço considerável em seu processo de industrialização. Razões pragmáticas estimularam a proteção da indústria nacional como forma de estimular o seu desenvolvimento, até mesmo no governo de um liberal assíduo como Dutra, que tentou buscar suporte no governo dos Estados Unidos para liberalizar a economia brasileira. Porém o governo norte americano não demonstrou interesse em reproduzir a parceria econômica que teve com o Japão e com a Europa. Durante a Segunda Guerra mundial foi estimulado por parte dos Estados Unidos, a implementação da política de substituição de importações11 no Brasil. Segundo Malan et al (1977): 10 PELÁEZ, Carlos Manuel; SUZIGAN, Wilson. História monetária do Brasil: análise da política, comportamento e instituições monetárias. Rio de Janeiro: IPEA/INPES, 1976. 487 p. 11 É um processo que propcia o aumento da produção interna de um país e a diminuição das suas importações, é geralmente obtido pelo controle das mesmas e manipulação da taxa de câmbio. AcroPDF - A Quality PDF Writer and PDF Converter to create PDF files. To remove the line, buy a license. 27 os objetivos do auxílio norte americano no Brasil eram: aumentar a produção local de produtos essenciais, especialmente àqueles antes importados dos Estados Unidos, de modo a economizar a praça marítima; converter a indústria local ao uso de matérias-primas substitutas, em lugar daquelas ordinariamente importadas; manter e melhorar as instalações de transporte; e lançar as fundações para o fortalecimento de longo prazo para o fortalecimento da economia industrial do Brasil como um todo. (MALAN et al, 1977, p 4). Porém, com o término da Guerra, os interesses norte-americanos mudaram substantivamente, as prioridades do país estavam centradas na Europa e Ásia, e o apoio às iniciativas econômicas brasileiras foram deixadas de lado. Nesse cenário, Dutra foi obrigado a estabelecer como um dos pilares de sua política econômica, o controle cambial. A política cambial vigente no Brasil acarretava dois problemas que teriam de ser superados para o avanço da industrialização. O primeiro era que a constante sobrevalorização da moeda brasileira desestimulava a exportação. O segundo problema era o atraso na substituição de importações de bens de capital e insumos básicos. Isto é, o subsídio cambial à importação desses bens, que favoreceu a formação de capital na indústria, contribuiu para atrasar o desenvolvimento da produção interna destes. (Suzian, ibidem, citado por GONÇALVES, 1998, p.454). A proteção não intencional da industrialização, juntamente com a ausência de uma política que promovesse as exportações e fossem capazes de estabelecer um contrapeso na taxa de câmbio e favorecer as mesmas, levou à escassez de produtos manufaturados destinados à exportação. A partir de meados de 1950 o investimento industrial, apesar de ainda muito limitado, começou a ser promovido por uma política governamental. A indústria podia contar então com incentivos para a proteção do mercado interno, via subsídios que propiciavam a formação de capital. Entrou governo, saiu governo, e somente com o governo de Juscelino Kubitschek, em 1957, foi implantada uma política protecionista que objetivava claramente o estímulo da AcroPDF - A Quality PDF Writer and PDF Converter to create PDF files. To remove the line, buy a license. 28 industrialização brasileira. Sob a ótica explícita da política de substituição de importações, o período foi marcado por um alto crescimento da indústria, porém a crise do início da década de 1960 veio e demarcou novas alterações na política cambial, acarretando, a partir de 1964, uma liberalização relativa da política comercial. Foi então com JK, que o Brasil consolidou o alicerce da industrialização, porém com o regime militar e as revoluções do período12, o processo de industrialização ficou parcialmente estagnado. Acabada a revolução, a inserção do Brasil no mundo se deu com Collor, seu governo deu início às privatizações das estatais e à redução das tarifas alfandegárias com o um plano que objetivava a redução da inflação no Brasil. (Informação verbal)13. Com produtos importados a preços reduzidos, veio à tona a necessidade da indústria brasileira em se modernizar e correr atrás do prejuízo causado pelo período de estagnação. O Brasil vinha traçando até então uma longa história de crescimento, porém a mesma é resultado de um amplo conjunto de causas, entre as quais cita-se: o imobilismo devido a uma excessiva proteção à indústria nacional, o peso insustentável da dívida externa, o fracasso dos programas de estabilização na luta contra a inflação e o colapso de um modelo desenvolvimentista - baseado na intervenção genérica do Estado na economia ; causas estas que interromperam o fluxo dessa história, levando o Brasil à crise. A crise se aguçou mais no aspecto financeiro com um considerável aumento inflacionário, que causou uma queda nos níveis de renda do setor público. Assim um ambiente altamente incerto foi criando e dificultando a retomada dos investimentos. De acordo com a linha de raciocínio de Fernandes e Pais (1999): 12 Para maiores considerações sobre o período ler SODRÉ, Nelson. Vida e Morte da Ditadura: "Vinte Anos de autoritarismo no Brasil". Rio de Janeiro: Vozes. 