ALCOOLDUTO: UM NOVO CONCEITO EM ECONOMIA DE DISTRIBUIÇÃO Anderson de Aguiar Simon1, Eduardo Moraes da Silva2, Fernando César Vilela Teles3. Orientador: Profº. Eng. Me. Sandro da Silva Pinto4. 1,2,3 Acadêmicos do Curso MBA em Gestão Sucroalcooleira do Centro Universitário de LinsUnilins, Lins-SP, Brasil. 4 Docente do Curso MBA em Gestão Sucroalcooleira do Centro Universitário de Lins-Unilins, Lins-SP, Brasil. Resumo A usina de cana-de-açúcar é um dos setores mais promissores da economia brasileira atualmente, pois, o país além de ser o maior produtor mundial de açúcar e álcool, também é líder na produção de biodiesel, gerando riqueza e empregando milhares de pessoas no setor. Toda essa pujança, porém, ainda esbarra em um ambiente de distribuição pouco desenvolvido e ainda arcaico, que acaba por encarecer as entradas (matériaprima) e saídas (etanol) do produto até o consumidor final. Este artigo tem por objetivo levantar e confrontar dados, a partir da revisão da literatura, exemplificando a atual forma e as projeções para a implantação dos dutos como forma de distribuição do etanol, coletando ainda os riscos, benefícios, vantagens e desvantagens que o sistema pode vir a apresentar, considerando o ambiente do Estado de São Paulo. Dados informam que cerca de 95% de todo o etanol transportado no país viaja por rodovias, e apenas uma pequena parcela é transmitida por dutos, hidrovias e ferrovias. Outro estudo no mesmo sentido informa que a construção de um Alcoolduto eficiente que ligaria as principais regiões produtoras do estado de São Paulo (responsável por 1/3 da produção nacional de etanol) entre a capital e o litoral paulista trazendo, pois é uma excelente solução logística para o escoamento da produção de Etanol trazendo, assim, vantagens mercadológicas significativas, tanto para o mercado interno quanto para as exportações, Palavras chaves: Logística, Alcoolduto, Setor Sucroalcooleiro. 1 Introdução O petróleo que já conhecido pela humanidade desde a antiguidade, e que até os primórdios do século XX ainda era bem restrito quanto a sua utilização, transformou o mundo após a invenção dos motores de combustão interna. Com isso, o seu consumo explodiu e desde então o mundo não consegue viver sem o chamado “ouro negro”. Atualmente, o petróleo é tido como a principal fonte de energia do planeta movendo veículos e gerando eletricidade, além de ser matéria prima de uma infinidade de produtos que se utiliza até mesmo no dia a dia das pessoas (ALMANAQUE ABRIL, 2009). Até a alguns anos atrás o mundo não levava em conta, não mensurava ou pelo menos não se importava com as conseqüências desse alto consumo, e hoje, vários estudos apontam dados alarmantes em relação ao aquecimento global (sim, o petróleo é um combustível altamente poluente), e esgotamento total das reservas existentes de petróleo já para os próximos 40 anos (isso se o consumo se mantiver no mesmo ritmo, o que já é bem difícil), o que levaria o planeta ao caos econômico e político. Devido a esses problemas tem-se um desafio: desenvolver em tempo útil combustíveis e tecnologias para substituir o petróleo (ALMANAQUE ABRIL, 2009). Os estudos para o substituto do petróleo já começaram, e caminham para os biocombustíveis, estes são obtidos a partir de matérias-primas vegetais, sendo que suas fontes são renováveis, além de poluírem menos. O Brasil é líder na produção de etanol (cana de açúcar) e biodiesel (mamona, dendê, girassol), inclusive alguns países que também são produtores não oferecem condições naturais para o plantio da cana-de-açúcar, e sintetizam o etanol através de outros meios como a batata, milho, beterraba, porém, é a cana-de-açúcar que é muito mais rentável em matéria de produção, e faz com que o Brasil produza para si e ainda sobre excedente para exportação (ALMANAQUE ABRIL, 2009). A história do etanol no Brasil começa em meados dos anos 70, onde devido a uma crise no petróleo (ocorrido devido a problemas políticos globais), o governo brasileiro instituiu o programa Proálcool – Programa Nacional do Álcool, como forma de incentivar o consumo no país. Foram para tanto, construídas usinas, a inserção de uma porcentagem de álcool hidratado à gasolina e incentivos à indústria automobilística, no entanto passado alguns anos, diversos fatores começaram a minar o plano, entre eles podese citar a volta do preço do petróleo a preços acessíveis, o aumento do preço do açúcar no mercado internacional (tornou-se vantajoso fabricar e exportar o açúcar) e devido a esses fatores começou a faltar álcool nos postos de combustíveis, com a desconfiança estampada nos consumidores, o programa Proálcool foi praticamente extinto. Porém, a história do etanol não acabaria ali. Com a estabilização econômica iniciada a partir do Plano Real (1994), no entanto, houve crescimento na fabricação e vendas de veículos, com forte impacto no trânsito das grandes cidades e na matriz de energia brasileira. A alta do preço do petróleo, nos anos 2000, e o início da produção e vendas de carros com motores flex (que aceitam tanto álcool como gasolina), em 2003, fizeram o álcool voltar a ser consumido em grande escala nos postos e ganhar novo peso no setor de transportes. Segundo dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), as vendas de carros flex, em apenas quatro anos, atingiram 69% do total de veículos comercializados. Esse tipo de motor dá segurança ao consumidor, pois, caso falte um tipo de combustível, o outro pode ser usado (ALMANAQUE ABRIL 2009, pág. 110). Com essa reviravolta o etanol voltou a ser o centro das atenções quando falamos em “combustível energético alternativo”. Atualmente o mundo produz cerca de 46 bilhões de litros de etanol sendo que somente o Brasil produz 40% desse total, ou seja, 17 bilhões de litro por ano, o problema que ocorre aqui é devido à forma que o produto é escoado e chega até os postos, ou portos nacionais. De acordo com dados do Almanaque Abril (2009), a matriz atual