Importância do diagnóstico precoce e condutas terapêuticas no cuidado básico de saúde em pacientes hipertensos Andréa Roledo Cardiologista SES/MT Cuiabá,19 de maio de 2016. UFMT Importância do diagnóstico precoce e condutas terapêuticas no cuidado básico de saúde em pacientes hipertensos DEFINIÇÃO A hipertensão arterial sistêmica (HAS) é uma condição clínica multifatorial caracterizada por níveis elevados e sustentados de pressão arterial – PA (PA ≥140 x 90mmHg). Associase,frequentemente, às alterações funcionais e/ou estruturais dos órgãos-alvo (coração, encéfalo, rins e vasos sanguíneos) e às alterações metabólicas, com aumento do risco de eventos cardiovasculares fatais e não fatais (SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA, 2010). Importância do diagnóstico precoce e condutas terapêuticas no cuidado básico de saúde em pacientes hipertensos PANORAMA DA HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTEMICA NO BRASIL A HAS é um grave problema de saúde pública no Brasil e no mundo. Sua prevalência no Brasil varia entre 22% e 44% para adultos (32% em média), chegando a mais de 50% para indivíduos com 60 a 69 anos e 75% em indivíduos com mais de 70 anos (SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA, 2010). A HAS tem alta prevalência e baixas taxas de controle. A mortalidade por doença cardiovascular (DCV) aumenta progressivamente com a elevação da PA a partir de 115/75 mmHg de forma linear, contínua e independente (SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA, 2010). Em 2001, cerca de 7,6 milhões de mortes no mundo foram atribuídas à elevação da PA (54% por acidente vascular encefálico e 47% por doença isquêmica do coração). No Brasil, a prevalência média de HAS autorreferida na população acima de 18 anos, segundo a Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel – 2011), é de 22,7% Importância do diagnóstico precoce e condutas terapêuticas no cuidado básico de saúde em pacientes hipertensos Taxas de mortalidade por DCV e suas diferentes causas no Brasil, em 2007. AVE - Acidente Vascular Encefálico; DIC - Doença Isquêmica do Coração; HAS - Hipertensão Arterial Sistêmica. Importância do diagnóstico precoce e condutas terapêuticas no cuidado básico de saúde em pacientes hipertensos O PAPEL DA REDE DE ATENÇÃO BÁSICA NO DIAGNOSTICO E TRATAMENTO DA HAS Nesse contexto, entende-se que nos serviços de AB um dos problemas de saúde mais comuns que as equipes de Saúde enfrentam é a HAS e que existem dificuldades em realizar o diagnóstico precoce, o tratamento e o controle dos níveis pressóricos dos usuários. Os profissionais da AB têm importância primordial nas estratégias de prevenção, diagnóstico, monitorização e controle da hipertensão arterial. Devem também, ter sempre em foco o princípio fundamental da prática centrada na pessoa e, consequentemente, envolver usuários e cuidadores, em nível individual e coletivo, na definição e implementação de estratégias de controle à hipertensão. Importância do diagnóstico precoce e condutas terapêuticas no cuidado básico de saúde em pacientes hipertensos RASTREAMENTO Todo adulto com 18 anos ou mais de idade, quando vier à Unidade Básica de Saúde (UBS) para consulta, atividades educativas, procedimentos, entre outros, e não tiver registro no prontuário de ao menos uma verificação da PA nos últimos dois anos, deverá têla verificada e registrada. [Grau de Recomendação A]. Importância do diagnóstico precoce e condutas terapêuticas no cuidado básico de saúde em pacientes hipertensos DIAGNÓSTICO O diagnóstico da HAS consiste na média aritmética da PA maior ou igual a 140/90mmHg, verificada em pelo menos três dias diferentes com intervalo mínimo de uma semana entre as medidas, ou seja, soma-se a média das medidas do primeiro dia mais as duas medidas subsequentes e divide-se