Três ensaios sobre a dívida pública e a determinação da taxa de juros na economia brasileira Tema: Ajuste Fiscal e Dívida Pública Sumário Resumo 6 1. Introdução 7 2. A condução da política monetária e o equilíbrio fiscal 11 2.1. O elo entre as políticas monetária e fiscal 13 2.2. Observações para o período pós-Real 20 2.3. À guisa dos resultados encontrados 25 Apêndice A: Metodologia para estimar o grau de independência do BCB 28 3. Conseqüências da estabilidade de preços para a dívida pública no período pós-Real 30 3.1. Seleção de variáveis e período para a análise 31 3.2. Análise empírica – período I 34 3.3. Análise empírica – período II 43 3.4. Uma breve reflexão sobre os resultados obtidos 51 4. Prazo médio da dívida pública em mercado e taxa de juros 53 4.1. O referencial teórico: os modelos Giavazzi-Pagano e Calvo-Guidotti 55 4.2. Evidências empíricas 60 4.3. Síntese dos resultados 68 5. Conclusões 69 Referências bibliográficas 72 Apêndice B: Anexos de dados 75 Índice de figuras, tabelas e esquemas Figuras 1 - Figura 2.1: Taxa de crescimento do PIB e taxa real de juros 20 2 - Figura 2.2: Dívida pública e superávit primário 22 3 - Figura 2.3: GIBC x NFSPP e GIBC x NFSPJR 24 4 - Figura 2.4: Dívida pública – IBC – indexador (SELIC) 26 5 - Figura 3.1: Evolução e correlograma das séries 34 6 - Figura 3.2: Função impulso-resposta para o VAR 41 7 - Figura 3.3: Evolução e correlograma das séries 44 8 - Figura 3.4: Função impulso-resposta para o VAR 49 9 - Figura 4.1: Evolução e correlograma das séries 62 10 - Figura 4.2: Função de resposta a impulso para o VAR 67 Tabelas 1 – Tabela 2.1: Estudos empíricos sobre a monetização de déficits orçamentários 12 2 – Tabela 2.2: Estimações (MQO) 25 3 – Tabela A.1: Variáveis, pesos e códigos 28 4 – Tabela A.2: Agregação 29 5 – Tabela A.3: Estimativas para o Brasil – 1986-2002 29 6 – Tabela 3.1: Teste de Chow – estabilidade dos parâmetros (1994:8 – 2003:4) 34 7 – Tabela 3.2: Testes de raiz unitária – ADF 36 8 – Tabela 3.3: Critério de SC e HQ para ordem do VAR 37 9 - Tabela 3.4: Teste de precedência temporal de Granger 38 10 – Tabela 3.5: Decomposição da variância após 12 meses 39 11 – Tabela 3.6: Testes de raiz unitária – ADF 45 12 – Tabela 3.7: Critério de SC e HQ para ordem do VAR 45 13 – Tabela 3.8: Teste de precedência temporal de Granger 46 14 – Tabela 3.9: Decomposição da variância após 12 meses 47 15 – Tabela 4.1: Testes de raiz unitária – ADF 63 16 – Tabela 4.2: Critério de SC e HQ para ordem do VAR 64 17 – Tabela 4.3: Teste de precedência temporal de Granger 65 18 – Tabela 4.4: Decomposição da variância 66 19 – Tabela B.1: Anexo de dados 75 20 – Tabela B.2: Anexo de dados 75 Esquemas 1 – Esquema 1.1: Desagradável artimética monetarista e fiscal 19 2 – Esquema 4.1: Modelo Giavazzi e Pagano (1990) 57 3 – Esquema 4.2: Modelo Calvo e Guidotti (1990) 59 Resumo Três ensaios sobre a dívida pública e a determinação da taxa de juros na economia brasileira Tema: Ajuste Fiscal e Dívida Pública Dois pontos fundamentais se colocam para a análise da condução da política econômica brasileira no período recente: (i) o uso da política monetária para assegurar a estabilidade de preços; e (ii) a necessidade de uma política fiscal que garanta a sustentabilidade da dívida pública. Assim, é importante verificar se a tendência observada ao longo do Plano Real de haver uma dissociação entre as políticas monetária e fiscal tem contribuído para a obtenção do equilíbrio macroeconômico. O trabalho avalia os efeitos da condução da política monetária sobre o equilíbrio fiscal e de que forma a administração da dívida pública tem influenciado a determinação da taxa de juros básica da economia brasileira no período pós-Real. Os resultados encontrados sugerem que a coordenação das políticas monetária e fiscal mostra-se recomendável para evitar custos sociais desnecessários. Além disso, constatou-se que é necessário alterar a estrutura de indexação da dívida pública como forma de contribuir para o aumento da credibilidade da política antiinflacionária e ampliar o prazo da dívida. 6 1. Introdução Desde o estudo realizado por Jan Tinbergen no início dos anos 50 a relação entre os instrumentos e as metas para a política econômica tem demandado a atenção de diversos economistas. Um ponto central nessa literatura se refere à interdependência que há entre as políticas econômicas no alcance das metas planejadas.1 A partir da análise de Sargent e Wallace (1981) difundiu-se a idéia de que uma política monetária subserviente à política fiscal (caso de dominância fiscal) pode prejudicar o controle da inflação. Entretanto, os mesmos autores, recuperando o argumento presente em Cagan (1956), salientam que a predominância da política monetária sobre a fiscal (caso de dominância monetária) pode não ser suficiente para contornar o problema. Uma condição a ser satisfeita é que o responsável pela condução da política monetária não fixe a taxa de juros acima da taxa de crescimento do PIB, pois, dessa forma, a economia pode entrar em uma rota explosiva para a razão dívida/PIB no caso de persistência de déficits fiscais. Nordhaus (1994) batizou a estratégia utilizada por diversos países de dividir o controle sobre as políticas monetária e fiscal de “síndrome do jogo monetário-fiscal”. De acordo com esta visão, na maioria dos grandes países as políticas monetária e fiscal são independentes e têm objetivos conflitantes que podem gerar obstáculos para o bom desempenho dos fundamentos econômicos.2 O problema referente à falta de coordenação entre as políticas econômicas despertou o interesse de pesquisadores ligados ao Fundo 1 Para uma análise do desenvolvimento teórico sobre esse tema ver Tinbergen (1952), Mundell (1960), Brainard (1967), e Poole (1970). 2 Como exemplo ilustrativo pode-se citar o possível desequilíbrio do mercado financeiro e de capitais, tendo como conseqüências elevadas taxas de juros reais, depreciação cambial, inflação, desemprego, e o comprometimento do crescimento econômico. 7 Monetário Internacional para avaliar o problema. Laurens e La Piedra (1998) verificaram que a falta de coordenação entre as autoridades monetária e fiscal pode levar a uma baixa performance econômica para os países que adotaram essa conduta. O argumento fundamental é que para o sucesso na consecução dos diversos objetivos macroeconômicos é preciso que ambas as políticas econômicas (fiscal e monetária) apresentem uma trajetória sustentável. A taxa de juros possui papel destacado no estudo da relação entre as políticas monetária e fiscal. É reconhecido que a taxa de juros representa o instrumento mais importante à disposição da autoridade monetária para o combate à inflação. Por outro lado, uma taxa de juros mais elevada pode prejudicar o equilíbrio fiscal devido à incidência da mesma sobre o estoque da dívida pública implicando déficits cada vez mais elevados. Portanto, há limitações para o uso da taxa de juros na tentativa de estabilizar a inflação. Além disso, não é adequada uma taxa de juros baixa resultante de uma passividade monetária, pois há o risco de colocar a economia em uma rota de aumento do endividamento público e aceleração inflacionária. Em suma, para estabilizar a razão dívida/PIB e a taxa de inflação é preciso um esforço para o alcance de uma disciplina fiscal concomitante ao combate à inflação. Os argumentos teóricos reunidos acima estão presentes na condução da política econômica recente da economia brasileira. A reciprocidade entre as políticas fiscal e monetária mostra-se evidente desde a implementação do Plano Real. No primeiro estágio do Plano houve a necessidade de um ajuste fiscal para que pudesse ser implementada a estratégia monetária de substituição da antiga moeda (Cruzeiros Reais) por um superindexador (a 8 URV) para depois introduzir a nova moeda (o Real).3 A partir de então, o principal foco para a condução da política econômica tem sido a utilização de estratégias para a política monetária com o objetivo de evitar o retorno da inflação. Dois pontos fundamentais se colocam para a análise da condução da política econômica brasileira no período recente: (i) o uso da política monetária para assegurar a estabilidade de preços; e (ii) a necessidade de uma política fiscal que garanta a sustentabilidade da dívida pública.4 Assim, é importante verificar se a tendência observada ao longo do Plano Real de haver uma dissociação entre as políticas monetária e fiscal tem contribuído para a obtenção do equilíbrio macroeconômico. O objetivo principal desta monografia é estudar quais os efeitos da condução da política monetária sobre o equilíbrio fiscal e de que forma a administração da dívida pública tem influenciado a determinação da taxa de juros básica da economia brasileira no período pósReal. Os resultados permitirão fazer uma avaliação crítica das estratégias adotadas para a condução da política monetária e do gerenciamento da dívida pública. Além desta introdução o trabalho está estruturado da seguinte forma: no segundo capítulo são apresentados os principais argumentos teóricos para a estudar os efeitos da condução da política monetária sobre o lado fiscal. Outrossim, é feita uma breve análise empírica avaliando a possível influência do aumento da independência operacional do Banco Central do Brasil sobre o equilíbrio fiscal; o terceiro capítulo analisa regularidades empíricas para a 3 Para uma análise dos três estágios da implementação do Plano Real, ver Bacha (1995). O termo ”sustentabilidade” se refere à capacidade do governo garantir a solvência da dívida pública por meio da geração de superávits primários e uso limitado da receita de senhoriagem. Pastore (1995) faz uma análise para a economia brasileira entre 1991 e 1995. 4 9 dinâmica da dívida pública com base em um modelo auto-regressivo vetorial (VAR) a partir de variáveis que estão relacionadas à busca da estabilidade de preços; o quarto capítulo verifica, por meio da aplicação de um modelo VAR, se há alguma influência do prazo médio da dívida pública em mercado e do nível de indexação dos títulos públicos pela SELIC para a determinação da taxa de juros básica da economia brasileira no período 2000-2002; por último, o quinto capítulo apresenta as conclusões da monografia. 10 2. A condução da política monetária e o equilíbrio fiscal A partir da segunda metade dos anos 80 formou-se um consenso entre os teóricos e os responsáveis pela condução da política econômica de que a independência do banco central (IBC) seria um mecanismo adequado para conquistar credibilidade e neutralizar os problemas potenciais referentes ao caso de dominância fiscal. Posen (1998) ressalta três mudanças fundamentais na legislação de bancos centrais que caracterizam o esforço de torná-los independentes: (i) capacidade de o banco central rejeitar a monetização da dívida pública; (ii) garantia de estabilidade para o mandato do presidente do BC; e (iii) prioridade de objetivo para a busca da estabilidade de preços. A primeira observação refere-se ao argumento dominante na literatura de que um dos principais elementos responsáveis pela inflação de longo prazo é o uso da receita de senhoriagem pelo governo. Dessa forma, a adoção de um banco central independente (BCI) eliminaria a passividade monetária, e por conseguinte, obrigaria o governo a ter uma maior disciplina fiscal, pois estaria limitado à sua restrição orçamentária.5 O argumento de que a IBC é capaz de afetar o tamanho do déficit público é sustentado por autores como Tabellini (1986). Além disso, há diversos estudos empíricos que indicam a existência de uma relação negativa entre a IBC e a magnitude do déficit.6 Entretanto, a maioria dos estudos realizados considera apenas o caso de países industrializados. Com o objetivo 5 Para uma análise sobre as mudanças na condução da política monetária na América Latina, ver Ortiz (2002). 6 Ver, Masciandaro e Tabellini (1988), Grilli, Masciandaro e Tabellini (1991), e de Haan e Sturm (1992). 11 de analisar a relação entre a IBC e o déficit orçamentário para países em desenvolvimento, Sikken e de Haan (1998) utilizaram uma amostra de 30 países e vários índices de IBC. O resultado encontrado foi a ausência de evidências que indiquem a relação supracitada. Um outro ponto que merece destaque diz respeito ao fato de que diversos estudos empíricos não apresentam resultados que comprovem uma estreita relação entre a monetização e o déficit (vide tabela 2.1). Tabela 2.1 Estudos empíricos sobre a monetização de déficits orçamentários Estudo Dornbusch e Fischer (1981) Giannaros e Kolluri (1985) Protopapadakis e Siegel (1987) Demopoulus, Katsimbris e Milles (1987) Barnhart e Darrat (1988) Burdekin e Laney (1988) de Haan e Zelhorst (1990) Burdekin e Wohar (1990) Karras (1994) N. de países 7 10 industrializados 10 industrializados 8 industrializados Período 1960-77 1950-81 1952-83 1961-80 Conclusões Há evidência em 3 casos Sem evidência Sem evidência Alguma evidência 1960-84 1960-83 1961-85 1962-85 1949-89 Sem evidência Alguma evidência Evidência limitada Alguma evidência Sem evidência Brown e Yousefi (1996) 7 industrializados 12 industrializados 17 desenvolvimento 8 industrializados 19 industrializados e 13 desenvolvimento 10 desenvolvimento Sikken e de Haan (1998) Posen (1998) 30 desenvolvimento 68 1950-89 Sem relação causal déficit e inflação 1973-94 Evidência limitada Décadas: Sem evidência 50-80 entre Uma outra observação a ser feita para a possível conseqüência da adoção de um BCI para o lado fiscal refere-se ao fato de que a busca da estabilidade de preços pode promover uma elevação na taxa real de juros. No caso de haver choques sobre a economia que provoquem um aumento na taxa de inflação ou que seja necessário remover uma expectativa inflacionária dos agentes econômicos, a elevação da taxa de juros torna-se o principal recurso para o banco central. Portanto, o efeito de uma política monetária contracionista poderia implicar a necessidade da geração de superávits 12 primários para pagar os custos do acréscimo da dívida enquanto a credibilidade está sendo construída (King, 1995).7 Este capítulo tem como objetivo analisar, de forma simplificada, os principais argumentos teóricos para a análise dos efeitos da condução da política monetária sobre o lado fiscal. Ademais, é feita uma análise para o caso brasileiro referente ao período posterior à introdução do Plano Real avaliando a possível influência do aumento da IBC sobre o equilíbrio fiscal. 