de transporte de cargas no Brasil é desequilibrada com um peso muito alto para o transporte rodoviário (caro e mais adequado às pequenas distâncias), e existe um plano governamental para alterar o atual cenário que é assim: 58% de toda a carga são transportadas por via rodoviária, 25% por ferrovias, 13% formas aquaviárias, 3,6% por dutos, e 0,4% via aérea; sendo que a idéia do governo é aumentar até 2025 de forma significativa os transportes ferroviários, aquaviários e por dutos, afim de desafogar as rodovias e melhoras as atuais formas de distribuição. No caso do Etanol, a saída mais econômica seria o transporte por dutos, dos centros de produção até os portos. Além de rápida, essa forma é mais econômica e segura do que o transporte rodoviário, gerando inclusive, menos riscos ambientais. O objetivo do presente artigo é levantar e confrontar dados, a partir da revisão da literatura, exemplificando a atual forma e as projeções para a implantação dos dutos como forma de distribuição do etanol, coletando ainda os riscos, benefícios, vantagens e desvantagens que o sistema pode vir a apresentar, considerando o ambiente do Estado de São Paulo. 2 Desenvolvimento 2.1 Logística Desde os tempos antigos onde grandes impérios existiram de forma grandiosa como o Império Romano, Bizantino e alguns outros, já existia de forma coloquial a prática da logística. O dispêndio de tropas dos exércitos em guerra pela conquista de novos territórios forçava os generais a tecer estratégias para transportar as tropas, armamentos e carros de guerra pesados aos locais de combate. Para isso, eram necessários planejamento, organização e execução de tarefas logísticas integradas ao objetivo da conquista de novas terras. Em duas grandes guerras mundiais, o uso da logística foi muito importante também na organização dos exércitos em vista da localização dos territórios de combate, onde o planejamento estratégico de transporte das tropas, armamentos e mantimentos eram essenciais. Também foi muito importante na reconstrução dos países destruídos após essas guerras, principalmente no transporte de materiais e comida para a população desses países. Resumindo, até o fim da segunda Guerra Mundial a logística era associada apenas às atividades militares. O termo logística tem mudado muito ao longo dos anos voltando-se quase que exclusivamente para o mundo empresarial, um dos mais consagrados autores sobre o assunto, Ballou (1993), define a logística de uma forma simplista e objetiva: A logística empresarial trata de todas as atividades de movimentação e armazenagem, que facilitam o fluxo dos produtos desde o ponto de aquisição da matéria-prima até o ponto de consumo final, assim como dos fluxos de informação que colocam os produtos em movimento, com o propósito de providenciar níveis de serviço adequados aos clientes a um custo razoável. (BALLOU, 1993, p. 24). Em outra definição, Novaes (2001) identifica a Logística como: O processo de planejar, implementar e controlar de maneira eficiente o fluxo e armazenagem de produtos, bem como os serviços e informações associados, cobrindo desde o ponto de origem até o de consumo, com o objetivo de atender aos requisitos do consumidor (NOVAES, 2001, p. 67). De maneira a elucidar o modo como a Logística é interpretada no ramo empresarial, Ballou (1993) destaca as atividades que são de suma importância para se atingir os objetivos logísticos de custo e de nível de serviço, essas atividades são divididas em Atividades Primárias e Atividades de Apoio. As atividades primárias são dividas em três: Transportes, Manutenção de Estoques e Processamento de Pedidos. (PASQUOT, 2007). O transporte é considerado como a atividade logística mais importante por absorver, em média, de um a dois terços dos custos logísticos. O seu uso na movimentação de matérias-primas e na entrega de seus produtos acabados a torna como atividade essencial para o funcionamento adequado de uma empresa. Existem vários tipos de transportes e os mais comuns são: o rodoviário, o aeroviário e o ferroviário, e ainda tem-se os aquaviários e os dutoviários. O gerenciamento de transportes envolve decisões como o melhor tipo de transporte a ser utilizado, os roteiros a serem seguidos e a utilização da capacidade dos veículos de transporte de produtos (PASQUOT, 2007). De maneira igualmente importante ao Transporte, a manutenção de estoques consome também de um a dois terços dos custos logísticos. Para se atingir um razoável grau de disponibilidade de produtos, é necessário que se mantenha um estoque que servirá de balanço entre a oferta e a demanda. Para agilização de entrega de produtos, os estoques devem ser posicionados próximos aos pontos de manufatura ou aos consumidores. O gerenciamento dos estoques leva ao devido cuidado de mantê-los em baixos níveis quanto possível e ao mesmo tempo que mantenha a disponibilidade imediata desejada pelos clientes (PASQUOT, 2007). O processamento de pedidos é considerado como atividade primaria na logística devido a sua importância no ganho de tempo necessário para levar bens e serviços ao clientes, e também é a atividade que dá inicio a movimentação de produtos e entrega dos mesmos (PASQUOT, 2007). As atividades de apoio são divididas em seis: armazenagem, manuseio de materiais, embalagem de proteção, obtenção, programação de produtos e manutenção de informação. Apóiam as atividades primarias para que o processo de logística se desdobre de maneira eficaz e efetiva nas empresas (PASQUOT, 2007). Na armazenagem relaciona-se a administração do espaço físico tanto das matérias-primas estocadas, quanto ao produto acabado. Problemas como localização, dimensão da área de armazenamento, arranjo físico e local adequado quanto ao ambiente são freqüentes nessa atividade que requer atenção para evitar surpresas indesejadas no futuro (PASQUOT, 2007). O manuseio de materiais é a atividade ligada a armazenagem e também a manutenção de estoques, diz respeito a