COMPARTIMENTAÇÃO TECTÔNICA DO LINEAMENTO DO RIO MADEIRA NA BACIA DO AMAZONAS: MUNICÍPIOS DE ITACOATIARA, SILVES E ITAPIRANGA (AM) Karla Evenny Brito da Silva1, Clauzionor Lima da Silva2, Norberto Morales3 1 - Graduando do curso de Geologia da Universidade Federal do Amazonas, [email protected]. 2- Departamento de Geociências/ ICE/UFAM, 3 - Departamento de Petrologia e Metalogenia/ UNESP – Rio Claro (SP). INTRODUÇÃO A região de Itacoatiara, Silves e Itapiranga, porção leste do estado do Amazonas, apresenta uma forte estruturação tectônica condicionada pelo Lineamento do rio Madeira, com orientação NE-SW, conforme Igreja & Catique (1997), Silva (2005) e mais recentemente Brito-Silva et al. (2010). Algumas pesquisas têm demonstrado que essa feição tectônica condiciona fortemente a orientação do rio Madeira, caracterizada como um sistema transcorrente destral ativo no Cenozóico (Quadros et al., 1996, Souza Filho et al., 1999 e Saadi et. al. 2000). Na região de estudo, Igreja & Catique (1997) descreveram feições morfoestruturais e as correlacionaram ao controle na paisagem no município de Itacoatiara (AM), a qual foi designada pelos autores como Lineamento de Itacoatiara, mas carecendo de dados estruturais para análise tectônica em campo. Na área de estudo o rio Amazonas faz uma forte curvatura (em cotovelo) para a esquerda seguindo essa direção estrutural. Os dados obtidos em campo demonstram que essa feição tetônica está associada ao quadro neotectônico regional, cujo lineamento representa um importante limite de compartimento. O destaque para estudos neotectônicos nessa porção da Bacia do Amazonas se faz pelo fato de a área constituir alvo de retomada de pesquisa e exploração de petróleo pela Petrobrás, conforme Miranda et. al. (1994). Ibanez et al. (2007a,b), mapearam feições lineares apontadas em produtos de sensoriamento remoto podem indicar falhas geológicas que tenham exercido papel importante no desenvolvimento dos sistemas petrolíferos de uma bacia. Arranjos na rede de drenagem podem levar ao reconhecimento de feições morfológicas sutis indicativas de padrões estruturais propícios à migração e/ou acumulação de hidrocarbonetos. Os estudos morfoestruturais realizados nas cercanias da área investigada têm demonstrado a existência de um controle neotectônico significativo. MÉTODO DE INVESTIGAÇÃO Inicialmente, foi necessária a caracterização geológica (identificação de unidades geológicas e feições estruturais) a partir de imagem de satélite (Landsat ETM+), que culminou com a elaboração de um mapa geológico na escala 1:100.000 da área de estudo. Para a análise morfoestrutural foram utilizados os modelos SRTM, a base cartográfica analógica e imagens de satélite. Os modelos SRTM foram submetidos a ajustes para eliminação de vazios e adequação dos valores altimétricos. A partir desse modelo digital de elevação (MDE) foram obtidos os mapas da rede de drenagem e o mapa de curvas de nível, os quais foram comparados com a base cartográfica existente. A delimitação das bacias de drenagens e a análise da assimetria das mesmas também foram realizadas com intuito de obter a caracterização morfoestrutural da área. A análise geomorfológica envolveu a caracterização de elementos da paisagem indicativos de deformações tectônicas modernas, num contexto da geomorfologia tectônica. Os MDE foram reprocessados para realçar feições morfológicas na paisagem. A atividade em campo foi voltada ao mapeamento geológico-estrutural, visando a identificação