monografiaDanielcorrigida3[1]

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DANIEL PEREIRA DA SILVA MENDES
MEDITAÇÃO E DOENÇAS PSIQUIÁTRICAS
CAMPO GRANDE - MS
2008
DANIEL PEREIRA DA SILVA MENDES
MEDITAÇÃO E DOENÇAS PSIQUIÁTRICAS
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à
Banca Examinadora do Curso de Medicina da
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul,
como exigência parcial para obtenção do título de
graduado em Medicina, sob a orientação da Profª
Danusa Céspedes Guizzo Ayache.
CAMPO GRANDE - MS
2008
DANIEL PEREIRA DA SILVA MENDES
MEDITAÇÃO E DOENÇAS PSIQUIÁTRICAS
Trabalho apresentado como exigência parcial para obtenção do título de Graduado em
Medicina à Banca Examinadora da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.
Obteve conceito _______________________ para aprovação.
BANCA EXAMINADORA
_______________________________________________
_______________________________________________
_______________________________________________
Campo Grande, ________ de _________________ de 2008.
Dedico este trabalho de Conclusão de
Curso a todos que buscam a felicidade do
ser humano, dos animais, da natureza, do
planeta. Afinal estamos aqui para viver
com plenitude, abundância, prazer e
alegria, celebrando a vida!!!
AGRADECIMENTOS
Em primeiro lugar a mim mesmo: ao fim de uma era - iniciar outra - buscar os sonhos,
viver a minha história, minha própria vida e, antes de tudo, me permitir a ser o que sou de
verdade!!!
Ao cão, parceira e mestra Lua que me ensinou muito sobre o amor e a vida... Deus e
seus caminhos.
À minha querida mãe, pelo seu carinho, confiança e amor que me faz um homem
melhor.... Reencontro com a vida.
Ao meu pai especial, pelo apoio e por me dar as condições para me desenvolver, mas
antes de tudo por ser fonte de inspiração, pela coragem de ser e viver.
Ao meu amigo e irmão, parceiro de luta contra a hipocrisia e opressão, sonhador como
eu, grande alma.
Aos meus avós maternos, pelo carinho e devoção, sempre querendo o melhor da gente,
verdadeiros amigos.
Aos amigos, pela alegria que são - na vida - energia que nos dá ânimo e nos faz feliz.
Aos inimigos, por me fazerem olhar para dentro de mim e ser mais verdadeiro e buscar
minha força interior.
A UFMS/NHU, que apesar de todas as dificuldades e obstáculos foi uma escola na
vida e da vida.
Aos mestres Osho, Buddha, Cristo, Krishna Dolano, Neeru e todos aqueles que
realizaram o nosso potencial... Luz e Vida Plena!!!
À existência, Deus, Alá, Vida, Pan, Tupã, como queiram chamar o que não tem
palavras para expressar o que está em tudo e em todos ... razão, busca, motivo e sentido da
minha vida...
Enjoy the Silence!!!
O poder curativo da meditação
“A palavra meditação e a palavra medicina vêm da
mesma raiz. Medicina significa ‘o que cura o físico’
e meditação ‘o que cura o espírito’. Ambas são
forças curativas. Uma outra coisa para ser lembrada:
a palavra cura (heal) e a palavra pleno (whole), total,
sadio, pleno também têm origem na mesma raiz.
Uma outra conotação para a palavra Santo, Sagrado
(holy) que também vem da mesma raiz. Cura (heal),
Pleno (whole), Santo (holy) não são diferentes em
suas raízes. A meditação cura e o faz pleno total e
ser total, sadio é ser santo. Santidade não tem nada a
ver com pertencer a uma religião, igreja ou seguir
dogmas e renunciar o mundo. Simplesmente
significa que interiormente você é inteiro, completo;
nada está faltando, você está preenchido. Você é o
que a existência queria que você fosse, você realizou
seu potencial”.
Osho (1931-1990)
RESUMO
Cresce atualmente o interesse acerca da meditação e de sua aplicação na prática médica e nãomédica. Este trabalho teve como objetivo a realização de uma revisão bibliográfica sobre este
tema. A proposta desta revisão foi efetuar uma pesquisa sistemática sobre a relação entre
meditação e psiquiatria (doenças mentais) e, também, com outras condições médicas (doenças
crônicas) e na melhoria da qualidade de vida de profissionais e estudantes. Foram utilizados
livros e artigos pesquisados em bases de dados na Internet até o ano de 2008. Verificamos que
o número de pesquisas relacionando estas áreas aumenta e permite melhor compreensão do
assunto, do ponto de vista científico. Em alguns países desenvolvidos, técnicas de medicina
alternativa e complementar como a meditação constituem uma reconhecível e crescente
realidade, pela evidência empírica de seus vários benefícios para o físico, mental, social e o
espiritual, atribuído ao estado de consciência (mindfulness) preconizado pela meditação. No
Brasil, a procura por novos métodos de cura e desenvolvimento de bem-estar também cresce,
sendo a meditação um dos mais procurados. Entretanto, esta realidade está mais restrita a
algumas áreas do país, como São Paulo, Brasília e Porto Alegre, entre outros. Encontrou-se
relação satisfatória entre meditação e bem-estar psicológico, bem-estar físico, melhora da
qualidade de vida e da saúde em doentes psiquiátricos e nas outras condições clínicas. Estudos
de neuroimagem, neuroendócrino-imunológicos e outros estudos fisiológicos completam os
estudos comportamentais e psicológicos com informações mais objetivas. Entretanto, muitas
limitações, dificuldades e controvérsias ainda existem e a necessidade de pesquisas mais
apuradas é uma imposição. Pacientes procuram por abordagens mais holísticas onde suas
emoções, sentimentos, vida afetiva, trabalho, espiritualidade e vida social também são
consideradas como parte desse bem-estar. Assim, médicos estão enfrentando a demanda de
uma nova abordagem de seus pacientes, que não buscam mais apenas tratar suas doenças, mas
também, uma vida mais plena e saudável. E neste aspecto a meditação aparece como um
grande potencial, tanto terapêutico quanto em melhorar a saúde como um todo, como em
outras terapias complementares e alternativas. A integração da medicina tradicional com a
meditação e outras terapias alternativas, assim como a nova física quântica somada às
pesquisas clínicas e biológicas podem propiciar ao homem e à sociedade um melhor
entendimento e uma ciência mais completa para atender às necessidades humanas e para o seu
desenvolvimento (evolução) em um mundo mais saudável.
Palavras-chave: Meditação; Medicina; Medicina Alternativa; Doenças Psiquiátricas
ABSTRACT
Nowadays grows the interest about meditation and its application on the non-medical and
medical practice.This work had as an objective to make a review of literature about this
issue.In this review the purpose was to do a systematic search about the relationship between
meditation and psychiatry(mental diseases) and in others medical conditions (chronic
diseases),improving the quality of life of professionals and students as well. It was used books
and articles searched in data bases from Internet until the year of 2008.We watched that the
number of researches relating both areas increase and gives more comprehension to the issue
from a scientific point of view. In some developed countries, the complementary alternative
medicine techniques, as meditation are already a growing recognized reality, by the empiric
evidence of its many benefits to the physical, mental, social and spiritual duets the state of
mindfulness. In Brazil the search for new ways of healing and developing well-being also
grows, being meditation one of the most seeken. However this reality is more restrict to some
areas of the country as São Paulo, Brasília, Porto Alegre and others. It was found satisfactory
relation between meditation and psychological, physical well-being, improving quality of life
and promoting health on psychiatry disease and other clinical conditions. Neuroimages,
neuroendocrine-imuno and others physiologic studies complete the psychological and
behavioral studies with more objective informations. However many limitations, difficulties
and controversy exists and a more acute research is needed. Patients are looking for a more
holistic approach, where their emotions, feelings, affective life, work, social life and
spirituality are considered as well as part of their well-being. Physicians are facing a demand
to a new approach from their patients that are not only seeking for treatment to their diseases,
but are also looking for a healthier and total life. At this point meditation appears as a great
potential, a therapeutic resource and a way of improving a healthier life. The integration of
traditional medicine with meditation and other techniques of Complementary Alternative
Medicine (CAM), the new quantic physics plus clinical and biological researchs may give
man and society a deeper understanding and complete science to human needs and
development where a healthy world can be enjoyed.
Key words: Meditation; Medicine; Alternative Medicine; Psychiatry Diseases.
SUMÁRIO
LISTA DE ABREVIATURAS ............................................................................................... 10
1 INTRODUÇÃO................................................................................................................... 11
2 OBJETIVO .......................................................................................................................... 11
3 METODOLOGIA ............................................................................................................... 12
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ........................................................................................ 12
5 TERMOS EXPLICATIVOS E FIGURAS ....................................................................... 12
6 SAÚDE MENTAL - DOENÇAS PSIQUIÁTRICAS E MEDITAÇÃO ......................... 17
6.1 MEDITAÇÃO ................................................................................................................. 17
6.2 DOENÇA X SAÚDE ...................................................................................................... 18
6.3 PSIQUIATRIA, PSICOTERAPIAS E MEDITAÇÃO ................................................... 18
6.4 BEM-ESTAR MENTAL X ESTRESSE E MEDITAÇÃO ............................................. 20
6.5 NEUROIMAGEM E MEDITAÇÃO .............................................................................. 20
6.6 NEUROFISIOLOGIA, COMPORTAMENTO E MEDITAÇÃO .................................. 21
6.7 NEUROPSICOLOGIA, COMPORTAMENTO E METIDAÇÃO ................................ 23
6.8 ANSIEDADE E MEDITAÇÃO...................................................................................... 24
6.9 DEPRESSÃO E MEDITAÇÃO ..................................................................................... 24
6.10 SUICÍDIO E MEDITAÇÃO ......................................................................................... 25
6.11 DEPENDÊNCIA QUÍMICA E MEDITAÇÃO ............................................................ 26
6.12 TRANSTORNO BIPOLAR E MEDITAÇÃO ............................................................. 27
6.13 ESQUIZOFRENIA E MEDITAÇÃO ........................................................................... 28
6.14 DEFICIÊNCIAS INTELECTUAIS E MEDITAÇÃO ................................................. 28
6.15 INSÔNIA E MEDITAÇÃO .......................................................................................... 29
6.16 PSICOSE E MEDITAÇÃO .......................................................................................... 29
7 SAÚDE FÍSICA - DOENÇAS ORGÂNICAS, MÉDICAS E MEDITAÇÃO ............... 30
7.1 DOENÇA MENTAL X DOENÇA FÍSICA .................................................................... 30
7.2 SAÚDE E DOENÇA ORGÂNICA (TRANSTORNOS FÍSICOS) ................................ 30
7.3 FISIOLOGIA E MEDITAÇÃO ...................................................................................... 31
7.4 DOENÇAS CRÔNICAS E MEDITAÇÃO .................................................................... 31
9
7.5 DOENÇAS CARDIOVASCULARES E MEDITAÇÃO ............................................... 32
7.6 CÂNCER E MEDITAÇÃO ............................................................................................ 35
7.7 EFEITOS ADVERSOS DA MEDITAÇÃO ................................................................... 36
8 APLICAÇÕES MÉDICAS E NÃO-MÉDICAS DA MEDITAÇÃO .............................. 37
8.1 APLICAÇÕES MÉDICAS ............................................................................................. 37
8.2 EDUCAÇÃO E MEDITAÇÃO ...................................................................................... 38
8.3 TRABALHO E MEDITAÇÃO ...................................................................................... 39
9 MEDITAÇÃO E CIÊNCIA: O QUE SABEMOS? ......................................................... 39
9.1 MEDITAÇÃO É “CIÊNCIA” ........................................................................................ 40
10 MEDICINA INTEGRAL ................................................................................................. 41
10.1 QUALIDADE DE VIDA, SAÚDE E MEDITAÇÃO .................................................. 41
10.2 HOLISMO - NOVA ABORDAGEM DA PESSOA E DO PACIENTE ....................... 42
10.3 INTEGRAÇÃO DE TRADIÇÕES E CONHECIMENTOS(ORIENTE/OCIDENTE) 43
10.4 NOVOS PARIDIGMAS (FÍSICA QUÂNTICA E SAÚDE) ....................................... 44
10.5 ESPIRITUALIDADE E MEDITAÇÃO ....................................................................... 45
11 CONCLUSÃO ................................................................................................................... 46
12 REFERÊNCIAS ............................................................................................................... 48
LISTA DE ABREVIATURAS
ACTH
Hormônio A0 drenocorticotrófico
CAM
Complementary Alternative Medicine
CDs
Compact Discs
CPF
Córtex Pré-Frontal
EEG
Eletroencefalograma
EUA
Estados Unidos da América
LPPS
Lóbulo Parietal Póstero-Superior
MBCT
Terapia Cognitiva Baseada na Meditação (Mindfulness Based Cognitive Therapy)
MBSR
Redução de Estresse Baseado na Meditação
MM
Mindfulness Meditation
OMS
Organização Mundial da Saúde
PET
Tomografia por Emissão de Pósitrons
SNP
Sistema Nervoso Parassimpático
TM
Meditação Transcendental
UK
Reino Unido (United Kingdom)
UMASS
Universidade de Massachusetts
11
1 INTRODUÇÃO
Meditação é um tema ainda controverso, inclusive na área médica. Porém, assim como
o Yoga e outras técnicas, tem sido motivo de crescentes pesquisas nos últimos 30 anos. As
terapias complementares e alternativas (Complementary Alternative Medicine - CAM)
tornam-se cada vez mais populares na cultura ocidental, sendo a Meditação e o Yoga as que
mais ganham aceitação entre as várias intervenções mente-corpo na medicina ocidental
(ARIAS et al., 2006).
