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INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO JURUENA – AJES
ESPECIALIZAÇÃO DE PSICOPEDAGOGIA COM ÊNFASE EM EDUCAÇÃO
INFANTIL
O USO DA AMARELINHA COMO FERRAMENTA PEDAGÓGICA PARA
CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO INTERDISCIPLINAR
Cássia Leal Rocha Hein
Orientador: Prof.. Ilso Fernandes do Carmo
ALTA FLORESTA/2014
INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO JURUENA – AJES
ESPECIALIZAÇÃO DE PSICOPEDAGOGIA COM ÊNFASE EM EDUCAÇÃO
INFANTIL
O USO DA AMARELINHA COMO FERRAMENTA PEDAGÓGICA PARA
CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO INTERDISCIPLINAR
Cássia Leal Rocha Hein
Orientador: Prof.. Ilso Fernandes do Carmo
“Trabalho apresentado como exigência
parcial para a obtenção do titulo de
especialização em Psicopedagogia
com Ênfase em Educação Infantil.”
ALTA FLORESTA/2010
“Estou convicto de que a finalidade da nossa educação reside não somente em
educar um homem de espírito criador, um homem - cidadão capacitado para
participar com máxima eficiência na edificação do estado. Nós devemos educar,
também uma pessoa que seja obrigatoriamente feliz”.
Anton Makarenko
RESUMO
A educação infantil é uma fase da vida da criança que apresenta
características bastante peculiares, sendo necessário o uso de metodologias que
contemplem esta peculiaridade. Pensou-se na brincadeira da amarelinha como uma
metodologia que se encaixa nas concepções construtivistas que propõe construir
conhecimento a partir do conhecimento prévio do aluno e sua realidade. Está
contido neste plano o relatório da aula ministrada com a brincadeira amarelinha
tendo como eixo norteador a matemática contemplando a noção de quantidade e
suas formas de representação pelas crianças e a exploração espacial: formas,
posições e deslocamentos ou trajetos. Também neste trabalho constam sugestões
para reaplicação deste mesmo plano de aula de maneira interdisciplinar abordando
as seguintes áreas do conhecimento: Matemática, Linguagem, Ciências, História e
Geografia. Neste sentido, os objetivos da atividade da amarelinha são: levar a
criança a aprender brincando; trabalhar a brincadeira da amarelinha dentro de uma
proposta de ensino interdisciplinar; propiciar à criança momento de interação e
criatividade; resgatar nossa história através da brincadeira folclórica amarelinha;
tornar o espaço da Educação Infantil mais alegre e o mais próximo possível do que é
proposto para essa faixa etária; desenvolver a afetividade e as habilidades
cognitivas e motoras e utilizar interdisciplinarmente as áreas do conhecimento. . O
plano de aula foi desenvolvido com 20 alunos de cinco anos, estudantes da Escola
Municipal Prof. ª Sonia Maria Faleiro, situada no Bairro Boa Esperança, na cidade de
Alta Floresta, Mato Grosso. A aula foi ministrada de forma interativa, levantando o
máximo de informações junto às crianças. Esta metodologia e estes objetivos foram
pensados buscando contemplar o currículo da Educação Infantil sabendo que é o
educador quem precisa adequar os conteúdos de forma lúdica para construção do
conhecimento
Palavras-chave: Amarelinha, brincadeira, interdisciplinaridade, matemática
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO...........................................................................................................05
1. A BRINCADEIRA DA AMARELINHA SOB UM OLHAR PEDAGÓGICO E
INTERDISCIPLINAR..................................................................................................15
CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................24
BIBLIOGRAFIA...........................................................................................................26
INTRODUÇÃO
A presente pesquisa apresenta linhas norteadoras numa perspectiva de
construção social através das múltiplas interações estabelecidas e consideradas
relevantes que o profissional tenha acesso a conhecimento a respeito de educação
infantil, para que propiciem às crianças, a ampliação de conhecimentos da realidade
social e cultural. O plano de aula foi desenvolvido na escola Sonia Maria Faleiro,
situada no bairro Boa Esperança em uma turma de educação infantil que atende
crianças de cinco anos. A referida escola está localizada num bairro periférico da
cidade Alta floresta, sua clientela é composta por alunos de famílias de baixa renda,
cujos pais estão empregados nas mais diversas profissões. As crianças frequentam
um período de aula regular e um período de atividades extras propostas pelo
programa “Mais Educação”.
Dentro dessa realidade, é na escola que a criança encontra maior espaço de
interação, sendo assim se faz necessário que neste espaço sejam desenvolvidas
atividades educativas e ao mesmo tempo, prazerosas, principalmente na educação
infantil, uma vez que esta fase apresenta características diferenciadas como a não
abstração, por esta razão as atividades devem ser concretas, manipuláveis e que
envolvam o corpo. Nesta proposição a brincadeira da amarelinha sob um
direcionamento pedagógico oferece os elementos necessários: ludicidade, interação
e aprendizado. Pois além de ser uma atividade divertida, possibilita o contato entre
pares e o desenvolvimento cognitivo.
Através da brincadeira a criança desenvolve a inteligência, aprende a
representar sua realidade e a conviver com outro. O lúdico “não está nas coisas, nos
brinquedos ou nas técnicas, mas nas crianças, ou melhor, dizendo, no homem que
as imagina, organiza e constrói.” (OLIVEIRA, 2008, p.10).
O
“lúdico”
é
um
instrumento
indispensável
na
aprendizagem,
no
desenvolvimento e na vida das crianças, o professor que tem consciência disso,
deve fazer uso deste instrumento para promover um aprendizado adequado e
prazeroso; os professores devem ter conhecimento dos conceitos envolvendo o
lúdico, o brincar e a brincadeira, bem como outras questões sobre a relação do
brincar com a aprendizagem e o desenvolvimento da criança.
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De acordo com RONCA (1989, p. 27):
O movimento lúdico, simultaneamente, torna-se fonte prazerosa de
conhecimento, pois nele a criança constrói classificações, elabora
sequências lógicas, desenvolve o psicomotor e a afetividade e amplia os
conceitos das varias áreas da ciência.