movimentação de produtos nos locais de estocagem, envolve desde a chegada de materiais no ponto de recebimento, transferência desses materiais ate o ponto de armazenagem e transporte desses materiais ate o local de despacho (PASQUOT, 2007). A embalagem de proteção é adequada para evitar quebras de produtos no transporte. Um projeto bem feito da embalagem do produto evita quebras e seu correto dimensionamento físico ajudam no empacotamento e no correto manuseio e acarreta uma armazenagem eficiente, ajudando a economizar espaço (BALLOU, 1993). A atividade obtenção deixa o produto disponível para o sistema logístico. Seleção de fontes de suprimento, quantidades, programação de comprar e forma pelo qual o produto é comprado são alguns dos tratamentos de suma importância da obtenção (BALLOU, 1993). Já a programação de produto refere-se as quantidades de produtos que devem ser produzidas e quando e onde devem ser fabricadas (BALLOU, 1993). Na manutenção da informação as informações de custo e desempenho são fatores importantes na operação eficiente de qualquer função logística, tais informações são essenciais para o correto planejamento e controle logísticos. Manter um banco de dados com informações importantes apóia a administração efetiva das atividades primarias e de apoio contribuindo para uma melhor administração do sistema logístico como um todo (PASQUOT, 2007). Com o avanço da globalização e o rápido desenvolvimento tecnológico se torna cada vez mais importante o uso da logística na cadeia de produção das empresas que querem competir mundialmente. As atividades logísticas afetam os índices de preços, custos financeiros, produtividade, custos de energia e satisfação dos clientes (PASQUOT, 2007). 2.1.1 Transporte como elemento básico da Logística Considerado como um elemento básico fundamental na logística integrada o gerenciamento do transporte é tido como essencial para o alcance dos objetivos principais de uma empresa (BALLOU, 1993). Sob qualquer ponto de vista econômico, político e militar, o transporte é, inquestionavelmente a indústria mais importante do mundo (BALLOU,1993). Quando não se existe um bom sistema de transporte, a expansão de mercado fica limitada as cercanias do local de produção, ao contrario, quando se tem melhores serviços de transporte produtos de outras localidades podem vir a aumentar a competição no próprio mercado local e também ser distribuído em outras localidades mantendo o mesmo nível competitivo de preço e qualidade. Com o aumento competitivo, há uma grande tendência de barateamento dos custos de transportes contribuindo de forma indireta para uma competição ainda maior, pois torna disponíveis no mercado produtos e bens que normalmente não entrariam nesta competição. Outro efeito importante de transportes baratos é que mercados mais amplos permitem economias nas escalas de produção (BALLOU, 1993). Como transporte é um dos componentes mais caros e compõe o custo agregado do produto junto com outros custos, o barateamento dele contribui para a redução dos preços e influencia no aumento da competição de mercado. No processo logístico, a escolha do melhor modo de transporte (modal) impacta significativamente os custos. A definição do modal de transporte ocorre em função do produto a ser transportado e das limitações de modais (PETRAGLIA et al., 2009). No transporte de cargas tem-se cinco meios de transporte (modais) básicos e de suma importância, são eles: ferroviário, rodoviário, hidroviário, dutoviário e aeroviário. Ballou (1993), define de forma abrangente e significativa os produtos transportados e a eficiência de cada modal a seguir: O meio de transporte dutoviário é a modal altamente eficiente para transportar líquidos, basicamente petróleo e derivados, e gases movimentados em grandes volumes e a grandes distâncias. Logo, o custo de movimentação é baixo, mas a linha de produtos é limitada. A movimentação via dutos é bastante lenta, mas é contrabalanceada pelo fato de que esse tipo de transporte opera 24 horas por dia e 7 dias por semana, com poucas interrupções no transporte, pouca influencia meteorológica e equipamentos de alta confiabilidade gerando um ganho de velocidade de escoamento muito maior quando comparado aos outros modais. Danos e perdas de produtos em dutos são baixos, pois líquidos e gases não estão sujeitos a danos no mesmo grau que produtos manufaturados e a quantidade de problemas que podem ocorrer na operação de dutos é limitada (BALLOU, 1993). O meio de transporte aeroviário caracteriza-se pela modal aéreo já não é tão limitado como o dutoviário. Entretanto, seu frete é muito alto quando comparado com outros modais. Equipamentos eletrônicos, instrumentos óticos, peças de máquinas, são alguns produtos transportados pela via aérea devido ao seu alto valor agregado e que geralmente necessitam de rapidez na entrega, e que podem compensar o alto frete cobrado por esse modal. A grande vantagem do modo aéreo esta em sua velocidade e também pelas grandes distâncias que se pode percorrer em menos tempo em comparação com os outros tipos de transporte. Disponibilidade e confiança são consideradas boas sob condições normais de operação, a variabilidade de tempo de entrega é baixa levando em consideração a sensibilidade de falhas mecânicas e influências meteorológicas no tráfego aéreo. Danos e perdas em produtos são pequenas devido a menor precisão de embalagens de proteção (BALLOU, 1993). O transporte hidroviário opera principalmente com sólidos e líquidos como minérios, areia, grãos, ferro, petróleo. Sua principal característica é manipular grandes volumes, consequentemente, seu frete é bem inferior ao do transporte aéreo. Os custos de perdas e danos são considerados baixos, pois não é dada maior importância a danos físicos em mercadorias de baixo valor e as perdas devidas aos atrasos não são grandes (BALLOU, 1993). Sobre o modal ferroviário, Eurides (2005), observou que a ferrovia é basicamente um