Área Temática Marketing Internacional # ID 1628 UMA ANÁLISE DAS PRÁTICAS DE MARKETING EMPREGADAS AOS NEGÓCIOS COM IMPACTO SOCIAL DE MULTINACIONAIS ESTRANGEIRAS NO BRASIL Thiago Chaves Faculdade Católica de Santa Catarina Thelma Valéria Rocha ESPM-SP Área 1 - Marketing Internacional UMA ANÁLISE DAS PRÁTICAS DE MARKETING EMPREGADAS AOS NEGÓCIOS COM IMPACTO SOCIAL DE MULTINACIONAIS ESTRANGEIRAS NO BRASIL RESUMO Este artigo busca contribuir para o entendimento das práticas de marketing empregadas aos negócios com impacto social das multinacionais estrangeiras (MNE) no Brasil. Apesar do crescimento recente de pesquisas acerca do tema, os trabalhos envolvendo o marketing, os negócios com impacto social (NCIS) e as multinacionais são escassos. Para a consecução dos objetivos propostos, buscou-se estudos que descrevessem um constructo que conceitua-se um modelo de marketing para os NCIS. Identificado os elementos de marketing nesses trabalhos, foi analisado comparativamente os avanços na transformação sociocultural da comunidade local, somados ao alinhamento do corebusiness – competência essencial – da organização. Confrontaram-se os resultados encontrados no estado da arte com o que foi apresentado por seis executivos de duas multinacionais – Coca-Cola e Danone. Como metodologia de pesquisa, adotou-se o método de estudo de caso múltiplo, com uma pesquisa de campo, empírica, de caráter qualitativo exploratório. A fase de coleta de dados contou com múltiplas fontes de evidência, valendo-se principalmente de entrevistas em profundidade. Foram encontrados resultados predominantemente convergentes entre a literatura pesquisada e os casos analisados, não obstante ainda embrionário quanto ao Mix de Marketing. Como contribuição, a análise dos casos apontou certo consenso sobre os aspectos relacionados às práticas de marketing e elementos do modelo de marketing aplicado aos NCIS em multinacionais. Palavras chave: Multinacionais; Subsidiárias; Marketing; Negócios com impacto social. 1 INTRODUÇÃO Este artigo busca analisar as práticas de marketing empregadas aos negócios com impacto social de Multinacional Estrangeira (MNE) no Brasil. Como também, compreender os elementos do marketing característicos do principal projeto da Coca-Cola e Danone no segmento de valor compartilhado no Brasil - o Coletivo Floresta e o Kiteiras, respectivamente. De acordo com a revisão realizada pelo departamento do Centro de Empreendedorismo Social e Administração do Terceiro Setor (CEATS) da (FEA-USP), observou-se que, entre 2005 a 2010, havia apenas 108 trabalhos científicos que adotavam os termos negócios sociais, empresa social ou negócio inclusivo (FISCHER; COMINI, 2012). Outro levantamento de Comini, Barki e Aguiar (2012) também demonstra um restrito número de pesquisas publicadas na área. O que aponta para um gap teórico que recentemente começa a ser preenchido. Embora a anfibologia quanto ao uso do termo negócios sociais, este artigo prefere o conceito de negócios com impacto social (NCIS) promovido por organizações privadas, na qual é defendido por Hartigan (2002); Chu (2005); Hart (2006); Austin, J.; Reficco, E. et al. (2006); Sachs (2009), Prahalad (2010) e (Barki et al, 2013). A seguir, são apresentados os conceitos-chave para o entendimento das definições do marketing aplicado aos NCIS por 1 organizações privadas (PRAHALAD E HAMMOND, 2002), (ZOU E CAVUSGIL, 2002), (KEEGAN, 2005); (KOTLER E KELLER, 2006), (AMA, 2013). Como constructo para análise dos elementos do marketing utilizou-se o framework de Kotler (2010), somados às contribuições de Porter e Kramer (2011) de que as empresas devem se diferenciar das demais, principalmente de acordo com a sua missão – “que está implícita na ideia de criação de valor social/compartilhado para seus “clientes” (PORTER; KRAMER, 2011). Posteriormente, traça-se o percurso metodológico da pesquisa de campo, à qual se filia a abordagem qualitativa, por meio do método de estudo de caso múltiplo. Na sequência, apresentam-se a narrativa de ambos os casos pesquisados e os principais pontos evidenciados. Em seguida, são apresentados as análises e discussão dos resultados. Por fim, tecem-se as conclusões e considerações finais. 2 REFERENCIAL TEÓRICO As multinacionais incorporaram, no século XXI, funções anteriormente reservadas apenas ao Estado ou ao Terceiro Setor (PNUD, 2004). Na era irreversível da globalização, ou melhor – segundo Thomas Friedman (2005) – em um “mundo plano”, o marketing enseja muitos questionamentos quanto a sua verdadeira aplicabilidade em gerar impacto social. Portanto, é importante tecer um diálogo entre os principais autores do marketing a fim de expor sua relação com os NCIS e às práticas de marketing promovidas por multinacionais. 