Este trabalho busca mostrar a importância do “lúdico” e como ele, os jogos,
os brinquedos e as brincadeiras podem ser importante para o desenvolvimento e
para a aprendizagem das crianças, isso porque a ludicidade é assunto que tem
despertado interesses e discussões no interior das escolas, especialmente na
educação infantil, porque o brinquedo é a essência da infância e sua utilização como
ferramenta pedagógica permite um trabalho que viabiliza a produção do
conhecimento, da aprendizagem e do desenvolvimento.
O educador não precisa ensinar a criança a brincar, pois este é um ato que
acontece espontaneamente, mas sim planejar e organizar situações para
que as brincadeiras ocorram de maneira diversificada, propiciando às
crianças a possibilidade de escolher os temas, papéis, objetos e
companheiros com quem brincar. Dessa maneira, poderão elaborar de
forma pessoal e independente suas emoções, sentimentos, conhecimentos
e regras sociais (BRASIL, 1998, p. 29).
Os jogos e brinquedos fazem parte da vida da criança, seja em qualquer
época, cultura, ou classe social, pois ela vive em um mundo de encantamento,
fantasia, de sonhos, de alegria, em que a realidade e o faz-de-conta se
interpenetram, se confundem.
É na brincadeira que a criança expressa sua capacidade e se apropria do
conhecimento a respeito da realidade que a cerca confirmando ou refutando
hipóteses e atribuindo significados. Para (VYGOTSKY, 1998, p. 34).
O brinquedo cria uma zona de desenvolvimento proximal na criança. No
brinquedo, a criança sempre se comporta além do comportamento habitual
de sua idade, além do seu comportamento diário; no brinquedo é como se
ela fosse maior do que é na realidade. Como no foco de uma lente de
aumento, o brinquedo contém todas as tendências do desenvolvimento. Sob
forma condensada, sendo, ele mesmo, uma grande fonte de
desenvolvimento.
As brincadeiras devem ser escolhidas de acordo com a zona de
desenvolvimento
da
criança,
assim
se
terá
melhor
rendimento
e
maior
aprendizagem. As brincadeiras e jogos em geral são praticados coletivamente e
nesta interação ocorre o crescimento.
Na sociedade de inúmeros estímulos em que se vive hoje, os indivíduos
sempre são levados a adquirir novas habilidades, pois é o indivíduo a unidade
básica de mudança. A adequada utilização de brincadeiras e jogos no processo
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pedagógico faz despertar o gosto pela vida e leva as crianças a enfrentarem os
desafios que lhe surgirem. Esta pesquisa irá mostrar o quanto o “lúdico” pode ser um
instrumento indispensável na aprendizagem, no desenvolvimento e na vida das
crianças, tornar evidente que os professores devem e precisam tomar consciência
disso.
Pensando assim, propôs-se uma atividade que tem como objetivos: trazer um
resgate histórico da brincadeira folclórica tradicional; desenvolver as áreas do
conhecimento de maneira interdisciplinar e lúdica, levar a criança a aprender
brincando; propiciar momento de interação e criatividade.
No ato de brincar está presente a possibilidade de interação, socialização,
criatividade, lazer, alegria, imaginação e aprendizagem fazendo do ambiente escolar
um lugar agradável, dinâmico e propício às crianças da Educação Infantil.
A criança que brinca pode adentrar o mundo do trabalho pela via da
representação e da experimentação, o espaço da instituição deve ser um
espaço de vida e interação e as matérias fornecidas para as crianças
podem ser uma das variáveis fundamentais que as auxiliam a construir e
apropriar-se do conhecimento universal. (WAJSKOP, 2001, p.27).
A brincadeira é um recurso pedagógico que auxilia no desenvolvimento da
linguagem, do pensamento lógico-matemático, do físico e cognitivo, da exploração
do ambiente natural e artificial, habilidades artísticas, musicalidade e assimilação da
cultura em que a criança está inserida.
KISHIMOTO (1999, p.38), ressalta:
Que os jogos foram transmitidos de geração por meio de sua prática,
permanecendo na memória infantil. A que a tradicional idade e a
universalidade dos jogos são observadas pelo fato de que os povos
distintos e antigos, como os da Grécia e Oriente brincaram de Amarelinha,
empinar papagaio e jogar pedrinhas. O jogo tradicional infantil é um tipo
livre, espontâneo, no qual a criança brinca pelo prazer de fazê-lo.
Ainda sobre o brincar, este ajuda no desenvolvimento da confiança, da autoestima e empatia em relação aos outros. Através da brincadeira as crianças
adquirem e transmitem conhecimentos. Como cita FANTIN (2000, p.53)
Brincando (e não só) a criança se relaciona, experimenta, investiga e amplia
seus conhecimentos sobre si mesma e sobre o mundo que está ao seu
redor. Através da brincadeira podemos saber como as crianças vêem o
mundo e como gostariam que fosse, expressando a forma como pensam,
organizam e entendem esse mundo. Isso acontece porque, quando brinca,
a criança cria uma situação imaginária que surge a partir do conhecimento
que possui do mundo em que os adultos agem e no qual precisa aprender a
viver”.
Brincar é aprender, é atribuir significados aos elementos da realidade.
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A educação pela via da ludicidade propõe-se a última nova postura
existencional, cujo paradigma é um novo sistema de aprender brincando,
inspirado numa concepção de educação para além da instrução. (Santa
Marli, apud FIDELIS, 2005, p32)
Observando estes saberes escolheu-se a brincadeira da amarelinha como
ferramenta pedagógica para desenvolver os conhecimentos matemáticos que estão
implícitos e podem ser explorados. E conhecimentos como a exploração espacial:
formas, posições e deslocamentos ou trajetos, a noção de quantidade e suas formas
de representação pelas crianças.
Uma das funções da escola é preparar e adaptar seus alunos à sociedade
em que estão inseridos, assim sendo justifica-se o plano de aula da brincadeira da
amarelinha por ser uma brincadeira folclórica que faz parte da cultura deste país
desde o descobrimento, sendo popular até os dias atuais e é acessível ás crianças
de todas as classes sociais por não ter nenhum custo financeiro que se brinca na
rua, em casa, na escola e em qualquer outro local, o diferencial de utilizá-la como
ferramenta pedagógica na escola é por receber um determinado direcionamento
pelo professor e feita as interferências necessárias para explorar as várias áreas do
conhecimento de forma interdisciplinar.