transportador lento de matérias-primas ou manufaturados de baixo valor para longas distâncias, com frete mais baixo e desempenho global inferior concentra-se nas cargas de relação valor-peso ou valor-volume mais baixas como produtos químicos, siderúrgicos e plásticos. Existe uma relação de competição muito forte com o transporte rodoviário, visto que, os produtos carregados por esses modais são divididos principalmente em função de compensações entre custo e nível de serviço. Perdas e danos considerados baixos também devido ao transporte de cargas de baixo valor agregado e poucos danos físicos nas mercadorias. O transporte rodoviário difere do ferroviário, pois serve rotas de curta distância de produtos acabados ou semi-acabados como instrumentos, móveis e acessórios, metais e bebidas. Caminhões oferecem entrega razoavelmente mais rápida e confiável de cargas parceladas, uso de serviço porta a porta, de modo que não é preciso carregamento e descarga entre origem e destino, como freqüentemente ocorre com o modo aéreo e ferroviário (BALLOU, 1993). Segundo Petraglia et al. (2009), o papel do transporte na estratégia competitiva de uma empresa é representado proeminentemente quando a empresa está avaliando as necessidades-alvo de seus clientes. Se a estratégia competitiva tem como alvo o cliente que demanda um nível muito alto de serviço e esse cliente está disposto a pagar por esse serviço, a empresa pode, então, utilizar o transporte como fator chave para tornar a cadeia de suprimentos mais eficaz. A logística integrada a um sistema de informações computadorizado é de grande importância em termos de competitividade, pois um sistema que é abastecido de informações em tempo real auxilia na tomada de decisões e ajuda na resolução de problemas isolados sem que afete todos os outros setores da produção (PETRAGLIA et al., 2009). Considerando a logística como uma atividade econômica, vê-se a importância dessa ferramenta gerencial no processo produtivo e destacamos a sua importância em ser bem planejada e executada, principalmente pelo dinamismo e a alta volatilidade que o mercado globalizado exige das empresas, portanto, o gerenciamento integrado do sistema logístico é crucial para o desenvolvimento operacional de uma empresa que quer se destacar (PETRAGLIA et al., 2009). 2.2 Setor Sucroalcooleiro O Brasil figura entre os maiores produtores de etanol no cenário mundial, e tem respeitável potencial para que nos próximos anos aumente consideravelmente sua capacidade de produção. O petróleo ainda responde por boa parte da matriz energética brasileira e quando foi anunciada a descoberta de novos campos petrolíferos, que em tese, nos fariam ser auto-suficientes, foi vista como ótima notícia do ponto de vista econômico. Porém, essa conquista não significa que o país não deva buscar matrizes energéticas alternativas e a mais promissora atualmente são os biocombustíveis em especial o Etanol (UNICA, 2009). Os principais biocombustívels brasileiros são o etanol e o biodiesel, sendo que neste último o Brasil é líder disparado em produção. Além de serem uma fonte renovável de energia, ainda contribuem para uma melhor qualidade do ar nos grande centros urbanos por serem menos poluentes que os combustíveis fósseis, inclusive há uma lei de 2005 estabelecendo que se adicionasse biodiesel ao diesel mineral em proporções que variam de 2 a 5% até 2010 (UNICA, 2009). Resumidamente, tudo começa em 1975 com o programa criado pelo governo federal o Próalcool, de lá pra cá, mesmo com seus altos e baixos o país nunca deixou de produzir etanol mesmo que em quantidade mínimas, porém, com as reviravoltas econômicas graças ao surgimento dos veículos flex, o combustível verde voltou a receber seu devido valor e a surgir como grande expectativa de investimento e crescimento no setor agroindustrial (UNICA, 2009). O interesse por fontes renováveis é mundial e por isso a Petrobras além de grandes fundos de investimento associaram-se a empreendimentos para a construção de usinas de álcool. O próprio governo passou a ver o etanol como grande potencial de exportação e o atual presidente dos EUA durante sua campanha eleitoral, foi favorável à importação do etanol brasileiro. Empresas privadas também estão começando a investir em infraestrutura como ferrovias, portos e o próprio alcoolduto (UNICA, 2009). Apesar das boas notícias, a intenção de aumentar a produção de etanol esbarra em problemas ambientais como o cultivo extensivo de apenas um vegetal o que acabaria por exaurir o solo e reduzir a biodiversidade. A prática da queimada da cana e poluição do ar também são empecilhos, o vinhoto (resíduo da destilaria), pode contaminar lençóis freáticos. O medo ainda paira sobre a possibilidade de que as plantações de cana passem a ocupar áreas hoje destinadas a produção de alimentos, o que acabaria por encarecê-los, e ainda empurraria as fronteiras agrícolas sobre áreas florestais, causando um enorme impacto econômico (UNICA, 2009). As notícias para o setor são ótimas. O ano ainda não fechou, mas os números otimistas prevêem que neste ano sejam moídas cerca de 630 milhões de tonelada de cana o que já significa um aumento de 8 a 10% a mais que no ano de 2008. As estimativas para o ano de 2010 é de que sejam moídas cerca de 650 milhões de toneladas de cana. Ainda há expectativa de aumento de exportações com o aumento dos preços internacionais do açúcar e álcool e novos mercados consumidores para explorar (UNICA, 2009). 