O LADO AVESSO DA INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS

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Centro Universitário de Belo Horizonte
DANIELA BELINELLI SILVA
O LADO AVESSO DA INTERNACIONALIZAÇÃO DE
EMPRESAS BRASILEIRAS – internacionalização defensiva
em um cenário incipiente
BELO HORIZONTE
2008
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DANIELA BELINELLI SILVA
O LADO AVESSO DA INTERNACIONALIZAÇÃO DE
EMPRESAS BRASILEIRAS – internacionalização defensiva
em um cenário incipiente
Monografia
apresentada
ao
Centro
Universitário de Belo Horizonte como requisito
parcial à obtenção do título de bacharel em
Relações Internacionais
Orientador: Clégis Dolabella Romeiro
BELO HORIZONTE
2008
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DANIELA BELINELLI SILVA
O LADO AVESSO DA INTERNACIONALIZAÇÃO DE
EMPRESAS BRASILEIRAS – internacionalização defensiva em
um cenário incipiente
Monografia
apresentada
ao
Centro
Universitário de Belo Horizonte como requisito
parcial à obtenção do título de bacharel em
Relações Internacionais
Área de concentração: Ciências Humanas
Monografia aprovada em: 11 de dezembro de 2008.
Banca examinadora:
_____________________________________________________________________________________
Prof. Cláudio José Faleiros, Uni-BH
_____________________________________________________________________________________
Prof. Sandra Elisabeth de Leão Rodrigues Diniz, Uni-BH
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5
Aos meus pais, Vera Lúcia e Hélio Olímpio, dedico.
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6
Sinceros agradecimentos aos meus pais, eles foram peças
essenciais à realização desse sonho, uma vez que almejam para
mim um futuro muito mais promissor que eu própria poderia
desejar; o amor e esperança deles me fizeram continuar
e conseguir vencer. Não poderia deixar de agradecer toda minha
família, que enumeradas vezes me colocaram em suas orações,
aos amigos por todo apoio e momentos felizes; e ao meu
namorado Felipe, pelas horas de dedicação, por todo amor e por
estar sempre do meu lado me mostrando que além de sonhar,
realizar também é possível. Agradeço ao meu orientador Clégis
Romeiro,
por
toda
dedicação,
paciência,
atenção,
compartilhamento de idéias e conhecimentos. E a Deus além de
agradecer, eu peço que fique sempre comigo.
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7
“O sucesso nasce do querer, da determinação e persistência em
se chegar a um objetivo. Mesmo não atingindo o alvo, quem busca
e vence obstáculos, no mínimo fará coisas admiráveis”.
(José de Alencar)
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RESUMO
Esta monografia trata do lado avesso da internacionalização das empresas brasileiras,
o enfoque é dado na implementação de uma estratégia defensiva em um palco onde a
internacionalização de empresas é um fenômeno ainda incipiente. O capítulo um busca
prover informações necessárias, assim como teóricas – abrange globalização,
internacionalização de empresas, o Brasil e o comércio internacional – para o melhor
entendimento e correlação de vertentes presentes no capítulo dois. Este primeiramente
compreende o lado positivo da internacionalização das empresas brasileiras, o que dá
margem à notificação de outro movimento presente, o da internacionalização defensiva;
que tem como hipótese a motivação de fuga de custos nacionais. O objetivo deste
trabalho é delimitar as motivações e extremar os resultados visíveis da ainda incipiente
internacionalização das empresas brasileiras, introduzindo o lado avesso dessa.
Palavras-chave: Globalização. Brasil e o Comércio Internacional. Internacionalização de
empresas. Internacionalização Defensiva e Incipiente.
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9
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Os principais vendedores de produtos para o Brasil................................... 31
Tabela 2 – Os principais compradores dos produtos brasileiros................................... 31
Tabela 3 – Características das firmas exportadoras brasileiras.................................... 34
Tabela 4 – Setores de potenciais exportadoras brasileiras........................................... 34
Tabela 5 – Aglomerações industriais exportadoras de grande escala.......................... 35
Tabela 6 – As 100 Empresas Multinacionais Emergentes Mais Transnacionalizadas Origem, Incidência Setorial e Grau de Internacionalização – 2005............................... 45
Tabela 7 – As 100 Empresas Emergentes com Capacidade de Desafiar Globalmente as
Incumbentes Setoriais - 2006........................................................................................ 48
Tabela 8 – Tendência de Resposta Empresarial aos Fatores de Impulsão à
Internacionalização........................................................................................................ 49
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LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 – Distribuição da população brasileira por região......................................... 32
Gráfico 2 – Brasil. Participação na importação brasileira (por estado)2005................. 36
Gráfico 3 – Brasil. Exportações e importações totais (em toneladas) – 1989 -2005.... 37
Gráfico 4 – Investimento Externo Direto no Brasil........................................................ 40
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LISTA DE QUADROS
Quadro 1 – Identificação dos riscos internos................................................................ 22
Quadro 2 – Identificação dos riscos externos............................................................... 24
Quadro 3 – Geral Brasil................................................................................................ 33
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12
SUMÁRIO
Pág.
INTRODUÇÃO.........................................................................................................
1
GLOBALIZAÇÃO,
CONSIDERAÇÕES
INTERNACIONALIZAÇÃO
SOBRE
A
INSERÇÃO
DE
ECONÕMICA
13
EMPRESAS
DO
BRASIL
E
NO
MUNDO....................................................................................................................
15
1.1 Globalização: interpretações sobre o fenômeno................................................
15
1.2. Fatores determinantes da internacionalização de empresas............................
19
1.3. Considerações sobre a inserção econômica do Brasil no mundo.....................
25
2 O LADO AVESSO DA INTERNACIONALIZAÇÃO DAS EMPRESAS BRASILEIRAS
– INTERNACIONALIZAÇÃO DEFENSIVA EM UM CENÁRIO INCIPIENTE..........
38
2.1. Internacionalização das empresas brasileiras...................................................
38
2.1. Internacionalização defensiva em um cenário incipiente..................................
42
3 CONCLUSÃO.......................................................................................................
52
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................................
55
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13
INTRODUÇÃO
O princípio ordenador de tudo é definido a partir de um fenômeno, o da globalização.
Este fenômeno nos remete à idéia de interdependência entre os países, não somente
no campo econômico, mas também nas esferas política, social e cultural. É inerente a
este processo o desenvolvimento e alastramento das tecnologias de informação e
comunicação, e o acesso a meios de transportes cada vez mais velozes e baratos,
facilitando a utilização dos mesmos. Uma de suas expressões mais evidentes é a
abertura da economia, haja vista que a globalização financeira proporciona a livre
circulação de produtos e capitais entre os países, o que a priori tende a aumentar o
bem-estar social, pois o indivíduo passa a ter mais variedades e oportunidades.
Elementarmente, com a crescente participação do comércio externo na oferta e
demanda de bens e serviços domésticos, a maior concorrência leva a busca de
eficiência, eficácia e qualidade.
Com o processo, surgiu também a possibilidade de empresas adentrarem territórios
estrangeiros – com a globalização produtiva, foi possível também transnacionalizar a
produção –, almejando melhores condições de produção e a evidente maximização dos
lucros.
De forma nominal ao Brasil, tal abertura foi fator fundamental para a modernização da
economia interna. O consumidor brasileiro passou a contar com produtos importados,
classificados como de maior qualidade e menor preço, o que, conseqüentemente, levou
as empresas brasileiras a disponibilizarem também produtos com menores preços e
maior qualidade. É fato que o processo de globalização atingiu de forma surpreendente
e rápida as relações internacionais entre países e empresas.
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14
O investimento no país estrangeiro, feito por empresas de países emergentes, como é o
caso do Brasil, é um fenômeno que pode ser considerado recente. Desde a crise do
início do ano de 1980, surgiu a necessidade de internacionalizar as empresas nacionais
para concretizar o sistema industrial implementado no Brasil, ainda jovem na época.
Porém após uma grande espera, o que pode ser percebido hodiernamente é que
quando o movimento de internacionalização de empresas brasileiras começa a ganhar
fôlego, verifica-se que o processo está acontecendo às avessas. Em certo sentido, o
processo de internacionalização é pensado como uma forma de as empresas se
resguardarem das oscilações encontradas em seus países de procedência.
Comumente, a internacionalização é vista como a consolidação de uma estratégia
produtiva de expansão da empresa, com o acúmulo de eficiência, eficácia e
competências, que habilita a pujança de produzir no exterior. Porém ultimamente, várias
empresas que não possuem “status de líderes”, mas que encontram entraves no
mercado interno, grande oneração tributária e excesso de burocracia, partem para a
internacionalização como um processo defensivo; como uma reação à impossibilidade
de crescer internamente. Este processo sublinha a predominância de fatores
microeconômicos adversos ao crescimento das empresas em solo nacional.