2.1 Negócios com impacto social As organizações atuais proporcionam um avanço que difere da prática antiga e filantrópica de realizar responsabilidade social e passam a encarar as questões sociais como uma modalidade estratégica, cujo foco competitivo implica a utilização de seus melhores recursos, tarimba e insights para promover atitudes de impacto social (PORTER; KRAMER, 2011). Nessa linha, Reficco (2010) confirma que as multinacionais estrangeiras necessitam de um novo olhar social. Não mais regido em baixo do “guarda-chuva” da responsabilidade social empresarial que, embora regado de boas intenções, sempre teve baixa relevância quanto a resultados socioeconômicos obtidos. Para Kotler (2010, p. 125), “a filantropia não estimula a transformação da sociedade, mas sim a transformação na sociedade impulsiona a filantropia, motivo pelo qual as questões sociais com atividades filantrópicas desenvolvidas por empresas sempre tiveram um impacto de curto prazo”. Já para Capron (2002, p. 54) “está intrinsecamente ligado aos NCIS, a expansão da empresa multinacional, por meio do seu desenraizamento territorial e do encontro a uma sociedade empresarial local”. Alcançar esses objetivos não requer que as multinacionais lancem iniciativas de desenvolvimento sócio-global com fins de caridade. Estas, só precisam agir em seus próprios interesses, atuando em mercados, antes inexplorados e hoje propulsores de enormes lucros e de alto impacto social (PRAHALAD; HAMMOND, 2002). Para Prahalad e Hammond (2002), Hart (2006) e Prahalad (2010), as multinacionais possuem um expressivo marketshare (participação de mercado) que as coloca como promotoras globais dessa nova forma de gerenciar projetos sociais. As grandes organizações, ao estimular o comércio e desenvolvimento da base da pirâmide (BDP) econômica, poderão, radicalmente, melhorar a vida de bilhões de pessoas, como também, permitir o surgimento de um mundo mais estável e menos perigoso. 2 Em síntese: o papel das multinacionais para desenvolver negócios com impacto social não se trata de criar uma Organização Não Governamental – ONG, ou fundação filantrópica, mas sim de um negócio que tenha o propósito social em mente (KOTLER, 2010). Ou seja, os NCIS impulsionados por multinacionais devem traduzir, desde o seu nascimento, o foco da criação de valor compartilhado (PORTER; KRAMER, 2011) sobretudo, do impacto social por meio da criação de renda local – adotada por todas as decisões como o objetivo principal do negócio. 2.1 Marketing aplicado aos negócios com impacto social. A AMA (American Marketing Association) emprega uma definição do marketing ao mesmo tempo similar e atualizada: “Marketing é uma atividade, um conjunto de instituições e processos para criar, comunicar, entregar e trocar ofertas que tenham valor para os clientes, parceiros e sociedade em geral.”(AMA, 2013). Para Keegan (2005) o marketing transforma-se em uma administração de parcerias estratégicas, posiciona a empresa ao criar valor entre seus clientes e fornecedores. O que se percebe, quanto à aplicação do marketing às outras áreas do conhecimento, é que este abrange não só bens e serviços, mas também de forma extensa, eventos, experiências, pessoas, lugares, propriedades, organizações, universidades, faculdades, informações e ideias (KOTLER; KELLER, 2006). Não obstante, o Marketing tenha se originado para atender às necessidades do mercado, este não está restrito aos bens de consumo. Para Kotler e Fox (1994) o marketing também envolve programas de ofertas da instituição, a fim de suprir as necessidades e os desejos de mercados-alvo, usando preço, comunicação, distribuição eficazes para informar esses mercados, motivá-los e atendê-los. Há, portanto, três pontos importantes do marketing voltado aos negócios com impacto social: 1) o marketing das “organizações deve trabalhar sistematicamente para construir uma imagem sólida e positiva na mente de seu público-alvo” (KOTLER; KELLER, 2006, p. 07); 2) hoje, universidades, museus, grupos de teatro e organizações sem fins lucrativos usam o marketing para melhorar sua imagem pública e competir com recursos e com público, (KOTLER; KELLER, 2006); 3) a importância de parcerias estratégicas no desenvolvimento de network em aspecto global para expandir o valor do impacto econômico e social (MORGAN; HUNT, 1994; PRAHALAD; HAMMOND, 2002; KEEGAN, 2005). Prasso (2007) define que as empresas devem buscar soluções que beneficiem todos os seus stakeholders1. Todavia, aquelas que almejam a criação de valor compartilhado (de produtos e serviços na BDP) precisam ir além, ao adotarem definitivamente práticas de marketing a fim de tornar seus negócios com impacto social uma realidade impulsionada pela organização. Para Kotler (2010), a forma mais avançada de as empresas enfrentarem os desafios sociais é por meio do marketing – quando podem utilizar suas atividades de marketing em nome de uma causa específica. Na Figura 01 é observado que algumas empresas podem fortalecer seu impacto ao passarem da filantropia e das campanhas de marketing de causas para a transformação sociocultural. Além de garantir um maior número de consumidores migrando para o meio da pirâmide, isso definiria novos modelos de negócios com redução de custos e geração de impacto social, (KOTLER, 2010). 1 Os stakeholders são os públicos de interesse, grupos ou indivíduos que afetam e são significativamente afetados pelas atividades da organização: clientes, colaboradores, acionistas, fornecedores, distribuidores, imprensa, governo, comunidade, entre outros. (HARRISON, 2005 apud ROCHA; GOLDSCHMIDT, 2010). 