Trabalho - SOVERGS

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QUILOTÓRAX SECUNDÁRIO À MIOCARDIOPATIA EM FELINO: RELATO DE
CASO
CHYLOTHORAX SECONDARY TO CARDIOMYOPATHY IN A FELINE: A CASE
REPORT
NATHALIA COSTA DA SILVA BORGES¹*, GARY D. NORSWORTHY², FAUSTO
YUDI SAITO¹.
RESUMO
A insuficiência cardíaca congestiva direita pode causar quilotórax através do aumento da
pressão venosa sistêmica. Inicialmente, a efusão quilosa é reabsorvida pela pleura. Entretanto,
após alguns dias a semanas, esse processo é interrompido devido ao fato do quilo ser um
irritante àquela estrutura. O diagnóstico consiste na correlação entre achados clínicos e
radiográficos e análise do líquido. O tratamento pode ser clínico ou cirúrgico e baseia-se na
correção da causa primária. O presente trabalho tem por objetivo relatar um caso de
Quilotórax, em um paciente felino, macho, castrado, 10 anos, 3.5kg, acompanhado na clínica
especializada em Medicina Felina Alamo Feline Health Center (Texas – EUA).
Palavras-chave: Felino, quilotórax, efusão.
SUMMARY
The right congestive cardiac insufficiency may cause chylothorax because of the increase in
the systemic venous pressure. Initially, the chyle effusion is reabsorbed by the pleura.
However, after a few days or weeks, this process is interrupted due to the fact that chyle is an
irritant to the pleura. The diagnosis is achieved correlating clinical and radiographics findings
and using the pleural fluids analysis as well. The treatment may be clinical or surgical and it is
based on primary cause correction. This article intend to report a Chylothorax case, in a
feline, 3.5kg, male, neutered, 10 years old, presented at Alamo Feline Health Center.
Key-words: Feline, chylothorax, effusion.
Foi encaminhado à Alamo Feline Health Center um felino SRD, castrado, 10 anos de
idade, pesando 3,5kg, sob queixa de edema pulmonar. Durante a anamnese, foram relatadas
dispneia, a qual, segundo o proprietário, possuía duração de 1 mês, aproximadamente, e
também, perda de peso contínua apesar do animal ter demonstrado bom apetite no período
anterior ao atendimento. No exame físico, foi notada ausculta cardíaca hipofonética, dispneia
sem cianose e desidratação moderada. Não foi detectada nenhuma alteração à palpação
abdominal.
Foi realizada coleta de sangue para avaliação de alguns parâmetros bioquímicos e
também do hematócrito, conforme a tabela 1 abaixo, na qual estão listados os itens
bioquímicos que exibiram alterações. Não foi notada alteração do hematócrito.
_______________________
¹ Graduando(a) em Medicina Veterinária – Universidade Federal Fluminense;
² Médico Veterinário Especialista em Medicina Felina pelo American Board of Veterinary Practicioners;
*Rua Grajaú 138, apt. 506 – Grajaú – Rio de Janeiro/RJ – CEP 20561140. [email protected]
Tabela 1. Relação dos parâmetros bioquímicos que se apresentaram alterados em um felino
macho, castrado de 10 anos de idade e com suspeita clínica de Quilotórax, durante o
atendimento clínico realizado na Clínica Veterinária Alamo Feline Health Center.
Limites
de
Parâmetro Bioquímico
Resultado
Normalidade
Fosfatase Alcalina
100
10-90 U/L
Alanina Aminotransferase
230
20-100 U/L
BUN
35
10-30 mg/dL
O animal também foi submetido a exame radiológico, no qual notou-se a existência de
efusão pleural média à moderada e de cardiomegalia. Diante desse quadro clínico, optou-se
por realizar toracocentese para avaliação citológica do líquido cavitário. Em seguida, o
paciente foi submetido à ecocardiografia, cujos resultados estão descritos na tabela 2.
Tabela 2. Resultado obtido no exame de ecocardiograma realizado em um paciente felino
macho, castrado de 10 anos de idade e com suspeita clínica de Quilotórax, durante o
atendimento clínico realizado na Clínica Veterinária Alamo Feline Health Center.
Parâmetro
Limites
de
Resultado
Ecocardiográfico
Normalidade
IVSd
0,66
0,3-0,4 cm
LVd
1,43
1,1-1,6 cm
LVFWd
0,55
0,4-0,6 cm
FS
47,84
35-50%
LA:Ao
2,21
0-1,4
O diagnóstico microscópico da amostra, de acordo com o exame citológico, foi fluido
pleural, cujas características eram transudato modificado com possível neoplasma epitelial,
descartando a suspeita inicial de Linfoma. Foi estabelecido o diagnóstico definitivo de
Quilotórax. A maioria dos casos de quilotórax felino não possui uma causa identificável. As
causas subjacentes mais comuns são falência cardíaca direita (dirofilariose, efusão pericárdica
e cardiomiopatia) e massas mediastínicas (principalmente linfoma, mas também granulomas
fúngicos e timoma), que causam uma obstrução mecânica ou funcional da veia cava cranial ou
do ducto torácico (NORSWORTHY, 2011).