Em 1999, o governo norte-americano investiu 10 milhões de dólares no Instituto
Nacional de Saúde para criar centros de estudo sobre a relação das intervenções corpo-mente
com a saúde. A escola médica de Harvard e a Universidade de Massachusetts (UMASS)
oferecem treinamento em tais métodos (ARIAS et al., 2006)
Assim, a atual busca por qualidade de vida e saúde, a necessidade de métodos com
abordagem holística do ser humano (mente-corpo; biológico-psicossocial) e a percepção desse
meio terapêutico em promover tais aspectos, faz da meditação objeto promissor e
considerável para o estudo da ciência.
Novos paradigmas surgem e impulsionam a evolução da medicina, do homem e da
sociedade, possibilitando a integração de métodos tradicionais às terapias alternativas, e
proporcionando ao homem mais bem-estar e saúde. Sem esquecer que promover saúde
também é criar um sistema de vida mais “saudável” do ponto de vista social, econômico e
ambiental (MAMTANI; RAVINDER; CIMINO, 2002).
Esta e outras terapias necessitam de mais estudos clínicos e neurobiológicos,
examinando-se os processos psicológicos e neurofisiológicos subjacentes a tais técnicas, o
que promoverá um melhor entendimento destas e de seu impacto sobre as doenças
(IVANOVSKI; MALHI, 2007).
Portanto, neste trabalho buscou-se avaliar a relação da meditação com a psiquiatria e a
medicina, principalmente através da ótica científica atual, para esclarecer e conhecer mais
sobre essa promissora relação.
12
2 OBJETIVO
Realizar revisão na literatura médica sobre estudos que relacionem a meditação com a
área médica em geral, com maior ênfase em relação às doenças psiquiátricas. Foram
verificadas suas aplicações, efeitos, mecanismos, objetivos e estudos sobre a meditação nessas
áreas, bem como na área não-médica, uma vez que sua relação com a saúde e o bem-estar do
homem é de grande amplitude.
13
3 METODOLOGIA
Foi realizada revisão sistematizada da literatura, pela base de dados Pubmed, Bireme,
(Medline, Lilacs, Scielo) e Web of Science, de artigos publicados em periódicos nacionais e
internacionais. Várias palavras-chave foram utilizadas: “Meditation and Psychiatry”,
“Complementary Alternative Medicine”, “Diseases
and
Meditation”, “Health and
Meditation”, “Medicine and Meditation”, “Terapias Alternativas” e “Meditação”. Restringiuse o período da pesquisa entre 1999 a 2008. Realizou-se, também, uma busca ativa das
referências encontradas nos artigos. Outras fontes de dados foram obtidas em livros sobre
medicina geral, psiquiatria e meditação.
14
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
A relação da meditação diretamente com a saúde do ser humano confere ao assunto
amplas possibilidades de investigação e discussão. Embora o foco desta revisão seja a relação
da meditação com as doenças psiquiátricas, também se verificou sua relação com outras
condições médicas e não-médicas, inclusive pela razão de entendermos que a mente e corpo
formam uma unidade, onde em qualquer situação, clínica ou não, tanto “a fisiologia como a
psicologia” estarão atuando na pessoa e em seus processos.
4.1 TERMOS EXPLICATIVOS E FIGURAS
1) Mindfulness-Based Cognitive Therapy (MBCT): técnica de meditação que combina
elementos-chave de terapia cognitiva com treino em meditação “não mente” (Mindfulness
Meditation), que será explicada no item 3. Foi desenvolvida por Zindel Segal, Mark
Williams and John Teasdade, com o interesse em descobrir tratamentos baratos e efetivos
que reduzissem significativamente a recaída e recorrência em depressão, baseadas no
programa de MBCT, com 8 semanas (1 sessão semanal), com 12 participantes a 2
horas/sessão e 1 dia/sessão entre a 6ª e 7ª semanas. Nesta técnica, participantes são
requeridos a praticar 1 hora ou mais por dia, 6 dias na semana, durante as sessões (aulas)
usando Compact Discs (CDs) ou fitas cassete (WILLIAMS et al., 2006).
2) Mindfulness-Based Stress Reduction (MBSR) é uma intervenção mente-corpo criada por
Kabat Zinn onde Meditação e Yoga são praticadas para atingir o estado de não-mente
(mindfulness). Os participantes encontram-se 1 vez por semana em sessões de 2 horas e
30 minutos durante 8 semanas. CDs e fitas cassete são entregues para que os participantes
pratiquem diariamente em casa; estes são encorajados a usarem essas técnicas em
momentos de estresse e/ou dor e sofrimento (RAMEL et al., 2004).
3) Não-mente (Mindfulness ou Mindfulness Meditation - MM): tem sido descrita como uma
técnica particular de manter a atenção, com propósito momento a momento e sem
julgamento. Um dos objetivos de MM é aprender como se tornar mais consciente,
observar e não reagir como fazemos habitualmente ante as sensações, pensamentos e
sentimentos. É de tradição budista, descrita como o coração dos ensinamentos de Buddha.
Neste trabalho entendemos Estado Meditativo como sinônimo para Mindfulness
(IVANOVSKI et al.,2007).
15
4) Medicina Alternativa e Complementar (Complementary Alternative Medicine - CAM)
refere-se a um grande número de terapias, sistemas e técnicas que existem fora de
instituições onde a medicina convencional é ensinada e aprendida, ou a recursos de cura
que englobam sistemas de saúde, modalidades e práticas, suas teorias e crenças, diferentes
daquelas intrínsecas ao sistema de saúde politicamente dominante de uma sociedade
particular ou cultura num dado período histórico. Fronteiras entre CAM, e entre o domínio
das CAM e do sistema dominante (convencional) nem sempre são claras e definidas. Os
métodos das CAM são diversos e abundantes e podem ser agrupados em 4 domínios
principais de acordo com Centro Nacional para Medicina Complementar e Alternativa
(NCCAM), nos Estados Unidos da América - EUA(MAMTANI; RAVINDER; CIMINO,
2002):
1. Sistemas Médicos Alternativos: Homeopatia, Medicina tradicional chinesa e
acupuntura, Medicina Ayurvédica, Naturopatia.
2. Intervenções Mente-Corpo: Meditação, hipnose, biofeedback, relaxamento, oração,
música e dança.
3. Terapias biologicamente embasadas: Ervas, suplementos, dietas e outras.
4. Terapias manipulativas e corporais – massagem, quiropraxia e outras.
5) Mente-Corpo (Mind-Body Therapy): é uma técnica focada na interação entre cérebro,
mente, corpo e comportamento, sugerindo que as emoções, mente, ambiente,
comportamento e espiritualidade podem diretamente afetar a saúde (MORONE; GRECO,
2007).
6) Maharishi Vedic Medicine (MVM), ou Medicina Védica: é reportada como o mais antigo
sistema médico continuamente praticado, tendo suas heranças na anciã civilização védica
da Índia. Inclui Medicina Ayurvédica e tem sido reconhecida pela Organização Mundial
da Saúde(OMS) como um sistema sofisticado de medicina natural com literatura científica
detalhada, contendo textos médicos clássicos, uma tradição oral ininterrupta de
conhecimentos, uma matéria médica compreensiva e uma ampla variedade de
procedimentos clínicos relevantes para a prevenção e tratamento de doenças agudas e
crônicas. MVM é um reavivamento moderno das técnicas da medicina védica, com uma
larga escala de métodos diagnósticos e terapêuticos em acordo com os textos clássicos.
Tais métodos compreendem saúde mental, física, comportamental e ambiental (exemplos:
Yoga, meditação, preparações com ervas, orientações alimentares e no estilo de vida,
diagnóstico por pulso, musicoterapias, limpeza fisiológica e outras) (NADER et al., 2000).
16
7) Yoga: terapia que surgiu na Índia há mais de 4000 anos; inclui os 7 maiores ramos onde
MATHA YOGA, RAJA YOGA e MANTRA YOGA são os mais conhecidos e praticados.
Basicamente é um sistema de auto-realização e transformação que inclui prática de
posturas (ásanas, respiração (pranayamas), relaxamento dinâmico e passivo, canto de
mantras, exercícios de limpeza (kryas) e gestos (nidras) (INNES & VINCENT, 2007).
Além da meditação, a filosofia dos Yogi (praticantes de yoga) também faz parte dos
vedas.
8) Transcendental Meditation (Meditação Transcendental): com seus fundamentos nos vedas
foi introduzida no Ocidente por Yogi, Maharish Mahesh e envolve a repetição de mantras
para acalmar a mente e se atingir o estado de não-mente (mindfulness) (NADER et al,
2000).
Quadro 1. Exemplo dos componentes para o estado meditativo (Mindfulness)
Observação
Não reação para a experiência interior
Descrevendo
Não julgamento da experiência interior
Agir com consciência
Fonte: DAVIS et al.(2007).
Eu sinto o cheiro e aroma das coisas
Eu percebo meus sentimentos, emoções sem ter
que reagir a eles
Eu sou razoável em descrever meus sentimentos
Eu não acho que algumas de minhas emoções são
más ou inapropriadas e que não deveria senti-las
Eu faço as coisas com atenção/concentrado
17
Quadro 2. O efeito da meditação nas relações interpessoais, como descrito no exemplo
individual.
