Edilson Clemente Volume 2ª edição Elementos de Química Geral 1 Elementos de Química Geral Volume 1 2ª edição Apoio: Edilson Clemente Fundação Cecierj / Consórcio Cederj Rua Visconde de Niterói, 1364 – Mangueira – Rio de Janeiro, RJ – CEP 20943-001 Tel.: (21) 2299-4565 Fax: (21) 2568-0725 Presidente Masako Oya Masuda Vice-presidente Mirian Crapez Coordenação do Curso de Biologia UENF - Milton Kanashiro UFRJ - Ricardo Iglesias Rios UERJ - Cibele Schwanke Material Didático Departamento de Produção ELABORAÇÃO DE CONTEÚDO Edilson Clemente COORDENAÇÃO DE DESENVOLVIMENTO INSTRUCIONAL Cristine Costa Barreto EDITORA PROGRAMAÇÃO VISUAL Tereza Queiroz Cristina Maria Freixinho Alexandre d'Oliveira Bruno Gomes Marcelo Carneiro Renata Borges REVISÃO TIPOGRÁFICA ILUSTRAÇÃO COPIDESQUE DESENVOLVIMENTO INSTRUCIONAL E REVISÃO Zulmira Speridião Roberto Paes de Carvalho Elaine Bayma Patrícia Paula COORDENAÇÃO DE LINGUAGEM COORDENAÇÃO DE PRODUÇÃO Maria Angélica Alves Cyana Leahy-Dios Jorge Moura COORDENAÇÃO DE AVALIAÇÃO DO MATERIAL DIDÁTICO Fabiana Rocha CAPA Fabiana Rocha PRODUÇÃO GRÁFICA Andréa Dias Fiães Fábio Rapello Alencar Débora Barreiros AVALIAÇÃO DO MATERIAL DIDÁTICO Ana Paula Abreu Fialho Aroaldo Veneu Copyright © 2005, Fundação Cecierj / Consórcio Cederj Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida, transmitida e gravada, por qualquer meio eletrônico, mecânico, por fotocópia e outros, sem a prévia autorização, por escrito, da Fundação. C626e Clemente, Edilson. Elementos de química geral. v. 1 / Edilson Clemente. – 2.ed. – Rio de Janeiro: Fundação CECIERJ, 2008. 189p.; 19 x 26,5 cm. ISBN: 978-85-7648-385-4 2008/2 1. Química geral. 2. Evolução da química. 3. Propriedades. 4. Átomo. 5. Estruturas de Lewis. II. Título. CDD: 540 Referências Bibliográficas e catalogação na fonte, de acordo com as normas da ABNT. Governo do Estado do Rio de Janeiro Governador Sérgio Cabral Filho Secretário de Estado de Ciência e Tecnologia Alexandre Cardoso Universidades Consorciadas UENF - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE FLUMINENSE DARCY RIBEIRO Reitor: Almy Junior Cordeiro de Carvalho UFRJ - UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO Reitor: Aloísio Teixeira UERJ - UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO Reitor: Ricardo Vieiralves UFRRJ - UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO Reitor: Ricardo Motta Miranda UFF - UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE Reitor: Roberto de Souza Salles UNIRIO - UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO Reitora: Malvina Tania Tuttman Elementos de Química Geral SUMÁRIO Volume 1 Aula 1 – Evolução da Química: da Pré-história a Lavoisier ______________ 7 Aula 2 – Evolução da Química: de Lavoisier até os dias atuais __________ 19 Aula 3 – Propriedades gerais da matéria __________________________ 29 Aula 4 – O átomo é divisível!___________________________________ 45 Aula 5 – Estrutura eletrônica dos átomos __________________________ 61 Aula 6 – Propriedades periódicas dos elementos ____________________ 83 Aula 7 – Combinações entre átomos: a ligação iônica ________________ 97 Aula 8 – Combinações entre átomos: a ligação covalente_____________ 111 Aula 9 – Estruturas de Lewis: Parte l ____________________________ 125 Aula 10 – Estruturas de Lewis: Parte ll ___________________________ 137 Aula 11 – Forma das moléculas: Parte I __________________________ 155 Aula 12 – Forma das moléculas: Parte II__________________________ 167 objetivos AULA Evolução da Química: da Pré-história a Lavoisier 1 Meta da aula Descrever a evolução histórica da Química, até o século XVIII, como determinante na constituição desta ciência. Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de: • Identificar alguns materiais (e suas propriedades) usados desde a Antiguidade e que ainda estão presentes no cotidiano do homem moderno. • Compreender os princípios da teoria do flogisto. Elementos de Química Geral | Evolução da Química: da Pré-história a Lavoisier INTRODUÇÃO Consultando o verbete “química” em dicionários da Língua Portuguesa, encontramos a seguinte definição: “Química é o estudo científico da constituição da matéria, suas propriedades, transformações e as leis que as regem.” Esta definição mostra que a Química é uma ciência exata, regida por leis bem estabelecidas e estruturadas. Estas leis permitem a análise e a previsão do comportamento de substâncias que existem naturalmente, ou que são produzidas pelo homem. Entretanto, o caráter