0 XI Congresso Brasileiro de Sociologia 1 a 5 de setebro de 2003, Unicamp, Campinas, SP Oficina Sociólogos do Futuro Transição histórica, emancipação e falência da democracia: diagnósticos dos atuais e perspectivas para os novos arranjos democráticos* Fabrício Mendes Fialho** * Trabalho de conclusão da disciplina “Movimentos Sociais, Cidadania e Democracia”, ministrado pela profª. Dra. Ana Maria Doimo, no curso de graduação em Ciências Sociais da UFMG, em março de 2002. ** Aluno do curso de graduação em Ciências Sociais da UFMG. Bolsista do Programa de Aprimoramento Discente da mesmo instituição, vinculado à Pesquisa da Região Metropolitana de Belo Horizonte – Módulo Capital Social. 1 INTRODUÇÃO Na introdução deste trabalho, o que pretendemos na realidade, é mais uma apresentação do que propriamente uma introdução. Não é nossa ambição introduzir a uma discussão sistemática e metódica das temáticas que nos propomos a trabalhar no título deste escrito. O que pretendemos aqui é apenas trazer algumas inquietações que nos surgiram com a leitura de textos de Claus Offe, Eric Hobsbawn e Boaventura de Sousa Santos. Buscamos, evidentemente, expor estas inquietações, reflexões e notas de leitura de forma mais clara possível. Mas este trabalho não busca nem ambiciona ser um tratamento definitivo de tal temática. Na estruturação deste texto, procedemos da seguinte forma: na primeira parte, apresentamos as principais linhas levantadas por cada autor, na forma de um resumo da obra tomada como referência. Na segunda parte, buscamos levantar a problemática do que nos espera após a transição. Buscamos, através de notas de leitura, reflexões e apontamentos, fazer uma ligação entre diagnósticos e prognósticos de cada autor, seus pontos de contato e onde eles se afastam. Nesta parte que surgem os pontos críticos de interpretação de cada autor. Não procuramos dar nenhuma resposta a estes pontos delicados, mas apenas sistematizar nossas principais impressões e dúvidas. Nas considerações finais, apenas colocamos algumas posições para o estudo deste tema. A problemática é a seguinte: nos deparamos em uma época de transição. Estamos saindo da modernidade e adentrando em época “pós-moderna”1. Não temos condições de sabermos com exatidão o que nos espera para as próximas décadas deste início de Século XXI, mas alguns traços do futuro já se desenham, e hipóteses surgem por toda parte. Quais as perspectivas que se mostram mais adequadas perante os fatos e dados de que dispomos? 1 Estamos cientes da grande controvérsia acerca do termo “pós-modernidade”. Embora não sejamos partidários de que já estejamos vivendo em uma época pós-moderna, estando mais próximos do que Giddens chama de “alta modernidade”. Utilizamos aqui o termo “pós-modernidade” por ser este o termo utilizado por Offe ao descrever o atual período histórico. 2 Tomamos aqui como ponto de partida a “transição histórica” de Offe. Mas o que vem após esta transição? Temos também aqui duas hipóteses opostas, ambas levantadas por grandes pensadores que vêm se empenhando em desvendar o véu de incertezas que se põe à nossa frente na tentativa de tornar mais claras nossas percepções e leituras do futuro. Finalmente caminhamos rumo à emancipação humana? Ou, pelo contrário, cada vez mais decidiremos menos sobre nossos rumos? Não ambicionamos trazer um posicionamento em meio a estas opções. Apenas buscamos trazer tal polêmica para reflexão e estudo, eventualmente apontando ora em uma direção, ora em outra. Neste trabalho, não trazemos respostas. Trazemos dúvidas e inquietações, mesmo porque nada mais se mostra possível e a nosso alcance no momento. UMA BREVE EXPOSIÇÃO DOS ARGUMENTOS EM QUESTÃO 1.1 – Claus Offe e a “transição histórica” No seu trabalho onde trata da “transição histórica”2, Offe faz uma reflexão sobre a chamada "transição histórica, que á a passagem da chamada sociedade moderna para uma nova forma de arranjo societário, a sociedade “pós-moderna”. Esta transição vem ocorrendo no último quarto de século, como conseqüência de três fatores: democratização, globalização e pós-modernidade. Fatores estes de impacto, respectivamente, político, econômico e cultural. 1.1.1 – Trajetórias da transição Nos últimos vinte e cinco anos, temos presenciado a queda de ditaduras militares e de regimes totalitários do chamado socialismo real. No lugar destes regimes vêm 2 Offe, 1998. 