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EaD
UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL – UNIJUÍ
EC ONOMIA
VICE-REITORIA DE GRADUAÇÃO – VRG
COORDENADORIA DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA – CEaD
Coleção Educação a Distância
Série Livro-Texto
José Dalmo Silva de Souza
Marlene Dal Ri
ECONOMIA
Ijuí, Rio Grande do Sul, Brasil
2012
1
EaD

2012, Editora Unijuí
Rua do Comércio, 1364
98700-000 - Ijuí - RS - Brasil
Fone: (0__55) 3332-0217
Fax: (0__55) 3332-0216
E-mail: [email protected]
www.editoraunijui.com.br
José Dalmo Silva de Souza – Marlene Dal Ri
Editor: Gilmar Antonio Bedin
Editor-adjunto: Joel Corso
Capa: Elias Ricardo Schüssler
Designer Educacional: Jociane Dal Molin Berbaum
Responsabilidade Editorial, Gráfica e Administrativa:
Editora Unijuí da Universidade Regional do Noroeste
do Estado do Rio Grande do Sul (Unijuí; Ijuí, RS, Brasil)
Catalogação na Publicação:
Biblioteca Universitária Mario Osorio Marques – Unijuí
S729e
Souza, José Dalmo Silva de.
Economia / José Dalmo Silva de Souza, Marlene Dal
Ri. – Ijuí : Ed. Unijuí, 2012. – 160 p. – (Coleção educação
a distância. Série livro-texto).
ISBN 978-85-419-0026-3
1. Economia. 2. Economia moderna. 3. Economia - Ensino. I. Dal Ri, Marlene. II. Título. III. Série.
CDU : 33
330.1
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EC ONOMIA
Sumário
CONHECENDO OS PROFESSORES ........................................................................................5
APRESENTAÇÃO ...........................................................................................................................7
INTRODUÇÃO ................................................................................................................................9
UNIDADE 1 – INTRODUÇÃO À ECONOMIA ...................................................................... 11
Seção 1.1 – O Que é a Vida Econômica ................................................................................... 11
Seção 1.2 – Definições/Conceitos .............................................................................................. 16
Seção 1.3 – Algumas Divisões e Classificações da Economia ............................................... 18
UNIDADE 2 – A MICROECONOMIA E O COMEÇO DE TUDO:
VAMOS POR PARTES! ..................................................................................... 21
Seção 2.1 – A Lógica da Microeconomia ................................................................................. 21
Seção 2.2 – Estruturas de Mercado .......................................................................................... 26
UNIDADE 3 – A CONCORRÊNCIA PURA E O MUNDO DO DEMANDANTE .............. 35
Seção 3.1 – A Economia de Concorrência Pura/Perfeita ....................................................... 36
Seção 3.2 – Dois Casos Especiais .............................................................................................. 40
Seção 3.3 – Elasticidades ............................................................................................................ 44
Seção 3.4 – Efeitos Renda e Substituição ................................................................................ 51
Seção 3.5 – Inclinação da Curva de Demanda ....................................................................... 52
UNIDADE 4 – CONCORRÊNCIA PURA E O MUNDO DO OFERTANTE ....................... 55
Seção 4.1 – Curva de Oferta ....................................................................................................... 55
Seção 4.2 – A Função Produção ................................................................................................ 59
Seção 4.3 – A Função Custos ..................................................................................................... 63
UNIDADE 5 – TUDO JUNTO DE UMA VEZ, AGORA:
A DETERMINAÇÃO DO PREÇO DE MERCADO ...................................... 73
Seção 5.1 – Equilíbrio Microeconômico e Mecanismo de Mercado .................................... 73
Seção 5.2 – Lucro Econômico, Lucro Contábil e Tamanho da Indústria:
uma discussão necessária ..................................................................................... 77
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José Dalmo Silva de Souza – Marlene Dal Ri
UNIDADE 6 – A MACROECONOMIA E O COMEÇO DE TUDO:
VAMOS POR PARTES! ..................................................................................... 83
Seção 6.1 – Definições, Conceitos e Escopo ............................................................................ 83
Seção 6.2 – Noções de Contabilidade Social .......................................................................... 92
UNIDADE 7 – ERA UMA VEZ, DUAS GAROTAS: YEDA E SUA FILHA CIDA ............. 101
Seção 7.1 – Identidade Básica da Macroeconomia .............................................................. 101
Seção 7.2 – Equilíbrio Macroeconômico ................................................................................ 102
UNIDADE 8 – CONDUZINDO MS... YEDA! ....................................................................... 119
Seção8.1 – Papel do Governo e Funções do Estado na Economia ..................................... 119
Seção8.2 – Determinação Normativa do Nível de Equilíbrio do Produto Agregado ....... 124
UNIDADE 9 – TUDO JUNTO DE UMA VEZ, AGORA:
O CONTROLE E O COMANDO DA ECONOMIA MODERNA ............. 137
Seção 9.1 – Políticas Macroeconômicas Discricionárias ..................................................... 137
Seção 9.2 – Política Monetária ................................................................................................ 140
UMA ÚLTIMA PALAVRA À GUISA DE CONCLUSÃO ....................................................... 157
REFERÊNCIAS .......................................................................................................................... 159
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Conhecendo os Professores
EC ONOMIA
José Dalmo Silva de Souza
Nascido na capital do Estado de São Paulo
e radicalizado gaúcho, reside em Ijuí desde 1995.
Economista formado pela Universidade
Mackenzie, fez Mestrado na área de Economia no
Programa de Pós-Graduação em Integração da
América Latina da Universidade de São Paulo –
Prolam/USP com bolsa The Ryoichi Sasakawa
Young Leaders Fellowship Fund – Sylff.
Entre seus estudos, dedica-se à Economia, mas apenas para
tentar entender como o mundo funciona. Já descobriu algumas coisas, dentre elas, que no mundo não há somente coisas do mundo!
Casado com a Lucia com quem – além de compartilhar a foto
– namora há 23 anos, é pai do João Paulo (7 anos) e da Alice (5
anos), dois ijuienses e da Clarissa uma paulistana de... (não se
deve dizer a idade de uma dama, mas é verdade que tem mais idade do que o rostinho de adolescente revela...).
É conhecido como um economista que fala coisas que se entende e recebe isto como um elogio...
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José Dalmo Silva de Souza – Marlene Dal Ri
Marlene Dal Ri
Nasci em Arroio do Tigre/RS na década de 50, uma cidade
bem pequena, aliás naquela época era chamada Vila Arroio do Tigre e pertencia a Sobradinho. Sou filha de agricultores e somos em
4 irmãos.
Fiz o primeiro grau na cidade onde nasci e o Segundo Grau
– Técnico em Contabilidade – em Sobradinho. Cursei o nível superior primeiramente em Passo Fundo, concluindo o curso superior
em Economia em Cruz Alta. Um ano após, como já era professora
do Ensino Médio, fiz a complementação pedagógica em nível superior em Santa Maria, na UFSM, e com isso fui credenciada pelo
MEC com registro de profe ssora de Estatística, o que me
oportunizou lecionar essa disciplina, porém, sempre gostei muito
da área em que me formei: Economia.
Após concluir a Licenciatura, sempre busquei estar em constante atualização. Logo casei e fui residir em Uruguaiana, onde atuei
como professora universitária de Estatística, Matemática Financeira e Economia na PUC/RS, e nesse período fiz a Pós-Graduação em
Política e Programação Econômica na PUC, em Porto Alegre.
Dos seis anos que lá morei tenho gratas recordações dos colegas e alunos. Em 1985 vim morar em Ijuí/RS e continuei minha
atividade profissional na Unijuí.
Na busca de atualização dos conhecimentos, no início de
1990 fiz outra Pós-Graduação, em Economia Monetária, na Fundação de Economia, em Santa Maria. Algum tempo depois e após
meus três filhos estarem crescidinhos, fui fazer o Mestrado em Engenharia da Produção, na UFSC, no qual tive o privilégio de ter
como co-orientador o professor doutor Martinho Kelm, que na
é poca e stava te rmi nando o Doutorado na UF SC, e como
orientadora a professora doutora Aline França de Abreu (Ph. D).
Nestes últimos dez anos, sou Representante do Conselho
Regional de Economia do RGS na região, e também fui avaliadora
dos cursos de Ciências Econômica pelo Inep/MEC.
Morando há tantos anos em Ijuí, faço dela a minha cidade,
embora não esqueça as minhas raízes, e da Unijuí a minha morada profissional.
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EaD
Apresentação
EC ONOMIA
“Não vejo por que ensinar uma Lógica tão superada!” Minha resposta à objeção colocada por
um colega, emérito professor universitário, foi ad hominem: “mas, se você mesmo a está, agora,
utilizando...!” Com efeito, considerando que o colega se referia à Lógica Clássica, seu argumento pode ser assim traduzido: a Lógica Clássica não deve ser ensinada porque está superada. Ou,
desenvolvendo o argumento: O que está superado não deve ser ensinado. Ora, a Lógica Clássica
está superada; logo, não deve ser ensinada (Roque Lauschner na Introdução de sua obra Lógica
Formal – técnica de desenvolvimento de raciocínio (Editora Sulina, 1984).
Os alunos dizem “Não gosto de Economia. Não tenho tempo para isso. Preciso estudar as matérias do meu curso”. Assim, pressionam as escolas quanto à quantidade limitada
de matérias que devem conter os seus cursos para que “economizem” carga horária cortando conteúdos de Economia! E isso parece tão natural, pois, se os alunos não querem (porque não gostam... porque não veem necessidade...), enfim, se os alunos não têm interesse,
por que afinal oferecer disciplinas de Economia no curso deles? Só para “preencher espaço”
valioso com coisa secundária?
Em todos esses casos, decisões importantes estão sendo tomadas desconsiderando-se
a contribuição que a ciência já disponibilizou para o ser humano. A ciência que ensina a
tomar melhores decisões é deixada de lado por quem a ignora e com isso deixa de ser ensinada, aprendida e apropriada por uma considerável parcela da população da Academia.
Pois é disso que se trata:
Os alunos dizem que o tempo é um recurso muito importante para se “gastar à toa” e
poderia ser usado para estudar matérias mais específicas do seu curso; dizem também que
cada disciplina “custa dinheiro” e, por isso, afeta o orçamento. E não percebem que, mesmo
antes de estudar seu curso específico, já estão usando Economia. Nem percebem que alocação
eficiente de recursos – que é do que efetivamente estão tratando ou tentando tratar – é
justamente um ponto essencial no estudo da Economia!. Os alunos “acham” que depois
que aprenderem sua profissão, saber ou não Economia não fará diferença...
Ao dizerem que a carga horária do curso poderia ser mais bem aproveitada (otimizada
é a palavra da Economia!) cortando-se disciplinas de Economia estão esgrimindo argumentos técnicos de Economia – alocação eficiente de recursos – tentando “qualificar ” (legitimar?) suas decisões... e quando cogitam no não oferecimento (ofertar é palavra da Economia!) de um componente curricular de Economia porque não se tem interesse, na verdade
estão reivindicando legitimação na existência do mecanismo de mercado (Oferta e Demanda) e mais, na validade do que Keynes ensinou ao refutar a Lei de Say: a oferta é definida em
função da demanda, ou seja, se não há demanda, o produto não será ofertado.
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EaD
José Dalmo Silva de Souza – Marlene Dal Ri
Enfim, é lamentável ter de reconhecer que a Lógica está muito bem acompanhada pela
Economia em seu exílio para fora do que as pessoas (os estudantes, entre eles os universitários!!) têm de pensar. Em um mundo econômico e conformado pela lógica, as pessoas estão
sendo preparadas para tomar decisões que moldarão suas ações sem conhecimento do ambiente (que é econômico) e sem preparo no uso da lógica, seu principal instrumental para o
raciocínio!
Embora isso seja realmente preocupante, infelizmente temos de reconhecer que parte
da responsabilidade (culpa?) cabe à Economia, ou antes – e melhor – ao ensino da Economia: os economistas constatam (note que eles não preconizam) “se não existe demanda,
não existe oferta” e estão certos quanto a produtos (bens e serviços) tomados por si mesmos
e em um contexto de produção voltada para a exploração das necessidades. A simples existência da necessidade, no entanto, deveria fazer agir aqueles que têm responsabilidade quanto
à sociedade: economia (e o mesmo se pode dizer da lógica) é necessária e se não há demanda específica, ainda assim não quer dizer que não deva ser ofertada.
A educação é rica nesse tipo de exemplo: países que não têm dinheiro para investir em
educação; populações muito ocupadas sobrevivendo para buscar educação; governos que
não têm interesse em elevar o nível de educação de suas respectivas populações... sem demanda, sem oferta... mas com uma imensa necessidade!
Esse componente curricular, por fim, talvez trate disso: uma necessidade imensa com
pouca demanda. Como dizem aqui no Sul, porém, se “a necessidade faz o machado”, então,
mãos à obra!
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EaD
Introdução
EC ONOMIA
A ciência se atribui as funções de descrever e explicar a realidade. Assim, uma Graduação em dada área da Ciência prepara o estudante para não só descrever, mas também
explicar porque a realidade é de tal forma, ou seja, dizer como a realidade é e como funciona
para que seja dessa determinada forma que se apresenta.
Graduação em ciência, no entanto, é uma coisa e um componente curricular ou disciplina é outra bem diferente. Em uma disciplina é preciso selecionar de modo muito mais
premido por urgências e importâncias quais tópicos serão abordados e, dentre estes, quais
aspectos serão somente “descritos” e quais serão “explicados” no sentido de se descer ao
mecanismo ou dinâmica de funcionamento (a Economia deve muito à Física clássica e suas
ideias mecânicas, para o bem e para o mal...).
Assim, não se pode “só falar de economia” de modo que ao final do período letivo não
se aprenda um mínimo sequer de como funciona o sistema – variáveis e cadeia de causas e
efeitos e nem tampouco deve-se enveredar por tal caminho de relações dinâmicas e, esgotados os recursos – tempo e número de páginas no nosso caso em particular – não se ter
montado um quadro claro que possibilite abordar a realidade com algum instrumental básico e uma suficiente visão da realidade. Sabendo-se para onde ir e partindo-se de uma base
relativamente sólida, pode-se aprofundar e refinar o conhecimento com estudos posteriores.
Embora se possa culpar os economistas pelo uso excessivo do “economês”, há que se
caçar resquícios de responsabilidade também em todos e cada um que, não sendo economistas, todavia não enxergam e nem querem enxergar a necessidade de se entender alguma
coisa de Economia.
Cada ciência, ironicamente, desenvolveu seu próprio vocabulário específico e a linguagem simbólica é, inclusive, um traço característico de cada área científica do conhecimento, ou seja, cada ciência tem sua própria forma de se expressar. Trata-se de conceitos,
definições e significados, as variáveis que pertencem à teoria.
Os economistas não estão imunes a esta tendência e nem estão isentos de responsabilidade. O economês tem sido usado não só para não explicar, sonegar informações e mesmo
confundir (certos depoimentos de técnicos do governo chegam a ser risíveis...), mas também
para encobrir a ignorância econômica perante plateias desatentas e ouvintes incautos. A
cura para este estado de coisas não passa por eliminar o economês – e tampouco os economistas!! – mas sim aumentar a familiaridade com os termos e conceitos da Economia. E isso
é parte de nossa missão aqui neste texto, nesta disciplina.
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EaD
José Dalmo Silva de Souza – Marlene Dal Ri
Com isso em mente foi especialmente elaborada a presente obra para servir de introdução ao estudo de Economia por interessados não economistas. As abordagens convencionais de micro e macroeconomia utilizam respectivamente a visão de cálculo marginal e
sistema IS-LM. Não será esse o nosso caso aqui.
Neste sentido é construída uma abordagem intuitiva do mundo econômico e aplicadas as explicações que a ciência proporciona. A Matemática não é deixada de lado – isso é
impossível e, além disso, indesejável – mas evitou-se o uso excessivo de demonstrações algébricas e as operações aritméticas explícitas reduziram-se a umas poucas somas e subtrações
de números inteiros.
Deu-se ênfase às relações lógicas nos encadeamentos de causa-e-efeito e buscou-se
familiarizar o estudante com alguns gráficos muito simples. A linguagem gráfica é básica na
vida acadêmica e não há como fugir disso (e isso nem seria produtivo). Entender minimamente “o segredo” da leitura dos gráficos é já uma grande vitória para a maioria dos estudantes das ciências humanas e sociais e, com a prática, o estudante poderá até consultar
um livro didático sem medo de encontrar gráficos, tabelas e até equações!
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EaD
Unidade 1
EC ONOMIA
INTRODUÇÃO À ECONOMIA
OBJETIVOS DESTA UNIDADE
• Nesta Unidade veremos o que é a vida econômica, ou seja, que aspecto é este da vida do
homem que parece lidar com dinheiro e riquezas, mas que, na essência, trata da manutenção da vida e melhoria das suas condições materiais.
• Dentro desta visão, ampliaremos o foco para percebermos que o conceito de “econômico”
aplica-se a todos os seres vivos e que, no entanto, a economia humana tem lá suas características e especificidades.
• Por fim, entraremos “meio que de resbalo” na economia humana para descortinarmos a
amplitude do estudo que se denomina Ciência Econômica ou Economia. Aí, porém, já é
assunto para a Unidade seguinte.
AS SEÇÕES DESTA UNIDADE
Seção 1.1 – O Que é a Vida Econômica
Seção 1.2 – Definições/Conceitos
Seção 1.3 – Algumas Divisões e Classificações da Economia
Seção 1.1
O Que é a Vida Econômica
Um grande economista disse certa vez que o papel do economista não é só explicar o
mundo econômico às pessoas, mas é, sobretudo, explicar o mundo econômico que existe na
cabeça de cada uma das pessoas.
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José Dalmo Silva de Souza – Marlene Dal Ri
Para dar conta desta formidável tarefa a Ciência Econômica comporta duas partes
principais: a Economia Positiva e a Economia Normativa.
Quadro 1 – Economia Enquanto Ciência
Fonte: Adaptado pelos autores de Rossetti (1985).
A teoria aponta para onde o cientista deve olhar e a ciência, o que ele deve buscar.
Teorias econômicas nos indicam um mundo muito restrito, já com as variáveis que devemos
observar. E devemos buscar descrever e explicar o que vemos, “dentro das regras”. Essa é a
fraqueza e a força desta astúcia humana. Ainda assim, a Ciência e, dentro desta, a Economia, é uma visão fascinante. Uma janela privilegiada para a compreensão da realidade científica humana. A Economia está consolidada; é sistematizada; é complexa; está formalizada; abrange campos diversificados e técnicas múltiplas de investigação, etc., etc.
O economista, assim como todos os demais cientistas convencionais, busca a ordem,
a uniformidade, o padrão na realidade circunjacente. Ele tenta captar a organização da
realidade mediante suas regularidades em uma cadeia de causas e efeitos imediatos.
Como ele faz isso? Principalmente por meio da observação empírica, da lógica na elaboração de explicações e do uso de definições e conceitos (variáveis). Assim, um primeiro
passo para se aproximar do conhecimento econômico é familiarizar-se com as variáveis utilizadas nos raciocínios. É preciso adquirir e desenvolver um vocabulário econômico, ou
seja, dominar minimamente o temido “economês”.
Saber como o economista fala e se expressa é importante e necessário, mas não é
suficiente. Exige-se que se domine também seu modo peculiar de raciocinar: rigidez na
formalização (daí, sobretudo, o uso da Matemática) e, depois, flexibilização na interpretação da realidade empírica (daí o uso da arte da política e da Administração). Definidas e
determinadas as variáveis, vê-se o seu encadeamento lógico na dinâmica do seu contexto
(mediato e/ou imediato) e tiramos a “fotografia” do seu comportamento, o gráfico. Simples,
fácil e rápido... mais ou menos.
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EaD
EC ONOMIA
É comum pensar-se em Economia como sendo uma atividade tipicamente humana. E,
claro, coerentemente, estuda-se justamente esse tipo de Economia.
Economia é o conjunto de relações e inter-relações e seus encadeamentos – alimentação e retroalimentação; iteração, etc. – que conformam a vida como parte de um sistema.
Mais simplesmente, pode-se dizer: o ser vivo tem necessidades individuais e, para supri-las,
retira energia do ambiente. Isso é Economia.
MUNDO BIÓTICO INFRA-HUMANO:
NECESSIDADES
RECURSOS
O ser humano sofisticou e complexificou essa relação e introduziu o conceito de produto. Agora não é mais o recurso que satisfaz a necessidade e, sim o produto.
MUNDO HUMANO:
NECESSIDADES
RECURSOS
PRODUTOS
Esse esquema de coisas também pode ser encontrado no mundo biótico infra-humano, mas nos leva a visualizar melhor mais uma sofisticação humana, a intermediação monetária ou, simplesmente, o uso do dinheiro.
MUNDO HUMANO:
NECESSIDADES
$
RECURSOS
$
PRODUTOS
Se a necessidade de alguém pode ser dita como a falta de algo, o produto é aquela
alguma coisa que satisfaz esse vazio e os recursos são as coisas das quais e com as quais
essa coisa chamada produto é feita.
Desde há muito... (muito mesmo!) que aquele que tem uma necessidade precisa de
dinheiro para adquirir o produto que foi obtido pelo uso de recursos, por sua vez, também
comprados a dinheiro. O dinheiro sempre cumpriu pelo menos a função de facilitar as trocas. Agora tem outras além dessa serventia básica.
No mundo econômico no qual estamos imersos, a lógica da produção de bens e serviços é para a exploração das necessidades daqueles que têm meios de pagar por elas de forma
a premiar o produtor com um certo lucro.
Se se trocar satisfação (das necessidades) por exploração temos uma
boa aproximação do que acontece no sistema...
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EaD
José Dalmo Silva de Souza – Marlene Dal Ri
A bem da verdade, no entanto, embora o ser humano como espécie esteja disposto a
explorar qualquer um – e qualquer espécie, a Economia tem tratado de estudar o mundo
que as pessoas construíram, mas a partir da exploração das necessidades solventes e rentáveis como “botão de inicializar ” a produção.
Mesmo que as necessidades do ser humano possam ser materiais e não materiais e que
dentre as materiais as necessidades possam ser econômicas e não econômicas, a Economia
enquanto ciência aborda somente as necessidades econômicas. Na prática, a Economia
gira em torno de um recorte ainda mais restrito: não se produz para quem tem necessidade
e não tem dinheiro; não se produz para quem tem dinheiro e não tem necessidade; não se
produz para quem tem necessidade e dinheiro, porém não proporciona lucro. A Economia
virou, infelizmente, o estudo excessivo do funcionamento do mercado, ou seja, do capitalismo. Dito de forma diferente, no entanto, ainda assim não existe apenas uma linha de pensamento econômico e a ciência econômica continua tão ou mais relevante hoje que no passado.
No fundo (ou na superfície), todo mundo quer “entender um pouco de Economia”.
Sabendo Economia... ficaria mais fácil viver, ler jornais e revistas, conversar com os colegas...
Estudar Economia é estudar o homem, a sociedade.
Três propensões são particularmente importantes para a Economia. A propensão à
vida social, à especialização do trabalho e ao intercâmbio. O homem produz o seu contexto
e ao mesmo tempo configura-se como um produto de seu meio.
A nossa individualidade e capacidade de sermos livres é formada pelo nosso meio sócio-econômico. O elemento básico na sociedade não é o indivíduo abstrato, mas o indivíduo social, que é
ao mesmo tempo construtivo no interior da sociedade e construído através da sociedade (Hodgson,
1994, p. 70).
O homem, portanto, é um ser social, o que significa dizer que sua natureza o impele a
viver em companhia de seus semelhantes e constituir comunidades.
1
As características inéditas da população humana em
relação às demais populações, bem como as peculiaridades do indivíduo humano quanto a todos os demais
seres vivos, tornam sua existência um fator crítico para
o planeta.
1
Disponível em: <http://luctasocial.blogspot.com.br/2012/02/cupula-dos-povos-economia-verde-levara.html>. Acesso em: 30 jun. 2012.
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EaD
EC ONOMIA
Nestas circunstâncias, a existência de uma ordem social somente torna-se possível, se
houver estabilidade das relações. Neste sentido, surge uma nova questão: ações individuais
que visem ao próprio bem-estar podem ou não se coadunar com o bem-estar dos outros e,
por extensão, do grupo. Há que se criar, portanto, nas sociedades, instrumentos tanto para
se manter a continuidade de relações específicas quanto a própria especificação de certas
relações.
Quando um mínimo de organização é alcançado em uma comunidade se estabelece a
especialização mediante a divisão do trabalho. A divisão na execução do trabalho produtivo
é uma escolha política e, portanto, a resultante de um complexo sistema de forças. Da mesma forma, está ligada também à distribuição e apropriação dos frutos do trabalho. O homem
é um ser político!
2
Aqui convém abordarmos a terceira propensão do ser huma-
no. Para além de viver em sociedade e promover a divisão do trabalho ou especialização, o ser humano apresenta a propensão à
prática da troca.
Para a Economia, o intercâmbio é o ponto central da vida
econômica devido a sua importância fundamental na elevação
do bem-estar ao otimizar a satisfação das necessidades por meio
da contribuição para uma maior disponibilidade de produtos. Para a Economia, uma das
constatações mais importantes é que todos os envolvidos ganham com uma troca voluntária, pois o intercâmbio eleva o bem-estar de ambas as partes. As trocas ou transações definem as diversas estruturas de mercados em uma Economia de mercado, ou seja, o momento
em que as ações individuais imbricam-se na teia de relações coletivas. Keynes (Carvalho,
1999, p. 266), no entanto, prestigiado economista britânico, argumentou que ações no sentido de maximização do bem-estar racionais em âmbito individual podem conduzir a resultados sociais indesejáveis.
As diversas trocas entre os seres humanos, todavia, não se dão em um vácuo
institucional e sim dentro de um arcabouço jurídico-institucional que determina suas regras e garante o cumprimento dos contratos firmados. Coube ao Estado este papel de coordenador do processo e gerente do sistema econômico, o que nos recoloca a questão do
Estado na economia. De qualquer forma, continua acesa a discussão sobre o funcionamento do mercado e o papel intervencionista ou não do Estado na economia. Economia que,
como se vê, reduz-se a mercado. Um mercado cuja alocação ótima de recursos não tem nada
a dizer sobre equidade, justiça ou qualquer outro sentimento.
2
Disponível em: <http://csimplesepuro.blogspot.com.br/2012/04/lei-da-troca.html>. Acesso em: 30 jun. 2012.
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EaD
José Dalmo Silva de Souza – Marlene Dal Ri
Nesta história toda é preciso saber o quê, afinal, interessa abordar e quais recortes
teóricos aplicar. Neste texto as escolhas foram feitas segundo a ementa do curso de Graduação em Administração Unijuí:
A produção de bens e serviços e sua distribuição através de trocas
intermediadas por moeda. Economia Pura. Micro e macroeconomia.
Seção 1.2
Definições/Conceitos
Muitos aspectos da Economia estão secundarizados ou negligenciados (mas não estão proibidos!!) e atualmente estuda-se Economia (para além dos interesses individuais
particulares do cientista) por razões profissionais, para se compreender o processo de crescimento/desenvolvimento e como atingi-lo com intervenção via planejamento ou com liberalismo. Aí entram em cena as doutrinas e suas forças para formar paradigmas que, por sua
vez, educarão gerações e gerações de economistas que influenciarão outros cientistas, os
políticos e os demais agentes sociais.
– É, todo homem, em qualquer época, sempre está
obedecendo a um economista morto!
Longe de ser a “ciência sinistra”, a Economia é a ciência do bem-estar (riqueza) do
homem, o estudo da satisfação das necessidades e da boa administração dos recursos. Aliás,
o vocábulo Economia é de origem grega e é assim composto: oikos, que pode ser entendido
como casa, lar... e nomos, que pode ser entendido como administração ou cuidado.
EEECCCAAAA! Economia é o cuidado da casa?!?!
Estudar tanto para virar um economista doméstico!!!!
Esse termo foi utilizado por Xenofonte (século 4º a.C.) em sua obra “Econômico” e o próprio
Aristóteles (final do século 4 a.C.) também fez o mesmo uso no texto “Econômicos”. Vale observar
que, em realidade, a denominação dessa ciência deveria ser Econômica e não Economia.
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EaD
EC ONOMIA
A-HÁ, taí!!! é por isso que os alunos costumam escrever ECONÔMIA...
Pois bem, é nesse aspecto que hoje chamaríamos (com certa acomodação) de sociedade civil para excluir o setor público, que Xenofonte, Aristóteles e outros gregos usavam
inicialmente o termo Economia (ou mais propriamente, o termo “econômico”).
A Economia admite diversas definições e, ao seu modo, todas são aceitáveis e em todas podem ser apontadas “falhas”. Assim, vejamos apenas algumas das formulações que
tentam definir nossa ciência.
Inicialmente vejamos como Alfred Marshall (1996, p. 77), importante economista do
século 19 (1842-1924) conceituou a Economia:
Economia Política ou Economia, é um estudo da Humanidade nas atividades correntes da vida;
examina a ação individual e social em seus aspectos mais estreitamente ligados à obtenção e ao
uso dos elementos materiais do bem-estar. Assim, de um lado é um estudo da riqueza; e de outro,
e mais importante, uma parte do estudo do homem.
Essa formulação é bastante clara e tem diversos pontos positivos, mas destacaremos
aqui somente a preocupação em salientar a importância do bem-estar material, ou seja, das
condições de vida que dependem de bens e serviços. Isso pode até parecer pouco ou até
insignificante, mas é um erro grave pensar que a Economia trata de tudo que é importante
ao homem. Não. A Economia trata da parte material da vida do homem.
Uma segunda definição muito popularizada é esta:
“Ciência que trata da geração, distribuição e apropriação da riqueza”. Embora mais
vaga, esta definição tem entre seus méritos a marcação de uma ideia importante nesta ciência. Se sabemos como a riqueza é gerada e se entendemos como é distribuída podemos
interferir em sua apropriação. É claro que ela pode ser interpretada de modo estritamente
positivista e, assim, excluir essa vertente intencionalmente intervencionista: sabemos como
a riqueza é gerada, distribuída e apropriada. Pronto. Ou seja, “ponto; deu pras bolinhas” em
bom gauchês.
De qualquer forma essa definição deixa em aberto o que é que se entende como riqueza e, assim, permite que cada um pense o que quiser. Comumente pensa-se em riqueza
financeira (dinheiro!!!) e perde-se o verdadeiro sentido desta ciência. Isso não é “culpa”
desta definição. Ela só induz a isso...
Para nossos propósitos, neste texto utilizaremos a seguinte definição de Ciência Econômica:
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EaD
José Dalmo Silva de Souza – Marlene Dal Ri
Ciência que estuda a satisfação de necessidades (infinitas) a partir do uso de produtos (bens e
serviços) obtidos através da alocação de recursos (forças e materiais) que por sua vez, são finitos,
escassos e se prestam a usos alternativos (adaptado pelos autores de Rossetti, 1985).
Este enunciado é mais “técnico” e realça importantes aspectos que serão desenvolvidos de forma sistemática ao longo de todo o nosso texto. Ele serve como roteiro para o
estudo da Economia e vale a pena ser memorizado para uma melhor aprendizagem da Economia tal como ela é ensinada e aprendida nas escolas desde há muito.3
Seção 1.3
Algumas Divisões e Classificações da Economia
A Ciência Econômica admite algumas divisões. A principal delas é a divisão do campo
da economia em microeconomia e macroeconomia:
Microeconomia: estudo do mundo econômico a partir da perspectiva de seus agentes
(demandante e ofertante) e suas inter-relações tratando da formação dos preços e estruturas
de mercado.