1984. 13 Informação fornecida por Clégis Romeiro, professor da Instituição Uni-BH em Setembro de 2008. Nota: Tarifa alfandegária é o imposto cobrado pelo governo de um país sobre o valor de produtos estrangeiros importados. AcroPDF - A Quality PDF Writer and PDF Converter to create PDF files. To remove the line, buy a license. 29 a partir de 1979, o padrão de crescimento baseado no financiamento externo ou estatal, através do investimento direto do Estado ou do investimento privado subsidiado, que tinha prevalecido durante a década de 70, entrou em crise, quando o fluxo de financiamento externo líquido cessou em 1982. Assim é que, em razão da crise nacional que se seguiu, emerge uma questão política básica, que é a de que nos anos oitenta, o Brasil perdeu o controle do seu destino. Três fatores contribuíram decisivamente para isso, frustrando os intentos de colocar o país na trajetória do progresso e da modernidade: a dívida externa, as elevadas taxas de inflação e uma profunda crise do Estado. Embora variem os graus de relevância destes três fatores, eles estiveram sempre presentes na conjuntura da crise. (FERNANDES; PAIS, 1999). Desde a grande crise do início do ano de 1980, surgiu a necessidade de internacionalizar as empresas nacionais para concretizar o sistema industrial recentemente consolidado no Brasil. Houve a implementação de sucessivas medidas econômicas, e tentativas de planos de estabilização por consecutivos governos, com o intuito de tentar retomar os níveis de crescimento anteriores à crise, e obter controle inflacionário para recuperar a situação econômica do país. Em suma, até 1960, o Brasil exportava produtos primários como o algodão, cacau, fumo, açúcar, madeira, carne, café (representando 70% das exportações) e outros. Baseava-se praticamente em produtos naturais não manufaturados, estes representavam taxa maior que 95% nas exportações. Fato que foi mudado com a implementação do quadro industrial, que permitiu ao Brasil exportar produtos de maior valor agregado. As diferentes políticas de comércio exterior praticadas pelo Brasil foram impulsionadas, principalmente, por fatores externos. As dimensões e motivações da inserção global do Brasil são lideradas basicamente pelos fatores econômicos; os demais fatores, AcroPDF - A Quality PDF Writer and PDF Converter to create PDF files. To remove the line, buy a license. 30 inclusive os sociais, são para muitos decorrentes e concludentes dos primeiros condicionantes citados – fatores econômicos. Hoje em dia, o Brasil exporta diversos produtos industrializados e semimanufaturados, ex: calçados, produtos têxteis, suco de laranja, óleos comestíveis, produtos químicos, bebidas, alimentos industrializados, aparelhos mecânicos, armamentos, material de transporte e outros chegando a 55% e 65% das exportações. As importações também passaram por alterações, pois antigamente importava-se principalmente bens manufaturados, e atualmente aproximadamente 40% das importações são matérias-primas, trigo, combustíveis, minerais, carne, bebidas, artigos de telefonia e informática, motores, alguns metais, máquinas, dentre outros. As principais parcerias que o Brasil firma para importar seus produtos são: Estados Unidos, Argentina, Alemanha, China, Nigéria, Japão, França, Itália, Argélia e Coréia do Sul. Os principais mercados que o Brasil exporta seus produtos são: Estados Unidos, Argentina, Holanda, China, Alemanha, México, Itália, Japão, Chile e França. Dados numericamente demonstrados nas tabelas a seguir: AcroPDF - A Quality PDF Writer and PDF Converter to create PDF files. To remove the line, buy a license. 31 Tabela 1 Os principais vendedores de produtos para o Brasil Ranking 1º 2º 3º 4º 5º 6º 7º 8º 9º 10º País Valor (1) Estados 11.337 Unidos Argentina 5.572 Alemanha 5.071 China 3.709 Nigéria 3.499 Japão 2.868 França 2.287 Itália 2.052 Argélia 1.934 Coréia do Sul 1.729 Participação nas vendas 18,1% 8,9% 8,1% 5,9% 5,6% 4,6% 3,6% 3,3% 3,1% 2,8% Fonte: Organização Mundial do Comércio / (1) em bilhões de dólares Tabela 2 Os principais compradores dos produtos brasileiros Ranking País Valor (1) 1º Estados Unidos Argentina Holanda China Alemanha México Itália Japão Chile França 20.038 Participação nas vendas 20,8% 7.373 5.916 5.439 4.035 3.947 2.904 2.767 2.545 2.189 7,6% 6,1% 5,6% 4,2% 4,1% 3,0% 2,9% 2,6% 2,3% 2º 3º 4º 5º 6º 7º 8º 9º 10º Fonte: Organização Mundial do Comércio (1) e em Bilhões de dólares AcroPDF - A Quality PDF Writer and PDF Converter to create PDF files. To remove the line, buy a license. 32 – Outras informações sobre o Brasil e o comércio internacional: No Brasil não são verificados hoje conflitos em torno da religiosidade da sua população, porém em diversos casos a religião pode ser um fator decisivo em negociações internacionais, devido a divergências culturais . AcroPDF - A Quality PDF Writer and PDF Converter to create PDF files. To remove the line, buy a license. 