Diante
destes
fatos
torna-se
imprescindível
voltar
as
atenções
para
a
internacionalização defensiva, sendo esta a internacionalização vista do lado avesso,
pois o Brasil ainda apresenta um grau incipiente – dado o envolvimento tardio com o
mercado internacional – de empresas nacionais em âmbito internacional, e também
pelo fato de ser uma economia em desenvolvimento, incapaz de lidar e sustentar esse
tipo de distorção estrutural, reforçam a importância do estudo e conscientização do
tema.
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15
1 GLOBALIZAÇÃO, INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS E CONSIDERAÇÕES
SOBRE A INSERÇÃO ECONÔMICA DO BRASIL NO MUNDO.
1.1 GLOBALIZAÇÃO: Interpretações sobre o fenômeno
O termo "globalização" tem sido empregado como um neologismo, não existe uma
definição que seja aceita por todos.
Pode ser tudo e pode ser nada. Sim, porque, a rigor, nada é sinônimo de
tudo… Na verdade, tudo é uma evasiva, pois não esclarece nada. Tudo é
resposta de preguiçoso. É resposta de quem não quer se comprometer. Eis a
resposta mais simples e contundente para definir globalização: é a
interdependência financeira entre as nações. Se quiser se estender: é a
conjunção de forças poderosas, onde se destaca a tecnologia, que torna as
nações interdependentes, financeiramente e economicamente. (PELUFFO,
2008, grifo nosso).
Globalização é freqüentemente associado a jargões econômicos e, de forma mais
específica, ao crescente acesso a meios de comunicação e trocas de informações,
assim como a mobilidade internacional do capital e de produtos. Apesar de divergentes
concepções, observa-se um relativo consenso de que é a representação de um
fenômeno que confere enormes desafios, a globalização abrange mais do que o fluxo
monetário e de mercadorias; implica a interdependência dos países e das pessoas,
além da uniformização de padrões como está ocorrendo em todo o mundo,
compreende também o espaço social e cultural.
A partir de um ponto de vista econômico sobre o fenômeno da globalização, este pode
ser dividido em dois processos principais, são eles: globalização financeira e
globalização produtiva.
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Na Globalização Financeira pode ser apontado o grau de mobilidade dos capitais como
o elemento central dessa nova ordem. Assim, a globalização financeira pode ser
caracterizada como uma ordem na qual são eliminadas as restrições à mobilidade de
capital. Este fenômeno vem tomando forma desde os anos 80 e abrange os processos
de expansão dos fluxos financeiros internacionais, que pode ser representado em forma
de empréstimos, financiamentos e investimentos em portfólio1; abrange tanto os países
desenvolvidos quanto os subdesenvolvidos. Compreende o aumento do grau de
integração entre os sistemas financeiros nacionais, de maneira que títulos e ações
passam a pertencer a pessoas de outros países – o que aumenta o fluxo de
investimentos cruzados – troca entre países desenvolvidos e em desenvolvimento. E
por fim engloba o aumento da concorrência nos mercados internacionais de capitais, os
investidores que podem ser bancos ou instituições financeiras não bancárias, acabam
desenvolvendo o mercado de capitais2, isso ocorre também nos países desenvolvidos e
em desenvolvimento.
Esta globalização determina a integração dos mercados financeiros nacionais em um
grande mercado financeiro internacional, a partir de processos como: ascensão de
idéias neoliberais3, o que propiciou o aumento da desregularização do sistema
financeiro, permitindo a abertura da economia para o capital. Países desenvolvidos
aderem a esta prática, e os em desenvolvimento acabam sendo obrigados a seguir o
fluxo devido às crises do petróleo e da dívida externa. O fim do sistema Bretton Woods
acabou trazendo muita instabilidade para o sistema financeiro internacional. Para se
proteger dos riscos causados pelo fim desse sistema monetário, que propiciava regras
1
A decisão de investir em portfólio é dada em contrapeso ao risco de perda de capital. Os indivíduos que
possuírem algum grau de aversão ao risco irão, como forma defensiva, manter uma parte de sua riqueza
sob a forma de moeda como uma estratégia defensiva contra o risco considerado.
2
Mercado de capitais é um sistema de distribuição de valores mobiliários, que tem o propósito de
proporcionar liquidez aos títulos de emissão de empresas e viabilizar seu processo de capitalização. É
constituído pelas bolsas de valores, sociedades corretoras e outras instituições financeiras autorizadas.
3
O neoliberalismo foi um programa político-ideológico-econômico voltado a viabilizar a superação da
crise do capitalismo no contexto da nova etapa do processo de globalização que se iniciou na década de
1980. Esse programa mantém a essência do liberalismo clássico, cujo autor é Adam Smith, e busca a
maximização da utilidade do indivíduo e a não intervenção do Estado na economia.
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para regulamentar as relações comerciais e as relações financeiras, os atores
desenvolveram novos instrumentos financeiros para se protegerem de novas crises.
Empresas e investidores pulverizaram investimentos em capital, ao invés da esfera
produtiva, incentivados pela crise do petróleo. E por fim, o fator da ordem sistêmica:
consumidores perdem poder de compra e empresas diminuem a produção, além de
menor investimento, o que leva os agentes a investirem mais no sistema financeiro e,
conseqüentemente, os mercados de capitais são expandidos, tanto internamente,
quanto externamente.
Já a Globalização Produtiva é dada a partir de três processos distintos: o acirramento
da concorrência internacional, o avanço do processo de internacionalização da
produção4, e o elevado grau de integração entre as estruturas produtivas das
economias nacionais.
Ao tratar de globalização produtiva faz-se necessário a distinção de internacionalização
da produção, que se dá na esfera produtiva; e a internacionalização que se restringe à
esfera comercial: importação ou exportação, que são meios de inserção comercial no
sistema econômico internacional. No entanto, no âmbito da inserção produtiva no
sistema econômico internacional, tornam-se relevantes dois pontos: as relações
contratuais e os investimentos externos diretos. O primeiro ponto ocorre quando um
agente econômico estrangeiro opera no âmbito da economia nacional, através de
subsidiários ou filiais. O segundo ponto se torna possível a partir das participações do
resto do mundo na produção de bens e serviços nacionais.
Segundo dados obtidos na UNTAD, World Investiment Report, Genebra, United Nations
Conference on Trade and Development, diversos números; a partir de meados dos
anos 80, houve um aumento extraordinário dos fluxos de investimento externo direto e
4
Ocorre quando os residentes de um país têm acesso a bens e serviços originados de outros países.
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18
das relações contratuais, assim como das empresas transnacionais. Entretanto os
dados demonstraram também um comportamento marcadamente cíclico dessas
variáveis e, como resultado, não há evidência em favor da aceleração do processo de
internacionalização da produção. Por outro lado, na medida em que o investimento
externo direto, as operações das empresas transnacionais e as relações contratuais em
escala mundial aumentaram mais do que o total da renda mundial, pode-se argumentar
em termos da maior integração entre as economias nacionais.5
Em epítome, ocorreu o processo de integração das estruturas produtivas domésticas,
em uma estrutura produtiva internacional. É importante ressaltar a importância dos
mecanismos que condicionam esta ordem: as relações contratuais e os fluxos de
investimento
de
investimento
direto
externo,
e
a
operação
das
empresas
transnacionais, pois a globalização produtiva é o que dá início à internacionalização de
empresas.
1.2. INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS
A partir de vários estudos em torno do tema internacionalização de empresas, esta
pode ser definida através da atuação de uma empresa em diferentes países, gerindo
movimentos de fatores de produção, como transferências de capital, desenvolvimento
de
projetos
em
cooperação
com
parceiros
estrangeiros;
ou
simplesmente
comercializando os seus produtos em outros países. A internacionalização abrange
todo o tipo de intervenção avançada nos mercados externos, compreendendo todas as
fases, desde a exportação, até o investimento direto no exterior.
5
Análise com base em dados colhidos de 1981 a 1995.
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19
Nenhuma empresa nacional está, de todo, livre da influência de forças
envolventes estrangeiras ou internacionais, porque existe sempre a
possibilidade da concorrência de importações ou de concorrentes estrangeiros
que estabelecem operações no seu próprio mercado. (Donald A. Ball; Vendell
H. Clloch, 2005, in ABRANTES, Antônio [200-]).
A internacionalização, no sentido macro-econômico6, é relacionada ao conjunto dos
fluxos de trocas de matéria-prima, produto final ou semi-acabado, serviço, tecnologia,
dinheiro, idéias e pessoas, efetuadas entre Estados.
