herbivoria foliar em dodonaea viscosa

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HERBIVORIA FOLIAR EM Dodonaea viscosa (SAPINDACEAE) EM UMA
ÁREA ABERTA DE CLÚSIA EM RECUPERAÇÃO AMBIENTAL NO PARQUE
ESTADUAL PAULO CÉSAR VINHA, GUARAPARI, ES; COMO
INSTRUMENTO DE APRENDIZAGEM NO ENFOQUE CTSA
Carlos Moacir Colodete1,2; Rodolpho Henrique Waichert da Silva2; Messias Yazegy
Perim3
EEFM EMÍLIO NEMER (1). Centro Universitário Vila Velha, Rua Comissário José Dantas de Melo, 21, Boa Vista, Vila
Velha – ES - Programa de Pós-Graduação stricto sensu em Ecologia de Ecossistemas e-mail(s):
[email protected] / [email protected] - Instituto Federal do Espírito Santo, Rodovia BR-482 (Cachoeiro-Alegre), Fazenda Morro Grande, Campus Cachoeiro de Itapemirim – ES - e-mail: [email protected]
RESUMO
A herbivoria é uma importante relação interespecífica que contribuiu na evolução dos vegetais
superiores. Essa relação apresenta-se como um importante regulador populacional para
algumas espécies de plantas. Alguns fatores potencializam os efeitos da herbivoria, dentre os
quais se podem destacar o adensamento de vegetais. Áreas onde as espécies vegetais estão
adensadas oferecem aos predadores uma maior recompensa energética com um menor gasto
de tempo em forrageamento. Assim é esperado que a % de herbivoria apresente valores mais
significativos nessas áreas. O presente trabalho visa determinar a taxa de herbivoria e sua
correlação com adensamento em Dodonaea viscosa em área aberta de clúsia do Parque
Estadual Paulo César Vinha. Em uma área de 500 m 2 foram escolhidos indivíduos centrais e
seus cinco vizinhos mais próximos, em um total de 48 grupos. Foram contadas as folhas sem e
com marcas de herbivoria, foram medidas as distancias entre os indivíduos centrais e seus
vizinhos. Os resultados demonstraram a não normalidade dos dados e que não houve
correlação entre o adensamento de indivíduos e a % de herbivoria. O movimento CTS trouxe
como um de seus lemas a necessidade do cidadão de conhecer os direitos e obrigações de
cada um, de pensar por si próprio e ter uma visão crítica da sociedade onde vivem,
especialmente a disposição de transformar a realidade para melhor. A aprendizagem crítica
nesse trabalho vem a ressaltar que áreas de manchas de recursos vegetais mais ou menos
adensadas em regiões urbanas e rurais podem sofrer herbivoria.
Palavras chave: Taxa de herbivoria, adensamento, restinga, aprendizagem, CTSA
INTRODUÇÃO
Estudos sobre a herbivoria têm demonstrado as complexas relações existentes entre herbívoro
e vegetal (LOWMAN, 1985). Algumas espécies de plantas têm na herbivoria um dos principais
fatores de controle populacional, afetando diretamente suas taxas de sobrevivência e
crescimento populacional (PINTO-COELHO, 2000). Em geral, os herbívoros aumentam a
suscetibilidade de uma planta para a mortalidade em vez de matá-la diretamente (BACH,
1994). Este fato está relacionado ao consumo de superfícies fotossintetizantes, seus órgãos de
reservas e/ou suas estruturas reprodutivas (PINTO-COELHO, 2000). Os efeitos da herbivoria
sobre a fecundidade das plantas são, em grande parte, um reflexo dos efeitos sobre o
crescimento vegetal: as plantas menores produzem menos sementes. Entretanto, mesmo
quando o crescimento parece ser totalmente compensado, a produção pode ser reduzida
devido a uma transferência de recursos dos órgãos reprodutivos para os caules, folhas e raízes
(MOTHERSHEAD E MARQUIS, 2000).
Alguns fatores podem influenciar nos índices de herbivoria de uma população de plantas,
dentre os quais se destaca os efeitos do adensamento de indivíduos. Os consumidores tendem
a agregar-se em manchas proveitosas, onde a sua taxa esperada de consumo de alimento é a
mais alta (FRETWELL E LUCAS, 1970). Assim em locais de maior adensamento de indivíduos
de uma mesma espécies é esperado que as pressões de herbivoria sejam maior que em áreas
de distribuição espaça.