33 Quadro 3 - Geral Brasil Localização do Brasil: América do Sul Capital: Brasília Extensão territorial: 8.514.876,00 Km² Idioma: Português População total – 2007: 191.790.900 habitantes Total do PIB – 2006: 1.067.803 milhões de US$ Moeda: Real Bandeira: Gráfico 2 – Geral Brasil: localização, extensão territorial; idioma; população total; total do Produto Interno Bruto; moeda e bandeira. Elaboração própria. Fonte: IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. AcroPDF - A Quality PDF Writer and PDF Converter to create PDF files. To remove the line, buy a license. 34 Tabela 3 Características das firmas exportadoras brasileiras Fonte: IPEA – 2007(Instituto de Pesquisa Econômica Ampliada) É perceptível pela da análise do gráfico que a base exportadora não seguiu o ritmo de crescimento das exportações. Porém, há 4.000 potenciais exportadoras no Brasil. Tabela 4 Setores de potenciais exportadoras Fonte: IPEA – 2007(Instituto de Pesquisa Econômica Ampliada) AcroPDF - A Quality PDF Writer and PDF Converter to create PDF files. To remove the line, buy a license. 35 Estas encontram-se em setores tradicionais da economia brasileira. Se as potenciais viessem a exportar, a base se ampliaria 60% e o volume exportado, 22%. Tabela 5 Aglomerações industriais exportadoras de grande escala As exportações brasileiras são regionalmente concentradas Fonte: IPEA – 2007(Instituto de Pesquisa Econômica Ampliada) As potenciais exportadoras estão concentradas regionalmente: onde São Paulo representa 45 %, Rio Grande do Sul 15 %; Santa Catarina 9 %; Paraná 8 %; e Minas Gerais 7 %. AcroPDF - A Quality PDF Writer and PDF Converter to create PDF files. To remove the line, buy a license. 36 Gráfico 2 – Participação do Brasil na importação, representação por Unidade Federal Fonte:Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). Da mesma forma se dá a participação nas importações, é interessante notar que as regiões que mais exportam são também as que mais importam, exceto Rio de Janeiro, que não apresentou taxas significativas nos índices de aglomerações industriais exportadoras de grande escala. AcroPDF - A Quality PDF Writer and PDF Converter to create PDF files. To remove the line, buy a license. 37 Brasil. Exportações e importações totais (em toneladas) – 1989 -2005 Gráfico 3 - Total de exportações e importações (em toneladas) no Brasil – 1989 -2005 Fonte: www.aliceweb.desenvolvimento.gov.br Comparando o início de 1989, com o último ano, 2005, é notório que do Brasil para o restante do mundo, o volume das exportações totais chegou a aumentar em 124,2%, saltando de 177.032.939 toneladas para 396.959.830 toneladas. No mesmo período, a importação total brasileira, passou de 57.295.180 toneladas para 93.607.165 toneladas; o que corresponde a um acréscimo de 63,4%. AcroPDF - A Quality PDF Writer and PDF Converter to create PDF files. To remove the line, buy a license. 38 2 O LADO AVESSO DA INTERNACIONALIZAÇÃO DAS EMPRESAS BRASILEIRAS – INTERNACIONALIZAÇÃO DEFENSIVA EM UM CENÁRIO INCIPIENTE 2.1 INTERNACIONALIZAÇÃO DAS EMPRESAS BRASILEIRAS O processo de expansão internacional das empresas, até pouco tempo, era elementarmente associado aos países desenvolvidos, fato este que não condiz com o presente momento. A expansão das empresas no âmbito internacional passou a envolver de forma relevante, as empresas de países em desenvolvimento. Como visto anteriormente, a necessidade de investir no processo de internacionalização surgiu diante da impossibilidade de competir com concorrentes muitas vezes transnacionais. Ou seja, a globalização tem ocasionado um aumento constante de investimentos entre empresas originárias não somente de países desenvolvidos, como também de alguns países em desenvolvimento, assim como o Brasil. As empresas brasileiras passam por mudanças para se adaptarem à realidade dada pelo mercado externo, pois já perceberam o apelo e escopo globalizante do mesmo. Antes de começar a abordar a experiência brasileira com a internacionalização de suas empresas, torna-se imprescindível uma definição/identificação do fenômeno de internacionalização mais profunda do que a que consta no primeiro capítulo; pois no caso do Brasil, não são poucas as vezes que os termos internacionalização, exportação e negociações internacionais são confundidos. Para alguns analistas estes são fases do mesmo processo. Segundo Rodrigo Cintra e Bárbara Mourão (2005) essa constatação é pertinente, sobretudo quando se considera que o tamanho do mercado nacional levou as empresas brasileiras a terem de enfrentar o que os autores chamaram de “tendência AcroPDF - A Quality PDF Writer and PDF Converter to create PDF files. To remove the line, buy a license. 