por três. Na suspeita de Hipertensão do Avental Branco (HAB) ou Hipertensão Mascarada (HM), sugerida pelas medidas da Ampa, recomenda-se a realização de Monitorização Ambulatorial da Pressão Arterial (Mapa) ou Monitorização Residencial de Pressão Arterial (MRPA), para confirmar ou excluir o diagnóstico Importância do diagnóstico precoce e condutas terapêuticas no cuidado básico de saúde em pacientes hipertensos Condições classificatórias da pressão arterial considerando a aferição em consultório e fora de consultório Importância do diagnóstico precoce e condutas terapêuticas no cuidado básico de saúde em pacientes hipertensos Classificação da pressão arterial de acordo com a medida casual no consultório (> 18 anos) Classificação Pressão sistólica (mmHg) (mmHg) • Ótima < 120 • Normal < 130 • Limítrofe* 130–139 • HAS estágio 1 140–159 • HAS estágio 2 160–179 • HAS estágio 3 ≥ 180 • Hipertensão sistólica isolada ≥ 140 • • Pressão diastólica < 80 < 85 85–89 90–99 100–109 ≥ 110 < 90 Quando as pressões sistólica e diastólica situam-se em categorias diferentes, a maior deve ser utilizada para classificação da pressão arterial. * Pressão normal-alta ou pré-hipertensão são termos que se equivalem na literatura. Importância do diagnóstico precoce e condutas terapêuticas no cuidado básico de saúde em pacientes hipertensos FATORES DE RISCO PARA HIPERTENSÃO BAIXO RISCO • Tabagismo • Hipertensão • Obesidade • Sedentarismo • Sexo masculino • História familiar de evento cardiovascular prematuro (homens <55 anos e mulheres <65 anos) • Idade >65 anos Importância do diagnóstico precoce e condutas terapêuticas no cuidado básico de saúde em pacientes hipertensos ALTO RISCO • Acidente • • • • • • • • • vascular cerebral (AVC) prévio Infarto agudo do miocárdio (IAM) prévio Lesão periférica – Lesão de órgão-alvo (LOA) Ataque isquêmico transitório (AIT) Hipertrofia de ventrículo esquerdo (HVE) Nefropatia Retinopatia Aneurisma de aorta abdominal Estenose de carótida sintomática Diabetes mellitus Importância do diagnóstico precoce e condutas terapêuticas no cuidado básico de saúde em pacientes hipertensos OBJETIVOS NA AVALIAÇÃO CLÍNICA E LABORATORIAL DO PACIENTE • Confirmar o diagnóstico de HAS por medida da PA • Identificar fatores de risco para doenças cardiovasculares • Pesquisar lesões em órgãos-alvo, clínicas ou subclínicas • Pesquisar presença de outras doenças associadas • Estratificar o risco cardiovascular global • Avaliar indícios do diagnóstico de hipertensão arterial secundária Importância do diagnóstico precoce e condutas terapêuticas no cuidado básico de saúde em pacientes hipertensos Avaliação inicial de rotina para o paciente hipertenso • • • • • Análise de urina (Classe I, Nível C) Potássio plasmático (Classe I, Nível C) Creatinina plasmática (Classe I, Nível B) e estimativa do ritmo de filtração glomerular (Classe I, Nível B) Glicemia de jejum (Classe I, Nível C) Colesterol total, HDL, triglicérides plasmáticos (Classe I, Nível C)* • • Ácido úrico plasmático (Classe I, Nível C) Eletrocardiograma convencional (Classe I, Nível B) * O LDL-C é calculado pela fórmula: LDL-C = colesterol total - (HDL-C + triglicérides/5) (quando a dosagem de triglicérides for abaixo de 400 mg/dl). Importância do diagnóstico precoce e condutas terapêuticas no cuidado básico de saúde em pacientes hipertensos Avaliação complementar para o recomendados e população indicada paciente hipertenso: exames • Radiografia de tórax: recomendada para pacientes com suspeita clínica de insuficiência cardíaca (Classe IIa, Nível C), quando demais exames não estão disponíveis; e para avaliação de acometimento pulmonar e de aorta • Ecocardiograma: hipertensos estágios 1 e 2 sem hipertrofia ventricular esquerda ao ECG, mas com dois ou mais fatores de risco (Classe IIa, Nível C); hipertensos