científico da Química só foi estabelecido há cerca de três séculos. Até o século XVIII, as práticas químicas se misturavam aos conceitos da alquimia, fazendo com que seu caráter científico fosse mascarado, algumas vezes, pelos ensinamentos místicos dos alquimistas. Por isso, é interessante observar como essa ciência evoluiu ao longo do tempo. Nesta primeira aula, você vai acompanhar a evolução da Química, desde tempos imemoriais até o ponto em que ela se tornou uma ciência exata. A QUÍMICA NOS TEMPOS ANTIGOS: PASSEANDO PELA HISTÓRIA O ser humano utiliza a Química desde o seu surgimento na Terra, ainda que nos primórdios não tivesse consciência deste fato. Os homens da Pré-história usavam pigmentos extraídos das plantas e dos demais reinos da Natureza para decorar suas cavernas ou representar seu cotidiano e suas crenças. São famosas as pinturas em cavernas encontradas em vários locais do mundo, inclusive no Brasil, como está ilustrado na Figura 1.1. Figura 1.1: Pintura do homem das cavernas encontrada no Nordeste do Brasil. 8 CEDERJ 1 O domínio do fogo, que o homem conhecia mas não controlava, AULA permitiu a produção de grande variedade de utensílios e ferramentas. O homem aprendeu a extrair e a trabalhar o cobre, o bronze e o ferro. Por conseqüência, as comunidades que sabiam trabalhar os metais assumiram a liderança sobre as demais. Em um salto histórico, estamos agora por volta de 4000-3000 a.C. No Oriente Próximo (onde hoje estão o Egito, a Síria, a Turquia, o Líbano e Israel), bem como na China e na Índia, florescem as primeiras grandes civilizações. Dentre elas, a egípcia foi a que mais influenciou a humanidade nos tempos antigos. Nos séculos seguintes, os egípcios trabalharam o ferro, o ouro, a prata e outros metais. Ainda fabricaram o vidro, produziram tintas e pigmentos para pintura de ambientes, papiro para a escrita, aprenderam a curtir o couro e extrair corantes, medicamentos e perfumes das plantas, fabricaram bebidas fermentadas e aprenderam a produzir sabão e vinagre. Não podemos esquecer que os egípcios dominavam a técnica da mumificação e, para tal, utilizavam resinas especiais, provavelmente extraídas de plantas e misturadas com matérias do reino animal. Esta técnica tinha a função de preservar o corpo do morto por longo período, e nela atingiram níveis de perfeição admirados até hoje. A tecnologia egípcia foi absorvida, difundida e, algumas vezes, aprimorada pelos outros povos da Antiguidade. Entretanto, é importante assinalar que o conhecimento adquirido por esses povos era totalmente empírico, ou seja, baseado na experiência do dia-a-dia. Não havia registro de uma preocupação sistemática com o estudo da natureza da matéria e de suas propriedades até cerca de 500-400 a.C., quando os gregos desenvolveram os primeiros modelos para explicar como são formadas as substâncias presentes na Natureza. CEDERJ 9 Elementos de Química Geral | Evolução da Química: da Pré-história a Lavoisier ATIVIDADE 1. O vidro é um material utilizado pelos antigos egípcios e faz parte integrante do dia-a-dia da civilização atual. Entre num site para pesquisar quais são os principais componentes do vidro comum e dos vidros coloridos. RESPOSTA COMENTADA Você vai descobrir que o vidro é feito com uma das matérias-primas mais baratas que podemos encontrar na Natureza: a areia. Esta é, essencialmente, formada por silicatos de sódio e alumínio. O vidro colorido é obtido pela adição de óxidos de ferro, cobre, cromo, cobalto ou manganês. A engenhosidade do homem em manipular os materiais que a Natureza oferece é o segredo de sua evolução neste planeta. OS PRIMEIROS MODELOS TEÓRICOS EM QUÍMICA A civilização grega é considerada mãe da civilização ocidental. Ela influenciou todos os povos que a sucederam – em especial os romanos, – particularmente nas artes, na filosofia, na ciência e na religião. Para os gregos, estes aspectos da cultura humana estavam intimamente relacionados. Esta visão holística do mundo levou a indagações de caráter filosófico sobre a natureza das substâncias formadoras do Universo, cabendo aos gregos a elaboração dos primeiros modelos para a constituição da matéria. Por volta de 420 a.C., o filósofo Demócrito (∼460-370 a.C.) defendia o modelo de seu mestre Leucipo, que propôs ser a matéria constituída de partículas infinitamente pequenas e indivisíveis, chamadas átomos. Assim, cada substância seria formada por átomos nela presentes. O modelo corpuscular de Leucipo se opunha ao de Empédocles (490Figura 1.2: Demócrito. 