39 inercial” muito forte a não se ocupar com uma “[...] atuação internacional sustentada e, sobretudo, planejada”. Para que a as empresas internacionalizadas e as de caráter simplesmente exportador tivessem discriminação correta de suas operações, Mourão e Cintra passaram a preceituar internacionalização como “[...] o processo de concepção do planejamento estratégico e sua respectiva implementação, para que uma empresa passe a operar em países diferentes daqueles no qual está originalmente instalada”. Dada esta definição, o conceito ainda continua sendo muito complexo, pois apenas não foram mencionadas as relações de importação e exportação. Destarte, a internacionalização envolveria a movimentação internacional de fatores de produção14, sendo somente necessário que existisse uma relação fiel e contínua com o exterior. Entende-se então que a exportação por si só não seria suficiente para dar caráter internacional às operações de um país no mercado mundial, mas também o estabelecimento de parcerias, investimentos cruzados entre empresas, acordos de cooperação industrial e comercial, ou até mesmo, a compra de empresas estabelecidas em outros países. Esta definição/identificação se torna interessante, pois emerge o estudo das formas de atuação externa. Cintra e Mourão (2005) procuraram coordenar diversas formas de atuação no exterior, como transações, comercialização de produtos, patentes e marcas; projetos especiais, que atuam diretamente no mercado consumidor; e por último, a qual para o Brasil se dá de maneira majoritária e intensa, o investimento externo direto (ver gráfico 5), que é a abertura de instalações produtivas ou sedes para a produção de serviços. As empresas interessadas em se internacionalizarem, segundo os autores desfrutam de três alternativas estratégicas para a penetração em mercados externos, sendo: a utilização de uma trading company; o estabelecimento de um escritório de vendas no exterior, ou ainda a formação de uma joint venture.15 14 Recursos ou Fatores de Produção são os elementos básicos utilizados na produção de bens e serviços, conforme definiu a Escola Clássica dos Economistas dos séculos XVIII e XIX. 15 Como o objeto de estudo não se destina às formas e estratégias de inserção, para mais informações ler os artigos disponíveis em: http://www.focusri.com.br/artig7.htm e www.revistaautor.com.br/index.php?option=com_contend&task=VIEW&ID=304ITEMID=46 AcroPDF - A Quality PDF Writer and PDF Converter to create PDF files. To remove the line, buy a license. 40 O Investimento Direto Estrangeiro (IDE) tem realizado um papel importante na economia brasileira há mais de cem anos. Entre o fim da Segunda Guerra Mundial e o início dos anos 80, o grande e dinâmico mercado interno brasileiro, somado à proteção contra a concorrência das importações estrangeiras, transformaram o Brasil em um dos destinos preferidos para o IDE entre os países em desenvolvimento, isto devido à atrativa taxa de retorno de investimentos oferecida pelo país. Quanto ao aparato governamental, as autoridades brasileiras têm demonstrado, entretanto, um grande e evidente interesse em promover a internacionalização das empresas brasileiras. Apesar de no Brasil, ainda não existir movimentos coordenados para a definição e promoção de uma estratégia nacional, visando a internacionalização AcroPDF - A Quality PDF Writer and PDF Converter to create PDF files. To remove the line, buy a license. 41 de empresas, como ocorre com Índia e China, várias iniciativas vêm sendo tomadas por díspares órgãos governamentais, como o Ministério do Desenvolvimento, o Ministério das Relações Exteriores, Indústria e Comércio Internacional, a Casa Civil e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social. Não há como negar que prevalece uma percepção generalizada de que o impacto da internacionalização é positivo no país investidor, pois o mesmo gera ganhos de competitividade que fortalecem as empresas, as tornam mais resistentes a choques internacionais, e seus lucros são revertidos positivamente sobre a economia nacional como um todo. Alem e Cavalcanti (2005) fazem um balanço líquido da internacionalização de empresas brasileiras: seus efeitos são majoritariamente positivos, na geração de empregos, na competitividade, na obtenção e no desenvolvimento da tecnologia. Neste sentido a internacionalização deve ser vista como “[...] um meio essencial para o aumento da competitividade internacional das empresas, promovendo o desenvolvimento do país e facilitando o acesso a recursos e a mercados, e a reestruturação econômica”. Os autores opinam no mesmo sentido de John Dunning (1993), citado no primeiro capítulo. Eles afirmam que as empresas brasilerias também procuram se internacionalizar para buscar recursos naturais, matérias primas, mão de obra mais barata, acesso a novos mercados e ganhos de eficiência. Em linhas gerais, é fortemente notável que hoje, a internacionalização das empresas brasileiras representa um leque de oportunidades positivas e recursos que repercutem favoravelmente ao Brasil. Esta permite que a empresa consiga recursos financeiros mais facilmente e a custos minorados; permite a aprimoração da capacidade de gerenciar e acessar informações de mercado de maneira mais profunda; permite a absorção de novas tecnologias, dentre outras vantagens. Porém é preciso dar devida AcroPDF - A Quality PDF Writer and PDF Converter to create PDF files. To remove the line, buy a license. 