3 Figura 01/02: Três faces dos problemas sociais no marketing / A infraestrutura comercial na base da pirâmide Fonte: Adaptado de Kotler (2010) / Hart (2006) e Prahalad (2010). Nesse contexto, Prahalad (2010), Kotler (2010) e Hart (2006) alertam que as organizações devem reconhecer a oportunidade desse novo mercado da BDP aliando-o à transformação sociocultural que vai ao encontro do empoderamento das comunidades locais. A Figura 02 representa como, por meio das atividades inerentes ao marketing, poderão as empresas globais combinar baixo custo, boa qualidade, sustentabilidade e rentabilidade. Para Hart (2006), os quatro pontos chave para obter sucesso no mercado da camada inferior da pirâmide são: criar poder de compra, formatar aspirações, ampliar o acesso e construir soluções locais. Já Kotler (2010) acredita que o objetivo social tem que ser maior que o objetivo de negócio, o que refletem em suas decisões, conforme elucidado na Figura 03 Figura 03: Modelo de marketing para um negócio social Fonte: Kotler (2010). Para confirmar a teoria do modelo proposto na Figura 03 e Quadro 01, Kotler (2010) cita três etapas: 1) desenvolver a renda disponível local ao oferecer bens e serviços com preços mais baixos; 2) aumentar a renda disponível com a inserção de novos bens e serviços para as classes C, D e E; 3) acrescenta a renda disponível ao aumentar o nível de atividade econômica da sociedade na BDP. Porter e Kramer (2011) defendem que o marketing se resume no conceito do produto de alto valor compartilhado: ou seja, por meio de políticas e práticas operacionais que aumentem a competitividade de uma empresa e, ao mesmo tempo, melhorem as condições socioeconômicas das comunidades em que a empresa atua. Em outras palavras, o foco na geração de valor compartilhado é identificar o elo entre o progresso social e o econômico, (PORTER E KRAMER, 2011). A partir desses conceitos incita-se a investigação, para responder, no campo, como se desenvolvem neste contexto as práticas de marketing das multinacionais que realizam NCIS. 4 3 METODOLOGIA No percurso metodológico optou-se pela abordagem qualitativa, visto que é a melhor tentativa de compreender as interações únicas de uma situação particular, com um enfoque naturalístico e interpretativo da realidade (GODOY, 1995; LEEDY, 1997; DENZIN; LINCOLN, 2000; PATTON, 2002), conforme a Figura 04. Figura 4: Percurso metodológico Fonte: Elaborado pelo autor (2013). A fim de garantir uma riqueza aos detalhes e a variedade de fontes de informação que podem ser aproveitadas para alcançar o objetivo deste artigo, foram realizados uma pesquisa bibliográfica, documental e de campo (exploratório) com base em Yin (2010) e Godoy (1995). Executou-se um levantamento documental nos seguintes meios: 1) Jornais, Revistas e Sites de Notícias que apresentaram matérias sobre os projetos de impacto social realizados pelas empresas: ÉPOCA NEGÓCIOS (2007); L’EXPRESS AMPLOI (2009); MEIO E MENSAGEM (2010); COMMUNIQUE DE PRESSE, DANONE (2010); MANAGEMENT (2011); MUNDO COOP (2011); ÉPOCA, REVISTA (2011); THE GUARDIAN (2012); L’EXPANSION (2012); FORBES(2013); COCA-COLA, IMPRENSA (2013); VAREJO SUSTENTÁVEL (2013); FOOD AND NEWS, (2014); SUSTENTABILIDADE DANONE (2014); INSEA (2014). 2) Relatórios de sustentabilidade dos anos de 2009, 2010, 2011 e 2012 de ambas organizações. 3) Documentos internos enviados por e-mail pelos departamentos de negócio social – Empresa “A” e de Sustentabilidade – Empresa “B”. 4) Entrevistas concedidas por diretores, CEOs e assistentes em canais de televisão ou internet relacionados ao projeto de impacto social. 5) Apresentação dos projetos de impacto social de ambas empresas em seminários e congressos da área: Conferência com d'Emmanuel FABER, VicePresidente da DANONE, em 9 de fevereiro de 2012 em Lille, França; Congresso da Danone Campus Brazil, em Junho de 2013 em São Roque/SP; Congresso Coca-Cola em São Paulo/SP, 2011; Palestra da diretora de Negócios Sociais da Coca-Cola no Congresso “Shared Value Leadership Summit”, em maio de 2013 em Cambridge, Massachusetts; Palestra da diretora de Negócios Sociais da Coca-Cola: “brand-NGO relationships” na “Sustainable Brands London Conference” em 27-28 de novembro de 2012 em Londres, Inglaterra; Palestra Inovação e Empreendedorismo da Coca-Cola na Conferência Sustainable Brands (SBRio) em 8 de maio de 2013; Discurso de abertura da Diretora de Negócios Sociais da Coca-Cola no Lançamento do Livro “Negócios com Impacto Social no Brasil” (BARKI et al, 2013) em novembro de 2013. 