DIVERSIDADE, INCLUSÃO E PAULO FREIRE: DISCUSSÕES E

Propaganda
DIVERSIDADE, INCLUSÃO E PAULO FREIRE: DISCUSSÕES E
REFLEXÕES INICIAIS NA EDUCAÇÃO
Maria Jessica Danielly de Lima1
Mifra Angélica Chaves da Costa2
Verônica Yasmim Santiago de Lima3
Profª. Drª. Ana Lúcia Aguiar Lopes Leandro4 - orientadora
RESUMO
A diversidade e a inclusão atualmente fazem parte dos debates e das preocupações da
Educação Contemporânea. Este artigo tem como objetivos condutores identificar as
práticas inclusivas e a diversidade presentes na Educação que estejam em sintonia com
as ideias freirianas e apresentar a experiência do projeto de extensão Laboratório de
Estudos em Paulo Freire e Educação Popular (LEFREIRE) da Universidade do Estado
do Rio Grande do Norte - UERN, esse grupo sempre se reúne quinzenalmente para
realizar leituras, debates, promove mesas-redondas, enfim momentos para se discutir as
ideias presentes nos escritos de Paulo Freire. Os cursistas são professores, alunos,
funcionários e ex-alunos. Para tanto, realizamos uma pesquisa teórica, exploratória e
bibliográfica com o aporte teórico de Almeida (2012); Candau (2012); Freire
(1992); Gomes (2007); Mantoan (2006). Os resultados obtidos com esse estudo foi a
permeação de discussões, reflexões no âmbito da academia também em nível de curso
de extensão sobre a necessidade de olhar atento, sensível para a diversidade, para que de
fato a inclusão dos diversos sujeitos sociais se concretize.
PALAVRAS- CHAVE: Educação. Diversidade. Inclusão.
INTRODUÇÃO
O presente artigo trata-se da exposição do processo de inclusão, em que este
exige crítica, revisão de valores e crenças observados nas práticas educativas. No que
permitem ressignificar as relações entre os sujeitos diversos, no exercício de
1
Aluna do 5º período do curso de Pedagogia da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte –
UERN. Bolsista do Programa de Educação Tutorial – PET Pedagogia. E-mail:
[email protected]
2
. Graduada no curso de Pedagogia da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN. Aluna
do Mestrado em Educação da UERN. [email protected]
3
Aluna do 5º período do curso de Pedagogia da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte –
UERN. E-mail: [email protected]
4
Professora do Programa de Pós-Graduação, Mestrado em Educação, da Universidade do Estado do Rio
Grande do Norte - UERN. E-mail: [email protected]
acolhimento aos referenciais identitários e culturais. Tendo como processo de
reconhecimento e respeito às diferenças em consonância ao exercício dialético de suas
percepções da realidade. Temos por objetivo identificar as práticas inclusivas e a
diversidade presentes na educação que estejam em sintonia com as ideias freirianas.
As atividades aqui relatadas partem da experiência do projeto de extensão
Laboratório de Estudos em Paulo Freire e Educação Popular (LEFREIRE) no qual seus
participantes são professores, alunos, funcionários e ex-alunos que se reúnem
quinzenalmente para a discussão das obras, bem como uma ponte com as relações de
experiências coletivas escolares e não-escolares, através de debates, fichamentos de
textos e exposições de opiniões críticas que torna o cidadão consciente.
As atividades do grupo centram-se em torno de rodas de conversas, debates e
indagações surgidas, a partir do caminhar das leituras freirianas. Partindo desse estudo,
teremos como objetivo de analisar como a inclusão pode contribuir no processo
formativo identitário dos sujeitos, discutindo os conceitos com bases em leituras como
as Charlot (2000) sugere que, melhor do que organizar escolas culturalmente diferentes,
é receber a diversidade numa escola para todos. Segundo suas palavras, uma escola que
faça funcionar, ao mesmo tempo, os dois princípios da diferença cultural e da identidade
enquanto ser humano; os princípios do direito à diferença e do direito à semelhança.