Macroeconomia: estudo do mundo econômico a partir da ótica da dinâmica do sistema a partir de suas variáveis agregadas.
Observe que os prefixos micro e macro não se referem explicitamente a economias
pequenas e economias grandes respectivamente, mas se trata, antes, de formas de como
observar o mundo econômico. Assim, mesmo a Economia dos Estados Unidos (exemplo do
que se “entende por grande Economia”) pode ser vista pela ótica microeconômica se estamos
interessados no comportamento dos agentes do mercado (como funciona a oferta ou a demanda) ou na formação de preço do produto ou ainda nos aspectos da estrutura de mercado
(monopólio, oligopólio, etc.).
Uma outra classificação muito interessante é a que indica que existe Economia nacional (ou domé stica) e E conomi a inte rnacional. Uti li za-se a mi croe conomi a e a
macroeconomia em seus recortes espaciais.
A Economia nacional alude ao estudo da realidade econômica (mundo econômico)
considerando como matriz básica da análise um sistema econômico que coincide como o
Estado nacional, ou, mais simplesmente, um país.
3
Se você se der ao prazer de estudar Lc 12: 29-31 (Bíblia Sagrada. Evangelho de Lucas, capítulo 12, versículos 29 a 31) e contrastar com
a definição anterior verá que o nome correto da Ciência Econômica deveria ser “Ciência do Acréscimo”...
18
EaD
EC ONOMIA
Já a Economia internacional admite como sistema econômico a realidade do conjunto de Estados nacionais que formam a sociedade internacional, incluindo o próprio “paísreferência”.
Uma outra classificação muito importante é Economia Positiva e Economia Normativa.
A ciência que estuda a Economia é a Ciência Econômica. Já vimos que, da forma
como é aprendida (e ensinada) hoje em dia, é mais propriamente o estudo de como a vida
está, ou seja, das condições históricas vigentes dentro da lógica da organização humana.
Essa não é uma falha da Ciência Econômica e sim da ciência. Fazer ciência desde há algum
tempo nada mais é do que buscar as regularidades, a uniformidade, os padrões, enfim, a
ordem subjacente em suas causas e respectivos efeitos imediatos. A Economia faz isso. E
forma economistas para fazerem isso. E – se quiserem – apenas isso. Possibilita, no entanto,
fazer muito mais e talvez seja essa a causa de nossa não extinção em futuro relativamente
próximo: nossa capacidade potencial de explicar e descrever o mundo de maneira melhor do
que fazemos agora!
Afinal, como o economista vê o mundo?
4
As lentes do economista – óculos, binóculos, microscópio
e telescópio – é a Economia enquanto ciência. Existem definições de Economia para todos os gostos. Parece até “amor ” na
literatura.
A Economia não é a arte de administrar a “casa”. Este nunca foi o sentido pretendido, desde os tempos de Xenofonte. A Economia é o estudo da organização humana para
preservação e melhoria das condições materiais nas duas esferas básicas nas quais se divide a organização social humana: a esfera própria de governo e dos assuntos do coletivo,
por um lado e, por outro, a esfera da vida daquele que não está no governo, dos assuntos
particulares.
4
Disponível em: <http://pt.spiderpic.com/stock-photos/123rf/3603604-mulher-natal-segurando-e-olhando-atraves-de-binoculos>. Acesso
em: 30 jun. 2012.
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José Dalmo Silva de Souza – Marlene Dal Ri
SÍNTESE DA UNIDADE 1
Nesta Unidade você pôde compreender que a vida econômica é
complexa e permeia quase toda a existência do ser humano, pois
trata de suas necessidades materiais e sua satisfação... ou não.
Também pôde observar que toda essa problemática é tratada de
modo muito especial pela Ciência Econômica e que essa área do
conhecimento científico se preocupa em descrever e explicar a organização humana em tais aspectos e com isso possibilita ao ser
humano agir de modo mais eficaz na busca por uma melhor qualidade de vida.
Você pôde compreender como o economista descreve e explica a
vida econômica e que isso é importante para compreender a interpretação técnica e política dos economistas e, em nosso caso particular, entender a importância de todos os raciocínios que estão
logo aí nas próximas Unidades.
20
EaD
Unidade 2
EC ONOMIA
A MICROECONOMIA E O COMEÇO DE TUDO:
Vamos Por Partes!
OBJETIVOS DESTA UNIDADE:
• Apresentar o que se entende por microeconomia e quais os comportamentos “ racionais”
de demandantes e ofertantes.
• Apresentar as estruturas de mercado e os conceitos de concorrência e eficiência em Economia.
AS SEÇÕES DESTA UNIDADE
Seção 2.1 – A “Lógica” da Microeconomia
Seção 2.2 – As Estruturas de Mercado
Seção 2.1
A “Lógica” da Microeconomia
Inicialmente devemos “localizar ” a microeconomia dentro da Economia. Podemos
adotar para fins didáticos que a microeconomia é o estudo do mundo econômico a partir da
perspectiva dos agentes econômicos (demandante e ofertante) e suas inter-relações. Disso
resulta que, além de se interessar pelos agentes em si, a microeconomia busca também estudar as consequências das relações entre os agentes, especialmente a formação das diversas
estruturas de mercado e seus respectivos preços.
Podemos estabelecer a seguinte fórmula mnemônica:
Microeconomia agentes econômicosà estruturas de mercado à preços
21
EaD
José Dalmo Silva de Souza – Marlene Dal Ri
Observe o seguinte quadro:
Quadro 1 – Necessidades, Recursos e Produtos
Fonte: Adaptado pelos autores de Rossetti (1985).
O quadro ilustra que o ser humano possui necessidades. Destas, a Economia aborda
as necessidades econômicas, ou seja, aquelas que podem ser satisfeitas por produtos. As
necessidades econômicas são infinitas, ou seja, não somente são incontáveis (ilimitadas)
como também jamais são de modo definitivo e permanente, plenamente saciadas.
Os produtos (de modo muito preliminar) são classificados em bens (produtos tangíveis), serviços (produtos intangíveis) e mistos (um amálgama dos dois tipos). Os produtos
satisfazem as necessidades econômicas e por isso dizemos que têm utilidade.
Observe que os produtos devem ser “fabricados”, ou antes, manufaturados.
É por isso que têm o nome de produtos, pois são produzidos.
Essa “utilidade” é um termo técnico em Economia e não deve ser confundido com a
definição do dicionário de língua portuguesa. Em Economia, utilidade significa “capacidade de satisfazer uma necessidade econômica”.
O pensamento todo torna-se uma “tautologia”, mas o que nos importa é que os produtos têm utilidade e por isso podem satisfazer às necessidades econômicas. Assim, fazemos
duas exclusões importantes:
1 – necessidades não econômicas não são satisfeitas por produtos;
2 – algo que não tenha “utilidade” não é um produto e não satisfaz necessidades econômicas.
22
EaD
EC ONOMIA
Alertamos que, para que os produtos existam, é necessária a preexistência dos recursos, pois o produto é justamente o resultado do processo de produção a partir dos recursos
produtivos.
Vejamos, agora, os recursos (ou fatores) de produção.
As forças e os materiais que são utilizados na fabricação dos produtos são classificados como recursos produtivos. Esses recursos têm certas características:
– são finitos (limitados): ao contrário das necessidades, os recursos têm fim e podem ser
contados. A rigor, devemos pensar que usamos o que existe em nosso planeta e se não
tivermos acesso a outras fontes, esses recursos são “tudo” o que temos;
– são escassos: escassez não é “existir pouco”, de modo absoluto e sim, “existir pouco” de
modo relativo, ou seja, existir, mas não na quantidade suficiente exigida. Devemos notar
que a escassez depende tanto da quantidade que se exige quanto da tecnologia empregada em sua transformação em produto;
1
A escassez é a razão de porque são deno-
minados de recursos econômicos. Desse
modo, como os produtos também são escassos, uma vez que provêm diretamente de recursos escassos, são por essa razão chamados de bens econômicos.
– prestam-se a usos alternativos: os recursos podem ser utilizados para diversos fins, ou seja,
para formarem diversos tipos distintos de produtos, no entanto uma vez destinados
(alocados) à produção de um dado produto, não podem mais ser usados na produção de
outro bem ou serviço.
Observando o Quadro 1 podemos notar algumas especificidades do mundo econômico.
Note que, com recursos finitos, o homem tenta satisfazer necessidades infinitas.
E que, como os recursos prestam-se a usos alternativos e são escassos, o homem deve
escolher quais bens e serviços serão produzidos, ou seja, quais necessidades serão satisfeitas.
1
Disponível em: http://ecourbana.wordpress.com/2008/12/01/escassez-dos-recursos-vai-aumentar-nas-proximas-decadas/. Acesso em:
30 jun. 2012.
23
EaD
José Dalmo Silva de Souza – Marlene Dal Ri
2
Com isso podemos perceber que a Economia fornece informações para
uma melhor administração do mundo econômico, ou seja, de um aspecto
da vida humana que se constitui em uma de suas principais bases, a
existência material e seu grau de satisfação de necessidades.
Além disso, podemos perceber que as pessoas produzem bens e serviços a partir dos fatores
de produção e elas próprias usam estes produtos para a satisfação de suas necessidades.
Com isso torna-se fácil entender porque os economistas enxergam o mundo econômico como uma interação entre dois agentes econômicos, o demandante e o ofertante.
O demandante é aquele que exerce a função demanda, ou seja, está interessado em
obter produtos para satisfazer suas necessidades. Dizemos que sua racionalidade é
maximizar3 sua satisfação.
Satisfação não é faceirice, não. É “matar ” a necessidade. Otimizar a satisfação é,
nesse sentido, elevar ao máximo o bem-estar por meio do consumo de produtos.
Por outro lado, o ofertante é aquele que exerce a função oferta, ou seja, aquela pessoa que
faz a produção de bens e serviços a partir dos recursos (que compra) e espera ganhar dinheiro
com o processo. Dizemos que a racionalidade do agente ofertante é maximizar sua renda.
Observe que a ligação entre o demandante e o ofertante é o Produto (os bens e serviços).
Quadro 2 – Demandantes, ofertantes e produtos
Fonte: Quadro 1
2
Disponível em: <http://www.revistafundacoes.com.br/Categoria/economia/>. Acesso em: 30 jun. 2012.
3
Alternativamente pode-se usar a palavra otimizar. Otimizar é atingir o “melhor” ponto da função. Se a variável é “a favor” dos
interesses do agente, otimizar quer dizer maximizar, ou seja, atingir o ponto máximo. Se a variável considerada é diretamente contrária
aos interesses do agente (mesmo que indiretamente não se revele assim) então sua otimização significa atingir o ponto mínimo. Veja
os exemplos:
a) Otimizar a satisfação é maximizá-la;
b) Otimizar custos é minimizá-los (embora se saiba que sem custos também não existe produção).
24
EaD
EC ONOMIA
Com isso temos um mundo em que as “pessoas” podem assumir duas funções, a de
demandante e a de ofertante, e estas lidam em um mundo “material”.
O demandante (também chamado de comprador e de consumidor) sempre decide pelo
que mais favorece a satisfação de suas necessidades, sem considerações de outras ordens
(moral, espiritual, sentimental...) e por isso, na prática, na economia de mercado contemporânea, só quer saber como obter o máximo de satisfação com a quantidade de dinheiro de
que dispõe para gastar e então sente o drama – ôps, desculpe! – vive o dilema:
mais produtos mais satisfação...
porém...
mais produtos mais gastos,
ou seja, o nível de sua satisfação depende de sua capacidade de comprar produtos e pagar
seus preços. Como se supõe que o demandante consuma otimizadamente, então pressupõese que ele gastará toda a sua renda (seu dinheiro) na compra de produtos, ou seja:
Renda = (preço dos produtos) X (quantidade dos produtos).
Segundo a perspectiva do demandante, uma renda maior ou preços menores elevaria
a quantidade de produtos e aumentaria sua satisfação...
Já o ofertante (também chamado de vendedor e de produtor) sempre decide pelo que
mais favorece a elevação de sua renda, sem considerações de outras ordens (moral, espiritual, sentimental...) e por isso, na prática, na economia de mercado contemporânea, só quer
saber de como obter o máximo de dinheiro (líquido) com todo o processo e vive o dilema:
mais produtos vendidos mais renda auferida...
porém...
mais bens e serviços produzidos mais despesas com a produção.
“É... cada um com seu drama e cada qual com seu talvez...”
Além disso, a renda depende também do preço pelo qual o produto é vendido no mercado (supondo-se que seja vendido!), ou seja:
Renda = (preço do produto é vendido) X (quantidade vendida de produto).
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EaD
José Dalmo Silva de Souza – Marlene Dal Ri
Assim, supondo-se que tudo que seja produzido seja efetivamente vendido, o ofertante
estará preocupado com o preço de mercado, com a quantidade produzida e com os custos da
produção, pois o lucro (dinheiro líquido) é a renda auferida deduzida dos gastos incorridos.
Lucro = Renda – Gastos.
Em outras palavras, o ofertante busca maximizar sua produção e minimizar seus custos. Do seu ponto de vista, tudo que importa é que um preço maior de mercado com a mesma
quantidade vendida/produzida dá mais renda, mas precisa-se observar a relação entre a
quantidade produzida (e o preço ao qual é vendido) e as despesas, pois se estas subirem
desproporcionalmente isso pode comprometer o resultado final da renda líquida...
Seção 2.2
As Estruturas de Mercado
Atualmente entende-se que o preço de um produto no mercado é construído (e mantido ou modificado) por meio da interação das forças de demanda e oferta, ou seja, o mecanismo de mercado. Esse pensamento será gradualmente construído e culminará no conceito de
“equilíbrio econômico”. Vamos por partes, no entanto. Assim, por ora o objetivo não é tanto
explicar a formação do preço de mercado, mas sim descrevê-la. Para tanto comecemos com
algumas noções básicas.
Já podemos notar que o preço é a “expressão monetária do valor do produto” e que
esse mesmo preço surge em função da interação entre ofertante e demandante e ao mesmo
tempo “viabiliza” a transação.
Pois bem, tomado de modo geral, o mercado é definido pela existência da transação,
ou em outras palavras, o mercado é o conjunto de transações (atualizadas e potenciais) de
um produto. Por isso podemos dizer: o mercado de trabalho, o mercado de livros, o mercado
imobiliário...
Agora queremos saber: esse mecanismo de oferta e demanda – forças de mercado – irá
sempre produzir um mesmo “tipo de preço”?
Em outras palavras, queremos saber porque falamos em preços de oligopólio ou monopólio, por exemplo. Qual a diferença ou quais as diferenças que podem surgir da relação
Preço de Mercado = f (Demanda x Oferta)?
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EaD
EC ONOMIA
Sabemos que o demandante quer otimizar sua satisfação e que, para isso, gasta seu
dinheiro da seguinte forma:
Dispêndio do Demandante = Preço x Quantidade
Assim sendo, se dependesse só de sua vontade, o preço praticado seria o menor possível, pois com a mesma renda a quantidade adquirida seria maior.
Já o ofertante quer otimizar renda auferida e esta é calculada como:
Renda do Ofertante = Preço x Quantidade
Se dependesse só de sua vontade, portanto, o preço praticado seria o maior possível,
pois com a mesma quantidade produzida a renda auferida seria maior.
Podemos resumir isso assim:
DD = RO = Preço X Quantidade
Ou seja: os ofertantes ganham, no mercado, aquilo que os demandantes do produto
gastam. O demandante gostaria que o preço fosse o menor possível desde que algum produtor se aventurasse a produzir o bem ou serviço. E o ofertante gostaria que o preço fosse o
mais alto possível, desde que algum comprador se dispusesse a comprar toda a sua produção. De graça, nenhum produtor vai fabricar o produto, pois tem despesas e quer ter lucro.
Extraordinariamente alto o preço, nenhum comprador vai querer comprar o produto, pois
isso afetaria seriamente o seu orçamento...
Se os ofertantes ou os demandantes pudessem fazer prevalecer sua vontade sobre os outros, eles “reinariam” com certeza (lembre-se que estamos falando do homem econômico...).
Podemos facilmente identificar três variáveis que determinam a “intensidade” das forças de mercado:
1 – o número de agentes: no mercado, quanto mais “sozinho” o agente estiver, mais forte
ele será.
2 – o poderio econômico dos agentes: o conjunto de toda e qualquer vantagem que um
agente (ou grupo de agentes) possa utilizar para manipular a estrutura de preços a
favor de seus interesses constitui o que chamamos de poderio econômico.
27
EaD
José Dalmo Silva de Souza – Marlene Dal Ri
3 – o tipo de produto: os produtos podem ser diferenciados (mercado de produto diversificado) ou padronizados (mercado de produto homogêneo).
“O meu produto é diferente! Vem com um monte de ingredientes esquisitos que não
sei muito bem para que servem. Mas os outros não têm nada disso!!!”
As diferentes combinações dessas três categorias são suficientes para garantir que existirão diversas formas de arranjos entre demanda e oferta, em que uma poderá ou não sobrepor-se a outra e isso, em diversos níveis ou graus.
Para nossos propósitos, analisemos somente o primeiro caso: o número de agentes no
mercado.
O número de agentes é o principal critério e é tão importante que determina o nome
das estruturas de mercado.
De modo não exaustivo, vejamos as definições funcionais – ou seja, não definições
formais, mas apenas conceitos mais “operacionais” – das principais estruturas de mercado:
Monopólio: estrutura de mercado na qual existe um único ofertante;
Oligopólio: estrutura de mercado na qual existem poucos/diversos/vários vendedores;
Monopsônio: estrutura de mercado na qual existe um único agente pelo lado da demanda;
Oligopsônio: estrutura de mercado na qual existem vários/poucos compradores;
Economia de Concorrência Imperfeita – Economia de Concorrência Monopolística:
estrutura de mercado na qual existem tantos agentes pelo lado da oferta quantos o mercado
consegue suportar, sendo que apenas um desses produtores detém capacidade suficiente
para manipular (ou seja, influenciar) a estrutura de preços vigentes a seu favor;
Economia de Concorrência Imperfeita – Economia de Concorrência Oligopolística:
estrutura de mercado na qual existem tantos agentes pelo lado da oferta quantos o mercado
consegue suportar, sendo que apenas alguns/vários desses produtores detêm capacidade
suficiente para manipular (ou seja, influenciar) a estrutura de preços vigentes a seu favor;
Economia de Concorrência Imperfeita – Economia de Concorrência Monopsônica:
estrutura de mercado na qual existem tantos agentes pelo lado da demanda quantos o mercado consegue suportar, sendo que apenas um desses produtores detém capacidade suficiente para manipular (ou seja, influenciar) a estrutura de preços vigentes a seu favor;
Economia de Concorrência Imperfeita – Economia de Concorrência Oligopsônica:
estrutura de mercado na qual existem tantos agentes pelo lado da demanda quantos o mercado consegue suportar, sendo que apenas alguns/vários desses produtores detêm capacidade
suficiente para manipular (ou seja, influenciar) a estrutura de preços vigentes a seu favor.
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EaD
EC ONOMIA
Economia de Concorrência Pura: estrutura de mercado na qual existem tantos agentes pelo lado da oferta quantos o mercado consegue suportar e o mesmo ocorre com relação
à demanda. Isso significa que existe concorrência. Nesta estrutura de mercado é necessário
também que nenhum desses agentes detenha individualmente capacidade suficiente para
manipular (ou seja, influenciar) a estrutura de preços vigentes a seu favor. Isso significa que
o agente econômico (demandante ou ofertante) é insignificante perante o mercado.
Além dos pressupostos de concorrência entre os agentes e de insignificância do agente
perante o mercado, a Economia de Concorrência Pura deve ainda satisfazer outras condições, dentre elas:
a) Ausência de restrições artificiais: isso significa que os agentes não farão nenhum tipo de
acordo, não disporão de nenhum instrumento ou expediente e nem utilizarão nenhum
tipo de mecanismo para influenciar a estrutura de preços vigente no mercado.
b) Homogeneidade de produto: os produtos não são diferenciados entre si, ou seja, são
padronizados.
c) Flexibilidade de recursos: os recursos admitem graus de substituição entre si, ou seja,
uma mesma produção pode ser executada com diferentes combinações de quantidades de
recursos em que um substitui o outro.
d) Mobilidade de recursos e produtos: tanto os recursos quanto os produtos são oferecidos
em quaisquer pontos do sistema econômico.
Economia de Concorrência Perfeita: é a própria Economia de Concorrência Pura
quando essa ainda satisfaz uma dupla condição:
Transparência e visibilidade: embora tecnicamente se possa dividir essa condição em
duas diferentes, basta-nos para exposição que esse pressuposto indica que todas as informações relevantes do sistema estão disponíveis aos agentes e que esses mesmos agentes
detêm capacidade para processá-las e utilizá-las de modo eficiente em suas decisões econômicas. Em outras palavras, não é possível o comportamento estratégico entre os agentes em
que um, por deter informações privilegiadas, usa isso para tirar vantagem da outra parte.
Para nossos propósitos neste estudo, utilizaremos os conceitos de Economia de Concorrência Pura e Perfeita como se fossem sinônimos, ou seja, uma e a mesma coisa, independentemente de ser chamada de Pura ou Perfeita no texto.
– Tudo pequeno e não se juntam? Não tem custo de transporte? Não se gasta dinheiro
para tornar o recurso pronto para um uso especializado? Todo mundo sabe tudo e tá
pronto pra usar? Isso torna o mundo perfeito? Para quem??
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EaD
José Dalmo Silva de Souza – Marlene Dal Ri
Quadro 3 – Estruturas de mercado segundo concentração econômica
Fonte: Elaboração dos autores.
Podemos, também, classificar as estruturas de mercado segundo níveis crescentes de
eficiência econômica.
O quadro anterior nos permite ver algo muito importante: há uma relação inversa
entre concentração econômica e eficiência econômica, ou seja, há uma relação direta entre
concorrência econômica e eficiência econômica de modo que o monopólio, por exemplo, é a
estrutura de mercado mais concentrada (pelo lado da oferta) e é, portanto, a estrutura de
mercado menos eficiente. Já a Economia de Concorrência Pura ou Perfeita é a estrutura
onde existe a máxima concorrência econômica e, logo, é também a mais eficiente.
Para ficar mais claro, devemos abordar o assunto... Concorrência Econômica e Eficiência Econômica.
É necessário muito cuidado com esses conceitos não só pela sua importância e sutileza, mas acima de tudo porque se empresta a tais palavras técnicas de Economia outros
significados com os quais se está familiarizado na vida fora da Academia, mas que conduzem a erros de raciocínio. Por isso, limpe a mente de pré-juízos.
30
EaD
EC ONOMIA
A eficiência em Economia tem a ver com a alocação de recursos. Assim, quando se
trata de Estruturas de Mercado, alude-se à alocação de recursos do sistema econômico (ou
do mercado) em relação à produção e não dos recursos dentro da firma (unidade produtora,
agente ofertante ou “empresa”). Por isso a estrutura de mercado monopólio é ineficiente,
apesar de que a firma monopolística – a “empresa” que concretiza o monopólio – possa ser
apontada como um exemplo de “eficiência produtiva e administrativa”.
Agora, vejamos cada uma dessas ideias conforme usadas em Economia.
CONCORRÊNCIA
É possível calcular-se para determinado mercado “o número máximo de produtores
que esse mercado comporta” de modo a determinar se um dado ofertante tem interesse ou
não em entrar nesse mercado mesmo que não existam outras barreiras senão exclusivamente seus próprios cálculos de retorno dos investimentos necessários em contraste com outras
oportunidades de ganhar dinheiro com o capital de que dispõe.
Esse “número”, como veremos mais tarde, é obtido indiretamente, ou seja, ele não
especifica a quantidade exata de unidades de agentes econômicos, mas indica que uma
dada quantidade de agentes que estão no mercado é o número máximo, pois os demais
agentes não têm interesse em se estabelecer como firma ofertante do produto. Isso define a
concorrência: quando o mercado já possui o número de agentes (da oferta, mas estendido
para o caso da demanda) que o mercado comporta.
4
Quanto à “pureza” ou “perfeição” da concorrência,
esta diz respeito ao poderio econômico dos agentes e
aos seus respectivos produtos, ou seja, se são todos
“iguais” ou se existem “uns mais iguais entre si” do
que os outros.
Essa diferença é mais comumente referida como “capacidade de manipular a estrutura
vigente de preços” segundo os seus próprios interesses e não necessariamente ao tamanho
ou a outra variável do poderio econômico particularmente.
4
Disponível em: <http://viadesucesso.blogspot.com.br/2011/01/avaliar-concorrencia.html>. Acesso em: 30 jun. 2012.
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EaD
José Dalmo Silva de Souza – Marlene Dal Ri
Visualizando, temos:
Quadro 4 – Estruturas de Mercado – modo fácil de ver –
Fonte: Sistematização dos próprios autores.
Isso nos ajuda, ainda, em outra dificuldade. O oligopólio tem poucos ou diversos (vários) ofertantes?
O oligopólio é a estrutura de mercado, na qual, embora o mercado comportasse um
número maior de produtores, existe efetivamente um número menor de tais firmas. Assim,
independentemente de serem classificadas pelos observadores como poucos, diversos, vários
etc., etc., como ainda há lugar para novos ofertantes, trata-se de um oligopólio e pronto.
Em geral essas firmas individualmente ou em grupos criam “barreiras” à entrada de
novos competidores – note que não são novos concorrentes, pois o oligopólio é não
concorrencial.
Observe a indústria automobilística no Brasil. Há quem diga que existam “poucos” produtores; há quem diga que existem “vários” produtores. O mesmo se
pode dizer do mercado de eletrodomésticos brasileiro: poucos... diversos... vários! A questão importante é: há espaço para mais firmas entrarem no mercado
mesmo que isso diminua um pouco a rentabilidade do setor?
32
EaD
EC ONOMIA
Esse assunto da concorrência nos leva diretamente à segunda questão, a eficiência.
Nesse assunto, iniciaremos com a descrição da realidade que a ciência nos apresenta e,
depois (mais tarde) tentaremos explicar alguns aspectos relacionados.
Pensemos no monopólio. A ideia comum é que – além de o monopólio ser sempre ruim
para o consumidor – a firma monopolista cobra o preço que quer. O monopolista, no entanto, embora tenha uma maior liberdade em relação a preços e quantidades – graus de liberdade – ainda está preso a certas condições. Assim, demonstra-se que o monopolista pode determinar o preço de seu produto no mercado, mas a quantidade a ser negociada é fixada no
mercado fora do seu domínio. Da mesma forma, se o monopolista decidir a quantidade que
produzirá, o preço será determinado pelo mercado.
Isso embora não seja exatamente “o monopolista pode fazer o que quiser porque é o
único no mercado”, ainda assim representa uma liberdade extraordinária em relação à Economia de Concorrência Pura ou Perfeita que estudaremos mais adiante.
De qualquer forma, em geral, na decisão sobre o preço praticado ou quantidade produzida, o monopolista fixa o preço segundo diretrizes de maximização do seu lucro. Isso em
geral corresponde a uma dupla condição: preços maiores do que aqueles praticados em
Economia de Concorrência Perfeita e quantidades produzidas menores do que naquela.
Com isso, quando a produção de bens e serviços é realizada em monopólio, os recursos
de produção no mercado são alocados de tal forma – nas condições explicitadas – que ao
mesmo tempo em que existe capacidade ociosa que poderia ser usada para produzir maior
quantidade de bens e serviços (mas a um menor preço de mercado), simultaneamente existe
uma demanda insatisfeita (demandantes que têm interesse no produto mas que não estão
dispostos a pagar o preço praticado pelo monopolista) e, ainda por cima, uma demanda que
adquire o produto, mas o faz a um preço maior do que seria possível na Economia de Concorrência Perfeita.
É a essa ideia de alocação de recursos no mercado que alude o conceito de Eficiência.
O monopólio (descrito) não otimiza a alocação eficiente de recursos (produção da máxima
quantidade possível para a firma e ao menor preço possível) e por isso, é ineficiente. Isso
embora o monopolista esteja auferindo o máximo lucro e tomando decisões “administrativas” extremamente “eficazes”.
A estrutura de mercado que determina a maior produção possível e o nível mais baixo
de preços é a Economia de Concorrência Perfeita e isso é demonstrado por um teorema
matemático. Não há dúvida!! Em outras palavras, a Economia de Concorrência Perfeita é a
estrutura de mercado mais eficiente na alocação de recursos produtivos.
33
EaD
José Dalmo Silva de Souza – Marlene Dal Ri
O único problema com a Economia de Concorrência Perfeita é que ela... nunca existiu, não existe e não tem a menor probabilidade de vir a existir!! Dê uma olhada novamente
nos pressupostos de existência dela e vai ver o porquê.
Eu recomendo que você pesquise sobre o conceito de eficiência segundo o economista Vilfredo Paretto. Parece loucura, mas é sensacional. Esse Paretto sabia
das coisas!!!
SÍNTESE DA UNIDADE 2
Nesta Unidade você pôde compreender como é a visão da
microeconomia, ou seja, como é ver o mundo econômico pelos olhos
dos próprios agentes (sua racionalidade).
Também pôde observar as diversas estruturas de mercado e comparálas quanto aos importantes aspectos de eficiência e concorrência.
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EaD
Unidade 3
EC ONOMIA
A CONCORRÊNCIA PURA
E O MUNDO DO DEMANDANTE
OBJETIVOS DESTA UNIDADE
• O objetivo desta Unidade é mostrar o mundo econômico pela perspectiva do consumidor,
aquele agente econômico que tem como único interesse extrair a máxima satisfação que
o seu dinheiro possa proporcionar. Isso, por meio da compra de produtos a preços de
mercado que ele vai selecionar, considerando que possui uma renda constante – regularmente reposta a cada período – bem como a capacidade de mensurar a “satisfação” que
os produtos proporcionam (em unidades de utilidade).
• Queremos ver como o consumidor se comporta, quais dificuldades tem, que desafios enfrenta e que escolhas tem pela frente. Como ele vai decidir agir com tantos produtos e
preços diferentes diante de suas necessidades?
• Vale lembrar: como supomos que nosso consumidor está em uma Economia de Concorrência Perfeita, todos os produtos têm a mesma qualidade, ou seja, a qualidade dos produtos
não constitui um critério para a preferência e não influencia na escolha dos produtos por
parte do consumidor.
AS SEÇÕES DESTA UNIDADE
Seção 3.1 – Economia de Concorrência Pura/Perfeita
Seção 3.2 – Dois Casos Especiais
Seção 3.3 – Elasticidades
Seção 3.4 – Efeitos Renda e Substituição
Seção 3.5 – Inclinação da Curva de Demanda
35
EaD
José Dalmo Silva de Souza – Marlene Dal Ri
Seção 3.1
A Economia de Concorrência Pura/Perfeita
Retomemos aquela estranha constatação do final da Unidade anterior: a Economia de
Concorrência Perfeita jamais existiu, não existe e jamais existirá. Por que, então, estudá-la?