42 atenção à internacionalização que não é saudável para o país, é necessário estar atento aos movimentos avessos aos benefícios gerados pela internacionalização das empresas brasileiras, evidenciando os passos de uma internacionalização espuria e incipiente. Onde as empresas buscam parceria e/ou se deslocam para mercados internacionais não como coroamento da expansão de suas atividades no mercado nacional, mas sim como uma estratégia defensiva; o que explicita e expõe a outra face da internacionalização, a ser adiante demonstrada com maior ênfase. 2.2 INTERNACIONALIZAÇÃO DEFENSIVA EM UM CENÁRIO INCIPIENTE A movimentação de partida para um processo de internacionalização das empresas brasileiras vem crescendo a cada ano. Ainda que a globalização traga uma avassaladora e forte tendência internacional, é tangível ao caso brasileiro uma avaliação mais profunda de certas especificidades. A partir de estudo realizado por de Tamer (2007), é possível perceber que o processo atual de internacionalização vivido pelas empresas brasileiras demonstra uma transição de modelo. “[...] O modelo econômico brasileiro foi moldado, na época dos militares, baseado numa razoável auto-sufuciência, voltado ao mercado interno crescente”. O autor explica que esse modelo entrou em crise ao findar dos anos 1980, porém o Brasil não fez o ajuste que outros países, como por exemplo, os asiáticos, fizeram. Tamer completa que “alguns países asiáticos começaram a usar um modelo voltado para o mercado externo, com grandes concentrações de grupos. Passados 20 anos, o modelo deles prosperou, com uma competição muito grande e eficiência industrial”. O movimento que pode ser percebido na economia brasileira é o de que as empresas há uns dez anos, quando se deram conta de que a perspectiva de crescimento do AcroPDF - A Quality PDF Writer and PDF Converter to create PDF files. To remove the line, buy a license. 43 mercado nacional era pequena, começaram a reagir. E, por isso iniciaram um movimento defensivo, ao passo que começaram a almejar oportunidades fora do país. A questão é que o processo de internacionalização de empresas pode trazer vantagens por um lado, e por outro, pode atrapalhar e desestabilizar a economia de um país. Tamer (2005) enfatiza a existência de dois vetores para a internacionalização - sendo um saudável e que traz benefícios para a economia local, e o outro uma estratégia defensiva e que provoca uma internacionalização perigosa. No primeiro vetor encontram-se as empresas que partiram para o processo de internacionalização ao obterem sucesso e se consolidarem no mercado interno. A partida destas para o mercado externo aconteceu como uma extensão de suas atividades. “O Brasil ocupou um espaço muito claro no cenário global: é um grande fornecedor de matéria-prima. Algumas empresas brasileiras entraram nesse fluxo, e o Brasil está surfando nessa onda. Estas indústrias estão muito bem, obrigado”, diz Tamer (2005). Um dos melhores exemplos a ser citado é o caso da Vale do Rio Doce que trabalha com recursos minerais. As empresas que não têm bases boas e solidificadas no mercado interno compõem o segundo vetor proposto por Tamer, essas empresas, na maioria das vezes passam por limitações no mercado nacional, como o excesso de burocracia e sofrem com a sobre carga tributária. Essas empresas partem para a internacionalização como uma reação defensiva a essa impossibilidade de crescer internamente. “São exemplos toda a indústria de calçados e a cadeia têxtil, como a própria Santista”, exemplo citado por Tamer (2005). Hoje no Brasil se observa que governo entra, governo sai, o modelo continua burocratizado, pesado, sobretributado, e diminui a capacidade competitiva do país. São estes elementos, juntamente com a qualidade da educação primária, AcroPDF - A Quality PDF Writer and PDF Converter to create PDF files. To remove the line, buy a license. 44 e os gastos ineficientes do governo, os quesitos nos quais o Brasil apresenta maiores desvantagens competitivas. (NEWTON, 2007, p. B9 e B11). Em pesquisa feita na Folha de S. Paulo16, foram apontados os cinco fatores mais problemáticos para os negócios do Brasil, de acordo com o Fórum Econômico Mundial são eles: - regulamentação fiscal; - carga tributária; - rigidez das leis trabalhistas; - ineficiência e burocracia do governo; e - infra-estrutura inadequada. Tamer afirma que é importante perceber que: enquanto isso as empresas vão saindo do país, ao ponto de o Brasil, pela primeira vez na sua história, registrar em 2006 uma saída de capital maior que a entrada. Isso num país emergente é quase uma ofensa. Se o Brasil crescesse 5%, 6%, com certeza haveria a internacionalização de grandes grupos, mas o segundo vetor seria menor. (TAMER, 2007). O Brasil, por ser uma economia em desenvolvimento, necessita sim de controlar e impulsionar o seu desenvolvimento econômico, e não de distorções estruturais como estas. O fato de o Brasil ser um entrante tardio no cenário econômico mundial traz como conseqüência um baixo nível de empresas multinacionais, poucas empresas brasileiras se encontram dentre as mais internacionalizadas, como pode ser observado 16 NEWTON, Freitas. Competitividade. Folha de S. Paulo, São Paulo, 15 maio 2008. Carteira de valores mobiliários, p. B6. AcroPDF - A Quality PDF Writer and PDF Converter to create PDF files. To remove the line, buy a license. 