Antes
Meditação
Depois
Meditação
Ansiedade em relação aos outros

Espera rejeição

Comportamento
Ansiedade em relação às pessoas

Reconhecimento dos outros

Age baseado na avaliação da necessidade e
perspectiva dos outros

Aumenta intimidade

Reduz ansiedade na presença das pessoas

Alcança-se aos outros

Concluir que é melhor se isolar

Aliena-se em relação as pessoas

Maior ansiedade em relação às pessoas
Fonte: DAVIS et al. (2007).
Quadro 3. Descrição multidimensional de algumas técnicas de meditação
Meditação
Não mente
(Mindfulness)
Atividade física
e objetivo
Sentado
Deitado ou
Andando
Meditação
transcendental
---
Sahaja-Yoga
Sentado
Kundalini Yoga
Variada combinação de
respiração, mantras,
gestos, postura.
Meditação com
oração
Resposta a
relaxamento
Hatha Yoga
Varia
Sentado
Deitado
Obter e manter
diferentes posições para
construir alongamento
equilíbrio e
flexibilidade.Exercícios
com respiração também
Fonte: ARIAS et al. (2006).
Atividade mental e
objetivo
Consciência/Atenção
não- mente
Focar no mantra
Retorno ao mantra
Quando pensamento
esvair-se
2 partes:
1. Atenção e nãopensamento
2. Auto-afirmação
Não-pensamento,
Atenção, expansão em
direção a estados
transcendentes,melhora
de estados psiquiátricos
(sintomas)
Varia, pode incluir
imagens
Não-pensamento
Auto-Consciência.Varia
Varia. Geralmente com
componente de relaxar a
mente.
Algumas vezes
combinada com técnicas
de meditação típicas.
Conteúdo de
treinamento adicional
Autêntico
Resposta
Duração
Varia
Sim
Sim
Varia
Varia
Sim
Sim
Sugerido 15-20
min.
2 vezes/dia
Relacionado a tradição
Kundalini e Vipassana
Sim
Sim
Segundo 15
minutos 2 x dia
Resposta é acessar
altos graus de energia
espiritual.Rica tradição
Sim
Varia
Varia
Varia
Algumas
vezes
Algumas
vezes
Varia
Nenhuma
Sim
Sim
10-10min
1 ou 2 vezes/dia
Varia
Algumas
vezes
Sim
varia
19
4.2 SAÚDE MENTAL - DOENÇAS PSIQUIÁTRICAS E MEDITAÇÃO
4.2.1 MEDITAÇÃO
Meditação pode ser definida tanto como uma técnica, um processo, como um estado
de consciência. Ivanovski e Malhi (2007) definem que, de acordo com Yoga Sutras, meditação
é ato de contemplação interior e o estado intermediário entre pura observação de um objeto e
sua completa absorção (IVANOVSKI; MALHI, 2007). Os mesmos autores sugerem que pode
ser caracterizada fundamentalmente em dois tipos, concentração e não-mente (mindfulness).
Técnicas de concentração envolvem o foco na atenção a um ‘objeto’ mental, observar a
respiração, recitar mantras, visualização de um processo no corpo, percepção e observação de
sensações corporais, assim criando um estado de quietude mental e aumentando o estado de
consciência e percepção (Ex: meditação transcendental (TM) e Yoga Vidra). Por outro lado, as
técnicas de meditação “não-mente” envolvem a expansão de atenção/consciência a um estado
de não-julgamento e não-reação às sensações, pensamentos e emoções experimentadas. (Ex:
Vipassana e Zen) (IVANOVSKI; MALHI, 2007).
As práticas meditativas derivam de tradições orientais e ocidentais, encontradas na
maioria das culturas e religiões, cada qual com suas características peculiares. Entretanto, as
técnicas diferentes mais famosas hoje são as de origem budista e das tradições indianas,
incluindo as várias meditações do Yoga (ARIAS, et al., 2006).
A meditação tem sido motivo de pesquisa desde a década de 1970, embora ainda haja
muita falta de compreensão dos seus mecanismos neuropsicológicos e neurofisiológicos.
Existem dificuldades de pesquisa e a necessidade de estudos mais rigorosos para comprovar
investigações preliminares e orientar sua aplicação na prática psiquiátrica e médica em geral
(IVANOVSKI; MALHI, 2007).
Para efeito didático entendemos neste trabalho a meditação como qualquer método
passivo ou dinâmico (como o próprio yoga) que leve a pessoa ao estado de relaxamento
físico/mental e principalmente ao estado de “não-mente” de pura atenção/consciência, de
onde, como sugerem os autores, parece advir todos os efeitos e benefícios para a pessoa. É a
experiência da meditação que traz a mudança terapêutica e não as técnicas usadas para
conseguir esta experiência. Não existe um elemento mágico ou místico, basicamente, trata-se
de prestar atenção, propositalmente, em sua vida, no momento presente (NURAYAMA,
2000).
20
4.2.2 DOENÇA X SAÚDE
Verificamos que existem diferentes definições para a palavra SAÚDE:
- “Estado do que é são (salutes, salus). Estado habitual de equilíbrio do organismo. Força,
vigor, robustez” (NURAYAMA, 2000).
- “Estado físico e mental em que é possível alcançar todas as metas vitais, dadas as
circunstâncias” (NORDENFELT, 2001).
- “O bom funcionamento do organismo como um todo” (KASS ,1981)
- “ Estado de completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doença”
(OMS,1948)
Embora haja controvérsias e críticas, por considerar-se utópico o conceito de completo
bem-estar do ser humano, vamos adotá-lo, por entender que abrange a totalidade dos aspectos
da vida do ser humano, podendo incluir o espiritual, e por estar em acordo com os objetivos
da meditação por muitos daqueles que a praticam.
Também cabe aqui definir bem-estar como o bom ou completo funcionamento e
satisfação de cada aspecto descrito (físico-mental-social-espiritual) onde cada um contém
inúmeras qualidades variáveis que podem ser medidas; porém, se não todas forem satisfeitas,
que pelo menos a maioria e a satisfação sejam altas.
Já a palavra DOENÇA[lat. Doentia,dor] é um processo mórbido, acompanhado de um
certo número de manifestações mais ou menos constantes, tendo uma etiologia, patogenia,
patologia e uma terapêutica mais ou menos definidas e que pode evoluir rapidamente(doença
aguda) ou de forma lenta (doença crônica)(COUTINHO,1977).
A Medicina contemporânea adota um modelo médico voltado para a doença e seu
tratamento, mas o que aconteceria se investíssemos e déssemos mais ênfase na saúde do que
na doença?
4.2.3 MEDICINA, PSIQUIATRIA, PSICOTERAPIAS E MEDITAÇÃO
A Medicina é a ciência que tem por fim evitar e curar as doenças (COUTINHO, 1977).
A Psiquiatria é um corpo do saber científico identificado com uma representação das
manifestações mentais, alteradas e suscetíveis de serem tratadas com recursos biológicos e
psicológicos, elaborados por observação, estudos, idéias e métodos da medicina
(RAMADAM & ASSUMPÇÃO, 2005).
21
As psicoterapias são técnicas utilizadas por diferentes profissões: psiquiatras,
psicólogos, médicos clínicos, enfermeiros e assistentes sociais, entre outros. Suas origens
históricas situam-se na medicina antiga, na religião, na cura pela fé e no hipnotismo. É mais
uma atividade colaborativa entre o paciente e o terapeuta do que uma ação
predominantemente unilateral, como uma cirurgia. São descritas mais de 400 tipos na
literatura (CORDIOLI e cols., 2008).
Segundo Nunes Filho, Bueno e Nardi (1996), o termo psicoterapia significa
“tratamento da mente”. Nesse sentido amplo, pode ser aplicado a qualquer das modalidades
de tratamento dos transtornos mentais. No uso habitual restringe-se aos métodos que os
terapeutas procuram, através da palavra, para ajudar as pessoas com qualquer tipo de
sofrimento mental a voltar a ter uma vida mais satisfatória.
É importante ter presente que a compreensão dos fatores psíquicos existentes em
qualquer enfermidade humana não é causal. As relações de compreensão existem em todas as
doenças humanas. Isso não significa curá-las através somente da psicoterapia. Indica, sim, que
qualquer enfermidade humana será mais bem tratada se cuidarmos dos problemas
psicológicos que a envolvem sempre.
A psicoterapia na prática médica se realiza em contexto completamente diferente da
psicanálise tradicional, mas nem por isso se torna irrelevante para o tratamento das doenças
(NUNES FILHO; BUENO; NARDI, 1996).
A percentagem de pessoas usando técnicas de Medicina Complementar e Alternativa
(CAM) nas nações industriais varia de 25 a 50% e aqueles com desordens psiquiátricas são os
que mais as utilizam. Há limitações e benefícios de seu uso, porém há suficiente evidência
para o uso de muitas delas, como a meditação (MAMTANI; RAVINDER; CIMINO, 2002).
É nesse contexto médico-psiquiátrico-psicoterapêutico embasado na visão do processo
saúde-doença como relação mente-corpo, que a meditação e outras CAM prometem ser fortes
aliadas terapêuticas, contribuindo também para a reintegração da abordagem holística do
paciente (ADELMAN,2006)
22
4.2.4 BEM-ESTAR MENTAL X ESTRESSE E MEDITAÇÃO
Segundo o budismo, todo sofrimento psicológico é o resultado da mente que julga,
condena, dividindo as experiências em boas ou más, as quais devem ser conquistadas ou
evitadas, inevitavelmente levando a algum grau de frustração, estresse, ansiedade e depressão.
Assim, o objetivo de meditação é criar um estado de aceitação e não-julgamento que por
conseqüência leva a um bem-estar psicológico em qualquer situação (NURAYAMA, 2000).
Estudos têm concluído que o estresse psicossocial é um fator independente maior de
risco para hipertensão, doença coronariana e mortalidade cardiovascular. Estudos
longitudinais para mais de 3000 europeus adultos mostraram que o estresse crônico por um
período de alguns anos, prediz aumento na pressão arterial durante 3 a 7 anos seguidos. O
estudo “InterHeart” com 24.767 adultos em 52 países mostrou que o infarto do miocárdio está
associado com estresse psíquico-social crônico (RAINFORTH et al., 2007).
Dentro de parâmetros manejáveis o senso de bem-estar é mantido, mas se estímulos
(físicos, emocionais, ocupacionais) vão além da capacidade limite do indivíduo, eles se
tornam estressantes. A contínua exposição ao estresse pode resultar em problemas físicos e
mentais como ansiedade e depressão (SMITH et al., 2007).
Em estudo randomizado feito por Nyklícek e Kuijpers (2008), 40 mulheres e 20
homens de uma comunidade dos países baixos foram treinados em Redução de Estresse
Baseado na Meditação (MBSR), constituindo um grupo experimental, e foi formado também
um grupo controle com 60 pacientes da lista de espera. Foram aplicados questionários sobre
bem-estar psicológico, qualidade de vida e estado meditativo (mindfulness). Medidas
repetidas de variação de múltipla análise mostraram que a meditação resultou em significativo
aumento na redução de estresse, exaustão vital e forte aumento em “afeto positivo” e
qualidade de vida.