A melhor maneira de explicar isso talvez seja afirmando simplesmente que ela é a
“ régua” com que podemos medir as estruturas de mercado que realmente existem e assim
sabermos o quanto “se desviam” da escala-padrão, mas há ainda outras razões:
1 – o modelo nos fornece um ponto de partida simplificado e lógico para a análise econômica;
2 – a concorrência realmente existe, embora não na forma pura ou perfeita. O modelo é uma
boa aproximação de como a realidade funciona nas estruturas concorrenciais e de como
não existe nas não concorrenciais.
Assim, começamos nosso estudo das forças de mercado, ou seja, demanda e oferta.
3.1.1 – A CURVA DE DEMANDA
Podemos dizer demanda ou procura; igualmente podemos nos referir a curva de demanda (ou de procura) ou linha de demanda (ou de procura).
Cuidado, no entanto: se você se acostuma a falar somente “demanda” pode
acabar pensando em termos de “quantidade demandada” ou até mesmo em
consumo. O quê!?!?!? Não sabia que eram diferentes?!?!?!
Guarde a definição:
Quantidade de bens e serviços (produtos) que o consumidor está disposto a adquirir
considerando os respectivos níveis de preços vigentes, por unidade de tempo, ceteris paribus.
Observe:
1 – quantidades de produtos que o consumidor está disposto a adquirir – Ele não adquiriu
e nem há certeza de que vá adquirir no futuro;
2 – quantidade e preço respectivo – Cada quantidade está vinculada a um dado preço. O
conjunto de todas as quantidades e seus respectivos preços formam a linha de demanda.
Ele é a demanda.
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EC ONOMIA
3 – Ceteris Paribus – A curva de demanda representa uma relação entre preço e quantidade
no tempo, calculada quando muitas outras variáveis que também afetariam esta relação
são pressupostas como fixas, ou seja, sua influência não se altera e, por isso, não modifica a relação entre preços e quantidades no transcurso do tempo. Nós voltaremos a esse
assunto posteriormente. Por enquanto lembre-se que a lei matemática que descreve a
relação no tempo entre quantidades e preços não considera outros fatores além destes
três (preço, quantidade e tempo).
Veja o gráfico:
Gráfico 1 – Curva de Demanda do Produto no Mercado
Fonte: Elaborado pelos autores.
Note algumas “particularidades” desse importante gráfico:
1 – o gráfico não explica porque a curva de demanda (que nesse caso é uma reta!) é desse
jeito. Ele somente mostra como é a relação entre preços e respectivas quantidades no
fator tempo;
2 – o gráfico é de um mercado, ou seja, um produto em seu mercado, e não, do demandante
(o agente);
3 – cada ponto na linha de demanda – por exemplo, o ponto A – tem duas variáveis associadas: o preço e a quantidade/tempo. No exemplo dado, o ponto A sobre a Demanda do
Produto está associado ao preço p1 e à quantidade/tempo q1;
4 – No gráfico, o eixo quantidade/tempo é chamado de quantidades demandadas. Assim,
q1 é a quantidade demandada associada ao preço p1. Guarde bem que quantidade demandada não é a demanda. A demanda é a linha toda (aqui, o segmento), portanto, um
conjunto de pares ordenados que pertencem a uma equação. A quantidade demandada é
um valor no eixo das quantidades (a abscissa de um par ordenado específico).
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José Dalmo Silva de Souza – Marlene Dal Ri
Pode-se ver no gráfico a própria definição da curva de demanda: um conjunto de quantidades e preços ao longo do tempo, todos possíveis e nenhum de alguma forma “especial”.
3.1.2 – COMPOSIÇÃO DA CURVA DE DEMANDA
Será que o mercado de um produto, ou seja, o conjunto de transações (compra e venda) dependem só do preço e quantidades envolvidas?
É claro que não! Muitas outras coisas influenciam o ato de comprar um produto.
Podemos até fazer uma lista (não exaustiva, obviamente) de coisas que afetam a relação
entre preço e quantidade/tempo de um produto.
Elementos que pertencem à curva de demanda
1. preço do produto;
2. quantidade do produto;
3. gostos e preferências dos consumidores;
4. número de consumidores;
5. renda disponível dos consumidores;
6. preços dos bens relacionados ao produto do mercado considerado;
7. expectativas dos consumidores com relação aos preços do produto no futuro imediato.
Quando contrastamos a definição de curva de demanda – ou olhamos o gráfico, o que
dá na mesma – com a lista, percebemos que a lista é maior, ou seja, tem muito mais variáveis
envolvidas. Por exemplo: onde no gráfico está mostrada a renda dos consumidores? Eles,
porém, devem ter dinheiro, pois seu interesse em comprar o produto se expressa em quanto
estão dispostos a gastar para terem a necessidade satisfeita.
1
É aqui que entra a expressão “ceteris paribus”. É
uma expressão em latim e não é usualmente traduzida.
Em alguns livros didáticos aparece como a vaga expressão “tudo o mais constante”. Essencialmente ela indica que todas as outras coisas – exceto os preços e as
re spe cti vas quanti dade s/te mpo – s ão manti das
inalteradas para fins de cálculos.
1
Disponível em: <http://www.urbandictionary.com/products.php?term=ceteris%20paribus&defid=3887927>. Acesso em: 30 jun. 2012.
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EC ONOMIA
Na linha de demanda, se os preços atingirem o valor p1 então será adquirida a quantidade q1/t, desde que nenhuma das outras variáveis envolvidas no processo se altere. Caso
a renda do consumidor se altere, a relação entre aquele preço e sua respectiva quantidade/
tempo também se alterará. Será outra quantidade/tempo. Outra curva. Outra equação.
Memorize a regra:
A definição de curva de demanda é o próprio gráfico da linha de procura. A
definição cita preços e quantidades por período de tempo e o gráfico explicita essas
duas variáveis em seus dois eixos: um eixo para preços e um outro para quantidades/
tempo. Isso significa que estas duas variáveis assumem valores entre si, ou seja, variam seus valores, uma conforme a outra, segundo a lei expressa em uma equação matemática.
Todas as outras circunstâncias são consideradas fixas, ou seja, não variam seus valores ao longo do tempo. Elas estão consideradas “sob condição ceteris paribus”. Isso não
quer dizer que tais variáveis não influenciam as transações, mas que sua influência já foi
contada e não vai se alterar.
3.1.3 – QUEBRA DA CONDIÇÃO CETERIS PARIBUS
O que acontece se um elemento que foi colocado como constante na curva de demanda de repente alterar o seu valor?
Seria outra decisão. Assim como iríamos ao Zoo se fizesse Sol; ao chovesse, cancelaríamos nosso planejamento e faríamos outra coisa, assim também, quando se quebra a condição ceteris paribus, temos outra linha de decisão vinculando os preços às quantidades/tempo. É outra curva, outra equação, lembra-se?
Guarde a regra:
A quebra da condição ceteris paribus – ou seja, a mudança de valor de uma das
variáveis até então considerada fixada – se expressa graficamente como um deslocamento de toda a curva no plano do gráfico. Simplesmente a curva “anda”, vai para a
“frente” ou para “trás” no gráfico. Dizemos que a linha se desloca para mais próximo
ou para mais distante da origem do diagrama. É mais ... “chic”, não?
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José Dalmo Silva de Souza – Marlene Dal Ri
Gráfico 2 – Quebra da Condição Ceteris Paribus – Curva de Demanda do Produto no Mercado
Fonte: Elaborado pelos autores.
Devemos notar que deslocamentos para mais distante da origem do diagrama causam
elevação dos valores em ambos os eixos.
Seção 3.2
Dois Casos Especiais
Daquela lista de elementos que compõem a curva de demanda dois itens merecem
atenção especial. São eles:
1. preços dos bens relacionados ao mercado em questão;
2. renda disponível dos consumidores.
O consumidor quando está pensando em satisfazer suas necessidades se depara
com uma grande disponibilidade de produtos e precisa classificar e ordenar os bens e
serviços e depois de organizá-los, escolher. Duas classificações lhe surgem naturalmente
na cabeça.
• O consumidor relaciona os produtos entre si, ou seja, como a compra de um produto afeta
a compra de outro (classificação de um bem em relação a outro bem);
• e ao mesmo tempo também relaciona os preços dos produtos que deseja com o seu próprio
orçamento disponível, ou seja, como a compra de um produto vai afetar a quantidade de
renda de que dispõe para satisfazer suas necessidades.
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Quando o consumidor contrasta os produtos entre si, ele percebe que dois produtos
quaisquer simplesmente não estão relacionados e por isso considera a compras independentes ou, pelo contrário, os produtos se relacionam entre si e a compra de um afeta a compra
do outro. Neste caso, se os produtos estão relacionados, esse vínculo é de:
• complementaridade – quando o produto é usado juntamente com o outro ou
• substituição – quando a aquisição de um deles dispensa a compra do outro.
Assim, os produtos podem ser complementares ou substitutos entre si. Por que isso
nos interessa? Porque a elevação de preços, por exemplo, das lapiseiras, ao reduzir a sua
demanda, pode “arrastar para trás” as vendas de grafite. No gráfico de demanda de lapiseiras é só uma mudança de ponto sobre a curva de demanda, mas no gráfico do mercado de
grafite é uma quebra da condição ceteris paribus.
Gráfico 3 – Curvas de Demanda – Bens Complementares
Fonte: Elaborado pelos autores.
Pode-se observar que bens complementares variam as quantidades demandadas e
curvas de demanda no mesmo sentido. Ambos os mercados “esfriaram”. O de lapiseiras devido ao aumento de preços e o de grafite, não por causa de alguma elevação de preços do
próprio grafite, mas por causa do menor número de compras de lapiseiras.
Com os bens substitutos ocorre o contrário. Represente o caso anterior de elevação
dos preços de lapiseiras e seu mercado no mercado de lápis.
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Gráfico 4 – Curvas de Demanda – Bens Substitutos
Fonte: Elaborado pelos autores.
O outro caso de quebra da condição ceteris paribus é ainda mais interessante. O que
acontece com as compras dos produtos se a renda de seus consumidores variar?
À primeira vista parece que maior renda induz a maior demanda, ou seja, o deslocamento da linha de demanda seria para a “direita” do gráfico, não? Pense, no entanto: Se a
sua renda se elevasse muito (e se mantivesse neste novo valor por algum tempo) você não
deixaria de comprar algumas coisas que compra atualmente? E não passaria a comprar
outras coisas que hoje não compra?
Por isso, se a renda dos consumidores se eleva é de se esperar que a demanda de alguns produtos se reduza, pois a necessidade que seria satisfeita por eles passará a ser suprida por outros produtos. Isso nos mostra que variações na renda levam a maiores demandas
de certos bens, mas levam também a menores demandas de determinados produtos.
Deu nó na cabeça? Não se desespere. Vá em frente e depois dos próximos gráficos
volte e leia estes parágrafos novamente. Com certeza tudo será mais “digerível”...
RESUMINDO:
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EC ONOMIA
Com isso, chamaremos bens Normais ou Superiores àqueles bens que variam as quantidades demandadas no mesmo sentido da variação da renda, ou seja, têm maior demanda
quando a renda dos consumidores se eleva e menor demanda quando a renda cai.2
E chamaremos bens inferiores àqueles bens que variam as quantidades demandadas
no sentido inverso da variação da renda, ou seja, têm maiores demandas quando a renda
dos consumidores se reduz e menores demandas quando a renda se eleva.
Veja a quebra da condição ceteris paribus por alteração de renda do consumidor. Se
há elevação da renda do consumidor, para o bem superior ou normal, a curva se desloca
para a “frente”. Para o bem inferior, elevação da renda desloca a curva de demanda para a
“esquerda”.
Gráfico 5 – Curva de Demanda – Efeito da Elevação de Renda do Consumidor
Fonte: Elaborado pelos autores.
Isso encerra nossa conversa inicial sobre deslocamentos da curva de demanda. mas
ela voltará quando falarmos de Equilíbrio Microeconômico. Por isso, certifique-se de que
realmente “dominou” o assunto.
2
Estamos juntando duas categorias, por motivos de simplificação. É uma descrição mais adequada e é suficiente. Muitos livros didáticos
adotam essa mesma classificação dicotômica.
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Seção 3.3
Elasticidades
Uma das coisas mais importantes da vida econômica é saber dimensionar o impacto
que a alteração de uma (ou mais) variável causa sobre o comportamento dos demais elementos do conjunto e com isso termina afetando todo o sistema.
Podemos facilmente perceber três elementos:
1. Existe alguém que é o “sensível”;
2. Existe aquilo que afeta ou estimula a sensibilidade;
3. Existem diferentes graus de sensibilidade desde o completamente não sensível (insensível) até o extremamente sensível.
Poderíamos trocar a palavra “elasticidade” por “sensibilidade” sem problemas para
nossos raciocínios – e vamos fazê-lo no começo – mas esta é uma palavra técnica consagrada no vocabulário econômico de modo que, convém, depois, adotarmos o seu uso.
3.3.1 – DIFERENTES TIPOS DE “SENSIBILIDADE”
Em microeconomia estamos interessados, no momento, em dois tipos de sensibilidades:
• A sensibilidade das quantidades demandadas quanto às variações de preços dos produtos;
• A sensibilidade das quantidades demandadas quanto às variações de renda do consumidor.
Note:
No primeiro caso, as quantidades demandadas é o paciente “sensível”; a variação de
preços é o estímulo, ou seja, o fator ao qual as quantidades demandadas são sensíveis; e a
sensibilidade pode ser medida teoricamente por meio do cálculo de como estava a quantidade demandada quando o preço era um e como ela ficou quando o preço assumiu outro valor.
Como estamos falando do impacto das variações de preços sobre as quantidades demandadas dizemos elasticidade-preço da demanda.
No segundo caso temos a elasticidade-renda da demanda, ou seja, os impactos nas
quantidades demandadas (o paciente “sensível”) causados por elevação da renda do consumidor (o agente estimulador). A elasticidade-renda da demanda exige novos gráficos, no
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entanto nossos conhecimentos de bens superiores e inferiores serão suficientes para termos
uma ideia melhor desta importante elasticidade depois que estudarmos como funciona o
“cálculo” da sensibilidade.
Assim, analisemos a elasticidade-preço da demanda (E-PD).
Note o nome: elasticidade (sensibilidade)-preço (estímulo) da demanda (o “sensível”.
O referencial para o nome da sensibilidade vem por último e o estímulo é colocado no meio.
Definição mnemônica:
A E-PD mede a sensibilidade de variação das quantidades demandadas em função das
variações de preços que as originaram.
Definição formal (Alfred Marshall)::
“A Elasticidade-preço da Procura é a mudança percentual da quantidade procurada
dividida pela mudança percentual do preço, quando a mudança no preço é pequena.”
A partir da definição funcional vamos memorizar uma fórmula igualmente funcional.
Lembre-se: as definições e fórmulas mnemônicas são apenas um recurso para memorizar e facilitar a compreensão. São apenas um caminho para acessar de modo imediato o conhecimento mais consistente que está mais profundamente desenvolvido.
Figura 1 – Elasticidade-Preço da Demanda – Fórmula Mnemônica
Fonte: Elaborado pelos autores.
Com isso temos que, dada uma curva de demanda, devemos ter dois preços diferentes
(por exemplo p1 e p2) e a diferença entre eles é o termo delta-preços, ou seja, p1-p2. Ora,
esses preços têm suas respectivas quantidades e, portanto, teremos duas quantidades distintas também, ou seja, q1 e q2. A diferença entre estas quantidades é delta-quantidade
(q1-q2). Então dividimos delta-q por delta-p, ou seja, (q1-q2)/(p1-p2) e pronto. Facinho,
facinho...
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José Dalmo Silva de Souza – Marlene Dal Ri
Veja o gráfico:
Gráfico 6 – Elasticidade-Preço da Demanda
Fonte: Elaborado pelos autores.
– Se ao menos esse gráfico tivesse números seria mais fácil fazer a conta...
É, mas teríamos que usar a verdadeira fórmula E-PD = (Q1-Q2/Q1)/(P1-P2/P1)...
Deixa pra lá... assim tá bom.
Temos as definições, a fórmula e a visualização gráfica. Voltemos ao que significa elasticidade. Elasticidade é uma sensibilidade. Queremos saber se uma coisa afeta ou não a
outra coisa e, se afeta, em que extensão faz isso.
Quando um estímulo é dado a “alguém” esse “alguém” exibe uma resposta. Essa resposta, a princípio, pode ser de três ordens:
• Resposta = estímulo;
• Resposta > estímulo;
• Resposta < estímulo.
Uma pequena ação pode servir de estímulo a uma resposta exagerada. Nesses casos
temos que o estímulo foi bem menor que a resposta que suscitou, ou seja, a resposta foi
exagerada. Se o estímulo é “tchum”, a resposta é “tcham-tcham-tcham-TCHAM!!”. Se uma
pequena variação percentual de preços causa uma resposta percentual nas quantidades
demandadas em intensidade superior a ela própria, dizemos que a Elasticidade-preço da
demanda é elástica.
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Pode ocorrer, contudo, que a reação seja muito menor que a ação, ou seja, que a
resposta seja menor que o estímulo que o originou. Assim, quando uma variação percentual
nos preços causa como resposta uma variação percentual de grau inferior nas quantidades
demandadas, os economistas – sem imaginação – dizem que a Elasticidade-preço da demanda do produto é inelástica.
E por fim, a resposta pode ser proporcional, ou seja, de mesma intensidade que o estímulo.
Quando a variação percentual de preços tem uma resposta de mesma intensidade percentual
nas quantidades demandadas, a Elasticidade-preço da demanda do produto é unitária.
Sintetizando:
Na Elasticidade-preço da demanda:
• O estímulo é variação percentual nos preços;
• A resposta é variação percentual nas quantidades demandadas;
• A “medida” é dada pela fórmula resposta/estímulo;
• O referencial para memorizar o nome é a variação na quantidade demandada, ou seja, a
resposta;
• EP-D Unitária indica que resposta = estímulo;
• EP-D Elástica indica que resposta > estímulo;
• EP-D Unitária indica que resposta < estímulo;
Guarde o que foi dito até agora e então ficará muito fácil entender...
Arrrrghhhh! Olha só pra isso, cara!!
Para ajudar, complete os outros casos:
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Como podemos levar isso para a interpretação da curva de demanda sem muito rigor
técnico, mas ainda assim suficiente para interpretarmos o tipo de curva que representa cada
um dos três tipos de elasticidade? É simples, usando um truque mnemônico: troque delta-p
e delta-q pelos respectivos segmentos no gráfico. Em vez de fazer cálculos, visualize o “tamanho da variação”.
Gráfico 7 – Elasticidade-Preço da Demanda – Mil Palavras em Apenas uma Imagem
Fonte: Elaborado pelos autores.
3.3.2 – RESUMO DA ÓPERA
• Um produto cujas quantidades demandadas são “muito sensíveis” é dito elástico, seu
gráfico apresenta uma linha mais “deitada” e o valor de sua elasticidade é um número
superior à unidade;
• Um produto cujas quantidades demandadas são “insensíveis” é dito inelástico, seu gráfico apresenta uma linha mais “em pé” e o valor de sua elasticidade é um número inferior
à unidade;
• Um produto cujas quantidades demandadas são “sensíveis na mesma medida” é dito
unitário, seu gráfico apresenta uma linha exatamente de 45 graus e o valor de sua elasticidade é a unidade.
Resta ainda acrescentar que:
• feitos os cálculos numéricos, a Elasticidade-preço da demanda é sempre um número negativo.
Isso quer dizer que, aplicando a fórmula, o resultado é sempre um valor abaixo de zero, no
entanto usa-se o seu valor absoluto em módulo. Por exemplo: as elasticidades de valor -0,75, 1 e -1,37 são respectivamente classificadas como 0,75 (inelástica), 1 (unitária) e 1,37 (elástica).
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EC ONOMIA
• As variações devem ser muito pequenas – como explicita Alfred Marshall – e isso significa
infinitesimais. Com números grandes (que aqui significa apenas os números normais usados em sala de aula) o cálculo apresenta tantas distorções que às vezes nem representam
as variações. O melhor, portanto, é ficar só com essas informações de como interpretar os
números dados ou aprofundar o estudo em um livro didático de microeconomia.
3.3.3 – ADVERTÊNCIAS E RECOMENDAÇÕES
O estudo da elasticidade-preço da demanda é técnico e apresenta algum grau de dificuldade, mas é também muitíssimo interessante e igualmente importante. Elasticidade-arco,
elasticidade no ponto, elasticidades cruzadas, elasticidade-renda da oferta, elasticidade e
bens superiores e inferiores... realmente, vale a pena para o estudante interessar-se mais por
esse assunto e, saindo dessa nossa abordagem “básica” aprofundar o estudo. Aproveite os
conceitos (que estão mais “assimiláveis”) e use os raciocínios aqui desenvolvidos como base
para conseguir ler um livro de microeconomia e com certeza o assunto “será dominado”.
Ninguém está dizendo que será fácil; só o que podemos dizer é que é possível e muito gratificante.
3.3.4 – FATORES QUE INFLUENCIAM A ELASTICIDADE – PREÇO DA DEMANDA
Por fim, para que todo esse sacrifício valha a pena precisamos saber não só o comportamento das quantidades demandadas em função de variações de preços, mas o que as
causa, ou seja, que características têm os produtos elásticos e inelásticos. E em que isso
influencia a vida dos agentes econômicos (demandantes e ofertantes).
Podemos pensar basicamente em três fatores que tornam um produto elástico ou
inelástico. Embora não sejam definitivos, ainda assim são boas pistas.
1. Existência de bens substitutos tendem a tornar os bens mais elásticos, ou seja, produtos
com grande número de substitutos têm mais chances de serem elásticos. Por outro lado,
produtos com poucos substitutos tendem a ser inelásticos.
• A carne bovina tende a ser “elástica” e o sal de cozinha, inelástico.
2. Amplo número de usos alternativos (funções) tendem a tornar os bens mais elásticos, ou
seja, produtos que satisfazem mais de uma necessidade têm maiores chances de serem
elásticos do que aqueles bens de uso exclusivo. Menor número de usos alternativos tendem a tornar o bem mais inelástico.
• Um computador tende a ser elástico; já um rádio AM tende a ser inelástico.
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3. Relação preço versus poder aquisitivo. Aqueles bens cujos preços são significativos em
relação ao poder aquisitivo do consumidor (sua capacidade de compra) tendem a ser mais
elásticos do que aqueles produtos com preços insignificantes.
• Um carro “zero-bala” tende a ser elástico; as balas de goma tendem a ser inelásticas.
Note que não estamos falando do tamanho da demanda e nem comparando os
produtos entre si. Estamos falando da resposta esperada nas quantidades demandadas quando existe variação nos preços de mercado.
Receita (econômica) de churrasco:
– Junte carne bovina elástica (xiiiiii, começou bem...) com Na + Cl - em cristais
(produto inelástico)...
– Deixa pra lá... perdi a fome! A sobremesa deve ser puxa-puxa inelástico!
– Como é que adivinhou???
3.3.5 – ELASTICIDADE-PREÇO DA DEMANDA,
RENDA DO OFERTANTE E DISPÊNDIO DO DEMANDANTE
Podemos sistematizar os casos possíveis por meio da seguinte figura.
Figura 2 – Alterações na RO e DD por Variações de Preços
Fonte: Elaborado pelos autores.
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Lembre-se:
• as variações são percentuais e infinitesimais;
• as setas são representações, apenas uma imagem que tenta traduzir o fenômeno.
Curiosidade:
O que é um bem essencial? Aquele que você não consegue substituir e nem
deixar de consumi-lo, ou seja, aquele que junta pelo menos dois aspectos da
inelasticidade: não ter substitutos e ser de uso exclusivo!! Todo bem essencial é
inelásitico.
Seção 3.4
Efeitos Renda e Substituição
Usemos a condição ceteris paribus.3 Se todas as demais variáveis que são exigidas no
caso anterior não se alterarem, mas o preço de um único produto (para simplificar) se elevar,
como o demandante vai reagir?
Primeiro, ele vai tentar substituir o produto agora mais caro por outro relativamente
mais barato. Isso vai depender de existir ou não substitutos e vai, portanto, ser afetado pela
elasticidade. De qualquer forma o orçamento do consumidor não será mais o mesmo e ele
vai gastar mais dinheiro nessa mudança. Se o bem for inelástico, então, ele vai gastar ainda
mais, pois não conseguirá substituir o bem, ou seja, fugir de seu consumo.
Estamos considerando que não haverá desistência do bem ou redução de sua quantidade porque isso diminuiria o nível de bem-estar do consumidor e acreditamos que ele buscará manter o máximo de satisfação enquanto for possível, mediante decisões racionais e
consistentes. Esse efeito é chamado Efeito Substituição, ou seja, a troca de um produto por
outro por causa de sua elevação de preços.
Depois disso, o demandante, devido à redução de seu poder aquisitivo – lembre-se que
ele gastou mais dinheiro do que na sua situação inicial – vai diminuir as compras de bens
normais ou superiores (lembre-se: menor renda implica menor demanda). Esse é o Efeito
3
Ceteris paribus... o quê?!? Esqueceu?? Não tem problema. Volte lá atrás e leia novamente! Relembrar é não morrer...
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Renda, ou seja, a substituição de produtos devido à diminuição de renda disponível, causada pela elevação de preço de outro bem e não pelo que vai ser “trocado” (o coitado do
produto não teve seu preço mexido, mas como o consumidor tem menos dinheiro...).
Seção 3.5
Inclinação da Curva de Demanda
Os efeitos renda e substituição nos fornecem uma boa aproximação para entendermos
porque a demanda de um produto apresenta uma relação inversa entre preços e quantidades/tempo, ou seja, porque é uma linha decrescente.
Mais do que imaginar que todos os bens são normais ou superiores, mesmo para
bens inferiores é razoável supor que o efeito substituição é superior (mais forte, mais intenso) do que o efeito renda. Assim, elevações de preços estão relacionadas negativamente com as quantidades demandadas, ou seja, a curva de demanda de um produto no mercado é tal que maiores preços estão associados a quantidades menores do que aquelas
quantidades vinculadas a preços que por sua vez sejam menores do que os considerados
inicialmente.
Gráfico 8 – Declividade (Inclinação) da Curva de Demanda
Fonte: Elaborado pelos autores.
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Dessa forma:
Cada preço está relacionado a somente uma quantidade/tempo ao longo da linha de
demanda. Dados dois preços quaisquer e suas respectivas quantidades, se o primeiro preço é
maior que o segundo (p1>p2), então, a primeira quantidade é menor que a segunda (q1<q2).
O maior dos dois preços está associado à menor das quantidades.
Dizemos que a curva de demanda é decrescente ou que tem declividade negativa ou
ainda, que é uma linha descendente. Uma formulação mais fácil é dizer que a linha de
demanda indica uma relação inversa entre preços e quantidades/tempo, ou seja, as duas
variáveis caminham em sentidos inversos: quando uma eleva o seu valor, a outra reduz o
seu e, se uma diminui seu valor, a outra aumenta!
Curiosidades:
• Existe um tipo de bem que possui linha de demanda com declividade positiva (uma linha
crescente!!). Uma relação direta entre preço e quantidade/tempo, mas é tão raro que não
tem interesse para o nosso caso. Fica o registro.
• Temos trabalhado sempre com linhas retas (equações lineares), mas as curvas reais de
demanda são “menos retas” e “mais curvas”. Isso, entretanto, não invalida trabalhar com
linhas retas. A vantagem é que linhas retas exigem uma matemática muito menos complexa...
Gráfico 9 – Curvas de Demandas Mais Reais
Fonte: Elaborado pelos autores.
Depois de termos visto a demanda é chegada a hora de nos “aproxegarmos” na função
oferta. Isso, porém, é assunto pra outra prosa...
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SÍNTESE DA UNIDADE 3
Nesta Unidade você pôde compreender o mundo com o qual se
depara o consumidor.
Ele quer comprar produtos, presta atenção nos preços, vê que os
bens e serviços se completam e/ou se substituem e que variações
de preços mexem com sua renda. Ele reage a tudo isso e seu comportamento determina como os mercados vão se apresentar aos
demandantes.
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Unidade 4
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CONCORRÊNCIA PURA E O MUNDO DO OFERTANTE
OBJETIVOS DESTA UNIDADE
O objetivo desta unidade é mostrar o mundo econômico pelo ponto de vista do ofertante
de produtos, ou seja, daquele agente que vai adquirir recursos de produção e com eles executar todo o processo de transformá-los em bens e serviços que satisfazem às necessidades
dos consumidores. Para tanto:
• Vamos ver como ele age no sentido de maximizar sua renda.
• Queremos saber como ele administra sua produção e, principalmente, como ele sabe quando
parar de elevá-la.
• Da mesma forma, queremos mostrar como o produtor trata a questão dos seus custos e até
a necessidade ou não de investimentos para ampliação da produção.
• Finalmente, queremos mostrar a maximização de lucros, o alvo final do ofertante.
AS SEÇÕES DESTA UNIDADE
Seção 4.1 – Curva de Oferta
Seção 4.2 – A Função Produção
Seção 4.3 – A Função Custos
Seção 4.1
Curva de Oferta
Já vimos que a racionalidade do agente ofertante é elevar ao máximo sua renda –
depois vamos ver como ele, em realidade, quer maximizar o seu lucro – e para isso, lida com
as diversas quantidades que pode produzir e com o preço de mercado.
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José Dalmo Silva de Souza – Marlene Dal Ri
Renda do Ofertante = Preço x Quantidade.
Os ofertantes são também chamados de produtores ou vendedores. Isso porque embora no mundo de hoje o produtor não seja necessariamente o vendedor – pois existem os
intermediários que compram e revendem os produtos – ambos cumprem a mesma ação, ou
seja, oferecem o bem. Eles ofertam o produto.
Analogamente ao que ocorre na demanda, pode-se dizer curva de oferta, linha de
oferta ou simplesmente oferta.
Se você, porém, se acostuma a falar simplesmente “oferta”, pode acabar pensando
que é “quantidade vendida”... O quê?!?!?! Não sabia que eram diferentes?!?!?!
Guarde a definição:
A curva de oferta representa as diversas quantidades de bens e serviços (produtos) que o ofertante está disposto a vender aos respectivos níveis de preços, por unidade de tempo, ceteris paribus.
As mesmas observações da curva de demanda servem para a de oferta:
• O ofertante está disposto...
• Quantidades/tempo e respectivos preços...
• Ceteris paribus...
Tema de casa:
Tente reescrever os parágrafos da Demanda adaptando-os para a oferta!!
Veja o gráfico:
Gráfico 1 – Curva de Oferta de um Produto no Mercado
Fonte: Elaborado pelos autores.
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Novamente: As mesmas observações que valem para a demanda também são válidas
para o caso da oferta:
• O gráfico ilustra mas não explica...
• A curva é do mercado e não do agente (firma)...
• Pontos sobre a linha têm duas coordenadas...
• Curva de oferta é a linha no gráfico e quantidades ofertadas estão expressas como valores no eixo das abscissas.
Tema para casa:
A) Reescreva os parágrafos da demanda adaptando-os para o estudo da oferta.
B) Entenda o “jeitão” da curva de oferta.
4.1.1 – ELEMENTOS QUE COMPÕEM A CURVA DE OFERTA
• Preço do bem;
• Quantidade do bem;
• Número de ofertantes;
• Tecnologia utilizada (técnicas de produção);
• Preço dos recursos.