A Educação Infantil é o período em que a criança constrói noções e
conceitos que servirão de base para ingressar no Ensino Fundamental, por isso o
educador que trabalha nesta faixa etária precisa estar atento às necessidades da
criança e incluir em seu planejamento como ferramentas pedagógicas, elementos
que façam parte do universo infantil, pois é o adulto que deve entrar no mundo da
criança, falando a linguagem dela e utilizando de recursos e métodos acessíveis ao
entendimento dela.
Pensou-se
na
amarelinha
como
ferramenta
para
construção
do
conhecimento interdisciplinar (matemática, linguagem, história e geografia, ciências,
arte) por ser uma das brincadeiras de rua tradicional do Brasil. As brincadeiras
presentes em nossa cultura têm sua origem nos povos que fizeram parte da
formação do povo brasileiro e de sua identidade. ALVES (2003, p. 5), discorre sobre
a influência portuguesa.
Os jogos tradicionais recebem forte influência do folclore, [...] os contos,
lendas e histórias que alimentavam o imaginário português se fizeram
presentes em brincadeiras e brinquedos brasileiros. Personagens como
a mula-sem-cabeça, a cuca e o bicho-papão, trazidos pelos portugueses,
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foram incorporados em brincadeiras que vão desde a bola de gude até
o pique ou pega-pega.
Riscar o chão para sair pulando é uma brincadeira que vem dos tempos do
Império Romano.
A amarelinha original tinha mais de cem metros e era usada como exercício
de treinamento militar. Os soldados corriam sobre a amarelinha para melhorar as
habilidades com os pés.
As crianças romanas, então, fizeram imitações reduzidas do campo utilizado
pelos soldados. E acrescentaram numeração nos quadrados que deveriam ser
pulados.
Percorrer uma trajetória de quadrados riscados no chão de pulo em pulo já
teve outros nomes como “pular macaca” quando chegou ao Brasil com os
portugueses, há mais de 500 anos. Hoje, em tempos de jogos eletrônicos, internet e
televisão, surpreendentemente a brincadeira simples sobrevive firme e forte nos
hábitos de milhões de crianças e em cada região do país, e tem variações tanto na
forma do diagrama quanto no nome: Academia (RN e PB), avião (AL e RJ), boneca
(PI), cademia (PE), canção (MA), macacão (SE), macaco (BA), pula-pula (PB),
amarelinha (SP E RJ), maré (RJ e RS), quadradinhos (PB), queimei (SC), sapata
(RS), casco (RJ), amarelas (RJ e MG), casa de boneca (CE), céu e inferno (PB e
PR), macaca (AC, PA, AP, CE, RS e PI).
A amarelinha é uma brincadeira que possibilita trabalhar de maneira
interdisciplinar as várias áreas do conhecimento, pois as práticas interdisciplinares
tende buscar um conhecimento unitário, onde a integração de todas as disciplinas e
a ligação delas com a realidade do aluno tornam o conhecimento real e atrativo.
A interdisciplinaridade é uma ligação entre as áreas do conhecimento, que
possibilita trabalhar um conteúdo de forma integral abordando todos seus aspectos,
proporcionando ao aluno construir conhecimento de forma ampla e não
fragmentada.
A interdisciplinaridade não dilui as disciplinas, ao contrário, mantém sua
individualidade. Mas integra as disciplinas a partir da compreensão das
múltiplas causas ou fatores que intervêm sobre a realidade e trabalha todas
as linguagens necessárias para a constituição de conhecimentos,
comunicação e negociação de significados e registro sistemático dos
resultados. (BRASIL, 2002, p. 88).
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A brincadeira amarelinha é conhecida das crianças e propicia a construção
do conhecimento através da interdisciplinaridade.
A interdisciplinaridade supõe um eixo integrador, que pode ser o objeto de
conhecimento, um projeto de investigação, um plano de intervenção. Nesse
sentido, ela deve partir da necessidade sentida pelas escolas, professores e
alunos de explicar, compreender, intervir, mudar, prever, algo que desafia
uma disciplina isolada e atrai a atenção de mais de um olhar, talvez vários
(BRASIL, 2002, p. 89).
Desenvolver atividades interdisciplinares é uma forma para melhor
compreensão das disciplinas, englobando temas e conteúdos, permitindo maiores
abordagens nas quais as aprendizagens acontecem.
É fundamental que as escolas, ao manterem a organização disciplinar,
pensem em organizações curriculares que possibilitem o diálogo entre os
professores das disciplinas da área de Ciências da Natureza, na construção
de propostas pedagógicas que busquem a contextualização interdisciplinar
dos conhecimentos dessa área. O que se precisa é instituir os necessários
espaços interativos de planejamento e acompanhamento coletivo da ação
pedagógica, de acordo com um ensino com característica contextual e
interdisciplinar (BRASIL, 2006, p. 105).
Os movimentos do corpo como equilíbrio e a força para jogar a pedrinha
serão visto sobre o olhar da matemática. Em História e Geografia poderá ser
trabalhado a brincadeira amarelinha enfatizando a questão folclórica (origem,
cultura) e a exploração do diagrama da amarelinha como um espaço artificial, e a
composição dos materiais utilizados na brincadeira como a pedrinha e o giz. E nas
Áreas de Arte e Linguagem é explorada a oralidade através da roda da conversa, o
registro da brincadeira através de desenhos, a coloração destes registros, a
exposição em varais e a apreciação do fazer artístico, alem de trabalhar o texto de
instruções da brincadeira amarelinha.
No que diz respeito às relações espaciais do desenho da amarelinha é
fundamental que o educador explore muito bem este espaço, pois a criança até 07
anos de idade atribui relações espaciais topológicas elementares que é exploração
do espaço que está próximo dela.
As relações topológicas elementares devem ser trabalhadas considerandose primeiro do corpo da criança, partindo do seu ser e a partir dele para o seu
entorno. A criança observa o espaço onde vive desde recém nascida, vai
reconhecendo o espaço e diferenciando de outros e conforme vai se desenvolvendo
vai compreendendo novos espaços. “Nesse processo de conscientização do espaço
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ocupado pelo próprio corpo há dois aspectos essenciais: o esquema corporal e a
lateralidade.” (ALMEIDA, PASSINI, 1999, p. 18).