com suspeita clínica de insuficiência cardíaca (Classe I, Nível C) • Microalbuminúria: pacientes hipertensos diabéticos (Classe I, Nível A), hipertensos com síndrome metabólica e hipertensos com dois ou mais fatores de risco (Classe I, Nível C) Importância do diagnóstico precoce e condutas terapêuticas no cuidado básico de saúde em pacientes hipertensos • Ultrassom de carótida: pacientes com sopro carotídeo, com sinais de doença cerebrovascular, ou com doença aterosclerótica em outros territórios (Classe IIa, Nível B) • Teste ergométrico: suspeita de doença coronariana estável, diabetes ou antecedente familiar para doença coronariana em paciente com pressão arterial controlada (Classe IIa, Nível C) • Hemoglobina glicada (Classe IIa, Nível B): na impossibilidade de realizar hemoglobina glicada sugere-se a realizacão do teste oral de tolerância à glicose em pacientes com glicemia de jejum entre 100 e 125 mg/dL (Classe IIa, Nível B) • MAPA, MRPA e medida domiciliar segundo as indicações convencionais para os métodos Importância do diagnóstico precoce e condutas terapêuticas no cuidado básico de saúde em pacientes hipertensos • Outros exames: velocidade de onda de pulso (se disponível)24 (Classe IIb, Nível C) • Investigação de hipertensão secundária, quando indicada pela história, exame físico ou avaliação laboratorial inicial Recomendações para o seguimento: prazos máximos para reavaliação* • Pressão arterial inicial (mmHg)** Sistólica Diastólica • < 130 < 85 Estimular mudanças de estilo de vida Reavaliar em 1 ano • 130–139 85–89 Insistir em mudanças do estilo de vida Reavaliar em 6 meses*** • 140–159 90–99 Considerar MAPA/MRPA Confirmar em 2 meses*** • • 160–179 100–109 Considerar MAPA/MRPA Confirmar em 1 mês*** • ≥ 180 ≥ 110 Seguimento Intervenção medicamentosa imediata ou reavaliar em 1 semana*** * Modificar o esquema de seguimento de acordo com a condição clínica do paciente. ** Se as pressões sistólicas ou diastólicas forem de estágios diferentes, o seguimento recomendado deve ser definido pelo maior nível de pressão. *** Considerar intervenção de acordo com a situação clínica do paciente (fatores de risco maiores, doenças associadas e lesão em órgãos-alvo). DECISÃO TERAPÊUTICA E METAS A decisão terapêutica deve ser baseada no risco cardiovascular considerando-se a presença de fatores de risco, lesão em órgão-alvo e/ou doença cardiovascular estabelecida, e não apenas no nível da PA. ABORDAGEM PARA NÍVEIS DE PA ENTRE 130-139/85-89 mmHg • A justificativa para intervenções em pessoas com esses níveis de PA baseia-se no fato de que metade do ônus atribuível ocorre para pressões sistólicas entre 130 e 150 mmHg, isto é, incluindo o comportamento limítrofe de PA (Grau B). • Uma importante consideração a ser feita é que nessa faixa de PA há uma grande parcela de indivíduos com doença cardiovascular e renal estabelecidas, além de boa parte de indivíduos com diabetes, doença renal, múltiplos fatores de risco cardiovascular e síndrome metabólica. DECISÃO TERAPÊUTICA • Categoria de risco Sem risco adicional • Risco adicional baixo • Risco adicional médio, alto e muito alto Tratamento Considerar não-medicamentoso isolado Tratamento não-medicamentoso isolado por até 6 meses. Se não atingir a meta, associar tratamento medicamentoso Tratamento não-medicamentoso + medicamentoso TRATAMENTO NÃO-MEDICAMENTOSO • O tratamento não medicamentoso é parte fundamental no controle da HAS e de outros fatores de risco para doenças cardiovasculares (DCV), como obesidade e dislipidemia. Esse tratamento envolve mudanças no estilo de vida (MEV) que acompanham o tratamento do paciente por toda a sua vida. • Entre as MEV está a redução no uso de bebidas alcoólicas. O álcool é fator de risco reconhecido para hipertensão arterial e pode dificultar o controle da doença