Este material foi publicado na revista Maxi In, distribuída pelo Sistema Maxi de Ensino. O título A Apatia do Professor foi desenvolvido pela Psicóloga Kellen M Escaraboto Fernandes. Matéria A Apatia do Professor Revista Maxi In – Agosto de 2010 1) Hoje, existe uma grande apatia de alunos e professores. Quais seriam as principais causas dessa apatia no ambiente escolar? (Maxi In) Kellen: A apatia observada em sala de aula pode ser gerada por uma combinação de fatores, os quais podem estar dentro ou fora do contexto escolar. Inúmeras situações podem contribuir com a apatia, desde problemas familiares (divórcio, doença, mudança, etc.) até mesmo questões emocionais (stress, ansiedade, depressão, etc.). Mas esses são os casos esporádicos. Quando a situação está generalizada, provavelmente, é a relação ensino-aprendizagem que está prejudicada. O aluno acaba tornando-se passivo diante desse processo e o professor assume o papel de transmissor de conhecimento. As aulas tornam-se menos dinâmicas, os alunos participam menos, interessam-se cada vez menos, o professor se desmotiva e um ciclo extremamente prejudicial é criado. 2) Quais os principais sintomas dos alunos apáticos? Quais as consequências dessa apatia para os jovens? (Maxi In) Kellen: A apatia é, inicialmente, observada através da desmotivação. Os alunos tornam-se menos ativos e envolvidos, demonstrando desinteresse pelo aprendizado. Aos poucos, a passividade vai dando lugar à indisciplina, já que não há foco de atenção no conteúdo. As conseqüências podem ir desde a queda do desempenho acadêmico até uma reprovação, podendo ainda chegar, em alguns casos, à evasão escolar. 3) Qual seria o melhor posicionamento da escola e dos professores frente a apatia dos estudantes? Quais seriam as melhores atitudes a serem tomadas? (Maxi In) Kellen: É importante que a intervenção seja feita enquanto a situação ainda não atingiu grandes proporções. Melhor ainda seria se fosse feito um trabalho preventivo. Para isso, uma boa alternativa é inserir o professor no desenvolvimento de projetos pedagógicos e metodologias de ensino. O professor, por sua vez, precisa inserir o aluno no processo ensino-aprendizagem, fazendo-o participar ativamente das aulas. Os conteúdos devem ser passados da forma mais concreta possível, aproximando o assunto abordado da realidade dos jovens. Quanto mais recursos usados, mais interessante será a aula: filmes, gincanas, teatros, passeios, visitas, feiras culturais, seminários, discussões, entre outros. Assim, será menos provável que alunos e professores tornem-se apáticos, já que estarão envolvidos de forma ativa nesse processo. 4) Quanto aos professores, quais os sintomas e consequências da apatia em sala? Como o professor pode auto avaliar-se? (Maxi In) Kellen: Não ter energia para trabalhar e ser indiferente ao trabalho e as situações correlacionadas a ele são as principais características de um profissional apático. É importante destacar que a apatia não é um comportamento, um rótulo, mas um conjunto de comportamentos que incluem insensibilidade; indiferença; impassibilidade; inércia; marasmo. Pode também estar correlacionada a diminuição ou perda de interesse ou vontade de realizar coisas ou tarefas. Quando um indivíduo comportase desta forma, passa a trabalhar como uma "máquina", produzindo apenas o que é solicitado. No caso do profissional professor, a apatia pode ocorrer devido a fatos cotidianos que incluem ambiente físico de trabalho (falta de equipamentos, luminosidade do ambiente), problemas de relacionamento entre membros da equipe, com os alunos ou as famílias dos mesmos, lentidão ou falta de apoio para solucionar problemas, ambiente profissional (apoiador ou altamente exigente), como também estar relacionado a problemas pessoais externos (familiares, financeiros, dentre outros). Em uma pesquisa realizada pela revista Nova Escola/Ibope (2007), observou-se que o professor adora a profissão,mas não está satisfeito com ela. A pesquisa foi feita com o objetivo principal de investigar como os professores brasileiros se relacionam com o trabalho, os alunos e a escola e de que forma eles enxergam o futuro da profissão. Dentre os entrevistados pode-se observar que 53% têm no amor à profissão sua principal motivação, 63% trabalham no que gostam, 83% têm consciência da importância da profissão de professor, porém observou-se também que 63% relatam viver em nível significativo de estresse, 48% sentem falta de mais segurança contra a violência, 