Nas palavras de Alem e Cavalcanti (2005):
a estreita correlação entre o comércio exterior e os investimentos externos
diretos torna a internacionalização uma necessidade para que as empresas
possam aumentar sua competitividade e enfrentar a concorrência internacional.
Dada a relação existente entre comércio e investimentos, a maior liberdade de
fluxos financeiros entre os países tem permitido a mescla de capitais e a
instalação de filiais em outros países, dando a muitas empresas características
internacionais. (ALEM; CAVALCANTI, v 12. n.24, p 44, 2005).
Para GOULART et al. (1999, p.21), internacionalização é “um processo crescente e
continuado de envolvimento de uma empresa nas operações com outros países fora de
sua base de origem”.
No entendimento de HYMER7 (1979):
6
A Macroeconomia pode ser entendida segundo Paulo Nunes - Economista, Professor e Consultor de
Empresas - como a ciência que estuda o comportamento da Economia na sua globalidade.
7
HYMER, S. The international operations of national firms: a study of direct foreign investiment.
Cambridge, MA: MIT Press, 1960.
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20
a internacionalização das empresas está ligada a uma vontade de tirar proveito
de uma concentração industrial crescente e de um poder reforçado sobre o
mercado que as conduzem, na sua procura de uma melhor rentabilidade, de um
mercado nacional aos mercados internacionais. (citado por HAGEDOORN;
SCHAKERNAAD, 1995).
Existem várias definições e modelos em torno do tema Internacionalização de
Empresas, o trabalho limita-se ao modelo de Dunning (1993), possivelmente o principal
estudioso do processo de internacionalização de empresas. Fica explícito que o modelo
pode possuir algumas limitações, visto que é a simplificação de uma realidade
vastamente complexa, o trabalho se abstém aos fatores mais relevantes traçados por
Dunning.
John Dunning (1993) mapeou quatro estratégias, que delimitam os processos
motivadores para a internacionalização de empresas:
a) Busca de mercados: utilizando-se desta estratégia, a empresa explora os benefícios
de novos e diversos mercados.
b) Busca de matérias-primas: nesta estratégia, a empresa busca explorar a custos
minorados, os recursos naturais disponíveis no país estrangeiro.
c) Busca de eficiência: as empresas transnacionais tentam conseguir vantagens sobre
a escala e racionalização da produção.
d) Busca estratégica: a empresa busca aglomerar estruturalmente um conjunto de
competências, tais como a aquisição de ativos estratégicos voltados à inovação de
produtos, propiciando maiores vantagens competitivas naquele mercado.
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21
Estas quatro estratégias são motivadoras, no sentindo de que quando uma empresa
direciona-se à expansão internacional, leva-se em conta que as perspectivas de
crescimento no país de origem já não são suficientemente atrativas; ou então as
empresas começam a identificar oportunidades mais interessantes no exterior,
traduzindo-as em benefícios. Os benefícios gerados se desdobram em dois pólos
distintos, porém complementares: as empresas de caráter transnacional8 e os seus
países de origem. Percebe-se então que os países mais fechados, com baixo grau de
inserção internacional, são conseqüentemente os menos desenvolvidos e menos
competitivos.
No entanto, ao buscar oportunidades no mercado internacional as empresas
comprometem recursos, envolvem-se com novas tecnologias, freqüentam ambientes
culturais, jurídicos, políticos, financeiro e econômico diversos, o que faz crescer o grau
de incerteza dos resultados e os riscos e as ameaças das operações. As empresas
precisam passar por processos de identificação, análise e respostas aos riscos
encontrados no mercado, com o objetivo de maximizar os resultados e minimizar as
perdas. O quadro a seguir procura identificar os riscos relacionados ao processo de
internacionalização das empresas, quantificar esses riscos sob o ponto de vista
financeiro, desenvolver um conjunto de respostas aos riscos envolvidos e atinar as
respostas da empresas aos riscos.
8
De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), empresas transnacionais são aquelas
compostas da matriz e filias estrangeiras.
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22
Quadro 1
Identificação dos riscos internos:
Risco
Causas e características
1. Estudo de
viabilidade técnica,
econômica e financeira
incorreto ou mal
interpretado
Feita por pessoal pouco
especializado na área, a avaliação
pode superestimar a capacidade
da empresa em disputar os
mercados externos. Em outra
análise, o relatório pode estar
correto, mas ser mal interpretado
pelo consultor e pela empresa.
2. Surgimento de focos
de resistência entre
funcionários ou na alta
direção da empresacliente
Se uma parte da direção ou dos
funcionários possui razões –
reveladas ou não – para se opor
às atividades de
internacionalização, mas essas
razões não foram conhecidas e/ou
trabalhadas durante o projeto.
3. Incorreções no
processo de
determinação nos
mercados-alvo
Por uma abreviação nos
processos de levantamento e
escolha de mercados, ou pela
inadequada aplicação de técnicas
de leitura de dados, podemos
selecionar grupos de clientes com
potencial inferior ao estimado ou
necessário à sobrevivência da
empresa.
4. Falhas
Apreensão de características
metodológicas nos
cognitivas e dimensionamento de
testes de mercado
potencial de mercado incorreto
podem levar a situações em que
as vendas fiquem muito fora do
previsto – para mais ou para
menos.
5. Escolha equivocada Ao não estimar corretamente
das estratégias de
dificuldades ou potenciais de
internacionalização
mercado, a empresa pode ser
levada a iniciar o seu processo de
internacionalização por uma via
inadequada, com impactos
negativos nos seus lucros.
6. Nomeação de
Escolhendo bancos com pequena
intermediários inábeis credibilidade internacional,
no desempenho de
empresas transportadoras mal
suas atividades
aparelhadas e administradas e
agentes aduaneiros inexperientes,
a empresa poderá enfrentar
dificuldades adicionais no projeto.
7. Erros na condução
Caso tenha havido problemas na
Quantificação e desenvolvimento de
respostas aos riscos
Risco elevado em razão de diferentes
metodologias, embebidas de forte
componente subjetivo, levarem os
autores do estudo ou os consultores
contratados a incorrerem em falhas
graves de análise. O procedimento
adequado é, ao se notar qualquer
possibilidade de discrepância de
visões, buscar a opinião de outros
experts nesse mercado.
Risco elevado, pois o receio à
mudança é fato corriqueiro nas
organizações. O procedimento
adequado é, desde o princípio, buscar
estabelecer canais de comunicação
com todos os envolvidos, dando-lhes
incentivos e oportunidades para
manifestar-se.
Risco médio, dada a diversidade dos
mercados e de suas características. É
importante revisar com cuidado cada
uma das etapas correspondentes a
este momento do projeto e fornecer
subsídios claros para o trabalho de
teste de mercado, etapa posterior a
esta.
Risco médio, pois as técnicas
disponíveis para aferir tais quesitos já
se encontram consagradas, havendo
um bom número de fontes e
profissionais habilitados a desenvolver
seu uso.
Risco baixo, já que é possível, durante
a análise das alternativas disponíveis,
ponderar as opções e, dentre elas,
eleger a que ofereça as melhores
perspectivas.
Risco baixo, pois os parceiros
disponíveis no Brasil e no exterior são
bastante conhecidos, apresentam seus
currículos abertamente no mercado e
possuem mecanismos de autoregulação dentre seus pares que os
tornam internacionalmente bem
reconhecidos.
A exemplo do que foi exposto na 2a
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23
dos processos de
reorganização
funcional da empresa
8. Opções logísticas
caras ou demoradas
demais para o
mercado-alvo
etapa 2 deste monitoramento de
riscos, e os focos de resistência
de funcionários e da alta gerência
permaneçam, ou que, durante o
processo de adaptação da
empresa aos novos padrões de
qualidade internacionais, haja
inabilidade no relacionamento
entre a consultoria e os elos de
poder dentro da empresa, isso
pode comprometer o bom
andamento do projeto.
Na ânsia de buscar a melhor
opção, os gerentes podem
priorizar fatores que gerem um
desequilíbrio na relação custobenefício ou ofereçam uma
solução logística inadequada ao
cliente.
etapa deste monitoramento de riscos, o
risco é elevado, pois o receio à
mudança é fato corriqueiro nas
organizações. O procedimento
adequado é, desde o princípio, buscar
estabelecer canais de comunicação
com todos os envolvidos, dando-lhes
incentivos e oportunidades para
manifestar-se.
