DANIEL PEREIRA DA SILVA MENDES MEDITAÇÃO E DOENÇAS PSIQUIÁTRICAS CAMPO GRANDE - MS 2008 DANIEL PEREIRA DA SILVA MENDES MEDITAÇÃO E DOENÇAS PSIQUIÁTRICAS Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Banca Examinadora do Curso de Medicina da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, como exigência parcial para obtenção do título de graduado em Medicina, sob a orientação da Profª Danusa Céspedes Guizzo Ayache. CAMPO GRANDE - MS 2008 DANIEL PEREIRA DA SILVA MENDES MEDITAÇÃO E DOENÇAS PSIQUIÁTRICAS Trabalho apresentado como exigência parcial para obtenção do título de Graduado em Medicina à Banca Examinadora da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Obteve conceito _______________________ para aprovação. BANCA EXAMINADORA _______________________________________________ _______________________________________________ _______________________________________________ Campo Grande, ________ de _________________ de 2008. Dedico este trabalho de Conclusão de Curso a todos que buscam a felicidade do ser humano, dos animais, da natureza, do planeta. Afinal estamos aqui para viver com plenitude, abundância, prazer e alegria, celebrando a vida!!! AGRADECIMENTOS Em primeiro lugar a mim mesmo: ao fim de uma era - iniciar outra - buscar os sonhos, viver a minha história, minha própria vida e, antes de tudo, me permitir a ser o que sou de verdade!!! Ao cão, parceira e mestra Lua que me ensinou muito sobre o amor e a vida... Deus e seus caminhos. À minha querida mãe, pelo seu carinho, confiança e amor que me faz um homem melhor.... Reencontro com a vida. Ao meu pai especial, pelo apoio e por me dar as condições para me desenvolver, mas antes de tudo por ser fonte de inspiração, pela coragem de ser e viver. Ao meu amigo e irmão, parceiro de luta contra a hipocrisia e opressão, sonhador como eu, grande alma. Aos meus avós maternos, pelo carinho e devoção, sempre querendo o melhor da gente, verdadeiros amigos. Aos amigos, pela alegria que são - na vida - energia que nos dá ânimo e nos faz feliz. Aos inimigos, por me fazerem olhar para dentro de mim e ser mais verdadeiro e buscar minha força interior. A UFMS/NHU, que apesar de todas as dificuldades e obstáculos foi uma escola na vida e da vida. Aos mestres Osho, Buddha, Cristo, Krishna Dolano, Neeru e todos aqueles que realizaram o nosso potencial... Luz e Vida Plena!!! À existência, Deus, Alá, Vida, Pan, Tupã, como queiram chamar o que não tem palavras para expressar o que está em tudo e em todos ... razão, busca, motivo e sentido da minha vida... Enjoy the Silence!!! O poder curativo da meditação “A palavra meditação e a palavra medicina vêm da mesma raiz. Medicina significa ‘o que cura o físico’ e meditação ‘o que cura o espírito’. Ambas são forças curativas. Uma outra coisa para ser lembrada: a palavra cura (heal) e a palavra pleno (whole), total, sadio, pleno também têm origem na mesma raiz. Uma outra conotação para a palavra Santo, Sagrado (holy) que também vem da mesma raiz. Cura (heal), Pleno (whole), Santo (holy) não são diferentes em suas raízes. A meditação cura e o faz pleno total e ser total, sadio é ser santo. Santidade não tem nada a ver com pertencer a uma religião, igreja ou seguir dogmas e renunciar o mundo. Simplesmente significa que interiormente você é inteiro, completo; nada está faltando, você está preenchido. Você é o que a existência queria que você fosse, você realizou seu potencial”. Osho (1931-1990) RESUMO Cresce atualmente o interesse acerca da meditação e de sua aplicação na prática médica e nãomédica. Este trabalho teve como objetivo a realização de uma revisão bibliográfica sobre este tema. A proposta desta revisão foi efetuar uma pesquisa sistemática sobre a relação entre meditação e psiquiatria (doenças mentais) e, também, com outras condições médicas (doenças crônicas) e na melhoria da qualidade de vida de profissionais e estudantes. Foram utilizados livros e artigos pesquisados em bases de dados na Internet até o ano de 2008. Verificamos que o número de pesquisas relacionando estas áreas aumenta e permite melhor compreensão do assunto, do ponto de vista científico. Em alguns países desenvolvidos, técnicas de medicina alternativa e complementar como a meditação constituem uma reconhecível e crescente realidade, pela evidência empírica de seus vários benefícios para o físico, mental, social e o espiritual, atribuído ao estado de consciência (mindfulness) preconizado pela meditação. No Brasil, a procura por novos métodos de cura e desenvolvimento de bem-estar também cresce, sendo a meditação um dos mais procurados. Entretanto, esta realidade está mais restrita a algumas áreas do país, como São Paulo, Brasília e Porto Alegre, entre outros. Encontrou-se relação satisfatória entre meditação e bem-estar psicológico, bem-estar físico, melhora da qualidade de vida e da saúde em doentes psiquiátricos e nas outras condições clínicas. Estudos de neuroimagem, neuroendócrino-imunológicos e outros estudos fisiológicos completam os estudos comportamentais e psicológicos com informações mais objetivas. Entretanto, muitas limitações, dificuldades e controvérsias ainda existem e a necessidade de pesquisas mais apuradas é uma imposição. Pacientes procuram por abordagens mais holísticas onde suas emoções, sentimentos, vida afetiva, trabalho, espiritualidade e vida social também são consideradas como parte desse bem-estar. Assim, médicos estão enfrentando a demanda de uma nova abordagem de seus pacientes, que não buscam mais apenas tratar suas doenças, mas também, uma vida mais plena e saudável. E neste aspecto a meditação aparece como um grande potencial, tanto terapêutico quanto em melhorar a saúde como um todo, como em outras terapias complementares e alternativas. A integração da medicina tradicional com a meditação e outras terapias alternativas, assim como a nova física quântica somada às pesquisas clínicas e biológicas podem propiciar ao homem e à sociedade um melhor entendimento e uma ciência mais completa para atender às necessidades humanas e para o seu desenvolvimento (evolução) em um mundo mais saudável. Palavras-chave: Meditação; Medicina; Medicina Alternativa; Doenças Psiquiátricas ABSTRACT Nowadays grows the interest about meditation and its application on the non-medical and medical practice.This work had as an objective to make a review of literature about this issue.In this review the purpose was to do a systematic search about the relationship between meditation and psychiatry(mental diseases) and in others medical conditions (chronic diseases),improving the quality of life of professionals and students as well. It was used books and articles searched in data bases from Internet until the year of 2008.We watched that the number of researches relating both areas increase and gives more comprehension to the issue from a scientific point of view. In some developed countries, the complementary alternative medicine techniques, as meditation are already a growing recognized reality, by the empiric evidence of its many benefits to the physical, mental, social and spiritual duets the state of mindfulness. In Brazil the search for new ways of healing and developing well-being also grows, being meditation one of the most seeken. However this reality is more restrict to some areas of the country as São Paulo, Brasília, Porto Alegre and others. It was found satisfactory relation between meditation and psychological, physical well-being, improving quality of life and promoting health on psychiatry disease and other clinical conditions. Neuroimages, neuroendocrine-imuno and others physiologic studies complete the psychological and behavioral studies with more objective informations. However many limitations, difficulties and controversy exists and a more acute research is needed. Patients are looking for a more holistic approach, where their emotions, feelings, affective life, work, social life and spirituality are considered as well as part of their well-being. Physicians are facing a demand to a new approach from their patients that are not only seeking for treatment to their diseases, but are also looking for a healthier and total life. At this point meditation appears as a great potential, a therapeutic resource and a way of improving a healthier life. The integration of traditional medicine with meditation and other techniques of Complementary Alternative Medicine (CAM), the new quantic physics plus clinical and biological researchs may give man and society a deeper understanding and complete science to human needs and development where a healthy world can be enjoyed. Key words: Meditation; Medicine; Alternative Medicine; Psychiatry Diseases. SUMÁRIO LISTA DE ABREVIATURAS ............................................................................................... 10 1 INTRODUÇÃO................................................................................................................... 11 2 OBJETIVO .......................................................................................................................... 11 3 METODOLOGIA ............................................................................................................... 12 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ........................................................................................ 12 5 TERMOS EXPLICATIVOS E FIGURAS ....................................................................... 12 6 SAÚDE MENTAL - DOENÇAS PSIQUIÁTRICAS E MEDITAÇÃO ......................... 17 6.1 MEDITAÇÃO ................................................................................................................. 17 6.2 DOENÇA X SAÚDE ...................................................................................................... 18 6.3 PSIQUIATRIA, PSICOTERAPIAS E MEDITAÇÃO ................................................... 18 6.4 BEM-ESTAR MENTAL X ESTRESSE E MEDITAÇÃO ............................................. 20 6.5 NEUROIMAGEM E MEDITAÇÃO .............................................................................. 20 6.6 NEUROFISIOLOGIA, COMPORTAMENTO E MEDITAÇÃO .................................. 21 6.7 NEUROPSICOLOGIA, COMPORTAMENTO E METIDAÇÃO ................................ 23 6.8 ANSIEDADE E MEDITAÇÃO...................................................................................... 24 6.9 DEPRESSÃO E MEDITAÇÃO ..................................................................................... 24 6.10 SUICÍDIO E MEDITAÇÃO ......................................................................................... 25 6.11 DEPENDÊNCIA QUÍMICA E MEDITAÇÃO ............................................................ 26 6.12 TRANSTORNO BIPOLAR E MEDITAÇÃO ............................................................. 27 6.13 ESQUIZOFRENIA E MEDITAÇÃO ........................................................................... 28 6.14 DEFICIÊNCIAS INTELECTUAIS E MEDITAÇÃO ................................................. 28 6.15 INSÔNIA E MEDITAÇÃO .......................................................................................... 29 6.16 PSICOSE E MEDITAÇÃO .......................................................................................... 