2.1. O elo entre as políticas monetária e fiscal A principal conexão entre as políticas monetária e fiscal refere-se à restrição orçamentária do governo. Na presença de uma ampliação do déficit público há duas formas básicas de obter financiamento: aumento na quantidade de títulos emitidos pelo governo (que na maioria das vezes tem uma elevação nos juros para facilitar sua aceitação no mercado), ou aumento da base monetária. Sob essa perspectiva, uma maior disciplina fiscal seria capaz de reduzir a taxa de juros incidente sobre o estoque da dívida. Além disso, a redução do déficit contribuiria para a consecução da estabilidade de preços daqueles governos que fazem uso da receita de senhoriagem ou que possuem dificuldades no acesso ao mercado de crédito para financiar seus gastos.8 A reciprocidade entre as políticas monetária e fiscal denota que a estratégia adotada pelo banco central na busca da estabilidade de preços pode afetar a capacidade do governo no financiamento do déficit. Por outro lado, a 7 Este ponto é mais bem analisado no fim da próxima seção. Conforme destacado por Taylor (1995), no caso de existir a possibilidade do governo emitir novos títulos pode não haver a conexão entre o tamanho do déficit e a receita de senhoriagem. 8 13 necessidade de financiamento do setor público pode representar um limite à independência operacional da autoridade monetária. Fry (1998) encontrou evidências, para o caso de países em desenvolvimento, que indicam que o tamanho do déficit do governo e a forma como ele é financiado determinam a IBC. Alguns autores como Calvo (1988) defendem a idéia de que a tendência do banco central inflacionar a economia é uma função da dívida pública. Assim, uma redução no estoque da dívida seria capaz de diminuir a pressão sobre o banco central implicando maior credibilidade à condução da política monetária.9 Conforme mostrado por Sikken e de Haan (1998) existem quatro formas básicas para que o aumento da dívida possa levar a uma expansão monetária: (i) pressões políticas para estabilizar a taxa de juros; (ii) problema de inconsistência temporal da política monetária; (iii) a teoria da senhoriagem ótima; e (iv) a hipótese de dominância fiscal. O primeiro ponto, refere-se ao fato de que, na maioria das vezes, a conexão entre as políticas monetária e fiscal é analisada em um ambiente no qual a autoridade monetária é obrigada a estabilizar a taxa de juros. Deve-se salientar que embora a taxa de juros represente o principal instrumento para a ação da política monetária, uma alta volatilidade acarreta aumento da incerteza implicando efeitos indesejáveis para a economia (queda do investimento e produto, aumento da taxa de desemprego etc.). Dessa forma, se um incremento na dívida pública levar a um aumento da taxa de juros, o banco central é compelido a monetizar o déficit.10 9 Durante os anos 80, diversos trabalhos procuraram analisar o efeito do déficit e da dívida sobre a credibilidade da política monetária tendo como base a estrutura teórica desenvolvida por Kydland e Prescott (1977). Para o leitor interessado na literatura, ver Lucas e Stokey (1983), Persson, Persson e Svensson (1987), Calvo (1988), e Bohn (1988). 10 Esta última observação representa o principal argumento para a adoção de um BCI como estratégia para evitar a ocorrência do fenômeno em questão. 14 Com o objetivo de aumentar a clareza da idéia presente no segundo e terceiro pontos supracitados, considere, a seguir, a equação que representa a restrição orçamentária intertemporal do governo: (1) B&t = Dt + it Bt − M&t , onde: B = montante da dívida governamental; D = déficit primário; i = taxa de juros; M = base monetária; que expressa em termos reais, corresponde a (2) b&t = d t + [it − ( p&t p t )]bt − M&t / p t , onde: p = deflator; b = B/p; d t = Dt / p t . De acordo com a equação (2) o estoque da dívida pode ser reduzido de três formas: (i) via redução do déficit primário; (ii) por meio de ganho de capital do governo no caso da taxa de inflação atual exceder a inflação que compõe a taxa de juros; e (iii) via senhoriagem. A literatura que analisa a relação entre as políticas monetária e fiscal tem utilizado com freqüência os dois últimos pontos. O segundo ponto está relacionado à idéia de inconsistência temporal da política monetária. Sob esta visão, o público determina a taxa esperada de inflação e a autoridade monetária determina a taxa atual de inflação. Logo, existe a possibilidade dos governos serem tentados a provocar uma inflação surpresa como forma de reduzir o encargo real da dívida (sobretudo no caso de taxas de juros nominais de longo prazo fixas). Em relação ao terceiro ponto, ele pode ser mais bem compreendido fazendo-se uso da equação, (3) S t = M&t / Pt = ( M&t / M t )( M t / Pt ) = α .m , onde: α = taxa de expansão monetária; m = estoque real de moeda. Devido ao fato de que em países em desenvolvimento há uma maior limitação para tributar o produto (PIB), a senhoriagem torna-se um importante instrumento para o financiamento dos gastos do governo. Todavia, Sikken e de 15 Haan (1998) fazem três observações em relação ao uso da senhoriagem pelo governo: (a) o uso permanente da expansão monetária deve reduzir a receita de senhoriagem (uma taxa de inflação elevada aumenta as expectativas inflacionárias e reduz a base – m – mais do que o aumento em α); (b) diversos países em desenvolvimento utilizam um regime de câmbio no qual a moeda doméstica é atrelada a uma moeda com credibilidade elevada, e por conseguinte, não têm o poder de determinar a expansão monetária da economia; e (c) o uso do imposto inflacionário implica perda do poder de compra do público; logo, maximizar receita de senhoriagem pode não ser adequado do ponto de vista social. Um quarto ponto entre o aumento da dívida e a expansão monetária refere-se à hipótese de dominância fiscal (Sargent e Wallace, 1981). Sob esta interpretação a autoridade fiscal define os déficits e superávits no presente e no futuro sem consultar a autoridade monetária, e portanto, determina o montante da receita obtida com a venda de títulos e senhoriagem. Assim, a autoridade monetária, diante de uma restrição imposta pela demanda por títulos do governo, tende a financiar o restante da receita necessária para satisfazer a demanda da autoridade fiscal via senhoriagem. Destarte, há a tendência de que o responsável pela política não mantenha o equilíbrio fiscal em razão da expectativa de que o banco central garantirá os recursos necessários para satisfazer os gastos realizados. Logo, o resultado esperado de uma dominância 16 fiscal é o incremento do déficit devido à elevação dos gastos e da taxa de inflação resultantes da emissão monetária feita pelo banco central.11 Um outro aspecto a ser considerado, levando-se em conta a interpretação de Sargent e Wallace (1981), refere-se à situação em que o estoque da dívida e o déficit público encontram-se em um patamar tão elevado que são capazes de provocar um aumento da taxa real de juros acima da taxa de crescimento da economia. Nesse caso, a tentativa da política monetária reduzir a taxa de inflação pode ter um efeito perverso sobre a economia. Uma contração monetária hoje para reduzir a taxa de inflação provoca um incremento na razão dívida/PIB, que devido à necessidade de pagamentos de juros mais elevados e ao tamanho do déficit culmina no aumento da base monetária no futuro. Nesse caso, conforme proposto por Taylor (1995), uma redução da taxa de juros para níveis inferiores à taxa de crescimento da economia poderia restaurar a capacidade da política monetária no controle da inflação. O potencial descontrole da taxa de inflação como conseqüência do problema da dominância fiscal tem sido considerado um dos principais argumentos teóricos a favor da adoção de um BCI. A visão tradicional para a análise entre as políticas fiscal e monetária tem como uma de suas premissas a idéia de que a autoridade fiscal define o déficit independente da autoridade monetária, e que esta última é forçada a emitir moeda para satisfazer as necessidades de financiamento do governo. Apesar do argumento apresentar uma consistência interna apreciável, alguns autores têm ressaltado que este 11 Conforme destacado por Sargent e Wallace (1981), o ponto fundamental para avaliar se a autoridade monetária será capaz de controlar de forma permanente a inflação concentra-se na demanda por títulos do governo. No caso da demanda por títulos implicar uma taxa de juros que remunere os títulos acima da taxa de crescimento da economia, e a autoridade fiscal incorrer em déficits, a autoridade monetária perde a capacidade de definir a taxa de inflação. 17 tipo de suposição não é coerente com o mundo real. Nas palavras de King (1995, p. 171) “I have never found this proposition very convincing. The logic is compelling… [In this sense, two points put in check the traditional view:] First, seigniorage – financing the deficit by issuing currency rather than bonds – is very small relative to other sources of revenue. Second, over the past decade or so, governments have become increasingly the power over monetary policy to an independent central bank with the specific objective of price stability.” Uma conseqüência da segunda observação mencionada é que o esforço para reduzir a inflação pode levar ao alcance de uma taxa menor que a esperada, o que por conseguinte, gera um problema de ordem fiscal. A introdução de uma estratégia para a política monetária que diminua a taxa de inflação, mas que não possui total credibilidade promove um aumento da taxa real de juros que incide sobre a dívida pública.12 Portanto, enquanto a credibilidade é construída há a necessidade de uma receita adicional para financiar o maior custo da dívida. Este fenômeno é definido por King (1995) como “desagradável aritmética fiscal”.13 O principal aspecto destacado por King (1995) diz respeito ao fato de que em resposta a uma política monetária contracionista a inflação esperada declina de forma mais lenta do que a inflação atual. Dessa forma, o sucesso em desinflacionar a economia diminui a taxa de crescimento do PIB (devido ao aumento da taxa real de juros), mas não reduz a despesa com juros relativa ao estoque da dívida até que a nova política conquiste credibilidade. Além disso, o nível de superávit primário consistente com a relação dívida/PIB aumenta no 12 A justificativa para o aumento da taxa real de juros representa o caso inverso ao apresentado no item b (ganho de capital do governo no caso da taxa de inflação atual exceder a inflação que compõe a taxa de juros). 13 O esquema 1 apresenta um paralelo entre a idéia básica sobre a desagradável aritmética monetarista e a desagradável aritmética fiscal. 18 curto prazo em um montante proporcional à razão dívida/PIB inicial e a redução na taxa de inflação média. No longo prazo, o superávit primário pode retornar ao nível inicial quando as expectativas inflacionárias tiverem se ajustado. Entretanto, países que possuem um histórico de dificuldade no controle da inflação devem levar mais tempo para obter este resultado.14 Esquema 1.1 Desagradável aritmética monetarista e fiscal Desagradável Aritmética Monetarista: Financiamento do déficit via aumento da dívida Aumento do pagamento de juros sobre a dívida Implicação: Financiamento monetário maior que o financiamento monetário imediato de um dado déficit Aumento da taxa de juros real efetiva sobre a dívida Implicação: Necessidade de superávit primário adicional para financiar o aumento do custo da dívida enquanto a credibilidade é construída Desagradável Aritmética Fiscal: Tentativa do BC reduzir a inflação 14 O exemplo a seguir (King, 1995) mostra, na prática, de que forma se manifesta o problema. Suponha uma dívida/PIB de 50% estável, e que a mudança na política monetária reduziu a média da inflação de 6 para 2% a.a.. Assim, para garantir uma taxa constante da dívida/PIB há a necessidade de um salto no superávit primário de no mínimo 2% do PIB. Se as expectativas em relação ao novo regime se ajustarem após 5 anos, então o aumento no superávit primário deveria ainda ser de 1% do PIB após 5 anos. 19 2.2. Observações para o período pós-Real Um ponto importante a ser analisado consiste em verificar se o sucesso no controle da inflação no período posterior à implementação do Plano Real foi capaz de reduzir (ou aumentar) a taxa de juros implicando menor (ou maior) pressão sobre o endividamento público. Conforme pode ser observado por meio da figura 2.1 observa-se que apesar de ter ocorrido uma queda significativa na taxa real de juros ao longo do período, ela se situou acima da taxa de crescimento da economia na maior parte do tempo. Figura 2.1 Taxa de crescimento do PIB e taxa real de juros 14 12 10 8 6 4 2 0 SELIC real trim 2003:3 2002:9 2002:3 2001:9 2001:3 2000:9 2000:3 1999:9 1999:3 1998:9 1998:3 1997:9 1997:3 1996:9 1996:3 1995:9 1995:3 1994:9 -2 PIB - taxa acumulada até o trimestre (%) Nota: SELIC deflacionada pelo IPCA (jul/1994=100). As taxas trimestrais são calculadas elevando-se a média geométrica das taxas mensais a 3 (meses). Com base na observação acima é possível fazer uma relação com o problema ressaltado por Sargent e Wallace (1981) relativo à possibilidade de perda de controle da autoridade monetária sobre a inflação. Sob essa perspectiva, poderia ser iniciado um ciclo marcado por aumento da taxa de juros (ou manutenção no caso de se encontrar em um patamar muito elevado) 20 como tentativa do banco central conter a pressão inflacionária e reduções na taxa de crescimento econômico devido à redução no consumo e no investimento. Logo, a combinação desses dois fatos teria como resultado um incremento no endividamento público. Na prática, observa-se que a tentativa do Banco Central do Brasil (BCB) neutralizar um desequilíbrio externo devido às flutuações no cenário internacional (sobretudo em função dos choques asiático (1997) e russo (1998))15 fez com que ocorresse uma elevação na taxa de juros básica da economia (SELIC) que implicou um aumento das necessidades de financiamento do setor público com juros reais. Deve-se ressaltar que a estratégia de combate à inflação que vigorou até janeiro de 1999 (baseada em variantes do regime de câmbio fixo) impedia uma ação efetiva da política monetária no controle da taxa de juros. Além disso, é importante notar que embora as elevações observadas na SELIC nos anos de 1997 e 1998 terem focado o ajuste externo, o principal objetivo dos aumentos observados era evitar que ocorresse um ataque especulativo sobre a economia que forçasse uma desvalorização cambial, e que por conseguinte, colocasse em risco a estabilidade de preços. O fim do uso da taxa de câmbio em janeiro de 1999 como principal elemento na estratégia de combate à inflação implicou a necessidade do encontro de uma nova âncora nominal. Na busca de uma nova diretriz para a condução da política monetária foi implantado um regime de metas para a 15 Durante o período sob análise a balança de transações correntes encontrava-se deficitária, logo o principal mecanismo utilizado (após a forte entrada de recursos provinda do processo de privatizações) consistiu na elevação da taxa de juros como mecanismo para a tornar a balança de capitais superavitária e equilibrar o balanço de pagamentos. 