2.3 Logística no setor sucroalcooleiro De acordo com Vian; Marin (2007) da Embrapa: As usinas possuem armazéns de açúcar e de álcool com a finalidade de armazenar estes produtos por longos períodos de tempo a fim de regular e organizar o planejamento de transporte e logística das distribuidoras. Para que o açúcar e o álcool cheguem ao consumidor final existem empresas de distribuição e exportação especializadas. Para o mercado interno, o transporte desses produtos é feito, principalmente, por rodovias, saindo da indústria diretamente para as bombas de combustíveis ou supermercados. (...) Já para o mercado externo, o sistema de logística e transporte é mais complexo, pois pode ser feito por via rodoviária, férrea e, no caso do álcool, o uso de alcooldutos ligando as usinas aos portos. Para que o porto tenha condição de exportar etanol é necessário que possua uma infraestrutura própria para o armazenamento e carregamento para os navios por ser um material inflamável. (...) O álcool também é descarregado em armazéns para a distribuição nas indústrias alimentícias e o etanol combustível é destinado para refinarias, onde são feitas as misturas à gasolina, e posteriormente, é distribuído nas bombas de combustível (VIAN; MARIN, 2007). Torna-se assim essencial que as usinas se adaptem ao exigente mercado nacional e internacional, que cada vez mais cobra agilidade nos processos de distribuição e entrega, na hora certa e no tempo certo. São necessários investimentos no setor por parte dos empresários e do governo, de forma a melhorar a eficiência do setor integrando de forma inteligente as diversas matrizes que compõem o setor energético nacional. 2.4 Alcoolduto O estado de São Paulo conta com mais de cem usinas de processamento de açúcar e álcool que estão localizadas em vários pontos desta federação sendo que muitas são exportadoras e dependem das rodovias estaduais e federais para escoar sua produção até principais portos do litoral paulista: Santos (o maior do país), São Sebastião e Guarujá (PAULILLO, 2007). 2.4.1 Como funciona (projeto técnico) um alcoolduto Cabe ressaltar aqui a dificuldade em obter informações sobre o assunto em tela na empresas envolvidas no processo de construção do alcoolduto. Nenhuma empresa contatada ofereceu detalhes sobre a construção de seus projetos. A pesquisa bibliográfica permitiu relacionar neste estudo as etapas de construção de um alcoolduto. Basicamente um alcoolduto é uma rede de tubos que leva o etanol do centro de produção até os distribuidores (mercado interno), ou até os portos localizados no litoral (exportação). Esse produto é transportado pelas tubulagens e a esse mecanismo são incorporadas bombas de pressão e válvulas, conforme a Figura 1. Fonte: Wikipédia (2010a) Figura 1: Componentes do transporte tubular Existem pelo menos três tipos de transportes tubulares: a) Terrestre: é o mais utilizado e seguro. A maior parte do trajeto ocorre por baixo do solo; b) Subaquático: geralmente utilizado para gases ou óleo oriundos do mar aberto. Não é recomendado para o transporte do etanol haja vista o contato da água com o álcool gerar uma reação química que prejudicaria o transporte. c) Aéreo: são tubulações suspensas que circulam entre torres, utilizada na própria usina de álcool, e pode vir a ser utilizada nos portos com caminhões adaptados que já despejariam o produto direto nos navios (WIKIPÉDIA, 2010a). O princípio é praticamente idêntico ao utilizado para o transporte de derivados de petróleo (já que ainda existe o meio de transporte do petróleo bruto), e ainda são inseridos aditivos para evitar a corrosão dos tubos feitos exclusivamente de aço sem revestimento interno. Para efeito de comparação para o transporte de gás, os dutos podem ser revestidos internamente com plástico (WIKIPÉDIA, 2010a). Limitações do alcoolduto: Quimicamente falando, a água tem uma grande afinidade pelo etanol, sendo assim as tubulações deverão ser projetas para que não haja interferência de umidade nos dutos. O álcool é uma substancia altamente corrosiva, o que poderia elevar custos de manutenção (WIKIPÉDIA, 2010a). Movimentação nos dutos: Os líquidos, independentemente da composição movem-se em lotes de 4 a 8 quilômetros por hora, e ao longo do percurso de acordo com a necessidade, são instaladas bombas ou compressores para evitar a perda de potência no deslocamento (WIKIPÉDIA, 2010a). x benefício. Se em determinado local houver muita umidade, os dutos deverão ser revestidos interna e externamente com materiais que dificultem a entrada de água nas tubulações. São feitos estudos sobre a espessura, composição e melhor disposição dos tubos (WIKIPÉDIA, 2010a). Fonte: Wikipédia (2010a) Figura 2: Desbaste do local 2.4.2 Construção de um alcoolduto Para construir um alcoolduto, antes de tudo é preciso elaborar um projeto técnico onde serão definidas a viabilidade econômicofinanceira da obra. Depois é definido o trajeto, o tipo de tubulação necessária à obra, população e meio ambientes que poderão ser afetados no trajeto e consulta às autoridades locais. A regulamentação do processo é outra etapa, a mais burocrática, pois é preciso adquirir licença ambiental e territorial já que o trajeto deve passar por terras particulares ou governamentais (WIKIPÉDIA, 2010a). O processo de seleção da rota é muito importante, pois nele será definido o melhor trajeto para chegar o produto até seu destino, encurtando distâncias, e sempre adequando a tubulação ao ambiente e não o contrário. O tipo de material deverá ser analisado de forma que de forma econômica traga o melhor custo Fonte: Wikipédia (2010a) Figura 3: Vala para instalação de um sistema de transporte tubular Para a construção, serão ainda removidos no trajeto (sempre com o mínimo possível de impacto ambiental), árvores, rochas e outros obstáculos que estiverem no caminho e sempre onde não seja possível desviar o trajeto. O solo é limpo e nivelado, e são abertas valas com profundidade variável para a inserção dos dutos onde dependendo do local (zona urbana ou rural) serão mais profundos. Durante essa etapa os dutos são pré-fabricados em uma indústria e serão montados ao lado das. Se houver necessidade de curvas existe um equipamento específico, nesse caso a máquina de dobragem, que molda os dutos de acordo com a necessidade sem esquecer dos requisitos técnico-físicos para a passagem do produto. Outro processo tão importante na estrutura é a soldagem, feita por funcionário qualificado, seguindo padrões técnicos e após é conferido com uso de raio-X em busca de possíveis imperfeições. Como segurança são aplicados revestimentos extras nos locais de solda (WIKIPÉDIA, 2010a). em havendo essas falhas, os locais são substituídos ou reparados e novamente iniciase o teste até que não haja mais defeitos, sendo então o duto colocado em funcionamento (WIKIPÉDIA, 2010a). 