29 7 SAÚDE FÍSICA - DOENÇAS ORGÂNICAS, MÉDICAS E MEDITAÇÃO ............... 30 7.1 DOENÇA MENTAL X DOENÇA FÍSICA .................................................................... 30 7.2 SAÚDE E DOENÇA ORGÂNICA (TRANSTORNOS FÍSICOS) ................................ 30 7.3 FISIOLOGIA E MEDITAÇÃO ...................................................................................... 31 7.4 DOENÇAS CRÔNICAS E MEDITAÇÃO .................................................................... 31 9 7.5 DOENÇAS CARDIOVASCULARES E MEDITAÇÃO ............................................... 32 7.6 CÂNCER E MEDITAÇÃO ............................................................................................ 35 7.7 EFEITOS ADVERSOS DA MEDITAÇÃO ................................................................... 36 8 APLICAÇÕES MÉDICAS E NÃO-MÉDICAS DA MEDITAÇÃO .............................. 37 8.1 APLICAÇÕES MÉDICAS ............................................................................................. 37 8.2 EDUCAÇÃO E MEDITAÇÃO ...................................................................................... 38 8.3 TRABALHO E MEDITAÇÃO ...................................................................................... 39 9 MEDITAÇÃO E CIÊNCIA: O QUE SABEMOS? ......................................................... 39 9.1 MEDITAÇÃO É “CIÊNCIA” ........................................................................................ 40 10 MEDICINA INTEGRAL ................................................................................................. 41 10.1 QUALIDADE DE VIDA, SAÚDE E MEDITAÇÃO .................................................. 41 10.2 HOLISMO - NOVA ABORDAGEM DA PESSOA E DO PACIENTE ....................... 42 10.3 INTEGRAÇÃO DE TRADIÇÕES E CONHECIMENTOS(ORIENTE/OCIDENTE) 43 10.4 NOVOS PARIDIGMAS (FÍSICA QUÂNTICA E SAÚDE) ....................................... 44 10.5 ESPIRITUALIDADE E MEDITAÇÃO ....................................................................... 45 11 CONCLUSÃO ................................................................................................................... 46 12 REFERÊNCIAS ............................................................................................................... 48 LISTA DE ABREVIATURAS ACTH Hormônio A0 drenocorticotrófico CAM Complementary Alternative Medicine CDs Compact Discs CPF Córtex Pré-Frontal EEG Eletroencefalograma EUA Estados Unidos da América LPPS Lóbulo Parietal Póstero-Superior MBCT Terapia Cognitiva Baseada na Meditação (Mindfulness Based Cognitive Therapy) MBSR Redução de Estresse Baseado na Meditação MM Mindfulness Meditation OMS Organização Mundial da Saúde PET Tomografia por Emissão de Pósitrons SNP Sistema Nervoso Parassimpático TM Meditação Transcendental UK Reino Unido (United Kingdom) UMASS Universidade de Massachusetts 11 1 INTRODUÇÃO Meditação é um tema ainda controverso, inclusive na área médica. Porém, assim como o Yoga e outras técnicas, tem sido motivo de crescentes pesquisas nos últimos 30 anos. As terapias complementares e alternativas (Complementary Alternative Medicine - CAM) tornam-se cada vez mais populares na cultura ocidental, sendo a Meditação e o Yoga as que mais ganham aceitação entre as várias intervenções mente-corpo na medicina ocidental (ARIAS et al., 2006). Em 1999, o governo norte-americano investiu 10 milhões de dólares no Instituto Nacional de Saúde para criar centros de estudo sobre a relação das intervenções corpo-mente com a saúde. A escola médica de Harvard e a Universidade de Massachusetts (UMASS) oferecem treinamento em tais métodos (ARIAS et al., 2006) Assim, a atual busca por qualidade de vida e saúde, a necessidade de métodos com abordagem holística do ser humano (mente-corpo; biológico-psicossocial) e a percepção desse meio terapêutico em promover tais aspectos, faz da meditação objeto promissor e considerável para o estudo da ciência. Novos paradigmas surgem e impulsionam a evolução da medicina, do homem e da sociedade, possibilitando a integração de métodos tradicionais às terapias alternativas, e proporcionando ao homem mais bem-estar e saúde. Sem esquecer que promover saúde também é criar um sistema de vida mais “saudável” do ponto de vista social, econômico e ambiental (MAMTANI; RAVINDER; CIMINO, 2002). Esta e outras terapias necessitam de mais estudos clínicos e neurobiológicos, examinando-se os processos psicológicos e neurofisiológicos subjacentes a tais técnicas, o que promoverá um melhor entendimento destas e de seu impacto sobre as doenças (IVANOVSKI; MALHI, 2007). Portanto, neste trabalho buscou-se avaliar a relação da meditação com a psiquiatria e a medicina, principalmente através da ótica científica atual, para esclarecer e conhecer mais sobre essa promissora relação. 12 2 OBJETIVO Realizar revisão na literatura médica sobre estudos que relacionem a meditação com a área médica em geral, com maior ênfase em relação às doenças psiquiátricas. Foram verificadas suas aplicações, efeitos, mecanismos, objetivos e estudos sobre a meditação nessas áreas, bem como na área não-médica, uma vez que sua relação com a saúde e o bem-estar do homem é de grande amplitude. 13 3 METODOLOGIA Foi realizada revisão sistematizada da literatura, pela base de dados Pubmed, Bireme, (Medline, Lilacs, Scielo) e Web of Science, de artigos publicados em periódicos nacionais e internacionais. Várias palavras-chave foram utilizadas: “Meditation and Psychiatry”, “Complementary Alternative Medicine”, “Diseases and Meditation”, “Health and Meditation”, “Medicine and Meditation”, “Terapias Alternativas” e “Meditação”. Restringiuse o período da pesquisa entre 1999 a 2008. Realizou-se, também, uma busca ativa das referências encontradas nos artigos. Outras fontes de dados foram obtidas em livros sobre medicina geral, psiquiatria e meditação. 14 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO A relação da meditação diretamente com a saúde do ser humano confere ao assunto amplas possibilidades de investigação e discussão. Embora o foco desta revisão seja a relação da meditação com as doenças psiquiátricas, também se verificou sua relação com outras condições médicas e não-médicas, inclusive pela razão de entendermos que a mente e corpo formam uma unidade, onde em qualquer situação, clínica ou não, tanto “a fisiologia como a psicologia” estarão atuando na pessoa e em seus processos. 4.1 TERMOS EXPLICATIVOS E FIGURAS 1) Mindfulness-Based Cognitive Therapy (MBCT): técnica de meditação que combina elementos-chave de terapia cognitiva com treino em meditação “não mente” (Mindfulness Meditation), que será explicada no item 3. Foi desenvolvida por Zindel Segal, Mark Williams and John Teasdade, com o interesse em descobrir tratamentos baratos e efetivos que reduzissem significativamente a recaída e recorrência em depressão, baseadas no programa de MBCT, com 8 semanas (1 sessão semanal), com 12 participantes a 2 horas/sessão e 1 dia/sessão entre a 6ª e 7ª semanas. Nesta técnica, participantes são requeridos a praticar 1 hora ou mais por dia, 6 dias na semana, durante as sessões (aulas) usando Compact Discs (CDs) ou fitas cassete (WILLIAMS et al., 2006). 2) Mindfulness-Based Stress Reduction (MBSR) é uma intervenção mente-corpo criada por Kabat Zinn onde Meditação e Yoga são praticadas para atingir o estado de não-mente (mindfulness). Os participantes encontram-se 1 vez por semana em sessões de 2 horas e 30 minutos durante 8 semanas. CDs e fitas cassete são entregues para que os participantes pratiquem diariamente em casa; estes são encorajados a usarem essas técnicas em momentos de estresse e/ou dor e sofrimento (RAMEL et al., 2004). 3) Não-mente (Mindfulness ou Mindfulness Meditation - MM): tem sido descrita como uma técnica particular de manter a atenção, com propósito momento a momento e sem julgamento. Um dos objetivos de MM é aprender como se tornar mais consciente, observar e não reagir como fazemos habitualmente ante as sensações, pensamentos e sentimentos. É de tradição budista, descrita como o coração dos ensinamentos de Buddha. Neste trabalho entendemos Estado Meditativo como sinônimo para Mindfulness (IVANOVSKI et al.,2007). 15 4) Medicina Alternativa e Complementar (Complementary Alternative Medicine - CAM) refere-se a um grande número de terapias, sistemas e técnicas que existem fora de instituições onde a medicina convencional é ensinada e aprendida, ou a recursos de cura que englobam sistemas de saúde, modalidades e práticas, suas teorias e crenças, diferentes daquelas intrínsecas ao sistema de saúde politicamente dominante de uma sociedade particular ou cultura num dado período histórico. Fronteiras entre CAM, e entre o domínio das CAM e do sistema dominante (convencional) nem sempre são claras e definidas. Os métodos das CAM são diversos e abundantes e podem ser agrupados em 4 domínios principais de acordo com Centro Nacional para Medicina Complementar e Alternativa (NCCAM), nos Estados Unidos da América - EUA(MAMTANI; RAVINDER; CIMINO, 2002): 1. Sistemas Médicos Alternativos: Homeopatia, Medicina tradicional chinesa e acupuntura, Medicina Ayurvédica, Naturopatia. 2. Intervenções Mente-Corpo: Meditação, hipnose, biofeedback, relaxamento, oração, música e dança. 3. Terapias biologicamente embasadas: Ervas, suplementos, dietas e outras. 4. Terapias manipulativas e corporais – massagem, quiropraxia e outras. 5) Mente-Corpo (Mind-Body Therapy): é uma técnica focada na interação entre cérebro, mente, corpo e comportamento, sugerindo que as emoções, mente, ambiente, comportamento e espiritualidade podem diretamente afetar a saúde (MORONE; GRECO, 2007). 6) Maharishi Vedic Medicine (MVM), ou Medicina Védica: é reportada como o mais antigo sistema médico continuamente praticado, tendo suas heranças na anciã civilização védica da Índia. Inclui Medicina Ayurvédica e tem sido reconhecida pela Organização Mundial da Saúde(OMS) como um sistema sofisticado de medicina natural com literatura científica detalhada, contendo textos médicos clássicos, uma tradição oral ininterrupta de conhecimentos, uma matéria médica compreensiva e uma ampla variedade de procedimentos clínicos relevantes para a prevenção e tratamento de doenças agudas e crônicas. MVM é um reavivamento moderno das técnicas da medicina védica, com uma larga escala de métodos diagnósticos e terapêuticos em acordo com os textos clássicos. Tais métodos compreendem saúde mental, física, comportamental e ambiental (exemplos: Yoga, meditação, preparações com ervas, orientações alimentares e no estilo de vida, diagnóstico por pulso, musicoterapias, limpeza fisiológica e outras) (NADER et al., 2000). 16 7) Yoga: terapia que surgiu na Índia há mais de 4000 anos; inclui os 7 maiores ramos onde MATHA YOGA, RAJA YOGA e MANTRA YOGA são os mais conhecidos e praticados. Basicamente é um sistema de auto-realização e transformação que inclui prática de posturas (ásanas, respiração (pranayamas), relaxamento dinâmico e passivo, canto de mantras, exercícios de limpeza (kryas) e gestos (nidras) (INNES & VINCENT, 2007). Além da meditação, a filosofia dos Yogi (praticantes de yoga) também faz parte dos vedas. 