54% estão descontentes com os benefícios,47% com o salário e 47% com a sobreposição de papéis (em relação à família dos alunos). Somente 21% dos professores relataram estarem satisfeitos com a profissão. As três maiores surpresas da pesquisa apareceram justamente nas questões sobre a relação do professor com seu público-alvo e com o ambiente de trabalho onde os alunos são vistos como desinteressados e indisciplinados e são percebidos, junto com a família, como os principais problemas da sala de aula. Outro ponto que merece destaque é que a formação inicial é apontada pela maioria como “excelente” mas, ao mesmo tempo, reconhecem não estarem preparados para o dia-a-dia dentro da sala de aula. Diante dos aspectos acima expostos, pode-se concluir que a desmotivação e conseqüente apatia dos professores, assim como dos alunos é multifatorial, ou seja, além das transformações sociais, existem as culturais, políticas, econômicas e tecnológicas – que, de maneira geral, a escola não acompanha. Ao longo dos anos, a defasagem do currículo e dos conteúdos, a falta de relação com a realidade e uma série de outros fatores tiveram reflexos na não-aprendizagem dos alunos, tendo o professor como principal responsável pela modificação deste cenário. Um sistema educativo de sucesso deve ser entendido como a articulação de três subsistemas: o escolar, o sociocultural e o familiar uma vez que a “desistência” da escola, enquanto instituição, e o desânimo do professor poderiam significar um desastre a longo prazo. 5 O que fazer? (Maxi In) Kellen: É muito difícil responder a esta questão, uma vez que não existe receita pronta. O que existe é a necessidade do entendimento de cada caso, de cada indivíduo dentro da organização educativa. É aí que entra o papel do gestor, cabendo a ele identificar quais os pontos que podem estar contribuindo para este processo de desmotivação e conseqüente apatia, uma vez que um bom diagnóstico pode levar a uma intervenção adequada. E porque não levantar com os principais envolvidos no processo quais seriam as melhores alternativas, as melhores soluções para uma reversão do quadro apático? Geralmente quem esta passando por um problema tem as repostas para a resolução do mesmo, somente precisa ser motivado a acreditar que suas respostas são realmente “boas respostas”. 6. Quais as atitudes que o professor pode tomar para reverter esse quadro? Como a escola deve se portar frente a apatia de professores e alunos? (Maxi In) Kellen: Procurar ajuda sempre! Alguns professores tem muita dificuldade para assumir que precisam de ajuda, porque sentem medo de serem julgados ou de colocar seu emprego em risco. É preciso entender que o não fazer nada é que coloca o emprego em risco, não só o emprego mas, na maioria das vezes, anos de trabalho, de construção, empreendedorismo e aprendizagem. Coloca também em risco os alunos, que participantes de aulas desinteressantes, sentem-se desmotivados, podendo cair na mesma “armadilha”. Quando não existem mais alternativas a serem partilhadas pela escola, é hora de buscar ajuda fora dela. Um profissional da área de psicologia pode ajudar tanto a escola quanto o professor. É importante entender se o problema encontra-se na esfera do cotidiano ou no âmbito pessoal do profissional até porque, para cada dificuldade, as respostas interventivas são diferentes. O que não pode acontecer é a indiferença, o fazer de conta que esta tudo bem, que vai passar.... Porque nem sempre passa... e o que não esta bem resolvido pode ter conseqüências desastrosas. É preciso que a escola perceba o professor enquanto profissional mas, principalmente, como pessoa. Kellen, M Escaraboto Fernandes, foi professora da Educação Infantil e encantou-se pelo desenvolvimento das crianças. Querendo entender melhor como elas pensavam e aprendiam, buscou uma graduação em Psicologia. Nos últimos anos de faculdade iniciou os trabalhos como Psicóloga Escolar. Aprofundou-se em Educação Especial, Psicopedagogia, em Psicologia Comportamental e sua última formação foi em Neuropsicologia. A escola a levou à clínica e, durante 16 anos, atua nessas duas instâncias, além de trabalhar como educadora na graduação e na pós-graduação, contribuindo especialmente para a formação de professores e futuros psicólogos. Também assumiu o desafio de assessorar escolas e contribuir com a formação de professores, pois acredita que nasceu mais que psicóloga; uma pessoa que ama estar com outras pessoas e contribuir para que elas sejam mais felizes!