4.2.5 NEUROIMAGEM E MEDITAÇÃO
Embora estudos com evidências diretas da efetividade da meditação no tratamento de
doenças psiquiátricas ainda sejam necessários, estudos preliminares demonstram que esta
promove melhoras no tratamento de depressão, ansiedade, psicose, transtorno bipolar,
comportamento, suicida e redução do abuso de substâncias químicas (IVANOVSKI; MALHI,
2007).
23
O estudo por imagem e neurofisiológico tem identificado mudanças neuronais em
associação com estados meditativos e provê um potencial promissor para futuras pesquisas
(IVANOVSKI; MALHI, 2007). A elucidação das bases biológicas poderá trazer mais clareza
sobre os processos cerebrais cognitivos e emocionais relacionados à resposta para os
transtornos psiquiátricos citados e levar consequentemente a uma maior aceitação desta
técnica como complemento para tratamentos médicos variados (LAZAR; BUSH, 2000).
Além da indução de estado hipometabólico e normalização das medidas fisiológicas, a
prática de meditação induz mudanças nos padrões do eletroencefalograma (EEG), diferentes
daquelas associadas ao sono, e sugerem que apesar da diminuição na atividade periférica por
um lado, há intensa atividade neural por outro, quando o indivíduo encontra-se
profundamente relaxado (LAZAR; BUSH, 2000).
Técnicas de neuroimagem funcional oferecem oportunidade para observar mudanças
em regiões com atividade neuronal e fluxo sangüíneo durante a meditação. Um estudo com
tomografia por emissão de pósitrons (PET) mostrou aumento na atividade em região inferior
frontal fusiforme, giro occipital e posterior central durante a meditação (LAZAR; BUSH,
2000). Outros estudos relatam aumento no fluxo cerebral do córtex frontal em acordo com
relatos do aumento da atividade alfa frontal do EEG (LAZAR; BUSH, 2000).
Os resultados de um estudo de Imagem por Ressonância Magnética Funcional com 4
meditadores para identificar e caracterizar regiões cerebrais ativas durante meditação
kundalini indicam que as estruturas neurais envolvidas com atenção e controle do sistema
nervoso
autônomo,
como
o
córtex
dorsolateral
pré-frontal
e
parietal,
hipocampus/parahipocampus, lobo temporal, córtex pregenual, cíngulo anterior, striatum e
giro pós cerebral são ativadas (LAZAR; BUSH, 2000).
4.2.6 NEUROFISIOLOGIA E MEDITAÇÃO
Newberg e Lee (2005), revisando a neurofisiologia da meditação, elaboraram um
modelo de como esta se comporta. As formas de meditação podem ser divididas em dois
grandes grupos: num deles a pessoa busca clarear totalmente os pensamentos e seu ápice gera
uma sensação de atemporalidade, sem pensamentos e sem percepção espacial, como se tudo
fosse unificado e integrado; no outro grupo o sujeito foca a atenção num símbolo ou objeto e
experimenta sensação semelhante à de ser absorvido pelo objeto mentalizado.
O processo meditativo inicia-se com a ativação do córtex pré-frontal (CPF) e córtex do
cíngulo (ambos mais no hemisfério direto), associada à vontade de clarear a mente ou focar
24
num objeto. O CPF ativa o núcleo reticular do tálamo (responsável pelo fluxo de informação
sensorial), que ativado irá liberar o neurotransmissor GABA (Ácido gama-aminobutírico), que
inibirá o fluxo de informação que estava indo ao Lóbulo Parietal Póstero-Superior (LPPS), via
inibição deste e do núcleo geniculado lateral (NEWBERG;LEE, 2005).
O LPPS é responsável pela criação da percepção em três dimensões, da diferenciação
entre a si mesmo (self) e o mundo externo e ajuda na distinção entre objetos. Desse modo,
quando o núcleo reticular é ativado, diminuirá o fluxo de informações sensoriais ao LPPS, o
que levará o indivíduo a perder sua habilidade espacial assim como a diferenciação do self e
do exterior (NEWBERG;LEE, 2005).
O hipocampo, por sua vez, é responsável pela modulação do sono/despertar e é
estimulado pelo LPPS direto ao hemisfério direito do hipocampo, concomitante à estimulação
direta via tálamo, ambos mediados por glutamato. Essa ativação do hipocampo direito o
levará a estimular a amígdala lateral direita. Esta é estreitamente associada ao hipotálamo que
neste caso, na sua porção ventromedial será ativado, levando ao desencadeamento da resposta
do Sistema Nervoso Parassimpático – SNP (NEWBERG;LEE, 2005).
A partir da ativação do SNP, o organismo irá diminuir a freqüência cardíaca e
respiratória, o que por intermédio do núcleo paragigantocelular da medula cessará o fluxo de
sinais elétricos ao Locus Ceruleus (LC) da ponte. O LC irá diminuir o nível de noradrenalina
(NA) no corpo, o que é evidenciado pelos seus baixos níveis na urina e no plasma durante o
processo meditativo. O LC enviando menos NA para o núcleo paraventricular do hipotálamo
diminui as concentrações das seguintes substâncias em cadeia: CRH (hormônio liberador de
corticotropina), ACTH (hormônio adrenocorticotrófico) e cortisol (NEWBERG;LEE, 2005).
A queda da pressão arterial, mediada via SNP com relaxamento dos barorreceptores
arteriais levam a medula caudal ventral a diminuir a inibição do GABA do núcleo supraótico
do hipotálamo. Este evento provocará a liberação de Argenina Vasopressina (AVP) para
normalizar a pressão arterial. A AVP tem se relacionado à contribuição para a manutenção do
afeto positivo, diminui a fadiga, ajuda no despertar, na consolidação de novas memórias e
aprendizado. Isso pode contribuir na percepção supra-real relatada pelos meditadores quando
chegam ao ápice desta prática (NEWBERG;LEE, 2005).
O CPF age através de outras vias neuroquímicas, como o aumento dos níveis de
glutamato no cérebro, que estimulam o núcleo arqueado do hipotálamo, liberando endorfinas. O glutamato ativa também os receptores de N-metil-D-aspartato, que
funcionalmente é análogo a alucinógenos dissociativos como a quetamina, óxido nítrico e
fenilciclidina (NEWBERG;LEE, 2005).
25
4.2.7 NEUROPSICOLOGIA, COMPORTAMENTO E MEDITAÇÃO
Em decorrência das suas várias facetas, a meditação implica em diversos efeitos
psicológicos, tais como prover o indivíduo com aumento na habilidade de concentrar, reduzir
reações esperadas (automáticas) a inesperados estímulos, aumento de percepção visual e
aumento em manter atenção, que dependem do nível da experiência. Também observam-se
mudanças comportamentais, tais como adaptação, exposição e extinção de respostas
condicionadas (IVANOVSKI; MALHI, 2007).
Uma das maiores limitações do sistema cerebral de atenção concerne à habilidade de
processar duas informações que ocorrem aproximadamente no mesmo tempo. Quando a
segunda de duas informações são apresentadas em ½ segundo após a primeira, não é
geralmente detectada devido à competição entre estímulos por recursos limitados na atenção.
Num estudo de acompanhamento de pacientes por três meses de meditação intensiva,
verificou-se a redução de recursos cerebrais destinados à primeira informação/estímulo,
habilitando os meditadores a também detectar a segunda informação/estímulo, sem o
compromisso de afetar a primeira, demonstrando melhora na habilidade da atenção em captar
informações (SLAGTER et al., 2007). Alguns autores defendem a idéia que a meditação
influencia na plasticidade cerebral, como sugerem RAMEL et al (2004), baseando-se nas
alterações comportamentais e neurofisiológicas observadas; porém evidências concretas não
são relatadas.
Tang et al. (2004), em estudo randomizado, acompanhou por 5 dias 40 estudantes de
graduação (grupo experimental), que fizeram 20 minutos de meditação/dia. Neste grupo,
houve melhora em escalas de teste da Rede de Atenção (Attention Network Test), além de
diminuição dos níveis de cortisol, aumento na imunorreatividade e melhora na escala de perfil
de estados de humor, conectados à melhor regulação de cognição e emoções, comparado ao
grupo controle.
26
4.2.8 ANSIEDADE E MEDITAÇÃO
O Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG), caracterizado por longos e intensos
períodos de preocupação excessiva é um distúrbio crônico e relativamente comum, com altos
índices de co-morbidade. O diagnóstico é associado com considerável estresse e prejuízo na
função social e ocupacional. Embora a terapia cognitiva seja eficiente no tratamento, muitos
casos são beneficiados parcialmente e outros persistem com sintomas residuais (EVANS et
al., 2008).
Em um pequeno ensaio aberto de terapia cognitiva baseada em meditação (MBCT)
para o TAG, utilizando-se escalas padronizadas, observou-se uma diminuição significante nos
sintomas de ansiedade, tensão, preocupação e depressão (EVANS et al., 2008).
Em estudo de meta-análise feito por Manzoni et al. (2008), sobre diferentes técnicas
de relaxamento e meditação para ansiedade, verificou-se uma maior eficácia dessa última nos
voluntários, a longo prazo.
Já o estudo randomizado de Smith et al. (2007), realizado com 131 pessoas de uma
comunidade do sul da Austrália, relata eficácia semelhante entre yoga e relaxamento
progressivo, com algumas diferenças na redução de ansiedade, estresse e melhora de
qualidade de vida. O Yoga foi mais efetivo na melhoria da saúde mental durante o
treinamento; porém o relaxamento progressivo mostrou-se mais eficaz em relação à
vitalidade, função social e saúde mental no período após o processo.
Lee et al. (2007) randomizaram pacientes com transtornos de ansiedade em um ensaio
de 8 semanas, para um programa de meditação e redução de estresse ou para um programa de
educação em ansiedade. As escalas Hamilton Anxiety Rating (HAM-A), Hamilton Depression
Rating (HAM-D), o State-Trait Anxiety Inventory (STAI), o Beck Depression Inventory
(BDI) e o Symptom Checklist 90 - Revisado (SCL-90-5) foram aplicadas em 0,2,4 e 8
semanas, havendo redução significativa nas pontuações destas, e melhora no grupo de
meditação, comparada ao grupo com educação em todas as escalas.
4.2.9 DEPRESSÃO E MEDITAÇÃO
A Depressão Maior Unipolar é um problema sério de saúde pública, com altos índices
de recorrência. Talvez seja o problema mental mais comum em idosos em muitos países como
Estados Unidos e Inglaterra, que muitas vezes não são diagnosticados e nem tratados, devido
27
ao pessimismo terapêutico (JUDD, 1997 apud SMITH; GRAHAM; SENTHINATHAN,
2007).
Pessoas depressivas parecem ter vulnerabilidades cognitivas específicas, incluindo
atitudes disfuncionais e tendência à ruminação, o que aumenta o risco para episódios
depressivos futuros (VEDAMURTHACHAR, 2006).
Segal, Teasdale e Williams (2002) acreditam que a meditação pode trazer benefícios
no tratamento da depressão, pois é um método sistemático de aumentar a consciência no
momento (Attentional Awareness) e distinguir fatos, estímulos e pensamentos. Estes autores
sugerem que a meditação pode ensinar os pacientes a: a) identificar conteúdos destrutivos e
padrões habituais da mente em um estágio inicial; b) relacionar e processar esta informação
de uma forma não-condenativa, sem julgamentos, facilitando a escolha entre as várias opções,
permitindo maior flexibilidade sobre atividades cognitivas e também diminuição da
ruminação, supergeneralização, autocrítica e aumento dos processos cognitivos construtivos
como a observação sem julgamento do conteúdo da mente (RAMEL et al., 2004).