8) Transcendental Meditation (Meditação Transcendental): com seus fundamentos nos vedas foi introduzida no Ocidente por Yogi, Maharish Mahesh e envolve a repetição de mantras para acalmar a mente e se atingir o estado de não-mente (mindfulness) (NADER et al, 2000). Quadro 1. Exemplo dos componentes para o estado meditativo (Mindfulness) Observação Não reação para a experiência interior Descrevendo Não julgamento da experiência interior Agir com consciência Fonte: DAVIS et al.(2007). Eu sinto o cheiro e aroma das coisas Eu percebo meus sentimentos, emoções sem ter que reagir a eles Eu sou razoável em descrever meus sentimentos Eu não acho que algumas de minhas emoções são más ou inapropriadas e que não deveria senti-las Eu faço as coisas com atenção/concentrado 17 Quadro 2. O efeito da meditação nas relações interpessoais, como descrito no exemplo individual. Antes Meditação Depois Meditação Ansiedade em relação aos outros Espera rejeição Comportamento Ansiedade em relação às pessoas Reconhecimento dos outros Age baseado na avaliação da necessidade e perspectiva dos outros Aumenta intimidade Reduz ansiedade na presença das pessoas Alcança-se aos outros Concluir que é melhor se isolar Aliena-se em relação as pessoas Maior ansiedade em relação às pessoas Fonte: DAVIS et al. (2007). Quadro 3. Descrição multidimensional de algumas técnicas de meditação Meditação Não mente (Mindfulness) Atividade física e objetivo Sentado Deitado ou Andando Meditação transcendental --- Sahaja-Yoga Sentado Kundalini Yoga Variada combinação de respiração, mantras, gestos, postura. Meditação com oração Resposta a relaxamento Hatha Yoga Varia Sentado Deitado Obter e manter diferentes posições para construir alongamento equilíbrio e flexibilidade.Exercícios com respiração também Fonte: ARIAS et al. (2006). Atividade mental e objetivo Consciência/Atenção não- mente Focar no mantra Retorno ao mantra Quando pensamento esvair-se 2 partes: 1. Atenção e nãopensamento 2. Auto-afirmação Não-pensamento, Atenção, expansão em direção a estados transcendentes,melhora de estados psiquiátricos (sintomas) Varia, pode incluir imagens Não-pensamento Auto-Consciência.Varia Varia. Geralmente com componente de relaxar a mente. Algumas vezes combinada com técnicas de meditação típicas. Conteúdo de treinamento adicional Autêntico Resposta Duração Varia Sim Sim Varia Varia Sim Sim Sugerido 15-20 min. 2 vezes/dia Relacionado a tradição Kundalini e Vipassana Sim Sim Segundo 15 minutos 2 x dia Resposta é acessar altos graus de energia espiritual.Rica tradição Sim Varia Varia Varia Algumas vezes Algumas vezes Varia Nenhuma Sim Sim 10-10min 1 ou 2 vezes/dia Varia Algumas vezes Sim varia 19 4.2 SAÚDE MENTAL - DOENÇAS PSIQUIÁTRICAS E MEDITAÇÃO 4.2.1 MEDITAÇÃO Meditação pode ser definida tanto como uma técnica, um processo, como um estado de consciência. Ivanovski e Malhi (2007) definem que, de acordo com Yoga Sutras, meditação é ato de contemplação interior e o estado intermediário entre pura observação de um objeto e sua completa absorção (IVANOVSKI; MALHI, 2007). Os mesmos autores sugerem que pode ser caracterizada fundamentalmente em dois tipos, concentração e não-mente (mindfulness). Técnicas de concentração envolvem o foco na atenção a um ‘objeto’ mental, observar a respiração, recitar mantras, visualização de um processo no corpo, percepção e observação de sensações corporais, assim criando um estado de quietude mental e aumentando o estado de consciência e percepção (Ex: meditação transcendental (TM) e Yoga Vidra). Por outro lado, as técnicas de meditação “não-mente” envolvem a expansão de atenção/consciência a um estado de não-julgamento e não-reação às sensações, pensamentos e emoções experimentadas. (Ex: Vipassana e Zen) (IVANOVSKI; MALHI, 2007). As práticas meditativas derivam de tradições orientais e ocidentais, encontradas na maioria das culturas e religiões, cada qual com suas características peculiares. Entretanto, as técnicas diferentes mais famosas hoje são as de origem budista e das tradições indianas, incluindo as várias meditações do Yoga (ARIAS, et al., 2006). A meditação tem sido motivo de pesquisa desde a década de 1970, embora ainda haja muita falta de compreensão dos seus mecanismos neuropsicológicos e neurofisiológicos. Existem dificuldades de pesquisa e a necessidade de estudos mais rigorosos para comprovar investigações preliminares e orientar sua aplicação na prática psiquiátrica e médica em geral (IVANOVSKI; MALHI, 2007). Para efeito didático entendemos neste trabalho a meditação como qualquer método passivo ou dinâmico (como o próprio yoga) que leve a pessoa ao estado de relaxamento físico/mental e principalmente ao estado de “não-mente” de pura atenção/consciência, de onde, como sugerem os autores, parece advir todos os efeitos e benefícios para a pessoa. É a experiência da meditação que traz a mudança terapêutica e não as técnicas usadas para conseguir esta experiência. Não existe um elemento mágico ou místico, basicamente, trata-se de prestar atenção, propositalmente, em sua vida, no momento presente (NURAYAMA, 2000). 20 4.2.2 DOENÇA X SAÚDE Verificamos que existem diferentes definições para a palavra SAÚDE: - “Estado do que é são (salutes, salus). Estado habitual de equilíbrio do organismo. Força, vigor, robustez” (NURAYAMA, 2000). - “Estado físico e mental em que é possível alcançar todas as metas vitais, dadas as circunstâncias” (NORDENFELT, 2001). - “O bom funcionamento do organismo como um todo” (KASS ,1981) - “ Estado de completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doença” (OMS,1948) Embora haja controvérsias e críticas, por considerar-se utópico o conceito de completo bem-estar do ser humano, vamos adotá-lo, por entender que abrange a totalidade dos aspectos da vida do ser humano, podendo incluir o espiritual, e por estar em acordo com os objetivos da meditação por muitos daqueles que a praticam. Também cabe aqui definir bem-estar como o bom ou completo funcionamento e satisfação de cada aspecto descrito (físico-mental-social-espiritual) onde cada um contém inúmeras qualidades variáveis que podem ser medidas; porém, se não todas forem satisfeitas, que pelo menos a maioria e a satisfação sejam altas. Já a palavra DOENÇA[lat. Doentia,dor] é um processo mórbido, acompanhado de um certo número de manifestações mais ou menos constantes, tendo uma etiologia, patogenia, patologia e uma terapêutica mais ou menos definidas e que pode evoluir rapidamente(doença aguda) ou de forma lenta (doença crônica)(COUTINHO,1977). A Medicina contemporânea adota um modelo médico voltado para a doença e seu tratamento, mas o que aconteceria se investíssemos e déssemos mais ênfase na saúde do que na doença? 4.2.3 MEDICINA, PSIQUIATRIA, PSICOTERAPIAS E MEDITAÇÃO A Medicina é a ciência que tem por fim evitar e curar as doenças (COUTINHO, 1977). A Psiquiatria é um corpo do saber científico identificado com uma representação das manifestações mentais, alteradas e suscetíveis de serem tratadas com recursos biológicos e psicológicos, elaborados por observação, estudos, idéias e métodos da medicina (RAMADAM & ASSUMPÇÃO, 2005). 21 As psicoterapias são técnicas utilizadas por diferentes profissões: psiquiatras, psicólogos, médicos clínicos, enfermeiros e assistentes sociais, entre outros. Suas origens históricas situam-se na medicina antiga, na religião, na cura pela fé e no hipnotismo. É mais uma atividade colaborativa entre o paciente e o terapeuta do que uma ação predominantemente unilateral, como uma cirurgia. São descritas mais de 400 tipos na literatura (CORDIOLI e cols., 2008). Segundo Nunes Filho, Bueno e Nardi (1996), o termo psicoterapia significa “tratamento da mente”. Nesse sentido amplo, pode ser aplicado a qualquer das modalidades de tratamento dos transtornos mentais. No uso habitual restringe-se aos métodos que os terapeutas procuram, através da palavra, para ajudar as pessoas com qualquer tipo de sofrimento mental a voltar a ter uma vida mais satisfatória. É importante ter presente que a compreensão dos fatores psíquicos existentes em qualquer enfermidade humana não é causal. As relações de compreensão existem em todas as doenças humanas. Isso não significa curá-las através somente da psicoterapia. Indica, sim, que qualquer enfermidade humana será mais bem tratada se cuidarmos dos problemas psicológicos que a envolvem sempre. A psicoterapia na prática médica se realiza em contexto completamente diferente da psicanálise tradicional, mas nem por isso se torna irrelevante para o tratamento das doenças (NUNES FILHO; BUENO; NARDI, 1996). A percentagem de pessoas usando técnicas de Medicina Complementar e Alternativa (CAM) nas nações industriais varia de 25 a 50% e aqueles com desordens psiquiátricas são os que mais as utilizam. Há limitações e benefícios de seu uso, porém há suficiente evidência para o uso de muitas delas, como a meditação (MAMTANI; RAVINDER; CIMINO, 2002). É nesse contexto médico-psiquiátrico-psicoterapêutico embasado na visão do processo saúde-doença como relação mente-corpo, que a meditação e outras CAM prometem ser fortes aliadas terapêuticas, contribuindo também para a reintegração da abordagem holística do paciente (ADELMAN,2006) 22 4.2.4 BEM-ESTAR MENTAL X ESTRESSE E MEDITAÇÃO Segundo o budismo, todo sofrimento psicológico é o resultado da mente que julga, condena, dividindo as experiências em boas ou más, as quais devem ser conquistadas ou evitadas, inevitavelmente levando a algum grau de frustração, estresse, ansiedade e depressão. Assim, o objetivo de meditação é criar um estado de aceitação e não-julgamento que por conseqüência leva a um bem-estar psicológico em qualquer situação (NURAYAMA, 2000). Estudos têm concluído que o estresse psicossocial é um fator independente maior de risco para hipertensão, doença coronariana e mortalidade cardiovascular. Estudos longitudinais para mais de 3000 europeus adultos mostraram que o estresse crônico por um período de alguns anos, prediz aumento na pressão arterial durante 3 a 7 anos seguidos. O estudo “InterHeart” com 24.767 adultos em 52 países mostrou que o infarto do miocárdio está associado com estresse psíquico-social crônico (RAINFORTH et al., 2007). Dentro de parâmetros manejáveis o senso de bem-estar é mantido, mas se estímulos (físicos, emocionais, ocupacionais) vão além da capacidade limite do indivíduo, eles se tornam estressantes. A contínua exposição ao estresse pode resultar em problemas físicos e mentais como ansiedade e depressão (SMITH et al., 2007). Em estudo randomizado feito por Nyklícek e Kuijpers (2008), 40 mulheres e 20 homens de uma comunidade dos países baixos foram treinados em Redução de Estresse Baseado na Meditação (MBSR), constituindo um grupo experimental, e foi formado também um grupo controle com 60 pacientes da lista de espera. Foram aplicados questionários sobre bem-estar psicológico, qualidade de vida e estado meditativo (mindfulness). Medidas repetidas de variação de múltipla análise mostraram que a meditação resultou em significativo aumento na redução de estresse, exaustão vital e forte aumento em “afeto positivo” e qualidade de vida. 4.2.5 NEUROIMAGEM E MEDITAÇÃO Embora estudos com evidências diretas da efetividade da meditação no tratamento de doenças psiquiátricas ainda sejam necessários, estudos preliminares demonstram que esta promove melhoras no tratamento de depressão, ansiedade, psicose, transtorno bipolar, comportamento, suicida e redução do abuso de substâncias químicas (IVANOVSKI; MALHI, 2007). 