Risco elevado, não tanto pela alta
possibilidade de sua ocorrência, mas
pelo impacto que poderá causar nos
negócios. Avaliar com cuidado as
opções disponíveis e ter um amplo
domínio sobre as necessidades
específicas de cada mercado são a
chave para dirimir este risco.
9. Má gestão das
Não monitoramento das
Risco elevado, devido às distâncias
vendas externas
atividades do canal de distribuição muitas vezes levarem o fornecedor a
externa, gerando ineficiências nos descuidar-se do controle sobre os
processos.
processos de vendas externas. No
contrato de fornecimento, deve-se
prever os mecanismos de
acompanhamento do trabalho do
distribuidor, bem como um sistema de
remuneração que evite a construção de
relacionamentos conflituosos com o
canal.
10. Inexistência de
A internacionalização das
Risco médio, a ser evitado criando-se
mecanismos de
empresas é um processo que,
canais apropriados para que haja um
comunicação
normalmente, ocorre em paralelo fluxo interno de informações entre as
eficientes
ou na esteira de uma fase de
partes envolvidas.
crescimento, na qual as estruturas
antigas de comunicação
organizacional muitas vezes não
mais comportam as atuais
necessidades.
Fonte: MAXIMINIANO, Antônio; et al. Projeto de Internacionalização de empresas industriais.
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24
Quadro 2
Identificação dos riscos externos:
Riscos
Causas e características
1. Instabilidades
cambiais afetarem as
relações entre
comprador e vendedor
Mudanças nas relações políticoeconômicas internacionais, crises
cambiais ou financeiras podem
alterar as condições usuais de
comercialização, inviabilizando
mercados específicos ou todo o
projeto.
2. Mudanças políticas O governo brasileiro ou do
afetando os programas mercado destino podem interferir
de internacionalização nas regras de Comércio
Internacional, afetando os planos
da empresa exportadora.
3. Chegada de novos
Mudanças no panorama
competidores, mais
concorrencial são uma realidade
eficientes ou dispostos tanto para o mercado interno
a iniciar uma guerra de quanto externo.
preços
4. Percepção
Este é um risco que está no limite
equivocada, pelo
entre os fatores internos e
mercado, sobre os
externos à empresa. Relaciona-se
conceitos oferecidos
ao domínio insuficiente de
pela empresa a seus
conhecimentos sobre as
clientes.
características do mercado
destino, seus valores e crenças.
Quantificação e desenvolvimento de
respostas aos riscos
Risco elevado, pois esses fenômenos
estão fora das possibilidades de
controle da empresa. Sua probabilidade
de ocorrência, no entanto, é muito
pequena, sobretudo para a atividade
exportadora, vista hoje pelo governo
como uma alternativa real de
crescimento econômico e de busca de
justiça social. A empresa, no entanto,
deve sempre buscar firmar contratos de
longo prazo, fazendo hedge de seus
recebíveis e diversificando seu portifólio
de clientes.
Risco baixo, devido ao atual cenário. A
exemplo do exposto acima, a empresa
deve sempre buscar firmar contratos de
longo prazo e diversificar seu portifólio
de clientes.
Mais uma vez, a empresa deve sempre
buscar firmar contratos de longo prazo,
diversificando seu portifólio de clientes.
Risco elevado, pois estamos lidando
com uma cultura diferente da nossa,
fato que pode trazer graves
conseqüências ao sucesso do
empreendimento. Devemos, para
dirimir este risco, escolher parceiros
internacionais com fortes raízes
culturais locais e identificadas com o
sucesso do nosso projeto.
Fonte: MAXIMINIANO, Antônio; et al. Projeto de Internacionalização de empresas industriais.
De modo geral, a internacionalização de empresas permite a absorção de novas
tecnologias, o aprimoramento de capacidade gerencial, a obtenção de recursos
financeiros com maior facilidade e menores custos. Isto possibilita um aumento da
eficiência de atuação em determinado mercado. Quando uma empresa investe e
intensifica seu processo de internacionalização, a mesma aumenta a capacidade
competitiva perante os concorrentes. Este processo pode ser considerado parte vital
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25
para a sobrevivência de uma empresa, visto que não existe refúgio seguro no mercado
interno, a concorrência das empresas estrangeiras está em todo lugar.
1.3. CONSIDERAÇÕES SOBRE A INSERÇÃO ECONÕMICA DO BRASIL NO
MUNDO9.
A partir de análises históricas, é possível perceber que o Brasil sempre evitou
confrontos com outras nações para promover sua inserção no mercado regional e
global, celebrando acordos e tratados, e sempre observando as dimensões da
globalização. A inserção global do Brasil ocorre com a alternância recorrente de suas
políticas de comércio exterior, adotando em certos momentos o protecionismo da
produção interna, e em outros a livre competição internacional, defendendo a
concorrência com o exterior.
O Brasil foi descoberto e governado por uma elite que tinha como intuito a exportação –
que se dava por parte de colonizadores via exploração – de produtos como: cana de
açúcar, ouro, café, madeira, borracha. Foi a importação o único meio de acesso a
produtos industrializados por mais de cem anos. No entanto o país começou a
desenvolver sua capacidade empresarial, o que deu margem ao surgimento das
primeiras indústrias brasileiras. A industrialização brasileira começou a se desenvolver
com base na sociedade agro-exportadora. Até o século XIX, o Brasil podia ser
considerado um país pouco dinâmico economicamente, com uma estrutura financeira
que não propiciava e nem estimulava o desenvolvimento das indústrias, e o mercado
interno era pequeno.
9
Informações com base na obra: GONÇALVES, Reinaldo et al. A nova economia internacional: uma
perspectiva brasileira. Rio de Janeiro: Campus, 1998. 392 p.
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26
De acordo com Suzigam10 “Até o final do ano de 1920, os princípios que norteavam a
política econômica brasileira eram claramente liberais: mercado livre de câmbio, tarifa
fiscal, política fiscal tradicional de orçamento equilibrado e austeridade monetária”.
(SUZIGAM, 1976, citado por GONÇALVES, 1998, p 247).
As políticas governamentais brasileiras objetivavam apenas evitar que as seguidas
crises cambiais que estavam ocorrendo paralisassem o país. Porém a proteção da
indústria brasileira se dava de forma involuntária, o que gerou ótimos resultados para o
país. Apesar das proteções à produção industrial presentes em alguns períodos da
época não serem consideradas, conseqüências de uma política protecionista, e sim do
estrangulamento cambial e do desequilíbrio fiscal do Brasil, não houve apenas políticas
de proteção que ocorreram acidentalmente. No ano de 1930, por exemplo, foram
tomadas várias medidas de apoio à industrialização, onde o fator determinador à
proteção foi a política cambial. Em 1949, a indústria brasileira já tinha tido um avanço
considerável em seu processo de industrialização.
Razões pragmáticas estimularam a proteção da indústria nacional como forma de
estimular o seu desenvolvimento, até mesmo no governo de um liberal assíduo como
Dutra, que tentou buscar suporte no governo dos Estados Unidos para liberalizar a
economia brasileira. Porém o governo norte americano não demonstrou interesse em
reproduzir a parceria econômica que teve com o Japão e com a Europa. Durante a
Segunda Guerra mundial foi estimulado por parte dos Estados Unidos, a
implementação da política de substituição de importações11 no Brasil. Segundo Malan
et al (1977):
10
PELÁEZ, Carlos Manuel; SUZIGAN, Wilson. História monetária do Brasil: análise da política,
comportamento e instituições monetárias. Rio de Janeiro: IPEA/INPES, 1976. 487 p.
11
É um processo que propcia o aumento da produção interna de um país e a diminuição das suas
importações, é geralmente obtido pelo controle das mesmas e manipulação da taxa de câmbio.
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27
os objetivos do auxílio norte americano no Brasil eram: aumentar a produção
local de produtos essenciais, especialmente àqueles antes importados dos
Estados Unidos, de modo a economizar a praça marítima; converter a indústria
local ao uso de matérias-primas substitutas, em lugar daquelas ordinariamente
importadas; manter e melhorar as instalações de transporte; e lançar as
fundações para o fortalecimento de longo prazo para o fortalecimento da
economia industrial do Brasil como um todo. (MALAN et al, 1977, p 4).
Porém, com o término da Guerra, os interesses norte-americanos mudaram
substantivamente, as prioridades do país estavam centradas na Europa e Ásia, e o
apoio às iniciativas econômicas brasileiras foram deixadas de lado. Nesse cenário,
Dutra foi obrigado a estabelecer como um dos pilares de sua política econômica, o
controle cambial.