Observe que, assim como ocorre na demanda, as variáveis preço e quantidade/tempo
estão na definição e, portanto, explícitas no gráfico. Assim, elas não estão sob a condição
ceteris paribus, pois variam entre si: conforme muda o valor dos preços, também se modifica
o valor das quantidades ofertadas/tempo e isso ocorre segundo o que indica a linha de oferta, ou seja, a equação (lei matemática) que dá origem à curva no gráfico. A relação entre
preços e quantidades/tempo é direta na Linha de Oferta.
4.1.2 – QUEBRA DA CONDIÇÃO CETERIS PARIBUS NA CURVA DE OFERTA
Similarmente à curva de demanda, modificações naqueles elementos que compõem a
curva de oferta e que não são preço e nem quantidade ofertada/tempo, ou seja, aquelas
variáveis sob condição ceteris paribus, causam deslocamento da curva no plano do gráfico.
Deslocamentos para mais distante da origem do diagrama indicam que a oferta foi elevada
57
EaD
José Dalmo Silva de Souza – Marlene Dal Ri
em relação ao que era antes, para qualquer nível de preços que porventura estariam sendo
praticados. Já deslocamentos para mais próximo da origem do gráfico implicam redução da
oferta para quaisquer níveis de preços do mercado.
Contraste:
Gráfico 2 – Curva de Oferta de um Produto no Mercado
Fonte: Elaborado pelos autores.
4.1.3 – ELASTICIDADES
Já estudamos as elasticidades e foi referido anteriormente que para a oferta interessam
especialmente duas delas: a Elasticidade-Preço da Oferta e a Elasticidade-Renda da Oferta.
Estude novamente a Elasticidade-Preço da Demanda e tente formular um conceito/
uma definição para as elasticidades citadas da oferta. Use a definição funcional, pois é de
mais fácil assimilação e manuseio. Se tiver dificuldades, pode consultar a Internet ou o
professor do componente curricular.
Elasticidade-Preço da Oferta:
__________________________________________________________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________________
Elasticidade-Renda da Oferta:
__________________________________________________________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________________
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EC ONOMIA
Para encerrarmos essa parte geral, vamos recordar os tipos de elasticidades que a oferta pode ter em relação aos preços e suas variações.
Gráfico 3 – Galeria da Elasticidade – Preço da Oferta
Fonte: Elaborado pelos autores.
4.1.4 – FUNÇÕES PRODUÇÃO E CUSTOS
Agora vamos estudar as duas preocupações imediatas do ofertante, ou seja, em que
ele gasta as horas do seu dia...
Por um lado ele se ocupa de sua produção, ou seja, as quantidades de produto que
pode obter com sua firma. Por outro lado, ele se ocupa com os custos que isso acarreta. Ou
seja, a vida dele é administrar seus gastos e seus ganhos. Assim, divide-se a oferta em duas
funções, ou seja: função produção e função custos.
Seção 4.2
A Função Produção
Definição: a produção refere-se às relações físicas entre os fatores de produção (ou
recursos) e as quantidades de bens e serviços (produtos) obtidos por unidade de tempo.
Dizemos que a produção está definida em função da quantidade de recursos. Assim, a
quantidade de produtos depende ou está determinada em razão da quantidade de recursos
empregada. Esta relação entre as quantidades de produtos obtidos e dos recursos utilizados
é direta, ou seja, um maior número de recursos empregados implica maior produção obtida.
Para indicarmos que a relação é direta, podemos colocar um símbolo de adição/mais/positivo sobre a variável independente.
59
EaD
José Dalmo Silva de Souza – Marlene Dal Ri
Produção = f(número
+
de fatores)
4.2.1 – OS FATORES DE PRODUÇÃO
Em microeconomia, os recursos – ou seja, aquelas “coisas” que são utilizadas para a
produção de bens e serviços – são classificadas em forças e materiais.
As “forças” são insumos básicos. E pode-se distinguir entre os “materiais” categorias como matéria-prima, recursos naturais e bens intermediários (elaborados e
semielaborados).
Quaisquer que sejam os fatores econômicos utilizados na produção do bem ou serviço, interessa-nos agora saber que eles podem ser classificados em recursos fixos e recursos
variáveis.
• Recursos Fixos: fatores de produção cujas quantidades não se alteram durante o processo
de produção;
• Recursos Variáveis: aqueles recursos cujas quantidades se alteram durante o processo de
produção e, em função disso, as quantidades produzidas também se alteram;
• Recursos Totais: somatório das quantidades de todos os recursos, ou seja, fixos e variáveis.
Outro aspecto importante na função produção é a questão do tempo, ou seja, a noção
de prazos de produção. Vejamos as definições:
Curto prazo: período de planejamento da firma durante o qual pelo menos um recurso
de produção utilizado não altera a sua quantidade no processo de produção;
Longo prazo: período de planejamento da produção da firma no qual todos os recursos de produção têm suas respectivas quantidades alteradas.
Por que isso é tão importante? Isso é simplesmente a chave de todo o processo de
oferta, pois liga as duas funções – produção e custos – de maneira inextrincável.1 Em todo o
processo de produção, o ofertante junta recursos uns com os outros e faz o seu produto, mas
ele sempre conta com recursos cujas quantidades estão fixadas (recursos fixos) e “sobre”
estes são colocados quantidades variáveis dos outros fatores (recursos variáveis).
1
A palavra é feia, mas é a forma que achei para que você preste atenção na importância da distinção entre curto e longo prazo.
60
EaD
EC ONOMIA
Corriqueiramente não é possível uma produção em que todos os recursos variem em
suas quantidades: não se pode alterar o número de trabalhadores; e de máquinas; e o tamanho físico da empresa; e o número de administradores; e... e... Não! Sobre uma base fixa e
estável (capital fixo) – portanto, constante – a produção estabelece um fluxo de entradas de
recursos e, com isso, tem-se um fluxo de saída de produtos. Essa rotina de in put è
(processing) throught put è out put é o curto prazo.
É possível, porém, variar o número de máquinas e mesmo a base física de uma firma
(uma filial; um novo galpão, etc., etc.). Se todos os fatores de produção envolvidos no processo tiverem suas quantidades modificadas, isso caracteriza o longo prazo. Perceba, no
entanto, que todo o processo de produção sofre um salto e se estabelece em um novo patamar. A mesma coisa ocorre, de modo inverso, quando se fecha um departamento de produção, vende-se as máquinas, demite-se os trabalhadores, etc. Observe, entretanto, que logo
se estabelece um novo curto prazo.
Como pode ser visto, o “planejamento” da vida da firma ocorre no curto prazo. O
longo prazo é “outra vida” e essa nova vida exige outra organização dos recursos envolvidos
no processo de produção. E porque a organização do processo ocorre no curto prazo é que
a produção pode ser descrita e explicada, ou seja, sistematizada.
Nesse esforço de generalização, a primeira grande constatação é a existência da Lei
dos Rendimentos Decrescentes.
Definição:
A elevação da quantidade do fator variável, sendo mantidas constantes as demais quantidades (fatores fixos), implica a produção marginal do fator variável “crescer ” até certo ponto e, a partir daí, “decrescer ”, até tornar-se negativa.
A Lei dos Rendimentos Decrescentes estabelece o padrão de mudança na produção da
firma quanto ao sentido e à taxa quando varia a quantidade de, pelo menos, um recurso de
produção. Nessas condições a quantidade de produtos (a produção total) aumentará, inicialmente a taxas crescentes e, atingido um determinado ponto, o crescimento se processará
a taxas decrescentes até atingir um ponto de máxima produção.
Assim, o curto prazo traz consigo a Lei dos Rendimentos Decrescentes, o que significa
dizer que essa Lei ocorre somente quando, pelo menos, um fator de produção tem sua quantidade mantida inalterada. Podemos, para fins de simplificação, adotar que a produção de
uma firma, sob a Lei dos Rendimentos Decrescentes seja assim representada:
61
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José Dalmo Silva de Souza – Marlene Dal Ri
Gráfico 4 – Lei dos Rendimentos Decrescentes – Representação Gráfica
Fonte: Elaborado pelos autores.
O fato de a Lei dos Rendimentos Decrescentes ser uma linha crescente e não ser uma
reta traz grande implicações para o estudo desse fenômeno. Isso, porém, exige uma matemática mais apurada...
– Ei, cara. Cê tá dizendo que nóis intão num vai istudar esta belezura?
– Ara pucha! Claro que não. Existem muitas formas de se estudar...
Usemos, portanto, um novo artifício visual e comparemos linha da Lei dos Rendimentos Decrescentes e uma linha reta.
Gráfico 5 – Curva Crescente a Taxas Variáveis e a Taxas Constantes
Fonte: Elaborado pelos autores.
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EC ONOMIA
Veja que na linha reta para “passos” do mesmo tamanho entre si no eixo dos recursos,
a “ resposta” é sempre a mesma, ou seja, “passos” do mesmo tamanho entre si no eixo da
produção. Isso aconteceria mesmo que o ângulo da curva fosse maior ou menor que 45
graus. Os “passos” ainda seriam do mesmo tamanho entre si, embora fossem todos diferentes em relação aos “passos” dados no eixo dos recursos.
2
Já para a Linha de Rendimentos Decrescentes, “passos” do
mesmo tamanho no eixo dos recursos geram respostas distintas
entre si na produção. Inicialmente eles são crescentes em tamanho do ponto A até o ponto B. Depois, se transformam em “passos” cada vez menores.
Note, no entanto, que depois do ponto B a produção total
ainda aumenta, mas agora “mais vagarosamente”. É assim que a
produção da firma se comporta no curto prazo. Guarde esta descrição e se tiver interesse busque
a explicação desse processo em um bom livro de microeconomia. Consulte a bibliografia.
Seção 4.3
A Função Custos
Não existe produção sem custos e estes são parte importante da oferta, pois da renda
auferida pelas vendas
RENDA DO OFERTANTE = PREÇO x QUANTIDADE
é necessário descontar os custos para saber o lucro
LUCRO = RENDA OFERTANTE – CUSTOS
Por mais importante que esses custos sejam (e são!!), no entanto, eles não são os
únicos que existem. Os economistas distinguem pelo menos três tipos de custos:
1 – Custo Alternativo ou Custo de Oportunidade;
2 – Custos Implícitos;
3 – Custos Explícitos.
2
Disponível em: <http://bussolavirtual.wordpress.com/2010/07/09/vamos-conversar-2/>. Acesso em: 30 jun. 2012.
63
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José Dalmo Silva de Souza – Marlene Dal Ri
4.3.1 – CUSTO ALTERNATIVO OU DE OPORTUNIDADE
O Princípio do Custo Alternativo pode ser aplicado a “n” casos distintos e, por isso,
existem inúmeras formulações, de acordo com o caso que se está querendo ilustrar. Podemos afirmar, contudo, que, “para que algo (produto) seja feito através do uso de outras
coisas (recursos), outras coisas (bens e serviços) deixam de ser feitas”. Essa ideia alude aos
usos alternativos dos recursos. Se um produto é feito com certos recursos, esses recursos não
ficam mais disponíveis para se fabricar os outros bens e serviços que seriam possíveis se os
recursos fossem utilizados em suas respectivas produções.
De forma bastante concreta percebe-se que a obtenção deste produto fabricado “custou” a não fabricação dos outros, ou seja, implicou os demais produtos não poderem ser
obtidos com o uso dos recursos.
Podemos aproximar essa ideia: se os recursos se prestam a vários usos alternativos,
alguns implicam mais rendimento que outros (podemos pensar em maior renda auferida
pelo produtor). Então existe um uso que garante o mais alto benefício. É na obtenção deste
produto que devem ser usados os recursos ou, dito de outra forma, é na produção desse bem
ou serviço que devem ser alocados os recursos, pois qualquer outra alocação traria de menor
rendimento.
Daí podemos extrair duas implicações:
• Mesmo em seu uso otimizado, ainda assim a produção deste bem ou serviço “custou” a
produção dos outros que deixaram de ser fabricados com os recursos nele alocados;
• Se não foi produzido o bem que proporcionava o maior rendimento, então essa alocação
não otimizadora implicou deixar de se ganhar algo que era possível de ser obtido. Isso não
representa exatamente uma perda (pois não foi tirado, apenas deixado de ganhar) e
tampouco é uma despesa, no sentido de que não foi pago nenhum valor.
Estes casos ilustram duas aplicações do Princípio do Custo Alternativo. Em
microeconomia aplica-se esse conceito na análise da alocação dos recursos para a produção de um bem, ou seja, para o produtor, admite-se que o custo dos recursos seja igual ao
valor dos recursos na condição de estarem aplicados no melhor dos usos alternativos possíveis.
Isso implica os recursos serem disputados no mercado dos recursos por todos os produtores que os desejam e os fatores serem alocados na produção daqueles bens que promovem a melhor remuneração, ou seja, indica o custo alternativo para o uso dos recursos
e “torna possível” uma alocação eficiente de recursos no sistema econômico pelo mecanismo de mercado.
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EaD
EC ONOMIA
Não dá para marcar bobeira e alocar recursos valiosos para fazer qualquer tareco!
Seria como pagar para fazer um curso universitário e com os recursos alocados não fazer
nada!!
4.3.2 – CUSTOS IMPLÍCITOS
Os custos implícitos constituem outro assunto espinhoso, devido às ilustrações e exemplos que proliferam na literatura econômica. Simplificaremos e diremos que:
• Os custos implícitos não são computados pela Contabilidade das firmas, ou seja, não são
contados nas “planilhas de custos” da produção;
• Geralmente estão associados a custos de recursos que já são de propriedade da firma.
Com isso, o custo alternativo do proprietário de uma empresa pode ser considerado um
“custo implícito”. Um trabalhador sobre-explorado e que não recebe pagamentos por este trabalho e, portanto, não afeta a planilha de custos também ilustra custo implícito. Assim, também são
exemplos de custos implícitos a mão de obra, a energia elétrica e o gás utilizados por quem faz
chocolate artesanal se não forem incluídos como despesas a serem cobertas pelos lucros.
4.3.3 – CUSTOS EXPLÍCITOS
São os pagamentos das despesas nos quais a firma incorre na compra (propriedade)
ou uso (posse) dos recursos alocados na produção. São as despesas que a Contabilidade das
firmas registram.
Podemos separar os custos explícitos em custos de curto prazo e de longo prazo. Para
nossos propósitos veremos unicamente os de curto prazo, pois queremos somente os principais efeitos da ligação entre a produção (e a Lei dos Rendimentos Decrescentes) e os respectivos custos. Não se preocupe, porém, adotaremos o longo prazo como uma sucessão de
curtos prazos quando isso for necessário ao bom entendimento da questão.
3
Lembre-se sempre que estamos falando de custos. Na função
produção, falamos de recursos. Recursos são forças e materiais. Custos são a ideia de valores envolvidos no uso dos recursos. Assim, se
os recursos podem ser classificados em fixos variáveis e totais o mesmo ocorre com os custos.
3
Disponível em: <http://www.icemontesbelos.com.br/o-que-voce-precisa-lembrar-sempre/>. Acesso em: 30 jun. 2012.
65
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José Dalmo Silva de Souza – Marlene Dal Ri
Veja a classificação:
• Custos fixos: despesas da firma com a propriedade ou uso dos fatores fixos;
• Custos variáveis: despesas da firma com a propriedade ou uso dos fatores variáveis;
• Custos totais: despesas da firma com a propriedade ou uso de todos os fatores envolvidos
na produção.
Se pensássemos somente em termos dos custos em si, teríamos a seguinte representação gráfica:
Gráfico 6 – Custos de Produção de uma Firma
Conforme podemos constatar, quanto mais recursos o produtor utilizar, mais cresce
sua produção e, em consequência sua renda (RO = P x Q), mas ao mesmo tempo mais
crescem suas despesas com recursos e isso afeta seu Lucro (L = RO – D). Quando ele poderia pensar em parar de comprar recursos? Quando ele deveria parar de elevar sua produção
e estabilizá-la no “melhor nível”?
Olhando o gráfico parece que qualquer ponto da quantidade de Custos é tão bom
quanto qualquer outro e a decisão de se estabilizar a produção dependeria só de aguentar
ou não pagar as despesas crescentes com o uso dos recursos. Isso, porém, é um
graaaaaaaannnnnnde erro!
Na realidade, não devemos pensar somente em termos de despesas em si (de modo
absoluto), mas sim de forma relativa, ou seja, as despesas em contraste com a produção.
Dessa forma, os Custos Explícitos de Curto Prazo podem ser classificados em:
1. Curvas de Custos Totais;
2. Curvas de Custos Unitários ou Médios
66
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EC ONOMIA
4.3.4 – CURVAS DE CUSTOS TOTAIS
A taxa de crescimento dos custos variáveis é constante, pois o produtor compra qualquer quantidade de recursos sempre pelo mesmo preço unitário (Economia de Concorrência
Perfeita, lembra-se?). Suas despesas são do tipo:
Despesas = Quantidade de Recursos x Preço dos Recursos
Se considerarmos as quantidades produzidas, no entanto, observamos a existência de
duas razões pelas quais as linhas de custos variáveis e totais não são “tão retas” assim.
• A divisão do trabalho: quando a fábrica atinge um determinado nível de produção a
exigência de divisão do trabalho traz como consequência um maior rendimento por trabalhador, pois a realização de uma única e exclusiva atividade traz implícita uma maior
eficiência. Claro que depois de algum tempo essa potencialidade se esgota e o ritmo dos
custos se altera;
• Economias no uso da fábrica e do equipamento: em geral tais instalações são indivisíveis
e assim, para níveis mais baixos de produção, sua eficiência máxima não é explorada.
Conforme aumenta a produção é possível aumentar o ritmo de produção com ganho em
produtividade. Claro que depois de algum tempo a maior produção começa a sobrecarregar as instalações e essa potencialidade se esgota e então os custos voltam a crescer a
taxas crescentes.
Gráfico 7 – Custos Considerados em Relação à Produção
Fonte: Elaborado pelos autores.
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José Dalmo Silva de Souza – Marlene Dal Ri
4.3.5 – CURVAS DE CUSTOS UNITÁRIOS OU MÉDIOS
Os custos unitários “surgem” quando dividimos os custos totais (Custo Variável, Custo Fixo e Custo Total) pelos níveis de produção.
Existem quatro tipos de custos unitários e cada um é representado por uma linha no
gráfico.
Custo Fixo Médio – CFM: Custo fixo dividido pelo respectivo nível de produção;
Custo Variável Médio – CVM: Custo variável dividido pelo respectivo nível de produção;
Custo Total Médio – CTM: Custo total dividido pelo respectivo nível de produção.
Custo Marginal – CMg: o Custo Marginal alude à ideia de que cada unidade de
recursos tem peso diferente para a produção, conforme esteja sendo utilizado na zona de
rendimentos crescentes ou decrescentes. Cada unidade de recurso custa sempre a mesma
coisa em dinheiro – pois a firma não tem poder para modificar a estrutura de preços vigentes,
ou seja, é insignificante diante do mercado – no entanto “ rende” de modo diferente de
forma que pesa “menos” quando rende mais e, por render menos, depois “pesa” mais. É a
mesma ideia: estique o braço e segure um litro de água. No primeiro minuto, o peso não se
transforma muito, mas depois de meia hora aquele 1kg de água (a densidade da água é 1)
“está pesando” quase 20kg.
Gráfico 8 – Curvas de Custos Explícitos de Curto Prazo Custos Unitários
Fonte: Elaborado pelos autores.
Note:
• O custo fixo médio vai se “diluindo” conforme a produção aumenta;
• O custo marginal vai se reduzindo de início até atingir um ponto mínimo e então começa
a crescer.
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EaD
EC ONOMIA
Preste muita atenção:
É o custo marginal (o peso do custo do recurso em relação ao rendimento na produção)
que determina todos os formatos das curvas. Aqui, interessa enfatizar somente o seguinte:
• Quando o Custo Marginal < Custo Variável Médio, o Custo Marginal “puxa” o Custo
Variável Médio para baixo, ou seja, diminui a média;
• Quando o Custo Marginal > Custo Variável Médio, o Custo Marginal “empurra” o Custo Variável Médio para cima, ou seja, eleva a média;
Assim, quando o Custo Marginal é menor do que a média ele força a média para
baixo. Por isso, a curva de Custo Variável Médio vai baixando até atingir um ponto mínimo.
Note que o Custo Marginal “corta” a curva de Custo Variável Médio exatamente no ponto
mínimo. Depois deste ponto, o Custo Marginal é superior à média e, portanto, a Curva de
Custo Variável Médio começa a subir, pois é arrastada pelo maior valor do Custo Marginal.
Agora temos um ponto para refletir sobre quando “parar de aumentar ” a produção.
4.3.6 – NÍVEL ÓTIMO DE PRODUÇÃO
Conforme aumenta a produtividade (ou os rendimentos) dos recursos seu “peso” é
cada vez menor e por isso a média dos custos vai se rebaixando. Mesmo depois, quando o
custo marginal chegou ao seu menor valor e começa a subir (seu “peso” se eleva), é possível
que ainda esteja abaixo da média. Chega um ponto, porém, em que o custo marginal – que
já começou a subir há algum tempo – é igual ao custo variável médio. Em outras palavras,
as duas linhas se interceptam. Esse ponto em que CMg = CVM pode ser comprovado por
cálculos – é uma propriedade matemática – que é sempre o ponto mais baixo da curva de
Custo Médio, ou seja, seu ponto mínimo. É fácil perceber porque: depois que são iguais,
conforme o custo marginal (o peso) aumenta, eleva toda a média.
Pois bem, voltemos ao gráfico. Para melhor visualização, colocaremos somente as curvas de CMg e CVM.
Gráfico 9 – Nível Ótimo de Produção
Fonte: Elaborado pelos autores.
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José Dalmo Silva de Souza – Marlene Dal Ri
A produção que é determinada pelo ponto CVM = CMg é chamada de Nível Ótimo de
Produção, pois nesse nível o valor dos gastos com unidades de fatores de produção é o menor
possível, ou seja, a firma é eficiente na alocação de recursos. Note, porém, que o tamanho
ótimo da firma não é necessariamente onde a firma obtém o mais alto lucro, uma vez que no
cálculo do lucro concorrem também outros elementos, tais como a renda auferida com as
vendas e os preços praticados no mercado do produto. Sobre isso trataremos mais tarde.
4.3.7 – TAMANHO ÓTIMO DA FIRMA
A primeira observação a ser feita é que tamanho da firma, em microeconomia, não se
refere à área construída ou dimensões físicas da empresa – galpão, terreno, etc. – mas à quantidade de recursos que a firma utiliza em sua produção, uma vez que Produção = f (Recursos).
Se acreditarmos que o longo prazo é uma sucessão de curtos prazos, ainda assim
devemos admitir que existem economias de escala, ou seja, a firma torna-se mais eficiente a
maiores níveis de produção. Não porque paga menos pelos recursos – o que pode ocorrer na
realidade, mas que não estamos admitindo na Economia de Concorrência Perfeita –, mas
porque há divisão e especialização do trabalho (o trabalhador dedica-se àquela função que
desempenha melhor) e porque há tecnologia mais avançada à disposição (inclusive equipamentos maiores/melhores).
Depois de determinado ponto, no entanto, as dificuldades de administração (controle
e comando) também se multiplicam (deseconomias de escala) e os custos voltam a crescer.
O que devemos notar é que, mesmo no longo prazo a curva de custo médio também
terá a forma clássica de “U”.
Assim, aquele tamanho da firma em que o ponto mínimo do CVM de curto prazo é
igual ao ponto mínimo do CVM de longo prazo é chamado Tamanho Ótimo da Firma. Ele é
o mais eficiente dos tamanhos que a firma pode adotar para operar no mercado.
Gráfico 10 – Tamanho Ótimo da Firma
Fonte: Elaborado pelos autores.
70
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EC ONOMIA
Em Economia de Concorrência Perfeita as firmas operarão em seu tamanho ótimo? Por
quê?
Porque estamos em um modelo de eficiência máxima na alocação de recursos e esse
tamanho é o mais eficiente! É fácil perceber que no monopólio ou no oligopólio, por exemplo, essa “eficiência” não é necessariamente maximizadora do lucro e, portanto, esse tamanho ótimo da firma não é levado em grande consideração... (para se dizer o mínimo!).
Vimos os três tipos de custos que os economistas admitem: custos de oportunidade,
custos implícitos e custos explícitos. Se o custo alternativo for zero ou mais simplesmente,
se a firma opera alocando os recursos em seu uso mais eficiente e se os custos implícitos não
existem, ou seja, foram todos explicitados (tanto quanto possível), então os relatórios da
firma que a Contabilidade produz registram todas as informações possíveis de custos que o
administrador necessita para as tomadas de decisão em âmbito administrativo.
Para a Economia, entretanto, os custos explícitos, mais os custos implícitos é que são
considerados os custos de produção. Vamos agora juntar custos e produção...
4.3.8 – INCLINAÇÃO DA CURVA DE OFERTA
Sabemos que o ofertante deseja obter a maior renda possível: ROmáx = P x Q.
O ofertante é tomador de preços no mercado, mas controla a quantidade que produz.
Como ele também se preocupa com os custos, pois seu lucro depende também deste item,
uma vez que L = RO – C, o produtor busca o tamanho ótimo da firma onde o valor médio
das despesas com unidades de recursos no longo prazo é o menor possível. Isso ocorre no
nível ótimo de produção do longo prazo. Em outras palavras: é o nível de custos que indica
qual tamanho da firma – qual a quantidade de recursos totais, ou seja, quanto de recurso
variável pode ser colocado para dada dotação de recursos fixos – para obter uma produção
eficiente (na alocação de recursos).
Agora, atenção!
O ofertante não pode aumentar sua produção a partir do tamanho ótimo da firma sem
aumentar a média de seus gastos com recursos. Ele se tornaria menos eficiente e isso prejudicaria seus objetivos de maximizar os lucros. Nessa situação ele só aumentaria a produção se
também aumentasse o tamanho da firma (longo prazo). E se ele tivesse de aumentar a quantidade de produtos no mercado com o mesmo tamanho da firma, ou seja, no curto prazo?
A resposta é simples: o ofertante só vai aumentar sua produção e incorrer em maiores
níveis de custos médios – sair do ponto mínimo onde o CMg = CVM – se o preço de mercado
aumentar.
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EaD
José Dalmo Silva de Souza – Marlene Dal Ri
Note que a curva de oferta estabelece uma relação direta entre preços e quantidades/
tempo, ou seja, as duas variáveis “caminham no mesmo sentido”: quando uma aumenta seu
valor, a outra faz a mesma coisa. E, quando uma reduz, a outra também.
Gráfico 11 – Inclinação da Curva de Oferta
Fonte: Elaborado pelos autores.
Isso encerra nossa discussão sobre a curva de oferta. Como já sabemos também todo o
“necessário” sobre curva de demanda (você não esqueceu, né?), podemos agora juntar tudo
e vermos como funciona o mercado. Faremos isso na próxima Unidade.
SÍNTESE DA UNIDADE 4
Nesta Unidade você pôde compreender o mundo com o qual se
ocupa o ofertante em seu dia a dia: comprar recursos, produzir,
vender produtos.
Ele quer obter o máximo de renda e para isso busca otimizar sua
produção, mesmo enfrentando no curto prazo a Lei dos Rendimentos Decrescentes e os preços determinados pelo mercado para seus
produtos.
Por outro lado, ele deve observar atentamente custo de oportunidade de sua atividade bem como os seus custos implícitos.
Além disso, como ele deseja minimizar os seus custos de produção,
ele deve calcular seu nível ótimo de produção e seu tamanho ótimo da firma para saber quando parar de elevar sua produção e
estacioná-la. Sair daí, só mesmo se os preços de mercado tiverem
alta.
Isso, porém, não garante automaticamente que o ofertante esteja
maximizando seus lucros...
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Unidade 5
TUDO JUNTO DE UMA VEZ, AGORA:
A Determinação do Preço de Mercado
OBJETIVOS DESTA UNIDADE
• Queremos saber como e porque os preços de mercado variam, ou seja, como é formado o
preço de mercado. Queremos também entender qual o tamanho de um mercado de concorrência perfeita.
AS SEÇÕES DESTA UNIDADE
Seção 5.1 – Equilíbrio Microeconômico e Mecanismo de Mercado
Seção 5.2 – Lucro Econômico, Lucro Contábil e Tamanho da Indústria:
uma discussão necessária
Seção 5.1
Equilíbrio Microeconômico e Mecanismo de Mercado
Quase todo mundo tem uma ideia intuitiva de como funciona o “mercado” e o mecanismo
de oferta e demanda. A experiência comum nos dá pistas para sabermos o que ocorre. É possível,
no entanto, sistematizarmos um pouco que seja essa “intuição” que já temos. Vamos lá.
5.1.1 – EQUILÍBRIO MICROECONÔMICO
Comecemos com o conceito de Equilíbrio Econômico.
1
Equilíbrio Econômico é definido, em Economia, simplesmente como
a igualdade entre as quantidades demandadas e as quantidades
ofertadas. Só isso e nada mais.
1
Disponível em: <http://ericamagropires.blogspot.com.br/2012/04/atencao-atencao-esta-chegando-hora.html>. Acesso em: 30 jun. 2012.
73
EaD
José Dalmo Silva de Souza – Marlene Dal Ri
Quantidade Ofertada = Quantidade Demandada Equilíbrio Econômico
O “gráfico” do Equilíbrio Econômico é construído quando colocamos no mesmo diagrama as duas linhas, a de demanda e a de oferta.
Gráfico 1 – Equilíbrio Microeconômico
Fonte: Elaborado pelos autores.
Note que o preço de mercado é o próprio preço de equilíbrio, ou seja, o preço praticado
no mercado é formado pela interação entre as forças de oferta e de demanda. Assim, ao
preço de mercado, a quantidade ofertada é exatamente a mesma quantidade demandada.
Na intersecção das curvas temos o Ponto de Equilíbrio (E).
Sem sequer tentarmos ver todas as implicações possíveis, vejamos – literalmente – algumas interessantes constatações.
Gráfico 2 – Equilíbrio Econômico e Preço de Mercado
Fonte: Elaborado pelos autores.
Usando como referência o preço de equilíbrio, ou seja, o preço de mercado, no primeiro gráfico,
a um preço maior os ofertantes estarão dispostos a produzir uma quantidade superior àquela do
equilíbrio, mas os demandantes não se sentem incentivados a adquirir sequer a “antiga” quantidade.
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No segundo gráfico, a preços menores que o preço de equilíbrio os consumidores aumentam a intenção de demandar o produto, mas os ofertantes se sentem desestimulados a
oferecer sequer a quantidade do ponto de equilíbrio.
5.1.2 – MECANISMO DE MERCADO
Com nosso conhecimento das curvas de oferta e demanda, já sabemos que a quebra da
condição ceteris paribus sempre se expressa graficamente como um deslocamento da curva
sobre o plano do gráfico. Para ilustração, vamos supor que a demanda se desloque para a
“direita”.
Gráfico 3 – Mecanismo de Mercado e Quebra da Condição Ceteris Paribus na Curva da Demanda
Fonte: Elaborado pelos autores.
Se considerarmos um deslocamento da curva de demanda, por exemplo, por elevação
da renda do consumidor e um mercado de bem superior, observe que o aumento da demanda
modifica a quantidade demandada em relação à quantidade ofertada (leia isso no eixo das
quantidades. A nova quantidade, intencionalmente, não foi marcada para que você faça
isso como treino!).