As relações espaciais topológicas elementares são as relações espaciais
que se estabelecem no espaço próximo, usando referenciais elementares como:
dentro, fora, ao lado, na frente, perto, longe. Tais relações estão presentes nas
tarefas mais simples do dia-a-dia como, por exemplo, no deslocamento de um local
a outro ou mesmo quando se busca a localização de objetos e sua orientação no
espaço. As noções elementares que são: lateralidade que corresponde à noção e
direita e esquerda que uma pessoa deve desenvolver para se orientar (a direita de, à
esquerda de), anterioridade que é à noção de ordem e sucessão de objetos no
espaço, a partir de um determinado ponto de vista (antes de, depois de, entre, a
frente de) e profundidade que é à noção de posição com relação à variação na
vertical (em cima, no alto, em cima de, sobre; abaixo de, o fundo de, debaixo de).
De acordo com as autoras (ALMEIDA e PASSINI, 2001, p. 35):
Às primeiras relações espaciais que a criança estabelece são as chamadas
relações espaciais topológicas elementares” que são construídas na
seguinte: a) vizinhança, correspondente ao nível onde as figuras
(elementos) são percebidos – o que está ao lado; b) Separação,
corresponde a fronteiras e limites; c) Ordem, antes? Depois; d)
Envolvimento, o espaço que está em torno de; e) Continuidade, recorte do
espaço do qual a área em questão corresponde.
A brincadeira da amarelinha necessita que a criança percorra um
determinado
espaço
delimitado
por
formas,
enumeradas
sequencialmente,
possibilitando à criança, a oportunidade de se orientar no espaço (o diagrama, ou
seja, o próprio desenho) e também de representar a escrita dos símbolos numéricos
espontaneamente. Possibilita ainda, trabalhar a consciência corporal e faz com que
a criança aprenda matemática de corpo inteiro, pulando os quadros um a um de
acordo com a seqüência numérica, se equilibrando num pé só, impulsionando o
corpo para atingir a próxima “casa” calculando a distância que querem atingir, as
crianças entram em contato com as formas geométricas e avaliam força e distância
na hora de jogar a pedrinha tentando acertar a “casa” numérica desejada. “O
espaço é apreendido pela criança através de brincadeiras ou de outras formas de
percorrê-lo, delimitá-lo ou organizá-lo segundo seu interesse.” (ALMEIDA e
PASSINI, 2001 p. 35).
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Esta atividade consiste em mostrar um caminho a se trabalhar de forma
interdisciplinar fazendo uso da brincadeira da amarelinha, com a expectativa de ser
uma aula atrativa para a criança e que com esta aula a criança construa noções
essenciais para seu desenvolvimento.
Sabendo que a Educação Infantil apresenta um perfil diferenciado de
aprendizagem, que a criança pequena aprende e internaliza o conhecimento através
das brincadeiras, faz-de-conta, cantigas populares, por meio de histórias, contato
com material concreto, jogos entre outros recursos que estimulem a socialização,
interação, e a sensibilidade. Buscou-se problematizar as maneiras de trabalhar na
educação Infantil contemplando seus conceitos, conteúdos e características
peculiares, atender aos anseios das crianças nesta fase especial de aprendizagem e
se pensou na brincadeira amarelinha como ferramenta pedagógica pra se trabalhar
as áreas do conhecimento, de maneira interdisciplinar.
Entendendo que a criança está sempre disposta a dizer sim para o brincar, a
brincadeira da amarelinha pode ser considerada um elo entre o brincar da criança e
o ensinar do professor. Neste sentido os objetivos da atividade da amarelinha é levar
a criança a aprender brincando; trabalhar a brincadeira da amarelinha dentro de uma
proposta de ensino interdisciplinar; propiciar à criança momento de interação e
criatividade; resgatar nossa historia através da brincadeira folclórica amarelinha;
tornar o espaço da Educação Infantil mais alegre e o mais próximo possível do que é
proposto para essa faixa etária; desenvolver a afetividade e as habilidades
cognitivas e motoras e utilizar interdisciplinarmente as áreas do conhecimento
(matemática, ciências, história, geografia, arte e linguagem) para pensar atividades
enriquecedoras
para
Educação
Infantil
contemplando
assim
a
concepção
construtivista de Educação.
O professor ao atuar na Educação Infantil deve pensar atividades que vão
de encontro ao que a criança gosta, pois o caminho a se percorrer com as crianças
deve ser dentro da sua capacidade de compreensão, conforme afirma Paulo Freire
(2001, p.50):
É preciso que o educador saiba que o seu “aqui” e o seu “agora” são quase
sempre o “lá” do educando. Mesmo que o sonho do educador seja não
somente tornar o seu “aqui - agora”, o seu saber, acessível ao educando,
mas ir mais alem de seu “aqui - agora”, com ele ou compreender, feliz, que
o educando ultrapasse o seu “aqui” para que este sonho se realize tem que
partir do aqui do educando e não do seu. No mínimo tem que levar em
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consideração a existência do “aqui” do educando e respeitá-lo. No fundo,
ninguém chega “lá”, partindo de “lá”, mas de um certo “aqui”. Isso significa
em ultima análise, que não é possível ao educador desconhecer,
subestimar ou negar os saberes de experiências feitas “com que os
educandos chegam à escola.
Uma das funções da escola é preparar e adaptar seus alunos à sociedade
em que estão inseridos. Assim sendo procurou-se preparar um plano de aula
utilizando-se de uma brincadeira que faz parte da cultura deste país, desde seu
descobrimento e que continua popular entre as crianças dos dias atuais. A
amarelinha é rica em conteúdos de vários aspectos, pois se trata de uma brincadeira
folclórica que pode ser brincada tanto individual como coletivamente, pode ser
brincada em casa, na rua, na escola e em qualquer outro lugar alem de ser uma
brincadeira acessível a crianças de todas as classes sociais. O que justifica brincar
de amarelinha na escola é o diferencial que ela traz em relação a outros momentos
da brincadeira realizada em casa ou na rua, pois na escola, há um determinado
direcionamento e interferências e são feitas a fim de explorar os conteúdos implícitos
na brincadeira.
O plano de aula foi desenvolvido na Escola Municipal Professora Sonia
Maria Faleiro, situada na Rua Matarazzo nº. 224 no Bairro Boa Esperança (periferia)
na cidade de Alta Floresta Mato Grosso. É uma escola de Ensino Fundamental que
atende do 1º ao 6º ano tendo uma turma de Educação Infantil de 5 anos, turma de
quantidade equilibrada entre meninos (11) e meninas (9) que já tinham um
conhecimento prévio da brincadeira e receberam esta dinâmica com entusiasmo.