45 na tabela asseguir a baixa representatividade das empresas brasileiras em comparação com outros países emergentes17 e em desenvolvimento. Tabela 6 As 100 Empresas Multinacionais Emergentes Mais Transnacionalizadas Origem, Incidência Setorial e Grau de Internacionalização - 2005 17 São países, outrora considerados no Terceiro Mundo, que se industrializaram e dão continuidade ao desenvolvimento. AcroPDF - A Quality PDF Writer and PDF Converter to create PDF files. To remove the line, buy a license. 46 Segundo Cláudio Frischtack (2008): dada a entrada tardia nos mercados, seria de se esperar que ainda vá demorar alguns anos para que as empresas multinacionais emergentes nacionais aumentem sua representatividade sob o critério de grau de trasnacionalidade; porém o número restrito de empresas multinacionais emergentes brasileiras é mais surpreendente, sendo possivelmente fruto de uma combinação de restrições macroeconômicas e políticas com um viés anti-internacionalização. (FRISCHTACK, 2008, p.13). AcroPDF - A Quality PDF Writer and PDF Converter to create PDF files. To remove the line, buy a license. 47 Este viés anti-internacionalização citado pelo autor pode ser claramente percebido com a implementação da política de substituição de importações, voltada para o mercado interno, na qual o objetivo principal era o desenvolvimento e consolidação da indústria nacional. Em curto prazo, apenas três firmas brasileiras fazem parte do conjunto de empresas multinacionais emergentes, e com algum nível de representatividade internacional; são elas: Petrobrás, Gerdau e Vale18. Sendo que em uma perspectiva de médio prazo, doze empresas brasileiras são listadas como capazes de desafiar as incumbentes nos seus setores, em nível global, são elas: Petrobrás, Vale, Gerdau, Embraer, Braskem, Coteminas, Embraco, Natura, Perdigão, Sadia, Votarantim e WEG (ver tabela 07). Existem outras empresas com certo peso internacional que não são citadas pela análise, por exemplo, a Marcopolo, podendo ser considerada uma das empresas mais significantes que fabrica carrocerias de ônibus no mundo. A JBS – Friboi, que deteve um processo extremamente rápido de internacionalização, este se iniciou em 2005 e em maio de 2007 teve seu ponto culminante com a compra da Swift Foods, uma empresa norte-americana de processamento de alimentos. 18 Considerando a data dos dados disponíveis para análise. AcroPDF - A Quality PDF Writer and PDF Converter to create PDF files. To remove the line, buy a license. 48 Tabela 7 As 100 Empresas Emergentes com Capacidade de Desafiar Globalmente as Incumbentes Setoriais - 2006 Frischtak (2008) afirma que: de qualquer forma, é fato que o país conta com um número limitado de empresas com ambições e capacidade de se trasnacionalizar, é provável que o país esteja sub-representado no universo de empresas multinacionais, inclusive e particularmente das economias emergentes. (FRISCHTACK, ibidem, p.15). AcroPDF - A Quality PDF Writer and PDF Converter to create PDF files. To remove the line, buy a license. 49 Todas estas análises propendem à percepção de que a economia brasileira é palco de uma Internacionalização incipiente, e de acordo com Frischtak (Ibidem), para compreender este fenômeno, é necessária a compreensão das motivações, bases e conseqüências da expansão internacional das empresas brasileiras. Estas motivações podem ser listadas pela teoria de Dunning (1993) – citadas no capítulo anterior; ou então pelo quadro traçado asseguir por Frischtak (ibidem), apresentadas como motivações múltiplas, complementares e sinérgicas. Tabela 8 Tendência de Resposta Empresarial aos Fatores de Impulsão à Internacionalização O que Frischtak (2008) pretende mostrar é que: a resposta estratégicas das empresas a esses elementos é geralmente multifacetada, e embora seja preponderantemente centrada no acesso a novos mercados, inclui também a procura de plataformas de menor custo, absorção de recursos naturais, se possível de classe mundial, e aquisição de ativos criados que representem o preenchimento de “falhas” nas suas estruturas empresariais e corporativas. (FRISCHTACK, ibidem, p.18). AcroPDF - A Quality PDF Writer and PDF Converter to create PDF files. To remove the line, buy a license. 