A política cambial vigente no Brasil acarretava dois problemas que teriam de ser
superados para o avanço da industrialização. O primeiro era que a constante
sobrevalorização da moeda brasileira desestimulava a exportação. O segundo
problema era o atraso na substituição de importações de bens de capital e
insumos básicos. Isto é, o subsídio cambial à importação desses bens, que
favoreceu a formação de capital na indústria, contribuiu para atrasar o
desenvolvimento da produção interna destes. (Suzian, ibidem, citado por
GONÇALVES, 1998, p.454).
A proteção não intencional da industrialização, juntamente com a ausência de uma
política que promovesse as exportações e fossem capazes de estabelecer um
contrapeso na taxa de câmbio e favorecer as mesmas, levou à escassez de produtos
manufaturados destinados à exportação. A partir de meados de 1950 o investimento
industrial, apesar de ainda muito limitado, começou a ser promovido por uma política
governamental. A indústria podia contar então com incentivos para a proteção do
mercado interno, via subsídios que propiciavam a formação de capital.
Entrou governo, saiu governo, e somente com o governo de Juscelino Kubitschek, em
1957, foi implantada uma política protecionista que objetivava claramente o estímulo da
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28
industrialização brasileira. Sob a ótica explícita da política de substituição de
importações, o período foi marcado por um alto crescimento da indústria, porém a crise
do início da década de 1960 veio e demarcou novas alterações na política cambial,
acarretando, a partir de 1964, uma liberalização relativa da política comercial.
Foi então com JK, que o Brasil consolidou o alicerce da industrialização, porém com o
regime militar e as revoluções do período12, o processo de industrialização ficou
parcialmente estagnado. Acabada a revolução, a inserção do Brasil no mundo se deu
com Collor, seu governo deu início às privatizações das estatais e à redução das tarifas
alfandegárias com o um plano que objetivava a redução da inflação no Brasil.
(Informação verbal)13. Com produtos importados a preços reduzidos, veio à tona a
necessidade da indústria brasileira em se modernizar e correr atrás do prejuízo causado
pelo período de estagnação.
O Brasil vinha traçando até então uma longa história de crescimento, porém a mesma é
resultado de um amplo conjunto de causas, entre as quais cita-se: o imobilismo devido
a uma excessiva proteção à indústria nacional, o peso insustentável da dívida externa,
o fracasso dos programas de estabilização na luta contra a inflação e o colapso de um
modelo desenvolvimentista - baseado na intervenção genérica do Estado na economia ; causas estas que interromperam o fluxo dessa história, levando o Brasil à crise. A
crise se aguçou mais no aspecto financeiro com um considerável aumento inflacionário,
que causou uma queda nos níveis de renda do setor público.
Assim um ambiente altamente incerto foi criando e dificultando a retomada dos
investimentos. De acordo com a linha de raciocínio de Fernandes e Pais (1999):
12
Para maiores considerações sobre o período ler SODRÉ, Nelson. Vida e Morte da Ditadura: "Vinte
Anos de autoritarismo no Brasil". Rio de Janeiro: Vozes. 1984.
13
Informação fornecida por Clégis Romeiro, professor da Instituição Uni-BH em Setembro de 2008.
Nota: Tarifa alfandegária é o imposto cobrado pelo governo de um país sobre o valor de produtos
estrangeiros importados.
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29
a partir de 1979, o padrão de crescimento baseado no financiamento externo ou
estatal, através do investimento direto do Estado ou do investimento privado
subsidiado, que tinha prevalecido durante a década de 70, entrou em crise,
quando o fluxo de financiamento externo líquido cessou em 1982. Assim é que,
em razão da crise nacional que se seguiu, emerge uma questão política básica,
que é a de que nos anos oitenta, o Brasil perdeu o controle do seu destino. Três
fatores contribuíram decisivamente para isso, frustrando os intentos de colocar
o país na trajetória do progresso e da modernidade: a dívida externa, as
elevadas taxas de inflação e uma profunda crise do Estado. Embora variem os
graus de relevância destes três fatores, eles estiveram sempre presentes na
conjuntura da crise. (FERNANDES; PAIS, 1999).
Desde a grande crise do início do ano de 1980, surgiu a necessidade de
internacionalizar as empresas nacionais para concretizar o sistema industrial
recentemente consolidado no Brasil. Houve a implementação de sucessivas medidas
econômicas, e tentativas de planos de estabilização por consecutivos governos, com o
intuito de tentar retomar os níveis de crescimento anteriores à crise, e obter controle
inflacionário para recuperar a situação econômica do país.
Em suma, até 1960, o Brasil exportava produtos primários como o algodão, cacau,
fumo, açúcar, madeira, carne, café (representando 70% das exportações) e outros.
Baseava-se
praticamente
em
produtos
naturais
não
manufaturados,
estes
representavam taxa maior que 95% nas exportações. Fato que foi mudado com a
implementação do quadro industrial, que permitiu ao Brasil exportar produtos de maior
valor agregado.
As diferentes políticas de comércio exterior praticadas pelo Brasil foram impulsionadas,
principalmente, por fatores externos. As dimensões e motivações da inserção global do
Brasil são lideradas basicamente pelos fatores econômicos; os demais fatores,
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30
inclusive os sociais, são para muitos decorrentes e concludentes dos primeiros
condicionantes citados – fatores econômicos.
Hoje em dia, o Brasil exporta diversos produtos industrializados e semimanufaturados,
ex: calçados, produtos têxteis, suco de laranja, óleos comestíveis, produtos químicos,
bebidas, alimentos industrializados, aparelhos mecânicos, armamentos, material de
transporte e outros chegando a 55% e 65% das exportações.
As importações também passaram por alterações, pois antigamente importava-se
principalmente bens manufaturados, e atualmente aproximadamente 40% das
importações são matérias-primas, trigo, combustíveis, minerais, carne, bebidas, artigos
de telefonia e informática, motores, alguns metais, máquinas, dentre outros.
As principais parcerias que o Brasil firma para importar seus produtos são: Estados
Unidos, Argentina, Alemanha, China, Nigéria, Japão, França, Itália, Argélia e Coréia do
Sul. Os principais mercados que o Brasil exporta seus produtos são: Estados Unidos,
Argentina, Holanda, China, Alemanha, México, Itália, Japão, Chile e França. Dados
numericamente demonstrados nas tabelas a seguir:
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31
Tabela 1
Os principais vendedores de produtos para o Brasil
Ranking
1º
2º
3º
4º
5º
6º
7º
8º
9º
10º
País
Valor (1)
Estados
11.337
Unidos
Argentina
5.572
Alemanha
5.071
China
3.709
Nigéria
3.499
Japão
2.868
França
2.287
Itália
2.052
Argélia
1.934
Coréia do Sul 1.729
Participação
nas vendas
18,1%
8,9%
8,1%
5,9%
5,6%
4,6%
3,6%
3,3%
3,1%
2,8%
Fonte: Organização Mundial do Comércio / (1)
em bilhões de dólares
Tabela 2
Os principais compradores dos produtos brasileiros
Ranking
País
Valor (1)
1º
Estados
Unidos
Argentina
Holanda
China
Alemanha
México
Itália
Japão
Chile
França
20.038
Participação
nas vendas
20,8%
7.373
5.916
5.439
4.035
3.947
2.904
2.767
2.545
2.189
7,6%
6,1%
5,6%
4,2%
4,1%
3,0%
2,9%
2,6%
2,3%
2º
3º
4º
5º
6º
7º
8º
9º
10º
Fonte: Organização Mundial do Comércio (1) e
em Bilhões de dólares
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32
– Outras informações sobre o Brasil e o comércio internacional:
No Brasil não são verificados hoje conflitos em torno da religiosidade da sua população,
porém em diversos casos a religião pode ser um fator decisivo em negociações
internacionais, devido a divergências culturais .
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33
Quadro 3 - Geral Brasil
Localização do Brasil: América do Sul
Capital: Brasília
Extensão territorial: 8.514.876,00 Km²
Idioma: Português
População total – 2007: 191.790.900 habitantes
Total do PIB – 2006: 1.067.803 milhões de US$
Moeda: Real
Bandeira:
Gráfico 2 – Geral Brasil: localização, extensão territorial; idioma; população total; total do
Produto Interno Bruto; moeda e bandeira. Elaboração própria.
Fonte: IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
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34
Tabela 3
Características das firmas exportadoras brasileiras
Fonte: IPEA – 2007(Instituto de Pesquisa Econômica Ampliada)
É perceptível pela da análise do gráfico que a base exportadora não seguiu o ritmo de
crescimento das exportações. Porém, há 4.000 potenciais exportadoras no Brasil.