Nas idéias de Forquin(1993), as culturas não são, pois, homogêneas, são portadoras de
contradições e conflitos, daí a busca de “metavalores”, critérios de escolha
fundamentais, que garantam a racionalidade e a universalidade na formação dos
indivíduos. Veremos a partir de Freire (1996) o respeito à autonomia e à dignidade de
cada um, é um imperativo ético e não um favor que podemos ou não conceder uns aos
outros.O entendimento de que o professor hoje, não ocupa mais o lugar de centro e os
alunos mera expectadores, aprendizes reprodutores de uma educação bancária. Os
educandos hoje, detêm autonomia e direitos resguardados pelo Estatuto da Criança e
Adolescente- ECA. (1990), que visa garantir escola, moradia e comida de qualidades.
Nos propõe Gadotti (2003) que a escola popular pode vir a ser possibilidade de uma
educação democrática e emancipatória, pois garante que os educandos sejam
respeitados e o professor mediador do ensino e aprendizagem, compreendendo os dois
eixos distintos, cada um com um objetivo específico.
As discussões mostram que a inclusão de pessoas deve se dar em todas as
instâncias, tendo como caráter principal o respeito às diferenças e a luta por uma
educação que valorize a experiência de cada sujeito, considerando-o como um ser único
e de saberes diversos.
Educar para a diversidade requer ensinamentos e atitudes que reconheçam os
conhecimentos advindos do outro, agindo de forma solidária e igualitária, na qual há a
troca mútua de experiências entre os envolvidos. Para tanto, Almeida (2012) reflete que
necessário se faz o estabelecimento de um diálogo entre ciência e tradição, na qual a
ciência deve reconhecer a importância do senso comum e das vivências.
Sabe-se que o mestre Paulo Freire não discutia inclusão precisamente, mas numa
leitura mais aprofundada, empolgada e em diálogo com outros autores que discutem
inclusão e diversidade encontramos vários conceitos e experiências da trajetória de vida
de Paulo Freire nas quais podem ser vistas a centralidade do sujeito.
Paulo Freire desde quando desistiu da carreira de advogado e inseriu-se no
mundo da educação, criou uma pedagogia que voltou seu olhar para as minorias, para os
marginalizados e desenvolveu em várias cidades do Brasil e do mundo a tentativa de
libertação dos oprimidos, homens e mulheres explorados pelo trabalho, seres
dominados, que não dominavam a linguagem escrita, a leitura e não se reconheciam
como sujeitos construtores da sua história, eles não eram autores e atores da sua vida.
Nessa perspectiva, inicialmente destacamos o fato reconhecido mundialmente
que em 1963, no Rio Grande do Norte (RN), Freire alfabetizou 300 pessoas adultas em
45 dias em Angicos, partindo do contexto desses educandos, do diálogo, participação, e
ensinando-os a ler, escrever e contar de forma significativa partindo do seu contexto
cultural.
Nesse momento Freire (2008) possibilitou vários adultos a aprenderem a ler o
mundo de forma alfabetizada, já que letrados esses já eram, como ele mesmo dizia a
leitura de mundo precede a leituras da palavra. Ele incluiu esses sujeitos não apenas no
mundo alfabetizado, mas também os despertou para a vida, mostrou que eles são
sujeitos de história e capazes de transformar o mundo.
Este artigo se divide em três partes, para melhor organizar a nossa discussão. No
primeiro tópico iremos explorar a problemática acerca da diversidade, inclusão à luz da
escola pública; no segundo momento será apresentada a nossa compreensão, a partir das
leituras de Paulo Freire e por ultimo mostraremos a experiência do grupo LEFREIRE no
momento que discutimos Paulo Freire, Inclusão e Diversidade, do qual fazemos parte
como cursistas.
Este trabalho pretende suscitar reflexões e pistas que Freire nos possibilitou
sobre inclusão e diversidade, a partir da leitura das obras desse autor e da realidade
circurcidante, para assim, estabelecermos uma ponte e ampliar nossas discussões e
práticas pedagógicas para uma concepção de respeito ao outro que é diverso e diferente.
TECENDO DISCUSSÕES SOBRE A DIVERSIDADE DOS SUJEITOS
A escola destina-se à construção de conhecimentos e de ampliação de
valores, está necessita ter como objetivo contribuir para a modificação da sociedade no
sentido de torná-la igualitária e democrática. Um ambiente democrático que deve visar à
inclusão social de seus sujeitos, de modo que utilizem as possibilidades que as
instituições e o Estado oferecem. Nesse cotidiano, a escola deve viabilizar a construção
de cultura políticas e práticas inclusivas no processo identitário dos sujeitos.