23 O estudo por imagem e neurofisiológico tem identificado mudanças neuronais em associação com estados meditativos e provê um potencial promissor para futuras pesquisas (IVANOVSKI; MALHI, 2007). A elucidação das bases biológicas poderá trazer mais clareza sobre os processos cerebrais cognitivos e emocionais relacionados à resposta para os transtornos psiquiátricos citados e levar consequentemente a uma maior aceitação desta técnica como complemento para tratamentos médicos variados (LAZAR; BUSH, 2000). Além da indução de estado hipometabólico e normalização das medidas fisiológicas, a prática de meditação induz mudanças nos padrões do eletroencefalograma (EEG), diferentes daquelas associadas ao sono, e sugerem que apesar da diminuição na atividade periférica por um lado, há intensa atividade neural por outro, quando o indivíduo encontra-se profundamente relaxado (LAZAR; BUSH, 2000). Técnicas de neuroimagem funcional oferecem oportunidade para observar mudanças em regiões com atividade neuronal e fluxo sangüíneo durante a meditação. Um estudo com tomografia por emissão de pósitrons (PET) mostrou aumento na atividade em região inferior frontal fusiforme, giro occipital e posterior central durante a meditação (LAZAR; BUSH, 2000). Outros estudos relatam aumento no fluxo cerebral do córtex frontal em acordo com relatos do aumento da atividade alfa frontal do EEG (LAZAR; BUSH, 2000). Os resultados de um estudo de Imagem por Ressonância Magnética Funcional com 4 meditadores para identificar e caracterizar regiões cerebrais ativas durante meditação kundalini indicam que as estruturas neurais envolvidas com atenção e controle do sistema nervoso autônomo, como o córtex dorsolateral pré-frontal e parietal, hipocampus/parahipocampus, lobo temporal, córtex pregenual, cíngulo anterior, striatum e giro pós cerebral são ativadas (LAZAR; BUSH, 2000). 4.2.6 NEUROFISIOLOGIA E MEDITAÇÃO Newberg e Lee (2005), revisando a neurofisiologia da meditação, elaboraram um modelo de como esta se comporta. As formas de meditação podem ser divididas em dois grandes grupos: num deles a pessoa busca clarear totalmente os pensamentos e seu ápice gera uma sensação de atemporalidade, sem pensamentos e sem percepção espacial, como se tudo fosse unificado e integrado; no outro grupo o sujeito foca a atenção num símbolo ou objeto e experimenta sensação semelhante à de ser absorvido pelo objeto mentalizado. O processo meditativo inicia-se com a ativação do córtex pré-frontal (CPF) e córtex do cíngulo (ambos mais no hemisfério direto), associada à vontade de clarear a mente ou focar 24 num objeto. O CPF ativa o núcleo reticular do tálamo (responsável pelo fluxo de informação sensorial), que ativado irá liberar o neurotransmissor GABA (Ácido gama-aminobutírico), que inibirá o fluxo de informação que estava indo ao Lóbulo Parietal Póstero-Superior (LPPS), via inibição deste e do núcleo geniculado lateral (NEWBERG;LEE, 2005). O LPPS é responsável pela criação da percepção em três dimensões, da diferenciação entre a si mesmo (self) e o mundo externo e ajuda na distinção entre objetos. Desse modo, quando o núcleo reticular é ativado, diminuirá o fluxo de informações sensoriais ao LPPS, o que levará o indivíduo a perder sua habilidade espacial assim como a diferenciação do self e do exterior (NEWBERG;LEE, 2005). O hipocampo, por sua vez, é responsável pela modulação do sono/despertar e é estimulado pelo LPPS direto ao hemisfério direito do hipocampo, concomitante à estimulação direta via tálamo, ambos mediados por glutamato. Essa ativação do hipocampo direito o levará a estimular a amígdala lateral direita. Esta é estreitamente associada ao hipotálamo que neste caso, na sua porção ventromedial será ativado, levando ao desencadeamento da resposta do Sistema Nervoso Parassimpático – SNP (NEWBERG;LEE, 2005). A partir da ativação do SNP, o organismo irá diminuir a freqüência cardíaca e respiratória, o que por intermédio do núcleo paragigantocelular da medula cessará o fluxo de sinais elétricos ao Locus Ceruleus (LC) da ponte. O LC irá diminuir o nível de noradrenalina (NA) no corpo, o que é evidenciado pelos seus baixos níveis na urina e no plasma durante o processo meditativo. O LC enviando menos NA para o núcleo paraventricular do hipotálamo diminui as concentrações das seguintes substâncias em cadeia: CRH (hormônio liberador de corticotropina), ACTH (hormônio adrenocorticotrófico) e cortisol (NEWBERG;LEE, 2005). A queda da pressão arterial, mediada via SNP com relaxamento dos barorreceptores arteriais levam a medula caudal ventral a diminuir a inibição do GABA do núcleo supraótico do hipotálamo. Este evento provocará a liberação de Argenina Vasopressina (AVP) para normalizar a pressão arterial. A AVP tem se relacionado à contribuição para a manutenção do afeto positivo, diminui a fadiga, ajuda no despertar, na consolidação de novas memórias e aprendizado. Isso pode contribuir na percepção supra-real relatada pelos meditadores quando chegam ao ápice desta prática (NEWBERG;LEE, 2005). O CPF age através de outras vias neuroquímicas, como o aumento dos níveis de glutamato no cérebro, que estimulam o núcleo arqueado do hipotálamo, liberando endorfinas. O glutamato ativa também os receptores de N-metil-D-aspartato, que funcionalmente é análogo a alucinógenos dissociativos como a quetamina, óxido nítrico e fenilciclidina (NEWBERG;LEE, 2005). 25 4.2.7 NEUROPSICOLOGIA, COMPORTAMENTO E MEDITAÇÃO Em decorrência das suas várias facetas, a meditação implica em diversos efeitos psicológicos, tais como prover o indivíduo com aumento na habilidade de concentrar, reduzir reações esperadas (automáticas) a inesperados estímulos, aumento de percepção visual e aumento em manter atenção, que dependem do nível da experiência. Também observam-se mudanças comportamentais, tais como adaptação, exposição e extinção de respostas condicionadas (IVANOVSKI; MALHI, 2007). Uma das maiores limitações do sistema cerebral de atenção concerne à habilidade de processar duas informações que ocorrem aproximadamente no mesmo tempo. Quando a segunda de duas informações são apresentadas em ½ segundo após a primeira, não é geralmente detectada devido à competição entre estímulos por recursos limitados na atenção. Num estudo de acompanhamento de pacientes por três meses de meditação intensiva, verificou-se a redução de recursos cerebrais destinados à primeira informação/estímulo, habilitando os meditadores a também detectar a segunda informação/estímulo, sem o compromisso de afetar a primeira, demonstrando melhora na habilidade da atenção em captar informações (SLAGTER et al., 2007). Alguns autores defendem a idéia que a meditação influencia na plasticidade cerebral, como sugerem RAMEL et al (2004), baseando-se nas alterações comportamentais e neurofisiológicas observadas; porém evidências concretas não são relatadas. Tang et al. (2004), em estudo randomizado, acompanhou por 5 dias 40 estudantes de graduação (grupo experimental), que fizeram 20 minutos de meditação/dia. Neste grupo, houve melhora em escalas de teste da Rede de Atenção (Attention Network Test), além de diminuição dos níveis de cortisol, aumento na imunorreatividade e melhora na escala de perfil de estados de humor, conectados à melhor regulação de cognição e emoções, comparado ao grupo controle. 26 4.2.8 ANSIEDADE E MEDITAÇÃO O Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG), caracterizado por longos e intensos períodos de preocupação excessiva é um distúrbio crônico e relativamente comum, com altos índices de co-morbidade. O diagnóstico é associado com considerável estresse e prejuízo na função social e ocupacional. Embora a terapia cognitiva seja eficiente no tratamento, muitos casos são beneficiados parcialmente e outros persistem com sintomas residuais (EVANS et al., 2008). Em um pequeno ensaio aberto de terapia cognitiva baseada em meditação (MBCT) para o TAG, utilizando-se escalas padronizadas, observou-se uma diminuição significante nos sintomas de ansiedade, tensão, preocupação e depressão (EVANS et al., 2008). Em estudo de meta-análise feito por Manzoni et al. (2008), sobre diferentes técnicas de relaxamento e meditação para ansiedade, verificou-se uma maior eficácia dessa última nos voluntários, a longo prazo. Já o estudo randomizado de Smith et al. (2007), realizado com 131 pessoas de uma comunidade do sul da Austrália, relata eficácia semelhante entre yoga e relaxamento progressivo, com algumas diferenças na redução de ansiedade, estresse e melhora de qualidade de vida. O Yoga foi mais efetivo na melhoria da saúde mental durante o treinamento; porém o relaxamento progressivo mostrou-se mais eficaz em relação à vitalidade, função social e saúde mental no período após o processo. Lee et al. (2007) randomizaram pacientes com transtornos de ansiedade em um ensaio de 8 semanas, para um programa de meditação e redução de estresse ou para um programa de educação em ansiedade. As escalas Hamilton Anxiety Rating (HAM-A), Hamilton Depression Rating (HAM-D), o State-Trait Anxiety Inventory (STAI), o Beck Depression Inventory (BDI) e o Symptom Checklist 90 - Revisado (SCL-90-5) foram aplicadas em 0,2,4 e 8 semanas, havendo redução significativa nas pontuações destas, e melhora no grupo de meditação, comparada ao grupo com educação em todas as escalas. 4.2.9 DEPRESSÃO E MEDITAÇÃO A Depressão Maior Unipolar é um problema sério de saúde pública, com altos índices de recorrência. Talvez seja o problema mental mais comum em idosos em muitos países como Estados Unidos e Inglaterra, que muitas vezes não são diagnosticados e nem tratados, devido 27 ao pessimismo terapêutico (JUDD, 1997 apud SMITH; GRAHAM; SENTHINATHAN, 2007). Pessoas depressivas parecem ter vulnerabilidades cognitivas específicas, incluindo atitudes disfuncionais e tendência à ruminação, o que aumenta o risco para episódios depressivos futuros (VEDAMURTHACHAR, 2006). Segal, Teasdale e Williams (2002) acreditam que a meditação pode trazer benefícios no tratamento da depressão, pois é um método sistemático de aumentar a consciência no momento (Attentional Awareness) e distinguir fatos, estímulos e pensamentos. Estes autores sugerem que a meditação pode ensinar os pacientes a: a) identificar conteúdos destrutivos e padrões habituais da mente em um estágio inicial; b) relacionar e processar esta informação de uma forma não-condenativa, sem julgamentos, facilitando a escolha entre as várias opções, permitindo maior flexibilidade sobre atividades cognitivas e também diminuição da ruminação, supergeneralização, autocrítica e aumento dos processos cognitivos construtivos como a observação sem julgamento do conteúdo da mente (RAMEL et al., 2004). Muitos estudos como o feito por Vedamurthachar (2006) confirmaram essa teoria, porém poucos examinaram os mecanismos do ponto de vista cognitivo, que cada particular forma de meditação opera. Shapiro et al. (2007) aponta o potencial do Yoga como alternativa para o tratamento de Depressão Unipolar Maior em pacientes com remissão parcial e que estão tomando antidepressivos. Foram selecionados 27 mulheres e 10 homens, dos quais 17 indivíduos completaram a intervenção, que consistiu de 29 sessões de Yoga.Todos demonstraram significante redução na depressão, ansiedade, raiva, sintomas neuróticos e 11 destes mantiveram a remissão pós-intervenção. Porém um defeito nesse estudo é que não havia grupo controle. 