É necessário que a sociedade, em geral, comece a questionar sobre os impactos da evolução
e aplicação da ciência e tecnologia sobre seu entorno e consiga perceber que, muitas vezes,
certas atitudes não atendem à maioria, mas, sim, aos interesses dominantes.
Segundo (PINHEIRO et al. 2007) o enfoque CTSA no Ensino Médio promoverá um ensinoaprendizagem que propicie ao aluno habilidade de discussão sobre assuntos relacionados com
a ciência, a tecnologia e a implicação social das ciências nos aspectos ligados à sua área de
atuação que possa levá-lo, enfim, a uma autonomia profissional crítica. A aprendizagem crítica
nesse trabalho vem a ressaltar que áreas de manchas de recursos vegetais mais ou menos
adensadas em regiões urbanas e rurais podem sofrer herbivoria. Isso mostra que a ação
antrópica pode alterar a dinâmica de populações e comunidades, em uma simples construção
de praças, parques municipais com áreas verdes, estimulando o educando a fazer inferências
sobre as relações e sucessões ecológicas, bem como a ação antrópica no ambiente.
Cabe ressaltar que o enfoque CTSA que venha a ser inserido nos currículos é apenas um
despertar inicial no aluno, com o intuito de que ele possa vir a assumir essa postura
questionadora e crítica num futuro próximo. Isso implica dizer que a aplicação da postura CTS
ocorre não somente dentro da escola, mas, também, extra-muros (OSÓRIO, 2002).
O presente trabalho visa determinar a taxa de herbivoria em função do adensamento
populacional de Dodonaea viscosa em uma área em recuperação na formação aberta de clúsia
da restinga do Parque Estadual Paulo César Vinha na região de Setiba, ES.
MATERIAIS E MÉTODOS
O Parque Paulo César Vinha está situado numa região da planície quartanária no Estado do
Espírito Santo (20°33' -20038'S e 40023'-40026'W) e possui área de 1.480ha, com
comprimento de aproximadamente 12km e largura média de 2km. É constituído basicamente
por planície arenosa com vegetação característica de restinga. Fitofisionomicamente,
PEREIRA (1990a) distingue 11 formações vegetais na restinga do PEPCV: Halófila, Psamófilareptante, Pós-praia, Palmae, Mata de Myrtaceae, Mata Seca, Mata Periodicamente Inundada,
Mata Permanentemente Inundada, Brejo Herbáceo, Formação Aberta de Clusia e Formação
Aberta de Ericaceae (MARTINS et al. 1999). O presente trabalho foi efetuado em uma área de
formação aberta de Clúsia com aproximadamente 500 m 2, essa área passou por
desmatamento na década de 50 e está em processo de regeneração. A espécie D. viscosa foi
escolhida por ser a espécie herbácea mais abundante.
Indivíduos centrais de maior porte foram escolhidos e marcados, foram contadas suas folhas
sadias e as que apresentavam traços de herbivoria, as cinco plantas vizinhas mais próximas
também foram marcadas e suas folhas contadas. Com a utilização de trena foi medida a
distância das cinco plantas vizinhas para a espécime central. Foram consideradas apenas as
plantas com mais de 20 cm de altura.
Foi aplicado o teste de normalidade Kolmogorov-Smirnova/Shapiro-Wilk. As variáveis foram
Logaritimizadas e suas correlações foram avaliadas através do teste de Pearson.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Foram observados 48 grupos de indivíduos, perfazendo um total de 288 indivíduos avaliados.
Nestes um total de 20.273 folhas foram contadas, perfazendo predação de 0,142%.
O teste Kolmogorov-Smirnova/Shapiro-Wilk apontou para uma não normalidade dos dados
avaliados (Tab. 1).
Kolmogorov-Smirnova
Statistic
DF
Shapiro-Wilk
Sig.
Statistic
DF
Sig.
LnDist
.123
49
.062
.940
49
.015
LnFolh
.072
49
.200*
.950
49
.038
LnPred
.072
49
.200*
.992
49
.977
Tabela 1 – Resultados das avaliações de normalidade dos dados de herbivoria e adensamento,
para D. viscosa em área aberta de Clúsia do PEPCV.
Os resultados do teste de correlação de Pearson para distância entre os indivíduos e % de
predação, bem como número de folhas pela % de perdação não apresentaram correlações
significativas (Fig. 1 e 2).
Figura 1 – Correlação de Pearson para distancia entre indivíduos e % de predação de D.
viscosa em área aberta de Clúsia no PEPCV.