21 inflação em junho de 1999.16 Nesse novo modelo para a condução da política econômica tornou-se explícito o uso da taxa de juros de curto prazo como principal instrumento para o alcance da meta de inflação anunciada. Um dos resultados observados é que o resultado de um cenário em que a taxa de juros encontrava-se acima da taxa de crescimento da economia combinado à elevação do endividamento público devido à forte desvalorização da moeda, tornou necessária a geração de superávits primários como tentativa de alcançar o equilíbrio fiscal (vide figura 2.2). Figura 2.2 Dívida pública e superávit primário 70 60 50 40 30 mudança de regime cambial 20 10 0 NFSPP 2003:2 2002:8 2002:2 2001:8 2001:2 2000:8 2000:2 1999:8 1999:2 1998:8 1998:2 1997:8 1997:2 1996:8 1996:2 1995:8 1995:2 1994:8 -10 DIVPUB Nota: NFSPP – Necessidades de financiamento – setor público – primário – acum. 12 meses (% PIB); DIVPUB – Dívida – total – setor público – líquida (% PIB) As observações acima permitem conjeturar que o Brasil no período posterior à introdução do Plano Real representa um caso de desagradável aritmética fiscal. Apesar da taxa de inflação ter se mantido relativamente estável após a implementação do Plano, a estratégia utilizada para o combate 16 Para uma análise da teoria do regime de metas de inflação e do seu funcionamento no Brasil, ver Neto (1999), e Bogdanski, Tombini, e Werlang (2000). 22 à inflação sofreu mudanças significativas ao longo do tempo.17 Destarte, as modificações sofridas na condução da política monetária não permitiram que fosse construída uma credibilidade suficiente para que as políticas anunciadas ficassem imunes aos choques sobre a economia. Logo, o caso brasileiro enquadra-se na situação em que a credibilidade ainda está sendo construída. Um importante elemento para análise refere-se ao comportamento do BCB depois da introdução do Plano sobredito. A preocupação da autoridade monetária em assegurar o compromisso com a estabilidade de preços fez com que o índice de independência real do BCB aumentasse de forma significativa.18 (Rigolon, 1997) Assim, é importante verificar se o aumento na independência do BCB, observado nos últimos anos, está associado a alguma mudança na evolução do quadro fiscal brasileiro. Esta observação é importante porque alguns economistas que analisam a proposição de IBC sugerem que a presença de um BCI é capaz de levar a uma combinação de inflação baixa com menores déficits ficais para a economia. (Goodhart, 1995) A essência do argumento é que um BCI atenuaria o uso da receita de senhoriagem, e por conseqüência, implicaria uma contenção nos gastos do governo. Com a finalidade de avaliar a possível influência de um aumento da independência do BCB sobre o quadro fiscal brasileiro foi feita uma análise com base em alguns resultados empíricos. Utilizou-se o método dos mínimos quadrados para avaliar a influência do grau de independência (GIBC) sobre duas variáveis: resultado primário (NFSPP - necessidades de financiamento do 17 As principais mudanças ocorridas se referem à alteração do regime de câmbio em janeiro de 1999 e à adoção do regime de metas de inflação em junho do mesmo ano. 18 Para o leitor interessado em uma resenha da literatura sobre IBC que contém a explicação detalhada dos índices de independência real e legal, ver Cukierman (1996). O apêndice deste capítulo apresenta a metodologia para a mensuração do grau de independência do BCB de 1986 até 2002. 23 setor público % PIB – primário) e necessidades de financiamento do setor público – juros reais (NFSPJR - % PIB). Para tanto, foram utilizados dados anuais para o período compreendido entre 1986 e 2002. Devido à mudança estrutural ocorrida com a introdução do Plano Real em 1994 foi introduzida uma variável dummy na forma aditiva (D=0 antes de 1994 e D=1 a partir de 1994) nas estimações. A seleção das variáveis supracitadas na análise pode ser justificada da seguinte forma. É esperado que um aumento da IBC esteja relacionado a uma redução nos gastos do governo. O gráfico de dispersão (grau de independência do BCB X NFSPP) localizado no lado esquerdo da figura 2.3 sugere que essa perspectiva é correta, pois há a presença de uma correlação negativa entre as séries correspondente a 31%. Quanto ao efeito de um aumento da independência do BC sobre a despesa do setor público com o pagamento de juros a relação não é evidente. Uma maior independência pode significar uma política monetária mais restritiva que culmina com a elevação da NFSPJR; por outro lado, o sucesso no combate à inflação significa conquista de credibilidade contribuindo para uma menor taxa de juros. O gráfico localizado no lado direito da figura 2.3 não contribui para dirimir essa dúvida, pois a correlação entre as séries é quase nula. Figura 2.3 GIBC X NFSPP 2 0 6 -2 4 -4 2 -6 0 0 0,2 0,4 GIBC X NFSPJR 8 0,6 0 0,8 24 0,2 0,4 0,6 0,8 O resultado obtido com as estimações para o período de 1986/2002 (vide tabela 2.2) denota que o grau de independência tem sinal negativo tanto para a NFSPP quanto para a NFSPJR, ao passo que a dummy apresentou sinais positivos. Além disso, a hipótese nula de ausência de efeito é rejeitada para ambas as variáveis ao nível de significância de 5%. Este resultado indica que as duas variáveis apresentam efeitos estatisticamente significativos sobre a NFSPP e a NFSPJR com probabilidade de erro de 5%. Apesar disso, o coeficiente de determinação denota uma explicação de apenas 35% da variação da NFSPP e 32% da variação da NFSPJR. Em outras palavras, os resultados obtidos sugerem que um aumento da IBC contribuiu para uma melhora do resultado primário e uma menor despesa com o pagamento de juros reais, entretanto, o efeito não é forte o suficiente para se esperar uma melhora no quadro fiscal. Tabela 2.2 Estimações (MQO) N=17 NFSPP NFSPJR constante estat.- t 8,7590 2,2280* 10,6243 3,9999* Nota: * Significância a 5%. GIBC -25,2194 -15,6747 estat.- t -2,6316* -2,4208* Dummy 7,2123 5,3515 estat.- t 2,3207* 2,5486* R2 0,3487 0,3173 2.3. À guisa dos resultados encontrados A análise apresentada na seção anterior sugere que embora tenha ocorrido um incremento no grau de IBC do BCB ao longo do tempo não se pode esperar que ocorra uma melhora no quadro fiscal. A concepção de que um BCI levaria à redução das despesas com o pagamento de juros e promoveria o equilíbrio no resultado primário não pode ser descartada. Não 25 obstante, conforme revela a figura 2.4, o aumento da IBC do BCB ao longo do tempo não foi suficiente para conter a elevação no estoque da dívida pública. A deterioração do quadro fiscal com a estabilidade de preços é explicada por dois motivos básicos: (i) com a estratégia da condução da política monetária voltada para a busca da estabilidade de preços o Tesouro Nacional ficou impedido de monetizar parte da dívida (desde 1995 a receita de senhoriagem é inferior a 1% do PIB); e (ii) a estrutura de indexação da dívida pública atrelada em grande medida à taxa SELIC. Figura 2.4 Dívida Pública - IBC - indexador (SELIC) 100 90 introdução Plano Real 80 70 mudança de regime cambial 60 50 40 30 20 10 Títulos fed. index. SELIC (%) 2003 01 2002 01 2001 01 G.I. BCB = 0,76 2000 01 1999 01 1998 01 G.I. BCB = 0,71 1997 01 1996 01 1995 01 G.I. BCB = 0,68 1994 01 1993 01 1992 01 G.I. BCB = 0,46 1991 01 0 Dívida líq. (% PIB) O segundo motivo supracitado merece uma maior atenção, pois representa a possibilidade de que ao invés de benefícios para o equilíbrio fiscal um aumento na dominância monetária implique conseqüências negativas para a economia. Uma das principais razões para a elevação do estoque da dívida pública se deve ao fato da SELIC ser o principal indexador dos títulos 26 públicos.19 Nesse sentido, a manutenção da alta taxa real de juros praticada no período pós-Real, com o objetivo de controlar a inflação, representou uma fonte para o comportamento da dívida no período. Ademais, o câmbio (segundo indexador mais importante para os títulos públicos) contribuiu de forma decisiva para o salto da dívida observado no período posterior à mudança do regime cambial em janeiro de 1999. Um outro ponto a ser ressaltado se refere ao fato da economia ter apresentado um crescimento econômico insuficiente para promover o equilíbrio macroeconômico. Logo, o receituário mais óbvio para neutralizar as mazelas de um desequilíbrio fiscal tem se concentrado na necessidade da geração de superávits primários com o objetivo de conter o aumento na razão dívida/PIB. Portanto, o superávit primário observado no período recente não é um resultado inequívoco do aumento da IBC do BCB, mas uma necessidade imposta pelo próprio cenário econômico. 19 Vide figura 2.4 para observar a evolução da over-SELIC como indexador dos títulos públicos federais a partir de 1990. 27 Apêndice A: Metodologia para estimar o grau de independência do BCB Tabela A.1. Variáveis, pesos e códigos Número da variável 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Descrição da variável Rotatividade do presidente do BC Baixa rotatividade Média rotatividade Alta rotatividade Restrições ao financiamento do Setor Público Alta Moderadamente alta Moderadamente baixa Baixa ou inexistente Resolução de conflitos Algumas resoluções a favor do banco Resolução a favor do governo em todos os casos Todos os outros casos Elaboração do orçamento do banco central Maioria das vezes o banco central Banco central e Poder Executivo/Poder Legislativo Maioria das vezes Poder Executivo/Poder Legislativo Determinação dos salários e alocação dos lucros do banco central Maioria das vezes pelo BC ou por lei Banco central e Poder Executivo/Poder Legislativo Maioria das vezes Poder Executivo/Poder Legislativo Metas para agregados monetários Existência de metas; boa aderência Existência de metas; média aderência Existência de metas; baixa aderência Não há metas Metas formais ou informais para as taxas de juros Não Sim Prioridade dada para a estabilidade dos preços Primeira prioridade é a estabilidade dos preços Primeira prioridade é a estabilidade da taxa de câmbio Preços ou estabilidade da taxa de câmbio estão entre os objetivos do BC, mas não representam a primeira prioridade Nem preços ou câmbio estão entre os objetivos do BC BC funciona como Banco de Desenvolvimento? Não Em alguma extensão Sim O BC é fortemente envolvido na garantia de crédito subsidiado Fonte: Cukierman, Webb e Neyapti (1992). 28 abreviação códigos olp 1,0 0,5 0,0 llp 1,00 0,66 0,33 0,00 rc 1,0 0,0 0,5 dcbb 1,0 0,5 0,0 wp 1,0 0,5 0,0 qmst irt 1,00 0,66 0,33 0,00 1 0 1,00 0,66 pps 0,33 0,00 fdb 1,00 0,66 0,33 0,00 Tabela A.2. Agregação Primeira agregação fi = (dcbb + wp) / 2 ipt = (qmsf + irt) / 2 Outcome: olp, llp, rc, fi, ipt, pps, fdb Segunda agregação ADIU = (olp + llp + rc + fi + ipt + pps + fdb) / 7 ADIW = 0,1olp + 0,2llp + 0,1rc + 0,1fi + 0,15ipt +0,15pps + 0,2fdb Fonte: Cukierman, Webb e Neyapti (1992). OBS: ADIU – actual degree of independence unweighted; ADIW – actual degree of independence weighted; fi – financial independence; ipt – intermediate policy targets. Tabela A.3. Estimativas para o Brasil – 1986-2002 Período 1986 1987/89 1990/92 1994/96 1997/99 2000/02 Variáveis Olp 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,50 Llp 0,33 0,00 0,33 0,66 0,66 0,66 Rc 0,00 0,00 1,00 1,00 1,00 1,00 Dcbb 1,00 1,00 0,50 0,50 0,50 0,50 Wp 1,00 1,00 0,50 0,50 0,50 0,50 Qmsf 0,00 0,00 0,00 0,66 1,00 0,00 Irt 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 1,00 Pps 0,33 0,33 0,33 1,00 1,00 1,00 Fdb 0,66 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 Primeira agregação Olp 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,05 Llp 0,33 0,00 0,33 0,66 0,66 0,13 Rc 0,00 0,00 1,00 1,00 1,00 0,10 Fi 1,00 1,00 0,50 0,50 0,50 0,05 Ipt 0,00 0,00 0,00 0,33 0,50 0,08 Pps 0,33 0,33 0,33 1,00 1,00 0,15 Fdb 0,66 1,00 1,00 1,00 1,00 0,20 Segunda agregação ADIU 0,33 0,33 0,45 0,64 0,67 0,74 ADIW 0,35 0,35 0,46 0,68 0,71 0,76 Fonte: Até 1996 - Rigolon (1997), após esse período elaboração própria. 29 3. Conseqüências da estabilidade de preços para a dívida pública no período pós-Real Nos últimos anos a experiência de diversos países tem revelado uma padronização para a condução das políticas monetária e fiscal. Em relação à política monetária observa-se que o receituário básico tem sido a implementação de uma política voltada para a busca da estabilidade de preços e o fortalecimento da independência do banco central. Quanto à política fiscal o ponto central tem sido o esforço que a autoridade política deve realizar para minimizar os custos oriundos do endividamento público. Um aspecto fundamental para que a estrutura supracitada tenha êxito refere-se à credibilidade obtida a partir da condução das políticas fiscal e monetária. A tentativa de utilizar a política monetária para o aumento da confiança do público na formação das expectativas pode ter êxito somente se as finanças públicas estiverem equilibradas. É importante salientar que a busca da estabilidade de preços, por si só, pode implicar efeitos negativos à economia (elevada taxa de juros ou perda de reservas internacionais) no caso do mercado não acreditar na solvência da dívida pública. Ademais, a perda de credibilidade da política monetária pode implicar uma elevação na taxa de juros capaz de prejudicar o equilíbrio fiscal devido ao aumento das despesas financeiras com o pagamento de juros. As observações acima representam o centro de uma controvérsia formada por acadêmicos e responsáveis pela condução da política econômica no Brasil em relação aos possíveis efeitos para o equilíbrio fiscal decorrente da austeridade na condução da política monetária. De um lado há o argumento de 30 que uma política monetária focada no combate à inflação atenua a manifestação do viés inflacionário contribuindo para o alcance do equilíbrio fiscal. Por outro lado, existe a idéia de que o uso da taxa de juros como o principal instrumento de combate à inflação implica um aumento no pagamento de juros reais contribuindo para uma maior necessidade de financiamento do setor público.20 Logo, o efeito de uma política monetária contracionista poderia implicar a necessidade da geração de superávits primários para pagar os custos do acréscimo da dívida enquanto a credibilidade está sendo construída.21 O objetivo deste capítulo é estudar evidências empíricas para a dinâmica da dívida pública a partir de algumas variáveis que estão relacionadas à busca da estabilidade de preços no período posterior à introdução do Plano Real. Para tanto, é elaborado um modelo auto-regressivo vetorial (VAR) para analisar as regularidades empíricas provenientes da relação necessidades de financiamento do setor público – juros reais X resultado primário do setor público X taxa de câmbio X taxa de inflação X estoque da dívida pública. 