Tabela 4
Setores de potenciais exportadoras
Fonte: IPEA – 2007(Instituto de Pesquisa Econômica Ampliada)
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35
Estas encontram-se em setores tradicionais da economia brasileira. Se as potenciais
viessem a exportar, a base se ampliaria 60% e o volume exportado, 22%.
Tabela 5
Aglomerações industriais exportadoras de grande escala
As exportações brasileiras são regionalmente concentradas
Fonte: IPEA – 2007(Instituto de Pesquisa Econômica Ampliada)
As potenciais exportadoras estão concentradas regionalmente: onde São Paulo
representa 45 %, Rio Grande do Sul 15 %; Santa Catarina 9 %; Paraná 8 %; e Minas
Gerais 7 %.
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36
Gráfico 2 – Participação do Brasil na importação, representação por
Unidade Federal Fonte:Ministério do Desenvolvimento, Indústria e
Comércio Exterior (MDIC).
Da mesma forma se dá a participação nas importações, é interessante notar que as
regiões que mais exportam são também as que mais importam, exceto Rio de Janeiro,
que não apresentou taxas significativas nos índices de aglomerações industriais
exportadoras de grande escala.
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37
Brasil. Exportações e importações totais (em toneladas) – 1989 -2005
Gráfico 3 - Total de exportações e importações (em toneladas) no
Brasil – 1989 -2005
Fonte: www.aliceweb.desenvolvimento.gov.br
Comparando o início de 1989, com o último ano, 2005, é notório que do Brasil para o
restante do mundo, o volume das exportações totais chegou a aumentar em 124,2%,
saltando de 177.032.939 toneladas para 396.959.830 toneladas. No mesmo período, a
importação total brasileira, passou de 57.295.180 toneladas para 93.607.165 toneladas;
o que corresponde a um acréscimo de 63,4%.
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38
2 O LADO AVESSO DA INTERNACIONALIZAÇÃO DAS EMPRESAS BRASILEIRAS
– INTERNACIONALIZAÇÃO DEFENSIVA EM UM CENÁRIO INCIPIENTE
2.1 INTERNACIONALIZAÇÃO DAS EMPRESAS BRASILEIRAS
O processo de expansão internacional das empresas, até pouco tempo, era
elementarmente associado aos países desenvolvidos, fato este que não condiz com o
presente momento. A expansão das empresas no âmbito internacional passou a
envolver de forma relevante, as empresas de países em desenvolvimento. Como visto
anteriormente, a necessidade de investir no processo de internacionalização surgiu
diante da impossibilidade de competir com concorrentes muitas vezes transnacionais.
Ou seja, a globalização tem ocasionado um aumento constante de investimentos entre
empresas originárias não somente de países desenvolvidos, como também de alguns
países em desenvolvimento, assim como o Brasil. As empresas brasileiras passam por
mudanças para se adaptarem à realidade dada pelo mercado externo, pois já
perceberam o apelo e escopo globalizante do mesmo.
Antes de começar a abordar a experiência brasileira com a internacionalização de suas
empresas, torna-se imprescindível uma definição/identificação do fenômeno de
internacionalização mais profunda do que a que consta no primeiro capítulo; pois no
caso do Brasil, não são poucas as vezes que os termos internacionalização, exportação
e negociações internacionais são confundidos. Para alguns analistas estes são fases
do mesmo processo.
Segundo Rodrigo Cintra e Bárbara Mourão (2005) essa constatação é pertinente,
sobretudo quando se considera que o tamanho do mercado nacional levou as
empresas brasileiras a terem de enfrentar o que os autores chamaram de “tendência
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39
inercial” muito forte a não se ocupar com uma “[...] atuação internacional sustentada e,
sobretudo, planejada”. Para que a as empresas internacionalizadas e as de caráter
simplesmente exportador tivessem discriminação correta de suas operações, Mourão e
Cintra passaram a preceituar internacionalização como “[...] o processo de concepção
do planejamento estratégico e sua respectiva implementação, para que uma empresa
passe a operar em países diferentes daqueles no qual está originalmente instalada”.
Dada esta definição, o conceito ainda continua sendo muito complexo, pois apenas não
foram
mencionadas
as
relações
de
importação
e
exportação.
Destarte,
a
internacionalização envolveria a movimentação internacional de fatores de produção14,
sendo somente necessário que existisse uma relação fiel e contínua com o exterior.
Entende-se então que a exportação por si só não seria suficiente para dar caráter
internacional às operações de um país no mercado mundial, mas também o
estabelecimento de parcerias, investimentos cruzados entre empresas, acordos de
cooperação industrial e comercial, ou até mesmo, a compra de empresas estabelecidas
em outros países. Esta definição/identificação se torna interessante, pois emerge o
estudo das formas de atuação externa. Cintra e Mourão (2005) procuraram coordenar
diversas formas de atuação no exterior, como transações, comercialização de produtos,
patentes e marcas; projetos especiais, que atuam diretamente no mercado consumidor;
e por último, a qual para o Brasil se dá de maneira majoritária e intensa, o investimento
externo direto (ver gráfico 5), que é a abertura de instalações produtivas ou sedes para
a produção de serviços. As empresas interessadas em se internacionalizarem, segundo
os autores desfrutam de três alternativas estratégicas para a penetração em mercados
externos, sendo: a utilização de uma trading company; o estabelecimento de um
escritório de vendas no exterior, ou ainda a formação de uma joint venture.15
14
Recursos ou Fatores de Produção são os elementos básicos utilizados na produção de bens e
serviços, conforme definiu a Escola Clássica dos Economistas dos séculos XVIII e XIX.
15
Como o objeto de estudo não se destina às formas e estratégias de inserção, para mais informações
ler
os
artigos
disponíveis
em:
http://www.focusri.com.br/artig7.htm
e
www.revistaautor.com.br/index.php?option=com_contend&task=VIEW&ID=304ITEMID=46
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40
O Investimento Direto Estrangeiro (IDE) tem realizado um papel importante na
economia brasileira há mais de cem anos. Entre o fim da Segunda Guerra Mundial e o
início dos anos 80, o grande e dinâmico mercado interno brasileiro, somado à proteção
contra a concorrência das importações estrangeiras, transformaram o Brasil em um dos
destinos preferidos para o IDE entre os países em desenvolvimento, isto devido à
atrativa taxa de retorno de investimentos oferecida pelo país.
Quanto ao aparato governamental, as autoridades brasileiras têm demonstrado,
entretanto, um grande e evidente interesse em promover a internacionalização das
empresas brasileiras. Apesar de no Brasil, ainda não existir movimentos coordenados
para a definição e promoção de uma estratégia nacional, visando a internacionalização
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41
de empresas, como ocorre com Índia e China, várias iniciativas vêm sendo tomadas por
díspares órgãos governamentais, como o Ministério do Desenvolvimento, o Ministério
das Relações Exteriores, Indústria e Comércio Internacional, a Casa Civil e o Banco
Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social.
Não há como negar que prevalece uma percepção generalizada de que o impacto da
internacionalização é positivo no país investidor, pois o mesmo gera ganhos de
competitividade que fortalecem as empresas, as tornam mais resistentes a choques
internacionais, e seus lucros são revertidos positivamente sobre a economia nacional
como um todo.
Alem e Cavalcanti (2005) fazem um balanço líquido da internacionalização de
empresas brasileiras:
seus efeitos são majoritariamente positivos, na geração de
empregos, na competitividade, na obtenção e no desenvolvimento da tecnologia. Neste
sentido a internacionalização deve ser vista como “[...] um meio essencial para o
aumento
da
competitividade
internacional
das
empresas,
promovendo
o
desenvolvimento do país e facilitando o acesso a recursos e a mercados, e a
reestruturação econômica”. Os autores opinam no mesmo sentido de John Dunning
(1993), citado no primeiro capítulo. Eles afirmam que as empresas brasilerias também
procuram se internacionalizar para buscar recursos naturais, matérias primas, mão de
obra mais barata, acesso a novos mercados e ganhos de eficiência.
Em linhas gerais, é fortemente notável que hoje, a internacionalização das empresas
brasileiras representa um leque de oportunidades positivas e recursos que repercutem
favoravelmente ao Brasil. Esta permite que a empresa consiga recursos financeiros
mais facilmente e a custos minorados; permite a aprimoração da capacidade de
gerenciar e acessar informações de mercado de maneira mais profunda; permite a
absorção de novas tecnologias, dentre outras vantagens. Porém é preciso dar devida
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42
atenção à internacionalização que não é saudável para o país, é necessário estar
atento aos movimentos avessos aos benefícios gerados pela internacionalização das
empresas brasileiras, evidenciando os passos de uma internacionalização espuria e
incipiente. Onde as empresas buscam parceria e/ou se deslocam para mercados
internacionais não como coroamento da expansão de suas atividades no mercado
nacional, mas sim como uma estratégia defensiva; o que explicita e expõe a outra face
da internacionalização, a ser adiante demonstrada com maior ênfase.