6) Vídeos em mídia digital: “When social impacts business” (DANONE, 2014); “Danone : 40 ans d'une trajectoire unique” (DANONE, 2014); “Danone Ecosystem Fund” (DANONE, 2014); “Coletivo Coca Cola Ceilândia 02 – Atitude” (COCA 5 COLA, 2014); “Administração: A História da Coca Cola” (COCA-COLA, 2014); Projeto Coletivo Coca-Cola (COCA-COLA, 2014); As práticas de marketing empregadas aos negócios com impacto social de MNE representa o contexto, a partir do qual o pesquisador pretende compreender a realidade. Utilizou-se, portanto, o método de estudos de casos múltiplos, uma vez que permite prover insights sobre um determinado assunto ou mesmo refinar uma teoria de forma mais consistente (LAKATOS E MARCONI, 1991; STAKE, 1994; TULL; HAWKINS apud LAZZARINI, 1997). Foi seguido as etapas de estudos de caso elencadas por Yin (2010). Devido o assunto ser ainda novo para academia, definiu-se como melhor técnica de amostragem a da conveniência e do julgamento, já que esta se demonstra útil quando é necessário incluir um pequeno número de unidades na amostra (KINNEAR; TAYLOR, 1979; LEVY E LEMESHOW (1980), E LWANGA E LEMESHOW (1991); OLIVEIRA, 2001; SMALLBONE, D.; EVANS, M.; EKANEM, I.; BUTTERS, S., 2001). As empresas escolhidas foram duas subsidiárias de multinacionais estrangeiras líderes de mercado no seu segmento. Os motivos que definiram a escolha foram: ambas são organizações globais; tiveram um processo consolidado de internacionalização no Brasil, publicam GRI – Global Reporting Initiative – anualmente; publicam relatório de sustentabilidade no Brasil; são recomendadas por especialistas da área como organizações que já possuem negócios com impacto social no País (COMINI, G. M.; BARKI, E.; AGUIAR, L. T., 2012; BARKI et al., 2013). A escolha de empresas globais e amplamente conhecidas contribui para que a presente pesquisa perceba padrões e aspectos complementares sobre o fenômeno evidenciado no referencial teórico (EISENHARDT, 1989). A principal técnica de coleta de dados foi entrevistas em profundidade a partir de roteiros não estruturados baseados nos dados secundários anteriormente coletados (GODOI; MATTOS, 2006; YIN, 2010), o que garantiu um contato mais individual do pesquisador com o entrevistado (ROESCH, 1999; GODOI; MATOS, 2006). TEMA PRÁTICAS DE MARKETING APLICADAS AOS NCIS • • • • ROTEIRO Ferramentas de Marketing utilizadas. Estratégias de transformação Sociocultural. Elementos de marketing para NCIS. Adaptação do produto; de preço; da praça; da promoção aplicado aos NCIS. TEORIA Morgan e Hunt (1994), Prahalad e Hammond (2002), Zou e Cavusgil (2002), Keegan (2005), Hart (2006), Kotler e Keller (2006), Prahalad (2010), (PNUD, 2004), Quadro 02: Roteiro Fonte: Elaborado pelo autor (2013). Foram entrevistados 3 executivos em cada empresa de diferentes cargos estratégicos relacionados aos negócios com impacto social da organização. As entrevistas foram realizadas pessoalmente e por Skype com a média aproximada de 1h cada e realizadas entre o mês de novembro de 2013 a março de 2014. Os seis entrevistados possuem vasto conhecimento na área de sustentabilidade, negócios com impacto social, marketing, estratégias de mercado. O tempo de trabalho dos entrevistados na organização varia entre 2 a 16 anos de empresa, no qual todos já passaram por outros departamentos anteriormente. O método mais apropriado foi a de análise de conteúdo e a sequência de etapas elencadas por Bardin (2007). Logo, conforme o corpus da pesquisa, foi possível uma análise temática ou categorial, que consistiu em operações de desmembramento do texto em unidades (categorias), segundo reagrupamentos analógicos. 6 As categorias, dessa forma, são providas pelo estado da arte contemplado, como também foram integralizadas por “novas” categorias localizadas durante a fase das entrevistas. Ainda assim, seguindo Bardin (2007), foi realizado “uma operação de classificação de elementos constitutivos de um conjunto, por diferenciação e, seguidamente, por reagrupamento segundo o gênero, com os critérios previamente definidos”. As categorias portanto foram as seguintes: (1) Práticas de marketing utilizadas; (2) Estratégias no processo de transformação sociocultural; (3) Elementos de Marketing (4) 4Ps do marketing adaptados para as comunidades impactadas. Após as transcrições das entrevistas, o tratamento dos resultados permitiu fazer inferências e interpretações em busca de semelhanças e diferenças nas categorias e suas dimensões, desenvolvido a partir de uma análise cross-cases conforme proposto por Eisenhardt (1989) e Van Hoek (1998). 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO 4.1 Caso (A) Coca-Cola A COCA-COLA Brasil lançou, em junho de 2009, o “Projeto Coletivo” que tem como finalidade principal o desenvolvimento socioeconômico de comunidades de menor oportunidade por meio de ferramentas de geração de renda e de capacitação para contribuir para a melhoria de vida dessa população. O Projeto Coletivo possui dois grandes objetivos: o primeiro, ligado ao aspecto social, em que se busca formar profissionais – ao impulsionar a geração de renda familiar e do estímulo ao empreendedorismo local; o segundo, está combinado ao ganho da empresa que, neste projeto, consegue ter maior contato com um público antes inatingível e melhorar, assim, sua imagem de marca (COCA-COLA, 2013). Dentre o “Projeto Coletivo”, este artigo buscou destacar mais dados secundários referente ao “Coletivo Floresta”, uma vez que lançado em 2013 representa um maior alinhamento entre os diferentes departamentos da companhia, no qual produz uma bebida de açaí com banana a partir da inovação da cadeia produtiva e de forte transformação social (COCA-COLA BRASIL, 2013). O Del Valle Reserva (Açaí + Banana) chegou ao mercado com os benefícios nutricionais do açaí e, ao mesmo tempo, como um projeto inovador para desenvolver a