Ao assumir a diversidade a escola volta-se contra todas as formas de
dominação, em que ressalta iniciativas realizadas com êxitos, realizadas por
profissionais de diversas Secretarias Estaduais e Municipais da educação e também por
gestores de escolas que entendem que o direito á educação é um direito de todos, sendo
assegurado o direito à diferença.
A partir de nossas análises, a diversidade trata-se do respeito recíproco entre
diferentes grupos identitários acerca do paradigma da diferença, baseada em princípios
éticos que vê na alteridade, no direito à liberdade da diferença, elementos que anseiam
combater a discriminação e a exclusão dos sujeitos.
Neste sentido, a valorização da diversidade deve ser uma constante no processo
de desenvolvimento de qualquer pensamento, pois é dela que a inovação pode florescer
e nos propiciar grandes avanços, seja na conservação da tradição ou na condição
humana como um todo.
Em vez de identidade/diferença, alteridade; em vez de cultura ou povo
amigo/inimigo, mestiçagem; em vez de luz/trevas, penumbra; em vez de
sujeito/objeto,
acontecimento
situado/interpretado;
em
vez
de
oralidade/silêncio, escrita; em vez de eternidade versus sucessão irreversível
de percepções, tempo humano, êxtase do instante; em vez de história como
sistema ou processo com sentido, história como texto sempre precária
(Duque, 2000, p. 105).
O presente debate trata-se de uma perspectiva emancipatória dos sujeitos, em
que este se baseia no humanismo pedagógico atribuído ao agir para ampliar a visão de
mundo, referentes a finalidades das ações, da experiência, da liberdade repensando
assim os valores humanos e fomentar o bem-estar social. Desse modo, partir do intuito
de contribuir na compreensão sobre a diversidade, desigualdade e diferença cultural
para considerando-as como construções históricas, políticas e sociais inter-relacionadas
às formas de poder exercidas por sujeitos e grupos no interior das sociedades, acerca das
políticas públicas na educação.
Trabalhar com a diversidade na escola não é um apelo romântico do final do
século XX e início do século XXI. Na realidade, a cobrança hoje feita em
relação à forma como a escola lida com a diversidade no seu cotidiano, no
seu currículo, nas suas práticas faz parte de uma historia mais ampla
(GOMES, 2007, p. 22).
O estudo da diversidade encontra-se vinculado ao discurso da variedade do
gênero humano, que pode ser considerada por meio de alguns aspectos do processo de
constituição do sujeito e da ação social que são orientados acerca de um conjunto de
tradições, crenças, formas de lazer, gostos, opiniões, costumes, em suma, um conjunto
variado de fenômenos no qual investigam os modos de vida seja na abordagem política,
ideológica e até mesmo psicológica que constitui o estudo da antropologia, em que
veremos a presença da relação de poder, na dominação concretizada através da
concepção da cultura e da política em nossas sociedades.
O processo de inclusão, em que este exige crítica e revisão de valores e crenças
observados nas práticas educativas em que permitem ressignificar as relações entre os
sujeitos diversos, no exercício de acolhimento aos referenciais identitário e culturais;
um processo de reconhecimento e respeito às diferenças em consonância ao exercício
dialético de suas percepções da realidade.
Na perspectiva emancipatória dos sujeitos, a diversidade aqui destacada baseiase no humanismo pedagógico atribuído ao agir para ampliar a visão de mundo, referente
a finalidades das ações, da experiência, da liberdade repesando assim os valores
humanos e fomentar o bem-estar social.
O desenvolvimento humano é algo complexo, é neste processo que a cultura
tende a influenciar na subjetividade humana, em que esta partir das inclinações que
compõe nossa identidade, ou seja, o debate sobre diversidade também representa o
debate identitário cultural na escola, que corresponderá aos aspectos diversos da
constituição dos sujeitos atentando a complexidade da vida individual, familiar e social.
A idéia que um indivíduo faz de si mesmo, de seu “eu”, é intermediada pelo
reconhecimento obtido dos outros em decorrência de sua ação. Assim como a
diversidade, nenhuma identidade é construída no isolamento. Ao contrario,
ela é negociada durante a vida durante a vida toda por meio do diálogo,
parcialmente exterior, parcialmente interior, com os outros (GOMES, 2007,
p. 22).
Em meio a essas implicações a escola recebeu novas atribuições dentre elas
surge a contribuiu no processo identitário para a desconstrução de “representações ou
“estereótipos” sobre a multiplicidade dos sujeitos, abrindo espaços para as relações
dialógicas transpassando as relações de poder do “sistema de exclusão”.