de falhas e fraturas e mapeamento das unidades geológicas existentes. Os dados estruturais obtidos forma analisados em softwares do tipo Stereonet, Win Tensor e FP tectonics, para determinação dos tensores tectônicos. RESULTADOS E DISCUSSÃO A análise obtida a partir dos mapas de drenagem e relevo da área de estudo permitiu a caracterização morfoestrutural da área do Lineamento do rio Madeira na porção leste da Bacia do Amazonas, próximo às cidades de Itacoatiara, Silves e Itapiranga. Nessa porção o rio Amazonas tem seu curso orientado segundo o trend NE-SW. Morfologicamente, as margens desse rio é fortemente assimétrica, mostrando a formação de terraço na margem esquerda, com desenvolvimento de formas erosivas motivadas pela ação fluvial em épocas passadas. O estudo das formas de relevo mostrou a formação de uma zona escarpada coincidente com a orientação dessa margem, demonstrando um sistema de desnivelamento de blocos para sudeste. Os tributários do rio Amazonas na margem esquerda (rio Caru, Anebá, Sanabani e Itabani) são drenagens subdendríticas, com arranjos paralelos, e que fluem para sudeste, mas que antes de desembocar no rio principal estão condicionados a Escarpa do Paraná do Rio Urubu que tem orientação similar à direção do Lineamento do rio Madeira. Esses tributários tem orientação NW-SE e parecem estar relacionados ao padrão estrutural neotectônico na Amazônia (Silva, 2005). O mapa de lineamentos de drenagem e de relevo mostra uma coerência com os lineamentos existentes, predominando as orientações N35-40W e N50-55E. O domínio morfoestrutural Silves- Itapiranga está caracterizado pela ocorrência do trend NE-SW bem marcado, segundo a direção dos rios Madeira e Amazonas na porção leste da área. As falhas observadas nesse setor estão fortemente presentes na unidade do Cretáceo e na cobertura coluvionar, predominando um sistema de falhas normais, sobre falhas inversas, falhas transcorrentes destrais e sinistrais. As falhas inversas mapeadas são poucas e afetam somente a unidade do Cretáceo, sendo, portanto, representativas do evento mais antigo na região. As falhas normais possui orientação geral N59W/50NE e mostram basculamentos de blocos tanto para nordeste quanto para sudoeste. Essas falhas cortam toda a sequência sedimentar do Cretáceo, inclusive o horizonte laterítico e mostra correlação com o sistema de drenagem tributário do rio Amazonas. Destaca-se a falha com direção N40-50E com alto ângulo de mergulho (65 graus), basculada para sudeste e com geometria de falha transcorrente, embora não tenha sido possível mapear estrias de atrito. Essa feição possui correspondência com o Lineamento do rio Madeira, na margem esquerda do rio Negro. CONCLUSÕES A região de estudo, denominada de Compartimento Silves- Itapiranga, predomina um sistema de falhas normais com orientação N30-40W e mergulhos ora para nordeste ora para sudoeste, que controla o sistema de drenagem na margem esquerda do rio Amazonas. Essas estruturas funcionam com zonas de horstes e grábens onde o relevo colinoso foi desenvolvido nos sedimentos cretáceos da Bacia do Amazonas. Essa compartimentação do relevo está delimitada pelo lineamento com orientação N40-50E que controla o rio Amazonas e o Paraná do rio Urubu, nesse setor e tem correspondência com o Lineamento do rio Madeira. A análise estrutural sugere que tal estrutura funcione com uma falha trasncorrente destral ou normal-oblíqua onde o rio Amazonas está encaixado. REFERÊNCIAS BRITO-SILVA, K. E. Análise