Em um primeiro momento não há mais equilíbrio, pois existe agora um excesso de
demanda (QD > QO ). No momento seguinte a oferta se eleva, não por deslocamento da
curva, mas por aumento da produção estimulado pela elevação de preços, ou seja, na própria curva de oferta já existente.
Assim, excessos de demanda causam elevação de preços.
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José Dalmo Silva de Souza – Marlene Dal Ri
QD > QO elevação do preço de mercado
Analogamente, vejamos um deslocamento da curva de oferta, ou seja, quebra da condição ceteris paribus para a curva de oferta.
Gráfico 4 – Mecanismo de Mercado e Quebra da Condição Ceteris Paribus na Curva de Oferta
Fonte: Elaborado pelos autores.
A elevação da quantidade ofertada devido à quebra da condição ceteris paribus – pensemos, por exemplo, no aumento do número de ofertantes na indústria – causa um excesso
de oferta sobre a demanda (Qo > Qd) e, consequentemente, implica redução do preço de
mercado (coloque no gráfico a “nova” quantidade a ser ofertada e monte o raciocínio para
a queda de preços).
Assim, excessos de oferta causam redução de preços.
QO > QD redução do preço de mercado
Assim sendo, o mecanismo de mercado é de tal modo que, simplificadamente – pois não
estamos considerando as consecutivas reações dos agentes econômicos às variações de preços
(o gráfico vira uma “teia de aranha”!!) – podemos guardar o seguinte raciocínio quanto à
quebra da condição ceteris paribus, tanto da curva de demanda quanto da curva de oferta:
QD > QO elevação do preço de mercado
QO > QD redução do preço de mercado
Agora você pode exclamar: Isso eu já sabia!
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EC ONOMIA
Seção 5.2
Lucro Econômico, Lucro Contábil e Tamanho da Indústria:
uma discussão necessária
Se você assimilou bem o que foi estudado sobre as forças de mercado (demanda, oferta e equilíbrio econômico) e compreendeu os pontos mais importantes, então você está
preparado para algumas questões que ficaram sem receber atenção.
5.2.1 – MAXIMIZAÇÃO DE LUCROS
Já sabemos que o lucro é calculado como a renda que o ofertante aufere com as vendas dos produtos, deduzidos os custos em que incorre e que o valor da própria renda é
definido por meio da multiplicação do preço de mercado pela quantidade produzida. Assim,
temos:
• L = RO – C
• RO = P x Q
Pois bem! O produto está no mercado. A oferta é feita por firmas individuais (as “empresas”) e o conjunto das firmas responsáveis pela oferta do produto é chamado indústria.
Lembre-se: renda do ofertante é o montante monetário que o conjunto dos produtores
do bem ou serviço (indústria) auferem com as vendas do produto no mercado. Já a receita
total é o montante monetário que a firma (o agente econômico considerado individualmente) aufere com a venda da sua produção.
Mais essa agora! Indústria que não é empresa!
É o conjunto de empresas do ramo do produto específico...
A receita total da firma é, portanto, graficamente uma linha reta obtida pela multiplicação entre a quantidade vendida pela firma e o preço praticado no mercado.
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José Dalmo Silva de Souza – Marlene Dal Ri
Gráfico 5 – Receita Total da Firma
Fonte: Elaborado pelos autores.
Quanto à curva de custos totais (CT), já vimos que começam refletindo ganhos de
escala e depois, deseconomias de escala (Lei dos Rendimentos Decrescentes no curto-prazo e
no longo prazo, divisão do trabalho e melhor tecnologia, mas também maiores dificuldades
de administração). Volte lá atrás e reveja o gráfico.
Para nossa argumentação é mais “ rápido” visualizarmos o que acontece com o lucro
quando juntamos em um mesmo gráfico tanto a RT quanto o CT.
Gráfico 6 – RT e CT: maximização do lucro da firma
Fonte: Elaborado pelos autores.
Se L = RT – CT, então a maximização dos lucros ocorre no ponto em que existe a
maior distância vertical no gráfico entre as linhas de Receita Total e Custo Total. Isso pode
ser demonstrado algebricamente por pelo menos dois caminhos, mas para nós basta-nos a
visualização gráfica e a compreensão da ideia básica. Olhe novamente o gráfico anterior.
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EC ONOMIA
5.2.2 – LUCRO ECONÔMICO
Vimos que nos custos de produção estão as despesas monetárias com a aquisição/
aluguel dos recursos e outros custos de oportunidade dos usos alternativos dos recursos
usados, mas é preciso mais: uma firma só tem interesse em operar no mercado se isso lhe
trouxer uma certa margem de ganho líquido. Assim, do ponto de vista do ofertante, a firma
deve gerar uma renda suficiente para quitar as suas despesas, inclusive os lucros.
Note que a frase ficou muito esquisita! É de propósito!
É para chamar a atenção para um raciocínio diferente e radical.
A firma deve cobrir os custos totais, mas estes custos totais são:
• as despesas monetárias explícitas (aquelas registradas pela Contabilidade);
• o custo de oportunidade dos recursos (pois poderiam estar sendo alocados em outra produção alternativa ou em investimento financeiro);
• e ainda o lucro exigido para a operação no mercado.
Esses economistas!!!! Não bastava verem esse tal de custo de oportunidade
que quase ninguém vê... eles ainda somam lucro com despesas!?!?!?!?!
Mas não é que este é um raciocínio muito inteligente no final das contas!!
Assim, no gráfico anterior, a maximização do lucro da firma está “exagerada” do ponto de vista da Contabilidade, pois é mais que o simples “lucro contábil”.
Esse lucro calculado dessa maneira especial recebe o nome de Lucro Econômico ou
Lucros Anormais, pois o rendimento suficiente para manter a firma operando no mercado já
está incluído em seu valor, além, é claro, do Custo de Oportunidade.
5.2.3 – TAMANHO DO MERCADO
Lembra-se do mecanismo de mercado, da demanda, da oferta e do equilíbrio econômico? Recorda-se também que se aumentar o número de ofertantes no mercado isso deslocaria
a curva de oferta do mercado para mais distante da origem do diagrama (quebra da condição ceteris paribus) e isso implicaria queda do preço das vendas de toda a indústria?
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José Dalmo Silva de Souza – Marlene Dal Ri
Pela dinâmica da função oferta, vimos que a elevação da quantidade ofertada por
parte da firma, ou seja, elevação da produção, só ocorre se houver elevação do preço de
mercado (declividade positiva da curva de oferta e deslocamento do ponto sobre a curva). A
elevação da quantidade ofertada pela indústria devido ao aumento do número de ofertantes
no mercado, no entanto, ocorre com a queda de preços do produto (deslocamento da curva
ou quebra da condição ceteris paribus).
Assim, dado um mercado:
1. a existência de lucro econômico atrai firmas para a indústria;
2. a entrada de firmas na indústria deprime os preços de mercado.
Vamos entender isso melhor e ver as implicações.
Dado o mercado do produto, se existe lucro econômico, isso significa que o agente
que se dispuser a montar ali uma firma, ou seja, alocar seus recursos na produção daquele
bem ou serviço, não só “tirará” de sua atividade o lucro contábil esperado para que valha
a pena, mas também conseguirá obter melhor remuneração do que se investisse seus recursos numa outra atividade (custo alternativo). Isso fará com que mais e mais firmas
ingressem no mercado (aumento da indústria). O efeito disso, já sabemos: queda do preço
do mercado!
Ora, com preço menor de venda do produto no mercado a rentabilidade de cada firma
da indústria cai e isso pode ser visualizado graficamente por uma reta de RT mais “baixa”.
Embora lucro econômico e custos totais sejam importantes para fazer a firma entrar no
mercado e, portanto, estabelecer o preço de mercado e uma maior disputa por recursos necessários à produção implique elevação dos preços dos fatores, no entanto, o preço menor
no mercado do produto não é definido pelas despesas com recursos e por isso não afeta
diretamente os custos das firmas. A curva de CT da firma ainda permanece para o mesmo
nível de produção no futuro imediato.
À medida que entram mais e mais firmas na indústria atraídas pelo lucro econômico
(lembre-se que na concorrência perfeita não há barreiras artificiais à entrada de novas firmas), este vai se reduzindo. Apesar de que o lucro contábil ainda continua existindo (pois
está “contado” junto com as despesas e com o custo alternativo) quando a RT tangencia a
CT o lucro econômico é zero.
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EC ONOMIA
Gráfico 7 – Lucro Econômico Nulo da Firma e Tamanho da Indústria
Fonte: Elaborado pelos autores.
O que isso significa?
Significa que um agente fora do mercado não será atraído a entrar na indústria por lucros
anormais. Aliás, a entrada de novas firmas pode reduzir ainda mais o preço de mercado e eventualmente comprometer a saúde econômica das firmas pela corrosão da taxa de lucro contábil.
Sintetizando:
Quando o lucro econômico é igual a zero, o mercado tem todas as firmas que pode
suportar e, mesmo sem barreiras à entrada, não haverá interesse de novas firmas entrarem
na indústria. O que isso traz à lembrança? Essa é a definição de concorrência!
Pode parecer estranho, mas agora fica muito mais fácil estudar microeconomia. Volte e
leia tudo de uma vez, estudando para a prova...
SÍNTESE DA UNIDADE 5
Nesta Unidade você pôde compreender o mecanismo de mercado e
seu funcionamento para a formação do preço dos produtos por meio
das forças de demanda e oferta (equilíbrio econômico).
Pôde compreender também com é estabelecido o “tamanho” da
indústria, ou seja, como um agente econômico pode saber se vai
ou não entrar no “negócio” e passar a produzir um dado bem ou
serviço. A chave da decisão é o lucro econômico.
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EaD
Unidade 6
EC ONOMIA
A MACROECONOMIA E O COMEÇO DE TUDO:
Vamos por Partes!
OBJETIVOS DESTA UNIDADE
• Nesta Unidade inicial de macroeconomia aprenderemos alguns conceitos e definições que
nos auxiliarão a compreender as principais ideias que norteiam a investigação sobre a
dinâmica de funcionamento de um sistema econômico. Faremos isso, porém, de uma maneira muito especial, ou seja, nada de chatice de dicionários. Só a capacidade que eles
têm de satisfazer a curiosidade e construir conhecimento.
AS SEÇÕES DESTA UNIDADE
Seção 6.1 – Definições, Conceitos e Escopo
Seção 6.2 – Noções de Contabilidade Social
Seção 6.1
Definições, Conceitos e Escopo
A expressão-chave no ensino da macroeconomia é produto agregado. Isso porque em
macroeconomia estamos interessados na dinâmica do sistema econômico, ou seja, seu funcionamento geral. Por isso, dentro de uma concepção inicial e fiéis ao princípio de ensino
exposto, precisamos nos apropriar dos conceitos, das definições das variáveis que integram
nosso pensamento.
6.1.1 – O SISTEMA ECONÔMICO E O PRODUTO AGREGADO
Comecemos por sistema econômico. Para nossos fins adotaremos uma definição funcional de sistema econômico do ponto de vista de sua estrutura e funcionamento.
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EaD
José Dalmo Silva de Souza – Marlene Dal Ri
Veja a figura:
Figura 1 – Estrutura dos Sistemas Econômicos
Fonte: Adaptado de Dornbusch e Helmers (1991).
Assim, um sistema econômico pode ser entendido como um conjunto de três partes
fundamentais, às quais agregaremos a existência do mercado interno:
1 – Estoque de Recursos: aqui entende-se por recursos todo elemento que pertence ao sistema econômico e que participa da promoção de seu nível de bem estar.
a) Humanos: é a população do território do sistema, ou seja, o conceito abrange não
somente os agentes econômicos, mas as pessoas mesmo, diríamos, os cidadãos. Os recursos humanos podem ser abordados segundo duas óticas distintas:
• Estática – quando os vemos como partes estanques de um todo, por exemplo, divididos em população urbana e rural; ou classificados por faixas etárias, gênero ou nível
formal de instrução escolar.
• Dinâmica – quando os vemos como um fluxo que se modifica através do tempo, por
exemplo, taxa de urbanização; ou taxa de envelhecimento da população; ou as transformações na pirâmide populacional por sexo ou ainda taxas de matrículas e evasão
escolar, etc.
b) Patrimoniais: aqui estão incluídos todos os resultados positivos da ação do ser humano
sobre o seu ambiente físico e que, por isso, participam da promoção do bem-estar da
sociedade. Inclui tudo o que se considera por infraestrutura, mas é um conceito de
maior amplitude.
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EC ONOMIA
2 – Unidades Produtivas/Produtoras: é o conjunto de todas as firmas, ou seja, dos agentes
ofertantes do sistema.
3 – Arcabouço Institucional: é o contexto de “regras do jogo” no qual acontecem os fatos
econômicos. Assim entendido, o arcabouço institucional abrange todas as diversas formas pelas quais a sociedade faz o que faz, ou seja, o “como a sociedade costuma fazer o
que faz”. As instituições podem ser classificadas em diversos grupos e ilustraremos apenas quatro delas:
• Sociais – em sua teia de relacionamentos, a sociedade utiliza determinados modos de
fazê-los, por exemplo: organiza-se por meio de famílias (a célula mater da sociedade);
reproduz, dissemina e cria conhecimento por meio de escolas, etc.
• Políticas – são as diversas formas de organização da sociedade para a resolução ou
minimização de conflitos de valores;
• Jurídicas – são todas as “formas pelas quais a sociedade” atua no tocante a leis e
regras, enfim, sua elaboração e avaliação do seu cumprimento;
• Econômicas – o sistema financeiro (a forma como ocorrem as transações financeiras);
o mercado (as forças de demanda e oferta); a moeda nacional, etc.
4 – Mercado Interno: o mercado interno não aparece nos livros-texto que tratam do assunto, no entanto, por sua importância explicativa e em homenagem a todos que se debruçaram sobre seu papel fundamental (Celso Furtado, Milton Santos...) nós o incluiremos.
Note que esse conceito de instituição é diferente daqueles que normalmente
se pensa conhecer, por exemplo, o conceito de organização...
1
Por que é importante ter em mente esse esquema do siste-
ma econômico em seu aspecto funcional? Porque nos aponta
para onde o economista olha e o que vê quando lhe pedimos
que observe a realidade. “A teoria indica ao cientista o que
procurar ”.
O economista vê a realidade como um sistema econômico constituído dessas três partes básicas (e mais o mercado interno).
Normalmente, a matriz de análise da macroeconomia é a unidade nacional (Estado
Nacional), no entanto, a rigor, pode ser qualquer recorte espaço-temporal.
1
Disponível em: <http://domesdicas.wordpress.com/2011/03/23/procurando-a-casa-ou-apto/>. Acesso em: 30 jun. 2012.
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José Dalmo Silva de Souza – Marlene Dal Ri
Quando nos referimos à dinâmica do sistema econômico, queremos com isso dizer que
estamos interessados no comportamento do todo em seu conjunto e não apenas das partes
em si que o compõem.
Para isso, utilizamos o estudo das variáveis agregadas. As variáveis agregadas são aquelas que nos dão características de todo o sistema, tais como taxa de juros, nível de inflação,
demanda ou oferta total de bens e serviços, volume de investimento ou nível de desemprego.
A taxa de juros do sistema não é a soma ou conjunto de pequenas taxas de juros!!
Nem também se trata de uma média...
Por isso, o recorte privilegiado da macroeconomia é o Estado Nacional autônomo e
soberano, com status de igualdade perante as demais unidades nacionais da sociedade internacional e, sobretudo, com sua moeda nacional. Esse é, por assim dizer, o sistema econômico por excelência para a análise macroeconômica.
Adotaremos que sistema econômico seja referenciado pelo Estado Nacional, a não ser quando expressamente dito que se refira a outro recorte, uma “cidade” ou uma região, por exemplo.
E para finalizar essa primeira abordagem, vejamos o conceito de produto agregado.
Produto Agregado: quantidade de bens e serviços disponibilizados no sistema econômico para uso final aos diversos níveis de preços em dado período de tempo.
Em outras palavras, produto agregado é tudo o que existe nos diversos mercados para
ser vendido e consumido (produtos) ou para servir de meios para se produzir mais bens e
serviços (máquinas e equipamentos, ou seja, capital produtivo).
Assim, podemos sistematizar no esquema a seguir o seguinte raciocínio: o produto
agregado é o principal resultado operacional do funcionamento do sistema econômico.
Note que:
“Funcionar”, aqui, significa que há atividade econômica, ou seja, existem transações, mercado...
“Principal”, aqui, significa da perspectiva operacional, ou seja, para fins de
explicar e descrever.
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EC ONOMIA
Todas as sociedades, ou antes, todos os sistemas econômicos devem tomar uma série
de decisões que, por fim, vão se concretizar no produto agregado, ou seja, nos bens e serviços que estarão disponibilizados no sistema econômico para satisfazer as necessidades existentes. A essa questão dá-se o nome de Problema Econômico Fundamental (PEF).
Assim, para se chegar a um diagnóstico do produto agregado, o economista guia-se
por algumas orientações na forma de perguntas, como se fosse um roteiro para abordar o
produto agregado. Em geral, enfatiza-se nos livros didáticos a seguinte “fórmula”:
1. O que produzir?
2. Como produzir?
3. Para quem produzir?
4. Quanto produzir?
Isso significa que quando se vê o produto agregado de um sistema econômico podemos observar quais produtos (bens e serviços) estão disponibilizados e, assim, sondá-los
quanto as suas demais características.
Complementando essa abordagem sobre o PEF, devemos observar que sua resolução
se concretiza por três vias: por meio do Estado/governo; por meio do mecanismo de mercado
(forças de demanda e oferta) e por meio de ambos os expedientes.
Assim, o produto agregado pode ser decidido por força de uma decisão do governo e
concretizado pela iniciativa estatal (como na ex-União Soviética) como pode também ser
efetivado pela ação da iniciativa privada. E, mais comumente, o PEF pode ser solucionado
pela ação conjunta do setor público e da iniciativa privada. As chamadas economias de
mercado são, na verdade, economias mistas, nas quais a produção de bens e serviços é
realizada pelo setor estatal e pelo mecanismo de mercado de forma integrada.
Embora algumas economias sejam mais liberais (ênfase na iniciativa privada) e outras
nem tanto – ou seja, exista um grande peso da participação estatal – todas elas têm em
comum a presença de ambas as instituições (mercado e governo) na determinação da estrutura e composição do produto agregado, pois precisam se posicionar diante de algumas
questões importantes, por exemplo:
• existem bens que a iniciativa privada teria interesse em produzir (bens privados) mas que
a sociedade considera, por um juízo de valor, que não devam ser produzidos. Cabe ao
governo impedir tal produção?
• existem bens que a iniciativa privada teria interesse em produzir (bens privados) mas que
a sociedade considera, por um juízo de valor, que devam ser produzidos pela esfera pública somente?
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José Dalmo Silva de Souza – Marlene Dal Ri
• existem bens que a iniciativa privada não teria interesse em produzir (bens públicos) mas
que a sociedade acredita (por um juízo de valor) que devam ser produzidos e disponibilizados
à sociedade. Cabe ao Estado tal tarefa ou produzindo tais bens e serviços ou promovendo
a produção pela iniciativa privada e respectivo acesso pelo público-alvo (função
distributiva, para além da redistribuição de renda)?
MANTENHA A CONTINUIDADE DO RACIOCÍNIO. NÃO SE PERCA!!
Pois bem: existe um sistema econômico, ele está funcionando, ou seja, há atividade
econômica e seu principal resultado é o produto agregado. A constituição e estrutura do PA
constitui o PEF e sua resolução se dá por meio das forças de mercado, da ação do governo
ou ambos.
Figura 2 – Problema Econômico Fundamental
Fonte: Elaboração dos autores.
Com isso encerramos nossa primeira abordagem sobre o sistema econômico. Tenha em
mente esse tema, no entanto, pois voltará com força total logo, logo, mais à frente!
6.1.2 – FLUXOS ECONÔMICOS E MAIS ALGUMAS DEFINIÇÕES/CONCEITOS
Uma ilustração muito popular do sistema econômico é aquela que representa os
fluxos econômicos no interior de um sistema. A ideia central é que existem dois fluxos que
se completam entre si e formam o conjunto de transações agregadas. Estes dois fluxos são
formados a partir da ação dos agentes cumprindo duas “funções” diferentes e, portanto,
sendo classificados em duas categorias distintas. De uma parte temos as “unidades
familiais”, que representam o grupo de agentes que não produzem bens e serviços, mas
sim, os compram.
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EaD
EC ONOMIA
Note que não são famílias e nem unidades familiares...
Observe também que ambos os grupos são demandantes e ofertantes ao mesmo tempo: um demanda bens e serviços e oferta recursos e outro demanda recursos
e oferta produtos.
A dinâmica que se estabelece é que as unidades familiais cedem os recursos de produção às unidades produtoras e recebem destas os produtos. Este é o fluxo real. Por outro lado,
as unidades produtoras recebem moeda das unidades familiais em virtude do pagamento
pelos produtos e, por sua vez, pagam a estas, em unidades monetárias, pela cessão dos
recursos. Isto constitui o fluxo monetário. Assim, o uso de cada recurso produtivo alocado
na produção de um bem ou serviço deve ser remunerado, ou seja, a utilização incorre em um
respectivo custo. E a utilização do produto incorre em um gasto, o pagamento de seu preço.
Veja a seguir a lista dos recursos/fatores de produção – no fundo, ainda as mesmas
“forças e materiais” usadas em microeconomia, mas agora com uma roupagem de variáveis
agregadas e suas respectivas remunerações.
Quadro 1 – Fatores de Produção e Respectivas Remunerações
FATORES OU RECURSOS
DE PRODUÇAO
REMUNERAÇÃO
DOS
FATORES DE PRODUÇÃO
Terra
Aluguel
Trabalho
Salários
Tecnologia
Royalty
Capital
Juro
Capacidade Empresarial
Lucro
OBSERVAÇÕES
É a própria terra (solo), mas também
a ideia de território, ou seja, base
física e construções, embora não as
máquinas e equipamentos
Não se refere às rubricas da
Contabilidade e da Administração,
portanto não se usa salários,
ordenados, pró-labore, etc.
É uma nomenclatura técnica e não
se confunde com certas rubricas da
Administração
municipal
para
repasse de verbas federais...
Não se trata exatamente da taxa de
juros e sim do montante de moeda
alocado para uso ou propriedade
deste recurso específico. A variação
(positiva) do capital é o Investimento
e o desgaste, a depreciação.
A
palavra
original
é
entrepreneurship e indica aquilo
que é próprio de quem tem iniciativa
na Economia Real (produtiva);
Capacidade
empreendedora
(espírito empresarial).
Fonte: Elaborado pelos autores.
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José Dalmo Silva de Souza – Marlene Dal Ri
Agora que já sabemos todas essas coisas, podemos conceituar os Fluxos Monetário e Real:
• FLUXO REAL: é aquele formado por produtos (bens e serviços) e também pelos fatores ou
recursos de produção (terra, trabalho, tecnologia, capital e capacidade empresarial). Note
que os serviços, assim como a tecnologia e a capacidade empresarial, são entes abstratos
e assim, o nome Fluxo Real não significa que sejam somente entes “concretos” como
pode parecer à primeira vista. É real, porque se referem à esfera produtiva da Economia em
contraposição à esfera dos pagamentos (financeira).
• FLUXO MONETÁRIO: é aquele formado pelos pagamentos dos preços dos produtos (bens
e serviços) e remunerações dos fatores produtivos (aluguel, salários, royalties, juros e lucros) em unidades monetárias. Cuidado: é fluxo monetário porque envolve valores em
moeda, embora os preços sejam um conceito e remuneração dos fatores (custos) seja outro conceito distinto.
Observe a figura:
Figura 3 – Sistema Econômico – Fluxos Econômicos (sem governo e sem sistema financeiro)
Fonte: Adaptado pelos autores de Rossetti (1985).
Note que o Fluxo Monetário é composto de “duas partes”, ou seja, os preços dos
produtos e os custos dos recursos e, por outro lado, o Fluxo Real também é constituído de
“duas partes”, os Produtos e os Recursos.
Sobre esse esquema inicial, costuma-se agregar as informações relativas tanto ao governo quanto ao sistema financeiro. Isso porque, destes fluxos principais, nem toda a renda
apropriada pelas unidades familiais mediante a cessão dos recursos é gasta na compra de
produtos. É de se considerar que o governo arrecade uma parte como tributação e que o
sistema financeiro receba a poupança, ou seja, a renda não gasta.
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EaD
EC ONOMIA
Devemos considerar, também, que o sistema financeiro, por sua vez, recicla a poupança
das unidades familiais na forma de empréstimos e financiamentos para que as unidades produtoras aumentem seu capital, ou seja, façam investimentos. Por outro lado, o governo pode
fazer transferências de renda às unidades familiais, na forma de pagamentos sem contrapartida
(seguro-desemprego, por exemplo) ou devoluções (pensões e aposentadorias, por exemplo).
Observe o esquema:
Figura 4 – Sistema Econômico: Fluxos Econômicos – Governo e Sistema Financeiro
Fonte: Adaptado pelos autores de Rossetti (1985).
Evidentemente que não estão representadas todas as relações existentes entre estes
elementos do sistema econômico. Por exemplo, as unidades produtoras também recolhem
tributos. A importante relação entre o próprio governo e o sistema financeiro também não
está representada. Por enquanto, saiba que ela é muito importante.
Para uma melhor compreensão do esquema, observe com cuidado as definições:
CONSUMO: uso final de um bem na função de satisfazer uma necessidade;
POUPANÇA: abstenção de consumo;
INVESTIMENTO: acréscimo positivo ao capital produtivo (máquinas e equipamentos e bens de capital) preexistente na economia. Investimento é, portanto, elevação da capacidade produtiva da economia que resulta em aumento da oferta de produtos;
ESPECULAÇÃO: compra de um ativo financeiro; aquisição de um haver financeiro;
aplicação financeira.
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José Dalmo Silva de Souza – Marlene Dal Ri
Note as implicações: a renda gerada tem duas destinações: Consumo e Poupança, ou
seja, Y = C + S. Por outro lado, o produto agregado é composto por bens de consumo e bens
de capital, ou seja, PA = C + I.
Se você tem uma caderneta de poupança, adquiriu ações na Bolsa de Valores
ou tem um CDB... você é um especulador!
Em Ciência Econômica, especulador não é necessariamente um “sem-vergonhamiserável-que-vive-de-tirar-vantagem-indevida-sobre-os-outros-através-de-astúcia-malintencionada”, conforme geralmente se pensa.
E agora, prepare-se para nossa próxima abordagem. Trata-se de “ver ” o sistema econômico, ou seja, um Estado nacional (“país”) como um conjunto formado por três mercados
integrados.
Seção 6.2
Noções de Contabilidade Social
Agora que já temos uma extensão suficiente de conhecimento macroeconômico podemos aprofundar o estudo da dinâmica do sistema econômico. Para isso, vamos ver mais um
pouco das partes que o compõem.
Veja a figura a seguir:
Figura 5 – Produção, Produto Agregado e Insumos
Fonte: Elaborado pelos autores.
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EC ONOMIA
A Figura anteriormente mostrada representa a produção de um sistema econômico.
A Produção é definida como a quantidade de bens e serviços produzida em um sistema
econômico em um dado período de tempo.
Os Insumos é a parte da produção que é utilizada no processo de produção de outros
bens e serviços. Ou seja, são recursos e produtos intermediários que, após produzidos, são
utilizados como parte da produção de outros bens e serviços.
Se de um total de bens e serviços produzidos (produção) é retirada a parcela de produtos que foi utilizada na produção de outros bens e serviços (insumos) resta o produto agregado, ou seja, aqueles bens que servem para uso final.
Assim: produto agregado é a quantidade de bens e serviços disponibilizados no sistema econômico para uso final, por unidade de tempo e nos diversos níveis de preços. Isso,
contudo, nós já sabíamos, não?
Podemos imaginar um sistema econômico e que vamos sair anotando tudo o que foi
produzido nele em um período de um ano, por exemplo.
Começamos em 1º de janeiro e vamos na tarefa até 31 de dezembro. Fazemos um lista
extensiva com a contagem de tudo o que foi produzido (um censo). Temos a seguir “nossa
lista”:
Lista de Bens e Serviços Produzidos
• 300 porcos
• 200 kg de linguiça (de porco)
• 300 kg de costeleta (de porco)
• 150 kg de bacon
• 200 kg de gordura (de porco)
• 3 ton. de milho
• 200 tortas (de milho)
• 200 kg de farinha (de milho)
• 300 unidades de pamonha (de milho)
– Que porcaria de sistema econômico! Só tem porco?
– Não! Tem milho também!!
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José Dalmo Silva de Souza – Marlene Dal Ri
O que está na lista é a produção, mas é fácil perceber que, apesar de produzidos no
sistema econômico no período de um ano, todos esses itens não coexistem simultaneamente
uns ao lado dos outros simplesmente porque uns se transformaram nos outros!
Não é possível que os 300 porcos estejam à venda juntamente com os seus derivados. Com o milho ocorre a mesma coisa. E além disso... e se os porcos se alimentaram do
milho?
– Está confuso... porco é produzido? Porco é um produto?
- Sim! Claro que é!
– E bacon come pamonha??? Essa não entendi!
– !?!?!?!?!
Note que a produção é uma importante informação sobre o sistema econômico, no
entanto não nos diz tudo o que precisamos saber. Ela não conta tudo simplesmente por que
ela não sabe. Com um pouco de trabalho e muita estratégia, contudo, podemos ficar sabendo que dos porcos que foram “produzidos” na economia, 200 deles “viraram” derivados e
restou ainda uma centena deles “in natura”. Podemos ficar sabendo também que, dos 3.000
kg de milho, uma tonelada serviu para alimentar os porcos e 500 kg foram transformados em
derivados. Com isso, podemos ajustar nossa lista:
Lista de Bens e Serviços Disponibilizados
• 100 porcos
• 200 kg de linguiça (de porco)
• 300 kg de costeleta (de porco)
• 150 kg de bacon
• 200 kg de gordura (de porco)
• 1,5 ton. de milho
• 200 tortas (de milho)
• 200 kg de farinha (de milho)
• 300 unidades de pamonha (de milho)
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EC ONOMIA
Essa é a quantidade de produtos que foram disponibilizados na economia para uso
final. Neste caso estamos supondo, para consumo.2 Este é o produto agregado. Os 200
porcos que “se transformaram” em linguiça e demais alimentos e o milho que foi servido
como alimento aos porcos bem como aquele que “virou” farinha, pamonha e torta compõem
o que chamamos de insumos. Assim, note a identidade:
PRODUÇÃO – INSUMOS = PRODUTO AGREGADO
Insumo é diferente de consumo. Duzentos porcos foram “insumidos”;
uma centena deles talvez seja consumida. No fim, todos terão... sumido!
O produto agregado pode ser visto de diversas perspectivas e cada uma traz um tipo
especial de informação sobre sua natureza, sua formação, etc. Por exemplo: podemos estar
interessados em saber se o produto agregado foi formado dentro do sistema econômico (produto interno) ou se foi formado com os recursos produtivos de propriedade do sistema econômico nacional mesmo que fora das fronteiras do sistema (produto nacional). Temos, assim, duas importantes “visões” do produto agregado, respectivamene o PIB e o PNB.