3.1. Seleção de variáveis e período para a análise Além da dívida pública (DIVPUB) as variáveis selecionadas para análise são: necessidades de financiamento do setor público – juros reais, resultado primário do setor público, câmbio, e inflação. A justificativa para o emprego dessas variáveis pode ser compreendida da seguinte forma: 20 Para uma análise do efeito de menores déficits orçamentários sobre a taxa real de juros, ver Taylor (1995). 21 Conforme ressaltado na seção 2.1. do capítulo anterior, este fenômeno é denominado por King (1995) como “desagradável aritmética fiscal”. 31 (i) necessidades de financiamento do setor público - juros reais (NFSPJR): dado que grande parte da dívida pública está indexada à taxa de juros básica da economia (SELIC),22 esta variável constitui um importante elo entre a política monetária e a dívida pública. Logo, é esperado que flutuações na taxa de juros impliquem variações significativas sobre a variável NFSPJR, e por conseguinte, sobre a dívida pública. (ii) resultado primário do setor público (NFSPP): outra variável que denota uma conexão entre o comportamento da autoridade monetária e o endividamento público. No caso de haver uma política monetária voltada para a busca da estabilidade de preços é esperado que haja uma redução no uso de emissão monetária como fonte de financiamento do governo. Destarte, é esperado que um maior equilíbrio para o resultado primário seja obtido devido à contenção nos gastos do governo. (iii) câmbio: variável fundamental para a conquista da estabilidade de preços e sua manutenção até janeiro de 1999. Da mesma forma que no caso da taxa de juros o câmbio possui papel relevante sobre a dívida pública por ser um dos seus principais indexadores. (iv) inflação (INF): esta variável denota se o governo está monetizando ou não a dívida pública. A partir dos pontos enumerados a equação para a dívida pública pode ser expressa da seguinte forma: DIVPUB = f(NFSPJR, NFSPP, CAMBIO, INF); onde os sinais esperados para a relação entre as variáveis listadas e a função dívida pública são dados pelas derivadas parciais: 22 Vide gráfico 2.4 do capítulo anterior. 32 ∂f/∂NFSPJR>0; ∂f/∂NFSPP>0; ∂f/∂CAMB>0; ∂f/∂INF<0. Serão realizadas estimações para o período de agosto de 1994 a abril de 2003 utilizando-se dados mensais para o estoque da dívida do setor público (dívida líquida % PIB), necessidades de financiamento do setor público – juros reais (% PIB), resultado primário (necessidades de financiamento do setor público % PIB – primário), câmbio (R$/US$ comercial mensal), e inflação (IPCA - variação % 12 meses). É importante ressaltar que ao longo do período supracitado ocorreu uma mudança significativa na condução da política econômica em virtude da mudança do regime de câmbio em janeiro de 1999.23 Assim sendo, torna-se relevante constatar se a mudança observada apresenta algum efeito significativo para a estimação da dívida pública. Com esse objetivo foi aplicado o teste de estabilidade dos parâmetros de Chow para verificar se os coeficientes estimados do modelo são estáveis ao longo da amostra.24 Para a realização do teste mencionado, os dados foram divididos em dois subperíodos (agosto de 1994 a dezembro de 1998 – período I; e janeiro de 1999 a abril de 2003 – período II) de forma que se for observada uma diferença significativa para as estimações relativas a cada subperíodo há uma mudança estrutural na relação sob análise. O resultado encontrado (vide tabela 3.1) confirma a mudança estrutural. Portanto, é indicado fazer a análise do período que se estende de agosto de 1994 a abril de 2003 por meio da divisão mencionada. 23 A necessidade do encontro de uma nova âncora nominal levou à implementação de um regime monetário no Brasil com base na utilização de metas para a inflação em junho de 1999. 24 O teste de Chow compara a soma do quadrado dos resíduos obtida pela estimação da equação que abrange toda a amostra com a soma dos quadrados dos resíduos das equações estimadas para cada subperíodo. 33 Tabela 3.1 Teste de Chow - estabilidade dos parâmetros (1994:8 – 2003:4) DIVPUB = b0 + b1NFSPJR + b2NFSPP + b3CAMBIO + b4INF + u F-statistic 42,92669 Probability 0,000000 Log likelihood ratio 124,0588 Probability 0,000000 Nota: Subperíodos 1994:8/1998:12, 1999:1/2003:4 3.2. Análise empírica – período I Para que se possa fazer uso de um modelo auto-regressivo vetorial (VAR) é necessário que as séries utilizadas sejam fracamente estacionárias.25 Assim, uma primeira condição a ser avaliada consiste em verificar se as séries: NFSPJR, NFSPP, CAMBIO, INF, e DIVPUB possuem raiz unitária. Os correlogramas dos valores originais das séries supracitadas (vide figura 3.1) permitem observar que os coeficientes de autocorrelação simples decrescem de forma lenta e gradual à medida que o número de defasagens aumenta na maioria das séries. Logo, há indício da presença de raiz unitária devido à observação de que os valores atuais dependem dos valores passados. Figura 3.1 Evolução e Correlograma das séries DIVPUB 50 40 30 20 10 0 DIVPUB 1 0,5 1 1998:8 1998:2 1997:8 1997:2 1996:8 1996:2 1995:8 1995:2 1994:8 0 3 5 7 9 11 13 15 17 -0,5 AC 25 PAC Em um modelo VAR o valor corrente de uma variável yt é explicado por seus próprios valores defasados e por valores defasados da variável x, adicionados a um termo estocástico et. De forma análoga, o valor de xt é explicado por seus valores defasados, pelos valores defasados de yt e por um termo µt. É admitido que o termo estocástico tem média zero, variância constante σ2µ e que não apresenta correlação serial. Portanto, será considerado na análise apenas regularidades e padrões passados de dados históricos como base para previsão. 34 NFSPJR 8 NSPJR 1 6 0,5 4 2 0 1 1998:8 1998:2 1997:8 1997:2 1996:8 1996:2 1995:8 1995:2 1994:8 0 7 9 11 13 15 17 PAC NFSPP 1,5 1 0 1998:8 1998:2 1997:8 1997:2 1996:8 1996:2 1995:8 1995:2 1994:8 0,5 1998:8 1998:2 1997:8 1997:2 1996:8 1996:2 1995:8 1995:2 1994:8 1998:8 1998:2 1997:8 0 1997:2 0 1996:8 0,2 1996:2 1 1995:8 7 9 -0,2 11 13 15 17 PAC Câmbio 3 5 7 9 AC 11 13 15 17 PAC Inflação 0,6 0,4 1995:2 5 AC 2 1994:8 3 1,2 1 0,8 0,6 0,4 0,2 0 -0,2 1 INF 3 1 -0,5 CAMBIO 1,4 1,2 1 0,8 0,6 0,4 0,2 0 -1 5 AC NFSPP 2 0 -2 -4 -6 -8 3 -0,5 1 3 5 7 9 AC 11 13 15 17 PAC Com o objetivo de testar a existência ou não de raiz unitária das séries foi realizado o teste ampliado de Dickey-Fuller (ADF). O procedimento básico para a realização dos testes desenvolvidos por Dickey e Fuller (1979, 1981) consiste em regredir uma série (Ht) contra seus valores defasados de um período (Ht-1). Em seguida, é testada a significância estatística do parâmetro 35 associado a Ht-1. Dado que na maioria das vezes os resíduos são autocorrelacionados, o teste ampliado de Dickey-Fuller incorpora à equação especificada as primeiras diferenças (p) de ∆Ht de forma que os resíduos tornem-se um ruído branco (média zero, variância constante, e ausência de autocorrelação serial). O critério para a seleção das defasagens segue o procedimento do geral para o específico, inicia-se com uma defasagem arbitrariamente elevada que é reduzida de forma gradativa até alcançar a melhor estrutura (Dolado, Jenkinson, Sosvilla-Rovera, 1990). O resultado obtido indica a rejeição da hipótese nula para as séries NFSPP e INF, o que revela que as séries são estacionárias em nível, I(0). Por outro lado há aceitação da hipótese nula (séries não estacionárias) para os valores originais das séries DIVPUB, NFSPJR e Câmbio. Em relação às primeiras diferenças a hipótese nula é rejeitada para todas as séries ao nível de significância de 1% (vide tabela 3.2). Portanto, as três séries são integradas de primeira ordem, isto é, I(1). Séries DIVPUB ∆ DIVPUB NFSPJR ∆ NFSPJR NFSPP Câmbio ∆ Câmbio INF Tabela 3.2 Testes de Raiz Unitária - ADF Valor Valor Def. Teste crítico 1% crítico 5% 1 0,4902 -2,6081 -1,9471 0 -3,9584 -2,6081 -1,9471 1 1,2994 -2,6081 -1,9471 0 -4,3375 -2,6081 -1,9471 2 -3,6457 -2,6090 -1,9473 9 6,2640 -2,6168 -1,9486 9 -5,0655 -4,1896 -3,5189 13 -2,5916 -2,6227 -1,9495 Nota: Teste ampliado de Dickey-Fuller (ADF) – o número de defasagens utilizado para cada série foi definido de acordo com o critério de Schwarz (SC). Para a série Câmbio foi usado constante e tendência. Para as demais séries não foi utilizado constante ou tendência. 36 Para a definição da ordem do VAR foram utilizados os critérios de Schwarz e Hannan-Quinn.26 Conforme indica a tabela 3.3 ambos os critérios indicam que o modelo adequado corresponde àquele com apenas uma defasagem e sem constante. Tabela 3.3 Critério de SC e HQ para ordem do VAR Defasagens Constante SC HQ 0 com constante 8,994421 8,874618 1 com constante -1,687706* -2,406522* 2 com constante -0,759871 -2,077701 3 com constante 0,327622 -1,589221 4 com constante 0,246093 -2,269763 1 sem constante -1,622529* -2,221542* 2 sem constante -0,774605 -1,972632 3 sem constante 0,301795 -1,495245 4 sem constante 0,533129 -1,862925 Nota: * denota a ordem selecionada pelo critério. SC: critério de Schwarz. HQ: critério de Hannan-Quinn. Assumindo-se que os erros são ortogonalizados pela decomposição de Cholesky para a estimação do VAR o ordenamento das variáveis é fundamental para a análise da decomposição da variância e da função impulsoresposta. A ordenação que se mostra razoável para análise é dada por: câmbio, INF, NFSPJR, NFSPP, DIVPUB. A justificativa para esta ordem se deve ao fato de que durante o período sob análise cerca de 10% da dívida pública esteve indexada ao câmbio. Ademais, o câmbio representou a principal variável de política econômica no período sendo capaz de disciplinar o comportamento da inflação. A combinação do câmbio e da inflação tem como resultado um aumento (ou redução) da dívida pública por meio do pagamento de juros reais, que por sua vez implica uma maior (ou menor) necessidade de 26 SC=-2(l/T)+klog(T)/T e HQ=-2(l/T)+2klog(log(T))/T; considera uma regressão com k parâmetros estimados usando T observações. l é o valor do log da função probabilidade com k parâmetros estimados. 37 geração de superávits primários. Logo, há uma interconexão entre as variáveis que causam impacto sobre a dívida pública. Um outro motivo para esta ordenação das variáveis é sua compatibilidade com o resultado obtido da aplicação do teste de precedência temporal de Granger (vide tabela 3.4). Devido à dificuldade na interpretação dos coeficientes estimados para o modelo VAR é comum que os resultados sejam sumariados por meio da decomposição da variância e da análise da função impulso-resposta parcial. Devido ao fato dos dados utilizados na amostra serem mensais, a tabela 3.5 mostra a explicação da variância das séries para observação de um choque depois de transcorridos 12 meses. O mesmo período posterior ao choque é assumido quando é feita a análise impulso-resposta para o VAR. Tabela 3.4 Teste de Precedência Temporal de Granger VAR(1) Hipótese nula: NFSPJR não Granger causa DIVPUB DIVPUB não Granger causa NFSPJR NFSPP não Granger causa DIVPUB DIVPUB não Granger causa NFSPP CAMBIO não Granger causa DIVPUB DIVPUB não Granger causa CAMBIO INF não Granger causa DIVPUB DIVPUB não Granger causa INF NFSPP não Granger causa NFSPJR NFSPJR não Granger causa NFSPP CAMBIO não Granger causa NFSPJR NFSPJR não Granger causa CAMBIO INF não Granger causa NFSPJR NFSPJR não Granger causa INF CAMBIO não Granger causa NFSPP NFSPP não Granger causa CAMBIO INF não Granger causa NFSPP NFSPP não Granger causa INF INF não Granger causa CAMBIO CAMBIO não Granger causa INF 38 Obs 52 52 52 52 52 52 52 52 52 52 Estatística-F Probabilidade 0,91232 0,34419 10,9356 0,00177 9,01373 0,00421 6,51841 0,01384 8,09843 0,00645 0,41568 0,52211 14,6989 0,00036 0,16475 0,68659 0,00311 0,95578 0,14550 0,70452 3,38511 0,07185 0,44743 0,50670 1,38150 0,24553 0,01704 0,89669 0,75636 0,38871 2,77409 0,10218 3,03712 0,08765 9,65326 0,00314 1,03469 0,31406 11,3619 0,00147 Os resultados apresentados na tabela 3.5 revelam que a importância relativa das diversas variáveis em análise na explicação da variância da taxa de câmbio não é significativa, cerca de 93% da variância é explicada pela própria variável. Quanto ao impacto oriundo de um choque externo sobre os valores passados da própria taxa de câmbio (primeiro gráfico situado na linha supracitada) indica que o padrão de regularidade não se altera durante os 12 meses. Ademais, a análise impulso-resposta (primeira linha da figura 3.2) permite verificar que os impactos provenientes da INF, NFSPJR, NFSPP, e DIVPUB, se aproximam de zero, indicando que os mesmos são estatisticamente pouco expressivos. Câmbio INF NFSPJR NFSPP DIVPUB Tabela 3.5 Decomposição da variância após 12 meses Câmbio INF NFSPJR NFSPP 93,07873 0,443156 5,106602 1,156894 1,241957 76,05016 0,285719 7,042716 0,163126 28,90179 54,34338 2,699899 6,324738 7,188114 6,651348 21,82436 7,652851 23,38594 5,698465 4,986297 DIVPUB 0,214618 15,37945 13,89180 58,01144 58,27645 Nota: Ordem das séries: Câmbio, INF, NFSPJR, NFSPP, e DIVPUB. No que se refere à taxa de inflação, observa-se que a importância da própria INF na explicação de sua variância é muito significativa (76%). Entretanto, o segundo gráfico da segunda linha da figura 3.2 revela um declínio dos impactos tendendo a se anular a partir do sétimo mês. A importância relativa da dívida pública na explicação da inflação é significativa (15%). Além disso, o último gráfico da linha supracitada mostra que os efeitos de um choque da DIVPUB sobre a INF tende a se afastar de zero, indicando significância estatística. Este resultado ratifica o argumento defendido por alguns autores como Calvo (1988) de que a tendência do banco central inflacionar a economia 39 é uma função da dívida pública, e que portanto, uma redução de seu estoque seria capaz de reduzir a pressão sobre o banco central implicando maior credibilidade à condução da política monetária. Por outro lado, embora em menor escala, o efeito de um choque proveniente da NFSPP sobre a variância da INF também não é desprezível (7%). Não obstante, o penúltimo gráfico localizado na linha sobredita evidencia que os efeitos de choques externos, transmitidos pela variável NFSPP sobre a INF são estatisticamente pouco expressivos. O mesmo pode ser dito (não há significância estatística) para os possíveis efeitos transmitidos pelo câmbio e NFSPJR para a variância da INF. Em relação à NFSPJR verifica-se que a importância relativa da variável na explicação de sua variância é significativa (54%), e que o terceiro gráfico localizado na terceira linha da figura 3.2 não apresenta alterações significativas em sua regularidade ao longo dos 12 meses. Ademais, a tabela 3.5 e a figura 3.2 mostram que a taxa de câmbio e a NFSPP não são relevantes na explicação da NFSPJR. Por outro lado, a INF e a DIVPUB merecem maior atenção. A importância relativa da INF na variância da NFPJR é expressiva (29%). Soma-se a esta constatação o fato de que o segundo gráfico situado na segunda linha denota significância estatística, uma vez que os efeitos de um choque da INF sobre a DIVPUB tendem a se afastar de zero. A explicação para esse resultado é que uma inflação mais elevada pode estar associada a uma monetização da dívida, e portanto, devido a um menor estoque da dívida haveria uma menor despesa com o pagamento de juros. Outrossim, a DIVPUB possui relevância na explicação da variância da NFSPJR (14%). O último gráfico localizado na linha supradita denota, conforme esperado, que um 40 aumento no endividamento público tem como resultado um incremento na despesa do governo com o pagamento de juros. Figura 3.2 Função impulso-resposta para o VAR Response to Cholesky One S.D. Innovations ± 2 S.E. Response of CAMBIO to CAMBIO Response of CAMBIO to INF Response of CAMBIO to NFSPJR Response of CAMBIO to NFSPP Response of CAMBIO to DIVPUB .015 .015 .015 .015 .015 .010 .010 .010 .010 .010 .005 .005 .005 .005 .005 .000 .000 .000 .000 .000 -.005 -.005 -.005 -.005 -.005 -.010 -.010 -.010 -.010 -.010 -.015 -.015 -.015 -.015 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 1 2 Response of INF to CAMBIO 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 1 Response of INF to INF 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 -.015 1 2 Response of INF to NFSPJR 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 1 Response of INF to NFSPP .6 .6 .6 .6 .5 .5 .5 .5 .5 .4 .4 .4 .4 .4 .3 .3 .3 .3 .3 .2 .2 .2 .2 .2 .1 .1 .1 .1 .1 .0 .0 .0 .0 .0 -.1 -.1 -.1 -.1 -.1 -.2 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 -.2 1 Response of NFSPJR to CAMBIO 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 -.2 1 Response of NFSPJR to INF 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 Response of NFSPJR to NFSPJR 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 1 Response of NFSPJR to NFSPP .8 .8 .8 .4 .4 .4 .4 .4 .0 .0 .0 .0 .0 -.4 -.4 -.4 -.4 -.4 -.8 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 -.8 1 2 Response of NFSPP to CAMBIO 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 -.8 1 Response of NFSPP to INF 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 Response of NFSPP to NFSPJR 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 1 Response of NFSPP to NFSPP .6 .6 .6 .4 .4 .4 .4 .4 .2 .2 .2 .2 .2 .0 .0 .0 .0 .0 -.2 -.2 -.2 -.2 -.2 -.4 -.4 -.4 -.4 -.4 -.6 -.6 -.6 -.6 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 1 2 Response of DIVPUB to CAMBIO 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 1 Response of DIVPUB to INF 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 Response of DIVPUB to NFSPJR 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 1 Response of DIVPUB to NFSPP 1.2 1.2 1.2 0.8 0.8 0.8 0.8 0.8 0.4 0.4 0.4 0.4 0.4 0.0 0.0 0.0 0.0 0.0 -0.4 -0.4 -0.4 -0.4 -0.4 -0.8 -0.8 -0.8 -0.8 -0.8 -1.2 -1.2 -1.2 -1.2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 1 2 3 4 5 41 6 7 8 9 10 11 12 9 10 11 12 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 Response of DIVPUB to DIVPUB 1.2 2 8 -.6 1 1.2 1 7 Response of NFSPP to DIVPUB .6 2 6 -.8 1 .6 1 5 Response of NFSPJR to DIVPUB .8 1 4 -.2 1 .8 -.8 3 Response of INF to DIVPUB .6 -.2 2 -1.2 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 Quanto à NFSPP observa-se que a importância relativa da própria variável na explicação de sua variância é menor do que nos casos anteriores (22%). A resposta da NFSPP ao impacto originário de um choque externo sobre os seus valores passados (penúltimo gráfico localizado na quarta linha da figura 3.2) mostra um declínio dos impactos tendendo a se anular no décimo segundo mês. A tabela 3.5 revela que a importância do câmbio, INF, e NFSPJR na explicação da variância da NFSPP são semelhantes (oscilando entre 6% e 7%). O mesmo pode ser dito sobre os efeitos de choques externos transmitidos por essas variáveis. Um impacto positivo nessas variáveis tende a provocar uma elevação na NFSPP que não é eliminada ao longo do tempo (vide primeiro, segundo, e terceiro gráficos situados na linha sobredita). A variável de maior importância para a explicação da NFSPP é a DIVPUB. A importância relativa da DIVPUB na explicação da variância da NFSPP é muito significativa (58%). A análise impulso-resposta ratifica a importância da DIVPUB para a NFSPP demonstrando significância estatística. Conforme pode ser observado pelo último gráfico localizado na linha supradita, um choque positivo transmitido pela DIVPUB tende a reduzir a NFSPP. Em outras palavras, o aumento do endividamento público tende a implicar a necessidade da geração de superávits primários para estabilizar a razão dívida/PIB. Para a análise da DIVPUB observa-se que a importância relativa da própria variável para a compreensão de sua variância é significativa (58%). Ademais, o último gráfico localizado na quinta linha da figura 3.2 mostra que os impactos decorrentes de choques externos da própria variável apresentam um decréscimo sem, contudo, anular-se. Este resultado sugere que a principal variável para a explicação do endividamento público é o próprio estoque da 42 dívida. A INF também possui relevância para a explicação da variância da DIVPUB (23%). O segundo gráfico localizado na linha já mencionada mostra que um choque positivo transmitido pela INF tende a reduzir a DIVPUB. As variáveis câmbio, NFSPJR, e NFSPP possuem performance similares. O efeito dessas variáveis na explicação da variância da DIVPUB situou-se entre 5% e 8%. Ademais, o primeiro, terceiro, e quarto gráficos localizados na última linha da figura 3.2 mostram que um choque positivo transmitido por essas variáveis tende a elevar a DIVPUB.27 3.3. Análise empírica – período II Seguindo a mesma metodologia utilizada na seção anterior é elaborado um modelo VAR contendo as variáveis relacionadas na seção 3.1. O primeiro passo consiste em verificar se as séries são estacionárias em nível ou em suas diferenças. Conforme pode ser observado por meio da figura 3.3, excluindo-se as séries DIVPUB e Câmbio, as demais indicam que os coeficientes de autocorrelação simples não declinam de forma lenta e gradual à medida que o número de defasagens aumenta. Logo, há indicação de que essas séries são estacionárias em nível. 27 Deve-se ressaltar que na maioria dos casos, a significância estatística não se mostrou robusta devido ao fato dos valores situarem-se próximos a zero durante os 12 meses. 43 Figura 3.3 Evolução e Correlograma das séries DIVPUB 70 60 50 40 30 20 10 0 DIVPUB 1 0,5 1 2003:1 2002:7 2002:1 2001:7 2001:1 2000:7 2000:1 1999:7 1999:1 0 5 -0,5 NFSPJR 14 12 10 8 6 4 2 0 3 7 9 11 AC 13 15 17 15 17 13 15 PAC 17 PAC NFSPJR 1 0,5 1 2003:1 2002:7 2002:1 2001:7 2001:1 2000:7 2000:1 1999:7 1999:1 0 5 -0,5 NFSPP 0 -1 -2 -3 -4 -5 3 7 9 11 AC 13 PAC NFSPP 1 0,8 0,6 0,4 0 2003:1 2002:7 2002:1 2001:7 2001:1 2000:7 2000:1 1999:7 1999:1 0,2 -0,2 Câmbio 4 1 3 5 7 9 AC 11 Câmbio 1 3 0,5 2 1 0 1 2003:1 2002:7 2002:1 2001:7 2001:1 2000:7 2000:1 1999:7 1999:1 0 5 -0,5 INF 3,5 3 2,5 2 1,5 1 0,5 0 3 7 9 11 AC 13 15 17 15 17 PAC INF 0,8 0,6 0,4 0,2 -0,2 2003:1 2002:7 2002:1 2001:7 2001:1 2000:7 2000:1 1999:7 1999:1 0 -0,4 44 1 3 5 7 AC 9 11 13 PAC A realização do teste ADF (vide tabela 3.6) confirma à expectativa gerada por meio da visualização dos correlogramas presentes na figura 3.3. As séries NFSPJR, NFSPP, e INF são estacionárias em nível enquanto que as séries DIVPUB e Câmbio são integradas de primeira ordem. Séries DIVPUB ∆ DIVPUB NFSPJR NFSPP Câmbio ∆ Câmbio INF Tabela 3.6 Testes de Raiz Unitária - ADF Valor Valor Def. Teste crítico 1% crítico 5% 0 -0,0021 -2,6081 -1,9471 0 -9,2988 -2,6090 -1,9473 0 -1,9947 -2,6081 -1,9471 0 -3,3132 -3,5625 -2,9190 1 0,5991 -2,6090 -1,9473 0 -5,6508 -2,6090 -1,9473 0 -3,5661 -3,5625 -2,9190 Nota: Teste ampliado de Dickey-Fuller (ADF) – o número de defasagens utilizado para cada série foi definido de acordo com o critério de Schwarz (SC). Para as séries NFSPP e INF foi usado constante. Para as demais séries não foi utilizado constante ou tendência. Fazendo-se uso dos critérios de Schwarz e Hannan-Quinn para a definição da ordem ótima do VAR, verificou-se que o modelo adequado referese àquele com uma defasagem e uso de constante (vide tabela 3.7). Tabela 3.7 Critério de SC e HQ para ordem do VAR Defasagens Constante SC HQ 0 com constante 12,85574 12,73448 1 com constante 7,017672* 6,290127* 2 com constante 7,918988 6,585156 3 com constante 9,157670 7,217550 4 com constante 9,707989 7,161583 1 sem constante 7,350651* 6,744364 2 sem constante 7,860242 6,647668* 3 sem constante 9,203563 7,384702 4 sem constante 9,709461 7,284312 Nota: * denota a ordem selecionada pelo critério. SC: critério de Schwarz. HQ: critério de Hannan-Quinn. Em razão da mudança no regime de câmbio em janeiro de 1999 a ordenação das variáveis para a estimação do VAR não é a mesma que a do 45 período anterior. Para verificar qual a melhor ordem para as variáveis no VAR um procedimento comum nos estudos de macroeconometria é a aplicação do teste de precedência temporal de Granger (1969). O teste de precedência temporal de Granger (vide tabela 3.8) indica que o ordenamento adequado para análise é dado por: DIVPUB, câmbio, NFSPP, INF, NFSPJR. A justificativa para esse resultado é que o aumento do estoque da dívida pública no período tornou-se uma variável de grande importância para as demais variáveis. O aumento do endividamento público provoca uma flutuação cambial que por sua vez implica a necessidade de um aumento no superávit primário para conter a trajetória da inflação. O resultado da combinação dos efeitos provenientes dessas variáveis é uma elevação (ou queda) na despesa financeira com o pagamento de juros do setor público. Tabela 3.8 Teste de Precedência Temporal de Granger VAR(1) Hipótese nula: NFSPJR não Granger causa DIVPUB DIVPUB não Granger causa NFSPJR NFSPP não Granger causa DIVPUB DIVPUB não Granger causa NFSPP CAMBIO não Granger causa DIVPUB DIVPUB não Granger causa CAMBIO INF não Granger causa DIVPUB DIVPUB não Granger causa INF NFSPP não Granger causa NFSPJR NFSPJR não Granger causa NFSPP CAMBIO não Granger causa NFSPJR NFSPJR não Granger causa CAMBIO INF não Granger causa NFSPJR NFSPJR não Granger causa INF CAMBIO não Granger causa NFSPP NFSPP não Granger causa CAMBIO INF não Granger causa NFSPP NFSPP não Granger causa INF INF não Granger causa CAMBIO CAMBIO não Granger causa INF 46 Obs 51 51 51 51 51 51 51 51 51 51 Estatística-F Probabilidade 0,39893 0,53064 2,45813 0,12349 0,00353 0,95289 1,83892 0,18142 0,00075 0,97828 28,9225 2,2E-06 0,66832 0,41768 6,57531 0,01353 5,86448 0,01928 0,30028 0,58625 1,63749 0,20682 1,34362 0,25213 1,45033 0,23438 0,02581 0,87305 1,22694 0,27352 0,45066 0,50524 0,20550 0,65236 0,61440 0,43699 1,26698 0,26593 11,9718 0,00114 A análise do VAR está sumariada pelos resultados apresentados na decomposição da variância das variáveis sob análise (vide tabela 3.9) e de suas funções de impulsos-respostas depois de transcorridos 12 meses (vide figura 3.4). DIVPUB Câmbio NFSPP INF NFSPJR Tabela 3.9 Decomposição da variância após 12 meses DIVPUB Câmbio NFSPP INF 89,83909 1,419102 0,979435 1,609843 83,76400 8,112738 1,047469 0,596956 16,11679 2,962665 74,74484 4,709141 31,81062 5,809336 2,468657 58,28349 35,35088 2,996618 16,11329 4,538503 NFSPJR 6,152528 6,478836 1,466563 1,627895 41,00071 Nota: Ordem das séries: DIVPUB, Câmbio, NFSPP, INF, e NFSPJR. Com base na tabela 3.9 verifica-se que a importância relativa das diversas variáveis em análise na explicação da variância da DIVPUB não é significativa, uma vez que aproximadamente 90% de sua variância é explicada por si mesma. Em relação ao efeito de um choque externo sobre os valores passados da própria DIVPUB (primeiro gráfico situado na primeira linha da figura 3.4) observa-se que a regularidade indica um declínio dos impactos sem, contudo, anular-se até o décimo segundo mês. Quanto às demais variáveis, verifica-se que os efeitos de choques externos transmitidos estão próximos de zero, o que denota falta de significância estatística. Este resultado sugere que o principal responsável pela trajetória da dívida pública é o seu próprio estoque. De forma diferente do período anterior, em que a taxa de câmbio era a principal responsável pela explicação de sua dinâmica, para o período em consideração a DIVPUB representa a variável mais importante na análise de sua variância (84%), ao passo que a taxa de câmbio ficou reduzida a apenas 8%. Os dois primeiros gráficos localizados na segunda linha da figura 3.4 47 mostram o impacto de um choque externo transmitido pelas variáveis DIVPUB e câmbio respectivamente sobre a taxa de câmbio. A importância da DIVPUB na explicação do câmbio é muito significativa, uma vez que os efeitos de um choque, ao longo do tempo, encontram-se bem afastados de zero. Por outro lado, a importância da taxa de câmbio na transmissão de um choque sobre si mesma não se mostrou significativo, tendendo a desaparecer o efeito do choque a partir do sexto mês. Conforme pode ser observado por meio dos demais gráficos na linha supracitada as outras variáveis mostram-se desimportantes para análise da função impulso-resposta devido à falta de significância estatística. A importância relativa da NFSPP na explicação de sua variância é significativa (75%). A tabela 3.9 mostra que além da própria variável, apenas a DIVPUB também é relevante para análise da variância da NFSPP, uma vez que as variáveis câmbio, INF, NFSPJR juntas explicam apenas cerca de 9% de sua variância. A análise impulso-resposta revela que os impactos decorrentes de choques externos da própria variável (vide terceiro gráfico localizado na terceira linha da figura 3.4) tendem a se reduzir à medida que o tempo passa. Além disso, observa-se que os efeitos de um choque positivo transmitido pela DIVPUB não são eliminados ao longo do tempo (vide primeiro gráfico situado na linha sobredita). Esse resultado converge com aquele encontrado para o período anterior, sugerindo que o aumento no estoque da dívida pública leva à geração de superávits primários para estabilizar a razão dívida/PIB. As variáveis restantes não mostraram relevância estatística para análise da transmissão de choques externos para a NFSPP. 