Muitos estudos como o feito por Vedamurthachar (2006) confirmaram essa teoria,
porém poucos examinaram os mecanismos do ponto de vista cognitivo, que cada particular
forma de meditação opera.
Shapiro et al. (2007) aponta o potencial do Yoga como alternativa para o tratamento de
Depressão Unipolar Maior em pacientes com remissão parcial e que estão tomando
antidepressivos. Foram selecionados 27 mulheres e 10 homens, dos quais 17 indivíduos
completaram a intervenção, que consistiu de 29 sessões de Yoga.Todos demonstraram
significante redução na depressão, ansiedade, raiva, sintomas neuróticos e 11 destes
mantiveram a remissão pós-intervenção. Porém um defeito nesse estudo é que não havia
grupo controle.
4.2.10 SUICÍDIO E MEDITAÇÃO
Uma vez que pensamentos suicidas emergem em função da depressão, eles são
geralmente reativados como parte da “mente suicida”, sempre que o humor depressivo se
manifestar. O tratamento para o comportamento suicida é um desafio, onde muitas formas de
terapias se desenvolveram, mas os resultados ainda são poucos conclusivos (WILLIAMS et
al., 2006).
Williams et al (2006) fizeram uma revisão de métodos e suas aplicações para pacientes
com depressão e comportamento suicida recorrente, como Terapia Cognitiva Comportamental
28
(TCC) e Terapia Cognitiva Baseada na Meditação (MBCT). Avaliou-se clinicamente o
método MBCT, na prevenção de comportamento e ideação suicida recorrentes, em pessoas
fora de crise aguda. Dentre as observações, verificou-se nos participantes dos estudos
avaliados por estes autores o desenvolvimento de uma relação diferente com pensamentos,
emoções e sensações físicas que normalmente tais indivíduos possuem dificuldade em
vivenciar, levando-as à depressão e possivelmente a uma outra crise suicida. O mesmo estudo
sugere que o estado de aceitação, da atitude de não-julgamento e reação automática a
estímulos, da atenção momento a momento desenvolvidos com a prática de meditação, torna
essa uma alternativa vantajosa no tratamento para este problema quando comparada a outros
métodos como apenas TCC (WILLIAMS et al., 2006).
Dois outros estudos de controle clínico demonstraram que MBCT pode reduzir a
probabilidade de recaída em cerca de 40% a 50% em pessoas com episódios prévios de
depressão (WILLIAMS et al., 2006).
Assim sendo, verificou-se que o tratamento da depressão, maior causa do
comportamento suicida (80%, segundo Beautrais et al., 1996), pode ser incrementado com
técnicas de meditação. Outros estudos também verificaram benefícios para reduzir o
comportamento suicida através da MBCT (VEDAMURTHACHAR, 2006).
4.2.11 DEPENDÊNCIA QUÍMICA E MEDITAÇÃO
Bowen et al. (2008) sugere Vipassam (VM), uma prática budista, como alternativa
para indivíduos que não desejam ou não obtiveram sucesso em tratamentos tradicionais para
dependência química. Seu estudo, feito com população carcerária, avaliou a eficiência de tal
prática em um grupo de pacientes já em liberdade condicional e observou redução
significativa no uso do álcool, cannabis e crack. Todos os participantes demonstraram
diminuição nos problemas relacionados ao alcoolismo e sintomas psiquiátricos, bem como
uma melhora em questões psicossociais.
Vedamurthachar (2006), em ensaio randomizado com 60 pacientes alcoólatras e com
sintomas depressivos avaliou o efeito de duas semanas de terapia com yoga, precedido por 1
semana de desintoxicação (usando-se benzodiazepínicos e complexo B). Observou valiosa
redução na escala BDI (Beck Depression Inventory), assim como na redução dos níveis de
cortisol e ACTH plasmático, comparando-se ao grupo controle. Outros estudos também
apontam para o efeito antidepressivo do Yoga em alcoólatras, porém ainda são necessárias
29
outras pesquisas para avaliar se a prática de Yoga pode ajudar no controle sobre o consumo de
álcool (VEDAMURTHACHAR, 2006).
Winkelman (2003), em uma revisão de literatura relata que tocar música rítmica em
grupo (drumming) produz efeitos como: 1) dinâmicas fisiológicas, induzindo ao relaxamento,
resposta e restauração do equilíbrio neurotransmissor do sistema serotonérgico e opióide; 2)
dinâmicas psicológicas para autopercepção, insight, controle de emoções e integração
psicológica e social; 3) satisfazer necessidades espirituais em contatar com força superior e
experiências espirituais.
Por considerar tais efeitos sobre o estado de consciência como o de um processo
meditativo, incluindo então o drumming numa prática/técnica meditativa, Winkelman (2003)
sugere como sendo um recurso terapêutico valioso para a recuperação de dependência
química, onde outros tratamentos não obtiveram muitos benefícios.
4.2.12 TRANSTORNO BIPOLAR E MEDITAÇÃO
O Transtorno bipolar é uma doença psiquiátrica com grandes índices de recorrência e
altos índices de co-morbidade, principalmente com Transtornos de ansiedade, o que também
está associado com o risco de suicídio e mal prognóstico (WILLIAMS ,2008)
Um ensaio piloto randomizado para indivíduos com transtorno bipolar apresentando
ansiedade, sintomas depressivos e comportamentos/idéias suicidas, estudou-se a aplicação de
MBCT e foram avaliados os efeitos desta técnica neste grupo através de questionários como o
Beck Depression Inventory (BDI). Os resultados sugerem que a MBCT leva à melhora
imediata na evolução de ansiedade específica para o grupo bipolar e também reduz sintomas
depressivos residuais, quando comparados ao controle (grupos de espera para a intervenção
com MBCT) e conclui que outras pesquisas poderão confirmar o potencial terapêutico deste
método que combina meditação e terapia cognitiva para tal transtorno.
30
4.2.13 ESQUIZOFRENIA E MEDITAÇÃO
Dentre os vários sintomas relacionados à esquizofrenia, tais como medo, preocupação,
e alucinações, a ansiedade parece ter um papel importante em gerar e manter a disfunção
nesse distúrbio (DAVIS; STRASBURGER; BROWN, 2007).
O estudo piloto feito por Davis, Strasburger e Brown (2007) onde 5 participantes com
esquizofrenia foram treinados em um programa de meditação (adaptado de MBSR e MBCAT)
e investigados quantos aos benefícios e sintomas, refere melhora na função emocional e
comportamental, diminuição de ansiedade e outras emoções “negativas” como estresse e
eventos psicóticos, não descartando o uso da meditação como terapia complementar para
indivíduos com psicose.
4.2.14 DEFICIÊNCIAS INTELECTUAIS E MEDITAÇÃO
Pacientes com deficiência intelectual presos em um Instituto Forense possuem
comportamentos
agressivos
difíceis
de
controlar.
Em
muitos
desses
casos
tais
comportamentos contribuem para que eles sejam afastados da comunidade e mais ainda,
resultam em agressão contra aqueles que deles cuidam, podendo gerar estresse psicológico e
até danos físicos. A Terapia Cognitiva e Comportamental (TCC) é geralmente efetiva em
reduzir níveis de raiva, mas ainda é preciso avaliar se reduz também os episódios de agressão
física (SING et al., 2008).
Sing et al. (2008) estudou 6 indivíduos presos em um Instituto Forense, com história
prévia de tratamento com farmacoterapia, reabilitação psicossocial e TCC, porém sem
sucesso. Estes foram treinados em um programa de meditação e foi demonstrada redução
significativa no nível de agressão física, chegando a zero depois de alguns meses, embora
continuassem a fazer agressões verbais. Também se observou um custo/benefício muito
grande comparado a outros tratamentos.
31
4.2.15 INSÔNIA E MEDITAÇÃO
A Insônia é um dos problemas de saúde pública mais comum na população geral
(HEIDENREICH et al., 2006). Em um pequeno ensaio piloto feito com 16 participantes
sofrendo de insônia primária por mais de um ano, que foram tratados com métodos
farmacológicos e psicológicos, sem melhora da qualidade do sono, avaliou-se o efeito da
MBCT. Mesmo com limitações no estudo, como a falta de grupo controle, sem uso de
polissonografia e pequeno grupo de amostra para efeitos estatísticos, o ensaio observou
mudanças como diminuição do uso de fármacos e mudanças significativas em 4 das 6 escalas
usadas para avaliar insônia e seus efeitos. A MBCT pode mudar o processo cognitivo
associado com a manutenção da insônia, porém pesquisas mais elaboradas ainda são
necessárias (HEIDENREICH, ET al., 2006).
4.2.16 PSICOSE E MEDITAÇÃO
Alguns autores/estudos contra-indicam a meditação na psicose; outros não, afirmando
que a indicação desta terapia complementar depende do caso e da situação (DAVIS et al.,
2007).
Segundo Chan (1999), em relato do caso de três pacientes de um hospital psiquiátrico
na Tailândia (país budista e de tradição na prática meditativa), a psicose induzida pelo
processo meditativo possui outros fatores que podem levar a tal estado ao invés da meditação
propriamente dita. Nesse relato, os três pacientes freqüentaram um programa intenso de
meditação, com poucas horas de sono e alimentação e todos possuíam fatores predisponentes
para a psicose como delírio, transtorno bipolar e uso de drogas. O mais provável é que fatores
estressantes e/ou predisposição à psicose levaram a esta, ao invés da meditação. O autor
concluiu, portanto, que esta deve ser bem orientada e supervisionada para pessoas com
problemas psiquiátricos e outros (HEIDENREICH et al., 2006; KUIJPERS et al., 2007).
Castilho e Trance (2003) referem que eventos estressantes podem disparar estados de
transe espontâneo, que são os mecanismos psicológicos sob os mecanismos psicóticos
funcionais. Os mesmos autores descrevem um caso de psicose relacionado com a meditação,
em situação onde esta se fez um agente estressor para a pessoa, tanto física como
psicologicamente, levando então ao desencadeamento de psicose, em acordo com os estudos
anteriores.
32
7 SAÚDE FÍSICA - DOENÇAS ORGÂNICAS, MÉDICAS E MEDITAÇÃO
7.1 DOENÇA MENTAL X DOENÇA FÍSICA
A expressão “tratamento mental” infelizmente sugere uma distinção entre transtornos
“mentais” e transtornos “físicos”, um anacronismo reducionista do dualismo mente/corpo.
Uma bibliografia rigorosa comprova a existência de muito do físico nos transtornos mentais e
muito “mental” nos transtornos “físicos”. Este conceito não apresenta uma definição
operacional consistente que cubra todas as situações, mas é tão útil quanto qualquer outra
definição disponível e por ajudar a orientar decisões relativas à normalidade e a patologia.
Assim os transtornos mentais são concebidos como síndromes ou padrões comportamentais
ou psicológicos clinicamente importantes que ocorrem no indivíduo e associam-se a
sofrimento, incapacitação ou risco significativo aumentado de sofrimento, morte, dor,
deficiência ou perda importante da liberdade, ou seja, a síndrome deve ser considerada no
momento como uma manifestação de uma disfunção comportamental, psicológica ou
biológica no indivíduo (American Psychiatric Association,1994)
O termo Transtorno físico ou condição médica geral é usado por meras razões de
conveniência, quando nos referimos a condições e transtornos não classificados entre os
transtornos mentais, que não devem ser interpretados como se existisse qualquer distinção
fundamental entre os transtornos mentais e as condições médicas gerais, como referidas
anteriormente.