Nestes produtos agregados, a letra B da sigla representa a palavra Bruto e se refere ao
conceito de Depreciação da Contabilidade e que aqui indica aquela parte da produção que
é necessária para recompor a capacidade produtiva do sistema, sanando o desgaste natural
causado pelo seu próprio funcionamento. Se considerarmos esse valor e o subtrairmos do
valor do produto agregado, teremos então o produto agregado na forma líquida. Respectivamente, teríamos o PIL e o PNL, pois:
• PIB – D = PNL
• PNB – D = PNL
Por enquanto e para simplificação – exceto em casos especiais – adotaremos como
referência sempre o PA, ou seja, o produto agregado. Assim, não vamos considerar as
especificidades de propriedade dos recursos de produção (conceito de produto nacional) e
nem o de posse (conceito de produto interno) e nem a existência da depreciação (conceitos
de PA Bruto e Líquido).
Para nós será produto agregado e pronto.
2
Mais tarde veremos que existe também o investimento. Poderíamos pensar, por exemplo, nas matrizes reprodutivas dos suínos e nas
sementes de milho para plantio. Mas isso... depois!
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EaD
José Dalmo Silva de Souza – Marlene Dal Ri
Assim, se lá na microeconomia tínhamos visto que a produção = f(fatores de produção), também se verifica que o produto agregado = f(fatores de produção) e essa ideia é
fundamental em macroeconomia!
O somatório das quantidades dos fatores de produção nos dá uma ideia de censo dos
recursos alocados; já o somatório das remunerações dos recursos nos dá uma ideia da renda
gerada por essa alocação produtiva dos recursos. A soma de todas as remunerações de todos
os fatores é o equivalente a toda a renda gerada na economia. Essa é justamente a definição
de renda.
Aluguel + Capital + Royalty + Lucro + Juro = Renda
O somatório de todos os recursos nos indica o total de fatores disponíveis na economia. Se usássemos todos os fatores obteríamos um produto agregado de valor máximo! É o
produto de pleno emprego ou produto agregado potencial máximo. Esse conceito será importante mais tarde!
O somatório das remunerações nos informa a renda.
E o produto agregado pode tanto ser visto como o total físico de bens e serviços
disponibilizados na Economia como também a soma de todos os respectivos preços destes
bens e serviços.
Ei, você aí! Consegue “ver” os conceitos de renda e de produto
agregado lá no esquema de fluxos econômicos?
Assim, dado um produto agregado (que pode ser PIB, PNB, PIL ou PNL) poderemos
medi-lo tanto pelos preços que está sendo praticado, ou seja, a preços de mercado (produto
agregado a preços de mercado) quanto pelo total das remunerações dos recursos de produção alocados, ou seja, produto agregado ao custo dos fatores.
A ideia a ser explorada aqui é a seguinte: os recursos são alocados e remunerados (renda). Com esses recursos obtém-se o produto agregado que traduz o valor dos produtos. O
valor dos produtos é expresso em seus preços e assim, os bens e serviços (produto agregado)
têm seu valor agregado indicado pelos seus preços (produto agregado a preços de mercado).
Disso tudo se conclui facilmente que:
PRODUTO AGREGADO equivale a RENDA
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EaD
EC ONOMIA
Isso geralmente é escrito como PA = Y e dito como produto agregado é renda, mas é
claro que isso é só uma forma de falar. Produto é um monte de bens e serviços e renda é um
valor em unidades monetárias. Aliás, deve-se escrever PRODUTO EQUIVALE (EM VALOR)
À RENDA, ou seja:
PRODUTO
RENDA
Os economistas dizem: produto é renda!
Chamam coisas diferentes de um mesmo nome. Se chamassem coisas diferentes por nomes diferentes... normal. Se chamassem coisas iguais (as mesmas coisas)
por nomes iguais, tudo bem. Se chamassem coisas iguais por nomes diferentes...
saberiam sinônimos! Mas chamar coisas diferentes pelo mesmo nome... aí já é demais!!!
Se desconsiderarmos que existem erros e omissões em todas as mensurações, então o
produto agregado a custo dos fatores equivale ao produto agregado aos preços de mercado
(PACF = PAPM).
Se considerarmos que o governo pode taxar os produtos no mercado, então pelo menos parte da tributação indireta – aquela que atinge os produtos e não as pessoas diretamente – distorcerá os preços de mercado para cima e então teremos:
Precisamos ainda do conceito de pleno emprego. Em Economia, emprego é simplesmente a alocação de um recurso produtivo, ou seja, sua utilização para a produção de um
bem ou serviço. Temos, portanto, emprego da terra; emprego da tecnologia, do trabalho e
assim por diante, com todos os demais recursos.
É possível imaginarmos que toda a dotação de recursos produtivos de um determinado
sistema econômico esteja empregada na produção de bens e serviços. Teremos, assim, o
pleno emprego dos fatores de produção ou simplesmente pleno emprego. O pleno emprego
indica um produto agregado potencial máximo, ou seja, na trajetória possível do produto
agregado do sistema, o ponto máximo é o valor de pleno emprego. esse é o ponto de pleno
emprego.
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EaD
José Dalmo Silva de Souza – Marlene Dal Ri
No ponto de pleno emprego o produto agregado é o maior possível, pois não existem
mais recursos produtivos disponíveis para aumentar o nível de produção. Lembre-se que produção = f(alocação de recursos). Isso significa que, se for necessário aumentar a quantidade
produzida de um bem ou serviço, isso deverá ser feito as expensas da produção de outro, ou
seja, retirar recursos da produção de um bem ou serviço e alocá-los na produção de outro.
Essa ideia é expressa pelo conceito de Curva de Possibilidades de Produção ou Fronteiras de Produção. Veja o gráfico:
Gráfico 1 – Curva de Possibilidades de Produção ou Curva de Fronteira de Produção
Fonte: Elaborado pelos autores.
Podemos imaginar que o sistema econômico produz duas classes de bens e serviços:
aqueles de tempos de paz (Produto P) e aqueles de tempos de guerra (Produto G). A curva
no gráfico é a fronteira de produção e indica sempre a condição de pleno emprego.
No caso de o sistema estar em pleno emprego, ou seja, em um ponto qualquer sobre a
Curva de Possibilidades de Produção, a elevação da produção voltada para bens de guerra exigirá que se retire recursos antes alocados na fabricação de produtos de paz. No caso de estar
fora do pleno emprego, a produção de um bem pode ou não implicar a retirada de recursos da
produção de outro bem. No gráfico anterior, por exemplo, “andar” do ponto C para o ponto D
fez aumentar a produção bélica sem alterar a quantidade de produtos para fins pacíficos.
Devemos ainda considerar que: 1) Quanto maior a quantidade de um bem, menor a
quantidade de outro e a curva fica mais acentuada. Isso significa que se torna cada vez
mais difícil transformar a estrutura produtiva do sistema de um tipo de produto para outro;
e 2) qualquer ponto além da Curva de Possibilidades de Produção simplesmente está fora de
ser possível sua produção, pois não haverá recursos suficientes.
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EaD
EC ONOMIA
Guarde essa ideia sobre pleno emprego e se certifique de que a compreendeu bem, pois
ela será muito utilizada daqui a pouco em um raciocínio revolucionário em Economia.
Na próxima Unidade teremos de entender melhor como o sistema econômico funciona. Aí então ficará bastante claro como o governo pode intervir para dirigir os rumos da
Economia.
SÍNTESE DA UNIDADE 6
Nesta Unidade você pôde compreender o que é e como funciona
um sistema econômico. Pôde ver também a importância do produto agregado para o estudo da macroeconomia que se ocupa em
descrever e explicar a dinâmica do sistema.
Por fim, vale lembrar que importantes conceitos foram mostrados
e explicados. Tais conceitos serão “aplicados” nas próximas Unidades.
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EC ONOMIA
Unidade 7
ERA UMA VEZ DUAS GAROTAS:
Yeda e sua Filha Cida
OBJETIVOS DESTA UNIDADE
• Nesta seção veremos o cerne da macroeconomia, ou seja, a Identidade Básica da
Macroeconomia. Nada é feito em macroeconomia sem uma referência à renda ou à demanda agregada.
• Depois, vamos estudar o Equilíbrio Econômico e as implicações da dinâmica da demanda
agregada a partir do consumo e do investimento.
AS SEÇÕES DESTA UNIDADE
Seção 7.1 – Identidade Básica da Macroeconomia
Seção 7.2 – Equilíbrio Macroeconômico
Seção 7.1
Identidade Básica da Macroeconomia
A Identidade Básica da Macroeconomia estabelece que o valor da renda coincide com
o valor do produto agregado e traz implícito que, se a oferta é determinada pela demanda,
então o produto agregado é de mesmo valor que a demanda agregada.
Figura 1 – Frases Mnemônicas
Fonte: Elaborada pelos autores.
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EaD
José Dalmo Silva de Souza – Marlene Dal Ri
YEDA!?!?!?
Onde será que já ouvi esse nome? Será de alguma economista? Ou será de
alguém do governo? Prefeita? Hummmm...
Sabemos que a renda tem duas destinações: ou é gasta em consumo ou não é gasta,
ou seja, poupada.
Y=C+S
Parte da renda que não é destinada ao consumo é poupada.
Por outro lado, a demanda agregada é o próprio produto agregado e os bens e serviços
são para consumo ou para investimento, ou seja, os produtos servem para satisfazer necessidades ou são máquinas e equipamentos para fazer reprodução do capital e/ou fabricar
bens e consumo. Assim, demanda agregada é composta por consumo e investimento.
DA = C + I A parte da demanda agregada que não é bem ou serviço é investimento,
ou seja, de natureza do capital.
As frases mnemônicas só servem para “lembrar”, ou seja, acessar rapidamente o arquivo na memória. É um atalho. Cuidado, porém: não fique só nesta via
rápida. Acesse todo o arquivo e não fique só no “abstract”.
Seção 7.2
Equilíbrio Macroeconômico
O Equilíbrio Macroeconômico é a igualdade entre a quantidade global ofertada e a
quantidade geral demandada, ou mais simples e exatamente, igualdade entre oferta agregada e demanda agregada.
O grande economista Keynes um dia percebeu a verdade de que os bens e serviços são
produzidos para satisfazerem as necessidades solvíveis e rentáveis, ou seja, os produtos destinam-se para a venda com lucro. Assim, os empresários alocarão os recursos na produção
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EaD
EC ONOMIA
de bens e serviços que apresentam demanda efetiva. Eles estão sempre monitorando e formando expectativas quanto à demanda de seus produtos e isso é básico, ou seja, antecede
até mesmo as considerações sobre a taxa de juros.
Ah, grande economista!! Ele percebeu que no capitalismo se visa ao lucro!?!?!
Que descoberta!! E ele descobriu isso sozinho??
Assim, Keynes “sacou” que a oferta agregada é determinada em função da demanda
agregada, ou seja, só existe oferta porque, antes, existe demanda.
Como é que os empresários formam suas expectativas de mercado? Os empresários
formam suas expectativas com base em seu conhecimento pessoal (intelectual e intuitivo);
auscultando os seus pares (inclusive seus “ rivais”) e consultando especialistas na área.
E como é que eles aferem seus palpites com a realidade do dia a dia? Eles monitoram
seus estoques individuais e contrastam sua realidade particular da firma com a dos seus
pares – a indústria ou setor – e os demais bens e serviços. Se já há algum tempo seus estoques e o estoque dos outros estão acima do considerado “normal”, então é hora de ajustar a
produção reduzindo a quantidade ofertada, desempregando fatores de produção. Se, ao
contrário, o empresariado constata estoques abaixo do normal por um tempo significativo,
então aumentará sua produção e, esgotada a capacidade instalada, ceteris paribus, faz investimentos, ou seja, aumenta o estoque de capital produtivo já existente.
Figura 2 – Estoques como Indicadores para Decisão sobre Produção
Fonte: Elaborada pelos autores.
Essa questão é tão importante que Keynes considerou os estoques como investimentos, pois elevam a capacidade de disponibilização de bens e serviços na economia. Veja bem:
os estoques “normais” são demanda no sentido de que serão adquiridos em um tempo relativamente próximo. Já estão no “cálculo” do empresário.
Os estoques “anormais”, porém, ou seja, aqueles que excedem aos das circunstâncias
planejadas da produção por um tempo significativo, bem como aqueles que são, por um
lapso de tempo, bem abaixo do nível considerado normal, são classificados como investimentos. Só que são um investimento não planejado ou não intencional. Assim:
ESTOQUES INVOLUNTÁRIOS SÃO INVESTIMENTOS NÃO PLANEJADOS
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José Dalmo Silva de Souza – Marlene Dal Ri
É a variação dos investimentos não planejados que indica ao empresário o contraste
entre suas expectativas de demanda e o resultado de suas ações na produção. Desta forma,
em um processo contínuo de longo-prazo é do interesse da classe empresarial que a variação involuntária de seus estoques – investimentos não-planejados – seja nula. Assim, o
empresário busca ajustar o melhor possível sua produção à realidade de sua demanda.
Ah, agora entendi... O Keynes descobriu é que a demanda forma a oferta e não a
oferta cria sua própria demanda, como se pensava antes!!
É... Esse cara é bom! Bagual mesmo, tchê!
Embora existam flutuações bem como erros de cálculo dos agentes – que, no entanto,
aprendem e lapidam suas experiências e se aperfeiçoam nas decisões – todo o sistema funciona
em torno do equilíbrio econômico em que a oferta agregada se ajusta à demanda agregada.
Pode-se adotar que:
• O sistema econômico está sempre em equilíbrio ou na iminência de equilíbrio, ou seja, ou
está em equilíbrio ou caminhando para ele;
• O equilíbrio econômico é um estado do sistema econômico que, se atingido, tende a ser
mantido, a não ser que forças externas atuem de maneira a tirar o sistema desta condição;
• O equilíbrio econômico é “automático” no sentido de que as ações naturais dos agentes
conduzem o sistema para tal situação, ou seja, a interação entre as forças de demanda e
oferta enquanto mecanismo de mercado conduz o sistema para o equilíbrio.
Agora é hora de elaborarmos um gráfico!
Guarde isso:
O estudante, principalmente o estudante universitário, não pode “pular” os
gráficos ou as tabelas dos textos. Tabelas e em especial gráficos são ferramentas
importantíssimas para condensar informações e apresentá-las de forma extremamente ágil.
Vamos aproveitar o que já sabemos para visualizar o equilíbrio econômico. equilíbrio
econômico é a igualdade entre as quantidades ofertada e demandada. Isso é assim, ou seja,
a quantidade de bens e serviços ofertada é igual à quantidade demandada porque a oferta
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“segue” a demanda. Sabemos também que o produto agregado é, portanto, a oferta agregada e ao mesmo tempo a demanda agregada. Finalmente, sabemos que a demanda agregada
coincide em valor com a renda gerada no sistema econômico.
Por enquanto e só, e para mais fácil visualização vamos admitir que a demanda agregada seja constante. Isso simplifica bastante o gráfico e não atrapalha nosso entendimento
básico do funcionamento do processo.
Veja o gráfico, ou seja, não “pule” o gráfico!
Gráfico 1 – Ponto de Equilíbrio (demanda constante)
Fonte: Elaborado pelos autores.
Ué?!?!?! Um equilíbrio sem linha de oferta?? Que estranho!!!
Note que não precisamos colocar a linha de oferta agregada no gráfico, pois estamos
justamente procurando saber como ela vai se adaptar ao volume constante da demanda,
ou seja, queremos ver exatamente o ponto onde a oferta agregada se torna igual à demanda agregada. Em outras palavras, queremos “ver ” onde está o Ponto de Equilíbrio
Econômico.
A linha de 45 graus divide a área do gráfico (o primeiro quadrante lá da Trigonometria,
lembra?) em duas partes iguais e isso significa que qualquer valor em um dos eixos tem
como “ reflexo” exatamente o seu próprio valor no outro eixo. Então, se em um dos eixos
temos a Renda (Y) e no outro a demanda agregada (DA), sobre a linha de 45 graus teremos
sempre os valores iguais para ambos os eixos.
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José Dalmo Silva de Souza – Marlene Dal Ri
– Ah, entendi! O espelho trigonométrico reflete uma imagem da mesma magnitude do valor original, mas projetada no outro eixo, ou seja...
– Xiiiiii, contaminou!! Esse livro devia se chamar “ O grande livro do ou seja ”
ou “o livro do grande ou seja ”...
De maneira mais rápida: qualquer valor de renda (Y) que cruzar a linha de 45 graus
indica exatamente o seu próprio valor na demanda agregada (DA), ou seja, o próprio equilíbrio econômico, pois já vimos que produto agregado (a custo dos fatores) equivale à renda.
você pode ver isso também nos fluxos econômicos, mas observe que cada “fluxo” vale o
dobro do produto agregado e da renda...
Voltando para o nosso gráfico vemos que a demanda agregada “corta” a linha de 45
graus. Seu reflexo perpendicular é projetado no eixo da renda e tem o mesmo valor, ou seja,
Y = DA. É o próprio equilíbrio!!
– Essa tal de Yeda é muito equilibrada! Tá sempre em cima de uma linha de 45
graus!
– É, mas a filha dela, a tal de Cida , é muito gastadeira...
– Ué... como é que você sabe? Você paga as contas dela?
– Não... eu li o fim desta apostila...
É ainda mais interessante, entretanto, ver o que acontece com outros pontos de renda
que estão fora do equilíbrio.
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EC ONOMIA
Gráfico 2 – Pontos Fora do Equilíbrio (demanda constante)
Fonte: Elaborado pelos autores.
Observe que, se a renda (Y) é equivalente ao produto agregado podemos ver que a
linha de 45 graus funciona como se fosse a curva de oferta agregada. Assim, para valores de
renda (Y) menores que o valor de equilíbrio (Y 0) a linha de 45 graus está abaixo da curva de
demanda agregada e, portanto, seus “ reflexos” são menores que o valor da demanda agregada. Veja, por exemplo, o ponto Y 1 no gráfico. Esse é um ponto de excesso de demanda
sobre a oferta, ou seja, o sistema econômico está sentindo de maneira sintomática que os
estoques estão sistematicamente abaixo do normal. É hora de aumentar a produção, repor
os estoques e se adequar a um maior nível de demanda.
Agora observe o ponto Y 2. Ele está além do ponto de equilíbrio da renda, ou seja,
Y 0. O reflexo dele na linha de 45 graus está acima da linha da demanda agregada. Por
isso ele representa um ponto de excesso de oferta. Nessa situação o sistema econômico
se percebe com estoques anormais se acumulando e é hora de cortar a produção, reduzir
a oferta.
Desta forma, vemos que a demanda agregada é “seguida” pela oferta, que tenta se
ajustar a ela. Assim, também, pode-se observar que os ofertantes, ao buscarem seu próprio
interesse, contribuem para que o sistema entre em equilíbrio, ou seja, o ponto no qual se
produz exatamente o que se demanda e não há excesso de demanda ou de oferta e, portanto, a variação de estoques involuntária é zero.
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1
Por isso dizemos que o equilíbrio é “automático”, ou
seja, o próprio funcionamento do mecanismo de mercado
(interação entre as forças de demanda e oferta) faz com
que ele se estabeleça.
– Mas se o equilíbrio é “automático”... para que serve o governo, afinal?
– Quase todo mundo pensa que o papel do governo é promover o equilíbrio
econômico. E quase nada está tão distante da realidade quanto esse pensamento...
– Afinal, então, qual é o papel do governo?
Embora não venhamos a fazer muitas observações a respeito, convém pelo menos registrar a condição de equilíbrio. Antes, porém, uma observação: a igualdade entre poupança e investimento é um assunto muito complexo e discutido na Ciência Econômica. O interessado deve aprofundar sua pesquisa.
Veja o raciocínio (algébrico).
Pra mim parece mais sopa de letrinhas com guarnição de números...
No equilíbrio há igualdade entre a poupança agregada do sistema e o investimento
agregado. Para nossos propósitos, guardaremos que o investimento produtivo dos ofertantes
depende da existência (e da reciclagem financeira) da poupança. Isso nos remeterá, mais
tarde, à importância do sistema financeiro.
Note onde estamos:
A economia está em equilíbrio ou caminhando para ele, logo, A QUANTIDADE
OFERTADA É IGUAL À QUANTIDADE DEMANDADA, ou seja, AO = DA.
Só existe oferta porque, antes, existe demanda, ou seja: OA = f(DA).
1
Disponível em: <http://www.efetividade.blog.br/page/2/>. Acesso em: 30 jun. 2012.
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Se o produto agregado é o somatório dos bens e serviços produzidos, então ele é a
própria oferta agregada e, logo, é também a própria demanda agregada. E temos aí a exata
definição de equilíbrio econômico. Neste, a variação do Investimento não planejado é zero,
pois se está vendendo exatamente o que se produziu e não há estoques anormais.
Além disso, o produto agregado coincide em valor com a renda, ou seja, há equivalência entre os valores da renda e da demanda agregada, pois a remuneração dos fatores de
produção constituem o valor dos preços do produto.
E pela composição da renda (consumo + poupança) e da demanda agregada (consumo + investimento) e da definição de equilíbrio econômico (OA = DA) bem como pela identidade básica da macroeconomia (Y = DA) sabemos que, para isso acontecer, a poupança
deve coincidir em valor com o investimento.
Sintetizando:
A economia está em equilíbrio, pois OA = f (DA) e, logo, verifica-se a condição de
equilíbrio, ou seja, I = S (apesar do sinal de igual, leia “equivale em valor ”).
Como nós já sabemos as definições destas variáveis agregadas, agora precisamos saber como elas se inter-relacionam, ou seja, como se comportam umas em relação às outras
em um modelo para explicação lógica do mundo econômico.
– Inter-relacionam?!?!? Sou gremista! Vou escrever grêmio-relacionam... Tudo bem?
– É claro que ...
Nãããããããããoooooooo!!!
Comecemos nossa visão do produto agregado pela óptica da demanda agregada, pois
esta não é senão o próprio produto agregado quando visto do ponto de vista mais básico,
satisfação de necessidades solvíveis para o demandante e lucrativas para o ofertante.
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Lembremos a composição da demanda agregada: consumo e investimento.
C + I = DA
– Cida?!?!?!
Onde foi que eu vi esse nome? Ah, é a filha da Yeda!
– Aquela que eu falei que era gastadeira... viu?
A identidade anterior nos indica que como a demanda agregada é composta de duas
partes, o que ocorrer com ela é um reflexo ou consequência do que aconteceu com suas
partes fundamentais, mas ainda mais importante: o que acontecer com essas partes refletirá na própria demanda agregada.
Isso para nós é muito importante. Se a demanda agregada se reduziu, não sabemos se
foi por causa do consumo ou do investimento ou de ambos. Se soubermos, porém, como
“funcionam” o consumo e o investimento, podemos inferir os resultados do que acontecer a
eles na própria demanda agregada. E, melhor ainda: podemos mexer com eles e assim, domar a demanda agregada! E como é ela que determina a oferta agregada, teremos como
manipular o produto agregado, o principal resultado do funcionamento do sistema econômico, ou seja, o próprio nível de bem-estar da economia.
7.2.1 – DINÂMICA DO CONSUMO OU A CIDA FAZENDO COMPRAS
As pessoas compram bens e serviços para satisfazerem suas necessidades. Assim, por
mais que elas gostem do dinheiro, elas gostam mais ainda de terem suas necessidades satisfeitas e, por isso, preferem trocar seu dinheiro por produtos.
Oh, que horror!!! As pessoas (e os patos!) chegam ao absurdo de se desfazerem do dinheiro só para adquirir produtos?!?
Não é possível! É um pesadelo! Desse jeito, onde é que vamos parar? (assinado: Tio Patinhas)
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EaD
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Com necessidades infinitas e dinheiro longe de ser o suficiente é de se esperar que
quanto mais dinheiro as pessoas tiverem, mais produtos elas comprarão, pois isto eleva seu
bem-estar. Assim, podemos inferir razoavelmente que:
O pequeno sinal de adição indica que a relação entre as variáveis é direta. Em um
gráfico a relação entre essas variáveis é uma linha crescente, ou seja, uma relação que
indica que quando uma variável muda o valor a outra acompanha no mesmo sentido (uma
cresce, a outra também; uma reduz, a outra também).
Por outro lado, embora seja possível que exista consumo sem existir necessariamente
renda envolvida (pode haver troca direta de mercadorias e serviços – escambo – bem como
produção de subsistência – produção para consumo próprio, sem trocas), não é possível que
exista renda sem consumo, pois sem consumo o ex-futuro candidato a dono dessa renda...
já morreu! Economia é coisa de organismo vivo...
Assim, o consumo total é composto de duas partes: uma que é autônoma e não depende da renda (C0) e outra que depende da renda e faz isso no mesmo sentido que ela (C=f
(renda)). Assim, temos:
CONSUMO TOTAL = [(C0 )+ C =f(Renda)]
Se desconsiderarmos outras implicações (e complicações!) podemos adotar que o consumo cresce linearmente com a renda, ou seja, o gráfico é uma reta crescente que não sai da
origem do diagrama.
Gráfico 3 – CONSUMO
Fonte: Elaborado pelos autores.
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José Dalmo Silva de Souza – Marlene Dal Ri
7.2.2 – DINÂMICA DA POUPANÇA OU A CIDA GUARDANDO DINHEIRO
Nós vimos que Y = C + S, ou seja, a parte da renda que não é consumida é poupada.
Agora vimos que C = f+(RENDA), ou seja, conforme varia a renda o consumo varia no
mesmo sentido.
Primeiro, devemos explicar que a Poupança é uma função derivada do consumo, ou
seja, não se pode pensar na poupança independentemente do que ocorre com o consumo.
Tanto o consumo quanto a poupança dependem da renda, mas a poupança está subordinada ao Consumo. Por quê? Porque primeiro as pessoas querem viver e satisfazer suas necessidades e só depois pensam em poupar para o futuro!
Dito de outra forma:
S = Y – C, ou seja, POUPANÇA = RENDA – CONSUMO
Poupança é o que sobra da renda depois que se tira o consumo para bens e serviços,
ou seja, a satisfação das necessidades.
Gráfico 4 – Renda, Consumo, Poupança
Fonte: Elaborado pelos autores.
O valor da renda é exatamente o valor do consumo adicionado do valor da poupança,
pois RENDA = POUPANÇA + CONSUMO.
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2
Note que se a renda aumentar, crescem ao mesmo tempo
tanto a poupança quanto o consumo. Em geral se pensa que
se aumentar o consumo isso deve necessariamente reduzir a
poupança, mas isso só acontece se a renda permanecer constante.
Observe também que, como adotamos que o consumo é linear, a divisão entre consumo
e renda é sempre constante e por isso, acréscimos de renda serão repartidos entre consumo e
poupança, sempre na mesma proporção. Ou seja: supomos que o consumo equivale a um
percentual fixo da renda e a poupança, portanto, também corresponde a uma parcela fixa.
Conforme variar a renda, ambos variam, mas a proporção entre consumo e poupança é mantida.
Isso nos leva aos conceitos de Propensão Marginal a Consumir (c) e Propensão Marginal a Poupar (s):
• Propensão Marginal a Consumir (c): parte do acréscimo da renda que é destinada ao
consumo. Consideraremos que a propensão marginal a consumir de um sistema econômico é considerada constante.
• Propensão Marginal a Poupar (s): parte do acréscimo da renda que é destinada à poupança. Consideraremos que a propensão marginal a poupar de um sistema econômico é considerada constante.
Qualquer variação de renda (delta-renda) destinará sempre a mesma proporção (uma
fração constante) para consumo (propensão marginal a consumir) e seu suplementar (propensão marginal a poupar, outra fração constante) para a poupança. A parte da renda que
é destinada ao consumo é a variação da renda multiplicada pela Propensão Marginal a
Consumir – ou seja: cY – e a parte do acréscimo da renda que é destinada à poupança é sua
própria variação multiplicada pela Propensão Marginal a Poupar, ou seja: sY.
2
Disponível em: <http://blogs.diariodepernambuco.com.br/economia/?p=2980>. Acesso em: 30 jun. 2012.
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José Dalmo Silva de Souza – Marlene Dal Ri
Você consegue imaginar razões pelas quais a Propensão Marginal
a Consumir não possa ser considerada constante?
Podemos reescrever aquela nossa “equação” do consumo que o divide em uma parte
independente da renda e outra que depende da renda usando a ideia de propensão marginal. Fica assim:
CONSUMO = CONSUMO INDEPENDENTE + CONSUMO DEPENDENTE DA RENDA
Ou simplesmente
C = C0 + cY
7.2.3 – DINÂMICA DO INVESTIMENTO OU A CIDA PRODUZINDO
Vimos que OA = f(DA) – a oferta está definida em função da demanda – e vimos também que Kfinal – Kinicial = Investimento – a variação do capital produtivo é o investimento.
Vimos também que o investimento é classificado em investimento planejado ou voluntário e
investimento não-planejado, ou seja, a variação involuntária do nível desejado de estoques.
No equilíbrio econômico, porém, todo o investimento é somente Investimento planejado e,
portanto, não existe Investimento não planejado. Todo o investimento realizado é para elevação intencional da produção.
Isso significa que o investimento, que é um componente da oferta, está determinado
em função da demanda agregada. Aliás, nada mais claro, pois a expectativa positiva de
demanda é uma condição necessária ao investimento. Se o empresário não tiver perspectiva
de demanda – ou seja, se suas expectativas forem negativas – obviamente que não vai agir
no sentido de elevar a disponibilidade de produtos no mercado.
Mesmo que a taxa de juros seja convidativa, se não há expectativa de
demanda não é coerente esperar que haja crescimento do investimento, não?
De que adianta gastar pouco para produzir se não vai vender nada???
Satisfeita essa condição relativa à expectativa de demanda, porém, o empresário atrelará sua decisão de investimento à taxa de juros. Podemos, portanto, considerar que a taxa
de juros seja uma condição suficiente para a variação do investimento na economia.
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EaD
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Se a taxa de juros se elevar, isso causa queda do investimento no sistema econômico e
se a taxa de juros for reduzida, pode-se esperar que aumente o nível do investimento na
economia. Observe que o quanto o investimento vai oscilar como resposta à variação da
taxa de juros depende de sua “sensibilidade”, ou seja, de sua elasticidade. Nas condições
ideais de uma única taxa de juros temos o seguinte:
Gráfico 5 – Investimento em Condições Ideais Simplificadas
Fonte: Elaborado pelos autores.
Note que quanto maior o termo “b.i”, menor o valor final dos investimentos. Assim,
para uma mesma taxa de juros, uma sensibilidade maior implica menor nível de investimentos; da mesma forma, para uma mesma elasticidade, uma maior taxa de juros implica menor
investimento.
Podemos contar a estória da Cida fazendo compras, guardando dinheiro ou produzindo bens e serviços da seguinte forma:
O consumo depende primeiro e especialmente da renda. Assim, maiores rendas implicam maiores níveis de consumo e, ao mesmo tempo, maiores níveis de poupança. O consumo, no entanto, também depende da taxa de juros. Enfatizaremos por agora somente o
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José Dalmo Silva de Souza – Marlene Dal Ri
aspecto secundário da taxa de juros sobre o consumo e reservaremos a ideia de redução da
demanda por moeda para mais tarde, na discussão sobre Economia Monetária. Assim, observa-se que o consumo reage às variações nas taxas de juros no sentido inverso. De tal
forma que maiores taxas de juros deprimem o consumo, pois o consumidor que já não adquiriu o produto em compra à vista sentir-se-á menos incentivado a comprar a prazo, pois o
valor pago será tanto maior quanto maior for a taxa de juros.