4.2.10 SUICÍDIO E MEDITAÇÃO Uma vez que pensamentos suicidas emergem em função da depressão, eles são geralmente reativados como parte da “mente suicida”, sempre que o humor depressivo se manifestar. O tratamento para o comportamento suicida é um desafio, onde muitas formas de terapias se desenvolveram, mas os resultados ainda são poucos conclusivos (WILLIAMS et al., 2006). Williams et al (2006) fizeram uma revisão de métodos e suas aplicações para pacientes com depressão e comportamento suicida recorrente, como Terapia Cognitiva Comportamental 28 (TCC) e Terapia Cognitiva Baseada na Meditação (MBCT). Avaliou-se clinicamente o método MBCT, na prevenção de comportamento e ideação suicida recorrentes, em pessoas fora de crise aguda. Dentre as observações, verificou-se nos participantes dos estudos avaliados por estes autores o desenvolvimento de uma relação diferente com pensamentos, emoções e sensações físicas que normalmente tais indivíduos possuem dificuldade em vivenciar, levando-as à depressão e possivelmente a uma outra crise suicida. O mesmo estudo sugere que o estado de aceitação, da atitude de não-julgamento e reação automática a estímulos, da atenção momento a momento desenvolvidos com a prática de meditação, torna essa uma alternativa vantajosa no tratamento para este problema quando comparada a outros métodos como apenas TCC (WILLIAMS et al., 2006). Dois outros estudos de controle clínico demonstraram que MBCT pode reduzir a probabilidade de recaída em cerca de 40% a 50% em pessoas com episódios prévios de depressão (WILLIAMS et al., 2006). Assim sendo, verificou-se que o tratamento da depressão, maior causa do comportamento suicida (80%, segundo Beautrais et al., 1996), pode ser incrementado com técnicas de meditação. Outros estudos também verificaram benefícios para reduzir o comportamento suicida através da MBCT (VEDAMURTHACHAR, 2006). 4.2.11 DEPENDÊNCIA QUÍMICA E MEDITAÇÃO Bowen et al. (2008) sugere Vipassam (VM), uma prática budista, como alternativa para indivíduos que não desejam ou não obtiveram sucesso em tratamentos tradicionais para dependência química. Seu estudo, feito com população carcerária, avaliou a eficiência de tal prática em um grupo de pacientes já em liberdade condicional e observou redução significativa no uso do álcool, cannabis e crack. Todos os participantes demonstraram diminuição nos problemas relacionados ao alcoolismo e sintomas psiquiátricos, bem como uma melhora em questões psicossociais. Vedamurthachar (2006), em ensaio randomizado com 60 pacientes alcoólatras e com sintomas depressivos avaliou o efeito de duas semanas de terapia com yoga, precedido por 1 semana de desintoxicação (usando-se benzodiazepínicos e complexo B). Observou valiosa redução na escala BDI (Beck Depression Inventory), assim como na redução dos níveis de cortisol e ACTH plasmático, comparando-se ao grupo controle. Outros estudos também apontam para o efeito antidepressivo do Yoga em alcoólatras, porém ainda são necessárias 29 outras pesquisas para avaliar se a prática de Yoga pode ajudar no controle sobre o consumo de álcool (VEDAMURTHACHAR, 2006). Winkelman (2003), em uma revisão de literatura relata que tocar música rítmica em grupo (drumming) produz efeitos como: 1) dinâmicas fisiológicas, induzindo ao relaxamento, resposta e restauração do equilíbrio neurotransmissor do sistema serotonérgico e opióide; 2) dinâmicas psicológicas para autopercepção, insight, controle de emoções e integração psicológica e social; 3) satisfazer necessidades espirituais em contatar com força superior e experiências espirituais. Por considerar tais efeitos sobre o estado de consciência como o de um processo meditativo, incluindo então o drumming numa prática/técnica meditativa, Winkelman (2003) sugere como sendo um recurso terapêutico valioso para a recuperação de dependência química, onde outros tratamentos não obtiveram muitos benefícios. 4.2.12 TRANSTORNO BIPOLAR E MEDITAÇÃO O Transtorno bipolar é uma doença psiquiátrica com grandes índices de recorrência e altos índices de co-morbidade, principalmente com Transtornos de ansiedade, o que também está associado com o risco de suicídio e mal prognóstico (WILLIAMS ,2008) Um ensaio piloto randomizado para indivíduos com transtorno bipolar apresentando ansiedade, sintomas depressivos e comportamentos/idéias suicidas, estudou-se a aplicação de MBCT e foram avaliados os efeitos desta técnica neste grupo através de questionários como o Beck Depression Inventory (BDI). Os resultados sugerem que a MBCT leva à melhora imediata na evolução de ansiedade específica para o grupo bipolar e também reduz sintomas depressivos residuais, quando comparados ao controle (grupos de espera para a intervenção com MBCT) e conclui que outras pesquisas poderão confirmar o potencial terapêutico deste método que combina meditação e terapia cognitiva para tal transtorno. 30 4.2.13 ESQUIZOFRENIA E MEDITAÇÃO Dentre os vários sintomas relacionados à esquizofrenia, tais como medo, preocupação, e alucinações, a ansiedade parece ter um papel importante em gerar e manter a disfunção nesse distúrbio (DAVIS; STRASBURGER; BROWN, 2007). O estudo piloto feito por Davis, Strasburger e Brown (2007) onde 5 participantes com esquizofrenia foram treinados em um programa de meditação (adaptado de MBSR e MBCAT) e investigados quantos aos benefícios e sintomas, refere melhora na função emocional e comportamental, diminuição de ansiedade e outras emoções “negativas” como estresse e eventos psicóticos, não descartando o uso da meditação como terapia complementar para indivíduos com psicose. 4.2.14 DEFICIÊNCIAS INTELECTUAIS E MEDITAÇÃO Pacientes com deficiência intelectual presos em um Instituto Forense possuem comportamentos agressivos difíceis de controlar. Em muitos desses casos tais comportamentos contribuem para que eles sejam afastados da comunidade e mais ainda, resultam em agressão contra aqueles que deles cuidam, podendo gerar estresse psicológico e até danos físicos. A Terapia Cognitiva e Comportamental (TCC) é geralmente efetiva em reduzir níveis de raiva, mas ainda é preciso avaliar se reduz também os episódios de agressão física (SING et al., 2008). Sing et al. (2008) estudou 6 indivíduos presos em um Instituto Forense, com história prévia de tratamento com farmacoterapia, reabilitação psicossocial e TCC, porém sem sucesso. Estes foram treinados em um programa de meditação e foi demonstrada redução significativa no nível de agressão física, chegando a zero depois de alguns meses, embora continuassem a fazer agressões verbais. Também se observou um custo/benefício muito grande comparado a outros tratamentos. 31 4.2.15 INSÔNIA E MEDITAÇÃO A Insônia é um dos problemas de saúde pública mais comum na população geral (HEIDENREICH et al., 2006). Em um pequeno ensaio piloto feito com 16 participantes sofrendo de insônia primária por mais de um ano, que foram tratados com métodos farmacológicos e psicológicos, sem melhora da qualidade do sono, avaliou-se o efeito da MBCT. Mesmo com limitações no estudo, como a falta de grupo controle, sem uso de polissonografia e pequeno grupo de amostra para efeitos estatísticos, o ensaio observou mudanças como diminuição do uso de fármacos e mudanças significativas em 4 das 6 escalas usadas para avaliar insônia e seus efeitos. A MBCT pode mudar o processo cognitivo associado com a manutenção da insônia, porém pesquisas mais elaboradas ainda são necessárias (HEIDENREICH, ET al., 2006). 4.2.16 PSICOSE E MEDITAÇÃO Alguns autores/estudos contra-indicam a meditação na psicose; outros não, afirmando que a indicação desta terapia complementar depende do caso e da situação (DAVIS et al., 2007). Segundo Chan (1999), em relato do caso de três pacientes de um hospital psiquiátrico na Tailândia (país budista e de tradição na prática meditativa), a psicose induzida pelo processo meditativo possui outros fatores que podem levar a tal estado ao invés da meditação propriamente dita. Nesse relato, os três pacientes freqüentaram um programa intenso de meditação, com poucas horas de sono e alimentação e todos possuíam fatores predisponentes para a psicose como delírio, transtorno bipolar e uso de drogas. O mais provável é que fatores estressantes e/ou predisposição à psicose levaram a esta, ao invés da meditação. O autor concluiu, portanto, que esta deve ser bem orientada e supervisionada para pessoas com problemas psiquiátricos e outros (HEIDENREICH et al., 2006; KUIJPERS et al., 2007). Castilho e Trance (2003) referem que eventos estressantes podem disparar estados de transe espontâneo, que são os mecanismos psicológicos sob os mecanismos psicóticos funcionais. Os mesmos autores descrevem um caso de psicose relacionado com a meditação, em situação onde esta se fez um agente estressor para a pessoa, tanto física como psicologicamente, levando então ao desencadeamento de psicose, em acordo com os estudos anteriores. 32 7 SAÚDE FÍSICA - DOENÇAS ORGÂNICAS, MÉDICAS E MEDITAÇÃO 7.1 DOENÇA MENTAL X DOENÇA FÍSICA A expressão “tratamento mental” infelizmente sugere uma distinção entre transtornos “mentais” e transtornos “físicos”, um anacronismo reducionista do dualismo mente/corpo. Uma bibliografia rigorosa comprova a existência de muito do físico nos transtornos mentais e muito “mental” nos transtornos “físicos”. Este conceito não apresenta uma definição operacional consistente que cubra todas as situações, mas é tão útil quanto qualquer outra definição disponível e por ajudar a orientar decisões relativas à normalidade e a patologia. Assim os transtornos mentais são concebidos como síndromes ou padrões comportamentais ou psicológicos clinicamente importantes que ocorrem no indivíduo e associam-se a sofrimento, incapacitação ou risco significativo aumentado de sofrimento, morte, dor, deficiência ou perda importante da liberdade, ou seja, a síndrome deve ser considerada no momento como uma manifestação de uma disfunção comportamental, psicológica ou biológica no indivíduo (American Psychiatric Association,1994) O termo Transtorno físico ou condição médica geral é usado por meras razões de conveniência, quando nos referimos a condições e transtornos não classificados entre os transtornos mentais, que não devem ser interpretados como se existisse qualquer distinção fundamental entre os transtornos mentais e as condições médicas gerais, como referidas anteriormente. 7.2 SAÚDE E DOENÇA ORGÂNICA (TRANSTORNOS FÍSICOS) Para efeito didático classificamos os transtornos físicos como aqueles estados patológicos com clínica definida, em seus padrões bem delimitados nas alterações fisiológicas, sem deixar de considerar o que foi dito anteriormente a respeito do fato de que existe muito de físico nas alterações/manifestações mentais e muito de mental nas alterações e manifestações físicas. Mecanismos adaptativos envolvendo o Sistema Nervoso Autônomo (SNA), eixo neuroendócrino, sistema imunológico e sistema cardiovascular são responsáveis por manter a função fisiológica estável e eficiente no corpo. Sendo este mecanismo alterado por estresse psicossocial, há diminuição nessa adaptação, com conseqüente declínio físico e mental (SCHNEIDER et al., 2006). 