DIAGNÓSTICO PEDAGÓGICO INFANTIL: RECURSOS

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DIAGNÓSTICO PEDAGÓGICO INFANTIL: RECURSOS TÉCNICOS E
MATERIAIS
Lorena Célia de Moraes Soares1; Magda Ivonete Montagnini2
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Bolsista PIBIC/CNPq, graduanda do Curso de Pedagogia, UnUCSEH - UEG.
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Orientador, docente do Curso de Pedagogia, UnUCSEH – UEG.
RESUMO
O presente estudo tem como objetivo selecionar instrumentos técnicos e materiais que
permitam ao Pedagogo administrar e avaliar, de modo simples e metódico, variáveis
que podem incidir de forma relevante no rendimento acadêmico e nas dificuldades de
aprendizagem de crianças, viabilizando a elaboração do diagnóstico pedagógico. E tem
como objetivo específico, sistematizar o material selecionado em um único documento
que será denominado Manual para Aplicação de Instrumentos de Diagnóstico
Pedagógico Infantil apresentando testes, provas, questionários, jogos ou outros recursos,
acompanhado de seu autor, material a ser utilizado, finalidade da sua aplicação, público
alvo, forma de aplicação e de avaliação. Justifica-se desenvolver estudos desta natureza
devido os inúmeros interrogantes de professores e pais quanto ao rendimento acadêmico
e as dificuldades das crianças na aprendizagem escolar. Por outro lado, a psicologia
contemporânea orienta para a realização de diagnóstico pedagógico que se afaste dos
modelos médicos ou neurológicos e de inspiração positivista, encaminhando a reflexão
e o agir do pesquisador para o diagnóstico pedagógico elaborado a partir de técnicas que
valorizem a interação do diagnosticado com o objeto de conhecimento ao selecionar,
interpretar e transformar a informação que recebe. Tomou-se como referencial teórico
básico: Fernández (1991), Mac Donell (1994), Vigotski (1998), Maluf e Mozzer (2000)
Chaves (2007). A pesquisa é de natureza qualitativa e do tipo exploratória. Os
resultados alcançados ao desenvolver o estudo empírico indicam que crianças do ensino
fundamental necessitam ser estimuladas a memorizarem como um processo que consiste
em ir além do decorar e reter, pois requer também, recordar e generalizar o conteúdo
memorizado. Quanto ao nível de estruturação mental (operatório), o raciocínio lógico da
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maior parte das crianças investigadas corresponde ao pensamento indutivo com
características da lógica concreta inicial.
Palavras-chave: Diagnóstico pedagógico infantil. Recursos técnicos e materiais.
Formação do Pedagogo.
Introdução
É notório perceber os inúmeros interrogantes de professores e pais quanto ao
rendimento acadêmico e as dificuldades das crianças na aprendizagem escolar. Essas
dificuldades podem ser identificadas de diferentes maneiras: comportamento
inadequado, aprendizagem lenta em relação à média das crianças em um conjunto de
tarefas, ou até mesmo crianças atrasadas ou em defasagem em exercícios específicos,
tais como: a matemática, a leitura ou a escrita. De acordo com Sisto et al. (2002),
conversas informais com pais e professores revelam a preocupação constante com o
ritmo de várias crianças para aprenderem determinadas tarefas escolares se comparadas
a outras, além das discrepâncias entre o desempenho acadêmico delas e as suas
possibilidades cognitivas. É comum pergunta do tipo: “Por que existem crianças sem
comprometimento intelectual, mas com dificuldade específica em alguma tarefa
concreta tal como a leitura?”
No mundo contemporâneo há várias propostas educativas escolares inovadoras,
sobretudo para o trabalho pedagógico com alunos repetentes com dificuldades de
aprendizagem, tal como a pedagogia de inspiração construtivista. Mas, nem sempre os
professores assimilam adequadamente as orientações advindas de tais propostas por não
construírem o significado das suas explicações. É freqüente encontrar professores que
crêem que o aluno que aprende os conteúdos escolares é o inteligente. Eles associam o
nível de inteligência ao êxito na aprendizagem escolar. Mas, há alunos inteligentes que
não aprendem em função da influência de variáveis externas, como por exemplo, a
metodologia de ensino do professor, ou devido variáreis internas, tal como sentimento
de inferioridade. Assim, considera-se um assunto emergente o retomar o estudo sobre
diagnóstico pedagógico em outros moldes no sentido de afastar dos modelos médicos
ou neurológicos, do favorecimento da biologização do sujeito, da supervalorização dos
testes de inteligência em favor dos modelos que estimulem a interação entre o material a
ser aprendido e os processos psicológicos necessários para aprender, enfatizando o
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estudo sobre o modo pelo qual o aprendiz obtém, seleciona, interpreta e transforma a
informação. (PIAGET, 1976, 1977; BECKER, 2003; CHAVES, 2007)
Mediante este tipo de diagnóstico pode-se determinar o grau de aquisição de
alguns processos básicos do desenvolvimento cognitivo, tais como: memorizar,
classificar, relacionar, reverter idéias, elaborar percepção analítica, organização espacial
e temporal, comparar, categorizar contribuindo, desta forma, para definir que conteúdos
escolares ensinar e como ensiná-los conforme cada caso, processo este decisivo para a
intervenção pedagógica junto a sujeitos com dificuldades de aprendizagem.