50 Contudo é possível afirmar que internacionalização incipiente, notada na economia brasileira, foi resultado de incentivos transpostos para as empresas, com o intuito de que essas permanecessem voltadas para dentro, como diria Frischtak (2008, p.20) “[...] num contexto de mercados lucrativos e pouco disputados”. A economia brasileira compõe-se em um ambiente de grande heterogeneidade estrutural, assim sendo, não haveria relativamente muitas empresas com capacidade de se internacionalizarem. Um estudo realizado por Helpman, Melitz e Rubinstein (2004)19 demonstra que os diferenciais de produtividade esclarecem o comportamento das empresas em relação a suas estratégias de exploração dos mercados: “as empresas de maior produtividade realizam investimentos externos, as empresas de produtividade intermediária apenas exportam e as empresas de menor produtividade limitam-se a operar no mercado interno”. (HELPMAN; MELITIZ; RUBINSTEIN, citado por KUPFER, 2006). Pesquisas feitas pelo IPEA em 1997– Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – concluíram que as empresas brasileiras apresentam os mesmos resultados. Para superar a internacionalização incipiente da economia brasileira e obter um aumento no número de empresas multinacionais, seria preciso, de acordo com os dizeres de Frischtak (2008): - melhorar a competitividade sistêmica, para evitar que as empresas façam uso de uma estratégia defensiva por conta dos custos sistêmicos elevados relacionados à estrutura física, como, por exemplo, transporte, assim como pressão fiscal, dentre outros fatores; - a redução da incerteza e dos custos do processo de internacionalização, para isso seria necessário haver uma simplificação do regime fiscal brasileiro, acelerar as ratificações de acordos comerciais com parceiros potenciais, e reexaminar a conveniência de se assinar seletivamente acordos de proteção ao investimento, pois os benefícios e custos gerados por esses acordos podem mudar com o tempo; 19 HELPMAN; ELHANAN; MELITIZ. Trading Partners and Trading Volumes. Mimeo, Harvard University. 2004. AcroPDF - A Quality PDF Writer and PDF Converter to create PDF files. To remove the line, buy a license. 51 - ampliação das modalidades de financiamento e minoração de custo de capital, pois até o presente momento a única instituição formal que provém financiamento para as empresas é o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), e é preciso tomar uma posição estratégica para alavancar os recursos limitados do banco, embasada nas novas oportunidades que se abrem para o Brasil. Uma vez comprovado que a internacionalização brasileira é incipiente, torna-se extremamente importante a diferenciação entre os movimentos de internacionalização de empresas brasileiras - os que ativamente ampliam sua atuação no exterior, e os que caminham defensivamente, transferindo sua produção para outros países, em busca de condições mais favoráveis de competitividade, assim como o estabelecimento de reformas estruturais para melhorar o quadro encontrado hoje no Brasil. Fica assim explícito que o primeiro é o fator que acumula prospecções positivas e é propulsor da economia nacional, já o segundo é apenas permutativo, porém atua negativamente à sua economia de origem. Deste modo é de fundamental importância a criação de políticas que incentivem a internacionalização saudável, a partir do estabelecimento de condições para tornar as empresas brasileiras mais competitivas e capazes de se internacionalizarem em base sólida. A possibilidade de uma empresa multinacional gerar benefícios para o país de origem é dependente de uma política articulada do país. As políticas de apoio devem ter como partida, criação de escritórios para a transferência de tecnologia; exigência de geração de empregos no mercado doméstico; o aumento dos gastos com pesquisa e desenvolvimento e das exportações. A falta de financiamento adequado é uma das principais restrições para a internacionalização das empresas brasileiras, nesse viés a atuação do BNDES poderá ser de fundamental importância. AcroPDF - A Quality PDF Writer and PDF Converter to create PDF files. To remove the line, buy a license. 52 3. CONCLUSÃO Face ao que foi exposto e explicitado durante todo este trabalho, em epítome, pode-se dizer que o fenômeno globalização facilita a redução das fronteiras, e eleva a competitividade das empresas ao serem lançadas em uma aldeia global. Esta facilidade, que torna o mercado mundial acessível a todos, gera uma série de motivações para que as empresas optem pelo processo de internacionalização. Este movimento ganhou mais força no Brasil a partir de 1980, com a crise vivida e o jovem sistema industrial consolidado. Habitualmente, a internacionalização das empresas brasileiras é automaticamente relacionada aos benefícios gerados e é referência de oportunidades positivas para o país. De certa forma esta linha de pensamento é procedente, todavia, existe a possibilidade de o processo de internacionalização ser pensado e implementado como uma forma de as empresas se resguardarem das oscilações e dificuldades encontradas em seus países. Foi claramente expresso no capítulo dois os benefícios que o processo de internacionalização das empresas