33 Por isso consideramos nesse trabalho avaliar também essa relação entre meditação e doenças orgânicas, não só por ser um outro aspecto da aplicação terapêutica na medicina,mas também por entender que mesmo nessas doenças existem componentes mentais e psiquiátricos que influenciam em suas evoluções clínicas. 7.3 FISIOLOGIA E MEDITAÇÃO Com o progresso do conhecimento sobre o impacto da prática meditativa, pode se chegar à conclusão que algumas técnicas produzam respostas fisiológicas relaxantes e outras não, ou envolvam outros estados fisiológicos significativos. Simultaneamente, algumas técnicas podem ser emocionalmente benéficas sem causar impactos fisiológicos discerníveis. Tais noções permitirão conhecer a aplicabilidade de cada técnica para determinadas situações, não desconsiderando-se as necessidades e respostas individuais ao mesmo método (SOBRINHO et al., 1999). Pesquisas apontam que a meditação possui múltiplas facetas em seus efeitos psicológicos, bem como na função biológica e que benefícios físicos secundários podem ocorrer via alteração no sistema psíquico-neuroendócrino e na imunologia do Sistema Nervoso Autônomo (SOBRINHO et al., 1999). Sobrinho et al (2006), com o objetivo de avaliar respostas neuroendócrinas em relação a acontecimentos vivenciados durante estados modificados de consciência, como na meditação, fossem estes imaginários ou comprovadamente reais, fizeram um estudo de caso de dois pacientes verificando-se níveis de cortisol, prolactina e somatotrofina, somados à avaliação cardíaca (freqüência cardíaca) e condutância da pele. Os autores relatam que tais estudos são complexos, pois envolvem muitas variáveis e fatores internos e externos influenciando os resultados e assim concluem que se necessita de mais experiência, técnicas e métodos para que alguns padrões consistentes comecem a emergir. Por exemplo: o registro de condutância da pele é um excelente marcador de ativação simpática. No entanto é demasiado dependente de fatores externos(natureza dos contatos da pele, temperatura, umidade da sala, etc) As respostas hormonais são sujeitas a atraso, dada a natureza indireta da regulação endócrina e o efeito tampão do volume de distribuição em relação aos produtos secretados, pelo que a relação cronológica com vivências não é tão fácil de estabelecer como acontecem com as respostas simpáticas. Assim, não é fácil a identificação dos enredos a associar emoções e as respostas hormonais (SOBRINHO et al., 2006). 34 7.4 DOENÇAS CRÔNICAS E MEDITAÇÃO As doenças crônicas são um problema de saúde pública em países desenvolvidos e em desenvolvimento. Nos EUA, 100 milhões de americanos (40% da população) sofrem de pelo menos uma doença crônica. Esta alta prevalência levanta questões sobre a eficácia e limitações dos métodos convencionais de saúde em prevenir e tratar esses distúrbios, o que contribui para o aumento do interesse público e profissional em novos métodos (NADER et al., 2000; SCHNEIDER et al., 2006). Doenças cardiovasculares e outras doenças crônicas afetam indivíduos de todas as idades, porém prevalecem em idosos. O desafio para um envelhecimento saudável através de redução de doenças crônicas é parte de estudos e programas americanos. Nestes, a intervenção comportamental e outras são partes dos métodos preferidos onde gerontólogos e outros estudiosos do assunto tentam traçar uma política nacional com novas estratégias para se promover a saúde. Algumas necessidades são apontadas como parte desse programa: 1) melhor equilíbrio entre atendimento primário e especializado; 2) tratamento mais voltado para as causas das doenças e não apenas dos sintomas; 3) um sistema mais holístico de saúde; 4) mais ênfase no custo-benefício; 5) mais ênfase na prevenção; 6) maior incorporação em mudanças positivas do estilo de vida; no tratamento médico; 8) maior uso de métodos naturais que reduzam ou substituam fármacos ou cirurgias (SCHNEIDER et al., 2006). Nader et al. (2000), ao realizar um estudo de caso onde 4 pacientes (com diagnósticos de sarcoidose; Diabetes Mellitus II, Parkinson e hipertensão renal) foram submetidos a um programa multimodal de tratamentos incluindo meditação transcendental, ervas, mudanças no estilo de vida e outros. O programa da medicina tradicional indiana (MVM) conduziu a melhoras substanciais em vários sinais, sintomas e marcadores laboratoriais específicos para cada doença, durante três semanas de tratamento e no acompanhamento seguinte, além de uma melhora na avaliação padrão de teste de qualidade de vida SF-36 (Short Form Health Survey), que é uma escala de auto-avaliação padronizada onde 36 itens, incluindo funções e bem estar físicos, função social, estado emocional e limitações devido a problemas emocionats, saúde e bem estar mental, são avaliados. Os autores sugerem, portanto, a integração de conhecimentos tradicionais e alternativos para se prevenir e promover a saúde da população. 7.5 DOENÇAS CARDIOVASCULARES E MEDITAÇÃO 35 Doenças cardiovasculares são as principais causas de morte em vários países e estão geralmente associadas com outras co-morbidades como o Diabetes Mellitus II e obesidade.(HILL;WEBER;WERNER,2008). A cada 4 indivíduos com problemas cardíacos, um desenvolve depressão, o que aumenta o risco de morte em três vezes e meio (HILL; WEBER; WERNER, 2008). Estudos realizados por Hill, Weber e Werner (2008) e Walton, Schneider e Nidich (2004) evidenciaram uma ligação entre doenças cardíacas e depressão, ansiedade, pessimismo, hostilidade e raiva, e supõem que estes afetam o ritmo cardíaco, pressão arterial, nível de insulina e de colesterol, dentre outros. Em suas revisões de literatura (SMITH et al., 2005; WALTON, SCHNEIDER e NIDICH, 2004) vários autores apontam para benefícios da meditação transcendental (TM) relacionados com as doenças cardiovasculares como: diminuição de pressão arterial, diminuição de colesterol e estresse oxidativo, diminuição de tabagismo, melhor custo benefício e diminuição de morbidade e mortalidade. Da mesma forma mostra o estudo de metanálise feito por Rainforth et al. (2007), que também verificaram significativas mudanças na pressão arterial, tanto clínica como estatística, após programa de redução de estresse através de TM. Efeitos do estresse são evidentes em cada mecanismo reconhecido que leva a eventos cardíacos como disfunção endotelial, rutura de placa, trombose, isquemia miocárdica e arritmias malignas. Dentre os vários métodos de redução de estresse, a TM é a que tem sido mais bem estudada e entre os mais de 600 estudos publicados, a maioria explicam a sua eficácia na prevenção e tratamento de doenças cardiovasculares (WALTON; SCHNEIDER; NIDICH, 2004). Em outro estudo randomizado retrospectivo a longo prazo com população acima de 55 anos de idade, Schneider et al. (2005) indica a TM em comparação a outros métodos, afirmando que possui melhores resultados na redução do estresse, observando diminuição no risco de 30% para mortalidade cardiovascular. Porém, cabe lembrar que outros métodos de meditação não foram bem estudados. 7.9 CÂNCER E MEDITAÇÃO O Câncer é a segunda causa de morte nos EUA (MATCHIM; ARMER, 2007). Diagnóstico, tratamento e sobrevivência, todos são associados com diversos fatores 36 psicoloógicos e físicos que afetam a evolução clínica dessa doença (DENG; CASSILETH, 2005 e MATCHIM; ARMER, 2007). Os autores afirmam que diagnóstico e doença podem ser experiências bem traumáticas e estressantes, levando alguns pacientes a transtornos psiquiátricos como depressão e ansiedade. As pesquisas demonstram que MM pode ser uma ferramenta útil no cuidado contínuo desses pacientes, do diagnóstico ao fim da vida, influenciando positivamente na experiência da doença crônica e servindo como prevenção primária, secundária e terciária, através dos seus efeitos benéficos à saúde, bem como humor, vitalidade, bem-estar psíquico e suas conseqüências interpessoais que estes influenciam (MATCHIM; ARMER, 2007 e SMITH et al., 2005). Cada vez mais esta forma de intervenção corpo-mente se torna popular e ganha credibilidade entre pacientes oncológicos. Os autores afirmam que mais pesquisas poderão validar os resultados obtidos até então (MATCHIM & ARMER, 2007 e SMITH et al., 2005). Em 1995, 70% dos centros oncológicos na Inglaterra e País deGales estavam oferecendo algum tipo de terapia complementar alternativa (CAM), como a meditação (WHITE, 1998). Um número crescente de enfermeiras está praticando terapias complementares em lugar de intervenções convencionais de suporte nesses pacientes, pelo fato de que estas possuem o potencial de aliviar os sintomas e efeitos colaterais do tratamento, e por terem efeitos positivos nos níveis de estresse e qualidade de vida durante o tratamento e a reabilitação (SMITH et al., 2005). 7.10 EFEITOS ADVERSOS DA MEDITAÇÃO Parece não haver efeitos físicos adversos relacionados com a prática da meditação. Há poucos casos descritos de reações adversas relacionadas com a meditação e poucos estudos na literatura médica sobre o tema. Efeitos graves parecem ser raros e os mais comumente descritos são os sintomas psiquiátricos, como despersonalização, desrealização e psicoses. Neste caso, estes eventos estão geralmente relacionados às práticas rigorosas mal orientadas realizadas com pessoas geralmente com problemas psiquiátricos ainda não manifestos, onde o treinamento rigoroso desencadeou um quadro patológico. Além desses, no caso da prática de Yoga mal orientada, pode haver lesões físicas (ARIAS et al., 2006 e SCHNEIDER et al., 2006). São necessárias pesquisas mais aprofundadas sobre o tema para melhor se avaliar esta questão na prática médica (ARIAS et al., 2006 e SCHNEIDER et al., 2006). 37 38 8 APLICAÇÕES MÉDICAS E NÃO MÉDICAS DE MEDITAÇÃO 8.1 APLICAÇÕES MÉDICAS Bishop (2002) em seu estudo verificou que aproximadamente 1 em 5 americanos (maioria solteiro, entre 40-49 anos de idade, com alto índice de escolar) faz uso de alguma terapia mente-corpo, como a meditação, biofeedback ou relaxamento, entre outras. O autor observou também que estas terapias são muitas vezes usadas para uma variedade de condições médicas sem assistência profissional. Já Wolsko (2004) verificou que a insatisfação de pais com métodos científicos tradicionais os levam a procurar as CAM, como relata o Comitê da Academia Americana de Pediatria. Isto ocorre, segundo o autor, principalmente em pais de crianças com deficiências. Por isso, sugere a necessidade de reconhecer, entender e integrar tais práticas no meio médico. Astin et al. (2004) considera que as intervenções mente-corpo deveriam ter uma prioridade alta nos tratamentos médicos, por serem uma abordagem de ordem psicossocial de que carece a medicina convencional. Shapiro (1998) conclui em seus estudos que as evidências são fracas, porém Mamtani, Ravinder e Cimino (2002) referem que são promissoras e que mais estudos com métodos rigorosos e de acompanhamento a longo prazo poderão resolver estas questões. Embora os benefícios sejam mais psicológicos e na melhoria do estresse e seus efeitos secundários, Mamtani, Ravinder e Cimino (2002) sugerem a aplicação da meditação para doenças médicas, principalmente em transtornos ansiosos e não-psicóticos e onde o estresse mental possui um importante papel na patofisiologia, morbidade e talvez mortalidade dos doentes. Estes autores sugerem também que técnicas de meditação podem funcionar melhor de forma complementar a tratamentos médicos e psiquiátricos já existentes. Sugerem também segurança deste método para a maioria das pessoas, sem sérios efeitos colaterais e que pode ser recomendada por médicos como tratamento adjunto. Por fim, lembrar que a meditação pode ser utilizada não só como tratamento adjunto, mas, muitas vezes, como complemento para melhorar a saúde de uma forma geral, o que trará benefícios para os outros problemas existentes. Assim, ela pode ser aprendida e incorporada na vida diária para o indivíduo sentir-se mais calmo, equilibrado e saudável (WILLIAMS, 2006). 