iii-005 - XXVII Congresso Interamericano de Engenharia

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“DJULLLYUS” NO CIRCUITO EXPERIMENTAL: TREINO DE ENCADEAMENTO DE
RESPOSTAS
Abraão Roberto Fonseca1
Almir Dalmolin Filho2
Ana Rita Leite Malheiros3
INTRODUÇÃO
Variáveis ontogenéticas e filogenéticas, na abordagem Análise do Comportamento - em
especial o Behaviorismo Radical, proposto por Skinner – são importantes para compreender
a origem do comportamento do indivíduo, descreve Baum (1999). A ontogenia é resultado
da história de vida de um sujeito, uma forma de seleção pelas consequências das ações. Já a
filogenia corresponde a seleção pela reprodução e sobrevivência, na qual características
adaptativas ao ambiente são selecionadas.
Baum (1999) relata que Charles Darwin teve contribuição no conceito de filogenia, uma vez
que seus estudos confirmam que o conceito é um processo componente da seleção natural,
na qual aquele que tem características mais propícias ao ambiente sobrevive. O indivíduo
que tem características mais adaptativas é selecionado sexualmente e, por conseguinte, tem
suas características transmitidas. Fazendo uma relação com a Análise do Comportamento e
os conceitos de ontogenia e filogenia, corrobora-se a visão de de-Farias (2010), que explica
que os comportamentos apresentados pelo sujeito estão relacionados ao ambiente que este se
encontra. Com base nesses conceitos, Skinner (2003) defende que a aprendizagem acontece
relacionada ao modelo operante, assim como retrata o seu experimento com os ratos no qual
conseqüências são estímulos que modelam o comportamento do sujeito. Ainda neste modelo
existem os conceitos de reforço e punição no qual, segundo Baum (1999), o reforço é o
aumento de frequência de um comportamento e a punição a diminuição de frequência, esses
ainda podem ser positivos ou negativos, que, na Análise do Comportamento, não estão
relacionados ao fato de “bom” / “ruim”, relaciona-se ao fato de inserir (positivo) um
estímulo ou de sua retirada (negativo). Baum (1999) ainda relata que o histórico de reforço e
punição estão relacionados à ontologia do sujeito. São eles que modelam os
comportamentos do mesmo ao longo da sua vida.
Para a aprendizagem operante, outros dois conceitos - encadeamento e estímulo
discriminativo - são importantes para o amparo teórico do entendimento desse modelo. Para
Moreira e Medeiros (2007), um estímulo é considerado discriminativo, quando, dentro do
ambiente do sujeito ele passa a controlar o comportamento. Os autores ainda relatam que
uma cadeia de respostas é uma sequência de ações (respostas) que resulta em um reforçador
1
2
Mestre em Teoria e Pesquisa do Comportamento (UFPA/PA). Psicólogo Clínico (20/04656).
Acadêmico do sexto período do Curso de Psicologia das Faculdades Integradas de Cacoal UNESC--RO.
3
Jornalista (DRT 778/MS); acadêmica do sexto período do Curso de Psicologia das Faculdades Integradas de
Cacoal UNESC--RO
XIV Jornada Científica das Faculdades Integradas de Cacoal - UNESC
1
incondicionado. O reforço é importante nessas cadeias de resposta já que, para a realização
de um encadeamento, é necessário um reforço para desenvolver os elos.
Admite-se, numa proposição lógico-experimental, que o comportamento dos organismos
não é fruto de entidades internas para além dos efeitos fisiológicos da organização celular.
Contudo, tal proposição vai de encontro às hipóteses do final do século XIX e início do
século XX, dado que estas enviesavam por uma tradição aristotélico-cartesiana da divisão
do indivíduo em entidades não verificáveis, separando os organismos humanos dos demais
animais devido a peculiaridades inferidas pela observação ou ausência de registros. Uma
ciência experimental, então, seria fundamental para unificar os achados a respeito da
unidade do reino animália em sua capacidade de responder aos eventos do mundo em suas
limitações físico-biológicas – o que inclui as limitações humanas quanto a percepção, por
exemplo, auditiva limitada a uma estreita faixa em hertz (Skinner, 2003). Desta forma, o
presente estudo teve como objetivo aplicar uma técnica de condicionamento do
comportamento que se assemelha à um conjunto de respostas costumeiras de um indivíduo
em seu dia a dia, contudo com um sujeito não-humano. Ou seja, pretendeu-se treinar o
repertório de um sujeito experimental de ultrapassar obstáculos utilizando o procedimento
de encadeamento para frente. Para tal foram utilizadas as bases da Análise do
Comportamento e suas variáveis de mensuração.