Muitos países, dentre eles o Brasil, não têm tradição no cálculo rigoroso do
peso das taxas de juros no consumo por parte do comprador. Em casos assim, o consumidor pensa não na diferença entre o valor a ser pago a prazo e o valor do produto à vista e sim, se o desembolso mensal da prestação “cabe no bolso”, independentemente do prazo da operação e do valor pago como acréscimo financeiro.
Já o investimento, embora reaja às mesmas variáveis (taxa de juros e renda) às quais o
consumo é sensível e embora faça isso nos mesmos sentidos que esse (diretamente quanto à
renda e inversamente quanto à taxa de juros), no entanto, apresenta sensibilidades distintas: o investimento é mais sensível primeira e principalmente a variações de taxas de juros e,
secundariamente, a variações de renda.
ATTENTION, PLEASE: não abordaremos neste texto a importante questão do
efeito multiplicador dos investimentos na demanda agregada nem a discussão
geral do que se entende como “Multiplicador”. Tais aprofundamentos podem ser
feitos depois, com a leitura e estudo sistemático sobre investimento em um bom
livro didático de macroeconomia.
Apesar de tais simplificações podemos, ainda assim, considerar uma importante indicação:
Manipula-se a demanda agregada por meio da taxa de juros e da renda.
Se for o objetivo manipular o nível de demanda agregada e, portanto, do produto
agregado – e, logo, da oferta agregada – deve-se manipular, na realidade, o consumo e o
investimento. Com isso, ao se modificar a demanda agregada, a oferta agregada a seguirá
direta (no mesmo sentido) e proporcionalmente. Como e para quê fazer isso... é assunto da
próxima Unidade!
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EC ONOMIA
SÍNTESE DA UNIDADE 7
Nesta Unidade você pôde compreender o que significa equilíbrio
macroeconômico e sua importância na idéia central de que a oferta é determinada pela demanda.
Pôde compreender também qual a composição da demanda agregada e pode visualizar como o volume do produto agregado de
equilíbrio pôde ser manipulado a partir do consumo e do investimento.
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EaD
Unidade 8
EC ONOMIA
CONDUZINDO Ms... YEDA!
OBJETIVOS DESTA UNIDADE
• Depois de termos visto como um sistema econômico funciona, chegou agora a vez de
olharmos de perto qual a relação que o governo/Estado tem com a Economia. Para isso,
teremos de nos habituar com ideias como recessão e crescimento econômico de um modo
mais “técnico” do que temos visto até aqui.
AS SEÇÕES DESTA UNIDADE
Seção 8.1 – Papel do Governo e Funções do Estado na Economia
Seção 8.2 – Determinação Normativa do Nível de Equilíbrio do Produto Agregado
Seção 8.1
Papel do Governo e Funções do Estado na Economia
Se o governo não promove o equilíbrio da economia... então ele faz o quê, afinal? E
como faz? E por que faz? Será que deveria estar fazendo mesmo?
Inicialmente devemos estabelecer uma distinção entre Estado e governo. Adotaremos,
para simplificação, as definições funcionais que o Banco Mundial empregou em seu Relatório sobre o Desenvolvimento Mundial (1997) “O Estado em um mundo em transformação”,
publicado no Brasil pela Fundação Getúlio Vargas:
• Estado: Usado aqui em sentido amplo, expressando um conjunto de instituições que possui os meios de exercer coerção legítima sobre um território definido e sua população
(sociedade) e monopoliza a elaboração de regras dentro de seu território por meio de um
governo organizado;
• Governo: Governo organizado é o conjunto de pessoas que ocupam postos de autoridade
em um Estado.
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EaD
José Dalmo Silva de Souza – Marlene Dal Ri
Feitas essas distinções, no entanto, para fins de simplificação e para não divergirmos
muito da literatura econômica, exceto quando julgado estritamente necessário – e sempre
com avisos antecipados – adotaremos como de mesmo significado os termos governo e Estado e grafaremos somente governo/Estado.
Historicamente podemos constatar que, em qualquer comunidade humana sempre há
governo, ou seja, aquele que determina, conduz ou acompanha o grupo, influenciando sua
trajetória de maneira decisiva.
O sistema econômico, como o estamos concebendo para fins de análise, é uma entidade complexa e, evidentemente, possui governo. Logo, o governo faz parte do sistema econômico. Na economia, no entanto, operam as forças de mercado, demanda e oferta. Assim,
podemos distinguir entre uma esfera relativa às tomadas de decisão críticas sobre o sistema
como um todo (lembra-se da Pólis lá do Xenofonte?) e uma esfera de decisões individuais
cotidianas (o óikos do Xenofonte...) regida pelo mecanismo de mercado ou, simplesmente,
mercado.
Então, quando dizemos “o Estado está fora da Economia” queremos dizer que o governo não está agindo pela lógica de mercado, ou seja, não está simplesmente sendo
demandante ou produtor. Nesse sentido, ele age “de fora da Economia” e manipula o mecanismo de mercado para fins acordes com seus interesses.
Que interesses são estes? Pensemos que seja a promoção do bem-estar comum da
sociedade, embora a prática indique – e a teoria também (Teoria da Escolha Pública – Public
Choice Theory) – que nem sempre e exclusivamente seja assim... Dessa forma, o que nos
importa aqui é: se o governo desejar promover mesmo o bem-estar da sociedade há pelo
menos indicação de como poderia intentar isso?
Neste ponto os economistas dividem-se entre si em dois grupos opostos: há os que
acham que o governo/Estado deve abster-se de interferir no mecanismo de mercado e, portanto, deve deixar que as forças de demanda e oferta ajam o mais livremente possível. Isso
maximizaria o bem-estar da economia. Esses economistas são chamados liberais. Há, por
outro lado, os que acham que o governo deva interferir ativamente na economia e, assim,
maximizar o bem-estar da sociedade. Esses são chamados intervencionistas. Na prática, são
identificados como keynesianos.
Ah, todo mundo chama os intervencionistas de keynesianos!
Sejam eles keynesianos; pós-keynesianos, neokeynesianos ou e até mesmo os
não keynesianos!!
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Claro que estamos fazendo representações idealizadas dos dois tipos; são apenas caricaturas, estereótipos... mas é claro que é sério...
A macroeconomia divulgada na Economia, ou seja, a macroeconomia keynesiana é
nitidamente intervencionista. Na verdade, Keynes é o fundador da ideia de políticas ativas
do Estado/governo para manipular o nível de bem-estar da sociedade com a possibilidade –
real, segundo ele próprio, e fictícia, segundo seus opositores – de maximizar o bem-estar da
sociedade. Por razões óbvias prosseguiremos na linha intervencionista e deixaremos de lado
o pensamento liberal puro, exceto para fins de contraste ou ilustração vis-à-vis a ação governamental.
Para podermos visualizar melhor a profundidade deste tema, devemos primeiro ter em
mente a função do mercado, pois na economia capitalista a regra é o seu protagonismo
diante do Estado. Para que serve na economia o mecanismo de forças de demanda e de
oferta?
O mecanismo de mercado – a ação da demanda e da oferta – é o mais perfeito
expediente (instituição) para a alocação eficiente de recursos econômicos.
Essa é uma verdade matemática provada por um teorema. Isso significa que, para a
alocação de recursos, o governo/estado não deve se pautar pela lógica de mercado, pois
existe mecanismo mais eficiente.
Assim, no Brasil como em quase todos os países de economia mista, ou seja, aqueles
que o PEF é resolvido pelo setor público e pela iniciativa privada em conjunto, vale o Princípio da Subsidiaridade.
Ei... Psiu! Isso bem vale uma pesquisa na Internet.
Olha só esse nome: princípio da subsidiaridade.
O que cabe ao Estado e o que cabe à iniciativa privada
pode também ser visto no Título VII “Da ordem econômica
e financeira” na Constituição Federal.
Diante disso, podemos retomar o que foi dito anteriormente sobre governo/Estado.
A literatura econômica distingue duas funções do Estado na economia:
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• Funções não econômicas (ou, para nós, papel do governo)
Se considerarmos que a função precípua do governo é governar e que governar seja
construir o futuro do sistema por meio das tomadas de decisão críticas, ou seja, decisões
que definem a trajetória do sistema de forma estrutural (impactos muito intensos e/ou de
longa duração), então podemos compreender que a dita “função não econômica do Estado” refere-se a estabelecer as regras do jogo decretando as leis e garantindo o cumprimento dos contratos e dos direitos de propriedade. Em outras palavras, o governo deve
promover o contexto, o arcabouço institucional, no qual funciona o mercado.
• Funções econômicas
1 – PROMOÇÃO DA EFICIÊNCIA ECONÔMICA
Como foi visto anteriormente, a estrutura de mercado mais eficiente que existe é a de
máxima concorrência, ou seja, a economia de concorrência perfeita. Vimos, também, que
tal estrutura de mercado não existe na prática! As demais estruturas, no entanto, existem e
a regra é, aliás, a concentração econômica. Desta forma, caberia ao governo/Estado promover a concorrência no sistema econômico combatendo as formas concentradas – principalmente monopólios e oligopólios – e dificultando o estabelecimento de poder de monopólio.
O governo faz isso ao promover a concorrência nos diversos mercados.
Ainda, uma outra questão ligada à promoção da eficiência econômica é o combate às
externalidades negativas, ou seja, quando a ação de um agente econômico na busca de
seus próprios interesses faz recair sobre um terceiro agente consequências adversas sem que
haja fluxo de pagamento por isso.
2 – PROMOÇÃO DA EQUIDADE SOCIAL E ECONÔMICA
Vimos que o mercado não funciona de modo perfeito no sentido de que a economia
de concorrência perfeita não existe, mas mesmo que o mercado funcionasse perfeitamente quanto à alocação de recursos e à formação de preços, ainda assim poderia não
levar a uma repartição socialmente justa da renda. O mercado não se regula pelas necessidades, mas pela alocação de recursos monetários via sistema de preços para exploração das necessidades. Assim, é possível que ocorram situações em que um determinado bem ou serviço:
• não seja interessante para a iniciativa privada responsabilizar-se por sua produção, pois
não apresenta rentabilidade. Neste caso estamos tratando da existência dos bens públicos e dos bens privados (leia o box a seguir com muita atenção, pois esses conceitos são
muito importantes e o que têm de importância têm de chatinhos de se guardar...);
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• não seja possível para a iniciativa privada responsabilizar-se por sua produção devido às
altas exigências (montante e/ou prazo de maturação dos investimentos; restrições
tecnológicas, etc.);
• não seja desejável pela sociedade que a iniciativa privada promova sua produção, por
exemplo, Defesa Nacional, Sistema de Justiça, etc.
O quê? Você ainda pensa que bem público é aquele feito pelo governo e bem
privado é o feito pela iniciativa privada? Então como se classifica o serviço de
saúde que é feito por ambos? E a educação? Hein? Hein?
Figura 1 – Bens Públicos e Bens Privados
Fonte: Elaborada pelos autores.
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3 – ESTÍMULO AO CRESCIMENTO E À ESTABILIDADE
Políticas monetária e fiscal para influenciar níveis de produto, de emprego e de inflação. Taxas de juros inadequadas, níveis de preços elevados (inflação) ou de emprego reduzidos... tudo isso são aspectos sistêmicos sobre os quais os agentes econômicos individualmente ou em cooperação não têm como agir.
Enfim, assentados esses pontos, resta-nos dizer que, de modo geral, os liberais aceitam as funções não econômicas do Estado na Economia. Suas restrições e críticas se concentram nas funções econômicas. E deve-se registrar que mercado é realmente o mais eficiente mecanismo para a alocação de recursos e, portanto, para a formação de preços.
A reflexão anterior nos indicou como o Estado/governo se situa em relação ao sistema
econômico e qual sua “função” na economia. Devemos agora nos debruçar sobre a seguinte
questão: Se o Estado/governo intervém na economia para maximizar o bem-estar econômico da sociedade (há quem chame de bem-estar social) então, como ele faz isso?
Devemos lembrar que se a oferta agregada “segue” a demanda agregada de forma a
manter-se ou caminhar para o equilíbrio, então, para maiores níveis de produto agregado...
“basta estimular ” o crescimento da demanda agregada.
Maior demanda agregada “força” o estabelecimento do equilíbrio
econômico em um nível mais alto de renda! Simples! Simples!
Mas como é mesmo que se faz isso?!?!?!
Temos aqui uma indicação direta do que constitui o papel do governo na Economia
por meio das suas funções econômicas do Estado: estabelecer o nível de Produto Agregado
de Equilíbrio que – mediante um juízo de valor – julga adequado ao sistema econômico.
Note bem, todavia: o governo não “faz” o equilíbrio econômico, pois isso é “automáti-
co ” no funcionamento do mercado. O governo, no entanto, pode “escolher ” que o equilíbrio se estabeleça em um determinado nível de renda, maior ou menor que aquele em que
está operando a economia, segundo seu juízo de valor.
Seção 8.2
Determinação Normativa do Nível de Equilíbrio do Produto Agregado
Antes de sabermos como o governo manipula o nível de demanda agregada convém
sabermos por que os governantes “escolhem” um dado nível de renda de equilíbrio e não
outro qualquer. O que está em jogo nessa decisão?
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EC ONOMIA
Pela definição de pleno emprego sabemos que o produto agregado é máximo, pois
todos os recursos produtivos disponibilizados estão sendo alocados. Então, antes do ponto
de pleno emprego existe ociosidade dos recursos, ou seja, nem todos os fatores estão empregados. E mais: quanto mais distante do pleno emprego (quanto mais perto da origem do
diagrama) maior é a ociosidade do sistema.
Gráfico 1 – Ponto de Pleno Emprego e Zona de Depressão Econômica
Fonte: Elaborado pelos autores.
Por outro lado, se o produto agregado não pode ser superior ao do ponto de pleno
emprego, no entanto, nada impede que o valor do produto agregado, quando medido a
preços de mercado (produto agregado a preços de mercado), cresça.
Aliás, é esperado que cresça mesmo, pois, conforme a quantidade de bens e serviços produzidos e disponibilizados para uso final aumenta e se aproxima do pleno emprego os recursos vão ficando cada vez mais escassos e, logo, passam a valer mais. Assim,
quanto mais próximo do ponto de pleno emprego, mais sobem os preços dos recursos de
produção, uma vez que, no mercado de recursos, há uma demanda crescente sobre uma
oferta fixa (inelástica!!). Uma história assim sempre termina com elevação de preços.
Assim, se o produto de pleno emprego não pode crescer fisicamente, mas seus preços
podem subir – pelo repasse dos maiores custos de produção – então... temos no gráfico
um zona de inflação!!
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José Dalmo Silva de Souza – Marlene Dal Ri
Gráfico 2 – Ponto de Pleno Emprego e Zona Inflacionária
Fonte: Elaborado pelos autores.
Como caminhar a partir da origem do diagrama em direção ao pleno emprego é alcançar sucessivamente maiores níveis de produto agregado (ou renda), diremos então que isso
significa crescimento econômico e adotaremos, sem maiores discussões, que crescimento
econômico e desenvolvimento são a mesma coisa. Por outro lado, caminhar a partir de qualquer ponto do eixo da demanda agregada em direção à origem do diagrama é caminhar para
menores valores de produto agregado e chamaremos isso de recessão econômica.
Temos então:
Gráfico 3 – Crescimento Econômico e Recessão Econômica
Fonte: Elaborado pelos autores.
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EC ONOMIA
Notemos as implicações:
A partir da Zona de Depressão, aproximar-se do pleno emprego é aproximar-se da
inflação! Ainda mais: o crescimento econômico traz consigo a inflação! A recessão é uma
forma de se reduzir e até mesmo eliminar a inflação, mas aumenta o desemprego dos fatores,
ou seja, a recessão joga o sistema econômico na depressão!
É verdade... Sem emprego o cara fica meio “deprê”...
Uma observação necessária.
Tudo se passa como se houvesse uma troca entre desemprego dos fatores e níveis de
inflação. No começo, muito desemprego e pouca inflação; então, troca-se um pouco de
desemprego por inflação e com isso se reduz o desemprego... enquanto se aumenta a inflação. E assim sucessivamente.
Cruz credo!!! Crescimento econômico gera inflação!?!?!?!
Trocar desemprego por inflação?? Parece o nome de um livro que li uma vez:
“Escolha sua catástrofe”!!!!!
Saber por que o governo promove crescimento é fácil... mas entender por que o governo causa intencionalmente uma recessão é difícil de “assimilar ”.
O capitalismo é um grande e complexo sistema em que a única “sinaleira” (para quem
não é do Sul... semáforo!) é o sistema de preços. A inflação quebra esse sinalizador e dificulta o trânsito tanto doméstica quanto internacionalmente. No próprio sistema nacional, os
preços relativos são desalinhados e há ainda a possibilidade de colapso pela hiperinflação.
No âmbito externo – e para ficarmos em apenas uma única dificuldade – os produtos domésticos perdem competitividade perante seus substitutos no mercado internacional.
Assim, um sistema altamente inflacionário torna-se pouco a pouco – e, depois de algum tempo, muito a muito! – simplesmente ingovernável. A instabilidade monetária causada pela inflação no sistema econômico pode vir a se tornar o foco de uma instabilidade
sistêmica de todo o país e o governo corre o risco de se ver incapaz até de manipular as
políticas macroeconômicas que tem em seu poder para governar o sistema, ou seja, construir o futuro segundo seus próprios juízos de valor. Isso porque pode tornar-se incapaz
tanto para tomar decisões quanto, principalmente, para executá-las efetivamente.
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Olha a economia política aí, gente!!!
E vem acompanhada pela abre-alas, a economia normativa!!
Sabemos que o ponto de pleno emprego divide a trajetória do sistema econômico em
duas zonas distintas: Zona de Depressão e Zona Inflacionária. Por outro lado, independentemente de onde esteja localizado o ponto do pleno emprego, sabemos que o sistema
econômico está em equilíbrio e isso acontece quanto a yeda encontra a Cida – ôôps... me
empolguei – melhor dizendo, o equilíbrio pode ser localizado no gráfico quando o valor da
renda coincide com o valor da demanda agregada, ou seja, Y = DA.
E agora as coisas começam a esquentar... Os neurônios vão pegar fogo...
DE ALEGRIA!!! É A FESTA DO CONHECIMENTO!!!
Gráfico 4 – Ponto de Equilíbrio e Ponto de Pleno Emprego
Fonte: Elaborado pelos autores.
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O ponto de equilíbrio deve coincidir com o ponto de pleno emprego? Toda a
macroeconomia de Keynes é no sentido de responder a essa pergunta com um grande e
sonoro NÃO! Não há razão alguma para que obrigatoriamente o ponto de equilíbrio seja
exatamente o ponto de pleno emprego. Eles podem até coincidirem, mas a verdade é que, na
maioria das vezes, isto não acontece.
Veja porque:
• Equilíbrio é somente a igualdade entre as quantidades ofertada e demandada;
• Ponto de pleno emprego é o produto agregado obtido com o pleno uso de todos os recursos
produtivos.
Se não houver demanda agregada que exija uma produção que use todos os fatores de
produção, então a oferta vai ser só o suficiente para igualar o nível de demanda pronto. Não
vai passar disso. Mesmo que existam recursos que possam ser utilizados para aumentar a
produção, ainda assim os empresários não alocarão tais fatores na produção, pois os produtos daí obtidos não seriam vendidos.
Isso posto, quanto à relação entre o ponto de equilíbrio do sistema econômico PE) e o
ponto de pleno emprego (PPE), só existem três alternativas:
1. O PE coincide em valor com o PPE, ou seja, são “iguais”;
2. O PE tem valor menor que o do PPE, ou seja, está aquém de seu valor;
3. O PE tem valor maior que o do PPE, ou seja, está além de seu valor.
Assim, se o ponto de equilíbrio econômico não coincide obrigatoriamente com o ponto
de pleno emprego, então ele só pode estar nas duas outras posições e isso implica:
• O PE está localizado na zona de depressão (PE < PPE);
• O PE está localizado na zona de inflação (PE > PPE).
E agora que já sabemos que a Curva de Demanda Agregada não é uma linha constante, podemos refazer nosso gráfico de zonas de depressão e de inflação de maneira um
pouco mais realista (embora ainda estejamos supondo que o Investimento seja constante...). E podemos ainda, de quebra, colocarmos o ponto de equilíbrio e o ponto de pleno
emprego em suas localizações relativas.
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Gráfico 5 – Localização do Ponto de Equilíbrio Macroeconômico em Relação ao Ponto de Pleno Emprego
– zonas de depressão econômica e de inflação
Fonte: Elaborado pelos autores.
Se a Economia encontra seu equilíbrio na zona de depressão, então o sistema apresenta alto desemprego dos fatores de produção, ou seja, ociosidade no uso dos recursos.
Ora, os empresários sentirão capacidade produtiva não utilizada e os trabalhadores, que
não existem muito mais oportunidades de emprego. Todos clamarão por crescimento (e responsabilizarão o governo, afinal, ele está lá para governar, não?).
Gráfico 6 – Localização do Ponto de Equilíbrio Macroeconômico em Relação ao Ponto de Pleno Emprego
– Zona de Depressão e Necessidade de Crescimento/Desenvolvimento Econômico
Fonte: Elaborado pelos autores.
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Se o equilíbrio da economia, porém, encontra-se na Zona de Inflação (ou seja, além
do ponto de pleno emprego), então a economia está em um processo de desorganização,
com desalinhamento de preços relativos e com risco de ingovernabilidade. Nessa situação o
governo verá a necessidade de uma antipática, mas salutar recessão econômica.
Gráfico 7 – Localização do Ponto de Equilíbrio Macroeconômico em Relação ao Ponto de Pleno Emprego
– Zona de Inflação e Necessidade de Recessão Econômica
Fonte: Elaborado pelos autores.
Arrastar o ponto de equilíbrio pra lá...
Arrastar o ponto de equilíbrio pra cá...
Isso é economia ou “voodoo”?
O que significa isso tudo em linguagem de gente, afinal?
A linguagem gráfica ilustra as decisões que o governo deve enfrentar nas duas situações críticas: combater o desemprego e combater a inflação. No primeiro caso – combate ao
desemprego dos fatores produtivos da economia – o governo deve promover o crescimento
da demanda agregada e com isso a oferta se elevará e o ponto de equilíbrio será “mais alto”,
ou seja, mais próximo do ponto de pleno emprego.
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Gráfico 8 – Localização do Ponto de Equilíbrio Macroeconômico em Relação ao Ponto de Pleno Emprego
– Zona de Depressão e Necessidade de Crescimento/Desenvolvimento Econômico
Fonte: Elaborado pelos autores.
No segundo caso – combate ao processo inflacionário – o governo deve promover uma
recessão econômica, ou seja, “quebrar ” a demanda agregada. Com isso, a oferta se adaptará a um menor valor da Procura e o equilíbrio se estabelecerá “automaticamente” em um
valor mais baixo de renda.
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Gráfico 9 – Localização do Ponto de Equilíbrio Macroeconômico em Relação ao Ponto de Pleno Emprego
– Zona de Inflação e Necessidade de Recessão Econômica
Fonte: Elaborado pelos autores.
Ah, isso eu me lembro! É quebrar a condição ceteris paribus!
Deslocamento das curvas no plano do gráfico!
Veja que tudo pode ser ilustrado como sendo simplesmente manipular o nível de equilíbrio do sistema econômico por meio da alteração do volume da demanda agregada. E,
como a demanda agregada é composta de consumo e investimento, então deve-se induzir o
consumo e o investimento a adotarem determinados valores pré-estabelecidos. Isso é feito
mediante as chamadas políticas macroeconômicas discricionárias, ou seja, aquelas que detêm a primazia de comando do sistema econômico. Pelo seu uso o governo constrói o futuro
do sistema econômico, ou seja, governa.
No estudo das políticas macroeconômicas discricionárias a referência é a demanda
agregada (lembra-se? a palavra-chave no estudo da macroeconomia é produto agregado,
agora visto pela óptica da dinâmica do sistema em que a oferta agregada = f(demanda
agregada), mas ainda sendo PA = OA = DA =Y).
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Por isso, políticas que:
• expandem ou ampliam a demanda agregada são chamadas Políticas Expansionistas;
• reduzem a demanda agregada são chamadas de Restritivas ou contracionistas.
Gráfico 10 – Nível da Demanda Agregada como Referencial das Políticas Macroeconômicas Discricionárias
Fonte: Elaborado pelos autores.
As políticas macroeconômicas discricionárias agem sobre a demanda agregada por
meio de seus componentes fundamentais, ou seja, o consumo e o investimento. E como
tanto o consumo quanto o Investimento são sensíveis à renda e às taxas de juros, está
aberto o caminho para a intervenção do Estado na Economia e o papel do governo no
sistema econômico: o governo determina o nível desejado de equilíbrio e manipula a demanda agregada por meio dos volumes de consumo e de investimento com políticas
macroeconômicas para que a demanda agregada se localize no nível desejado. A oferta vai
segui-la...
Afinal, quais são essas tais políticas macroeconômicas discri-cri-cionárias!?!?!?
As políticas macroeconômicas discricionárias são quatro:
POLÍTICA MONETÁRIA
• política de governo que cuida da formação e manutenção da taxa de juros e da administração de seus efeitos no sistema econômico;
POLÍTICA FISCAL
• diretriz governamental relativa à administração do orçamento do setor público, ou seja, as
receitas e gastos do Estado;
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POLÍTICA COMERCIAL
• conjunto de diretrizes do governo para a condução do comportamento de importações e
exportações bem como da administração de seus saldos comerciais (equilíbrio, déficit ou
superávit);
POLÍTICA CAMBIAL
• política de governo relativa à formação e administração da taxa de câmbio da moeda
nacional, ou seja, o valor da moeda doméstica em termos de moedas estrangeiras, em
especial divisas internacionais.
Podemos perceber que duas destas políticas (Monetária e Fiscal) estão mais ligadas à
forma como o sistema econômico se estrutura internamente e estabelece sua dinâmica de
funcionamento, ou seja, como se apresenta como uma economia doméstica autônoma, uma
economia nacional. Já as outras duas políticas (Comercial e Cambial) estão mais vinculadas a como o sistema econômico se projeta para além de suas fronteiras, ou seja, se relaciona com os demais Estados por meio do comércio exterior (economia internacional). Como
nosso texto é somente introdutório não abordaremos as políticas voltadas para a inter-relação do sistema econômico diretamente com os demais “países” no cenário internacional.
Isso, no entanto, não nos impede de considerá-las nos raciocínios. Aqui, centraremos nossa
atenção e esforço nas políticas Monetária e Fiscal.
Isso, porém, será feito na próxima Unidade!
Ah... Justo agora que eu queria saber como separar o que
é demanda do governo do resto da demanda dos outros agentes...
acaba a Unidade?!?!?!? Isso não é justo!!
SÍNTESE DA UNIDADE 8
Nesta Unidade você pôde compreender onde se situa o estado/governo em relação ao sistema econômico e qual sua importância na
administração da vida econômica do país.
Pôde compreender também toda a “mecânica” que envolve a manipulação do nível de equilíbrio do produto agregado, ou seja, como
o governo “conduz” a renda.
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Unidade 9
EC ONOMIA
TUDO JUNTO DE UMA VEZ, AGORA:
O Controle e o Comando da Economia Moderna
OBJETIVOS DESTA UNIDADE
• Nesta Unidade veremos como o governo é capaz de manipular “tecnicamente” o nível de
demanda agregada e com isso fazer com que o ponto de equilíbrio do sistema econômico
se estabeleça em um dado valor estipulado segundo seu juízo de valor.
• Veremos também a dinâmica de equilíbrio no mercado monetário e sua importância na
determinação da taxa de juros do sistema.
AS SEÇÕES DESTA UNIDADE
Seção 9.1 – Políticas Macroeconômicas Discricionárias
Seção 9.2 – Política Monetária
Seção 9.1
Políticas Macroeconômicas Discricionárias
Vimos anteriormente que o nível de produto agregado do sistema econômico pode ser
determinado pela ação do governo sobre a demanda agregada. O equilíbrio se estabelece
neste nível de renda por meio das forças de mercado, ou seja, a oferta vai se igualar à demanda. Isso simplesmente porque aos ofertantes é do maior interesse não produzir mais do
que vai ser possível vender e também, não deixar de vender porque não produziu o suficiente para todos os consumidores dispostos a comprar.
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1
Sabemos também que essa manipulação do
valor da demanda agregada se efetiva por meio de
seus componentes estruturais, o consumo e o Investimento, ou seja, de suas dependências em relação à taxa de juros e ao nível de renda.
Por fim, guardamos a importante noção de que,
se o produto agregado é o principal resultado do funcionamento do sistema econômico, então as políticas
macroeconômicas que tendem a elevar o nível de renda do sistema são chamadas expansionistas e, ao contrário, aquelas que atuam no sentido de
reduzir o nível de produto agregado são denominadas contracionistas ou restritivas.
9.1.1 – A POLÍTICA FISCAL
A primeira coisa a ser notada é que a importância do setor público, ou seja, a dimensão do Estado na Economia, em geral, é muito significativa em qualquer sistema econômico. A participação do “governo” é usualmente inferida a partir de sua participação relativa
no produto agregado e é representada como percentual do PIB.
Se a demanda agregada é composta por consumo e investimento, então estes dois
elementos devem ser, por sua vez, divididos entre os dois setores da economia: consumo do
governo e consumo do setor privado. Da mesma forma, divide-se o investimento total do
sistema em investimento do governo e investimento privado. E se reagruparmos os termos
para separar o setor governamental do setor privado, teremos:
Figura 1 – A Transformação da Cida
Fonte: Elaborada pelos autores.
Dessa forma, percebemos que se a demanda agregada é composta por consumo e investimento, como temos o setor governamental e o setor privado, então ambos têm tanto
consumo quanto investimento.
1
Disponível em: <http://blog.inesc.org.br/2009/05/01/investimentos-estrangeiros-em-terras-agricolas/>. Acesso em: 30 jun. 2012.
138
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Se lembrarmos que o setor governo é, em geral, de participação significativa no produto agregado, então sabemos que sua dinâmica influencia a demanda agregada. Pois bem.
Você lembra que a política macroeconômica discricionária que “cuida” do orçamento do
governo, ou seja, de suas despesas e receitas, é a Política Fiscal, não?
Assim, uma Política Fiscal expansiva é aquela em que o governo eleva seus gastos em
consumo e/ou investimentos. Ao contrário, se o governo reduz seus gastos (consumo e/ou
investimento), então ele está praticando uma Política Fiscal contracionista, pois isto deprime o nível de demanda agregada e força o equilíbrio da economia para um valor mais
baixo.
Podemos refazer nossa primeira aproximação quanto aos componentes desse mecanismo segundo o esquema a seguir que reproduz um ponto já estudado anteriormente.
Figura 2 – Orçamento do Governo
Fonte: Elaborada pelos autores.
Podemos observar na figura anterior que uma Política Fiscal expansionista – maiores
gastos em consumo e/ou investimento – exige um maior esforço quanto a elevação de receitas. Esses maiores gastos podem estar ligados à participação direta do Estado na Economia
ou podem ser frutos de uma participação indireta, ou seja, o governo comprando bens e
serviços da iniciativa privada.
9.1.2 – POLÍTICA MONETÁRIA
Vimos há pouco que a variação intencional do volume de despesas do setor governamental é um expediente para a alteração do nível de demanda agregada no sistema econômico. Em outras palavras: a Política Fiscal é considerada um importante meio de manipulação do equilíbrio econômico.