IMERSOS NUM UNIVERSO MULTICOR: A INCLUSÃO NA PERSPECTIVA
FREIRIANA
Os rostos, as preferências, gostos, opções, maneira de ser, modos de vestir, de se
alimentar, de aprender são diferentes, diversos. Assim como vivemos num universo de
coisas que desconhecemos, pois são infinitas, assim são os sujeitos sociais, eles
possuem estilo próprio de ser e cada vez mais existe, se criar outros grupos diferentes.
Esse universo multicor chega também na escola, na sala de aula, Freire (2008)
abordou sobre inclusão mesmo sem tratar especificadamente desse tema, ele então
revelou a necessidade de:
Colocar ao professor ou, mais amplamente, à escola, o dever de não só
respeitar os saberes com que os educandos, sobretudo os da classes
populares, chegam a ela saberes socialmente construídos na prática
comunitária- mas também (...) discutir com os alunos a razão de ser de alguns
desses saberes em relação com o ensino dos conteúdos. (FREIRE, 2008,
p. 30)
Freire nos convoca para repensarmos nossas práticas, a enxergar o outro como
ser de possibilidades, de saberes e que esses saberes devem ser respeitados na sala de
aula, saberes do campo, da rua, da igreja, dos murmurinhos, das lendas, mitos, do fazer
cotidiano, dos múltiplos sujeitos de diferentes cantos que vem trazendo o encanto, a
marca de sua experiência. Esses saberes, achados devem ser somados aos saberes
acadêmicos, escolares e construir um conhecimento novo, nem melhor nem pior, mas
diferente, ou seja, um saber sistematizado.
Quando Paulo Freire durante suas aulas escuta os trabalhadores, compreende
necessidades daquelas pessoas, é dado voz aos oprimidos, eles puderam revelar suas
angústias, seus medos, pressões, sufocamentos que, muitas vezes, que os desumanizam,
eles são obrigados a se submeterem a condições desfavoráveis de trabalho, há
humilhações, discriminações de pessoas que não os reconhecem como sujeitos
históricos, sociais, como humanos.
Freire enfatiza ainda que “faz parte igualmente do pensar certo a rejeição mais
decidida a qualquer forma de discriminação. A prática preconceituosa de raça, de
classe, de gênero ofende a substantividade do ser humano e nega radicalmente a
democracia”.
Educador é aquele que educa, ensina sem olhar a quem, ele ensina sentindo,
vendo o outro, compreendendo esse outro, mas não deve se importar com as diferenças,
não deve querer padronizar todos, os educandos são diferentes e vão permanecer
diferentes, iguais apenas no consentimento do direito e deveres. Resta o professor
valorizar essa mistura, hibridismo entre os sujeitos favorecendo a aprendizagem e
respeito a todos.
Sassaki (2005, p. 21) afirma que inclusão “consiste em adequar os sistemas
sociais gerais da sociedade de tal modo que sejam eliminados os fatores que excluíam
certas pessoas do seu meio e mantinham afastadas aquelas que foram excluídas”. A
inclusão possibilita a sociedade se estruturar, organizar, adaptar para receber as pessoas
com deficiência, devem ser eliminadas todas as barreiras que discriminam os sujeitos da
sociedade, sejam elas arquitetônicas, metodológicas, instrumentais, atitudinais.
Ensinar pessoas com deficiência é um desafio, mas ao mesmo tempo em que se
mergulha num universo desconhecido, a satisfação de saber que você, educador
conseguiu desbravar novas maneiras de dar aula, estratégias metodológicas,
instrumentos e fez o aluno aprender, ser incluído a turma.
Sobre inclusão escolar Mantoan (2006) vem denotar que:
Ensinar a turma toda reafirma a necessidade de promover situações de
aprendizagem que formem um tecido colorido de conhecimento, cujos fios
expressam diferentes possibilidades de interpretação e de entendimento de
um grupo de pessoas que atua cooperativamente em sala de aula.
(MANTOAN, 2006, p. 52)
Para que a inclusão se concretize é fundamental que os sujeitos preocupados
com a educação possibilite momentos coletivos de aprendizagem com as diferenças, nós
educadores compomos esse tecido colorido, os alunos fazem também parte desse tecido
multicor, mas necessita dos recursos da humanização, da afetividade, compreensão,
diálogo e respeito, para que os fios se teçam, e assim se teça a cocha tão desejada
estampada com o nome inclusão.