2.2 INTERNACIONALIZAÇÃO DEFENSIVA EM UM CENÁRIO INCIPIENTE
A movimentação de partida para um processo de internacionalização das empresas
brasileiras vem crescendo a cada ano. Ainda que a globalização traga uma
avassaladora e forte tendência internacional, é tangível ao caso brasileiro uma
avaliação mais profunda de certas especificidades.
A partir de estudo realizado por de Tamer (2007), é possível perceber que o processo
atual de internacionalização vivido pelas empresas brasileiras demonstra uma transição
de modelo. “[...] O modelo econômico brasileiro foi moldado, na época dos militares,
baseado numa razoável auto-sufuciência, voltado ao mercado interno crescente”. O
autor explica que esse modelo entrou em crise ao findar dos anos 1980, porém o Brasil
não fez o ajuste que outros países, como por exemplo, os asiáticos, fizeram. Tamer
completa que “alguns países asiáticos começaram a usar um modelo voltado para o
mercado externo, com grandes concentrações de grupos. Passados 20 anos, o modelo
deles prosperou, com uma competição muito grande e eficiência industrial”.
O movimento que pode ser percebido na economia brasileira é o de que as empresas
há uns dez anos, quando se deram conta de que a perspectiva de crescimento do
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43
mercado nacional era pequena, começaram a reagir. E, por isso iniciaram um
movimento defensivo, ao passo que começaram a almejar oportunidades fora do país.
A questão é que o processo de internacionalização de empresas pode trazer vantagens
por um lado, e por outro, pode atrapalhar e desestabilizar a economia de um país.
Tamer (2005) enfatiza a existência de dois vetores para a internacionalização - sendo
um saudável e que traz benefícios para a economia local, e o outro uma estratégia
defensiva e que provoca uma internacionalização perigosa.
No primeiro vetor encontram-se as empresas que partiram para o processo de
internacionalização ao obterem sucesso e se consolidarem no mercado interno. A
partida destas para o mercado externo aconteceu como uma extensão de suas
atividades. “O Brasil ocupou um espaço muito claro no cenário global: é um grande
fornecedor de matéria-prima. Algumas empresas brasileiras entraram nesse fluxo, e o
Brasil está surfando nessa onda. Estas indústrias estão muito bem, obrigado”, diz
Tamer (2005). Um dos melhores exemplos a ser citado é o caso da Vale do Rio Doce
que trabalha com recursos minerais.
As empresas que não têm bases boas e solidificadas no mercado interno compõem o
segundo vetor proposto por Tamer, essas empresas, na maioria das vezes passam por
limitações no mercado nacional, como o excesso de burocracia e sofrem com a sobre
carga tributária. Essas empresas partem para a internacionalização como uma reação
defensiva a essa impossibilidade de crescer internamente. “São exemplos toda a
indústria de calçados e a cadeia têxtil, como a própria Santista”, exemplo citado por
Tamer (2005).
Hoje no Brasil se observa que governo entra, governo sai, o modelo continua
burocratizado, pesado, sobretributado, e diminui a capacidade competitiva do
país. São estes elementos, juntamente com a qualidade da educação primária,
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44
e os gastos ineficientes do governo, os quesitos nos quais o Brasil apresenta
maiores desvantagens competitivas. (NEWTON, 2007, p. B9 e B11).
Em pesquisa feita na Folha de S. Paulo16, foram apontados os cinco fatores mais
problemáticos para os negócios do Brasil, de acordo com o Fórum Econômico Mundial
são eles:
- regulamentação fiscal;
- carga tributária;
- rigidez das leis trabalhistas;
- ineficiência e burocracia do governo; e
- infra-estrutura inadequada.
Tamer afirma que é importante perceber que:
enquanto isso as empresas vão saindo do país, ao ponto de o Brasil, pela
primeira vez na sua história, registrar em 2006 uma saída de capital maior que a
entrada. Isso num país emergente é quase uma ofensa. Se o Brasil crescesse
5%, 6%, com certeza haveria a internacionalização de grandes grupos, mas o
segundo vetor seria menor. (TAMER, 2007).
O Brasil, por ser uma economia em desenvolvimento, necessita sim de controlar e
impulsionar o seu desenvolvimento econômico, e não de distorções estruturais como
estas. O fato de o Brasil ser um entrante tardio no cenário econômico mundial traz
como conseqüência um baixo nível de empresas multinacionais, poucas empresas
brasileiras se encontram dentre as mais internacionalizadas, como pode ser observado
16
NEWTON, Freitas. Competitividade. Folha de S. Paulo, São Paulo, 15 maio 2008. Carteira de valores
mobiliários, p. B6.
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45
na tabela asseguir a baixa representatividade das empresas brasileiras em comparação
com outros países emergentes17 e em desenvolvimento.
Tabela 6
As 100 Empresas Multinacionais Emergentes Mais Transnacionalizadas
Origem, Incidência Setorial e Grau de Internacionalização - 2005
17
São países, outrora considerados no Terceiro Mundo, que se industrializaram e dão continuidade ao
desenvolvimento.
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46
Segundo Cláudio Frischtack (2008):
dada a entrada tardia nos mercados, seria de se esperar que ainda vá demorar
alguns anos para que as empresas multinacionais emergentes nacionais
aumentem sua representatividade sob o critério de grau de trasnacionalidade;
porém o número restrito de empresas multinacionais emergentes brasileiras é
mais surpreendente, sendo possivelmente fruto de uma combinação de
restrições macroeconômicas e políticas com um viés anti-internacionalização.
(FRISCHTACK, 2008, p.13).
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47
Este viés anti-internacionalização citado pelo autor pode ser claramente percebido com
a implementação da política de substituição de importações, voltada para o mercado
interno, na qual o objetivo principal era o desenvolvimento e consolidação da indústria
nacional.
Em curto prazo, apenas três firmas brasileiras fazem parte do conjunto de empresas
multinacionais emergentes, e com algum nível de representatividade internacional; são
elas: Petrobrás, Gerdau e Vale18. Sendo que em uma perspectiva de médio prazo, doze
empresas brasileiras são listadas como capazes de desafiar as incumbentes nos seus
setores, em nível global, são elas: Petrobrás, Vale, Gerdau, Embraer, Braskem,
Coteminas, Embraco, Natura, Perdigão, Sadia, Votarantim e WEG (ver tabela 07).
Existem outras empresas com certo peso internacional que não são citadas pela
análise, por exemplo, a Marcopolo, podendo ser considerada uma das empresas mais
significantes que fabrica carrocerias de ônibus no mundo. A JBS – Friboi, que deteve
um processo extremamente rápido de internacionalização, este se iniciou em 2005 e
em maio de 2007 teve seu ponto culminante com a compra da Swift Foods, uma
empresa norte-americana de processamento de alimentos.
18
Considerando a data dos dados disponíveis para análise.
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48
Tabela 7
As 100 Empresas Emergentes com Capacidade de Desafiar Globalmente as
Incumbentes Setoriais - 2006
Frischtak (2008) afirma que:
de qualquer forma, é fato que o país conta com um número limitado de
empresas com ambições e capacidade de se trasnacionalizar, é provável que o
país esteja sub-representado no universo de empresas multinacionais, inclusive
e particularmente das economias emergentes. (FRISCHTACK, ibidem, p.15).
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49
Todas estas análises propendem à percepção de que a economia brasileira é palco de
uma Internacionalização incipiente, e de acordo com Frischtak (Ibidem), para
compreender este fenômeno, é necessária a compreensão das motivações, bases e
conseqüências da expansão internacional das empresas brasileiras. Estas motivações
podem ser listadas pela teoria de Dunning (1993) – citadas no capítulo anterior; ou
então pelo quadro traçado asseguir por Frischtak (ibidem), apresentadas como
motivações múltiplas, complementares e sinérgicas.
Tabela 8
Tendência de Resposta Empresarial aos Fatores de Impulsão à Internacionalização
O que Frischtak (2008) pretende mostrar é que:
a resposta estratégicas das empresas a esses elementos é geralmente
multifacetada, e embora seja preponderantemente centrada no acesso a novos
mercados, inclui também a procura de plataformas de menor custo, absorção
de recursos naturais, se possível de classe mundial, e aquisição de ativos
criados que representem o preenchimento de “falhas” nas suas estruturas
empresariais e corporativas. (FRISCHTACK, ibidem, p.18).