3 sendo implantados sistemas políticos de caráter liberal-democráticos. A adoção deste modelo político sustenta-se em quatro teses pró-democracia: (1) garantia e realização de direitos e liberdades; (2) a chamada "paz democrática", que consiste na realização internacional da democracia; (3) o "progresso social" realizado, com a extensão de conquistas e benefícios sociais estendidos à maioria; e (4) o comprometimento dos agentes e atores sociais com o bem público. A idéia de democracia sugere que, na falta de elites dominantes e ditaduras, o povo é chamado à pratica da política. Entretanto, com a proliferação de regimes democráticos, afirma Offe, a qualidade destas parece decrescer, tornando-se meramente "eleitorais", não respondendo positivamente às suas teses. Isso tem levada à experiências democráticas mal sucedidas, que têm conduzido ao enfraquecimento do Estado e de sua capacidade governamental. No plano econômico, tem-se um grande interdependência entre os países, que leva a uma intensificação das conexões entre as sociedades. Esta interligação entre os países causa dentro dos Estados uma influência externa que foge do controle das elites nacionais e uma conseqüente diminuição dos poderes dos governos dentro de seus territórios. A globalização cria um clima de "salve-se quem puder", que faz com que, paradoxalmente, as elites nacionais procurem em ritmo crescente manter suas vantagens regionais, como uma espécie de auto-defesa à concorrência crescente. Surge, como resposta à perda de capacidade de governo interno, regimes de regulação internacional. Esta integração crescente entre as economias tem levado à queda de desempenho dos mercados dos países centrais, devido ao fluxo de capitais que se criou em direção aos chamados países "do Sul". E nestes países tem havido um conflito cultural devido à "invasão" estrangeira: estes países tem sofrido a influência de padrões que, por motivos culturais, econômicos e/ou socio-históricos simplesmente não podem partilhar. A emergência do que vem sendo conhecido, no âmbito cultural, como pós modernidade, é considerado com um "sinal dos tempos" para Offe. Devido à globalização, tem surgido "poderosas tendências de homogeneização transnacional da cultura"3; mas em contrapartida, existem também poderosas contra-tendências, revivendo tradições locais. Tem sido notado, também, que o impulso moral e político dos grandes ideais de libertação, 4 como o marxismo, o liberalismo, o catolicismo, etc., vêm perdendo campo. O pósmodernismo cultural é concebido como o evitar de um retrocesso às formas catastróficas de civilização. 1.1.2 – Propostas para novos arranjos societários Estas mudanças que vem ocorrendo dentro da sociedade moderna (rumo à sociedade pós-moderna) vêm demonstrando que os atuais modelos de instituições societárias são inadequados para o futuro que vem se desenhando. A principal crítica de Offe contra as atuais instituições é o caráter monístico que possuem. Estas instituições, segundo nosso autor, podem ser separados em três tipos "puros" , de acordo com o veio ideológico de cada uma: são instituições baseadas em caracteres estatistas, comunitários ou de mercado, que se mostram imiscíveis entre si, com forte aversão, aliás, às possíveis "misturas" que possam vir a ocorrer. Offe sustenta a hipótese de que a nova sociedade que se desenha não deve ser baseada em nenhum destes tipos "puros", nem mesmo em concepções baseadas em junções de caráter duplo, que exclua o terceiro elemento/tipo. Há necessidade de uma forma que combine elementos do Estado do mercado e da comunidade. "Nós necessitamos de todos os três fundamentos da ordem social"4, necessitamos de tolerância à impureza ideológica. A impressão de Offe é de que os estatistas e os comunitaristas têm percebido esta necessidade e se mostram mais abertos à mudanças; já os adeptos do "mercado liberal" têm sido mais reticentes a tal idéia. Embora levante a questão "qual é o tamanho ótimo de governo", Offe não oferece nenhum tipo de resposta. A única direção em que aponta é a de que as respostas devem ser geradas entre os atores coletivos e através da deliberação democrática. "Em última instância [é uma questão de] 'voz' e não de (...) 'racionalidade'"5. 3 Offe, 1998, p.5. Offe, 1998, p.7. 5 Offe, 1998, p.8. 4 5 Em auxílio à busca do que Offe chama de "mix cívico", ele aponta seis formas/idéias a serem evitadas: três sobre a idéia de concepção baseada em apenas um dos três tipos "puros"; as outras três sobre a omissão de uma delas nas novas instituições. A primeira das formas a serem evitadas é o estatismo excessivo, o dirigismo. Uma forma de evitá-lo é investigar se o nível de governança está à altura do ideal estatal de justiça, que consiste na extensão e garantia de direitos a todos os cidadãos. Deve-se avaliar se um acréscimo do aumento na capacidade do Estado melhora ou piora a igualdade de provisões para os cidadãos, uma vez que, se excessiva a intervenção estatal, além de levar a uma "estatismo social" (na concepção de Offe, o tipo "puro" da ideologia estatista), pode gerar benefícios extensíveis apenas a uma "burocracia de Estado". Offe também chama atenção para a falácia de um Estado com capacidade de governo mínima. O Estado, em sua concepção liberal, é chamado à defesa da propriedade e da vida - nada mais. O Estado deve atuar de forma, segundo Offe, a gerenciar o desenvolvimento interno, desempenhando as funções que atribuímos ao welfare state, como leis trabalhistas individuais e coletivas, treinamentos, etc.. Deve-se evitar, como dito