139
EaD
José Dalmo Silva de Souza – Marlene Dal Ri
Para melhores resultados no intento de manipular o nível de demanda agregada o
governo deve lançar mão da Política Monetária. Aliás, essa é mesmo a principal Política
Macroeconômica Discricionária.
Bah, tchê!
O vivente tem que ter em mente a tal de política monetária!!
Isso porque os componentes investimento e consumo privados precisam ser atingidos
por outro meio que não seus efeitos, a partir da variação de gastos do governo, ou seja,
precisam ser afetados pela taxa de juros.
Pois bem, o governo atinge o setor privado por meio da manipulação da taxa de juros.
A elevação da taxa de juros deprime os investimentos e, portanto, reduz a capacidade de
oferta e ao mesmo tempo “desvia” unidades monetárias que seriam alocadas em consumo
de bens e serviços para a especulação por intermédio da poupança (abstenção de consumo).
As pessoas trocam o consumo presente pelo consumo futuro. Encarecimento da produção e
redução da demanda! Esse não é cenário promissor para a atividade empresarial. E conforme as expectativas vão se consolidando, a queda da produção exige que se corte custos, ou
seja, que se desempregue mais e mais recursos produtivos. O desemprego dos fatores de
produção (dentre os quais, de forma especial, a mão de obra) reduz a renda e deprime ainda
mais as expectativas de demanda.
E o que vem pela frente é... Política Monetária!!!!!!
Seção 9.2
Política Monetária
Disse Keynes que tudo o que ocorre de significativo em uma economia ocorre em uma
economia monetizada. Então, a moeda está no centro da vida econômica tal como a conhecemos. Como por uma questão de didática e espaço temos de focalizar uma política para
expor a visão da economia e relativizar na exposição as demais políticas, a escolhida certa140
EaD
EC ONOMIA
mente é a Política Monetária. Assim, dada a centralidade da Política Monetária realça-se
ainda mais a importância da taxa de juros. E é exatamente sobre essa importante variável
que discorreremos sucintamente a partir de agora.
Você já reparou que tudo em economia depende direta ou indiretamente da
taxa de juros? Investimento, emprego, consumo, demanda agregada, oferta agregada... Tudo gira em torno do dinheiro e do preço do dinheiro.
E o principal dinheiro é a moeda!
Vejamos, primeiro, alguns aspectos interessantes sobre os juros e as taxas de juros.
2
Como os bens mudam de valor no tempo, mudam seus preços e,
portanto, o próprio dinheiro também muda seu valor. Sua mudança,
quando medida em relação ao tempo, indica um fluxo, ou seja, uma
taxa. Desta forma, o preço do dinheiro medido ao longo do tempo é a
taxa de juros.
Existem diversas concepções do que seja a taxa de juros. Vejamos uma delas que, pela simplicidade e abrangência, serve de base para aprofundamentos
posteriores que você queira fazer para além deste texto.
Como as pessoas têm necessidades que podem ser satisfeitas por produtos e utilizamse do dinheiro para realizarem as transações de maneira otimizada, o dinheiro vale o que ele
pode comprar potencialmente.
Bah! Por que você não pesquisa sobre as funções e características da moeda,
tchê? Não é difícil e é muito proveitoso! Te mexe, vivente! Vai pra peleia!
Do ponto de vista da intermediação das trocas, o valor do dinheiro consiste em sua
capacidade de ser transformado em produtos, ou seja, consumo. Por que, então, se poupa
(dado que poupar é guardar o dinheiro e não gastá-lo)? Em outras palavras, se dinheiro
serve para gastar, o que levaria as pessoas a não gastá-lo?
Poupa-se para se poder consumir mais tarde e satisfazer as necessidades no futuro.
Note que não necessariamente se poupa para poder gastar mais no futuro. Isso é um segundo passo para além da poupança, é a aplicação financeira, o reino dos juros. A verdade,
2
Disponível em: <http://www.mundodastribos.com/investimentos-2010.html>. Acesso em: 30 jun. 2012.
141
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José Dalmo Silva de Souza – Marlene Dal Ri
porém, é que, realmente, o incentivo atualmente para se poupar baseia-se na possibilidade
de consumir mais produtos no futuro em vez de hoje e, portanto, esse sacrifício na abstenção da aquisição de bens e serviços deve ser remunerado.
Poupa-se pela mesma razão pela qual se consome: promoção da satisfação
de necessidades econômicas pela utilização de bens e serviços.
Poupar é a troca do consumo presente pelo consumo futuro. Quando se tem o dinheiro
pode-se obter todo o bem-estar que este pode proporcionar e desfrutar dessa condição imediatamente, no entanto, uma vez gasto o dinheiro e satisfeita a necessidade, nada mais está
assegurado quanto ao futuro.
Assim, se por meio de um cálculo interno se concluir que passar por um período de
necessidades não satisfeitas redundará, mais tarde, em uma maior capacidade de aquisição
de produtos, a disposição será para poupar o dinheiro. Se o cálculo interno indicar que,
apesar do sacrifício de abstenção do consumo dos bens e serviços, a elevação do bem-estar
no futuro não for significativa, ou não compensar o sacrifício, então se decide por elevar o
bem-estar imediatamente por meio do consumo. Então: se poupa para se gastar mais. Não
se compra agora para comprar mais depois.
Que cálculo interno é esse?
Evidentemente que alguns elementos são externos e objetivos, pois a capacidade
de compra depende da quantia de dinheiro disponível, dos preços dos produtos e, portanto, dos próprios bens e serviços e suas quantidades. Além disso, se o futuro é levado
em conta, então deve-se considerar a existência de inflação, que reduz o poder de compra bem como a remuneração do dinheiro, a taxa de juros, que lhe aumenta o poder de
consumo. Todas essas “coisas objetivas”, no entanto, são sopesadas internamente por
um cálculo, que tem como parâmetro o nível ou grau de privação que se quer suportar
em contraste com a elevação de bem-estar que se deseja obter. Como se vê, em conjunto,
isto está refletido culturalmente nas sociedades e suas propensões marginais a poupar e
a consumir.
Vimos anteriormente que a taxa de juros influencia o investimento, ou seja, I = f( i), lembra-se? – e é aqui, que ela influencia o consumo em contraposição à poupança.
Essa característica deve ser somada àquela já indicada de que a taxa de juros eleva o
valor a ser gasto em consumo por causa das despesas financeiras. E como é formada a
taxa de juros?
Comecemos do começo.
142
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EC ONOMIA
Se taxa de juros é o preço do dinheiro, então é um preço de equilíbrio. E se equilíbrio
é a igualdade entre quantidades ofertada e demandada, então devemos ter um mercado no
qual se oferta e se demanda moeda. Esse mercado se chama mercado monetário e é um
subsistema de um mercado maior, o Mercado de Ativos.
Tudo começa assim:
RIQUEZA FINANCEIRA = TÍTULO + MOEDA
A identidade anterior indica que uma parte importante da riqueza de um sistema econômico (e também da riqueza dos indivíduos) é chamada de riqueza financeira. Esse tipo de
riqueza pode assumir duas formas distintas, moeda e títulos.
Quadro 1 – Características dos Elementos da Riqueza Financeira
LIQUIDEZ
RENTABILIDADE
MOEDA
Plena; 100% ou 1
Não existe
TÍTULOS
Menor que 1
Sim
Fonte: Elaborado pelos autores.
Tanto a moeda quanto os títulos são chamados de Ativos e compõem o chamado Mercado de Ativos.
A liquidez da moeda é sua capacidade de efetivar trocas sem perder valor por isso. Outros
ativos podem ser desvalorizados na transação, mas isso não ocorre com a moeda. Se quero comprar uma casa entregando em troca meu Chevette 76 talvez o proprietário da casa nem aceite e
caso aceite, vai querer reduzir o valor do meu “possante” colocando todo tipo de obstáculos...
Isso, entretanto, não acontece com a moeda, pois esta possui curso forçado e poder
liberatório. Esses são estatutos jurídicos, mas para nós interessa o que significam na prática: qualquer coisa que estiver à venda no sistema econômico pode ser adquirido e pago com
moeda nacional (poder liberatório) e não pode ser recusada (curso forçado).
Observe também que é verdade que a moeda pode perder valor. Isso se chama perda de
poder aquisitivo da moeda e é consequência da inflação. Essa perda de valor da moeda,
porém, não ocorre durante e por causa da transação em si, como no caso do Chevette 76
como pagamento da residência.
Pois bem: a moeda tem liquidez plena, 100% ou 1 (Unitária). Isso não ocorre necessariamente com o outro ativo, o título. Por exemplo, se quero comprar um carro (vendi meu
Chevette 76), mas meu dinheiro está aplicado em CDB-90 dias, o vendedor não aceitará essa
forma de riqueza como pagamento. Por isso também não se compra sorvete com caderneta
de poupança, embora essa seja uma riqueza financeira.
143
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José Dalmo Silva de Souza – Marlene Dal Ri
Quanto à liquidez, portanto, temos:
– MOEDA: PLENA, UNITÁRIA OU 100%.
– TÍTULOS: MENOR QUE 100%.
Quanto à capacidade de dar expectativa de renda futura, ou seja, maior quantidade
de moeda – ou simplesmente “ render juros” – a moeda não possui. Em outras palavras: a
moeda não rende juros!
Ter dinheiro e não gastá-lo é poupar. Se você ficar com a moeda, o máximo que poderá
ocorrer é ela perder o valor, por exemplo, pela inflação. Moeda não se reproduz, ou seja, não
aumenta sua própria quantidade.
– Se eu guardar bem guardadinho meu dinheiro embaixo do colchão por 20
anos terei mais poder aquisitivo?
– Não! E cuidado com a inflação (seu dinheiro vai valer menos); e cuidado
com mudanças de padrão monetário... (seu dinheiro não vai valer nada!).
E quanto aos títulos?
Estes, sim, rendem juros.
Um título é o que chamamos usualmente de aplicação financeira (e, algumas vezes,
indevidamente, de investimento financeiro). Por exemplo: caderneta de poupança, CDB,
RDB e ações em Bolsas de Valores.
– Quer dizer que a caderneta de poupança não é uma poupança??
– Não!
Poupança é abstenção de consumo! Ter o dinheiro e não gastá-lo!
Caderneta de poupança é um título?
Sim. É uma aplicação financeira, não é? Então... É um título!
Mas, a rigor, a definição de Título não se restringe a papéis no sistema financeiro.
Título é uma forma de riqueza que possui liquidez inferior à da moeda, mas que potencialmente possui a capacidade de gerar uma renda superior no futuro, ou seja, título rende
juros.
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EC ONOMIA
Resumindo:
Com relação à capacidade de render juros:
• MOEDA – NÃO RENDE JUROS;
• TÍTULOS – RENDEM JUROS.
9.2.1 – MERCADO DE ATIVOS
Com a simplificação de que títulos sejam papéis, podemos imaginar dois tipos principais: os títulos do governo negociados com o sistema financeiro e os títulos da rede bancária
para o público ao varejo. De qualquer forma, podemos entender que existem, de um lado, a
oferta de títulos e, de outro, a demanda de títulos.
Temos a moeda ainda como uma outra forma de riqueza financeira, ou seja, do Mercado de Ativos. Assim, a moeda também tem sua demanda e sua oferta.
Agora, preste muiiiiiiiita atenção:
Se:
RF = M + T
Então, a decisão de se deixar uma parte da riqueza financeira na forma de um dos
ativos (moeda ou título) é a mesma decisão de se deixar o resto da riqueza financeira na
forma do outro ativo (Moeda ou Título). Assim, tanto o mercado de títulos quanto o mercado de moeda estão interligados. E isso de tal modo que se estabelece uma dinâmica entre
eles, em que os equilíbrios de ambos são condição necessária e suficiente para o equilíbrio
do Mercado de Ativos como um todo.
Podemos escrever:
A identidade anterior indica que se o equilíbrio é definido em Economia com a igualdade entre as quantidades ofertada e demandada, então no mercado de moeda, na condição de ele estar em equilíbrio, isto indica que a quantidade ofertada de moeda é igual à
quantidade demandada de moeda e, portanto, uma subtraída da outra equivale a zero. O
mesmo princípio vale para o mercado de títulos – ou seja, no equilíbrio, a demanda menos a
oferta vale zero – e assim, quando houver equilíbrio no Mercado de Ativos é porque há
equilíbrio nos dois mercados que o compõem.
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EaD
José Dalmo Silva de Souza – Marlene Dal Ri
E ainda tem mais: como tanto os títulos quanto a moeda são apenas elementos que
compõem o Mercado de Ativos, ou seja, são também formas de riqueza financeira, então o
que ocorre com um mercado reflete no outro. Isso se dá da seguinte forma: quando há excesso de demanda no mercado monetário, por exemplo, haverá excesso de oferta no mercado de
títulos e o inverso também é válido.
Figura 3 – Desequilíbrios “simétricos” no mercado de ativos
Fonte: Elaborada pelos autores.
Quando houver excesso de oferta em um mercado haverá excesso de demanda no outro, ou
seja, os desequilíbrios são simétricos, contrários, como em um espelho. Então podemos ter certeza
de que quando houver equilíbrio no Mercado de Ativos também haverá equilíbrio no mercado de
moeda e equilíbrio no mercado de títulos. Com isso, podemos saber que, se há equilíbrio em um
dos dois mercados parciais, com certeza há equilíbrio no Mercado de Ativos como um todo.
Por esta razão não precisamos neste texto estudar toda a dinâmica do Mercado de
Ativos, mas somente a dinâmica de um dos dois mercados que o compõem, ou seja, a dinâmica de equilíbrio do mercado de moeda ou do mercado de títulos.
Assim, por uma questão de... este texto estar grande demais... perdão, de ser suficiente
a descrição e explicação do equilíbrio de apenas um mercado, é claro, trataremos do Mercado Monetário porque... “tudo o que acontece de importante...”
9.2.2 – MERCADO MONETÁRIO
Vejamos primeiro a
Demanda por Moeda:
Podemos, portanto, definir a demanda por moeda como a parcela da riqueza financeira
que se quer deixar na forma de moeda (e não de títulos). Pois bem, as “pessoas” decidem quanto
vão deixar de sua RF na forma de moeda, ou seja, a demanda por moeda por três razões básicas:
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EC ONOMIA
MOTIVOS KEYNESIANOS DA DEMANDA POR MOEDA
• Motivo Transação: as pessoas querem cash para fazer frente aos gastos cotidianos;
• Motivo Precaução: as pessoas querem dinheiro em espécie para fazer frente aos gastos
imprevistos;
• Motivo Especulação: as pessoas querem transformar moedas em títulos para trocarem o
consumo presente pelo consumo futuro.
Vejamos melhor cada um destes motivos pelos quais as pessoas decidem sobre o seu
portfólio de moedas e títulos. Primeiro, tenha em mente que a quantidade de moeda desejada – dentro das limitações da riqueza financeira – depende do nível de preços, ou seja, é
uma demanda real por moeda.
Os economistas dizem “demanda por encaixes reais”, pois é o equivalente em moeda
para se comprar uma certa cesta de produtos, mesmo se considerando as variações de preços
(principalmente a inflação). Se os preços aumentarem, a quantidade de moeda demandada
aumenta, mas isso não é elevação da demanda por moeda. Isso é aumento da quantidade
nominal de moeda. Da mesma forma, se os preços forem reduzidos, a quantidade nominal
de moeda se reduz, mas a demanda por moeda – sendo por encaixes reais – pode permanecer
constante.
Sabemos que não há como eliminar o consumo, pois para se viver é preciso consumir.
Isso é básico. Então, quando têm riqueza financeira, as “pessoas” reservam uma quantidade desta riqueza na forma de moeda, pois, mesmo que não renda juros, ainda assim tem
liquidez.
Desta maneira, o Motivo Transação estabelece que a demanda por moeda é determinada em função do consumo. Como o consumo é definido em função da renda – C
=f(Renda +), lembra-se? – então a demanda por moeda está também definida em função da
renda e nos mesmos moldes em que o consumo está.
Ora, os gastos imprevistos são também consumo de bens e serviços e, portanto, têm a
mesma ligação com a renda. A única diferença é que, em geral, são uma parcela menor que
a dos gastos corriqueiros. Assim:
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José Dalmo Silva de Souza – Marlene Dal Ri
A quantidade da RF que as pessoas querem deixar na forma de moeda, contudo, é afetada negativamente pela taxa de juros, pois quando esta aumenta, aumenta – vamos dizer assim... – a vontade de possuir títulos, pois estes rendem juros e, portanto, diminui a vontade de se
manter moeda que, embora possua maior liquidez, não dá expectativa de renda futura maior...
Ah, não dá para fazer um gráfico disso? Estou com saudades dos gráficos.
Texto de Economia sem gráficos é meio sem graça... Já não tem tabela e nem
um monte de equações... E ainda sem gráfico! Tenha dó!
Poderíamos fazer gráficos da demanda por moeda em função da renda e até seria interessante, mas tem mais importância um outro gráfico. Ele serve de base para a construção
do equilíbrio no mercado monetário. Aí vai ele.
Podemos fazer um gráfico da demanda por moeda em função da taxa de juros e até já
sabemos o “jeitão” da curva: a relação é inversa, ou seja, quanto maior a taxa de juros
menor será a quantidade da riqueza deixada na forma de moeda.
Gráfico 1 – Demanda por Moeda em Função da Taxa de Juros
Fonte: Elaborado pelos autores.
A elevação da taxa de juros causa nas pessoas uma vontade de transformar moeda em
títulos para com isso aumentar seus rendimentos pelo recebimento de juros. Qualquer que
seja a taxa de juros, no entanto, uma elevação da renda vai elevar a demanda por moeda,
pois os motivos Transação e Precaução determinam o consumo e o consumo depende da
renda em uma relação direta.
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Olha que interessante! Se a renda aumentar, ocorre uma quebra
da condição ceteris paribus e a curva toda se desloca para mais
distante da origem do diagrama!!!
Gráfico 2 – Deslocamento da Curva de Demanda por Moeda
Fonte: Elaborado pelos autores.
Bem, com isso encerramos a Demanda por Moeda. Agora precisamos ver a...
Oferta de Moeda:
A liquidez da Economia está relacionada com a quantidade de moeda que está no
sistema econômico. Essa quantidade de moeda é colocada pelo governo no sistema e serve
de base para a chamada moeda escritural, que é o crédito bancário. Esse crédito
disponibilizado (e seu efeito multiplicador), bem como parte da moeda que o governo colocou na Economia é que determinam a liquidez do sistema econômico.
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José Dalmo Silva de Souza – Marlene Dal Ri
Figura 4 – Criação de Moeda pelos Bancos e Liquidez da Economia
Fonte: Elaborado pelos autores.
Deixemos de lado, por enquanto a moeda escritural e seu efeito multiplicador e nos
concentremos na moeda que o governo cunha/imprime, ou seja, a moeda fiduciária. O governo faz uma quantidade de moeda (papel-moeda ou moeda metálica + moeda papel) e
coloca em circulação no sistema econômico. Essa oferta de moeda não depende da taxa de
juros, ou seja, é independente.
Essa oferta de moeda é também autônoma. Isso significa que ela não está atrelada na
forma de dependência a nenhuma outra variável da Economia. Na verdade, é ela própria
que, uma vez agindo no sistema, fará com que todas as demais variáveis do sistema dependam dela.
Essa oferta de moeda é também exógena, ou seja, é determinada “de fora do sistema”
econômico. Isso significa que é o governo que decide e isso segundo seus próprios critérios e
não devido a uma “eventual necessidade sentida pelo próprio sistema” – ou necessidade
endógena – coloca uma certa quantidade de moeda no sistema e pronto.
Por fim, para simplificar, adotaremos que essa oferta de moeda é constante, ou seja, a
quantidade de moeda que o governo coloca na Economia não muda e pronto. Se ela mudar
isto representa uma “quebra da condição Ceteris Paribus” e a curva de oferta se desloca no
gráfico.
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Vejamos a oferta de moeda em imagens:
Figura 5 – Corpo e Alma da Quantidade de Moeda
Fonte: Elaborada pelos autores.
Agora que temos os gráficos das linhas de demanda e oferta do mercado monetário... é
irresistível para qualquer economista... vamos fazer o gráfico do...
Equilíbrio Monetário
O equilíbrio é atingido quando as quantidades ofertada e demandada de moeda são as
mesmas. Note que esse é o único caso na Economia visto até agora em que a oferta “não
segue” a demanda, pelo contrário, assume o valor que alguém, de fora da lógica de funcionamento do sistema, determina de forma arbitrária.
Vejamos o gráfico:
Gráfico 3 – Equilíbrio do Mercado Monetário – Determinação da Taxa de Juros
Fonte: Elaborado pelos autores.
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José Dalmo Silva de Souza – Marlene Dal Ri
Com esse gráfico e seus irmãos o “ recado” já está dado: movimentos da demanda ou
oferta do mercado monetário são “quebra da condição Ceteris Paribus” e, portanto, determinam diferentes preços de equilíbrio e assim, diferentes preços de mercado ou simplesmente,
diferentes taxas de juros.
- Mestre, como vou aprender isso tudo?
- Observe gafanhoto-Kane e aprenda!!. Veja como os antigos mestres fizeram...
– Mestres Jedi?!?!?
Gráfico 4 – Efeitos nas Taxas de Juros do Deslocamento das Curvas do Mercado Monetário
Fonte: Elaborado pelos autores.
Por fim, se a taxa de juros é formada pelo equilíbrio do mercado monetário, resta-nos
saber minimamente como o governo pode manipular a taxa de juros (política monetária) Aliás, esse é o motivo pelo qual estamos vendo toda essa questão de mercado monetário: saber
como o governo manipula a taxa de juros e, com isso, por meio de política monetária, expansiva ou contracionista, determina o nível de demanda agregada que vai “arrastar ” a oferta e,
assim, situar o ponto de equilíbrio econômico em uma zona de depressão econômica ou de
inflação, por um processo da recessão econômica ou de crescimento econômico.
Retomemos as seguintes ideias:
A liquidez da economia depende da quantidade de moeda no sistema econômico e
está relacionada com o nível de preços. Assim sendo, se a quantidade de moeda em circulação aumenta em dado nível de preços, a consequência esperada é: elevação da liquidez do
sistema.
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EC ONOMIA
Dada uma certa liquidez e sua respectiva taxa de juros, a elevação da liquidez torna
a taxa de juros mais baixa, pois significa que aumentou a oferta de moeda para a mesma
demanda ou reduziu-se a demanda para a mesma oferta. Assim, aumento da liquidez implica queda da taxa de juros e, por outro lado, redução da liquidez implica aumento da
taxa de juros.
Ora, já vimos que uma forma de aumentar a liquidez é o governo aumentar a oferta de
moeda simplesmente colocando mais moeda no sistema econômico. O governo pode, também, comprar os títulos que anteriormente havia vendido ao sistema financeiro. Nesse caso,
ele entrega moeda e recolhe os títulos. O resultado é uma elevação da liquidez da economia.
Pela via contrária, se o governo vende títulos, arrecada moeda, mas, em compensação, reduz a liquidez do sistema. Existem, porém, ainda dois instrumentos de política monetária
que precisamos conhecer (fora a “seleção de crédito” e a “persuasão moral” que não serão
abordadas): as reservas bancárias compulsórias e as operações de redesconto.
Reservas Compulsórias
O governo pode exigir que uma parte da poupança captada pelo setor bancário permaneça como um saldo não utilizável para empréstimos. Assim, ele pode ter maior controle
sobre o poder multiplicador do crédito e, portanto, sobre a moeda escritural e por fim, sobre
a liquidez da economia. Essa parte esterilizada é chamada “ reserva compulsória”.
Figura 6 – Controlando a Liquidez da Economia e a Criação de Moeda Pelos Bancos
Fonte: Elaborada pelos autores.
153
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José Dalmo Silva de Souza – Marlene Dal Ri
Por fim, temos que quanto maiores as reservas, maiores as quantidades de moeda “ retiradas” de circulação e, portanto, menor a liquidez do sistema.
Sintetizando:
• uma fração da captação dos bancos é mantida como reserva e não pode ser emprestada
aos clientes;
• essa fração “esterilizada” é chamada “ reserva compulsória”;
• aumento das “ reservas compulsórias” implica menor liquidez e resulta em elevação das
taxas de juros;
• redução das “ reservas compulsórias” implica maior liquidez e resulta em diminuição da
taxa de juros.
Nosso último instrumento de política monetária é chamado Operações de Redesconto.
A ideia central por trás desse mecanismo é o seguinte:
O Banco Central tem também o papel de emprestador de última instância ao sistema
bancário e por isso, se os bancos recorrerem a ele, os empréstimos serão mais caros. A razão
é a seguinte: O Baco Central é o agente que cumpre as determinações do Conselho Monetário Nacional – CMN – e assim aplica as regras no sistema financeiro e zela pela sua
credibilidade e estabilidade/segurança. Ele, no entanto, também pode socorrer bancos com
dificuldades de liquidez (liquidez da firma, ou seja, solvência). Tais dificuldades ocorrem
quando, por exemplo, as captações são insuficientes para cobrir os saques do dia (“problemas de fluxo”), mas podem indicar problemas mais estruturais.
Em geral, os bancos emprestam-se “uns aos outros entre si” por meio do mercado
interbancário e este mercado é o melhor “termômetro” da taxa de juros da economia. Se um
banco, contudo, não conseguir captar moeda entre seus pares e precisar apelar para o Banco Central – logo para o “xerife”, que deve cuidar que tudo vá bem e que a liquidez e segurança de todo o sistema financeiro estejam salvaguardadas... – não só despertará a atenção
dos agentes normativos e executivos do sistema financeiro (governo), como também – e até
como causa disso, mas também como consequência – será punido com taxas de juros mais
elevadas.
9.2.3 – POLÍTICA MONETÁRIA – O RESUMO DA ÓPERA
A formação da taxa de juros se dá pela interação entre a demanda por moeda por parte
do sistema econômico e da oferta de moeda por parte do governo. A liquidez do sistema está
relacionada com a quantidade de moeda do sistema e o nível de preços.
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3
Redução da liquidez significa que a moeda ficou mais rara e,
portanto, mais cara. Como o “preço do dinheiro” é a taxa de juros,
redução da liquidez implica elevação da taxa de juros.
Elevação da liquidez significa que a moeda ficou mais abundante e, portanto, mais barata. Logo, redução da liquidez implica elevação
da taxa de juros. A liquidez da economia e, portanto, a própria taxa de
juros pode ser manipulada pela oferta e demanda de moeda e o governo
se utiliza dos instrumentos de política monetária para realizar seus interesses nessa arena.
Emissão Primária, Operações de Open Market (Mercado Aberto), Reservas Compulsórias e Redesconto são os instrumentos clássicos de política monetária.
– Entendi tudo. A política monetária é a toalha com a qual
se enxuga a liquidez da economia!
– e também a torneira que torna a toalha necessária!
SÍNTESE DA UNIDADE 9
Nesta Unidade você pôde compreender o importante papel das
políticas macroeconômicas discricionárias na determinação do nível de renda do sistema.
Pôde também compreender um pouco do papel central da taxa de
juros no estabelecimento de políticas de recessão e/ou crescimento
econômico.
3
Disponível em: <http://www.pe-et.com.br/conteudo.php?tit=investimentos_da_oi_na_portugal_telecom_continuam_previstos_e_
dependerao_de_condicoes_de_mercado&id=357>. Acesso em: 30 jun. 2012.
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Uma Última Palavra à Guisa de Conclusão
EC ONOMIA
Essa é uma obra de introdução à Economia que enfrenta um desafio imenso: ensinar
Economia.
Em nossos anos aprendendo e ensinando Economia ficou relativamente claro para
nós que os livros de Economia são muito bons, muito valiosos e realmente imprescindíveis
para a construção do conhecimento na área. Todas as obras, porém, padecem do mesmo
mal, ou melhor, da mesma insuficiência: para lê-los é preciso saber Economia!
Sim. Os livros sistematizam os conteúdos da Ciência Econômica. Aquele que “sabe”
Economia consegue lê-los e, inclusive, aprender coisas novas. O livro de Economia é muito
bom para quem sabe ensinar a si mesmo. Para os demais quase-leitores, no entanto – quase,
pois desistem logo depois de começar a leitura – é simplesmente impossível de ler. A cada
página uma tabela, dois gráficos e várias fórmulas matemáticas... e o pior: quando há texto
este é geralmente ininteligível, pois utiliza-se de palavras conhecidas, mas com significados
técnicos estritos (por exemplo, renda, equilíbrio, demanda, custos...). Se não se conhece o
“vocabulário” econômico – também chamado de “economês” – não adianta ler o texto de
um livro “didático”, no entanto, para acompanhar aulas com um professor ou estudar para
os exames e, principalmente, para aprofundar pesquisas, os livros são um maravilhoso tesouro.
É claro, há livros que popularizam o ensino de Economia e também ensinam Economia, porém não o fazem com o conteúdo sistematizado do ensino de Economia. É quase
como uma literatura paralela, feita para “entretenimento e cultura geral”, sem as “coisas
chatas” do ensino formal da Economia.
Esta obra tem a pretensão de, pelo menos, iniciar a resposta como iniciativa “pessoal”
dos autores ao desafio de ensinar as variáveis, as relações e as definições da Economia
formal mesmo que apenas em âmbito introdutório e de maneira pouco convencional (ou
seja: a Economia “chata” dos livros didáticos) com o prazer da literatura paradidática (misteriosos caminhos da Economia; seus interessantes fatos e suas desventuras e avanços, mas,
principalmente, sua importância como instrumento de análise da vida).
Logo, muito provavelmente não será bem-sucedido em todos os aspectos que envolvem esse imenso desafio. Aliás, nem precisa. É só o texto-base de um curso que tem professor, tutor, equipe técnica, material de apoio, infraestrutura adequada para a construção do
conhecimento, etc., etc. Este livro não está “sozinho”.
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José Dalmo Silva de Souza – Marlene Dal Ri
Trata-se de uma introdução à Economia formal e o melhor “termômetro” para medi-la
não é de jeito nenhum as outras obras – quer sejam didáticas, pois precisam ser estudadas,
quer sejam paradidáticas, pois é desejável lê-las.
O melhor indicador do sucesso deste livro é o próprio leitor, ou melhor, os três leitores:
1. o estudante que ainda não leu o texto tem a base para comparação do conhecimento;
2. o estudante que está lendo o texto e fazendo o curso tem a experiência e a medida do
esforço necessário para “vencer o conteúdo”, e
3. o leitor que terminou todo o livro tem o conhecimento para comparar com o primeiro
leitor e saber se o sacrifício do segundo leitor valeu ou não a pena.
Assim, a comparação deve ser feita não entre obras, pois são de cunho diferentes, mas
entre o aluno que começou a ler este texto com suas expectativas e aquele que terminou o
estudo. Ele sobreviveu? Ele aprendeu? Quanto ele melhorou?
Temos por certo que o sucesso é fruto do esforço coletivo, ou seja, professor, tutor e
membros da equipe técnica de apoio, direção e orientação, mas, principalmente, do estudante.
E isso poderá ser aferido não só pelo seu aproveitamento na disciplina/curso, como
também pela análise mais qualificada da realidade que o cerca e, em alguns casos (por
exemplo, daqueles que se aventurarem no maravilhoso estudo da Economia) no desafio de
ler obras didáticas!!
Graça e Paz!
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Referências
EC ONOMIA
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