48 Figura 3.4 Função impulso-resposta para o VAR Response to Cholesky One S.D. Innovations ± 2 S.E. Response of DIVPUB to DIVPUB Response of DIVPUB to CAMBIO Response of DIVPUB to NFSPP Response of DIVPUB to INF Response of DIVPUB to NFSPJR 2.5 2.5 2.5 2.5 2.5 2.0 2.0 2.0 2.0 2.0 1.5 1.5 1.5 1.5 1.5 1.0 1.0 1.0 1.0 1.0 0.5 0.5 0.5 0.5 0.5 0.0 0.0 0.0 0.0 0.0 -0.5 -0.5 -0.5 -0.5 -0.5 -1.0 -1.0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 -1.0 1 Response of CAMBIO to DIVPUB 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 -1.0 1 Response of CAMBIO to CAMBIO 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 -1.0 1 Response of CAMBIO to NFSPP 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 1 Response of CAMBIO to INF .3 .3 .3 .3 .2 .2 .2 .2 .2 .1 .1 .1 .1 .1 .0 .0 .0 .0 .0 -.1 -.1 -.1 -.1 -.1 -.2 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 -.2 1 Response of NFSPP to DIVPUB 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 -.2 1 Response of NFSPP to CAMBIO 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 2 Response of NFSPP to NFSPP 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 1 Response of NFSPP to INF .3 .3 .3 .2 .2 .2 .2 .2 .1 .1 .1 .1 .1 .0 .0 .0 .0 .0 -.1 -.1 -.1 -.1 -.1 -.2 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 -.2 1 2 Response of INF to DIVPUB 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 -.2 1 2 Response of INF to CAMBIO 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 2 Response of INF to NFSPP 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 1 Response of INF to INF .6 .6 .6 .5 .5 .5 .5 .5 .4 .4 .4 .4 .4 .3 .3 .3 .3 .3 .2 .2 .2 .2 .2 .1 .1 .1 .1 .1 .0 .0 .0 .0 .0 -.1 -.1 -.1 -.1 -.1 -.2 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 -.2 1 Response of NFSPJR to DIVPUB 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 -.2 1 Response of NFSPJR to CAMBIO 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 Response of NFSPJR to NFSPP 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 1 Response of NFSPJR to INF 1.2 1.2 1.2 0.8 0.8 0.8 0.8 0.8 0.4 0.4 0.4 0.4 0.4 0.0 0.0 0.0 0.0 0.0 -0.4 -0.4 -0.4 -0.4 -0.4 -0.8 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 -0.8 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 -0.8 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 2 3 4 5 2 3 4 5 2 3 4 5 10 11 12 6 7 8 9 10 11 12 6 7 8 9 10 11 12 6 7 8 9 10 11 12 -0.8 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 1 2 3 4 5 Quanto aos resultados referentes à taxa de inflação, verifica-se que a importância da própria INF na explicação de sua variância é significativa (58%). Não obstante, o quarto gráfico localizado na quarta linha da figura 3.4 denota que os efeitos de um choque transmitidos pela própria variável é efêmero, sofrendo forte queda depois do primeiro mês. Este resultado sugere que a 49 9 Response of NFSPJR to NFSPJR 1.2 1 8 -.2 1 1.2 -0.8 7 Response of INF to NFSPJR .6 1 6 -.2 1 .6 -.2 5 Response of NFSPP to NFSPJR .3 1 4 -.2 1 .3 -.2 3 Response of CAMBIO to NFSPJR .3 -.2 2 6 7 8 9 10 11 12 presença de um componente inercial na explicação da trajetória da inflação é desprezível. O ponto que merece destaque na análise da inflação é a importância relativa da dívida pública na explicação de sua variância (32%). Ademais, o primeiro gráfico localizado na linha supracitada indica que o impacto de um choque positivo da DIVPUB tende a provocar um aumento na INF de forma duradoura. Mais uma vez, este resultado mostra-se compatível com o argumento de que uma elevação no estoque da dívida pública pode acarretar uma monetização da dívida que culmina com o aumento da inflação. A importância relativa da taxa de câmbio na análise da variância da INF não é muito expressiva (6%) e o impacto de uma elevação da INF devido a um choque externo transmitido pelo câmbio tende a se anular a partir do oitavo mês (vide segundo gráfico localizado na linha sobredita). Por último, as variáveis NFSPP e NFSPJR não se mostraram relevantes para a análise da dinâmica da INF. Para a análise da NFSPJR observa-se que a importância relativa da variável na explicação de sua variância é significativa (41%). Entretanto, o último gráfico localizado na última linha da figura 3.4 revela que o impacto de um choque transmitido pela própria variável tende a reduzir-se, tornando-se insignificante ao final de 12 meses. Ainda que a análise impulso-resposta revele que um choque positivo transmitido por meio da taxa de câmbio leve a um aumento da NFSPJR (vide segundo gráfico da linha já mencionada) e que um aumento da inflação acarrete uma redução na variável sob análise (vide terceiro gráfico da mesma linha), os efeitos têm curta duração e não são estatisticamente expressivos. Em contrapartida, as variáveis DIVPUB e NFSPP possuem importância relativa na variância da NFSPJR explicando cerca de 50 35% e 16% respectivamente. Conforme pode ser observado por meio do primeiro gráfico localizado na quinta linha da figura 3.4, um choque positivo transmitido pela DIVPUB eleva a NFSPJR, mas o efeito tende a declinar e desaparecer por completo a partir do sexto mês. Por outro lado, o terceiro gráfico da mesma linha mostra que (ainda que estatisticamente pouco expressivo) um aumento (redução) da NFSPP tende a elevar (diminuir) a NFSPJR perdurando ao longo dos 12 meses. Em outras palavras, um aumento no superávit (déficit) primário tende a reduzir (aumentar) as despesas do setor público com o pagamento de juros. 3.4. Uma breve reflexão sobre os resultados obtidos A análise do período agosto de 1994 a dezembro de 1998 revelou que a trajetória da dívida pública foi explicada em grande medida pelo seu próprio estoque. Ademais, foi observado que a queda da taxa de inflação não foi suficiente para promover uma redução nas despesas com o pagamento de juros reais do setor público. A justificativa para esse fenômeno se deve a dois pontos: (i) a vulnerabilidade da economia com o regime de câmbio fixo que culminou com uma elevação da taxa de juros reais no final desse período; e (ii) ao estupendo aumento do uso da SELIC como principal indexador da dívida que saltou de 22,07% em agosto de 1994 para 70,18% em dezembro de 1998. Além disso, observa-se que a desvalorização gradual da moeda concomitante ao aumento das NFSPJR devido às crises asiática e russa, e ainda a menor austeridade com o resultado primário a partir do início de 1996, contribuíram para uma elevação sustentada no endividamento público. 51 O motivo para a mudança no padrão da dívida pública com a alteração do regime cambial ocorrida em janeiro de 1999 se deve ao fato de que cerca de 30% da dívida pública estava indexada ao câmbio. Não obstante, conforme pôde ser observado por meio dos resultados encontrados na seção anterior, verificou-se que a dinâmica da dívida no período compreendido entre janeiro de 1999 e abril de 2003 tem o seu estoque como a principal variável explicativa. 52 4. Prazo médio da dívida pública em mercado e taxa de juros Em conformidade com a análise feita por Guidotti e Kumer (1991), os principais motivos para uma dívida pública prefixada concentrada em prazos muito curtos no período anterior à implementação do Plano Real são: (i) o desequilíbrio fiscal – responsável pelo aumento do temor dos agentes quanto à possibilidade de insolvência da dívida; e (ii) a expectativa de uma inflação elevada - impedia a fixação de prazos longos em virtude da possibilidade de perda para os detentores dos títulos devido à incidência da inflação. Em novembro de 1999, o Tesouro Nacional e o Banco Central do Brasil adotaram uma série de medidas com o objetivo de alongar o prazo médio e o aumento da participação dos títulos pré-fixados da dívida pública. A estratégia anunciada tem como principal fundamento os modelos teóricos desenvolvidos nos anos 90 que tiveram como principal recomendação para a administração da dívida pública uma estrutura de vencimento concentrada no longo prazo. Giavazzi e Pagano (1990) e Calvo e Guidotti (1990) destacaram a importância do gerenciamento da dívida pública como forma de evitar crises de confiança. Desde então, o tamanho da dívida assim como o prazo médio e sua estrutura de vencimento tornaram-se fundamentais para a análise da credibilidade na determinação da estrutura de vencimentos. De acordo com esta concepção, a concentração da dívida em poucos vencimentos não se mostra conveniente, pois no caso de haver uma crise de confiança o custo imposto ao governo não pode ser negligenciado. Sob tais circunstâncias, mesmo sem o problema de insuficiência de demanda pelos títulos públicos, o governo é obrigado a pagar um elevado prêmio de risco. 53 Além do tradicional argumento ressaltado por Sargent e Wallace (1981) de que dívida e déficit elevados são capazes de provocar um aumento da taxa de juros, o argumento acima mostra a possibilidade da existência de uma conexão entre o prazo médio da dívida pública em mercado e a determinação da taxa de juros. A idéia é que um prazo médio da dívida curto estaria associado a uma taxa de juros mais elevada, pois haveria um aumento no risco de insolvência do governo. Por outro lado, um prazo médio da dívida longo atenuaria as pressões de uma crise de curto prazo contribuindo para uma taxa de juros menos elevada. A importância da taxa de juros básica da economia (SELIC) para a análise da dívida pública brasileira é inquestionável. Ao longo do triênio 20002002 cerca de 53% dos títulos públicos federais estavam atrelados à taxa SELIC. Logo, aumentos ou reduções na SELIC provocam variações significativas nas despesas financeiras com o pagamento de juros da dívida. Apesar da estratégia de metas para a inflação implementada desde junho de 1999 ter a taxa de juros como principal instrumento para o controle da inflação, é importante ressaltar que os fundamentos da política fiscal (e portanto, fora do controle do banco central) são importantes para a determinação da taxa de juros nominal de curto prazo. A história recente da economia brasileira tem sido marcada por sucessivos choques que têm levado ao descumprimento das metas para a inflação preestabelecidas. Dentre os principais motivos (externos e internos) para esse comportamento pode-se destacar: a instabilidade na bolsa americana, os prejuízos em bônus corporativos de empresas dos EUA, a crise Argentina, e o caráter especulativo que se manifestou durante o período das 54 eleições presidenciais. O resultado de um ambiente macroeconômico desfavorável foi a necessidade do Tesouro Nacional encurtar o prazo dos títulos para pagar prêmios compatíveis com a exigência do mercado. Deste modo, o período recente tem sido caracterizado por uma rigidez para baixo da taxa de juros de curto prazo. O objetivo deste capítulo é verificar se há alguma influência do prazo médio da dívida pública em mercado e do nível de indexação dos títulos públicos pela SELIC para a determinação da taxa de juros básica da economia brasileira no período 2000-2002. 4.1. O referencial teórico: os modelos Giavazzi-Pagano e Calvo-Guidotti Os modelos que são examinados nesta seção, Giavazzi-Pagano (1990) e Calvo- Guidotti (1990) representam duas das principais referências na literatura econômica contemporânea para análise da dívida pública. O objetivo principal desses modelos concentra-se no papel do gerenciamento da dívida com forma de assegurar a estabilidade financeira, e por conseguinte, minimizar crises de confiança. 4.1.1. O modelo Giavazzi-Pagano O modelo Giavazzi-Pagano (1990) considera dois problemas potenciais para a manifestação de crises de confiança: (i) temor do público em relação ao governo quanto à probabilidade de insolvência da dívida pública; e (ii) possibilidade do banco central abandonar o regime de câmbio fixo. Para 55 efetuar a análise, o modelo admite quatro hipóteses básicas: economia aberta com regime de câmbio fixo, livre mobilidade de capitais, o público tem informação imperfeita sobre as preferências do governo ou capacidade do banco central em manter o regime de câmbio fixo, e há necessidade de rolagem de elevado estoque de dívida pública em todos os períodos. Além disso, no momento da rolagem da dívida, as condições presentes no mercado de títulos são fundamentais para o governo contornar uma crise de confiança. Tais condições podem ser sumariadas em três fatores: (i) o tamanho da dívida acumulada; (ii) o prazo médio de vencimento; e (iii) a estrutura de concentração de vencimentos. Quando o governo enfrenta condições adversas (elevado estoque da dívida, prazo médio de vencimento é curto, e os vencimentos são concentrados) e há uma crise de confiança no mercado, o refinanciamento da dívida ocorre em condições desfavoráveis (aumento do prêmio de risco). Logo, a expectativa dos agentes econômicos para mudanças significativas na condução da política econômica tende a aumentar. Em outras palavras, o problema de inconsistência temporal precisa ser levado em conta. É importante destacar que os problemas considerados no modelo não se limitam ao gerenciamento da dívida pelo governo. Mesmo em uma situação em que o banco central tem êxito na manutenção da paridade cambial depois de um ataque especulativo, o provável resultado é uma elevação da taxa de juros nominal. Este resultado se deve à arbitragem entre os ativos em moeda estrangeira e aqueles em moeda doméstica. Ademais, devido à restrição cambial, o banco central fica impedido de financiar o Tesouro, por conseguinte, 56 o montante da dívida que precisa ser refinanciado a cada período aumenta e há uma probabilidade crescente de ocorrer uma desvalorização cambial. A idéia intrínseca ao modelo é que uma política de administração da dívida pública adequada é capaz de aumentar a resistência frente a ataques especulativos. Sob essa ótica, uma estratégia que se baseie na dilatação do prazo médio para o vencimento da dívida (ou pulverize os vencimentos de forma homogênea) é capaz de reduzir a necessidade da captação de recursos pelo governo, tendo por conseqüência, uma menor variância na emissão da dívida. O esquema a seguir sintetiza as principais idéias contidas no modelo. Esquema 4.1 Modelo Giavazzi e Pagano (1990) GOVERNO BANCO CENTRAL dívida pública câmbio fixo elevado estoque dívida + prazo médio vencimento curto + vencimentos concentrados ↑ prêmio de risco ↑ estoque da dívida ↑ taxa de juros nominal ataque especulativo 57 Resultado: Sem política de administração da dívida ⇒ monetização ou default e desvalorização Resultado: Com política de administração da dívida ⇒ menor variância da emissão da dívida e maior resistência a ataques especulativos. 4.1.2. O modelo Calvo-Guidotti Da mesma forma que no caso anterior, o modelo em consideração possui quatro hipóteses fundamentais: o estoque da dívida é uma variável predeterminada; o nível de gastos governamentais é a fonte de incerteza no modelo; é assumida estrita paridade no poder de compra e na taxa de juros;28 e os governos podem limitar a ação dos próximos governantes no que se refere ao controle dos instrumentos de política econômica. O último ponto significa que o governo do período 0 tem o poder de limitar a ação do governo do período 1, este por sua vez, pode limitar a ação do governo 2, e assim por diante. Portanto, é estabelecida uma transitividade; entretanto, à medida que os períodos avançam, menor é a influência do governo mais antigo. O principal resultado obtido no modelo Calvo-Guidotti sugere que o uso da indexação é uma estratégia razoável, pois impede o uso do imposto inflacionário como instrumento para reduzir o estoque da dívida. Não obstante, a indexação total não é recomendada, uma vez que tende a ocorrer uma elevação na carga tributária em substituição à emissão monetária. Assim sendo, a solução mais próxima da ótima para o gerenciamento da dívida seria uma estrutura de vencimento de longo prazo e parcialmente indexada. O esquema 4.2 sumaria as principais idéias contidas no modelo Calvo e Guidotti (1990). 