39 8.2 EDUCAÇÃO E MEDITAÇÃO Em 2004, o estresse foi a causa mais comum de diminuição na performance acadêmica citado por 1/3 (32%), de cerca de 50000 estudantes interrogados em 79 campus universitários americanos (OMAN et al., 2008). O estresse é uma grande questão para graduandos, uma vez que lidam com variedade de desafios acadêmicos, sociais e pessoais (OMAN et al., 2008). Nos EUA também se considera a prevalência de comportamentos negativos em escolares (violência, suspensões, ausência, quebra de regras e outros), como uma questão de saúde pública. Exposição ao estresse psicossocial crônico, problemas financeiros e familiares, violência exposta na mídia, associado ao estado de raiva e evidência? escolar com o aumento dos níveis de ansiedade e estresse (BARNES; BAUZA; TREIBER, 2003). Os ensinos superior e médio estão investindo em níveis de intervenção para controlar o estresse nos EUA (OMAN et al., 2008 e BARNES; BAUZA; TREIBER, 2003). Segundo Oman et al. (2008) a prática da meditação melhora a performance acadêmica reduzindo o estresse, melhorando a memória e diminuindo a ansiedade. Já Barnes, Bauza e Treiber (2003) referem diminuição da hostilidade, depressão, ansiedade, estresse psicológico e instabilidade emocional pela prática da meditação transcendental (TM), reduzindo assim comportamentos negativos em escolares. A inabilidade em lidar satisfatoriamente com as enormes demandas da escola médica e da prática médica pode ensejar uma série de conseqüências a nível pessoal (físico-mental) e profissional, influenciando o desempenho profissional e afetando a relação com pacientes (SHAPIRO; SCHWARTZ; BONNER, 1998). O extremo nível de estresse inerente à profissão médica coloca estudantes de medicina em risco para vários problemas físicos e psicológicos, tendo como potencial conseqüência o abuso de álcool/drogas; dificuldades em relações interpessoais; depressão, ansiedade e suicídio. Muitos desses problemas desenvolvem-se durante a escola médica (SHAPIRO; SCHWARTZ; BONNER, 1998). Assim, a meditação, por desenvolver uma grande capacidade de percepção, insight, aceitação e imparcialidade, promove a esses profissionais uma melhor habilidade em lidar com as emoções, desafios, estresse e melhorar seu potencial cognitivo (SHAPIRO; SCHWARTZ; BONNER, 1998). 40 8.3 TRABALHO E MEDITAÇÃO Toda profissão envolve aspectos físicos e mentais; todos têm que lidar com certo grau de estresse, pressão, dificuldades e desafios em seu trabalho. Músicos experimentam vários desafios em sua profissão, incluindo altos níveis de estresse e ansiedade devido a expectativas relacionadas à sua performance e, também, problemas músculo-esqueléticos devidos a estas condições (KHALSA; COPE, 2006). Segundo o estudo de Khalsa e Cope (2006) com Yoga e meditação em grupo de músicos, avaliaram serem estas práticas significativamente benéficas no equilíbrio do estresse, ansiedade, melhorando o humor, a performance e os problemas músculo-esqueléticos nesses profissionais. Outro estudo envolvendo 291 profissionais de computação de uma empresa de software revelam que o Yoga (com exercícios específicos para visão, dentre outros aplicados) reduz efeitos somáticos visuais e promove diminuição da percepção do estresse (TELLES; NAVEEN, 2006). Além do uso pessoal de terapias complementares e alternativas (CAM) mais de 2/5 dos participantes de um ensaio realizado em Hong Kong com enfermeiras, recomendam pelo menos uma forma de CAM para seus pacientes, dentre elas a meditação (recomendada em 19% dos casos, entre outras alternativas, como massagem e acupuntura, que são tradicionais neste país) (XUE et al., 2008). Segundo Telles e Naveen (2006) a prática de Yoga tem mostrado reduzir indicadores puros e fisiológicos de estresse associados a disabilidades físicas, circunstâncias sociais e em suas ocupações. 9 MEDITAÇÃO E CIÊNCIA: O QUE SABEMOS? Problemas metodológicos, uso inadequado de estatística, o uso de medidas inválidas, falência do controle para tratamentos que podem afetar as variáveis medidas durante a evolução e respostas clínicas por determinação arbitrária são alguns dos problemas relacionados ao estudo/pesquisa sobre meditação (BISHOP, 2002). Uma investigação científica séria e profunda em relação ao tema é recomendada. Aponta-se como uma área promissora, onde os estudos preliminares evidenciam e dão base para realmente comprovar tais benefícios, entender os mecanismos biológicos e psicológicos, 41 e definir sua aplicação médica de acordo com as situações clínicas e psiquiátricas relacionando-as com as técnicas (BISHOP, 2002 e ASTIN et al., 2003). Outras recomendações são: 1) considerar características individuais do paciente que podem influenciar nos resultados de pesquisas e efeitos/evolução clínica; 2) avaliar custobenefício de tais intervenções e sua integração num contexto hospitalar; 3) não generalizar a meditação como cura para todos os males, até porque ela não é recomendado como tratamento, mas como complemento, embora em certas situações pode se tornar um tratamento se os estudos evidenciarem tal condição(BISHOP,2002). Portanto, mesmo com todas as limitações atuais dos estudos e poucas evidências, a grande maioria das pesquisas indicam a meditação como promissora alternativa terapêutica para a psiquiatria e medicina em geral, que carece de uma abordagem psicossocial além da biológica (WOLSKO, 2004). 9.1 MEDITAÇÃO É “CIÊNCIA” (esse item eu retirei da original como orientou professor;porém mantenho aqui para fim de reflexão) Daniel, acho melhor vc tirar este item, pois pela sua própria pesquisa não podemos afirmar isto, já que não há ainda estudos suficientes que comprovem a eficácia da meditação Meditação é “ciência”, ciência da alma como dizem alguns místicos. Seu método fundamental também é a observação, no caso da meditação, da realidade interior do homem, para que este possa compreender melhor seu corpo, sua mente, seus processos, padrões e iluminar sua vida, através da transformação, fruto do entendimento e autoconhecimento. Iluminar a confusão, o caos de suas emoções, pensamentos, comportamentos, para reconectar com sua realidade mais íntima e verdadeira. Enquanto uma observa-percebe e traz consciência para a inconsciência humana, a outra traz luz para sua realidade exterior, observando e entendendo os processos naturais. Assim, ambas se complementam com o potencial para tornar o homem mais pleno, completo, reintegrando assim, a sua natureza e recriando um mundo e sociedade mais avançados, porém saudável e feliz. Por ser um método não dogmático, sem vínculos com crenças, fanatismo e ser um método individual de desenvolvimento, torna-se uma forte aliada da ciência e juntas podem iluminar a vida do homem para se recriar uma nova humanidade espiritual e cientificamente desenvolvida. 42 10 MEDICINA INTEGRAL Digamos que o Oriente se dedicou ao espírito e o Ocidente se voltou à matéria. Desta maneira o primeiro desenvolveu conhecimentos, técnicas de cura e desenvolvimento do corpo-mente e transcendência como o YOGA. O oriente é berço das grandes religiões e filosofias que investigam o que chamamos de espiritual. Já o ocidente desenvolveu a ciência, a tecnologia e formas de gerar bem-estar material para o Ser Humano (ADELMAM,2006).Acreditamos que voltar-se apenas para o espírito empobrece, torna o homem mais suscetível às adversidades, limita sua vida e sua qualidade de vida material e física. Voltar-se apenas para a matéria, o adoece, torna o homem escravo, robotizado, perdendo contato com seus sentimentos mais nobres e sua paz interior. Acreditamos que uma integração destes dois aspectos seria o ideal para o ser humano. Do ponto de vista médico, a integração de métodos como a meditação com a medicina tradicional e a psicoterapia pode ser extremamente benéfica para se curar e promover a saúde do ser humano. Esta é uma tendência, sem dúvida em muitos centros e quanto mais pesquisa, informação e experiência o meio médico tiver com essas “novas” abordagens, mais poderá beneficiar a si, a seus pacientes e ao sistema de saúde. Para essa abordagem é importante que o profissional também possua uma experiência própria com a meditação ou qualquer que seja a terapia alternativa, visto que saúde se promove com saúde; assim, se o profissional não possuir certo equilíbrio, “certa saúde” fica difícil de tratar seus pacientes, ou seja, neste caso é mais um processo de troca e vivência do que uma imposição ou uma prescrição (ADELMAN, 2006). Também é interessante ressaltar a importância em se tratar problemas psiquiátricos e médicos por aqueles que possuam alguma base de entendimento desses transtornos, para que também não ocorra generalizações, reducionismos, ou que tais problemas sejam tratados por outros profissionais que desconheçam tais situações clínicas, ainda que utilizem métodos válidos e benéficos. 10.1 QUALIDADE DE VIDA, SAÚDE E MEDITAÇÃO Reibel et al. (2001) examinou o efeito de MBSR na saúde relacionada à qualidade de vida e sintomatologia física e psicológica em uma população heterogênea de pacientes. 121 43 dos 136 participantes, entre 23 e 76 anos, completaram as 8 semanas do programa onde além do treinamento foram requeridos a prática de 20 minutos diários de MBSR . Foram aplicados questionários antes e após a intervenção, como o Short Form Health Survey (SF-36), Medical Symptom Checklist (MSCL) e Symptom Checklist 90-Revised (SCL-90R). Pontuações relacionadas à saúde e qualidade de vida aumentaram, como demonstrado pela melhoria de todos os índices do SF-36, incluindo vitalidade, dor física, limitações causadas por saúde física e função social (todos com p< 0,001).Uma redução de 28% dos sintomas físicos medidos pela MSCL,assim como redução do estresse psicológico avaliado pela escala SCL90-R onde se verificou uma redução de 44% nos níveis de ansiedade e 34% nos de depressão.. Um ano de acompanhamento revelou manutenção das melhorias iniciais nos parâmetros mais severos. Em suporte ao estudo anterior Grossman (2004) realizou uma revisão de literatura e estudo de metanálise de estudos publicados e não pubilcados realacionados a MBSR,dos 64 estudos achados, 20 foram selecionados dentro dos critérios de qualidade ou em relevãncia para serem incluídos na meta-análise.Estudos de variada população clínica com doenças crônicas(dor, câncer, doença cardíaca, depressão e ansiedade), bem como grupos não clínicos(sem doença crônica),mas com estresse foram avaliados. Ambos controle e investigações observacional foram incluídos, sendo avaliados em medidas de bem-estar mental e físico através de escalas como o SF-36;Back Depression Inventory,MSCL, Global Severity Inventory of Symptoms Check List; Hospital Anxiety and Depression Scale; Profile of mood States.O estudo sugere que MBSR, mesmo com uma relativa baixa evidência,uma opção de intervenção para uma variedade de desordens crônicas e problemas clínicos, devido a melhoria na saúde em geral, redução de estresse e redução de sintomas físicos e diminuição de dificuldades relacionadas á problemas emocionais e físicos. 