anteriormente, o "excesso de Estado", mas também a atual tendência de total desmantelamento do aparelho estatal. Outro excesso a ser evitado é a excessiva confiança nos mecanismos de mercado. O mercado tem uma tendência a ser auto-destrutivo: quando os atores são deixados por si mesmos na corrida pelo lucro, tendem a associarem-se para evitar uma concorrência predatória, o que elimina seu caráter de liberdade. Há necessidade, então, de mecanismos externos ao mercado, provenientes do Estado e/ou da comunidade, para regularem-no, afim de evitar que ele se auto-destrua ou invada outras esferas sociais. O mercado não deve ser conduzido por suas próprias forças, mas não deve ser excessivamente limitado. Desde que com as restrições apropriadas, torna-se benéfico, pois nele ocorrerá o intercâmbio entre os indivíduos de forma pacífica. Estas trocas, então, se realizarão entre pessoas que têm uma confiança mútua. O mercado possui um caráter de liberação, à medida que libera os indivíduos dos entraves burocráticos e dos controles comunitários. Devido à sua dinâmica, inculca nas pessoas responsabilidade, ajustamentos 6 inteligentes e uma interação civilizada, ao mesmo tempo que evita o surgimento de vícios sociais como o paternalismo e o autoritarismo. Com as mudanças ocorridas nos últimos vinte e cinco anos, o muliculturalismo ganha espaço, tendendo a identificar as pessoas em termos de sua identidade. O reforço das identidades coletivas vem sendo uma resposta ao desencanto para com as idéias do liberalismo individualista. Entretanto, este excessivo comunitarismo que surge no contexto pós-socialismo real tem levado a inúmeros conflitos étnicos. A intolerância à divergências de identidade grupal tende a um impasse, onde recorre-se ao conflito como forma de impor sua identidade e eliminar a rival. Não se deve, entretanto, sufocar ou mesmo neglicenciar comunidades e identidades, uma vez que nelas se encontram e se concentram a cultura genética de uma comunidade. Somente a comunidade pode criar indivíduos que serão comprometidos com seus ideais, já que ela é responsável por boa parte da formação moral dos sujeitos. Elas têm provido a energia moral que vem dando alento às manifestações ocorridas nos últimos vinte ou trinta anos. Garantir e promover a política neste espaço seria contribuir com as necessárias pré-condições para promover o uso coletivamente benéfico dessas forças comunais e seus modos de ação. Claus Offe conclui afirmando que tal "mix" entre estas três formas puras não será dado por nenhum filósofo ou ideólogo, mas, sim, através da "cultura [no sentido de cultivo] da civilidade". A contínua afirmação precisa, crítica e flexível, bem como a recombinação criativa desses três componentes tão discrepantes entre si - Estado, mercado e comunidade - é, e será, conduzida pelo capital social que emerge da sociedade civil "como a origem da energia que faz a democracia funcionar"6. Por capital social entende-se "a síndrome do conhecimento e disposição moral entre os cidadãos que conduzem os concidadãos anônimos expandindo confiança neles"7. Só desta forma pode-se criar instituições que respondam às necessidades da nova sociedade que surge nesta "transição histórica". 6 7 Offe, 1998, p.17. Offe, 1998, p.17. 7 1.2 – Eric Hobsbawn e a falência da democracia 1.2.1 – Considerações sobre o modelo democrático liberal O termo "democracia" tornou-se um referência a que todos procuram associarse. Tornou-se cool dizer-se democrático. Tanto que quase todos os países do mundo procuram associar a democracia com seu regime de governo. Diante de tal "quadro de referência", que vê-se obrigado a dar suporte aos mais diversos modelos políticos, torna-se necessária uma discussão pública sobre o tema, pois "não existe conexão lógica ou necessária entre os diversos componentes do conjunto que compõe o que chamamos 'democracia liberal'"8. Sabe-se que a democracia, na maioria das vezes, mais ameaça que protege as minorias. Além do mais, Estados liberais podem surgir sob o domínio da lei, se legitimarem, e, entretanto, não serem democráticos - vide Prússia ou Alemanha Imperial. "Entretanto, o grande argumento a favor do voto livre não é que ele garanta os direitos, mas que, pelo menos teoricamente, capacite o povo a se livrar de governos impopulares"9. Hobsbawn tece, então, três observações críticas a respeito da democracia: (1) "a democracia liberal (...) requer uma unidade política dentro da qual possa ser exercida. Essa unidade normalmente é o 'Estado-nação'"10 (2) "a premissa de que o governo democrático liberal é sempre superior ou, pelo menos, preferível ao governo não-democrático" é duvidosa, podendo ser verdadeira quando todos os demais fatores não se alteram11; e (3) "a democracia é a pior forma de governo, exceto todas as outras que foram experimentadas de tempos em tempos", a famosa frase de Churchill, mostra que os argumentos em favor da democracia são negativos, além de que, durante o século XX, só tenha sido comparada com sistemas manifestamente ruins12. 