28 No caso de ausência de inflação internacional, uma inflação interna implica desvalorização cambial; e no caso de uma taxa internacional nula, a taxa de inflação esperada corresponde à taxa de juros nominal, respectivamente. 58 Esquema 4.2 Modelo Calvo e Guidotti (1990) Determina por completo as ações do próximo governo indexação ótima ⇒ estrutura de vencimento da dívida e a indexação são substitutos perfeitos Solução ótima ⇒ estrutura de vencimento da dívida concentrada no longo prazo GOVERNO (período 0) Solução mais próxima da ótima ⇒ dívida com estrutura de vencimento de longo prazo e parcialmente indexada Não determina por completo as ações do próximo governo Necessidade de uma combinação entre a indexação e o prazo de vencimento da dívida Se a indexação não for factível ⇒ concentração de vencimentos da dívida no curto prazo De acordo com o modelo Giovazzi e Pagano (1990) há sempre um prazo médio suficientemente longo para a dívida pública que é capaz de evitar uma crise de confiança. Sob essa perspectiva, um dos benefícios potenciais que uma dívida alongada poderia implicar seria a possibilidade de o Tesouro ser capaz de reorganizar o orçamento de forma que fossem evitados problemas para o pagamento do serviço da dívida no futuro. No caso do modelo Calvo e Guidotti (1990), se o governo no período 0 (aquele que dá início ao processo analisado no modelo) for capaz de determinar (por completo) a condução da política econômica dos próximos governos, a estrutura de vencimento da dívida e a indexação seriam substitutos perfeitos. Entretanto, no caso das ações dos próximos governos não se encontrarem limitadas é necessária a obtenção de uma combinação ótima entre a indexação e o prazo de vencimento. 59 De acordo com o modelo Calvo-Guidotti, no caso em que há liberdade para definir o grau de indexação ótima da dívida pública, a menor perda social seria resultado de uma estrutura concentrada em títulos de longo prazo. Por outro lado, se o uso da indexação não for viável, a melhor estratégia a ser utilizada seria a concentração de vencimentos da dívida no curto prazo. Em suma, o modelo mostra que o alongamento da dívida e a indexação representam um mecanismo capaz de forçar os próximos governos a cumprirem as metas para a política fiscal e para a inflação de forma que seja assegurada a credibilidade da política econômica. Em geral, os dois modelos sugerem que o alongamento da dívida representa uma boa estratégia para a administração da dívida pública. De acordo com as simulações apresentadas por Calvo e Guidotti (1990) o alongamento da dívida é a forma mais adequada para o caso em que o estoque da dívida ultrapassa 50% do PIB. Apesar dessa estratégia mostrar-se atraente, ela não é adequada para o caso de economias que apresentam baixa credibilidade. Sob tais condições, existe a tendência do público priorizar a liquidez (devido ao risco de default, inflação, debilidade nos fundamentos econômicos, etc.) fazendo com que o alongamento do prazo de vencimento da dívida somente possa ser obtido a um custo muito elevado (pagamento de uma taxa real de juros muito elevada). 4.2. Evidências empíricas Os modelos sumariados na seção anterior denotam que uma estrutura para a dívida pública concentrada em prazos curtos não se mostra adequada. 60 Portanto, é recomendado que ocorra um esforço do governo para a busca do alongamento da dívida. Não obstante, é observado que no caso de economias que não possuem credibilidade o esforço para estender o prazo da dívida é obtido ao custo de uma elevação na taxa de juros. Com base nessa idéia, torna-se relevante verificar (de forma preliminar) se a estratégia adotada pelo governo brasileiro em novembro de 1999 para aumentar o prazo médio da dívida pública e a participação de títulos pré-fixados causou alguma influência no comportamento da taxa de juros. Para efetuar essa análise foi construído um modelo auto-regressivo vetorial (VAR) a partir de dados mensais disponibilizados pela Secretaria do Tesouro Nacional e pelo Banco Central do Brasil referentes ao Prazo Médio da Dívida Pública Federal em mercado (PMDP)29, para a taxa de juros básica da economia (SELIC), e a percentagem dos títulos públicos federais indexados à taxa SELIC. Os dados compreendem o período que se estende de fevereiro de 2000 a dezembro de 2002. Para aplicação do VAR é preciso que as séries utilizadas no modelo sejam estacionárias. Assim, um primeiro ponto a ser avaliado consiste em verificar se as séries possuem raiz unitária. Os correlogramas dos valores originais das três séries (vide figura 4.1) revelam que os coeficientes de autocorrelação simples declinam de forma lenta e gradual à medida que o número de defasagens aumenta. Logo, observa-se que os valores atuais dependem dos valores passados denotando a existência de raiz unitária. 29 A Secretaria do Tesouro Nacional deu início a essa série em fevereiro de 2000. 61 Figura 4.1 Evolução e Correlograma das séries PMDP 75 0,8 60 0,6 45 0,4 30 0,2 15 2002:10 2002:6 2002:2 2001:10 2001:6 2001:2 2000:10 2000:6 0 2000:2 0 PMDP -0,2 SELIC 2,0 0,6 2001:6 2002:10 -0,2 2002:6 0,0 2002:2 0 2001:10 0,5 2001:2 0,2 2000:10 1,0 2000:6 0,4 2000:2 1,5 -0,4 SELICind 0,8 60 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 AC PAC SELIC 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 AC PAC SELICind 0,6 45 0,4 30 2002:10 2002:6 2002:2 2001:10 2001:6 2001:2 0 2000:10 0 2000:6 0,2 2000:2 15 -0,2 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 AC PAC Além da análise do correlograma das séries foi realizado o teste ampliado de Dickey-Fuller (ADF) para verificar a presença de raiz unitária. Conforme pode ser observado por meio da tabela 4.1, aceita-se a hipótese nula de raiz unitária (séries são não estacionárias) para os valores originais das séries.30 Em relação às primeiras diferenças, verifica-se que as séries são estacionárias, rejeitando-se a hipótese de raiz unitária para o nível de 30 Foi utilizado o critério de informação Akaike (AIC) para selecionar o número ótimo de defasagens. 62 significância de 1%. Estes resultados estão de acordo com aqueles que foram obtidos pela análise dos correlogramas das séries, o que implica que as três séries são integradas de primeira ordem, isto é, I(1). Especificação Constante Variável defasada Tendência Primeira diferença Segunda diferença Terceira diferença Quarta diferença Quinta diferença AIC0 AIC1 AIC2 AIC3 AIC4 AIC5 AIC6 Valor crítico 1% Valor crítico 5% PMDP 3,3705 -3,4109 -2,3827 5,9259 6,0184 6,0939 6,1735 6,1963 6,2895 6,3668 -4,2505 -3,5468 Tabela 4.1 Teste de raiz unitária ADF SELICind ∆SELICind ∆PMDP -0,4291 -2,9769 -7,4835 0,1719 -4,4150 3,3059 3,4026 -0,6681 2,4854 -2,4628 1,4248 -1,4079 3,7687 3,8416 6,0829 6,1707 3,8581 3,5460 6,2620 3,5964 3,5198 6,3678 3,5922 3,5831 6,4220 3,6399 3,6803 6,4577 3,7308 3,7871 6,5723 3,8389 3,9084 -2,6344 -4,2826 -4,2826 -1,9514 -3,5614 -3,5614 SELIC 2,6703 -2,8426 2,8622 -0,8073 0,3979 2,3459 1,8826 1,7212 -1,1771 -1,2926 -1,3231 -1,3712 -1,3487 -1,3739 -1,3305 -4,3082 -3,5731 ∆SELIC -7,2379 2,1539 -1,2400 -1,3351 -1,3304 -1,2334 -1,1677 -1,1264 -1,0375 -2,6369 -1,9517 Nota: A estatística t do teste ADF e estatística do critério de informação de Akaike (AIC) mínimo para a seleção do número adequado de defasagens estão em negrito. Para a definição da ordem do VAR foram utilizados os critérios de Akaike, Schwarz, e Hannan-Quinn.31 Conforme pode ser observado pelos resultados presentes na tabela 4.2, os três critérios utilizados indicam que o modelo adequado corresponde àquele com duas defasagens, por apresentar os menores valores para AIC, SC, e HQ. 31 AIC=-2(l/T)+2(k/T), SC=-2(l/T)+klog(T)/T, e HQ=-2(l/T)+2klog(log(T))/T; considera uma regressão com k parâmetros estimados usando T observações. l é o valor do log da função probabilidade com k parâmetros estimados. 63 Tabela 4.2 Critério de SC e HQ para ordem do VAR Defasagens AIC SC HQ 0 10,19560 10,33572 10,24042 1 8,957005* 9,517484* 9,136307* 2 8,960358 9,941196 9,274136 3 8,984413 10,38561 9,432668 4 9,108681 10,93024 9,691412 5 9,160910 11,40283 9,878118 Nota: Cada VAR foi estimado com constante irrestrita e sem tendência. * denota a ordem selecionada pelo critério. AIC: critério de Akaike. SC: critério de Schwarz. HQ: critério de Hannan-Quinn. Admitindo-se que os erros são ortogonalizados pela decomposição de Cholesky, o ordenamento das variáveis possui grande relevância para a análise da função impulso-resposta. Para verificar qual a melhor ordem para as variáveis no VAR foi aplicado o teste de precedência temporal de Granger (1969).32 O resultado do teste (vide tabela 4.3) rejeita a hipótese nula ao nível de 98% de que o PMDP não implica “causalidade” sobre a SELIC. Por outro lado, a hipótese nula de que a SELIC não “causa” PMDP foi aceita ao nível de significância de 96%. Também é observado que a SELIC “causa” indexação dos títulos ao nível de 74%. Quanto à relação entre o PMDP e a SELIC foi observado que não há uma direção de “causalidade” significativa. Portanto, os resultados do teste de Granger denotam que a melhor ordenação para as variáveis no VAR é dada por: PMDP, SELIC, SELICind. Com o objetivo de descrever o comportamento dinâmico e os efeitos de um choque para uma das variáveis endógenas no VAR, foi feita a análise da decomposição da variância e da função impulso-resposta. A tabela 4.4 mostra a explicação da variância do PMDP, da SELIC, e da SELICind para a observação de um choque em um período de 24 meses. 32 O teste de Granger avalia se uma série de tempo Xt “causa” outra série Yt, se esta for prevista de forma mais adequada pelos valores passados de Xt, e por outras variáveis relevantes, inclusive valores passados do próprio Yt. 64 Tabela 4.3 Teste de Precedência Temporal de Granger VAR(2) Hipótese Nula: Estatística-F Probabilidade SELIC não Granger causa PMDP 0,04010 0,96075 PMDP não Granger causa SELIC 5,08546 0,01306 SELICind não Granger causa PMDP 0,38311 0,68526 PMDP não Granger causa SELICind 0,40947 0,66792 SELIC não Granger causa SELICind 1,39981 0,26338 SELICind não Granger causa SELIC 0,21477 0,80804 A tabela 4.4 revela que ao longo dos 24 meses a importância da SELIC em conjunto com a SELICind na explicação da variância do PMDP não se mostrou significativa situando-se próxima a 10% desde o décimo mês. Apesar do efeito ter curta duração, a análise da função impulso-resposta (vide figura 4.2) indica que um choque positivo sobre a SELIC e a SELICind (segundo e terceiro gráficos localizados na primeira linha) tende a elevar o prazo médio da dívida. Ademais, observa-se que o PMDP na explicação de sua variância é muito significativo (oscilando em torno de 90% a partir do décimo mês). Por outro lado, verifica-se que o efeito de um choque externo sobre os valores passados do próprio PMDP (primeiro gráfico situado na primeira linha) mostra um declínio dos impactos tendendo anular-se a partir do nono mês. A explicação da variância da SELIC pelo PMDP não pode ser ignorada. Observa-se que durante o primeiro ano a importância do PMDP é crescente tornando-se estável no segundo ano (próxima a 41%). Fazendo-se a análise impulso-resposta para o VAR, observa-se que o primeiro gráfico situado na primeira linha da figura 4.2 confirma os resultados obtidos com a análise da decomposição da variância e o teste de Granger. O impacto de uma ampliação do PMDP tende a perdurar ao longo dos primeiros 15 meses contribuindo para uma redução na SELIC. Este resultado é muito expressivo para a análise, pois 65 sugere que um PMDP mais longo tende a reduzir as pressões para um aumento ou manutenção da taxa de juros em um patamar elevado. Mês 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 PMDP 100,0000 99,68019 99,53949 98,53892 97,06852 95,32929 93,68435 92,24992 91,13735 90,33922 89,82525 89,52987 89,38820 89,34036 89,34085 89,35847 89,37517 89,38283 89,37990 89,36850 89,35215 89,33430 89,31761 89,30370 PMDP SELIC 0,000000 0,002906 0,085796 0,637752 1,380710 2,356483 3,302897 4,183614 4,893694 5,431954 5,796843 6,022323 6,142350 6,193517 6,204972 6,198501 6,187858 6,180356 6,178643 6,182471 6,190197 6,199797 6,209515 6,218128 Tabela 4.4 Decomposição da variância SELIC SELICind PMDP SELIC SELICind 0,000000 0,987662 99,01234 0,000000 0,316907 2,571798 97,16679 0,261416 0,374712 17,14434 82,60659 0,249069 0,823324 20,53371 78,73817 0,728116 1,550765 28,71668 70,59263 0,690688 2,314229 32,78604 66,54345 0,670509 3,012751 36,90963 62,44511 0,645267 3,566463 39,21257 60,10045 0,686979 3,968959 40,87680 58,29895 0,824246 4,228830 41,67376 57,31476 1,011474 4,377903 42,04834 56,71576 1,235907 4,447808 42,08926 56,45620 1,454545 4,469449 41,99195 56,35572 1,652329 4,466121 41,83997 56,34833 1,811703 4,454179 41,70322 56,36556 1,931220 4,443026 41,60818 56,37955 2,012270 4,436968 41,56159 56,37609 2,062320 4,436815 41,55628 56,35447 2,089252 4,441457 41,57898 56,31987 2,101152 4,449025 41,61640 56,27914 2,104457 4,457657 41,65735 56,23874 2,103917 4,465906 41,69448 56,20304 2,102483 4,472873 41,72384 56,17447 2,101699 4,478174 41,74438 56,15353 2,102086 PMDP 0,120580 0,225965 0,459785 2,168884 4,339060 7,344837 10,31468 13,17057 15,55023 17,43750 18,79383 19,70190 20,24531 20,52956 20,64453 20,66539 20,64504 20,61705 20,59863 20,59553 20,60651 20,62704 20,65191 20,67669 SELICind SELIC 23,29063 33,50978 36,78499 39,21686 40,03148 39,95642 39,31837 38,42639 37,52774 36,73757 36,12995 35,70650 35,44995 35,32047 35,27881 35,28787 35,31982 35,35557 35,38461 35,40279 35,41023 35,40928 35,40307 35,39450 OBS. Ordem das séries: PMDP, SELIC, SELICind. Em relação ao impacto causado por um choque na SELIC pela SELICind o último gráfico localizado na segunda linha da figura 4.2 mostra que o efeito se aproxima de zero (estatisticamente inexpressivo). A irrelevância da SELICind para a análise da SELIC também é observada com a decomposição da variância explicando, no máximo, 2,1% da variância da SELIC. A importância relativa da SELIC na explicação de sua variância é significativa (próxima a 56% no segundo ano). Quanto ao impacto originário de um choque positivo sobre os 66 SELICind 76,58879 66,26425 62,75523 58,61425 55,62946 52,69874 50,36695 48,40304 46,92204 45,82493 45,07622 44,59161 44,30474 44,14997 44,07666 44,04675 44,03514 44,02738 44,01675 44,00168 43,98327 43,96368 43,94502 43,92881 valores passados da própria SELIC (gráfico situado no meio da segunda linha) verifica-se que há um declínio dos impactos tendendo a se anular a partir do oitavo mês. Figura 4.2 Funções de Resposta a Impulso para o VAR Response to Cholesky One S.D. Innovations ± 2 S.E. Response of PMDP to PMDP Response of PMDP to SELIC Response of PMDP to SELICIND 8 8 8 6 6 6 4 4 4 2 2 2 0 0 0 -2 -2 -2 -4 -4 5 10 15 20 -4 5 Response of SELIC to PMDP 10 15 20 5 Response of SELIC to SELIC .15 .15 .10 .10 .10 .05 .05 .05 .00 .00 .00 -.05 -.05 -.05 -.10 -.10 -.10 -.15 5 10 15 20 10 15 20 5 Response of SELICIND to SELIC 3 3 2 2 2 1 1 1 0 0 0 -1 -1 -1 -2 5 10 15 20 10 15 20 Response of SELICIND to SELICIND 3 -2 20 -.15 5 Response of SELICIND to PMDP 15 Response of SELIC to SELICIND .15 -.15 10 -2 5 10 15 20 5 10 15 20 Quanto aos títulos indexados à taxa SELIC, a tabela 4.4 permite observar que além da SELICind ser relevante para a explicação de sua própria variância, o PMDP e a SELIC também possuem importância. Cerca de 20% da 67 variância da SELICind é explicada pelo PMDP e 35% pela SELIC durante o segundo ano. A análise impulso-resposta revela que os impactos decorrentes de choques externos transmitidos pelas três variáveis tende a decrescer à medida que o tempo passa (gráficos localizados na terceira linha da figura 4.2). Não obstante, o efeito de um aumento no PMDP tende a provocar uma redução na indexação da dívida pública ancorada na SELIC por pouco mais de um ano. Por outro lado, um aumento na SELIC favorece a indexação da dívida por aproximadamente um ano. 4.3. Síntese dos resultados As evidências encontradas na seção anterior sugerem que o prazo médio da dívida pública em mercado tem importância para a determinação da taxa de juros básica da economia. Além disso, foi observado que o prazo médio da dívida desempenha papel relevante para aumentar ou reduzir o volume de títulos públicos indexados à taxa SELIC. Estes resultados permitem conjeturar que um dos motivos da rigidez para baixo da taxa de juros na economia brasileira observado nos últimos anos é resultado de uma estrutura de indexação inadequada da dívida pública. 