Num F ol. vs . % P red
0,7
0,6
y = -3E -05x + 0,1537
R 2 = 0,0018
0,5
0,4
0,3
0,2
0,1
0
0
500
1000
1500
2000
Figura 2 – Correlação de Pearson para número de folhas e % de predação de D. viscosa em
área aberta de Clúsia no PEPCV.
CONSIDERAÇÕES
A hípotese de maior perssão por herbivoria em zonas de maior adensamento de indivíduos não
pode ser comprovada neste trabalho. A concentração de predadores em áreas de
adensamento trazem vantagens quanto a não necessidade de gasto de energia para
forragemanto em zonas mais espaças de recurso. Porém, em caso de crescimento
populacional do predador as pressões de competição podem suprimir os benefícios da oferta
de recursos, esse fato leva a uma dimunuição da taxa de herbivoria no local, devido a migração
de espécimes (VOLTERRA, 1926; LOTKA, 1939). Toda via a não observação de grandes
populações de herbívoros no local não corrobora com essa idéia, uma vez que a percentagem
de folhas predadas não supera a de normais. Como os dados avaliados não foram
considerados normais segundo o teste de Kolmogorov-Smirnova/Shapiro-Wilk pode-se supor
que os resultados não representem a realidade da área ou imprimam algum tipo de tendência
ao observado. Assim para uma melhor avaliação dos efeitos do adensamento sobre a taxa de
herbivoria em D. viscosa se faz necessário uma análise de maior parcela populacional (N), bem
como a classificação dos estágios de vida dos indivíduos afetados. Por fim vale ressaltar a
importância do enfoque CTSA perante os questionamentos críticos e reflexivos acerca do
contexto científico-tecnológico e social e, em especial, sua relevância para o Ensino Médio. Os
pressupostos do movimento CTSA têm se ampliado em toda sociedade brasileira,
principalmente na área educacional. Dentro da proposta da Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional (LDB), configurada nos Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino
Médio (PCNEMs), percebe-se a relevância de aproximar o aluno da interação com a ciência e
a tecnologia em todas as dimensões da sociedade, oportunizando a ele uma concepção ampla
e social do contexto científico-tecnológico. Nesse âmbito, entender que a ação antrópica
realizando o acúmulo de áreas verdes, como manchas de recurso nas reservas legais, praças,
e outras localidades no ambiente urbano-rural influem na teia trófica, alterando a dinâmica de
populações e comunidades.
REFERÊNCIAS
BACH, C.E. 1994. Effects of herbivory and genotype on growth an survivorship of sand-dune
willow (Salix cordata). Ecological Entomology. 19; 303-309.
FRETWELL, S.D.; LUCAS, H.L. 1970. On territorial behavior and other fators influencing
distribution in birds. Acta Biotheoretica. 19; 16-36.
LOTKA, A.J. 1939. The growth of mixed populations: two species competing for a common food
supply. Journal of the Washington Academy of Sciences. 22; 461-469.
LOWMAN, M.D. 1985. Temporal and spatial variability in insect grazing of the canopies of five
Australian rainforest tree species. Australian Journal of Ecology. 10; 7-24.
MARTINS, M.L.L; CARVALHO-OKANO, R.M; LUCENO, M. 1999. Cyperaceae do Parque
Estadual Paulo César Vinha,Guarapari, Espírito Santo, Brasil. Acta boI. bras. 13(2): 187-222.
MOTHERSHEAD, K.; MARQUIS, R.J. 2000. Fitness impacts of herbivory through indirect effect
on plant-pollinator interactions in Oenothera macrocarpa. Ecology. 81; 30-40.
OSORIO, C.O.M. 2002. La educación científica y tecnológica desde el enfoque en Ciencia,
Tecnología y Sociedad: aproximaciones y experiencias para la educación secundaria. Revista
Ibero-Americana de Educação. Madrid. 28; 61-81.
PEREIRA, O.L. 1990a. Caracterização fitofisionômica da restinga de Setiba -Guarapari Espírito Santo. In: Simpósio de ecossistemas costeiros da costa sul e sudeste brasileira:
estrutura, função e manejo. Águas de Lindóia, SP. AClESP. 3; 207-219
PINHEIRO, N.A.M.; SILVEIRA, R.M.C.F.; BAZZO W.A. 2007. Ciência, Tecnologia e Sociedade:
A relevância do enfoque CTS para o contexto do ensino médio. Ciência & Educação. 13; 7184.
PINTO-COELHO, R.M. 2000. Fundamentos em ecologia. São Paulo. Artmed Editora. 93; 123133.
VOLTERRA, V. 1926. Variations and fluctuations of the numbes of individuals in animal species
living together. Animal Ecology. 56; 234-267.
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