Ficou evidenciado um reavivamento da brincadeira nos intervalos, nos horários de
brincadeiras livres, em que as crianças sempre procuram os educadores para pedir
um giz o qual é usado para desenhar o diagrama da brincadeira no piso dos
corredores e varandas da escola.
A metodologia usada para desenvolver a brincadeira foi inicialmente a roda
da conversa onde as crianças demonstraram seus conhecimentos prévios sobre a
Amarelinha por meio de questionamentos feitos pela educadora partindo de um
roteiro previamente elaborado para fomentar o debate. Em seguida foi feito o
desenho do diagrama da amarelinha sob orientações das crianças e depois
organizadas por fila deu-se inicio a brincadeira e no decorrer da brincadeira
conforme a criança errava procurava seu nome num cartaz contendo o nomes de
todos os alunos da turma e anotava o numero da “casa” em que errou
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representando graficamente a quantidade à sua maneira, usando tracinhos, riscos,
bolinhas e até mesmo símbolos numéricos.
A idéia expressa com este plano de aula foi desenvolver noções de
conteúdos implícitos na brincadeira amarelinha explorando o que a criança já
conhece falando a língua dela, de acordo com sua capacidade e peculiaridades da
fase em que ela se encontra, pois o inicio da educação básica se dá na educação
infantil. Então é nessa fase que a escola precisa oferecer oportunidade da criança
expressar-se, socializar-se e interagir no ambiente escolar, para que ela amplie os
conhecimentos que traz de outros meios sociais que participa. Desta forma a criança
vai ampliando os conhecimentos que ela já tem, amadurecendo aquilo que ela tem
noção e assim constroem novos conhecimentos. Para VYGOTSKY (1984, p. 99),
Desenvolvimento e aprendizagem são processos interativos. No entanto
cabem ao processo de aprendizagem realizado em contexto social
especifico, possibilitar o processo de desenvolvimento. “O aprendizado
pressupõe uma natureza social especifica e um processo através do qual as
crianças penetram na vida intelectual daqueles que as cercam.
A concepção construtivista de Educação parte do real, ou seja, do
conhecimento que o aluno traz do meio sociocultural onde mora, e com a interação
dele no ambiente escolar através de interferências e socializações com colegas e
educadores, pretende-se despertar na criança o senso autônomo, critico, criativo,
responsável e capaz de trabalhar em grupo.
1. A BRINCADEIRA DA AMARELINHA SOB UM OLHAR PEDAGÓGICO E
INTERDISCIPLINAR
A matemática por muito tempo foi vista e pensada apenas como numerais,
cálculos e respostas exatas, então as aulas de matemática eram realizadas usando
apenas o quadro, o giz, o caderno, o lápis e a borracha, nada mais. O professor o
único quem detinha o conhecimento e, portanto o único que podia e precisava falar.
Mas como na história tudo é flexível e muda com o passar do tempo, a concepção
de aprendizagem também mudou. Como nos afirma MARQUES (1995. p. 29).
Os processos de aprendizagem inserem-se inevitavelmente em
comunidades comunicativas e públicas em que os homens aprendem uns
dos outros e uns com os outros, da mesma maneira como os
conhecimentos por que se orientam especificam-se à medida que se
inserem em espaços públicos internos a cada diferençado campo de saber.
Hoje podemos ver que a matemática está presente nas atividades diárias de
todo o indivíduo até mesmo dos bebês. Diante disso nós entendemos e temos
observado que a prática do ensino da matemática nas escolas vem mudando e nas
aulas de matemática os materiais e as metodologias estão sendo um tanto
diversificado (jogos, brinquedos e brincadeiras) com intuito da base da matemática
ser construída de forma lúdica e prazerosa.
A matemática está presente nas brincadeiras e jogos infantis praticados
pelas crianças que a escola pode trazer para a sala de aula ou levar a sala até o
pátio, parquinho, quadra de esporte, onde é possível desenvolver os conceitos
matemáticos através de diversas brincadeiras. Como nos afirma MONTEIRO (1998,
p.75)
A escola oficial precisa aprender com os processo informais educacionais
informais, e incluir em seu cotidiano aspectos da educação informal, como
podemos por exemplo: sair do espaço da sala de aula e observar o meio a
sua volta; escutar e discutir diferentes possibilidades de soluções aos
problemas do cotidiano.
Dessa forma, escolher metodologias como esta conduz a escola para a
etnomatemática, que como explica D’AMBRÓSIO (2002, p. 14) Etnomatemática “é a
arte ou técnica (techné = tica) de explicar, de entender, de se desempenhar na
realidade (matema), dentro de um contexto cultural próprio (etno).” Sendo assim a
Etnomatemática procura entender, analisar e valorizar o saber e o fazer matemático
16
produzido em diferentes contextos culturais, que não se referem apenas a grupos
étnicos com enfatiza D’AMBRÓSIO (1993, p.17):
Etnomatemática implica uma conceituação muito ampla de etno e de
matemática. Muito mais do que simplesmente uma associação a etnias,
etno se refere a grupos culturais identificáveis, como por exemplo,
sociedades nacionais-tribais, grupos sindicais e profissionais, crianças de
uma certa faixa etária, [...].
Brincar de amarelinha nas aulas de matemática então proporciona à criança
assimilar conceitos matemáticos sem sair do seu universo. D’ AMBROSIO (1993,
p.6), afirma ainda que a etnomatemática:
Consiste em valorizar a matemática dos diferentes grupos socioculturais e
propõe uma maior valorização dos conceitos matemáticos informais
construídos pelos alunos através de suas experiências, fora do contexto
escolar.
A brincadeira da amarelinha é uma atividade etnomatemática, pois é uma
brincadeira folclórica já vista e brincada por diversas gerações, esta brincadeira que
possibilita trabalhar vários conceitos e conteúdos da matemática. Quando se brinca
de amarelinha de maneira espontânea trabalha-se o número, a seqüência numérica,
a geometria, noções espaciais de localização (perto, longe), força (para jogar a
pedrinha), ordem da fila (números ordinais), quantidade (mais pontos ou menos
pontos), equilíbrio, observação, além de trabalhar a socialização entre os alunos e o
respeito às regras.