cadeia de valor do açaí produzido por comunidades extrativistas do Amazonas (COCA-COLA BRASIL, 2013). Assim, o Coletivo Floresta estimula o desenvolvimento das comunidades extratoras, da assistência técnica e promove o acesso a uma cadeia de preço justo. O Projeto de valor compartilhado gera lucro para a empresa e impacto social para as populações ribeirinhas no Amazonas (COCA-COLA BRASIL, 2013). O Del Valle Reserva é uma parceria exclusiva da Coca-Cola Brasil com o governo do Estado do Amazonas. Por meio de um termo de cooperação entre a empresa e o estado, foram firmados 10 princípios que vão reger o relacionamento com as comunidades extratoras, com o objetivo de preservar a cultura e o meio ambiente, e contribuir para seu desenvolvimento sustentável (COCA-COLA BRASIL, 2013). O termo foi endossado por 16 instituições empresariais e não-governamentais, entre elas, a agência de implementação da cooperação alemã para o desenvolvimento, a Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit (GIZ) (COCA-COLA BRASIL, 2013). Para o vice-presidente de Comunicação e Sustentabilidade, “a inovação trazida por Del Valle Reserva Açaí com Banana ao modelo de negócio da empresa espelha nossa visão e nossos valores. É um produto que traz benefícios nutricionais e é sustentável do início ao fim 7 de sua cadeia” (COCA-COLA BRASIL, 2013). O projeto está sendo desenvolvido num processo inovador de cocriação com a comunidade, ao respeitar sobretudo a cultura e as tradições locais. Um time local auxilia a articulação de parcerias, na assistência técnica e na integração da cadeia de valor, além de liderar e implementar treinamentos sobre cidadania e workshops nas comunidades (COCACOLA BRASIL, 2013). As primeiras unidades do Coletivo Floresta foram instaladas nos municípios de Manacapuru e Carauari, onde se localizam agroindústrias credenciadas pela Coca-Cola Brasil, dentro dos critérios internacionais de qualidade da empresa. No primeiro ano, a expectativa é impactar diretamente 600 famílias extrativistas e, indiretamente, 1.200, em cerca de 50 comunidades (COCA-COLA BRASIL, 2013). As únicas ferramentas de marketing utilizadas nos negócios com impacto social conforme os entrevistados salientam são: as pesquisas qualitativas e quantitativas aplicadas para medir qual comunidade deve se iniciar o projeto; a escalabilidade do modelos devido ao tamanho institucional da companhia, pesquisas baseadas em vivências locais transferidas pelo instituto e ONGs parceiras. Ficou evidenciado que a ferramenta para acessar o consumidor de baixa renda não envolve o Coletivo. Existe estratégias da companhia para vender bebidas aos consumidores de baixa renda, no entanto, essa estratégia não é executada por meio do Coletivo; como por exemplo, utilização de embalagens de price point menores e as retornáveis. O Coletivo Floresta está voltado à inserção, capacitação e empoderamento de pequenos produtores na cadeia de valor do açaí e não simplesmente fazer desses os novos consumidores dos produtos oferecidos pela Coca-Cola. Modo pelo, qual percebe-se que falta muito por quanto a investigação dos 4Ps, conforme o resumo das respostas no Quadro 03. CATEGORIAS RESUMO DAS RESPOSTAS – COCA-COLA Práticas de marketing utilizadas Estratégias no processo de transformação sociocultural Utilizamos o marketing de divulgação (tevê aberta, internet, pontos de venda) do Coletivo dentro das comunidades para disseminar o projeto. Fazer a diferença para muitas famílias na cadeia de valor do açaí. Ao pensar o coletivo como um produto, a estratégias de marketing adotada é que mediante pesquisa e análise de uma demanda social, já que o Coletivo Floresta é um projeto de valor compartilhado: desenvolve a região, inclui o produto no portfólio; gera lucro e transformação social, além de entregar aos consumidores um produto de alta qualidade. Elementos de Como chegar com uma estratégia correta nesses locais de difícil acesso, como Marketing mobilizar e trazer mais pessoas socialmente impactadas por meio do Coletivo. Buscam-se ainda uma respostas de maior mobilização. 4Ps do marketing Preço: é o mesmo para todos os consumidores. adaptados para as Promoção: está melhorando a imagem da empresa de uma forma geral. Seria o comunidades marketing entregue para a marca e empresa Coca-Cola. impactadas Praça: muitas vezes falta o produto por problemas de distribuição, de logística. Às vezes as comunidades estão em locais muito remotos. Produto: trabalhamos embalagens com price point menor, como retornáveis para tornar os produtos mais acessíveis e melhorar a posição competitiva da empresa nesses locais. Quadro 03: Resumo das respostas dos executivos da Coca-Cola. Fonte: Elaborado pelo autor (2013). Um dos entrevistados, que já passou pelo departamento de marketing e, portanto carrega consigo conhecimentos inerentes à área, confirma esse olhar ainda distante de segmentação dos 4Ps para atingir o consumidor impactado com a plataforma do coletivo. Coloca um dos entrevistados: “A área de marketing lançou o Del Valle Reserva, que é um produto que utiliza fruta extraída da Amazônia por extrativistas. Provavelmente se fosse um business as usual você iria comprar de uma