8 Hobsbawn, 2001, p.1. Hobsbawn, 2001, p.1. 10 Hobsbawn, 2001, p.1. 11 Hobsbawn, 2001, p.2. 12 Hobsbawn, 2001, p.2. 9 8 Além, destas três críticas ao modelo democrático, o autor em questão afirma que o voto democrático não atende às necessidades de tomadas de decisões técnicas. Ademais, "os governos dos Estados-nação (...) se erguem sobre três premissas [que têm sido deixadas de ser válidas]: (1) "eles têm mais poder do que outras unidades que operam em seu território"; (2) "os habitantes de seus territórios aceitam sua autoridade mais ou menos de bom grado"; e (3) "os governos podem prover aos habitantes de seu território serviços que, de outra forma, não seriam fornecidos com eficácia igual ou nem sequer seriam fornecidos"13. Entretanto, a soberania do mercado tem feito a participações nele (mercado) substituir a participação política. Entretanto, a propaganda de massa - que é um elemento essencial para a manutenção de um regime, uma vez que mesmo em ditaduras um governo não subsiste caso seus cidadãos não mais o aceitem - tem criado duas formas de compensar a queda da participação na política: (1) o avassalador uso da mídia, em decorrência da proliferação dos meios de comunicação, vem dando acesso à população às informações; e (2) manifestação, utilizando-se destes meios, levam as intenções/vontades/percepções de grupos ao resto da população e aos governantes. 1.2.2 – Um olhar pessimista sobre o futuro No entanto, a existência de órgãos de caráter transnacional não democráticos é o que leva a democracia liberal ao que talvez seja seu problema mais grave: a atuação destes organismos afeta diretamente os Estados nacionais, que não podem, simplesmente, ignorá-los. Estes órgãos exercem forças sobre a população de um Estado, no mínimo, equivalente às destes, sem que por eles possam ser controlados. Mesmo com estas "intervenções" externas, os governos não podem, simplesmente, se abdicar de governar, o que faz com que tomem certas medidas para se mostrarem presentes, embora cada vez menos gozem de confiança da população. Com a pressão exercida pela mídia e com a contração da participação política, "a solução mais 13 Hobsbawn, 2001, p.3 9 conveniente para os governos democráticos (...) consiste em manter o máximo possível do processo decisório fora do alcance da publicidade da política"14. "Boa parte da política será negociada e decidida nos bastidores", uma vez que cada vez mais o processo decisório é transferido para instituições não-eleitorais, sejam elas públicas ou privadas - o que aumenta ainda mais a desconfiança dos cidadãos15. Qual será o futuro da democracia liberal? A pergunta é deixada por Hobsbawn, que aponta quatro itens importantes para a interpretação da questão, antes de dar alguma resposta: (a)século XXI não parece que será favorável às ditaduras militares; (b)ideal de um mercado global e "sem Estado" não se realizará; (c)os Estados democráticos liberais continuarão a existir; e (d) as eleições, também. Logo, enfrentaremos problemas no século XXI com mecanismos incapazes de lidar com tais dificuldades. Como agravante, à medida em que proliferam os Estados nacionais, grandes áreas heterogêneas sob uma política única, como a União Européia, surgem. Estes Estados enfrentam-se em uma economia mundial dominada por empresas transnacionais, que não estão interessadas nem preocupadas com interesses comuns ou legitimidade política. Estes Estados democráticos liberais enfrentam, também, problemas ecológicos gravíssimos, cujas soluções exigirão medidas que não encontrarão, com quase certeza, apoio eleitoral. Hobsbawn finda seu artigo de forma pouco otimista, com as seguintes palavras, que refletem bem suas preocupações sobre o futuro e a democracia: "isso não é uma notícia encorajadora para as perspectivas de longo prazo da democracia ou do planeta (...) mas é daqui mesmo que estamos partindo16". 1.3 – Boaventura de Sousa Santos e a nova teoria da emancipação 1.3.1 - A modernidade e o desequilíbrio entre emancipação e regulação 14 Hobsbawn, 2001, p.6. Hobsbawn, 2001, p.6. 16 Hobsbawn, 2001, p.7. 15 10 O projeto da modernidade, desde suas origens, baseou-se no equilíbrio entre dois pilares em que se apoia: o pilar da regulação e o pilar da emancipação. Cada um destes pilares, por sua vez, é constituído por um conjunto de três componentes básicos. O pilar da regulação é formado pelos três princípios responsáveis pela ordem social: é formado pelo Estado, pelo mercado e pela comunidade. O pilar da emancipação, por sua vez, é formado pelas “três dimensões da racionalização e da secularização da vida cotidiana: a racionalidade moral-prática do direito moderno; a racionalidade cognitivo-experimental da ciência e da técnica moderna; e a racionalidade estético-expressiva das artes e literatura modernas”17. “À medida em que a trajetória da modernidade identificou-se com a trajetória do capitalismo, o pilar da regulação