O plano de aula foi desenvolvido com 20 alunos de cinco anos estudantes
da Escola Municipal Prof. ª Sonia Maria Faleiro situada no Bairro Boa Esperança na
cidade de Alta Floresta Mato Grosso.
O plano de aula com a brincadeira Amarelinha foi divido nas seguintes
etapas: roda da conversa, desenvolvimento da brincadeira, e registros das
atividades.
Deu-se inicio a aula com acolhida dos alunos e apresentação da brincadeira
a ser trabalhada “AMARELINHA”. As crianças foram organizadas para a roda da
conversa onde a educadora se apresentou a elas e explicou o porquê de estar ali
fazendo o trabalho com elas. Sendo assim iniciou-se o levantamento do
conhecimento prévio com as crianças sobre o assunto abordado, sabendo que a
socialização e interação entre o grupo são de grande valia na aprendizagem, pois é
através das mesmas que se obtêm as representações das culturas e se desenvolve
o respeito às diversidades e diferença. Segundo OLIVEIRA (2008, p38).
17
A interação face a face entre indivíduos particulares desempenha um papel
fundamental na construção do ser humano: é através da relação
interpessoal concreta com outros homens que o indivíduo vai chegar a
interiorizar as formas culturalmente estabelecidas de funcionamento
psicológico.
A socialização e a interação ocorrem dentro do espaço escolar e é de
grande importância para o aprendizado. Segundo o Referencial Curricular Nacional
para a Educação Infantil (BRASIL, 1998, v1, p. 21-22):
as crianças constroem o conhecimento a partir das interações que
estabelecem com as outras pessoas e com o meio em que vivem. O
conhecimento não se constitui em cópia da realidade, mas sim, fruto de um
intenso trabalho de criação, significação e ressifignificação”.
E com as informações colhidas entre as crianças tais como:
•
O que sabiam sobre a brincadeira,
•
Se já haviam brincado,
•
Como desenhava a amarelinha no chão,
•
Como utilizava a pedrinha para jogar,
•
Se pulava um de cada vez,
•
Quais as regras e etc.
Deu-se inicio a brincadeira. A educadora disse que não sabia fazer a
amarelinha muito bem, e pediu que as crianças o ajudassem a construí-la, as
crianças iam falando:
__ FAZ OS QUADRADOS;
__ AGORA O NÚMERO 1... 2... 3... 4...5...6...7...
Perguntou às crianças:
__ O que mais precisava? E disseram:
__ A PEDRINHA!
E um dos alunos foi escolhido para buscar a pedrinha. Depois de tudo pronto
a educadora pediu que as crianças a ensinassem a pular amarelinha, e as mesmas
iam explicando na oralidade e a educadora seguia as instruções ditadas pelos
alunos. Observou-se que as crianças se entusiasmaram com o fato de estar dando
as instruções da brincadeira, sentiram-se importantes em contribuir com a aula.
Enfim chegou à vez das crianças fazerem suas demonstrações do que sabiam
18
mesmo sobre o brincar de amarelinha através do conhecimento previamente
adquirido por elas em casa e na rua. Pois segundo PIAGET (1959, p. 307):
Este estágio (pré-operatório) apresenta como uma etapa de preparação e
organização das operações concretas de classes, relações e números. Este
período se inicia com o aparecimento das funções simbólicas, que permite o
uso das palavras de maneira simbólica, e termina quando a criança é capaz
de organizar seu pensamento mediante operações concretas.
Observou-se que na interação e socialização de conhecimentos entre as
crianças uma ajudava a outra a desenvolver a brincadeira, na organização da fila na
ordem correta, e no cumprir das regras da mesma. No desenrolar da brincadeira
pode-se observar o uso de vários conhecimentos que as crianças usam
implicitamente na área da matemática como: números ordinais, cardinais, formas
geométricas, lateralidade, observação, raciocínio lógico etc. Confirmando assim o
que fala CASTELNUOVO (1973, p. 24):
O concreto deve exercitar as faculdades sintéticas e analíticas da criança,
para permitir ao aluno a construção do conceito a partir do concreto e, no
processo de construção, pode discernir no objeto os elementos que
identificam a operação que é abstrata.
E para finalizar as crianças fizeram o registro do numero da casa que
erraram quando brincavam de amarelinha e colaram em frente os seus nomes
exposto em papel pardo, e desenhou em papel sulfite a brincadeira da amarelinha,
pois nos afirma FREINET (1995, p. 9):
o registro diário das experiências vividas, o livro da vida, e a afetividade a
documentação que é considerada essencial na relação professor/aluno, que
pode tornar o processo de aprendizagem agradável.
As brincadeiras em geral ajudam a criança adquirir a consciência corporal e
a desenvolver a matemática de corpo inteiro, não apenas aquela matemática do
raciocino lógico onde a resposta de todos numa classe será igual como a resposta
do 2+2 que são 4. Outro ponto importante a ser abordado no ensino da matemática
com crianças é que as brincadeiras devem ser apresentadas e brincadas com as
crianças frequentemente, para que elas se apropriem das regras e tenham
progresso no desenvolvimento da brincadeira.
Brincar é falar a linguagem da criança... Que as brincadeiras sejam mais um
recurso utilizado ao transmitir noções de conceitos no estudo da matemática com
crianças que estão passando pelo processo da construção da aprendizagem
matemática.
19
Esta aula foi desenvolvida tendo a matemática como eixo norteador, mas a
brincadeira da amarelinha é uma oportunidade de se trabalhar de maneira
interdisciplinar explorando as áreas do conhecimento que nela se apresentam, a
cada passo da aula.
A área da matemática aparece: na roda da conversa, no momento da
construção do diagrama da brincadeira, na hora da brincadeira e também na ocasião
do registro, ou seja, a matemática permeia a aula em todos os momentos, pois se
explora números (1 a 9), formas geométricas (quadrado, retângulo e círculo),
seqüência numérica, organização e regras da brincadeira (quem vai jogar primeiro, a
quantidade de chances, a seqüência das “casas” a se lançar a pedrinha),
organização ordinal da fila (primeiro, segundo, terceiro... a compor a fila), a
lateralidade (quem está na frente, quem está atrás), as formas de representação do
numero (os símbolos utilizados pelas crianças para representar a quantidade de
casas que pulou) e o deslocamento (movimento e impulso do corpo ao lançar a
pedrinha e pular de “casa” em “casa” da amarelinha).