2.4.3 Infraestrutura brasileira em números Segundo comentário divulgado pela Comissão Nacional de Transportes (CNT, 2007) O desenvolvimento econômico, político e social de um país estão diretamente ligados aos seus Sistemas de Transporte. Nesses Sistemas, o modal rodoviário _ por meio de suas rodovias – é fundamental para o acesso de produtos e passageiros aos principais pontos de coleta e distribuição, garantindo, assim, a integração entre portos, ferrovias, hidrovias e aeroportos (CNT, 2007). Fonte: Wikipédia (2010a) Figura 4: Revestimento da tubagem Terminada a montagem finalmente os dutos serão colocados nas valas utilizando-se equipamentos de construção específicos, em seguida o duto é calmamente soterrado, para não danificar sua estrutura (WIKIPÉDIA, 2010a). Fonte: Wikipédia (2010a) Figura 5: Rebaixamento das tubagens Finalmente (seguindo as regras de segurança) ocorrem os testes da tubulação sendo usada a pressão hidrostática para medir pressão mínima/máxima, e eliminar defeitos que prejudiquem o transporte. O teste consiste em encher a tubulação com água e com a máxima pressão testar falhas na tubulações, Ainda segundo uma pesquisa realizada pela Comissão Nacional de Transportes (CNT, 2007) divulgada em 28/02/2009, apontou que cerca de 69% da malha rodoviária do Brasil está em péssimo, ruim ou regular estado de conservação enquanto que no estado de São Paulo 75,4% das rodovias estão com avaliação positivas – ótimo ou bom. Os dados são preocupantes por enquanto na questão nacional, porém, vale ressaltar que há um grande contingente de veículos que utilizam essas estradas, e de certa forma a sobrecarregam, causando engarrafamentos, acidentes além da exigência de haver constantemente investimentos em manutenção. Existem outros meio alternativos inclusive concorrentes para a implantação do Álcoolduto como é o caso das ferrovias (responde atualmente por 25%), mas observase que a atual situação da malha ferroviária brasileira: Dos 29.798 quilômetros de ferrovias que existem no Brasil, mais ou menos 10 mil foram construídos pelo imperador Dom Pedro II. Como ninguém nunca mais investiu tanto quanto ele em trens, a malha ainda tem cara de século 19 e não satisfaz às nossas necessidades há muito tempo (...). A malha brasileira é mal conservada e insuficiente – temos tantos quilômetros de trilhos quanto o Japão, cujo território é do tamanho do estado de São Paulo. Os EUA têm 14 vezes mais ferrovias do que nós (A NOVA, 2007). Hoje já há investimentos nesse sentido, partindo de empresas privadas como a Replan (Refinaria Planalto Paulista) de Paulínia/SP em parceria com a América Latina Logística (que adquiriu a antiga Brasil Ferrovias e hoje detém a maior malha ferroviária do país), mas devem ser feitos altos investimentos na adaptação de vagões e construção de estações adaptadas para receber o produto (A NOVA, 2007). Apesar do grande potencial o problema hoje do setor ferroviário são os investimentos onde somente há poucos anos empresas privadas estão assumindo o controle e fazendo os reparos necessários nas estruturas já existentes (os trens existentes para o transporte de cargas esbarram nas velocidades baixíssimas de locomoção) (A NOVA, 2007). O transporte aéreo é inviável para esse tipo de produto. Outro tipo de transporte é o hidroviário, no caso do estado de São Paulo o rio mais utilizado é o Tietê, mas, o transporte por rios ainda tem pequena participação, apenas 13% do volume total de mercadorias. Internamente falando, é um desperdício. O país tem um grande número de rios, e pelo menos 4.000 mil quilômetros de costas navegáveis, mas pouco exploradas. É interessante saber que a apesar do potencial desse meio de transporte, muitos rios são inviáveis para a navegação devido à sua geografia que possuem a característica de ser de planalto, apresentando cachoeiras que dificultam a navegação, adaptá-los de certa forma exige investimentos. Quanto aos portos paulistas, o destacado é o porto de Santos, mas este também enfrenta problemas com infraestrutura já que necessita que sua profundidade seja aumentada sob o risco de ficar fora dos novos gigantescos navios comerciais, e também aperfeiçoar o embarque e desembarque de mercadorias. São tantos caminhões, que se formam enormes filas (A NOVA, 2007). 2.4.4 Projetos andamento de alcooldutos em Pelo menos três grandes projetos de alcoolduto estão em andamento no Estado de São Paulo, são eles: Uniduto Logística S.A., Brenco – Companhia Brasileira de Energia Renovável e o consórcio Projetos de Transporte de Álcool (PMCC) (UNICA, 2008). Tabela 1: Projetos de alcoolduto PROJETO Extensão Custo Regiões UNIDUTO BRENCO PMCC 600 km 1.200 km 1.580 km R$ 2,5 bilhões U$ 1 bilhão U$ 2 bilhões SP – interior/litoral Sul de MT e SP MG e SP Fonte: Adaptado Unica (2008) O Uniduto é o projeto “mais paulista” de todos sendo que coletará o produto de quatro regiões: Serrana, Botucatu, Anhembi e Santa Bárbara do Oeste; haverá dois centros de distribuição para o mercado interno: Paulínia e região metropolitana de São Paulo e para exportação o porto de Guarujá (será construído um terminal próprio). Custo previsto do projeto é de R$ 2,5 bilhões com cerca de 600 quilômetros de dutos, com previsão de 17 bilhões de litros/ano. Junto aos centros de distribuição haverá integração com o sistema rodoviário, ferroviário e hidroviário de forma estratégica. O produto chegaram por dutos até o porto, e assim também será embarcado diretamente nos tanques dos navios (UNIDUTO, 2009). Fonte: Uniduto (2009) Figura 6: Projeto Uniduto O Projeto de