fortaleceu-se à custa do pilar da emancipação”, e “o desequilíbrio entre regulação e emancipação e o conseqüente excesso de regulação em que veio a saldar-se resultou de desequilíbrios, tanto no seio do pilar da regulação como no da emancipação”18. No interior do pilar da regulação deu-se uma hipertrofia do mercado em detrimento do Estado e de ambos em detrimento da comunidade. Dentro do pilar da emancipação, verificou-se uma hipertrofia da racionalidade científica, especialmente em sua vertente positivista, devido à afinidades fortíssimas com a força produtiva do capitalismo. A sociedade liberal (sinônimo de moderna para Santos) é marcada pela tensão entre a subjetividade do Estado e do indivíduo, onde a cidadania funciona e age como mecanismo regulador entre estes dois pólos. Entretanto, a universalidade da cidadania choca-se com a particularidade do subjetivismo, e a superação desta tensão só pode se dar no âmbito do pilar da emancipação, ainda que sufocado pelo pilar da regulação. Durante a atual era, sob a égide do capitalismo liberal manifesta-se o extermínio brutal do potencial emancipatório da modernidade, devido à hegemonização da racionalidade científica, e do crescimento exagerado do mercado em detrimento do Estado e do abandono do princípio do comunitarismo. 17 18 Santos, 1996, p.236. Santos, 1996, p.236. 11 Esta invasão do mercado às outras esferas regulatórias, e à esfera emancipatória através de seu “comparsa”, a racionalidade técnico-científica, leva, “como se veio a verificar, [que] entregue a si próprio, o capitalismo não transita para nada senão para mais capitalismo”19. Com a hipertrofia do mercado tem-se impedido qualquer forma de equilíbrio entre ele, o Estado e a comunidade – o que inviabilizou a propalada transição do capitalismo para o socialismo, onde a humanidade alcançaria sua emancipação definitiva. Por isso, a separação liberal entre igualdade política e desigualdade econômica é ilusória, meramente formal: a predominância do mercado produtor de desigualdade ofuscou completamente a proposta de igualdade própria do Estado – o que se reflete no atual desequilíbrio de forças no campo político e econômico. 1.3.2 - Emergência e crise da cidadania social Durante o período caracterizado pela presença do welfare state, verificou-se um equilíbrio maior entre o mercado e o Estado – ainda que em detrimento quase absoluto da comunidade. Verificou-se, então, uma passagem da cidadania cívica e política para a cidadania social, que se deu com a conquista de significativos direitos sociais pela classe trabalhadora. “[Este] alargamento da cidadania abriu novos horizontes ao desenvolvimento da subjetividade”, embora tais direitos sociais e apoio de instituições estatais tenha aumentado o peso burocrático sobre os indivíduos20. Tais benefícios conquistados representaram um aumento do salário indireto dos trabalhadores. Tais salários indiretos eram basicamente fornecidos pelo Estado. Posteriormente, se verificou uma crise do Estado-providência, crise esta que “assenta[-se] basicamente na crise do regime de acumulação consolidado no pós-guerra, o „regime fordista‟”21. 19 Santos, 1996, p.243. Santos, 1996, p.245. 21 Santos, 1996, p.248. 20 12 A crise do Estado de bem-estar desencadeia uma crise da cidadania social. Não há mais um Estado forte capaz de atender às demandas da população. A crise do sistema fordista leva a uma necessidade de padrões produtivos novos. Deixa-se de ter o modelo tradicional de indústria, baseada em grandes unidades que buscam a auto-suficiência produtiva, e passa-se a um novo modelo baseado na difusão social da produção22, através da transnacionalização do processo produtivo, que fragmenta-se e espalha-se pelo globo. A crise do Estado leva à “revolta da subjetividade contra a cidadania (...) atomizante e estatizantes”23. A queda do modelo fordista e sua sucessão por um modelo globalizante leva à concorrência predatória entre os países pelos investimentos das empresas transnacionais. A luta que é gerada pelo novo modelo econômico, a concorrência acirrada que surge entre os indivíduos tem levado a uma crescente indiferenciação entre produção e reprodução. O mercado invade de forma avassaladora até mesmo a vida privada. “A submissão real ao capital no espaço da produção foi secundada pela submissão formal no espaço da reprodução social”24. Esta submissão ao capital leva à uma atomização da classe operária que, sem proteção legal, gera insegurança entre os trabalhadores e em relação à sua participação política, neutralizando-os. Atomizados, “os trabalhadores não são classe operária, são força de trabalho”25. Com o intuito de enfraquecer o Estado e tornar-se plenamente hegemônico, o mercado apela para o quase ignóbil princípio comunitário, às suas idéias de participação, solidariedade, autogoverno, como forma de conseguir a cumplicidade da comunidade em seu projeto de retirada estatal dos serviços de providência estatal, jogando-o (ele Estado) para o setor não lucrativo. 