Escolher uma brincadeira, no caso a amarelinha para ensinar a matemática
é fundamental para que noções de conceitos matemáticos sejam construídos de
forma lúdica e atrativa, pois, o ensino da matemática pela matemática partindo direto
para algoritmos e operações pode se tornar muito abstrato para as crianças e de
difícil compreensão, mas quando se parte de uma brincadeira, se está percorrendo
caminhos que irão ajudar na construção destes conceitos tão complexos para as
crianças e elas irão aprender brincando, pois, a brincadeira desenvolve o
pensamento matemático.
Segundo MENDONÇA (1996: p. 55),
A exagerada ênfase que se dá ao ensino de algoritmo é devido ao conjunto
de três fatores de pressão superpostos:
Fator de pressão estrutural: os princípios que organizam nosso sistema de
numeração principalmente a posição e o agrupamento determinam os
passos do algoritmo, isto é, o sistema de numeração e o algoritmo estão
interligados, sendo um fator de origem interna da própria matemática.
Fator de pressão histórico: a tradição e a “herança” de como fazer
matemática é transmitida culturalmente a outras gerações.
Fator de pressão social: alguns grupos sociais criam expectativas no
sentido da criança ler e fazer contas com rapidez e precisão. “Este é o
padrão adotado pela maioria e esperado por quase todos, mesmo aqueles
que têm o discurso e a reflexão sobre aprendizagem com compreensão.
20
O autor afirma ainda que:
Identificar a matemática com o “fazer contas” é reduzi-la a um aspecto sem
valor formativo, que não exige raciocínio, podendo ser realizada utilizando
instrumentos (computadores e calculadoras). Dizer que a matemática
ensina raciocinar pode ser uma falácia! Cuidado com a matemática que se
ensina, pois ela poderá apenas treinar as crianças para fixar conceitos por
tempo determinado: (até a avaliação)! (MENDONÇA, 1996, p.72).
Portanto o desenvolvimento do pensamento lógico matemático deve
acontecer em meio às atividades das crianças, no caso da amarelinha ao se contar
quantos estão presentes, ao decidir quem será o primeiro da fila, entre outras
oportunidades ocasionadas pela brincadeira.
A Linguagem é também umas das áreas que pode ser explorada na
brincadeira da amarelinha, através da roda da conversa, da construção do diagrama,
do momento da brincadeira e da hora do registro. Por meio da oralidade (a criança
fala o que sabe sobre a brincadeira e questiona quando tem dúvida), gestos (mostra,
aponta, demonstra emoções), conhecimento prévio (socializa os saberes que possui
sobre a brincadeira), a organização de um texto instrutivo (ensina à sua maneira de
brincar, as regras a serem cumpridas, instruem a pessoa que está desenhando o
diagrama da brincadeira), ampliação do vocabulário (aprende novas palavras com
as variedades lingüísticas do grupo), expressão corporal (movimenta o corpo no
decorrer da brincadeira) e a representação gráfica (desenha).
Com a brincadeira da amarelinha a área da Linguagem pode ser trabalhada
tanto verbalmente quanto através de registro, sendo que a duas maneiras são
importantes para o desenvolvimento infantil conforme afirmam POSSARI e NEDER
(2001: p.30): "(...) a linguagem é um processo que permite a interação entre
indivíduos e se realiza, não só pelo meio verbal, mas também pelo meio não verbal."
Outro ponto importante a se ressaltar na área da Linguagem é a expressão
corporal da criança, pois através do movimento ela expressa o que está vivendo e
sentindo. Conforme a citação abaixo:
O homem é um ser em movimento e, ao mover-se, põe em funcionamento
formas de expressão completas e complexas que são, de resto,
compartilhadas, a exemplos da forma de língua. Portanto, ao exprimir-se
com seu corpo, ele o faz de maneira tão clara, que não há mais como
desdizer e voltar atrás. (RECTOR e TRINTA 1999: 21).
No decorrer da brincadeira além das falas que surgem no grupo as crianças
também se expressam como o próprio corpo através de sorrisos, inquietudes,
torcidas, demonstram suas emoções, comemorando quando acerta ou lamentando
21
13
quando erra a pedra na “casa”. Na hora do registro se utilizam de suas marcas
gráficas, fazendo desenhos e registros de como sentiu a brincadeira, de como foi
para ela brincar a amarelinha.
Em Ciências é possível trabalhar conteúdos implícitos na brincadeira da
amarelinha por meio da roda da conversa, da construção do diagrama da
brincadeira, da hora da brincadeira e do registro. A socialização que se apresenta
nestes momentos é que vão ajudar a criança na sua relação com o meio social,
porque durante toda a brincadeira a criança interage com os colegas e com a
brincadeira em si.
No campo das Ciências com a brincadeira da amarelinha é possível
trabalhar a interação social entre os alunos, pois a criança terá oportunidade de
expressar seu jeito de ser, fazendo aquilo que consegue e respeitando as limitações
e conquistas dos colegas. DAVIS (1994, p. 77), nos afirma que:
Os conceitos são construídos tanto a partir da experiência individual da
criança como a partir dos conhecimentos transmitido na interação social, em
especial na escola. Os conceitos adquiridos pela experiência individual são
chamados “espontâneos”, pois se referem a objetos ou situações em que a
criança observa, manipula e vivencia diretamente. Os conceitos alcançados
na e pela atuação da escola denominam-se “científicos” por se referirem a
eventos não diretamente acessíveis à observação ou ação imediata. Assim
conceitos espontâneos e científicos diferem entre si por se pautarem ou se
distanciarem da experiência concreta, fato que implica, necessariamente,
processos da construção também distintos.
E acrescenta a autora:
A instrução escolar assume um papel fundamental ao propiciar a construção
dos conceitos científicos. Faz com que as crianças percebam a articulação
entre diferentes conceitos, incluindo-os em um sistema hierárquico de
abstração. (p.78).
Na brincadeira da amarelinha são construídos tantos os conceitos
espontâneos quantos os científicos, pois se trabalha os conteúdos de maneira
individual e também coletiva, por ser uma brincadeira que a criança brinca em grupo,
porém na sua vez brinca individualmente.