brasileiras podem trazer para o país em termos econômicos, desde que seja implementada na condição classificada como saudável para a economia do país. Entretanto, existe a possibilidade de uma internacionalização advinda das adversidades encontradas no país de origem das empresas, e não como um processo natural de expansão de suas operações para o exterior; essas adversidades levam as empresas a procurar um outro mercado mais “atrativo” que o nacional. A internacionalização vista do lado avesso é um movimento no qual as empresas transpõem para o exterior sua produção, não como expansão de uma situação favorável no mercado interno, mas sim como forma de fugir de condições negativas de acesso aos recursos produtivos ou custos no país de origem. A AcroPDF - A Quality PDF Writer and PDF Converter to create PDF files. To remove the line, buy a license. 53 internacionalização deixa de passar pelo processo de estabilização interna e passa a ser parte de uma estratégia defensiva, onde as empresas não mais buscam se estabelecer na economia nacional para posteriormente almejar novos mercados, internacionalmente falando. Existem vários fatores que visam corroborar a hipótese de que a maioria das empresas brasileiras que se internacionalizaram, o fizeram como parte natural da expansão de suas atividades. Porém, a onda mais recente de internacionalização de empresas brasileiras aparenta ser mais sustentada pela necessidade de redução de custos de produção, em função dos menores custos de insumos e mão-de-obra que podem ser encontrados mais baratos em países com moedas mais desvalorizadas que a moeda brasileira. Não obstante, a redução dos encargos tributários também é ansiada por estas empresas, tendo-se em vista a exacerbada minoração destes com o estabelecimento de empresas em âmbito de países diversos. O fato de o Brasil atuar como um entrante tardio no mercado internacional, faz com que o fenômeno de internacionalização de empresas seja incipiente. Grande parte deste processo é devido à implementação de políticas que promoviam o desenvolvimento da economia inclinado para o mercado nacional. Porém removido este viés antiinternacionalista, era de se esperar que as empresas prosperassem como multinacionais, como foi o caso da Índia, por exemplo, que atua com o quadro de 578 empresas multinacionais emergentes. No entanto, estudos mostraram que as multinacionais brasileiras ainda são emergentes, e sua internacionalização é incipiente e com pouca representatividade internacional. Pode-se concluir que, tal como muitos outros fenômenos inerentes à globalização, a internacionalização de empresas brasileiras constitui uma realidade inelutável, ainda que incipiente em nosso caso. Para que o Brasil deixe de ser incipiente em relação à internacionalização, aumentando o número de empresas no mercado internacional, seriam necessárias mudanças AcroPDF - A Quality PDF Writer and PDF Converter to create PDF files. To remove the line, buy a license. 54 estruturais para a implementação de uma ação de internacionalização empresarial sustentável e segura. Há de se concluir que o lado avesso da internacionalização das empresas brasileiras dificilmente colocará em risco a produção industrial no Brasil. Embora do ponto de vista microeconômico seja compreensível e justificável que as empresas busquem maximizar os seus lucros, há questões mais amplas envolvidas. Este processo é um indicativo de que a economia brasileira tende a se tornar cada vez mais hostil à produção industrial em solo nacional, o que gera impacto em vários fatores. Quando as empresas se deslocam para o exterior, há também um deslocamento de empregos que poderiam ser gerados no Brasil, o que afeta negativamente a geração de renda e o coeficiente de desenvolvimento da economia nacional. O Brasil não tem condições de sustentar o movimento defensivo de internacionalização de suas empresas, se este continuar ganhando forças, o Brasil sofrerá enormes divergências estruturais. E para o Brasil, um país ainda em desenvolvimento, são poucas as chances de sustentação ao passo que as grandes empresas vão bem, e a economia nacional como um todo, vai mal. É preciso que haja tomadas de iniciativas tanto privadas, como por parte do governo para que os projetos de internacionalização sejam sustentados; podendo assim, unir esforços para o desenvolvimento de conhecimentos e instrumentos necessários para uma melhor inserção das empresas brasileiras no comércio internacional. AcroPDF - A Quality PDF Writer and PDF Converter to create PDF files. To remove the line, buy a license. 55 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALEM, Ana Claudia; CAVALCANT, Carlos Eduardo. O BNDES e o apoio à internacionalização das empresas brasileiras: algumas reflexões. Revista do BNDES, Rio de Janeiro, v 12. n.24, p 44, dez. 2005. ALMEIDA, André; et al. Internacionalização de Empresas Brasileiras: Perspectivas e riscos. I ed. Rio de Janeiro: Santuário. 2007, 316 p. 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