1.3.3 - Uma nova democracia e uma nova teoria da emancipação 22 Santos, 1996, p.251, grifos do autor. Santos, 1996, p.248-9. 24 Santos, 1996, p.252. 25 Santos, 1996, p.254. 23 13 Após todo este discurso de esclarecimento sobre os problemas da emancipação na sociedade moderna e as conseqüências trazidas pela hipertrofia da regulação da sociedade pelo mercado, Boaventura de Sousa Santos convida a um esforço teórico para a construção de uma nova teoria democrática e de uma nova teoria da emancipação. Comecemos pela primeira. O capitalismo é criticável por não ser suficientemente democrático. “A teoria política liberal transformou o político numa dimensão setorial e especializada da prática social – o espaço da cidadania – e confinou-o ao Estado”, ao tempo que despolitizou todas as outras áreas, mantendo-a imunes ao exercício da cidadania26. A nova teoria democrática – a teoria democrática pós-moderna – deve proceder “à repolitização global da prática social”27, deve alargar e aprofundar o campo político em todos os espaços estuturais da interação social”28. Em âmbito internacional, onde verifica-se uma grande assimetria de poder político entre os países, Santos considera que só a politização das práticas transnacionais pode trazer um equilíbrio às relações de poder. Este empreendimento é uma tarefa difícil, uma vez que enfrentará os imperativos econômicos impostos pelas empresas transnacionais e a ideologia do consumo, que utiliza tais empresas para se expandir. Embora uma tarefa árdua, deve ser levada a cabo, pois é identificada como a única forma de romper com as atuais formas “ocultas” de poder em âmbito internacional. A nova teoria da emancipação surge, dentro do quadro descrito por Santos, como decorrência das transformações políticas que vêm ocorrendo nos últimos vinte anos. Com a queda dos sistemas comunistas do Leste Europeu, o ideário socialista se despe das sujas vestes do chamado “socialismo real”. Denominar as novas práticas emancipatórias de socialismo “não tem outra legitimidade senão a que lhe avém da história”29. A proposta de Santos é de que a nova emancipação seja baseada em um socialismo “ideal”, em contraposição às mazelas do chamado “socialismo real”. O socialismo deve ser uma qualidade ausente, que nunca se transformará em algo real. Desta 26 Santos, 1996, p.271. Santos, 1996, p.271. 28 Santos, 1996, p.276. 29 Santos, 1996, p.277. 27 14 forma, o socialismo pode ser travestido por tantos adjetivos quanto forem exigidos pela luta democrática. O socialismo terá, então, uma definição negativa. Uma vez que sabemos melhor o que não queremos do que as coisas que desejamos, é tal definição que dar-lhe-á sua dinâmica. “O socialismo é o conjunto dos seus adjetivos em equilíbrio dinâmico”30. A emancipação torna-se, assim, “um conjunto de lutas processuais, sem fim definido” (Ibid, p.277). No campo da emancipação, este sentido é a ampliação e o aprofundamento das lutas democráticas em todos os espaços da prática social, conforme estabelece a teoria pós-moderna. “O socialismo é a democracia sem fim”31. Essa concepção de emancipação implica uma nova cidadania, que “tanto se constitui na obrigação política vertical entre os cidadãos e o Estado, como na obrigação política horizontal entre cidadãos”32. Desta forma, há uma revitalização e revalorização do princípio da comunidade, abrindo entre Estado e mercado um novo espaço, uma sociedadeprovidência que não se presta à ocultação da opressão e dos excessos de regulação do mercado e do Estado – sem, logicamente, a pretensão de aboli-los ou de dispensá-los de suas responsabilidades – e que sabe abrir seus próprios caminhos rumo à emancipação. CONFLUÊNCIAS E DIVERGÊNCIAS ENTRE OS TRÊS ARGUMENTOS Após a apresentação das idéias de cada um dos autores a serem colocados frente a frente, tentaremos esboçar um confronto entre elas, e verificar onde há pontos comuns e onde há divergências de diagnósticos e/ou prognósticos. Um ponto de concordância clara entre Santos, Offe e Hobsbawn é que a sociedade moderna está deixando de ser moderna. Está tornando-se pós-moderna. Todos os autores diagnosticam mudanças que vêm ocorrendo no último quarto de século e que causaram e continuam a causar mudanças no atual modelo societário. Estamos vivendo um 30 Santos, 1996, p.277. Santos, 1996, p.277, grifos do autor. 32 Santos, 1996, p.277-7. 