grande fazenda no Pará.” 8 Os entrevistados afirmam que no quesito distribuição por exemplo, tornou-se uma defesa deles nas reuniões da companhia para que o departamento de marketing consiga buscar novas soluções aos problemas de distribuição, como no caso da Subsidiária da África que utiliza muitos micro-distribuidores manuais. Por fim, o know-how do departamento de marketing tem o desafio de buscar a melhor forma de atingir esses canais, como chegar com uma estratégia correta aos locais de difícil acesso, em que a priori o Coletivo já vem realizando um expressivo impacto social. Ficou evidenciado que a Coca-Cola como empresa tem expressado sua missão nesse novo contexto de mundo e por meio de sua marca e o seu tamanho é capaz de influenciar o fortalecimento da práticas de marketing que vão ao encontro de valor compartilhado (ganhaganha) – tanto para a organização quanto para a comunidade envolvida. 4.2 Caso (B) Danone A DANONE Brasil começou suas atividades de geração de impacto social no País com dois projetos pilotos – o Kiteiras, ligado ao empreendedorismo feminino local e o Novo Ciclo, relacionado ao desenvolvimento de catadores e de melhorias ao processo de reciclagem. Todas essas iniciativas são consequência do apoio recebido do Fundo Ecossysteme, que o Fundador do Grupo Danone, Antonie Riboud concebeu a partir do sucesso da joinventure realizada com o Greeman Bank de Muhammad Yunus em Bangladesch em 2007 (DANONE, 2014). Um dos primeiros projetos do Fundo Ecosysteme no Brasil foi batizado de Kiteiras, em abril de 2011 (DANONE BRASIL, 2014). Por meio desse projeto a subsidiária brasileira incentiva o empreendedorismo de mulheres em comunidades pobres no subúrbio de Salvador com o objetivo de melhorar a qualidade de vida de famílias ao gerar oportunidades de emprego, educação e habilidades empreendedoras (ECOSSYSTEM DANONE, 2014). A primeira parte do projeto piloto teve duração de dois anos. O programa é destinado principalmente à mulheres que integram a BDP social da cidade de Salvador (DANONE BRASIL, 2014). Exatamente 62% das mulheres da BDP trabalham no setor informal e a renda mensal das mulheres é 22% menor do que a média para a população brasileira (IBGE, 2014). Para enfrentar este contexto, o objetivo é profissionalizar e transformar essas trabalhadoras informais em microempresárias dando-lhes um novo acesso aos benefícios de inclusão social e proporcionar-lhes treinamentos e um rendimento estável (ECOSSYSTEM DANONE, 2014). Por meio de um catálogo com kits de produtos ou de um carrinho refrigerado, as participantes recebem capacitação necessária para se tornarem empreendedoras (DANONE BRASIL, 2013). Isto reforça o tradicional modelo de negócios de vendas porta em porta (door-to-door) voltado, principalmente, para desenvolver o empreendedorismo em mulheres com baixa renda. Os entrevistados confirmam que a subsidiária Danone busca práticas de marketing alinhas com a missão social da companhia e focados em gerar impacto social com propósito e inovação de valor compartilhado. Ficou sugerido nas entrevistas que o Departamento de Sustentabilidade da Danone tem na área de Marketing um forte apoio a fim de mensurar estratégias tanto para os consumidores impactados nas comunidades, quanto para compreender o perfil de novos segmentos de clientes a serem abordados, conforme resumo exposto no Quadro 04. 9 CATEGORIAS RESUMO DAS RESPOSTAS DANONE Práticas de marketing utilizadas Estratégias no processo de transformação sociocultural Elementos de Marketing 4Ps do marketing adaptados para as comunidades impactadas Informação de cesta de compras; Ferramentas de ticket médio, de cesta de consumo, ferramentas de pesquisa; Brindes. As estratégias de marketing são desenhadas no Escritório da Empresa, e as implementações ocorrem por meio da ONG no local. Do lado inverso, há sempre um supervisor do marketing no projeto para alimentar os aprendizados confirmados na comunidade. Para o Marketing é importante desenvolver a inteligência do processo “door-todoor. De forma inversa também comunicar à todos consumidores finais. Preço: uma das maiores barreiras para conseguir chegar a um desconto dos produtos no caso do Projeto Kiteiras. Promoção: Não há uma embalagem específica para o Kiteiras; está em análise criar produtos que criem uma relação com o projeto, torna-lo como uma experiência. Praça: o Kiteiras não pode ficar restrito ao Nordeste que apesar de ter muito para expandir. Produto: acessibilidade no ticket médio; porção de iogurte no preço mais barato e mais acessível; segunda, é no volume médio, ou seja, como garantir um menor custo por quilo de iogurte? Quadro 04: Resumo das respostas dos executivos da Danone. Fonte: Elaborado pelo autor (2013). Não obstante, não se pode considerar o Projeto Kiteiras como uma plataforma de venda de produtos para a BDP. Há de forma embrionária uma discussão em estudo dentro da organização a fim de desenvolver produtos especiais para venda door-to-door nas comunidades que ainda não consomem o Yogurt e seus derivados. As práticas de marketing adotadas nos projetos de impacto social são vinculadas ao propósito de conhecer melhor o consumidor e poder proporcionar