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50
Contudo é possível afirmar que internacionalização incipiente, notada na economia
brasileira, foi resultado de incentivos transpostos para as empresas, com o intuito de
que essas permanecessem voltadas para dentro, como diria Frischtak (2008, p.20) “[...]
num contexto de mercados lucrativos e pouco disputados”. A economia brasileira
compõe-se em um ambiente de grande heterogeneidade estrutural, assim sendo, não
haveria relativamente muitas empresas com capacidade de se internacionalizarem. Um
estudo realizado por Helpman, Melitz e Rubinstein (2004)19 demonstra que os
diferenciais de produtividade esclarecem o comportamento das empresas em relação a
suas estratégias de exploração dos mercados: “as empresas de maior produtividade
realizam investimentos externos, as empresas de produtividade intermediária apenas
exportam e as empresas de menor produtividade limitam-se a operar no mercado
interno”. (HELPMAN; MELITIZ; RUBINSTEIN, citado por KUPFER, 2006). Pesquisas
feitas pelo IPEA em 1997– Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – concluíram que
as empresas brasileiras apresentam os mesmos resultados.
Para superar a internacionalização incipiente da economia brasileira e obter um
aumento no número de empresas multinacionais, seria preciso, de acordo com os
dizeres de Frischtak (2008):
- melhorar a competitividade sistêmica, para evitar que as empresas façam uso de
uma estratégia defensiva por conta dos custos sistêmicos elevados relacionados à
estrutura física, como, por exemplo, transporte, assim como pressão fiscal, dentre
outros fatores;
- a redução da incerteza e dos custos do processo de internacionalização, para isso
seria necessário haver uma simplificação do regime fiscal brasileiro, acelerar as
ratificações de acordos comerciais com parceiros potenciais, e reexaminar a
conveniência de se assinar seletivamente acordos de proteção ao investimento,
pois os benefícios e custos gerados por esses acordos podem mudar com o tempo;
19
HELPMAN; ELHANAN; MELITIZ. Trading Partners and Trading Volumes. Mimeo, Harvard University.
2004.
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51
- ampliação das modalidades de financiamento e minoração de custo de capital,
pois até o presente momento a única instituição formal que provém financiamento
para as empresas é o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
(BNDES), e é preciso tomar uma posição estratégica para alavancar os recursos
limitados do banco, embasada nas novas oportunidades que se abrem para o
Brasil.
Uma vez comprovado que a internacionalização brasileira é incipiente, torna-se
extremamente importante a diferenciação entre os movimentos de internacionalização
de empresas brasileiras - os que ativamente ampliam sua atuação no exterior, e os que
caminham defensivamente, transferindo sua produção para outros países, em busca de
condições mais favoráveis de competitividade, assim como o estabelecimento de
reformas estruturais para melhorar o quadro encontrado hoje no Brasil. Fica assim
explícito que o primeiro é o fator que acumula prospecções positivas e é propulsor da
economia nacional, já o segundo é apenas permutativo, porém atua negativamente à
sua economia de origem. Deste modo é de fundamental importância a criação de
políticas que incentivem a internacionalização saudável, a partir do estabelecimento de
condições para tornar as empresas brasileiras mais competitivas e capazes de se
internacionalizarem em base sólida.
A possibilidade de uma empresa multinacional gerar benefícios para o país de origem é
dependente de uma política articulada do país. As políticas de apoio devem ter como
partida, criação de escritórios para a transferência de tecnologia; exigência de geração
de empregos no mercado doméstico; o aumento dos gastos com pesquisa e
desenvolvimento e das exportações. A falta de financiamento adequado é uma das
principais restrições para a internacionalização das empresas brasileiras, nesse viés a
atuação do BNDES poderá ser de fundamental importância.
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52
3. CONCLUSÃO
Face ao que foi exposto e explicitado durante todo este trabalho, em epítome, pode-se
dizer que o fenômeno globalização facilita a redução das fronteiras, e eleva a
competitividade das empresas ao serem lançadas em uma aldeia global. Esta
facilidade, que torna o mercado mundial acessível a todos, gera uma série de
motivações para que as empresas optem pelo processo de internacionalização. Este
movimento ganhou mais força no Brasil a partir de 1980, com a crise vivida e o jovem
sistema industrial consolidado.
Habitualmente, a internacionalização das empresas brasileiras é automaticamente
relacionada aos benefícios gerados e é referência de oportunidades positivas para o
país. De certa forma esta linha de pensamento é procedente, todavia, existe a
possibilidade de o processo de internacionalização ser pensado e implementado como
uma forma de as empresas se resguardarem das oscilações e dificuldades encontradas
em seus países.
Foi claramente expresso no capítulo dois os benefícios que o processo de
internacionalização das empresas brasileiras podem trazer para o país em termos
econômicos, desde que seja implementada na condição classificada como saudável
para a economia do país. Entretanto, existe a possibilidade de uma internacionalização
advinda das adversidades encontradas no país de origem das empresas, e não como
um processo natural de expansão de suas operações para o exterior; essas
adversidades levam as empresas a procurar um outro mercado mais “atrativo” que o
nacional. A internacionalização vista do lado avesso é um movimento no qual as
empresas transpõem para o exterior sua produção, não como expansão de uma
situação favorável no mercado interno, mas sim como forma de fugir de condições
negativas de acesso aos recursos produtivos ou custos no país de origem. A
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53
internacionalização deixa de passar pelo processo de estabilização interna e passa a
ser parte de uma estratégia defensiva, onde as empresas não mais buscam se
estabelecer na economia nacional para posteriormente almejar novos mercados,
internacionalmente falando.
Existem vários fatores que visam corroborar a hipótese de que a maioria das empresas
brasileiras que se internacionalizaram, o fizeram como parte natural da expansão de
suas atividades. Porém, a onda mais recente de internacionalização de empresas
brasileiras aparenta ser mais sustentada pela necessidade de redução de custos de
produção, em função dos menores custos de insumos e mão-de-obra que podem ser
encontrados mais baratos em países com moedas mais desvalorizadas que a moeda
brasileira. Não obstante, a redução dos encargos tributários também é ansiada por
estas empresas, tendo-se em vista a exacerbada minoração destes com o
estabelecimento de empresas em âmbito de países diversos.
O fato de o Brasil atuar como um entrante tardio no mercado internacional, faz com que
o fenômeno de internacionalização de empresas seja incipiente. Grande parte deste
processo é devido à implementação de políticas que promoviam o desenvolvimento da
economia inclinado para o mercado nacional. Porém removido este viés antiinternacionalista, era de se esperar que as empresas prosperassem como
multinacionais, como foi o caso da Índia, por exemplo, que atua com o quadro de 578
empresas multinacionais emergentes. No entanto, estudos mostraram que as
multinacionais brasileiras ainda são emergentes, e sua internacionalização é incipiente
e com pouca representatividade internacional. Pode-se concluir que, tal como muitos
outros fenômenos inerentes à globalização, a internacionalização de empresas
brasileiras constitui uma realidade inelutável, ainda que incipiente em nosso caso. Para
que o Brasil deixe de ser incipiente em relação à internacionalização, aumentando o
número de empresas no mercado internacional, seriam necessárias mudanças
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54
estruturais para a implementação de uma ação de internacionalização empresarial
sustentável e segura.
Há de se concluir que o lado avesso da internacionalização das empresas brasileiras
dificilmente colocará em risco a produção industrial no Brasil. Embora do ponto de vista
microeconômico seja compreensível e justificável que as empresas busquem maximizar
os seus lucros, há questões mais amplas envolvidas. Este processo é um indicativo de
que a economia brasileira tende a se tornar cada vez mais hostil à produção industrial
em solo nacional, o que gera impacto em vários fatores. Quando as empresas se
deslocam para o exterior, há também um deslocamento de empregos que poderiam ser
gerados no Brasil, o que afeta negativamente a geração de renda e o coeficiente de
desenvolvimento da economia nacional. O Brasil não tem condições de sustentar o
movimento defensivo de internacionalização de suas empresas, se este continuar
ganhando forças, o Brasil sofrerá enormes divergências estruturais. E para o Brasil, um
país ainda em desenvolvimento, são poucas as chances de sustentação ao passo que
as grandes empresas vão bem, e a economia nacional como um todo, vai mal. É
preciso que haja tomadas de iniciativas tanto privadas, como por parte do governo para
que os projetos de internacionalização sejam sustentados; podendo assim, unir
esforços para o desenvolvimento de conhecimentos e instrumentos necessários para
uma melhor inserção das empresas brasileiras no comércio internacional.
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55
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