31 15 período de transição33. É um período de substituição de modelos e táticas de jogo: sai a sociedade moderna, cansada, maculada, frustrada por não atingir seus projetos iniciais; apresenta-se a sociedade pós-moderna, gestada durante as últimas duas ou três décadas, que veio tomando forma e aprendendo o que não deve fazer quando tornar-se o modelo titular de sociedade. O diagnóstico é comum aos três. Mas, e quanto às perspectivas? É aí onde os três autores se diferenciam. Todos reconhecem os problemas e as adversidades desta “transição histórica” e as dificuldades rumo a um novo arranjo societário. Mas cada um tem uma leitura diferente do futuro que se desenha. Boaventura de Sousa Santos é, de longe, o mais otimista. Reconhece o quadro de mudanças, as dificuldades que o sistema política global atual enfrenta e os que impõe às formas novas que se desenham e podem surgir. Entretanto, Santos aponta em direção de uma nova forma de cidadania e de uma nova teoria da emancipação, que transformará novamente a política em um espaço aberto à participação pública. Claus Offe é o que podemos chamar de neutro: o que o futuro pode vir a ser dependerá da forma como os agentes sociais se relacionarão de agora em diante. Estado, mercado e comunidade devem equilibrar-se, sem que um se expanda em detrimento dos demais, de forma que a nova sociedade crie um novo equilíbrio dinâmico entre suas três formas de regulação e utilize as qualidades e potencialidades de cada uma em sua estruturação. Já Eric Hobsbawn é o mais pessimista dentre os três. Diferentemente do otimismo de Santos e da neutralidade de Offe, Hobsbawn vê um futuro não muito animador para a democracia e a participação política. Para ele, as alterações que vêm ocorrendo na economia e na política nos últimos anos em âmbito mundial levam a crer que a democracia terá funções meramente “eleitoreiras”, uma vez que boa parte das grandes e importantes decisões passarão a ser tomadas em grandes organismos internacionais de caráter não democrático, ou então por burocracias públicas ou privadas. Frente a esta diferença de humores, qual é a possível relação entre estes autores? Nós partiremos aqui de uma posição um tanto pessoal e indefinida. Tomaremos o quadro desenhado por Offe como ponto de partida. Temos uma fase de transição perante nossos olhos. O que virá após esta passagem dependerá do comportamento dos atores 33 Offe, 1998. 16 sociais e de suas decisões. Caso sigam a orientação de Offe, podemos nos deparar com o quadro esperado por Santos, com novos modos e novos alentos para a ação política. Caso continue o presente monismo quanto às formas de regulação social – atualmente sob a hegemonia do mercado – um sombrio futuro aguarda a sociedade pós-moderna, que se verá sem meios de decidir sobre seus rumos e com formas de organização social incompatíveis com suas características. A nova sociedade que se apresenta batendo à nossa porta apoia-se sobre os escombros do atual modelo social que foram sendo derrubados nos últimos vinte e cinco anos. Por isso o nome pós-moderno. “„Pós-moderno‟ quer significar oposição ao (ou superação do) „moderno‟”34. Com a crise do modelo fordista de organização industrial, assistimos à agonia do modelo político apoiado em tal paradigma de produção – o welfare state entra em crise e o neoliberalismo e sua proposta de “Estado mínimo” se apresenta como única alternativa viável. Assiste-se, quase que simultaneamente, à crise dos países do chamado “socialismo real”, seguida da queda de tais regimes. Neste período, presenciamos um processo de democratização de antigas ditaduras, a globalização como uma tendência cada vez mais consolidada, interligando as economias dos mais diversos países e uma mudança cultural, valorizadora dos aspectos identitários, chamada pós-modernidade. Tais mudanças mostram que uma nova realidade surge, e é necessário novos arranjos institucionais que respondam às novas problemáticas, e que ao mesmo tempo atendam às necessidades de emancipação que surgem. A modernidade sofreu um forte desajuste entre suas capacidades de regulação e emancipação. Houve um crescimento da regulação frente à emancipação, e, dentro da esfera regulatória, uma hipertrofia do mercado como forma reguladora frente às demais. A proposta de Offe para a era pós-moderna é a necessidade de equilíbrio dentro do pilar da regulação, como forma de gerar instituições sociais mais eficientes e que atendam às novas necessidades. A impressão que se tem ao cruzar o texto de Offe com o de Santos é de que, ocorrendo este equilíbrio pelo lado da regulação, o caráter emancipatório da sociedade 17 entrará em equilíbrio com o regulatório. Ocorrendo isto, justamente com a ação direcionada dos atores sociais rumo a este fim, a sociedade pós-moderna proporcionará uma nova forma de emancipação aos indivíduos, que permanecerá em um equilíbrio dinâmico com as novas instituições societárias. Neste novo quadro político, “a habilidade para negociar as diferenças ganha projeção e valor”35 devido ao pluralismo cultural que floresce com o refortalecimento das identidades comunitárias. Até agora, não nos parece problemática essa tentativa de mescla das perspectivas dos autores em questão. Mas não podemos nos esquecer que temos, até agora, trabalhado basicamente com idéias que mostram-se com grande afinidade, e como possível prolongamento uma da outra, de acordo com a leitura que se faz. As controvérsias surgem quando acrescentamos ao debate o “elemento pessimista” de Hobsbawn: o poder irresistível das organizações transnacionais