ferramentas que facilitem o desenvolvimento do empreendedorismo local das “Kiteiras” – como são chamadas as mulheres empreendedoras no projeto. Quanto a investigação dos 4Ps do marketing voltado aos negócios com impacto social é confirmado ainda o estágio embrionário desse tema na prática da geração de impacto social e da consequente inserção dos “Ps” especificamente a este novo segmento de consumo, conforme expressa um dos entrevistados: Já fizemos trabalhos junto a distribuidores, montando kits semelhantes aos que as kiteiras vendem; tentando colocar brindes, otimizar melhor kit. Como podemos entrar e fazer desse projeto algo mais interessante aos olhos do consumidor? Uma oportunidade que temos de conhecer não só esses projetos, mas cocriar outros projetos e entender como levar isso para o consumidor final a partir de agora. Por fim, pode-se afirmar que o desenvolvimento de práticas de marketing voltadas para esse novo segmento de mercado – de valor compartilhado (desenvolvimento econômico e impacto social) aproxima a empresa de novos consumidores, novas exigências de mercado e uma consequente popularização da marca. 5 ANÁLISE DOS RESULTADOS A teoria de Kotler (2010) ilustrada no estado da arte, que defende a migração das empresas de estratégias de marketing filantrópicas e das campanhas de marketing de causas para uma expressiva transformação sociocultural é confirmado em ambos os casos. Ou seja, tornam-se evidentes os argumentos de Hart (2006) quanto às práticas do marketing aplicadas aos NCIS, cujo objetivo principal é da criação de valor com impacto social positivo. Há que destacar que nenhum dos dois casos seguem as teorias de Prahalad (2010), no qual o projeto de NCIS apenas serviria simplesmente como plataforma exclusiva de venda de produtos para a BDP, como é o caso das Casas Bahia, citado pelo autor no livro “A riqueza na base da pirâmide”. 10 O departamento de sustentabilidade tem como forte aliado nas suas estratégias a área de marketing, principalmente no projeto Kiteiras, cujas estratégias são expressivamente cocriadas junto ao departamento. Da mesma forma o Coletivo Floresta, no qual o departamento de Negócios Sociais teve apoio crucial da área de marketing para desenvolver o projeto de valor compartilhado do Del Valle Reserva Açaí + Banana. Na categoria “Práticas de marketing” fica evidente a utilização do marketing de divulgação (tevê aberta, internet, pontos de venda) no caso da plataforma Coletivo e do marketing “boca a boca” nos projetos da Danone dentro das comunidades, meio pelo qual identificam-se com a comunidade e criam conexão com o público atendido. A Danone vai além na estratégia de divulgação utilizadas por ambos os casos e consegue uma interação muito maior nas práticas de marketing ao coletar ricas informações quanto a cesta de compras do público impactado com os projetos; expressiva análise da adequação das ferramentas de ticket médio, de cesta de consumo; ferramentas de pesquisa; e ferramentas de brindes. Na categoria da “Estratégias no processo de transformação sociocultural”, ficou constatado que ambas possuem como estratégias de marketing: primeiro, o desenho no escritório pelo departamento de marketing junto ao de sustentabilidade ou negócios sociais; segundo a consequente implementação por meio da ONG com conhecimento local; terceiro, uma expressiva troca de aprendizado entre a comunidade e a empresa. De acordo com o modelo proposto por Kotler (2010) pode-se evidenciar que: primeiro, nenhuma das duas ainda desenvolvem um produto local diferenciado e de menor custo para a BDP; segundo, é considerável o aumento da renda disponível com a inserção de novos bens e serviços para as classes C, D e E – do lado do Coletivo Floresta, por meio da inserção de pequenos produtores na cadeia de valor do negócio – do Kiteiras, por meio da capacitação e do espírito empreendedor descoberto em muitas mulheres no subúrbio de Salvador; terceiro, ambos os casos acrescentam a renda disponível ao aumentar o nível de atividade econômica da sociedade local e visível transformação sociocultural. Na categoria “elementos de marketing”, é feito uma análise com base nas entrevistas em profundidade a respeito do Coletivo Floresta da Coca-Cola e do Kiteiras da Danone o que demonstra as diferenças e semelhanças entre cada projeto, conforme Quadro 05. nº 1 2 Elementos Segmentação Definição do Alvo 3 4 Posicionamento Diferenciação 5 Mix de Marketing • Produto 6 • • • Venda Preço Promoção Praça Modelo de NCIS Base da Pirâmide Comunidade com muitas pessoas Negócio Social Empreendedorismo Social C. FLORESTA KITEIRAS Apoio de Ongs e Governo Apoio de Ongs e Governo Não são acessíveis para a população de baixa renda. Acessível Boca a boca Distribuição na comunidade Força de venda composta de empreendedores sociais “door-to-door” Apenas na inclusão na produção Na venda dos Kits 7 Marca Ícone 8 Serviço Básico 9 Processo De custo baixo Quadro 05: Análise do Modelo de marketing para os NCIS Coletivo Floresta e Kiteiras. Fonte: Elaborado pelo autor com base no estado da arte (2013). 