7.2 SAÚDE E DOENÇA ORGÂNICA (TRANSTORNOS FÍSICOS)
Para efeito didático classificamos os transtornos físicos como aqueles estados
patológicos com clínica definida, em seus padrões bem delimitados nas alterações
fisiológicas, sem deixar de considerar o que foi dito anteriormente a respeito do fato de que
existe muito de físico nas alterações/manifestações mentais e muito de mental nas alterações e
manifestações físicas.
Mecanismos adaptativos envolvendo o Sistema Nervoso Autônomo (SNA), eixo
neuroendócrino, sistema imunológico e sistema cardiovascular são responsáveis por manter a
função fisiológica estável e eficiente no corpo. Sendo este mecanismo alterado por estresse
psicossocial, há diminuição nessa adaptação, com conseqüente declínio físico e mental
(SCHNEIDER et al., 2006).
33
Por isso consideramos nesse trabalho avaliar também essa relação entre meditação e
doenças orgânicas, não só por ser um outro aspecto da aplicação terapêutica na medicina,mas
também por entender que mesmo nessas doenças existem componentes mentais e
psiquiátricos que influenciam em suas evoluções clínicas.
7.3 FISIOLOGIA E MEDITAÇÃO
Com o progresso do conhecimento sobre o impacto da prática meditativa, pode se
chegar à conclusão que algumas técnicas produzam respostas fisiológicas relaxantes e outras
não, ou envolvam outros estados fisiológicos significativos. Simultaneamente, algumas
técnicas podem ser emocionalmente benéficas sem causar impactos fisiológicos discerníveis.
Tais noções permitirão conhecer a aplicabilidade de cada técnica para determinadas situações,
não desconsiderando-se as necessidades e respostas individuais ao mesmo método
(SOBRINHO et al., 1999).
Pesquisas apontam que a meditação possui múltiplas facetas em seus efeitos
psicológicos, bem como na função biológica e que benefícios físicos secundários podem
ocorrer via alteração no sistema psíquico-neuroendócrino e na imunologia do Sistema
Nervoso Autônomo (SOBRINHO et al., 1999).
Sobrinho et al (2006), com o objetivo de avaliar respostas neuroendócrinas em relação
a acontecimentos vivenciados durante estados modificados de consciência, como na
meditação, fossem estes imaginários ou comprovadamente reais, fizeram um estudo de caso
de dois pacientes verificando-se níveis de cortisol, prolactina e somatotrofina, somados à
avaliação cardíaca (freqüência cardíaca) e condutância da pele. Os autores relatam que tais
estudos são complexos, pois envolvem muitas variáveis e fatores internos e externos
influenciando os resultados e assim concluem que se necessita de mais experiência, técnicas e
métodos para que alguns padrões consistentes comecem a emergir. Por exemplo: o registro de
condutância da pele é um excelente marcador de ativação simpática. No entanto é demasiado
dependente de fatores externos(natureza dos contatos da pele, temperatura, umidade da sala,
etc)
As respostas hormonais são sujeitas a atraso, dada a natureza indireta da regulação
endócrina e o efeito tampão do volume de distribuição em relação aos produtos secretados,
pelo que a relação cronológica com vivências não é tão fácil de estabelecer como acontecem
com as respostas simpáticas. Assim, não é fácil a identificação dos enredos a associar
emoções e as respostas hormonais (SOBRINHO et al., 2006).
34
7.4 DOENÇAS CRÔNICAS E MEDITAÇÃO
As doenças crônicas são um problema de saúde pública em países desenvolvidos e em
desenvolvimento. Nos EUA, 100 milhões de americanos (40% da população) sofrem de pelo
menos uma doença crônica. Esta alta prevalência levanta questões sobre a eficácia e
limitações dos métodos convencionais de saúde em prevenir e tratar esses distúrbios, o que
contribui para o aumento do interesse público e profissional em novos métodos (NADER et
al., 2000; SCHNEIDER et al., 2006).
Doenças cardiovasculares e outras doenças crônicas afetam indivíduos de todas as
idades, porém prevalecem em idosos. O desafio para um envelhecimento saudável através de
redução de doenças crônicas é parte de estudos e programas americanos. Nestes, a intervenção
comportamental e outras são partes dos métodos preferidos onde gerontólogos e outros
estudiosos do assunto tentam traçar uma política nacional com novas estratégias para se
promover a saúde. Algumas necessidades são apontadas como parte desse programa: 1)
melhor equilíbrio entre atendimento primário e especializado; 2) tratamento mais voltado para
as causas das doenças e não apenas dos sintomas; 3) um sistema mais holístico de saúde; 4)
mais ênfase no custo-benefício; 5) mais ênfase na prevenção; 6) maior incorporação em
mudanças positivas do estilo de vida; no tratamento médico; 8) maior uso de métodos naturais
que reduzam ou substituam fármacos ou cirurgias (SCHNEIDER et al., 2006).
Nader et al. (2000), ao realizar um estudo de caso onde 4 pacientes (com diagnósticos
de sarcoidose; Diabetes Mellitus II, Parkinson e hipertensão renal) foram submetidos a um
programa multimodal de tratamentos incluindo meditação transcendental, ervas, mudanças no
estilo de vida e outros. O programa da medicina tradicional indiana (MVM) conduziu a
melhoras substanciais em vários sinais, sintomas e marcadores laboratoriais específicos para
cada doença, durante três semanas de tratamento e no acompanhamento seguinte, além de
uma melhora na avaliação padrão de teste de qualidade de vida SF-36 (Short Form Health
Survey), que é uma escala de auto-avaliação padronizada onde 36 itens, incluindo funções e
bem estar físicos, função social, estado emocional e limitações devido a problemas
emocionats, saúde e bem estar mental, são avaliados. Os autores sugerem, portanto, a
integração de conhecimentos tradicionais e alternativos para se prevenir e promover a saúde
da população.
7.5 DOENÇAS CARDIOVASCULARES E MEDITAÇÃO
35
Doenças cardiovasculares são as principais causas de morte em vários países e estão
geralmente associadas com outras co-morbidades como o Diabetes Mellitus II e
obesidade.(HILL;WEBER;WERNER,2008).
A cada 4 indivíduos com problemas cardíacos, um desenvolve depressão, o que
aumenta o risco de morte em três vezes e meio (HILL; WEBER; WERNER, 2008).
Estudos realizados por Hill, Weber e Werner (2008) e Walton, Schneider e Nidich
(2004) evidenciaram uma ligação entre doenças cardíacas e depressão, ansiedade,
pessimismo, hostilidade e raiva, e supõem que estes afetam o ritmo cardíaco, pressão arterial,
nível de insulina e de colesterol, dentre outros.
Em suas revisões de literatura (SMITH et al., 2005; WALTON, SCHNEIDER e
NIDICH, 2004) vários autores apontam para benefícios da meditação transcendental (TM)
relacionados com as doenças cardiovasculares como: diminuição de pressão arterial,
diminuição de colesterol e estresse oxidativo, diminuição de tabagismo, melhor custo benefício e diminuição de morbidade e mortalidade. Da mesma forma mostra o estudo de
metanálise feito por Rainforth et al. (2007), que também verificaram significativas mudanças
na pressão arterial, tanto clínica como estatística, após programa de redução de estresse
através de TM.
Efeitos do estresse são evidentes em cada mecanismo reconhecido que leva a eventos
cardíacos como disfunção endotelial, rutura de placa, trombose, isquemia miocárdica e
arritmias malignas. Dentre os vários métodos de redução de estresse, a TM é a que tem sido
mais bem estudada e entre os mais de 600 estudos publicados, a maioria explicam a sua
eficácia na prevenção e tratamento de doenças cardiovasculares (WALTON; SCHNEIDER;
NIDICH, 2004).
Em outro estudo randomizado retrospectivo a longo prazo com população acima de 55
anos de idade, Schneider et al. (2005) indica a TM em comparação a outros métodos,
afirmando que possui melhores resultados na redução do estresse, observando diminuição no
risco de 30% para mortalidade cardiovascular. Porém, cabe lembrar que outros métodos de
meditação não foram bem estudados.
7.9 CÂNCER E MEDITAÇÃO
O Câncer é a segunda causa de morte nos EUA (MATCHIM; ARMER, 2007).
Diagnóstico, tratamento e sobrevivência, todos são associados com diversos fatores
36
psicoloógicos e físicos que afetam a evolução clínica dessa doença (DENG; CASSILETH,
2005 e MATCHIM; ARMER, 2007). Os autores afirmam que diagnóstico e doença podem ser
experiências bem traumáticas e estressantes, levando alguns pacientes a transtornos
psiquiátricos como depressão e ansiedade.
As pesquisas demonstram que MM pode ser uma ferramenta útil no cuidado contínuo
desses pacientes, do diagnóstico ao fim da vida, influenciando positivamente na experiência
da doença crônica e servindo como prevenção primária, secundária e terciária, através dos
seus efeitos benéficos à saúde, bem como humor, vitalidade, bem-estar psíquico e suas
conseqüências interpessoais que estes influenciam (MATCHIM; ARMER, 2007 e SMITH et
al., 2005).
Cada vez mais esta forma de intervenção corpo-mente se torna popular e ganha
credibilidade entre pacientes oncológicos. Os autores afirmam que mais pesquisas poderão
validar os resultados obtidos até então (MATCHIM & ARMER, 2007 e SMITH et al., 2005).
Em 1995, 70% dos centros oncológicos na Inglaterra e País deGales estavam oferecendo
algum tipo de terapia complementar alternativa (CAM), como a meditação (WHITE, 1998).
Um número crescente de enfermeiras está praticando terapias complementares em
lugar de intervenções convencionais de suporte nesses pacientes, pelo fato de que estas
possuem o potencial de aliviar os sintomas e efeitos colaterais do tratamento, e por terem
efeitos positivos nos níveis de estresse e qualidade de vida durante o tratamento e a
reabilitação (SMITH et al., 2005).
7.10 EFEITOS ADVERSOS DA MEDITAÇÃO
Parece não haver efeitos físicos adversos relacionados com a prática da meditação. Há
poucos casos descritos de reações adversas relacionadas com a meditação e poucos estudos na
literatura médica sobre o tema. Efeitos graves parecem ser raros e os mais comumente
descritos são os sintomas psiquiátricos, como despersonalização, desrealização e psicoses.
Neste caso, estes eventos estão geralmente relacionados às práticas rigorosas mal orientadas
realizadas com pessoas geralmente com problemas psiquiátricos ainda não manifestos, onde o
treinamento rigoroso desencadeou um quadro patológico. Além desses, no caso da prática de
Yoga mal orientada, pode haver lesões físicas (ARIAS et al., 2006 e SCHNEIDER et al.,
2006).
São necessárias pesquisas mais aprofundadas sobre o tema para melhor se avaliar esta
questão na prática médica (ARIAS et al., 2006 e SCHNEIDER et al., 2006).
37
38
8 APLICAÇÕES MÉDICAS E NÃO MÉDICAS DE MEDITAÇÃO
8.1 APLICAÇÕES MÉDICAS
Bishop (2002) em seu estudo verificou que aproximadamente 1 em 5 americanos
(maioria solteiro, entre 40-49 anos de idade, com alto índice de escolar) faz uso de alguma
terapia mente-corpo, como a meditação, biofeedback ou relaxamento, entre outras. O autor
observou também que estas terapias são muitas vezes usadas para uma variedade de condições
médicas sem assistência profissional.