Como para aprender não é suficiente ser inteligente, sendo necessário que esta
seja acompanhada de uma estrutura de personalidade sadia, emocionalmente e
socialmente amadurecida, serão aplicados instrumentos que avaliem as estruturas
afetivas e sociais do aluno, tais como: vínculo com o professor e com objeto do
conhecimento, com a família, com a escola e consigo mesmo, assim como a
socialização do aprendiz: suas relações interpessoais, participação grupal, entre outros.
(BEYER, 1996; VIGOTSKI, 1998; MALUF E MOZZER, 2000)
Do ponto de vista instrumental, os principais referenciais são: Fernández
(1991), Mac Donell (1994), Chamat (2006), Vigotski (1998), Martinelli (2002), Maluf e
Mozzer (2004), Chaves (2007) estudiosos que publicaram livros, dissertações de
mestrado e manuais abordando a questão técnico-instrumental do Diagnóstico
Pedagógico Infantil.
Devido à escassa produção na área da temática da presente investigação, foi
necessário recorrer a relevantes autores do passado que já se preocupam com o
diagnosticado como um sujeito interativo e ativo cognitivamente, como se pode
observar nas citações apresentadas anteriormente.
Através do presente estudo visam-se selecionar instrumentos técnicos e materiais
que permitam ao Pedagogo e demais profissionais da educação aplicar e avaliar, de um
modo simples e metódico, instrumentos para a elaboração de diagnóstico pedagógico de
crianças na perspectiva do diagnóstico, predominantemente prospectivo. Trata-se, ainda
de sistematizar o material selecionado em um único documento que será denominado
Manual para Aplicação de Instrumentos de Diagnóstico Pedagógico Infantil
apresentando o teste, prova, questionário, jogo ou outro recurso, acompanhado de seu
autor, material a ser utilizado, finalidade da sua aplicação, público alvo, forma de
aplicação e de avaliação.
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Material e Métodos
A presente investigação se caracteriza como pesquisa qualitativa do tipo
exploratório o que implicou inicialmente revisar a literatura que delineia a avaliação
diagnóstica prospectiva, predominantemente com ênfase nos aspectos qualitativos do
desenvolvimento da cognição, afetividade e socialização do aprendiz. Portanto, na
primeira fase do seu desenvolvimento, o foco recaiu no estudo de autores que explicam
o diagnóstico pedagógico do comportamento presente a fim de traçar linhas de
intervenção pedagógica capazes de potenciar o desenvolvimento e o aprendizado
futuros. Os dados bibliográficos coletados foram registrados, resumidos, analisados e
correlacionados.
Na segunda fase da pesquisa, a metodologia de investigação está direcionada
para a aplicação de instrumentos destinados ao diagnóstico pedagógico com o fim de
conhecer a eficácia dos mesmos para a coleta de dados sobre processos cognitivos,
afetivos e sociais da criança que se manifestam no campo da prática do Pedagogo ao
longo do processo de ensino e de aprendizagem.
Participaram deste estudo 10 sujeitos alunos da rede municipal de ensino
fundamental de Goiânia, com idade entre 7 a 13 anos e grau de escolaridade entre 1ª e 5ª
séries.
Até o presente momento foram aplicados os seguintes instrumentos: prova
elaborada por Leontiev citado por Vigotski (1998) para avaliar a memória mediada por
instrumentos que no caso se referem a cartões coloridos e pela linguagem do aplicador
da prova. E cinco provas operatórias elaboradas por Piaget e colaboradores (PIAGET,
1976, 1977) com o objeto de avaliar as seguintes estruturas mentais: conservação de
quantidade contínua, classificação aditiva de classe, seriação multiplicativa,
conservação de comprimento e noção de simultaneidade temporal.