alcoolduto da Brenco – Companhia Brasileira de Energia Renovável: tem custo estimado em U$ 1 bilhão e previsto a construção de 1.200 quilômetros de dutos, para escoar cerca de 8 bilhões de litros/ano. Essa obra ligará o município de Alto Taquari/MT ao porto de Santos – inclusive passando por Paulínia/SP, com início das obras previstas para 2010 e término em 2014 (UNIDUTO, 2009). consórcio idealizador. Ainda haverá reuniões para discutir a viabilidade do projeto passar por Goiás. Fonte: Uniduto (2009) Figura 8: Projeto do Consórcio PMCC 2.4.5 Integração de projetos Fonte: Uniduto (2009) Figura 7: Projeto Brenco O Consórcio PMCC possui um custo total estimado em U$ 2 bilhões, com cerca de 1.580 quilômetros, com previsão de transportar 12 bilhões de litro/ano (UNIDUTO, 2009). A inauguração prevista para o fim de 2010 é a da primeira fase do sistema que a empresa tripartite pretende criar, interligando Uberaba, no Triângulo Mineiro, a Paulínia um trecho de 342 quilômetros -, e esta com os portos de São Sebastião (Terminal Marítimo Almirante Barroso) e do Rio de Janeiro (Terminal da Ilha d´Água), via Taubaté (SP) (UNIDUTO, 2009). A conexão de Paulínia com a hidrovia Tietê-Paraná será feita por uma linha de 110 quilômetros até Santa Maria da Serra (SP). A parte hidroviária prevê três terminais de embarque de álcool ao longo do trecho navegável e a encomenda de 80 barcaças e 20 empurradores. Embora ainda não esteja definido quem vai operar o transporte aquaviário, Guimarães considera que, por sua capacidade operacional, a Transpetro, subsidiária da Petrobras, é candidata natural (UNIDUTO, 2009). O projeto irá terminar em Itumbiara/GO, previsto para 2014, porém, há divergências entre empresários goianos e o O que todos esses projetos têm em comum? Ambos terão trechos parecidíssimos, ligando o litoral ao interior, e apesar de nem todos utilizarem o mesmo porto, tecnicamente a maior parte do trajeto deve ocorrer com dutos bem próximos um do outro. Alberto Guimarães (apud SAMORA, 2008), presidente da Projetos de Transporte de Álcool (PMCC), sociedade da Petrobras, Mitsui e Camargo Corrêa afirmou que: Os empresários agora falam em conjugar projetos. Existem facilidades e dificuldades em cada um dos projetos. Ninguém vai ficar rasgando dinheiro. Naturalmente, vejo as empresas concorrentes em uma conjugação, não em fusões. Uma eventual conjugação de esforços seria um atrativo para o financiamento dos projetos, num ambiente de crédito mais escasso (GUIMARÃES apud SAMORA, 2008, p. 13) Já o presidente da Uniduto, Sérgio Van Klareven, também admitiu a possibilidade de uma conjugação de operações e por fim Rogério Manso, diretor da Brenco foi menos enfático em falar sobre o assunto, mas admitiu uma eventual conjugação de operações (SAMORA, 2008). O certo é que uma das causas do atraso na conclusão das obras são as licenças ambientais que demoram a ser analisadas e concedidas, a idéia é aproveitar os traçados parecidos, minimizando custos e eliminando a burocracia (SAMORA, 2008). Um terminal comum entre os projetos é a Replan – Refinaria de Petróleo da Petrobras, localizada em Paulínia/SP, onde já existe em operação uma estrutura de descarga ferroviária que transporta petróleo e derivados tendo como destino o interior de São Paulo, norte do Paraná, Mato Grosso, Goiás e Brasília. Outro ponto de interseção será a Hidrovia Tietê-Paraná, também prevista nos planos da Uniduto e PMCC (SAMORA, 2008). 2.4.6 Legislação brasileira Uma legislação brasileira específica que dispõe sobre o uso ou exploração de alcooldutos não existe em termos, isso porque a Lei 9.478/97 (Lei do Petróleo) que normatiza sobre a política energética nacional e institui dois órgãos que regulam o setor, o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) e a Agência Nacional do Petróleo (ANP), não é específico no caso de transporte de etanol por dutos. Outra Lei foi criada em 2005 (11.097) e alterou a Lei de 1997 fornecendo mais atribuições a ANP, inclusive fiscalizar a indústria de etanol, porém, novamente limitada quando o assunto é transporte por dutos, sempre citando “petróleo e seus derivados ou gás natural”, sem mencionar o álcool combustível, logo então surgiram vários atos normativos expedidos pela ANP, porém, ainda falhos (ANP, 2009). Devido a essa indefinição até o momento, as empresas que tem a intenção de construírem alcooldutos, seguem solicitando de qualquer forma autorizações para construírem junto à ANP, órgãos ambientais e autoridades de municípios que estão no trajeto. 2.4.7 O interesse da Petrobras pelo etanol A Petróleo Brasileiro S/A (Petrobras) é uma empresa de capital aberto e praticamente uma empresa estatal. Fundada em 1953 e está sediada na cidade do Rio de Janeiro, opera em mais de 27 países no segmento de energia, manipulando de diversas formas o petróleo no Brasil e exterior, inclusive sendo pioneira mundial em tecnologias de exploração. Por isso tornou-se uma das maiores companhias do planeta (WIKIPÉDIA, 2010b). Recentemente foi descoberta uma cama de pré-sal (termo científico para formas de composição do solo onde foi encontrado o petróleo), no litoral brasileiro com reservas de petróleo considerado de média e alta qualidade nos litorais do Espírito Santo a Santa Catarina, sendo que o principal é o reservatório de Tupi com reservas estimadas inicialmente entre 3 e 5 bilhões de barris. A Petrobras dispõe de tecnologia para explorar o campo e se as reservas se confirmarem o Brasil pode tornar-se um dos maiores produtores de petróleo do planeta e ainda auto-suficiente. Porém, vale lembrar que o com a pressão de protocolos internacionais para a diminuição da emissão de gases poluentes, e real tendência em buscar combustíveis alternativos a Petrobrás ingressou no ramo de energias alternativas e o seu principal alvo é o etanol (WIKIPÉDIA, 2010b). Segundo informações da Petrobras (apud PLATONOW, 2008) A empresa pretende ampliar sua atuação no negócio etanol, participando