Já Wolsko (2004) verificou que a insatisfação de pais com métodos científicos
tradicionais os levam a procurar as CAM, como relata o Comitê da Academia Americana de
Pediatria. Isto ocorre, segundo o autor, principalmente em pais de crianças com deficiências.
Por isso, sugere a necessidade de reconhecer, entender e integrar tais práticas no meio médico.
Astin et al. (2004) considera que as intervenções mente-corpo deveriam ter uma
prioridade alta nos tratamentos médicos, por serem uma abordagem de ordem psicossocial de
que carece a medicina convencional.
Shapiro (1998) conclui em seus estudos que as evidências são fracas, porém Mamtani,
Ravinder e Cimino (2002) referem que são promissoras e que mais estudos com métodos
rigorosos e de acompanhamento a longo prazo poderão resolver estas questões. Embora os
benefícios sejam mais psicológicos e na melhoria do estresse e seus efeitos secundários,
Mamtani, Ravinder e Cimino (2002) sugerem a aplicação da meditação para doenças médicas,
principalmente em transtornos ansiosos e não-psicóticos e onde o estresse mental possui um
importante papel na patofisiologia, morbidade e talvez mortalidade dos doentes. Estes autores
sugerem também que técnicas de meditação podem funcionar melhor de forma complementar
a tratamentos médicos e psiquiátricos já existentes. Sugerem também segurança deste método
para a maioria das pessoas, sem sérios efeitos colaterais e que pode ser recomendada por
médicos como tratamento adjunto.
Por fim, lembrar que a meditação pode ser utilizada não só como tratamento adjunto,
mas, muitas vezes, como complemento para melhorar a saúde de uma forma geral, o que trará
benefícios para os outros problemas existentes. Assim, ela pode ser aprendida e incorporada
na vida diária para o indivíduo sentir-se mais calmo, equilibrado e saudável (WILLIAMS,
2006).
39
8.2 EDUCAÇÃO E MEDITAÇÃO
Em 2004, o estresse foi a causa mais comum de diminuição na performance acadêmica
citado por 1/3 (32%), de cerca de 50000 estudantes interrogados em 79 campus universitários
americanos (OMAN et al., 2008). O estresse é uma grande questão para graduandos, uma vez
que lidam com variedade de desafios acadêmicos, sociais e pessoais (OMAN et al., 2008).
Nos EUA também se considera a prevalência de comportamentos negativos em
escolares (violência, suspensões, ausência, quebra de regras e outros), como uma questão de
saúde pública. Exposição ao estresse psicossocial crônico, problemas financeiros e familiares,
violência exposta na mídia, associado ao estado de raiva e evidência? escolar com o aumento
dos níveis de ansiedade e estresse (BARNES; BAUZA; TREIBER, 2003).
Os ensinos superior e médio estão investindo em níveis de intervenção para controlar
o estresse nos EUA (OMAN et al., 2008 e BARNES; BAUZA; TREIBER, 2003).
Segundo Oman et al. (2008) a prática da meditação melhora a performance acadêmica
reduzindo o estresse, melhorando a memória e diminuindo a ansiedade. Já Barnes, Bauza e
Treiber (2003) referem diminuição da hostilidade, depressão, ansiedade, estresse psicológico
e instabilidade emocional pela prática da meditação transcendental (TM), reduzindo assim
comportamentos negativos em escolares.
A inabilidade em lidar satisfatoriamente com as enormes demandas da escola médica e
da prática médica pode ensejar uma série de conseqüências a nível pessoal (físico-mental) e
profissional, influenciando o desempenho profissional e afetando a relação com pacientes
(SHAPIRO; SCHWARTZ; BONNER, 1998).
O extremo nível de estresse inerente à profissão médica coloca estudantes de medicina
em risco para vários problemas físicos e psicológicos, tendo como potencial conseqüência o
abuso de álcool/drogas; dificuldades em relações interpessoais; depressão, ansiedade e
suicídio. Muitos desses problemas desenvolvem-se durante a escola médica (SHAPIRO;
SCHWARTZ; BONNER, 1998). Assim, a meditação, por desenvolver uma grande capacidade
de percepção, insight, aceitação e imparcialidade, promove a esses profissionais uma melhor
habilidade em lidar com as emoções, desafios, estresse e melhorar seu potencial cognitivo
(SHAPIRO; SCHWARTZ; BONNER, 1998).
40
8.3 TRABALHO E MEDITAÇÃO
Toda profissão envolve aspectos físicos e mentais; todos têm que lidar com certo grau
de estresse, pressão, dificuldades e desafios em seu trabalho.
Músicos experimentam vários desafios em sua profissão, incluindo altos níveis de
estresse e ansiedade devido a expectativas relacionadas à sua performance e, também,
problemas músculo-esqueléticos devidos a estas condições (KHALSA; COPE, 2006).
Segundo o estudo de Khalsa e Cope (2006) com Yoga e meditação em grupo de músicos,
avaliaram serem estas práticas significativamente benéficas no equilíbrio do estresse,
ansiedade, melhorando o humor, a performance e os problemas músculo-esqueléticos nesses
profissionais.
Outro estudo envolvendo 291 profissionais de computação de uma empresa de
software revelam que o Yoga (com exercícios específicos para visão, dentre outros aplicados)
reduz efeitos somáticos visuais e promove diminuição da percepção do estresse (TELLES;
NAVEEN, 2006).
Além do uso pessoal de terapias complementares e alternativas (CAM) mais de 2/5
dos participantes de um ensaio realizado em Hong Kong com enfermeiras, recomendam pelo
menos uma forma de CAM para seus pacientes, dentre elas a meditação (recomendada em
19% dos casos, entre outras alternativas, como massagem e acupuntura, que são tradicionais
neste país) (XUE et al., 2008).
Segundo Telles e Naveen (2006) a prática de Yoga tem mostrado reduzir indicadores
puros e fisiológicos de estresse associados a disabilidades físicas, circunstâncias sociais e em
suas ocupações.
9 MEDITAÇÃO E CIÊNCIA: O QUE SABEMOS?
Problemas metodológicos, uso inadequado de estatística, o uso de medidas inválidas,
falência do controle para tratamentos que podem afetar as variáveis medidas durante a
evolução e respostas clínicas por determinação arbitrária são alguns dos problemas
relacionados ao estudo/pesquisa sobre meditação (BISHOP, 2002).
Uma investigação científica séria e profunda em relação ao tema é recomendada.
Aponta-se como uma área promissora, onde os estudos preliminares evidenciam e dão base
para realmente comprovar tais benefícios, entender os mecanismos biológicos e psicológicos,
41
e definir sua aplicação médica de acordo com as situações clínicas e psiquiátricas
relacionando-as com as técnicas (BISHOP, 2002 e ASTIN et al., 2003).
Outras recomendações são: 1) considerar características individuais do paciente que
podem influenciar nos resultados de pesquisas e efeitos/evolução clínica; 2) avaliar custobenefício de tais intervenções e sua integração num contexto hospitalar; 3) não generalizar a
meditação como cura para todos os males, até porque ela não é recomendado como
tratamento, mas como complemento, embora em certas situações pode se tornar um
tratamento se os estudos evidenciarem tal condição(BISHOP,2002).
Portanto, mesmo com todas as limitações atuais dos estudos e poucas evidências, a
grande maioria das pesquisas indicam a meditação como promissora alternativa terapêutica
para a psiquiatria e medicina em geral, que carece de uma abordagem psicossocial além da
biológica (WOLSKO, 2004).
9.1 MEDITAÇÃO É “CIÊNCIA” (esse item eu retirei da original como orientou
professor;porém mantenho aqui para fim de reflexão)
Daniel, acho melhor vc tirar este item, pois pela sua própria pesquisa não podemos afirmar
isto, já que não há ainda estudos suficientes que comprovem a eficácia da meditação
Meditação é “ciência”, ciência da alma como dizem alguns místicos. Seu método
fundamental também é a observação, no caso da meditação, da realidade interior do homem,
para que este possa compreender melhor seu corpo, sua mente, seus processos, padrões e
iluminar sua vida, através da transformação, fruto do entendimento e autoconhecimento.
Iluminar a confusão, o caos de suas emoções, pensamentos, comportamentos, para reconectar
com sua realidade mais íntima e verdadeira. Enquanto uma observa-percebe e traz consciência
para a inconsciência humana, a outra traz luz para sua realidade exterior, observando e
entendendo os processos naturais. Assim, ambas se complementam com o potencial para
tornar o homem mais pleno, completo, reintegrando assim, a sua natureza e recriando um
mundo e sociedade mais avançados, porém saudável e feliz.
Por ser um método não dogmático, sem vínculos com crenças, fanatismo e ser um
método individual de desenvolvimento, torna-se uma forte aliada da ciência e juntas podem
iluminar a vida do homem para se recriar uma nova humanidade espiritual e cientificamente
desenvolvida.
42
10 MEDICINA INTEGRAL
Digamos que o Oriente se dedicou ao espírito e o Ocidente se voltou à matéria. Desta
maneira o primeiro desenvolveu conhecimentos, técnicas de cura e desenvolvimento do
corpo-mente e transcendência como o YOGA. O oriente é berço das grandes religiões e
filosofias que investigam o que chamamos de espiritual. Já o ocidente desenvolveu a ciência,
a
tecnologia
e
formas
de
gerar
bem-estar
material
para
o
Ser
Humano
(ADELMAM,2006).Acreditamos que voltar-se apenas para o espírito empobrece, torna o
homem mais suscetível às adversidades, limita sua vida e sua qualidade de vida material e
física. Voltar-se apenas para a matéria, o adoece, torna o homem escravo, robotizado,
perdendo contato com seus sentimentos mais nobres e sua paz interior. Acreditamos que uma
integração destes dois aspectos seria o ideal para o ser humano.
Do ponto de vista médico, a integração de métodos como a meditação com a medicina
tradicional e a psicoterapia pode ser extremamente benéfica para se curar e promover a saúde
do ser humano.
Esta é uma tendência, sem dúvida em muitos centros e quanto mais pesquisa,
informação e experiência o meio médico tiver com essas “novas” abordagens, mais poderá
beneficiar a si, a seus pacientes e ao sistema de saúde. Para essa abordagem é importante que
o profissional também possua uma experiência própria com a meditação ou qualquer que seja
a terapia alternativa, visto que saúde se promove com saúde; assim, se o profissional não
possuir certo equilíbrio, “certa saúde” fica difícil de tratar seus pacientes, ou seja, neste caso é
mais um processo de troca e vivência do que uma imposição ou uma prescrição (ADELMAN,
2006).
Também é interessante ressaltar a importância em se tratar problemas psiquiátricos e
médicos por aqueles que possuam alguma base de entendimento desses transtornos, para que
também não ocorra generalizações, reducionismos, ou que tais problemas sejam tratados por
outros profissionais que desconheçam tais situações clínicas, ainda que utilizem métodos
válidos e benéficos.
10.1 QUALIDADE DE VIDA, SAÚDE E MEDITAÇÃO
Reibel et al. (2001) examinou o efeito de MBSR na saúde relacionada à qualidade de
vida e sintomatologia física e psicológica em uma população heterogênea de pacientes. 121
43
dos 136 participantes, entre 23 e 76 anos, completaram as 8 semanas do programa onde além
do treinamento foram requeridos a prática de 20 minutos diários de MBSR . Foram aplicados
questionários antes e após a intervenção, como o Short Form Health Survey (SF-36), Medical
Symptom Checklist (MSCL) e Symptom Checklist 90-Revised (SCL-90R). Pontuações
relacionadas à saúde e qualidade de vida aumentaram, como demonstrado pela melhoria de
todos os índices do SF-36, incluindo vitalidade, dor física, limitações causadas por saúde
física e função social (todos com p< 0,001).Uma redução de 28% dos sintomas físicos
medidos pela MSCL,assim como redução do estresse psicológico avaliado pela escala SCL90-R onde se verificou uma redução de 44% nos níveis de ansiedade e 34% nos de depressão..