Resultados e Discussão
Em situação experimental, durante a realização da prova de memória, do total de
10 (dez) crianças, somente 1 (uma) foi capaz de mediar-se na resolução das questões
desta prova ao explorar os seus recursos internos dispensando o uso dos cartões como
elementos mediadores do ato de memorizar. Demonstrou também ao longo desta prova
assimilar todas as informações orais do aplicador. No entanto, um número significativo
de crianças sujeito da amostra, 6 (seis), apresentou muita dificuldade para reter e evocar
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as informações que o pesquisador lhe apresentava e apelavam para o uso de cartões
como elementos mediadores do processo de memorizar, mas nem sempre de forma
correta. Estes sujeitos não foram capazes de entender a maior parte das informações
orais do investigador sobre as questões da prova. Do total de 10 (dez) crianças, 3 (três)
se aproximaram muito da capacidade de dispensar instrumentos mediadores da
memória. E entenderam a maior parte das informações orais do pesquisador.
No que se refere aos resultados verificados nas provas operatórias destinadas a
avaliar estruturas mentais distintas, 3 (três) crianças se manifestaram operatórias
concretas, ou seja, demonstraram ter raciocínio lógico ao operar a reversibilidade do
pensamento e o domínio da noção de conservação. E 5 (cinco) crianças foram
classificadas como na fase de transição do pensamento pré-lógico para o lógico concreto
por entenderem somente as situações perceptualmente favoráveis. As outras 2 (duas)
crianças não expressaram em nenhum momento vestígios do pensamento lógico. Das 5
(cinco) estruturas mentais avaliadas, a que as crianças manifestaram menos domínio foi
a noção de simultaneidade temporal. Seguida da noção de conservação de comprimento.
Conclusões
Foi possível concluir a partir dos dados coletados que a prova de memória
elaborada por Leontiev citado por Vigotsli (1998) é um instrumento que deve ser
utilizado pelo Pedagogo ao elaborar diagnóstico pedagógico porque possibilita coletar
dados que permitem classificar os sujeitos avaliados quanto à capacidade de memória
direta ou de memória mediada. E quando mediada, se mediada por estímulos externos
ou internos. Por outro lado, pode-se constatar que a estimulação da capacidade de
memorizar dos sujeitos amostra da pesquisa não está sendo adequada devido o
significativo número de sujeitos que não operaram com a memória mediada. Frente a tal
realidade, pode-se sugerir ao Pedagogo planejar intervenções pedagógicas destinadas a
minimizar ou eliminar as dificuldades de memorização com compreensão.
No que se refere às provas operatórias que avaliam o desenvolvimento de
estruturas mentais, é indiscutível a validade do uso das mesmas, tal como pontuam
Beyer (1996), Becker (2003), Sisto et al. (2006). E na fase empírica da presente
pesquisa a fim de realizar o estudo exploratório, pode-se constatar o mesmo. A partir
dos dados coletados conclui-se que os sujeitos avaliados não estão sendo devidamente
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estimulados no seu desenvolvimento cognitivo já que a maioria não tem o domínio do
pensamento lógico concreto característico da maior parte das crianças com idade
compreendida entre 7 (sete) a 13 (treze) anos de idade.
Referências Bibliográficas
BECKER, Fernando. A origem do conhecimento e a aprendizagem escolar. Porto
Alegre: Artmed, 2003.
BEYER, Hugo Otto. O fazer psicopedagógico: a abordagem de Reuven Feuerstein a
partir de Vygotsky e Piaget. Porto Alegre: Mediação, 1996.
CHAMAT, Leila Sara José. Material psicopedagógico de avaliação. São Paulo: Vetor,
2006.
CHAVES, Fernanda C. Soares. O ensino desenvolvimental e a aprendizagem da
matemática na primeira fase do ensino fundamental. 2007. 322 f. Dissertação
(Mestrado em Educação) – Departamento de Educação, Universidade Católica de
Goiás, Goiânia.
FERNÁNDEZ, A. A inteligência aprisionada: abordagem psicopedagógica clínica da
criança e sua família. 2. ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1991.
MAC DONELL, Juan José Conte. Manual: provas de diagnóstico operatório. Trad.
Simone Carlberg. Buenos Aires: C.M.E, 1994.
MALUF, Maria Regina; MOZZER, Geisa Nunes de Souza. Operações com signos em
crianças de 5 a 7 anos. Revista Psicologia: teoria e Pesquisa, Brasília, v. 16, n. 1,
Jan./Abr. 2000.
PIAGET, Jean. A psicologia da inteligência. Rio de Janeiro: Fundo de Cultura, 1976.
PIAGET, Jean. Para onde vai a educação? Rio de Janeiro: José Olympio, 1977.
SISTO, F. F.; BORUCHOVITCH, E.; FINI, L. D. T.; BRENELLI, R. P.;
MARTINELLI, S. C.
(Orgs.).
Dificuldades
de aprendizagem no contexto
psicopedagógico. Petrópolis: Vozes, 2002.
VIGOTSKI, L.S.A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
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