METODOLOGIA
Para a realização do experimento, foi utilizado um sujeito experimental (SE) da espécie
Rattusnorvegicus, macho, com seis meses de idade. Nomeado pela dupla responsável pelo
experimento de “Djullyus”. O sujeito, em seu histórico, já tinha participado de um
procedimento de condicionamento operante de Resposta de Pressionar a Barra (R.P.B.).
Cada sessão teve a duração de 50 minutos, cronometrados no celular modelo Iphone 5 –
Apple, em modo avião e filmadas em câmara digital Sony Cybershot DSC-HX1.
O SE foi privado de água por 48h antes de cada sessão do experimento, por isso após cada
atividade realizada de acordo com o experimento, o comportamento foi consequenciado
com groselha ou xarope de framboesa oferecida pelos responsáveis pelo experimento em
uma tampa de garrafa pet de 28mm.
Para definir qual xarope (framboesa ou groselha) utilizado como reforçador, “Djullyus” foi
exposto a um teste de preferência. Roberto-Fonseca (2010), em seu experimento com
Cebusapella, utilizou o procedimento, mas nesse caso foi com alimentos e combinados com
outros, o que mais fosse escolhido seria utilizado como reforçador. Com “Djullyus” os dois
xaropes foram apresentados, cada um dentro de uma tampa de garrafa pet, colocados dentro
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de uma caixa de papelão, em uma sessão de 50 minutos. O líquido mais escolhido foi
utilizado como o reforçador.
Os xaropes de groselha ou framboesa, foram diluídos em 70% de água, o que falta para
100% foi do xarope (30%), dentro de uma seringa com 70 ml de água e 30 ml do xarope a
ser utilizado.
Foi elaborado um circuito dentro de uma caixa de papelão de 36 cm de largura por 60 cm
comprimento e 36 de altura, contendo obstáculos.
As peças do circuito foram elaboradas com papelão (argolas), madeira (baliza), garrafa pet
transparente (túnel). O material é fixado na caixa com fita adesiva transparente. As argolas
confeccionadas em papelão recortado e encaixado.O corpo do SE foi medido para a
construção do aparato e os obstáculos construídos de acordo com o alcance das proporções
de seu corpo. O estímulo foi fornecido tendo como recipiente uma tampa de garrafa pet.
Para que os obstáculos ficassem com uma maior distância um do outro, a caixa foi trocada
no decorrer do experimento. A nova caixa mede 51cmx82cm.
Apresenta-se o estímulo reforçador, escolhido no teste de preferência, por 3s, dentro de um
recipiente (tampa de garrafa), após o sujeito emitir o comportamento alvo em cada etapa;
após esse tempo, o estímulo é retirado e somente fornecido quando o sujeito emitia outro
comportamento- alvo. Critério que compreendeu as etapas do encadeamento de respostas.
RESULTADOS
Pode-se verificar que os comportamentos de não completar o circuito diminuíram no
decorrer das sessões. Conforme descreve Baum (1999), e apontado inicialmente por Skinner
(1999), o reforço modela – no sentido de aumentar a frequência ou diminuir - o
comportamento do indivíduo. No experimento afirma-se que a resposta do sujeito teve um
reforço positivo, que segundo o mesmo autor o reforço se justifica pelo fato de fortalecer a
ação e positivo pelo fato de se acrescentar algo, no caso do procedimento relatado, o xarope
de groselha.
A resposta de percorrer o circuito completo foi modelada no decorrer do procedimento, já
que a diferença para a primeira e última sessão da frequência do comportamento de
percorrer o circuito foi de 400%.
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A sessão 8 foi a que o SE aprendeu a emitir o comportamento de percorrer o circuito
completo por meio do encadeamento de respostas. Houve um aumento de 81% na
frequência do comportamento de percorrer o circuito completo se comparar a sessão 8 com
a sessão 13, o que nos remete a “Lei do Efeito”. E.L. Thorndike realizou um experimento
com gatos, descreve Skinner (2003), comprovando por meio de seu experimento que expor
um sujeito, repetidas vezes a uma situação ele estaria treinado para a resolução do problema.
Os gatos foram colocados em um alçapão e deveriam abrir a porta para escapar, na primeira
vez que o sujeito foi exposto a situação, uma variedade de comportamentos foi emitido.
Após exposto repetidas vezes a mesma situação, o abrir a porta do alçapão acontecia de
forma mais rápida e os outros comportamentos que não colaboravam para o objetivo iam
aparecendo em menor frequência ou então de forma nula. Assim, pode ser comparado o
comportamento de “Djullyus” em relação ao aumento da frequência de resposta de percorrer
o circuito completo. Para essa comparação as sessões que apresentaram a queda de energia
não foram incluídas, uma vez que apresentou variável.