Um ano de acompanhamento revelou manutenção das melhorias iniciais nos parâmetros mais
severos.
Em suporte ao estudo anterior Grossman (2004) realizou uma revisão de literatura e
estudo de metanálise de estudos publicados e não pubilcados realacionados a MBSR,dos 64
estudos achados, 20 foram selecionados dentro dos critérios de qualidade ou em relevãncia
para serem incluídos na meta-análise.Estudos de variada população clínica com doenças
crônicas(dor, câncer, doença cardíaca, depressão e ansiedade), bem como grupos não
clínicos(sem doença crônica),mas com estresse foram avaliados. Ambos controle e
investigações observacional foram incluídos, sendo avaliados em medidas de bem-estar
mental e físico através de escalas como o SF-36;Back Depression Inventory,MSCL, Global
Severity Inventory of Symptoms Check List; Hospital Anxiety and Depression Scale; Profile
of mood States.O estudo sugere que MBSR, mesmo com uma relativa baixa evidência,uma
opção de intervenção para uma variedade de desordens crônicas e problemas clínicos, devido
a melhoria na saúde em geral, redução de estresse e redução de sintomas físicos e diminuição
de dificuldades relacionadas á problemas emocionais e físicos.
10.2 HOLISMO - NOVA ABORDAGEM DA PESSOA E DO PACIENTE
Medicina holística para alguns é a combinação de métodos para a resolução de doença,
como acupuntura e homeopatia, meditação e hipnose, com outras mais familiares como
cirurgia, pediatria e oncologia. Para outros é cultivar consciência e sensibilidade além da
detecção dos sintomas; avaliar os aspectos emocionais e espirituais do paciente. Entretanto,
medicina holística ou integrativa é também uma forma de repensar a função da medicina e a
44
infra-estrutura dos relacionamentos e crenças que têm limitado suas forças em servir às
pessoas (REMEN, 2008).
Nos últimos 100 anos a medicina tem se focado na perícia e técnicas que podem
promover a chamada “cura”. Mas em oncologia, assim como em várias outras especialidades
médicas a cura nem sempre é possível. Na ausência desta somos desafiados a cuidar de
pessoas vivendo com problemas e que poderão morrer em curto período de tempo. Nosso
treinamento não nos prepara para isso e assim não é de surpreender que muitos pacientes de
doenças crônicas acreditem que a medicina contemporânea tem pouco a oferecer, além de
tratar sintomas (REMEN, 2008).
Remen (2008) propõe uma Oncologia chamada “integrativa”, que não trataria apenas
as doenças neoplásicas. Abordaria o paciente como um todo, assim como seus familiares, e o
impacto transformativo da doença em suas vidas. Reconheceria a totalidade da pessoa e as
limitações físicas que geralmente existem e moveria o foco além do cuidado do corpo para
uma abordagem mais global do paciente.
A doença geralmente é um agente de transformação pessoal; na presença de mal-estar
físico e mental, as pessoas podem crescer em suas capacidades de amar, em sua compaixão,
sensibilidade, entendimento, coragem e sabedoria. Por causa da capacidade de crescimento é
geralmente possível para doentes crônicos viverem além das limitações de suas doenças. O
desejo de viver desperta-se em resposta ao desafio da doença. Algumas vezes a resolução é
fisiológica, porém mais frequentemente está presente em formas mais sutis, tal como
mudança de valores e prioridades, que permite uma variedade de respostas à vida (REMEN,
2008).
A normalização da fisiologia pode ser apenas parte do nosso potencial de tratamento.
A Medicina holística vai além da cura do corpo para o reconhecimento do potencial de
crescimento de cada um e envolve comprometimento do profissional de saúde em apoiar tal
evolução de todas as formas possíveis. A Medicina holística nada mais é do que reclamar a
totalidade como objetivo primeiro da saúde (REMEN, 2008).
45
10.4 NOVOS PARIDIGMAS (FÍSICA E SAÚDE)
Goswami (2006) define:
1) Medicina convencional (alopatia) - baseada na física Newtoniana. Segundo essa
metafísica tudo é feito de matéria e de seus correlatos, a energia e os campos de força. Todos
os fenômenos (inclusive o que chamamos de energia mental e mesmo o espírito, são
originados de partículas elementares e de suas interações num nível submicroscópico), ou
seja, existiria uma causação ascendente (partículas  átomos  moléculas  células 
cérebro  consciência). Assim, doença é causada por agente externo ou disfunção de órgão
(mecânica). O tratamento, a cura é feita por remédios, cirurgias, radiação.
2) Medicina Mente-Corpo: tem como premissa que a doença se deve a um problema
mental, como por exemplo estresse mental. A cura consiste em corrigir o problema com a
mente para que esta então restabeleça a fisiologia.
3) Medicina Chinesa e Ayurvérdica: baseia-se na idéia que a força vital, não-física,
chamada energia sútil pranachi, é o agente da cura e seu desequilíbrio gera doenças.
4) Cura espiritual – Pode ocorrer pela fé, oração, xamânica, intuitiva - é a idéia de um
espírito (Deus) não-físico que é o agente de cura em todos os casos de cura espiritual.
Assim, a questão é: como construir um paradigma inclusivo, como reunir filosofias
contraditórias? Precisamos de uma filosofia inclusiva, onde além de técnicas e métodos de
tratamentos integrados, haja uma base teórica, filosófica que as incluam. Segundo Goswami
(2006), uma metafísica baseada na consciência nesta era científica é dádiva da física quântica.
Nessa física, o que normalmente percebemos como “coisas” não é visto como coisas, mas
como possibilidades à disposição da escolha da consciência. Essa idéia sugere, por si só a
força de integrar todas as diferentes filosofias que dão sustentação às diversas correntes da
medicina e tem a potencialidade de validar a sua busca pessoal de cura e de lhe indicar o
modo de encontrá-la (GOSWAMI, 2006). Este autor ainda propõe, basicamente, através de
conceitos da física quântica como causação descendente, não-localidade e descontinuidade,
que a realidade possui vários níveis (físico, sutil, mental, intuitivo e beatitude) e que o colapso
de ondas de possibilidades se dá de forma descendente levando as manifestações em suas
matrizes e formas (físicas, mentais, sutis e outras), ou seja, a realidade que vivemos e
percebemos é uma escolha da consciência.
Com sua teoria, então, físico e mental são manifestações diferentes de uma mesma
onda de possibilidade, como matéria-energia (elétron-partícula-onda). Isto explicaria os
46
fenômenos de cura física, mental, sutil e espiritual, unindo-as através dessa interpretação de
física quântica (causação descendente)(CURTIS et al.,2004).
10.5 ESPIRITUALIDADE E MEDITAÇÃO
Embora associada a religiões e filosofias, as práticas meditativas têm se tornado de
interesse da ciência, por sua neutralidade e dissociação com a religião, e também por seus
efeitos/benefícios sobre a saúde física e mental, contribuindo para o desenvolvimento de
qualidades espirituais como introspecção, equanimidade ao lidar com emoções, estímulos,
mudança de comportamento, maior senso de si e da realidade, aumento da compaixão,
sabedoria e sentimento de integração com a vida (ARIAS et al., 2006).
Dessa forma é uma prática que respeita a individualidade, a necessidade e liberdade de
cada pessoa, que através da vivência/experiência pessoal vai encontrando suas próprias
respostas aos desafios e às questões pessoais, além dos benefícios físicos e mentais almejados,
como o equilíbrio emocional.
47
12 CONCLUSÃO
O avanço espantoso dos recursos técnicos na área da medicina, mesmo permitindo
diagnóstico mais rápido e mais seguro, não vem acompanhado de satisfação correspondente
dos usuários. É neste contexto eis que surge a meditação e as outras terapias alternativas e
complementares, cada vez mais procuradas por seus benefícios e por possuir uma abordagem
mais holística da qual carece o sistema convencional; além de dedicar mais tempo ao paciente
por parte de seus profissionais.
Neste trabalho verificou-se que a meditação já possui evidências suficientes para ser
integrada como recurso terapêutico adjunto à medicina convencional, apenas falta mais
conhecimento/esclarecimento científico para definirmos sua aplicação médica.
Além dos benefícios terapêuticos também se conclui que a integração de técnicas
como a meditação e a medicina convencional só vem enriquecer a profissão, o paciente e o
sistema de saúde, permitindo recriar um modelo médico mais voltado para a abordagem total
do paciente (holística) e a promoção de saúde e de qualidade de vida.
Ainda nos países de alto desenvolvimento, em que serviços médicos de inegável
qualidade foram estendidos a toda a população, os inquéritos de opinião revelam insatisfação
crescente. Os pacientes se queixam de receber pouco tempo dos médicos. O Japão tem, hoje, a
expectativa mais alta do mundo, isso atesta a eficiência de um sistema de saúde bastante
sofisticado, embora não custe tão caro ao país. Uma pesquisa realizada em 1990 revelou que
apenas 12% dos japoneses estão realmente satisfeitos com os serviços de saúde que recebem
(NUNES FILHO; BUENO; NARDI, 1996).
A insuficiência na formação psicológica dos médicos costuma ser dramaticamente
sentida pelos pacientes. É certo que os grandes médicos de todos os tempos tinham
sensibilidade inata para lidar com problemas psicológicos. O prestígio do “médico da família”
devia-se, naturalmente, ao conhecimento mais amplo da ambiência? social e psicológica de
cada cliente. Isso permitia uma visão mais profunda e mais atual de todas as crises que
envolviam as pessoas nos momentos de luto, alegria, problemas materiais ou conflitos
familiares. A complexidade cada vez maior dos conhecimentos médicos tornou obrigatória a
especialização. A pessoa foi se dividindo em partes de um organismo a ser reparado. Mais que
isso, o espaço da medicina ficou reduzido apenas ao corpo do homem. Assim, os sentimentos
e as emoções humanas deixaram de ser consideradas; nem se cogita o espaço econômico e
sócio-cultural (NUNES FILHO; BUENO; NARDI, 1996).
48
Acirra-se a luta entre os médicos do corpo e os médicos dos sentimentos e emoções.
Costuma faltar a cada um dos grupos a humildade necessária para reconhecer a complexidade
fundamental do ser humano, que apenas permite a cada um de nós uma aproximação maior de
um dos aspectos e não do todo. A arrogância implícita em cada uma dessas posições torna
impossível diálogo cada vez mais necessário (NUNES FILHO; BUENO; NARDI, 1996).
Os médicos, em sua grande maioria, orientam-se para centrar no biológico o interesse
quase exclusivo de sua atividade. A filosofia de ensino em medicina privilegia muito essa
orientação (NUNES FILHO; BUENO; NARDI, 1996).
Enquanto estamos sabendo cada vez mais de partes, cuidamos cada vez menos do
todo. É essencial, por isso, refletir sobre o sentido geral da atuação médica, questionando
sempre o que fazemos e como fazemos (NUNES FILHO; BUENO; NARDI, 1996).
49
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