da cadeia produtiva nacional para o desenvolvimento de mercados internacionais, com foco em logística e comercialização. Para isso, a companhia participará (de forma minoritária) de associações em novas plantas de etanol para exportação, como forma de obter a garantia do fornecimento do produto (PLATONOW, 2008). Para tanto, foi criada a empresa Petrobras Biocombustíveis, que iniciou suas atividades esse ano. Devido ao alto potencial de demanda e crescimento de mercado interno impulsionados pelas vendas de carros flex, e a “sede” internacional por combustíveis alternativos, haverá nesses próximos anos grande rentabilidade no setor de etanol e a Petrobrás não quer ficar de fora e já realizando grandes investimentos como o alcoolduto PMCC. A tudo isso fica uma atenção especial, por um lado será ótimo ter a Petrobras inserindo suas tecnologias no mercado de etanol, aprimorando-o, mas, a empresa é forte, tem capital para investimento e pode ser que aos poucos domine o setor de forma monopolista, adquirindo pequenas usinas por exemplo (SAMORA, 2008). 2.4.8 Perspectivas para o mercado interno e externo O mercado de etanol está em constante expansão. Nacionalmente, por conta dos veículos flex que utilizam tanto álcool como gasolina, porém, o combustível verde é mais em conta que o do derivado do petróleo, e por isso seu consumo cresce e paralelamente a produção e comercialização dos veículos flex que já respondem por 69% do total de veículos comercializados. De acordo com perspectivas do presidente da Petrobras, Sérgio Gabrielli (2009), haverá pouco crescimento no mercado internacional de etanol nos próximos 30 anos – em comparação com o mercado nacional - e a grande expansão se dará no Brasil, onde prevê que até 2020 o consumo de gasolina será de apenas 17% do total de combustíveis utilizados no Brasil. O presidente da Petrobras foi claro: O potencial do mercado nacional é muito maior que lá fora, e apesar de ambos crescerem, será “em casa” que se dará seu mais expressivo desenvolvimento, além do país largar na frente na produção de combustíveis limpos (GABRIELLI, 2009, p. 2). O Brasil já exporta etanol para países como EUA, Japão, Jamaica, Nigéria, Coréia do Sul, Suécia, Países baixos, Costa Rica, El Salvador e México, e há outros países que em breve irão aumentar a demanda pelo produto como Índia, Tailândia e Austrália, além de outros. A própria Petrobrás como forma de introduzir o etanol no mercado asiático, em parceria com uma empresa japonesa formaram a Brazil Japan Ethanol, uma joint venture localizada no Japão que já está produzindo combustível com adição de 3% de etanol (AGROENERGIA, 2009). Com todo esse potencial de produção, vê-se um futuro promissor quanto ao aumento internacional da demanda de etanol, mas, o país deve fazer mais investimentos no setor de logística, pois ainda é caro o transporte do produto pelo interior do país devido às baixas condições estruturais. Os portos também devem receber tratamento especial, e junto aos organismos internacionais o país deve cobrar satisfações dos países que impõe subsídios aos seus produtos o que torna o etanol brasileiro menos competitivo. O alcoolduto busca exatamente isso, reduzir custos, transportar em pouco tempo o produto até seu destino final com segurança e eficiência (AGROENERGIA, 2009). 3 Considerações Finais O alcoolduto soa como solução para os atuais problemas de infra-estrutura brasileiros como estradas e ferrovias em mau estado de conservação além de portos carentes de adaptações, que de certa forma atrasam e oneram o comércio nacional de mercadorias. Com a real necessidade mundial por um combustível alternativo, tem-se a possibilidade de aumentar e muito a produção de etanol. O Brasil pode tornar-se de longe, o maior produtor e exportador de etanol do mundo sem prejudicar a sua produção de alimentos já que este foi um tema de discussão internacional que ocorreu porque os EUA produzem o etanol a partir do milho e isso prejudicou o fornecimento deste cereal para a alimentação. A cana-de-açúcar é altamente eficiente, diferente de outras matérias primas da qual se extraem o etanol, como milho, beterraba entre outros. E no Brasil, com a ajuda de seu clima tropical a cana se adapta bem em qualquer região fazendo com que sua área de plantio aumente a cada ano sem, contudo atrapalhar a produção de outros alimentos. Quanto ao uso dos dutos para transportes o Brasil ainda não aproveitou todo esse potencial e está longe de países como EUA e Rússia, que possuem desenvolvida estrutura nesse sentido, as empresas pelo menos já começam a ver no alcoolduto uma forma econômica e eficiente para o transporte do etanol num país de grande extensão como o Brasil. O objetivo desse trabalho foi analisar a eficiência do uso de dutos para transportar etanol. Verificou-se que o Brasil tem vários problemas de infra-estrutura, e por isso uma das soluções seria o investimento no transporte por dutos. Foram mostrados ainda os três grandes projetos em andamento da Uniduto, Brenco e consórcio PMCC que estão investindo bilhões de reais para a concretização das obras. <http://www.blogspetrobras.com.br/fatosedad os/wp-content/uploads/2009/09/Transcri%C3 %A7%C3%B5es.pdf>. Acesso em 12 dez. 2009. NOVAES, A. G. Logística e gerenciamento da cadeia de distribuição: estratégia, operação e avaliação. Rio de Janeiro. Campus. 2001. PASQUOT, C. Propostas de melhoria para a logística interna de uma siderúrgica localizada no Estado de São Paulo. In: 5º SIMPÓSIO DE ENSINO DE GRADUAÇÃO. Campinas, 23 a 25 out. 2007. Anais... Campinas, 2007. Referências Bibliográficas A NOVA aviação. Revista Super Interessante. São Paulo: Abril, ed. 244, out. 2007. AGROENERGIA. Petrobras produz gasolina com etanol no Japão. Disponível em: <http://anba.achanoticias.com.br/noticia_agro energia.kmf?cod=8214491&indice=10>. Acesso em 12 dez. 2009. ALMANAQUE ABRIL. São Paulo: Abril, 2009. ANP. 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