Nas áreas de História e Geografia no momento da roda da conversa, na
construção do diagrama, na hora da brincadeira e também do registro são
trabalhados conteúdos da cultura e do folclore brasileiro, o mapeamento da
brincadeira (o desenho do diagrama) e a exploração do espaço físico da brincadeira
como: limites e posições de deslocamento.
22
Em História e Geografia é possível explorar um campo bem amplo através
da brincadeira da amarelinha como: os vários estados do país que conhece e pratica
a brincadeira e os nomes que recebe em cada estado, a transmissão da brincadeira
de geração em geração que a tornou uma diversão cultural, pois é uma brincadeira
que ocasiona a interação social entre os alunos. Sobre as relações sociais SPODEK
& SARACHO (1998: 325), afirmam:
As atividades em Estudos sociais no interior das instituições educacionais
infantis podem dar uma importante contribuição para que as crianças
descubram seus papeis na sociedade mais ampla. Elas precisam entender
como esta é organizada e aprender os valores, rituais, símbolos e mitos
comuns a sua sociedade.
Na brincadeira da amarelinha, a criança encontra um espaço fértil para
explorar as chamadas relações espaciais topológicas elementares, pois num
momento da brincadeira ela precisa tomar certos cuidados como não pisar na “casa”
onde está a pedrinha, em alguns momentos do trajeto ela deve pular com apenas
um pé e em outros com os dois pés, outro cuidado é não deixar a pedrinha cair fora
da “casa”. Estas são algumas das explorações permitidas pela brincadeira
amarelinha na questão espacial.
De acordo com que dizem SPODEK & SARACHO (1998, p.215):
Embora as relações espaciais topológicas elementares não envolvam
referenciais precisos de localização elas são a base para o trabalho sobre
espaço geográfico e cartográfico. A partir delas é que se desenvolvem
noções de limites políticos administrativo entre municípios, estado e países
e suas fronteiras; área urbana e rural, para citar apenas alguns exemplos.
Quando se sugere para que as crianças brinquem de amarelinha está se
inserindo elas diretamente na História. Assim a brincadeira servirá como um elo
entre a criança e o meio cultural em que vive, pois independente do lugar onde o
individuo reside, ou o grupo a qual pertence todas as pessoas, tem sua cultura.
Segundo MARCONI; PRESOTO (1987, p.41)
Para os antropólogos, a cultura tem um significado amplo: engloba os
modos comuns e aprendidos da vida, transmitidos pelos indivíduos e grupos
em uma sociedade. Todas as sociedades – rurais ou urbanas simples ou
complexas – possuem cultura. Os antropólogos não fazem juízo de valor
sobre esta ou aquela cultura, pois não consideram uma superior à outra.
Elas são apenas diferentes em nível de tecnologia ou integração de seus
elementos.
A amarelinha é uma brincadeira comum que traz consigo uma carga cultural
bastante conhecida para as crianças e adultos de todo Brasil. Então, sem sair do
universo da criança, com esta brincadeira é possível levá-la ao alcance de noções e
23
conhecimentos científicos que serão a base para seu ingresso no ensino
fundamental, tendo a brincadeira amarelinha como ponte de ligação entre as áreas
do conhecimento gerando assim um trabalho interdisciplinar onde são exploradas
junto com a criança várias áreas sem que ela perceba onde termina uma e começa
a outra.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Através do desenvolvimento da atividade da amarelinha buscou-se salientar
a importância de brincar na Educação Infantil fazendo uso dos conteúdos implícitos,
da carga cultural contida e da dinâmica que traz em si a brincadeira, entrando no
universo da criança e ajudando no seu desenvolvimento integral (físico, cognitivo,
motor emocional e psicossocial). Na educação Infantil o educador deve ser um
especialista em interagir com o aluno procurando planejar aulas eficientes e
divertidas.
Ao aplicar a atividade da amarelinha para os alunos a educadora ficou
satisfeita com os resultados obtidos, pois todos os objetivos propostos foram
alcançados, porque através da brincadeira houve um aprendizado de maneira
lúdica, criativa, interativa e socializadora, onde foi possível o resgate cultural da
brincadeira amarelinha, colocando a criança em contato com diversos conteúdos
que contemplaram o desenvolvimento afetivo ao interagir com outras crianças
aguçando suas emoções, o desenvolvimento cognitivo quando em contato com
regras e situações-problemas e com o conhecimento geral da brincadeira e
desenvolvimento motor devido envolver todo seu corpo para brincar, sem tirá-la do
seu universo infantil. Quando se aplicou a atividade da amarelinha teve-se a
matemática como eixo norteador, no entanto foi uma atividade que possibilita a
exploração de outras áreas do conhecimento (linguagem, historia e geografia,
ciência e arte) contribuindo para a construção do conhecimento da criança
contemplando a concepção de educação construtivista baseada no principio de que
o aluno efetivamente aprende a partir de experiências em sua interação com o
ambiente e seus simbolismos e com os outros, em que se produzam ações físicas e
mentais, interagindo e construindo assimilações que se compõem com os saberes
que já possui, alterando-se reciprocamente.
O profissional da Educação Infantil deve ficar atento a cada oportunidade de
aprendizagem e interferência que surge no decorrer da brincadeira para explorar
noções de conceitos importantes para o crescimento cognitivo e motor da criança
que servira de base para o ingresso da criança no ensino fundamental. O educador
precisa estar apto para interferir na brincadeira de maneira interdisciplinar
explorando todas as áreas possíveis do conhecimento.
25
É importante ressaltar também que a brincadeira da amarelinha só será
uma ferramenta pedagógica se o educador souber instigar a jogada de cada criança
e estiver atento em todas as relações da criança com o grupo e com a própria
brincadeira.
Essa metodologia garante à Educação Infantil um perfil apropriado na forma
de se trabalhar com crianças e quem fará toda a diferença no uso de uma
brincadeira como ferramenta pedagógica para a construção do conhecimento
interdisciplinar, seja amarelinha ou qualquer outra é o educador, pois se este não
tiver um olhar voltado para este aspecto a aprendizagem acontecerá de forma
fragmentada e torna-se o brincar pelo brincar como se estivesse brincando na rua ou
na casa de um coleguinha e não no espaço educativo escolar. Portanto se a
Educação se apropriou das cantigas e brincadeira folclóricas e culturais para serem
usadas como ferramentas pedagógicas faz-se necessário que se utilize e explore o
campo fértil que elas trazem.
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