Quando o saber é construído junto, nos pares, todos aprendem nesse processo,
não somente os educandos aprendem o conteúdo, mas os docente aprendem com o
educando, todos se tornam aprendentes. Freire fez essa prática inúmeras vezes, ele
sempre se deixou conduzir pelo parar para escutar o outro e realizar uma escuta atenta,
transformadora, reflexiva que impulsiona a uma prática diferente, ele ouvia os
trabalhadores, as pessoas que tinham suas história silenciadas, suas vidas desprezadas.
PINTANDO A DIVERSIDADE E A INCLUSÃO DE PAULO FREIRE NA
EDUCAÇÃO: EXPERIÊNCIA DO LEFREIRE
O Laboratório de Estudos em Paulo Freire e Educação Popular (LEFREIRE)
estuda a perspectiva da educação popular baseada nos escritos de Paulo Freire, este por
sua vez vê a educação em uma ótica que abrange a diversidade dos saberes e a inclusão
de pessoas. Nas reuniões do grupo, e de posse das leituras previamente realizadas, abriase o debate para questões que interessasse tratar com relação às contribuições de Paulo
Freire para a educação, como o autor abordava a temática da diversidade e inclusão no
seu livro e quais as semelhanças com a autora Almeida (2012) que trata de questões
referentes a complexidade do ser humano e educação, percebendo a diversidade dos
sujeitos.
No livro Pedagogia da Autonomia, segundo Paulo Freire o ensino não é somente
“passar conhecimento”, mas sim dar possibilidades aos discentes de produzirem e
construírem novos saberes diante do que já foi feito. Importante ainda, perceber na
educação uma interação entre ensinar e aprender, pois quem ensina também está
aprendendo algo, da mesma forma o inverso acontece, transformando-se assim em
atividades que não podem ser separadas, pois estão conectadas. Desta feita, a
diversidade de saberes que podem e deveriam ser mesclados no encontro com os
sujeitos trazem a reflexão do quanto os conhecimentos de cada um tem suas
especificidades e complexidades na construção dos saberes, assim a inclusão de pessoas
com diversidade de conhecimentos torna este cada vez mais aprimorado por receber e
interagir com opiniões diversas.
Para complementar o debate, foi abordado o cap. 1 “Educação como
aprendizagem da cultura”, em que a autora faz uma gênese da perspectiva de Educação
e de Sociedade em que estas estariam por influenciar a condição humana. Segundo a
autora as transformações presentes em nossa sociedade vêm desencadeando o fim das
fronteiras intercontinentais, de forma que estas partem de um “trajeto de uma catástrofe
social maestrada pelos valores da exclusão, da pressa, da substituição e do descartável”
(p.78) desenvolvendo assim “[...] diversidade de formas culturais de viver e conhecer
[...]” junto a noção esperançosa de “[...] reversas antropológicas que estariam sendo
acionadas por indivíduos e grupos que tenham por horizontes uma sociedade mais justa,
igualitária, cooperativa, uma e diversa ao mesmo tempo[...]”(p.78).
No intuito de despertar a educação para o viver em sociedade, o educador tem
mais essa função de conversar com seus alunos sobre questões políticas, sociais que
inculquem aspectos do pensamento crítico. Assim, percebe-se que o profissional da
educação deve desenvolver funções que não são específicas da educação, mas sim da
vida. No terceiro capítulo do livro Pedagogia da Autonomia, intitulado: Ensinar é uma
especificidade humana, Paulo Freire elenca temáticas direcionadas à formação e à
profissionalização do professor. Afirma que este deve ser consciente de que sua
profissão requer dedicação, doação e troca de experiências e conhecimentos, para que
assim possa ajudar seu aluno a crescer tanto no aspecto social como profissional de
maneira a se posicionar e interferir no mundo de forma consciente e crítica, tendo
participação ativa nas escolhas e busca de soluções diante dos problemas que existem
em seu meio social, na família, cultural e econômico. Desta feita Paulo freire (1967,
p.97) acredita em:
Uma educação que possibilitasse ao homem a discussão corajosa de sua
problemática. De sua inserção nesta problemática. Que o advertisse dos
perigos de seu tempo, para que, consciente deles, ganhasse a força e a
coragem de lutar, ao invés de ser levado e arrastado à perdição de seu próprio
“eu”, submetido às prescrições alheias. Educação que o colocasse em diálogo
constante com o outro. Que o predispusesse a constantes revisões. À análise
crítica de seus “achados”. A uma certa rebeldia, no sentido mais humano da
expressão. Que o identificasse com métodos e processos científicos.