neotectônica do lineamento do rio madeira nas regiões de Itacoatiara, Silves e Itapiranga (Amazonas). In: Congresso Nacional de Geologia, 2010, Pará. Anais do 45°Congresso Brasileiro de Geologia, 2010. CORDANI, U. B., BRITO NEVES, B.B., FUCK, R.A., THOMAZ FILHO, A., CUNHA, F.M.B. Estudo preliminar de integração do pré-Cambriano com os eventos tectônicos das bacias sedimentares brasileiras. Ciências Técnica Petróleo. Petrobrás. Centro de Pesquisas e desenvolvimento Leopoldo A. Miguez de Mello. Seção Exploração de Petróleo, n. 15, 1984, 70p. IBANEZ ,D.M., FILHO, R.A., MIRANDA. F.P. Uso de dados SRTM no auxílio à pesquisa de hidrocarbonetos na Bacia Sedimentar do Amazonas. In. Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto,13, 2007. Florianópolis, Anais ... Florianópolis, INPE, p. 2015-2022. IBANEZ ,D.M., FILHO, R.A., MIRANDA. F.P. Utilização de técnicas de reconstrução topográfica com dados SRTM na análise de anomalias morfoestruturais em diferentes estágios de erosão. In. Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto,13, 2007. Florianópolis, Anais ... Florianópolis, INPE, p. 2023-2030. IGREJA, H.L.S., CATIQUE, J.A. Análise neotectônica dos lineamentos de Itacoatiara centro-leste do estado do Amazonas. In: Simpósio Nacional de Estudos Tectônicos, 6, 1997, Belém. Anais... Belém: SBG/NO, 1997, v. 1, p. 131-33. MIRANDA, F.P., BENTZ, C.M., FONSECA, L.E.N., LIMA, C.C., COSTA, A.R., NUNES, K.C., FELGUEIRAS, C.A., ALMEIDA FILHO, R. Integração de dados se sensoriamento remoto, aeromagnetometria e topografia na definição do arcabouço estrutural da região do rio Uatumã (Bacia do Amazonas). PETROBRÁS/ CENPES, 1994, Superintendência de Exploração e Produção (SUPEP), Divisão de Exploração (DIVEX)/ Setor de Tectônica (SETEC). NASCIMENTO, D.A., MAURO, C.A., GARCIA, M.G.L. Geomorfologia da Folha SA.21-Santarém. In: BRASIL. Departamento Nacional da Produção Mineral. Projeto Radambrasil. Folha SA.22Santarém. Geologia, geomorfologia, pedologia, vegetação e uso potencial da terra. Levantamento de Recursos Naturais. Rio de Janeiro: MME/DNPM, 1976. v. 10, cap. 2, p. 131-98. QUADROS, M.L.E.S., SILVA FILHO, E.P., REIS, M.R., SCANDOLARA, J.E. Considerações preliminares sobre a evolução dos sistemas de drenagens dos rios Guaporé, Mamoré e Madeira, estado de Rondônia. In: Simpósio de Geologia da Amazônia, 5, 1996, Belém. Anais... Belém: SBG/NO, 1996, v. 1, p. 242-5. REZENDE, W.M. BRITO, C.G. Avaliação geológica da Bacia Paleozóica do Amazonas. In: Congresso Brasileiro de Geologia, 27, SBG, Aracaju (SE). Anais... SBG, 1973, 227-45p. RIBEIRO, O. L. Morfodinâmica do Rio Solimões na Região entre Coari e Anamã, Estado do Amazonas. Dissertação de Mestrado – Universidade Federal do Amazonas, Programa de Pós-Graduação em Geociências, Departamento de Geociências, 2009. 102p. SAADI, A. Neotectônica da Plataforma Brasileira: esboço e interpretação preliminar. Geonomos, v. 1, p. 1-15, 1993. SILVA, C.L. Análise da tectônica cenozóica da região de Manaus e adjacências. Tese (doutorado) – Universidade Estadual Paulista, Instituto de Geociências e Ciências Exatas, 2005. 282p. SOUZA FILHO, P.W.M., QUADROS, M.L.E.S., SCANDOLARA, J.E., SILVA FILHO, E.P., REIS, M.R. Compartimentação morfoestrutural e neotectônica do sistema fluvial Guaporé-Mamoré-Alto Madeira, Rondônia, Brasil. Revista Brasileira de Geociências, v. 29, 4:469-76, 1999. STERNBERG, H.O.R. Vales tectônicos na planície amazônica?. Revista Brasileira de Geografia, v. 12, n0. 4, p. 3-26, 1950.