68 5. Conclusões A análise efetuada no capítulo 2 sugere que uma estratégia adequada para a condução da política econômica diz respeito à ação coordenada entre as autoridades monetária e fiscal de forma que a busca da estabilidade de preços combinada a uma política fiscal responsável não implique custos sociais desnecessários. O principal ponto a ser realçado consiste no fato de que há a necessidade de que sejam levados em consideração os efeitos negativos que a ação de uma política monetária contracionista pode acarretar à política fiscal. Em outras palavras, é preciso que sejam desenvolvidos mecanismos que procurem eliminar não só os problemas provenientes da dominância fiscal, mas também aqueles oriundos da dominância monetária. Não obstante, os resultados encontrados indicam que a estabilidade de preços obtida com a introdução do Plano Real não foi o bastante para promover reduções no estoque da dívida pública. Além disso, deve-se salientar que os possíveis efeitos do superávit primário observado no período posterior a janeiro de 1999 sobre a dívida pública foram neutralizados por meio de sucessivas desvalorizações da moeda e da manutenção da taxa SELIC em um patamar elevado.33 Portanto, o problema para o endividamento público brasileiro não deve ser creditado à autoridade monetária devido aos custos fiscais indesejados que uma política monetária restritiva impõe. A estratégia anunciada pelo governo no final de 1999 de que seria buscado um alongamento da dívida pública mostra-se correta. Entretanto, conforme salientado por Sargent e Wallace (1981), uma economia que ainda 33 Em abril de 2003 cerca de 68% da dívida pública estava atrelada à SELIC e 15% ao câmbio. 69 não conta com credibilidade suficiente para neutralizar choques e possui um elevado estoque da dívida pública pode acarretar uma elevação da taxa real de juros acima da taxa de crescimento da economia. Este resultado está em consonância com a observação feita por Calvo e Guidotti (1990) de que embora a estratégia de alongamento da dívida seja recomendada para economias que possuem uma razão dívida/PIB superior a 50% o custo desse alongamento pode ser muito alto devido à elevação da taxa de juros. Uma observação relevante se refere à performance do regime de metas de inflação. A meta de inflação para o ano de 2000 (definida pelo governo em 4% com intervalo de tolerância de ± 2%) foi alcançada. Como conseqüência, o aumento da confiança dos agentes econômicos de que o Banco Central do Brasil seria capaz de manter a inflação sob controle favoreceu o aumento do prazo médio da dívida em mercado (vide primeiro gráfico localizado na figura 4.1). Entretanto, a partir de 2001 o desempenho do BCB no alcance das metas de inflação anunciadas deteriorou-se levando a uma reversão dos resultados obtidos ao longo de 2000 para ampliação do prazo médio da dívida pública. A explicação para um retrocesso na estratégia anunciada se deve ao fato de que a percepção dos agentes para o descumprimento das metas aumenta a incerteza implicando um aumento nos prêmios de risco e encurtamento do prazo de vencimento dos títulos da dívida. Uma possível forma de ampliar o prazo médio da dívida pública e reduzir as pressões sobre a taxa de juros é realizar uma mudança na composição da estrutura de indexação da dívida. É preciso que se reduza a proporção de títulos atrelados à taxa SELIC e ao câmbio e seja aumentado o volume de títulos indexados à 70 inflação.34 Deste modo, elevações na taxa de juros para arrefecer pressões inflacionárias também contribuiriam para reduções na razão dívida/PIB. Por conseguinte, haveria um incremento na credibilidade da política antiinflacionária que favoreceria a estratégia de ampliação do prazo da dívida pública. 34 Este argumento foi construído originalmente por Back e Musgrave (1941) sendo desenvolvido posteriormente por Lucas e Stokey (1983), Bohn (1988), e Calvo (1988). 71 Referências bibliográficas BACHA, E. L. (1995) “Plano Real: Uma Avaliação Preliminar.” Revista do BNDES, Rio de Janeiro, V. 2, N. 3, junho, 3-26. BACK, J.L., e MUSGRAVE, R.A., (1941) “A Stable Purchasing Power Bond.” American Economic Review 31, 823-825. BARNHART, S.W. e DARRAT, A.F. 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Amsterdam: North Holland. 74 Apêndice B: Anexos de dados Tabela B.1 1994:9 1994:12 1995:3 1995:6 1995:9 1995:12 1996:3 1996:6 1996:9 1996:12 1997:3 1997:6 A B 14,79497697 10,93393656 9,766562025 10,67051267 8,91649951 6,672506081 5,230529705 4,294646486 4,001475715 3,734143069 3,370206786 3,179364942 4,158547 5,860261 9,696345 8,736759 6,326559 4,234512 -1,76358 -0,43003 1,830172 2,677193 4,70434 4,509737 Nota: 1997:9 1997:12 1998:3 1998:6 1998:9 1998:12 1999:3 1999:6 1999:9 1999:12 2000:3 2000:6 A B 3,110172203 4,827169506 4,462249638 3,119479668 3,509503838 5,084089429 4,863099175 3,66823821 2,827799685 2,553122335 2,512802683 2,39043367 3,637852 3,288838 0,383171 1,06867 0,771979 0,139017 0,887854 -0,00553 -0,10111 0,780856 4,445401 4,450863 2000:9 2000:12 2001:3 2001:6 2001:9 2001:12 2002:3 2002:6 2002:9 2002:12 2003:3 A B 2,188517552 2,039067758 1,90851817 2,027083689 2,303975602 2,212301115 2,085704025 2,094706582 2,113566725 2,280948237 2,431844016 4,464884 4,337000 3,738808 2,864918 2,121831 1,395424 -0,39888 0,06865 0,894411 1,513543 1,457936 A = PIB – taxa acumulada até o trimestre (%); B = Selic real trimestral (% - deflator IPCA). Tabela B.2 C 1991 01 1991 02 1991 03 1991 04 1991 05 1991 06 1991 07 1991 08 1991 09 1991 10 1991 11 1991 12 1992 01 1992 02 1992 03 1992 04 1992 05 1992 06 1992 07 1992 08 1992 09 1992 10 1992 11 1992 12 1993 01 1993 02 1993 03 1993 04 1993 05 1993 06 1993 07 1993 08 1993 09 58,58 92,95 70,45 82,52 83,03 81,64 82,14 87,06 83,94 84 80,45 67,17 45,87 53,16 25,48 19,97 14,87 12,23 9,85 8,39 8,62 8,28 6,75 9,04 8,94 6,15 7,2 7,47 7,29 7,54 7,36 5,26 5,57 D 42,3266 39,6794 41,2589 42,0294 41,8418 39,6756 37,1967 35,811 34,4058 35,7026 37,0311 38,5837 37,144 35,8047 34,5859 33,2834 32,5383 33,8729 34,7201 34,5428 34,9185 35,415 35,2766 35,1178 34,4623 35,1794 36,1837 36,0181 35,0412 33,9788 32,8423 32,15 31,5899 E F G H I - - - - - 75 Tabela B.2 C 1993 10 1993 11 1993 12 1994 01 1994 02 1994 03 1994 04 1994 05 1994 06 1994 07 1994 08 1994 09 1994 10 1994 11 1994 12 1995 01 1995 02 1995 03 1995 04 1995 05 1995 06 1995 07 1995 08 1995 09 1995 10 1995 11 1995 12 1996 01 1996 02 1996 03 1996 04 1996 05 1996 06 1996 07 1996 08 1996 09 1996 10 1996 11 1996 12 1997 01 1997 02 1997 03 1997 04 1997 05 1997 06 1997 07 1997 08 1997 09 1997 10 5,36 3,79 3,78 11,14 10,72 10,02 8,35 8,15 19,15 19,99 22,07 27,41 27,58 24,46 16,03 13,969 17,6735 24,4437 24,7819 24,143 24,3794 31,1908 35,6583 40,6115 40,9943 40,0813 37,7734 33,0754 30,4625 26,0791 24,0993 20,4755 18,8645 18,4846 18,7771 17,8582 18,7886 18,3825 18,6078 18,5729 18,7373 19,129 19,246 19,254 19,3866 19,4145 19,19 18,8228 19,0892 D 31,3728 31,0338 31,1559 31,1139 30,9738 31,7948 32,7444 33,9298 34,6916 35,2255 34,2413 32,8262 31,579 30,9782 30,3797 30,0484 31,2722 32,7542 33,4384 34,1063 31,2811 30,1107 29,4646 29,5778 29,6765 30,0475 30,834 30,4824 29,5648 27,9173 27,4352 27,7107 28,7099 29,4642 30,3179 31,349 32,1418 32,7747 33,2303 33,5237 33,6275 33,7946 34,0018 33,716 32,8309 33,121 32,7893 33,103 33,2031 E F -5,42597 -5,75141 -6,3276 -5,61523 -5,21387 -5,29853 -4,13484 -4,30209 -4,44253 -4,47689 -3,60697 -3,14694 -2,57613 -2,01221 -1,42618 -0,97178 -0,26661 0,421824 -0,12198 -0,19369 0,48553 0,800312 0,840725 0,828062 0,856884 0,796087 0,808604 0,480231 0,094948 0,009657 -0,06973 0,238886 -0,10714 -0,16501 -0,67493 -0,5673 -0,83907 -0,66231 -0,10668 3,806439 3,62156 3,691645 3,851085 4,069383 4,096181 4,127444 4,143919 4,187203 4,170153 4,445513 4,332597 4,788712 5,266398 5,368957 5,366299 5,261863 4,534853 4,762176 4,65692 4,459032 4,335632 4,233819 3,990444 3,577451 3,253797 3,272244 3,269311 3,302467 3,847205 3,492499 3,379897 3,277385 3,17353 3,250556 3,357086 3,419728 3,418398 3,304206 76 (continuação) G 0,8986 0,8652 0,846 0,8418 0,8501 0,8471 0,8408 0,8894 0,9075 0,8974 0,914 0,9288 0,942 0,9528 0,9597 0,9634 0,9683 0,9745 0,9811 0,9861 0,9902 0,9953 1,0013 1,0069 1,0134 1,0193 1,0251 1,0304 1,0373 1,0429 1,0493 1,0567 1,0609 1,0683 1,0746 1,0807 1,0879 1,0936 1,1001 H I 1,860404 1,529524 2,620244 2,809497 1,710077 1,700018 1,019599 1,55035 2,43 2,67 2,26 2,36 0,99 0,99 1,41 1,47 1,56 1,34 1,03 0,35 1,26 1,22 1,19 1,11 0,44 0,15 0,3 0,32 0,47 1,18 0,5 0,51 0,88 0,41 0,54 0,22 -0,02 0,06 0,23 - - Tabela B.2 C 1997 12 1998 01 1998 02 1998 03 1998 04 1998 05 1998 06 1998 07 1998 08 1998 09 1998 10 1998 11 1998 12 1999 01 1999 02 1999 03 1999 04 1999 05 1999 06 1999 07 1999 08 1999 09 1999 10 1999 11 1999 12 2000 01 2000 02 2000 03 2000 04 2000 05 2000 06 2000 07 2000 08 2000 09 2000 10 2000 11 2000 12 2001 01 2001 02 2001 03 2001 04 2001 05 2001 06 2001 07 2001 08 2001 09 2001 10 2001 11 2001 12 2002 01 2002 02 2002 03 34,7832 34,9305 31,8304 27,7756 23,7642 21,1095 42,7331 55,3418 61,9516 65,6996 66,27 66,86 70,98 57,9188 57,1584 68,1914 67,2842 65,0478 64,0091 61,3152 58,8219 59,4969 58,4312 59,3478 61,0914 59,9545 59,8239 58,2925 53,599 54,8788 54,6753 54,3386 53,1523 52,673 51,9793 52,1533 52,2449 51,373 51,1212 50,1405 50,7855 49,4243 50,237 51,5305 51,014 49,309 48,7615 50,3444 52,791 52,6057 52,7213 51,1669 D 34,3285 35,0106 35,4324 35,5107 35,724 36,1655 37,4172 37,8013 38,1231 39,0113 40,205 41,2989 41,73 50,6562 51,1818 48,0526 48,2854 50,1087 50,4974 51,0589 52,1413 51,4132 51,2537 50,1694 49,3888 49,7591 50,1437 49,8997 50,5882 50,58 49,8045 49,004 48,3834 48,6952 49,4162 49,0195 49,4318 48,979 49,5932 50,0897 50,1716 51,8546 51,535 52,8186 53,9827 54,928 54,6476 53,1008 52,5711 55,1471 54,6702 54,6306 (continuação) E F G 0,870768 0,751732 0,890293 0,735257 0,683527 0,815836 1,367543 1,167412 1,01495 1,109082 0,716345 0,657432 -0,01163 -0,31419 -0,49705 -0,73728 -0,73618 -0,89057 -1,63311 -2,07616 -2,18178 -2,97633 -3,18849 -3,40383 -3,22528 -3,30262 -3,43726 -3,52126 -3,75459 -4,08521 -3,85121 -3,42905 -3,54969 -3,38707 -3,29059 -3,68436 -3,51158 -3,61727 -3,54179 -3,54805 -3,91658 -3,79585 -3,91552 -4,03442 -3,76864 -3,77726 -3,94813 -3,66817 -3,6953 -3,64262 -3,60533 -3,32817 3,381972 3,630222 4,078942 4,451101 4,855194 5,130052 5,479043 5,842694 6,137222 6,582481 7,141787 7,368369 7,416313 12,07245 11,92723 10,17458 10,01931 10,55524 10,33705 10,12753 10,50484 9,500148 8,692105 7,435209 6,635491 2,213524 2,440524 3,896439 4,15357 3,685801 3,066174 2,311386 1,924819 2,550555 3,255918 4,236147 4,68472 4,908403 4,953494 5,178073 5,102704 5,617782 5,389058 6,583658 7,214922 7,544768 7,27308 5,993265 3,97147 5,612679 5,192245 4,849502 1,1136 1,1199 1,1271 1,1337 1,1412 1,1481 1,1546 1,1615 1,1717 1,1809 1,1884 1,1937 1,2054 1,5019 1,9137 1,8968 1,6941 1,6835 1,7654 1,8003 1,8807 1,8981 1,9695 1,9299 1,8428 1,8037 1,7753 1,742033 1,768168 1,827932 1,808329 1,797824 1,809239 1,83919 1,879638 1,94801 1,96325 1,9545 2,0019 2,0891 2,1925 2,2972 2,3758 2,466 2,5106 2,6717 2,7402 2,5431 2,3627 2,3779 2,4196 2,3466 77 H 0,43 0,71 0,46 0,34 0,24 0,5 0,02 -0,12 -0,51 -0,22 0,02 -0,12 0,33 0,7 1,05 1,1 0,56 0,3 0,19 1,09 0,56 0,31 1,19 0,95 0,6 0,62 0,13 0,22 0,42 0,01 0,23 1,61 1,31 0,23 0,14 0,32 0,59 0,57 0,46 0,38 0,58 0,41 0,52 1,33 0,7 0,28 0,83 0,71 0,65 0,52 0,36 0,6 I 54,43 55,50 56,61 57,09 56,54 55,87 62,48 61,63 62,23 63,72 71,50 45,05 45,57 44,99 46,07 48,72 49,50 50,29 51,02 50,83 50,05 51,83 50,08 48,56 48,05 47,44 Tabela B.2 C 2002 05 2002 06 2002 07 2002 08 2002 09 2002 10 2002 11 2002 12 2003 01 2003 02 2003 03 2003 04 Nota: 51,1633 50,354 53,0078 55,7819 52,9006 54,2183 57,6745 60,8269 62,4189 62,6471 63,9279 67,6846 D 55,7 58,0952 62,0817 58,1574 63,6187 58,3817 56,6819 57,4404 56,2259 56,4285 54,9027 52,0788 E (continuação) F -3,29 -3,43442 -3,50893 -3,54791 -3,98822 -4,12386 -4,14473 -3,96447 -4,12301 -4,37637 -4,56683 -4,53327 4,776787 6,760708 8,040697 4,702345 6,825661 4,067734 3,46265 3,956306 3,260679 3,481802 3,080542 2,018876 G 2,4804 2,714 2,9346 3,1101 3,342 3,8059 3,5764 3,6259 3,4384 3,5908 3,4469 3,1187 H 0,21 0,42 1,19 0,65 0,72 1,31 3,02 2,1 2,25 1,57 1,23 0,97 C = Dívida total – setor público – líquida (% PIB); D = Necessidades de financiamento setor público primário (% PIB); E = Títulos federais indexados à Over/Selic - Mensal - (%); F = Necessidades de financiamento setor público – juros reais (% PIB); G = câmbio (R$/US$ comercial mensal); H = inflação (IPCA - variação % 12 meses); e PMDP = Prazo médio da dívida pública federal em mercado. Fonte: Banco Central do Brasil e Secretaria do Tesouro Nacional 78 I 46,72 45,31 47,71 46,11 48,34 45,81 47,68 44,93 -