Então, a educação permite o contato com o outro e a partir disso a troca de saberes
e o diálogo que promova o pensar na realidade que se vive e tentar interferir buscando
mudanças significativas para sua vida e de outros. Em contato com uma educação
crítica e no diálogo com a diversidade de saberes que estão à sua volta, o aluno teria
condições de ganhar força e lutar por melhores condições de vida.
O docente deve ter em mente e desejar ser um profissional curioso que está em
constantes pesquisas e descobertas em busca de transformação intelectual e dos saberes,
para tanto necessário se faz que este busque aperfeiçoamento e rigor metodológico e
intelectual para que assimile de forma crítica as situações que parem desafiadoras no
seu dia a dia e na sua formação. Ao passar por esse processo de o professor pode ser
caracterizado como um profissional pensante.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As relações entre cultura, poder e significação constituem um nexo crucial para
o entendimento das dinâmicas sociais e dos mecanismos institucionais responsáveis
pela produção de discursos e de práticas culturalmente “recomendadas” e, também, as
políticas educacionais, o processo de produção do conhecimento encontra-se
empregando por diversas vezes expressões de apelo à convivência harmoniosa entre
raças, culturas e etnias e à tolerância aos diferentes. Em que muitas vezes a escola
assume o papel de pacificadora nas eventuais polêmicas sobre identidade nacional,
atribuindo responsabilidades a professores/as e alunos/as como principais agentes das
mudanças educativas e sociais.
Acerca dessa perspectiva de Educação Inclusiva deve-se considerar o currículo
de maneira que este deve ser construído a partir dos saberes particulares, das práticas
discursivas em que se constroem os sentidos que as pessoas dão às coisas, como no
multiculturalismo, no desdobramento na diversidade social, no relativismo cultural e na
valorização de experiências intersubjetivas, ou seja, o currículo deve estar situado num
determinado contexto de cultura, de relações e de conhecimentos.
Neste sentido, a valorização da diversidade deve ser uma constante no processo
de desenvolvimento de qualquer pensamento, pois é dela que a inovação pode florescer
e nos propiciar grandes avanços, seja na conservação da tradição ou na condição
humana como um todo.
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, M. da Conceição. Ciências da complexidade e educação razão
apaixonada e politização do pensamento. Natal: EDUFRN, 2012.
CANDAU, Vera Maria F. Direito à educação, diversidade e educação em direitos
humanos In: CANDAU, Vera Maria F.; (Org.). Educ. Soc., Campinas, v. 33, n. 120, p.
715-726, jul.-set. 2012.
CHARLOT, Bernard. Globalização e educação. Texto de Conferência no Fórum
Mundial de Educação, 2000.
DUQUE, Félix. A pele humana da palavra. In BORGES-DUARTE, Irene et. al.
(Org.). Texto, leitura e escrita. Antologia. Porto: Porto Editora, 2000.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa.
São Paulo: Paz e Terra, 37 ed., 2008.
________, Paulo. Pedagogia da esperança. São Paulo: Editora Paz e Terra, 1992.
________, Paulo. Educação como Prática da Liberdade. São Paulo: Paz e Terra,
1996.
GADOTTI, Moacir. Educação e poder: introdução à pedagogia do conflito. São Paulo:
Cortez, 2003.
GOMES, Nilma Lino. Indagações sobre currículo: diversidade e currículo;
organização do documento Jeanete Beauchamp, Sandra Denise Pagel, Aricélia Ribeiro
do Nascimento. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2007.
MANTOAN, Maria Teresa Edler. Inclusão escolar: o que é? Por quê? Como fazer?2
ed. São Paulo: Moderna, 2006.
SANTOS, B. S. A construção intercultural da igualdade e da diferença. In:
SANTOS, B.S. A gramática do tempo. São Paulo: Cortez, 2006. p. 279-316
SASSAKI, Romeu. Inclusão: o paradigma do século 21. Inclusão: Revista de
Educação Especial. v.1, n.1 (out/ 2005). Brasília: Secretaria de Educação Especial,
2005.
Download