11 Na categoria dos “4Ps do marketing adaptados para as comunidades impactadas” há uma tendência quanto a Praça, em buscar expandir para regiões mais remotas; quanto ao Produto, configurar estratégias de embalagens com price point menor no caso da Coca-Cola, e de estratégias de acessibilidade no ticket médio e volume médio, no caso da Danone. 6 CONCLUSÃO Na pesquisa de campo foi possível verificar, que as MNE estão cada vez mais conscientes do seu papel na construção de modelos de NCIS, conforme explicitado no estado da arte. O Coletivo Floresta é fruto de um avançado modelo de valor compartilhado que tem o suporte do Instituto Coca-Cola e dos departamentos de sustentabilidade, marketing e de Negócios Sociais. Já o Kiteiras é a consolidação do marketing “door-to-door” e de um progresso visível do formado de sustentabilidade aberta da Danone, que conta com o apoio do Fundo Ecosysteme e dos departamentos de Marketing, Compras e Sustentabilidade para juntos pensar e executar projetos de impacto social positivo. Quanto aos objetivos do presente estudo de caso pôde-se observar os seguintes pontos: 1. As práticas de marketing direcionada aos modelos de NCIS seguem o modelo de transformação sociocultural elucidado no estado da arte, na qual a comunidade local é empoderada, seja de forma inclusiva na cadeia de valor produtiva da organização, ou na distribuição e venda dos produtos e serviços. 2. É evidenciado, com maior peso à Danone, as práticas de marketing quanto ao retorno das informações de compras do público impactado com os projetos; da expressiva análise da adequação das ferramentas de ticket médio, de cesta de consumo, de pesquisa e de brindes. 3. Os elementos de marketing aplicado aos NCIS atendidos por ambos os casos foram: BDP como segmentação; comunidade com muitas pessoas como definição do público alvo; projeto de negócio social como posicionamento; características de empreendedorismo social como diferenciação e suportado por alianças estratégicas com governos e Ongs.; força de venda composta de empreendedores sociais com destaque ao projeto Kiteiras; 4. Ambos os casos ainda não conseguiram adequar ou confirmar um formato específico para o mix de marketing do NCIS, o qual fica como sugestão para pesquisas futuras na área. A revisão da literatura e a análise dos casos sugerem que começa a emergir, em um área antes carente de pesquisa, certo consenso sobre as práticas de marketing empregadas aos negócios com impacto social de MNE no Brasil. No entanto, cabe advir, como limitação do estudo, que a pesquisa é de caráter preliminar, o que não permite o estabelecimento de conclusões definitivas a respeito do assunto, uma vez que são poucas as multinacionais que atuam no seguimento de impacto social positivo no País. De outro lado, a pesquisa procurou contribuir com o fomento do saber empírico acerca do modelo dos elementos de Marketing voltados aos NCIS no Brasil, o que serve de ponto de partida para pesquisas futuras, que busquem compreender melhor esse fenômeno e sua importância para o desenvolvimento de um capitalismo mais inclusivo e sustentável. AN ANALYSIS OF MARKETING’S PRACTICES EMPLOYED TO FOREIGN MULTINATIONAL’S SOCIAL BUSINESS IN BRAZIL ABSTRACT This article seeks to contribute to the understanding marketing’s practices employed in foreign multinationals’ social business (SB) in Brazil. Despite the recent growth of research on the subject, the work involving marketing, social business and multinationals are scarce. Due to achieve the proposed objectives, it was sought studies describing a construct that 12 defines a model of marketing for (SB). It was identified marketing’s elements in these studies to compere and analyze advances in sociocultural transformation of the local community and a placement to multinational’s core business. It was confronted the results found in the literature with the texts of six executives from two business - Coca-Cola and Danone. As a research methodology, we adopted the method of multiple case study with a field survey, empirical, exploratory qualitative character. The phase of data collection relied on multiple sources of evidence, reliant mainly on in-depth interviews. Predominantly convergent results between the literature and the cases analyzed were found, but the Marketing Mix is still embryonic. As a contribution, the analysis of the cases pointed out some consensus on the aspects related to marketing’s practices and elements of the marketing model applied to SB. Keywords: Multinational; Subsidiaries; Marketing; Social Business. REFERÊNCIAS AMA. American Marketing Association. 2007. Disponível em: <http://www.marketingpower.com/content4620.php>. Acesso em: 10/07/2012. AUSTIN, J.; REFICCO, E.; et al.; Creating social and economic value. In: SEKN – Social Enterprise Knowledge Network. Effective management of social enterprises: lessons from business and civil society organizations in IberoAmerica. Cambridge, MA: Harvard University, 2006. BARDIN, L. Análise de conteúdo. 4 ed. Lisboa: Edições 70, 2007. BARKI, E.; TORRES, H. DA GAMA; AGUIAR, L.; IZZO, D.: Negócios com impacto social no Brasil. São Paulo: Editora: Peiropolis, 2013. CHU,M. Commercial Returns and Social Value: The Case of Microfinance. 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