O apontamento de Moreira e Medeiros (2007), quando um estímulo no ambiente do sujeito
passa a controlar o comportamento, também colabora com a explicação do sujeito
experimental começar a repetir com mais frequência no decorrer das sessões a resposta de
percorrer o circuito completo.
É importante destacar as variáveis dentro do laboratório que se faziam presente durante o
experimento. Durante as sessões 5 e 10, houve falta de energia elétrica e, em ambos, a
frequência do comportamento do indivíduo foi a menor se comparada com as demais
sessões, fato descrito no decorrer do relatório. A diferença chegou a 213.3% na quantidade
de reforçadores por comportamento comparando a sessão 10 com a sessão 16 (com maior
quantidade de reforçadores). O fato alinha-se ao que Galvão e Barros (2001) definem como
variável independente (VI), onde são relações dos comportamentos com o ambiente, ou seja,
ela pode ser manipulada e fazer relação entre um evento com o outro.
Outro fato observado na sessão 10 e que também pode ser relacionado a variável
independente, foi que “Djullyus” quebrou uma tampa de garrafa onde é oferecido o xarope
de groselha e mordeu um dos aplicadores do procedimento – esses comportamentos não
haviam sido registrados em outras sessões desde o início do experimento.
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Na sessão 5 ainda não se havia dado início o procedimento de estabilização do
comportamento de percorrer o circuito completo, por este motivo, não foi feita a
comparação da quantidade de reforçadores emitidos entre a sessão 5 e outra sessão, uma vez
que os estímulos antecedentes ao comportamento eram diferentes para a emissão do
reforçador.
A média de reforçador por comportamento também não foi contabilizada nas sessões 1 e 2,
pois nestas sessões foram feitos testes de preferências à estímulos.
A frequência do comportamento “circuito completo” na sessão 10, onde houve queda de
energia foi de 26, enquanto na sessão 11 a frequência foi de 74, houve então um aumento de
184,5%. Quando comparada a sessão 11 com a sessão 12, houve ainda um aumento na
frequência do comportamento de percorrer o circuito completo de 40,4%.A frequência desse
comportamento ainda subiu 46% na sessão 13 em relação a sessão anterior, confirmando
assim que a variável independente influenciou no desempenho do sujeito.
As diferenças de frequência de comportamentos entre as duas sessões anteriores (11 e 12)
para a sessão 13 ultrapassaram o limite de 20% de frequência de comportamento, por esse
motivo, para demonstrar uma estabilização foram comparadas a sessão 13 e 14, que teve a
diferença alcançada. A sessão 14 representou um valor 17% menor que a sessão 13.
CONCLUSÃO
O processo de realização do experimento confirmou a teoria – no sentido científico - de que
é possível estabelecer respostas condicionais em sujeito experimental com o treino de
encadeamento de respostas, uma vez que o SE completou o circuito planejado com
resultados adequados em cada sessão, tendo como matriz teórica a Análise do
Comportamento. Ou seja, pode-se ensinar sequências complexas de comportamento
relacionadas por consequências intermediárias que reúnem os repertórios. Tal qual ocorre
com o comportamentos dos animais-humanos em seu dia a dia quando a) apreende um
caminho até o trabalho/escola, b) executa a limpeza dos pratos sujos em uma cadeia precisa,
c) reúne material para estudo ou d) desenvolve textos para uma determinada disciplina.
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Todos estes repertórios são construídos historicamente a partir de reforçadores
intermediários e uma atividade-fim (resposta-final) que exige respostas anteriores numa
cadeia precisa.
REFERÊNCIAS
BAUM, William M. Compreender o Behaviorismo: ciência, comportamento e cultura. Porto Alegre:
ARTMED.1999.
FARIAS, Ana Karina C. R. de-. Por que “Análise Comportamental Clínica?” Uma introdução ao livro. In:
FARIAS, Ana Karina C. R. de- e colaboradores. Análise Comportamental Clínica: Aspectos Teóricos e
Estudos de Casos. Porto Alegre: Artemed, 2010. Cap. 1. P. 19-29.
GALVÃO, O. F.; BARROS, R. S. Curso de Introdução à Análise Experimental do Comportamento. São
Paulo: Copymarket. 2001.
MOREIRA, Marcio B. ; MEDEIROS, Carlos A. Princípios básicos de análise do comportamento. Porto
Alegre: Artmed, 2007.
ROBERTO-FONSECA, Abraão. Ensino de relações arbitrárias e busca de simetria em Cebbusapella.
2010. 51p. Dissertação (Mestrado). Universidade Federal do Pará, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas,
Programa de Pós Graduação em Teoria de Pesquisa do Comportamento, Belém.
SKINNER, Burrhus Frederic. Ciência e Comportamento Humano. Trad. João Carlos Todorov, Rodolfo
Azzi, 11 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
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