de caráter não democrático (não confundir, entretanto, com anti-democrático). Santos conhece tal problema, mas acredita que através da ação dos atores sociais e do equilíbrio, tanto interno quanto mútuo, dos pilares da regulação e da emancipação, tal entrave pode ser sanado, ou pelo menos controlado. Hobsbawn, entretanto, é bastante cético em relação à esta possibilidade. Reconhece ele as mudanças políticas, econômicas e culturais/identitárias que estão em curso. Entretanto, não acredita em um equilíbrio entre estes fatores – especialmente em escala global. O que entende-se é que Hobsbawn acredita que o princípio comunitário continuará reduzido a um mínimo possível, esmagado pela hipertrofia em especial do mercado; a política terá sua importância reduzida pela “queda da qualidade” da democracia em todo mundo, decorrente da rápida expansão deste modelo político por quase todo globo e sua conseqüente banalização; e o mercado passa, então, a ocupar os espaços que vão sendo deixados vazios, tornando-se mais que hegemônico, tornando-se a instância central em torno da qual gravitará praticamente toda a vida social. As principais decisões serão tomada não mais pelos Estados democráticos liberais, como ocorreu até a crise do welfare state. O foco decisório central, com 34 35 Dulci, 1997 p.1. Fernandes, 1995, p.16 18 abrangência sobre todo o globo, serão os organismos supra-nacionais, que aproveitaram-se da crise do Estado-nação e da queda das fronteiras proporcionada pela globalização e pelas empresas transnacionais. A nossa hipótese de confronto entre Santos e Hobsbawn está baseada nas pistas deixadas por Offe, que também devem ser apreciadas com certas reservas. Sua proposta de um “mix cívico” é atraente, mas de difícil concretização, pois como nos diz Fernandes, “sempre que há três envolvidos, a tendência é que dois se aliem contra um”36, como as alianças que foram feitas entre Estado e mercado durante a vigência do welfare state em detrimento dos princípios comunitários e a atual tentativa de “contrato” entre mercado e comunidade na tentativa de retirar o Estado dos setores lucrativos37. Um prognóstico que pode ser feito é que, concretizando-se as expectativas de Offe, a hipótese de Santos pode se verificar caso haja a ação dos atores sociais rumo à nova cidadania e à nova emancipação, tendo como base o equilíbrio entre aqueles pilares que dão sustentação à ordem social. Mas, em uma eventual falha de Offe, o projeto de Santos tornase inviável, e sob a égide do mercado hegemônico, atuando em todo o globo, presenciaremos o governos das organizações transnacionais carentes de valores democráticos. Mas este é um prognóstico de forte caráter especulativo, que só poderá ser verificado com o desenrolar dos acontecimentos. ALGUMAS CONSIDERAÇÕES FINAIS Encerramos, aqui, deixando colocadas as posições destes três pensadores que vêm promovendo um grande esforço intelectual na tentativa de captar e sistematizar os sinais de mudança que vêm se apresentando. Encontramo-nos sem qualquer condição de uma resposta cabal, ou mesmo de um esboço mais definido. A única alternativa que nos resta é observar os acontecimentos para descobrir que rumo tomará a transição histórica que efetuamos para a sociedade pós-moderna. 36 37 Fernandes, 1995, p.34. Santos, 1996. 19 Entre o otimismo de Santos e o pessimismo de Hobsbawn temos apenas a neutralidade de Offe, e situamo-nos como meros espectadores, aguardando que a história nos mostre os rumos que a sociedade seguirá. Situamo-nos entre a emancipação e a dependência. E não temos respostas dadas. Temos apenas problemas. Mas como nos lembra Karl Popper, “we are not students of some subject matter, but students of problems”38. 38 Popper apud Reis, 1997, p.III. 20 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS DULCI, Otávio Soares (1997). Estado, sociedade e políticas sociais no cenário mundial. Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro, Escola de Governo de Minas Gerais. FERNANDES, Rubem César (1995). “Elos de uma cidadania planetária”. Revista Brasileira de Ciências Sociais, São Paulo, ano 10, n.28, p.15-34. GIDDENS, Anthony (1991). As conseqüências da modernidade. Trad. Raul Fiker. São Paulo: Unesp. HOBSBAWN, Eric (2001). A falência da democracia. Trad. Clara Allain. São Paulo. mimeo. [Publicado no jornal Folha de São Paulo no dia 09 de setembro de 2001] OFFE, Claus (1998). A presente transição histórica e algumas opções básicas de desenhos para as instituições societárias. Trad. Marta Zorzal e Silva. São Paulo, mimeo. [Apresentado no seminário Society and the Reform of the State] REIS, Bruno Pinheiro Wanderley (1997). Modernização, mercado e democracia: política e economia em sociedades complexas. Rio de Janeiro, Iuperj, tese de doutoramento em Ciência Política. SANTOS, Boaventura de Sousa (1996). “Subjetividade, cidadania e emancipação”. In: Pela mão de Alice: o social e o político na pós-modernidade. 2.ed. São Paulo: Cortez. p.235276.