No caso relatado, foi constatada a existência de um aumento na espessura do septo
interventricular à diástole e também da proporção entre átrio esquerdo e o diâmetro da aorta.
Esse quadro justificou a existência de uma miocardiopatia. A insuficiência cardíaca
congestiva direita pode ocasionar um aumento da pressão venosa sistêmica e é passível de
ocasionar quilotórax nesses pacientes (ORTON, 1998). Nos casos de quilotórax, o exame
hematológico é mais usado como uma ferramenta para a detecção de doenças de base. Nesse
relato, as alterações hematológicas observadas foram mínimas, não sendo relevantes a ponto
de contribuírem para o diagnóstico final. Entretanto, linfopenia e pan-hipoproteinemia podem
ser verificadas em amostras de sangue periférico (NELSON, 2001).
Apesar de ter sido relatado normodipsia e normofagia pelo proprietário, o animal
encontrava-se moderadamente desidratado. Essa desidratação pode ser justificada pelas
perdas de água, eletrólitos, lipídios e proteínas ocasionadas pelo quilotórax, que além da
desidratação podem levar a um desequilíbrio eletrolítico, desnutrição e hipoproteinemia
(ORTON, 1998), o que justifica as alterações bioquímicas vistas na tabela 1.
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Inicialmente, o quilo é reabsorvido pela pleura, entretanto é um irritante a essa
estrutura. Após alguns dias ou semanas, o quilo para de ser reabsorvido, causando o
quilotórax (NORSWORTHY, 2011).
O diagnóstico de quilotórax é realizado através da combinação entre achados clínicos,
radiográficos e pela análise do líquido (ORTON, 1998). Os sinais clínicos incluem dispneia
com inspiração forçada e expiração atrasada e tosse. Na auscultação, é percebida hipofonese
cardíaca e pulmonar. A efusão pleural é o achado mais frequente. Além disso, o exame de raio
X é muito útil para a detecção de massas intratorácicas e problemas cardíacos responsáveis
pelo quadro clínico do animal. O ecocardiograma deve ser realizado antes da drenagem do
líquido, caso o paciente esteja estável, pois o líquido ajudará a visualizar melhor estruturas
como massas mediastínicas anteriores. A toracocentese deve ser realizada para obtenção de
líquido para análise (NORSWORTHY, 2011).
O tratamento pode ser clínico ou cirúrgico (ORTON, 1998) e é muito variável
conforme a etiologia básica. Portanto, é necessário que seja identificado o processo mórbido
concomitante para que o protocolo terapêutico definitivo seja instituído (FOSSUM, 2004). O
tratamento clínico consiste na drenagem do líquido do espaço pleural e objetiva a redução da
formação do quilo (ORTON, 1998) através da prescrição de uma dieta hipolipídica, que
também facilitará a reabsorção do líquido através da diminuição do teor de lipídios no espaço
pleural (FOSSUM, 2004). O tratamento cirúrgico deve ser considerado em casos de animais
diagnosticados com quilotórax idiopático ou quando não há resposta ao tratamento clínico
(FOSSUM, 2004). No caso relatado, não foi instituído nenhum protocolo dietoterápico. Além
disso, como tratamento para a doença de base, também foram prescritos espironolactona de 25
mg na dose de ¼ de comprimido em intervalos de 24 horas, benazepril de 5 mg na dose de 1
comprimido em intervalos de 24 horas, e aspirina de 5 mg na dose de 1 comprimido a cada 3
ou 4 dias.
Com base no relato citado, é possível concluir a importância do diagnóstico correto de
quilotórax, visto que sua etiologia é multifatorial e o tratamento adequado consiste na
detecção e correção da doença primária.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
FOSSUM, T. W. Doenças Pleurais e Extrapleurais. In: ETTINGER, S. J.; FELDMAN, E. C.
Tratado de Medicina Interna Veterinária: Doenças do Cão e do Gato. 5ª ed. Rio de Janeiro:
Guanabara, 2004. Cap. 130. p. 1169 – 1170.
NELSON, R. W. et al. Medicina Interna de Pequenos Animais. 2ª ed. Rio de Janeiro:
Guanabara, 2001. Cap. 25: Distúrbios da Cavidade Pleural. p. 261 – 262.
NORSWORTHY, G. D. Chylothorax. In: NORSWORTHY, G. D. et al. The Feline Patient. 4ª
ed. Singapore: Blackwell Publishing, 2011. Cap. 36. p. 83 – 84.
ORTON, E. C. Pleura e Espaço Pleural. In: SLATTER, D. Manual de Cirurgia de Pequenos
Animais. São Paulo: Manole. Cap. 32. p. 481 – 485.
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