10.2 HOLISMO - NOVA ABORDAGEM DA PESSOA E DO PACIENTE Medicina holística para alguns é a combinação de métodos para a resolução de doença, como acupuntura e homeopatia, meditação e hipnose, com outras mais familiares como cirurgia, pediatria e oncologia. Para outros é cultivar consciência e sensibilidade além da detecção dos sintomas; avaliar os aspectos emocionais e espirituais do paciente. Entretanto, medicina holística ou integrativa é também uma forma de repensar a função da medicina e a 44 infra-estrutura dos relacionamentos e crenças que têm limitado suas forças em servir às pessoas (REMEN, 2008). Nos últimos 100 anos a medicina tem se focado na perícia e técnicas que podem promover a chamada “cura”. Mas em oncologia, assim como em várias outras especialidades médicas a cura nem sempre é possível. Na ausência desta somos desafiados a cuidar de pessoas vivendo com problemas e que poderão morrer em curto período de tempo. Nosso treinamento não nos prepara para isso e assim não é de surpreender que muitos pacientes de doenças crônicas acreditem que a medicina contemporânea tem pouco a oferecer, além de tratar sintomas (REMEN, 2008). Remen (2008) propõe uma Oncologia chamada “integrativa”, que não trataria apenas as doenças neoplásicas. Abordaria o paciente como um todo, assim como seus familiares, e o impacto transformativo da doença em suas vidas. Reconheceria a totalidade da pessoa e as limitações físicas que geralmente existem e moveria o foco além do cuidado do corpo para uma abordagem mais global do paciente. A doença geralmente é um agente de transformação pessoal; na presença de mal-estar físico e mental, as pessoas podem crescer em suas capacidades de amar, em sua compaixão, sensibilidade, entendimento, coragem e sabedoria. Por causa da capacidade de crescimento é geralmente possível para doentes crônicos viverem além das limitações de suas doenças. O desejo de viver desperta-se em resposta ao desafio da doença. Algumas vezes a resolução é fisiológica, porém mais frequentemente está presente em formas mais sutis, tal como mudança de valores e prioridades, que permite uma variedade de respostas à vida (REMEN, 2008). A normalização da fisiologia pode ser apenas parte do nosso potencial de tratamento. A Medicina holística vai além da cura do corpo para o reconhecimento do potencial de crescimento de cada um e envolve comprometimento do profissional de saúde em apoiar tal evolução de todas as formas possíveis. A Medicina holística nada mais é do que reclamar a totalidade como objetivo primeiro da saúde (REMEN, 2008). 45 10.4 NOVOS PARIDIGMAS (FÍSICA E SAÚDE) Goswami (2006) define: 1) Medicina convencional (alopatia) - baseada na física Newtoniana. Segundo essa metafísica tudo é feito de matéria e de seus correlatos, a energia e os campos de força. Todos os fenômenos (inclusive o que chamamos de energia mental e mesmo o espírito, são originados de partículas elementares e de suas interações num nível submicroscópico), ou seja, existiria uma causação ascendente (partículas átomos moléculas células cérebro consciência). Assim, doença é causada por agente externo ou disfunção de órgão (mecânica). O tratamento, a cura é feita por remédios, cirurgias, radiação. 2) Medicina Mente-Corpo: tem como premissa que a doença se deve a um problema mental, como por exemplo estresse mental. A cura consiste em corrigir o problema com a mente para que esta então restabeleça a fisiologia. 3) Medicina Chinesa e Ayurvérdica: baseia-se na idéia que a força vital, não-física, chamada energia sútil pranachi, é o agente da cura e seu desequilíbrio gera doenças. 4) Cura espiritual – Pode ocorrer pela fé, oração, xamânica, intuitiva - é a idéia de um espírito (Deus) não-físico que é o agente de cura em todos os casos de cura espiritual. Assim, a questão é: como construir um paradigma inclusivo, como reunir filosofias contraditórias? Precisamos de uma filosofia inclusiva, onde além de técnicas e métodos de tratamentos integrados, haja uma base teórica, filosófica que as incluam. Segundo Goswami (2006), uma metafísica baseada na consciência nesta era científica é dádiva da física quântica. Nessa física, o que normalmente percebemos como “coisas” não é visto como coisas, mas como possibilidades à disposição da escolha da consciência. Essa idéia sugere, por si só a força de integrar todas as diferentes filosofias que dão sustentação às diversas correntes da medicina e tem a potencialidade de validar a sua busca pessoal de cura e de lhe indicar o modo de encontrá-la (GOSWAMI, 2006). Este autor ainda propõe, basicamente, através de conceitos da física quântica como causação descendente, não-localidade e descontinuidade, que a realidade possui vários níveis (físico, sutil, mental, intuitivo e beatitude) e que o colapso de ondas de possibilidades se dá de forma descendente levando as manifestações em suas matrizes e formas (físicas, mentais, sutis e outras), ou seja, a realidade que vivemos e percebemos é uma escolha da consciência. Com sua teoria, então, físico e mental são manifestações diferentes de uma mesma onda de possibilidade, como matéria-energia (elétron-partícula-onda). Isto explicaria os 46 fenômenos de cura física, mental, sutil e espiritual, unindo-as através dessa interpretação de física quântica (causação descendente)(CURTIS et al.,2004). 10.5 ESPIRITUALIDADE E MEDITAÇÃO Embora associada a religiões e filosofias, as práticas meditativas têm se tornado de interesse da ciência, por sua neutralidade e dissociação com a religião, e também por seus efeitos/benefícios sobre a saúde física e mental, contribuindo para o desenvolvimento de qualidades espirituais como introspecção, equanimidade ao lidar com emoções, estímulos, mudança de comportamento, maior senso de si e da realidade, aumento da compaixão, sabedoria e sentimento de integração com a vida (ARIAS et al., 2006). Dessa forma é uma prática que respeita a individualidade, a necessidade e liberdade de cada pessoa, que através da vivência/experiência pessoal vai encontrando suas próprias respostas aos desafios e às questões pessoais, além dos benefícios físicos e mentais almejados, como o equilíbrio emocional. 47 12 CONCLUSÃO O avanço espantoso dos recursos técnicos na área da medicina, mesmo permitindo diagnóstico mais rápido e mais seguro, não vem acompanhado de satisfação correspondente dos usuários. É neste contexto eis que surge a meditação e as outras terapias alternativas e complementares, cada vez mais procuradas por seus benefícios e por possuir uma abordagem mais holística da qual carece o sistema convencional; além de dedicar mais tempo ao paciente por parte de seus profissionais. Neste trabalho verificou-se que a meditação já possui evidências suficientes para ser integrada como recurso terapêutico adjunto à medicina convencional, apenas falta mais conhecimento/esclarecimento científico para definirmos sua aplicação médica. Além dos benefícios terapêuticos também se conclui que a integração de técnicas como a meditação e a medicina convencional só vem enriquecer a profissão, o paciente e o sistema de saúde, permitindo recriar um modelo médico mais voltado para a abordagem total do paciente (holística) e a promoção de saúde e de qualidade de vida. Ainda nos países de alto desenvolvimento, em que serviços médicos de inegável qualidade foram estendidos a toda a população, os inquéritos de opinião revelam insatisfação crescente. Os pacientes se queixam de receber pouco tempo dos médicos. O Japão tem, hoje, a expectativa mais alta do mundo, isso atesta a eficiência de um sistema de saúde bastante sofisticado, embora não custe tão caro ao país. Uma pesquisa realizada em 1990 revelou que apenas 12% dos japoneses estão realmente satisfeitos com os serviços de saúde que recebem (NUNES FILHO; BUENO; NARDI, 1996). A insuficiência na formação psicológica dos médicos costuma ser dramaticamente sentida pelos pacientes. É certo que os grandes médicos de todos os tempos tinham sensibilidade inata para lidar com problemas psicológicos. O prestígio do “médico da família” devia-se, naturalmente, ao conhecimento mais amplo da ambiência? social e psicológica de cada cliente. Isso permitia uma visão mais profunda e mais atual de todas as crises que envolviam as pessoas nos momentos de luto, alegria, problemas materiais ou conflitos familiares. A complexidade cada vez maior dos conhecimentos médicos tornou obrigatória a especialização. A pessoa foi se dividindo em partes de um organismo a ser reparado. Mais que isso, o espaço da medicina ficou reduzido apenas ao corpo do homem. Assim, os sentimentos e as emoções humanas deixaram de ser consideradas; nem se cogita o espaço econômico e sócio-cultural (NUNES FILHO; BUENO; NARDI, 1996). 48 Acirra-se a luta entre os médicos do corpo e os médicos dos sentimentos e emoções. Costuma faltar a cada um dos grupos a humildade necessária para reconhecer a complexidade fundamental do ser humano, que apenas permite a cada um de nós uma aproximação maior de um dos aspectos e não do todo. A arrogância implícita em cada uma dessas posições torna impossível diálogo cada vez mais necessário (NUNES FILHO; BUENO; NARDI, 1996). Os médicos, em sua grande maioria, orientam-se para centrar no biológico o interesse quase exclusivo de sua atividade. A filosofia de ensino em medicina privilegia muito essa orientação (NUNES FILHO; BUENO; NARDI, 1996). Enquanto estamos sabendo cada vez mais de partes, cuidamos cada vez menos do todo. É essencial, por isso, refletir sobre o sentido geral da atuação médica, questionando sempre o que fazemos e como fazemos (NUNES FILHO; BUENO; NARDI, 1996). 49 13 REFERÊNCIAS ABNT. Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 10719. Relatórios técnicocientíficos: apresentação. Rio de Janeiro, 1989. _____. NBR 6027: Sumários. Apresentação. Rio de Janeiro, 1989. _____. NBR 6028: Resumos: Apresentação. Rio de Janeiro, 1990. _____. NBR 14724: Trabalhos acadêmicos. Apresentação. Rio de Janeiro, 2006. _____. NBR 6023: Referências: Informação e documentação: apresentação. Rio de Janeiro, 2002b. _____. NBR 10520: Informação e documentação: citações em documentos: apresentação. Rio de Janeiro, 2002. ADELMAN, E.M. Mind-body intelligence: a new perspective integrating Eastern and Western healing traditions. Holistic Nursing Practice, v. 20, n. 3, p. 147-151, 2006. AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION,1994. Diagnostic and statistical manual of mental disorders (4th edition). 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