instalada. A redução do consumo de álcool reduz discretamente a pressão arterial, promovendo redução de 3,3mmHg (IC95%1: 2,5 – 4,1mmHg) em pressão sistólica e 2,0mmHg (IC95%: 1,5 – 2,6mmHg) em diastólica [GRADE B] (National Institute for Health and Clinical Excellence, 2011; MOREIRA et al, 1999). TRATAMENTO MEDICAMENTOSO O objetivo primordial do tratamento da hipertensão arterial é a redução da morbidade e da mortalidade cardiovasculares1,2. Assim, os anti-hipertensivos devem não só reduzir a pressão arterial, mas também os eventos cardiovasculares fatais e não-fatais, e, se possível, a taxa de mortalidade. As evidências provenientes de estudos de desfechos clinicamente relevantes, com duração relativamente curta, de três a quatro anos, demonstram redução de morbidade e mortalidade em estudos com diuréticos3–6 (A), betabloqueadores3,4,7,8 (A), inibidores da enzima conversora da angiotensina (IECA)6,9–13 (A), bloqueadores do receptor AT1 da angiotensina (BRA II)14–20 (A) e com antagonistas dos canais de cálcio (ACC)6,9,13,21–25 (A), embora a maioria dos estudos utilizem, no final, associação de anti-hipertensivos. (VI DIRETRIZES BRASILEIRAS DE HIPERTENSÃO, SBC) CLASSES DE ANTI-HIPERTENSIVOS DISPONÍVEIS PARA USO CLÍNICO Diuréticos Inibidores adrenérgicos Ação central – agonistas alfa-2 centrais Betabloqueadores – bloqueadores beta-adrenérgicos Alfabloqueadores – bloqueadores alfa-1 adrenérgicos Vasodilatadores diretos Bloqueadores dos canais de cálcio Inibidores da enzima conversora da angiotensina Bloqueadores do receptor AT1 da angiotensina II Inibidor direto da renina INDICAÇÕES DE CLASSE MEDICAMENTOSA Insuficiência cardíaca Diuréticos, betabloqueadores, IECA, BRA, antagonistas de aldosterona. Pós-infarto do miocárdio IECA, antagonistas da aldosterona. Alto risco para doença coronariana IECA, Betabloqueadores, inibidores da enzima conversora da angiotensina, Bloqueadores dos canais de cálcio. Diabetes IECA, BRA , bloqueadores dos canais de cálcio. Doença renal crônica IECA, BRA Prevenção da recorrência de acidente vascular encefálico (AVE) Diurético, IECA Hipertensão sistólica isolada em idosos Diuréticos (preferencialmente) ou bloqueadores dos canais de cálcio. Fonte: (Adaptado de GUSSO, G.; LOPES, J. M. C., 2012). ESQUEMAS TERAPÊUTICOS • Monoterapia A monoterapia pode ser a estratégia anti-hipertensiva inicial para pacientes com hipertensão arterial estágio 1, e com risco cardiovascular baixo a moderado. Com base nestes critérios, as classes de anti-hipertensivos atualmente consideradas preferenciais para o controle da pressão arterial em monoterapia inicial são: • diuréticos (A); • betabloqueadores (A) • bloqueadores dos canais de cálcio (A); • inibidores da ECA(A); • bloqueadores do receptor AT1 (A). Importância do diagnóstico precoce e condutas terapêuticas no cuidado básico de saúde em pacientes hipertensos SITUAÇÕES ESPECIAIS URGENCIA E EMERGÊNCIA HIPERTENSIVA NA UBS REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS VI Diretrizes Brasileiras de Hipertensão (SBC) Cadernos de Atenção Básica – Estratégias Para o Cuidado da Pessoa com Doença Crônica – Hipertensão Arterial Sistêmica TERAPÊUTICA ANTI-HIPERTENSIVA COMBINADA PODE SER BENÉFICA PARA PACIENTES COM CARACTERÍSTICAS peculiares: • de alto e muito alto risco cardiovascular (A); • diabéticos (A); • com doença renal crônica, mesmo que em fase incipiente (A); • em prevenção primária (B) e secundária (A) de acidente vascular encefálico, há ## Há clara tendência atual para a introdução mais precoce de terapêutica combinada de anti-hipertensivos, como primeira medida medicamentosa, sobretudo nos pacientes com hipertensão em estágios 2 e 3 e para aqueles com hipertensão arterial estágio 1, mas com risco cardiovascular alto e muito alto. 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