435 a.C.); este supunha ser o universo formado pela união dos quatro elementos: fogo, ar, terra e água. O modelo dos quatro elementos foi adotado por Aristóteles (384-322 a.C.), filósofo grego de maior influência no Ocidente. As idéias aristotélicas dominaram o pensamento do Ocidente e do Oriente Próximo, levando ao fortalecimento da alquimia, forma como a Química mais se desenvolveu pelos séculos seguintes. Figura 1.3: Aristóteles. 10 CEDERJ A ALQUIMIA era uma “arte secreta” na qual se misturavam idéias de magia e práticas químicas. Os primeiros registros são em Alexandria e apresentam forte inspiração filosófica da teoria dos quatro elementos, defendida por Aristóteles. A alquimia perdeu prestígio na Europa por volta de 292 d.C., devido à destruição de muitos escritos guardados em Alexandria, Palavra derivada ¯ ¯ do árabe al-kımıá, que por sua vez originou-se do ¯ grego chymeıa, cujo significado é “mistura de vários ingredientes”. mas manteve sua influência entre os povos do Oriente Próximo. Com a chegada dos árabes ao continente europeu alguns séculos depois, a alquimia tornou-se novamente importante, embora seus praticantes fossem, muitas vezes, perseguidos pela Igreja Católica. Os árabes levaram consigo os ensinamentos de vários livros secretos, considerados a base dos estudos alquímicos. Os ideais dos alquimistas estavam relacionados à descoberta da “pedra filosofal”, capaz de transformar qualquer metal em ouro; e do elixir da longa vida, capaz de curar todas as doenças. Na Figura 1.4, você pode ter uma idéia de como funcionava um “laboratório” de alquimia. Imagens como esta ficaram registradas no subconsciente das pessoas, imprimindo à Química, durante séculos, um caráter pouco científico. Figura 1.4: Um laboratório alquímico, no qual se buscava a “pedra filosofal”. CEDERJ 11 1 ALQUIMIA AULA A ALQUIMIA E A IATROQUÍMICA Elementos de Química Geral | Evolução da Química: da Pré-história a Lavoisier Um trecho do Compositum de compositis de Alberto, o Grande (1193-1280), um dos maiores alquimistas do Ocidente, traduz claramente o pensamento dos praticantes na Idade Média : “Observou-se que a natureza dos metais, tal como a conhecemos, é engendrada, de uma maneira geral, pelo Enxofre e o Mercúrio. Somente a diferença de cocção e de digestão produz a variedade na espécie metálica. Eu próprio observei que num só e único vaso, quer dizer, num mesmo filão, a natureza produziu vários metais e a prata, disseminados por aqui e ali. Demonstramos claramente no nosso ‘Tratado dos minerais’ que, de fato, a geração dos metais é circular, passando facilmente de um a outro, segundo um círculo; os metais vizinhos têm propriedades semelhantes; é por isso que a prata se transforma mais facilmente em ouro que qualquer outro metal.” Os alquimistas não conseguiram chegar às metas sonhadas, mas, ao longo de suas pesquisas, acabaram produzindo novos materiais como o álcool, o ácido sulfúrico, o ácido nítrico e muitos outros ácidos, bases, sais e óxidos. Também descobriram e manipularam vários metais e substâncias elementares importantes, como o enxofre, o fósforo, o mercúrio e o cádmio. Fabricaram, ainda, novos artefatos para o uso em suas práticas alquímicas (como o almofariz e o alambique) e aperfeiçoaram novas técnicas, como a destilação e a extração. A alquimia contribuiu muito para o desenvolvimento da técnica química, mas não para as explicações dos fenômenos químicos. Recorde da Química Básica que: Ácidos inorgânicos são substâncias que contêm o íon H+; Bases inorgânicas são substâncias que contêm o íon OH-; Sais inorgânicos são obtidos pela combinação entre ácidos e bases; Óxidos são compostos formados por um metal ou não-metal e oxigênio. Entre os alquimistas mais famosos do Ocidente, podemos destacar os nomes de Maria, a Judia, Nicolas Flamel (1330-1418) e Paracelso (1494-1541). A primeira é uma figura lendária, não se sabendo precisar quando existiu ou mesmo se este nome se refere a uma única pessoa. A ela atribui-se a criação do banho-maria, tão utilizado em aplicações científicas e mesmo caseiras. Flamel, por sua vez, enganou a muitos e a si mesmo, dizendo ter obtido o segredo da transmutação de metais menos nobres em ouro. 12 CEDERJ Bombastus von Hohenmheim, dedicou boa parte de sua vida ao preparo de medicamentos extraídos das plantas e dos outros reinos da Natureza. Com ele, as artes mágicas da alquimia, já em declínio, adquiriram um caráter mais científico. A alquimia praticada por Paracelso e seus seguidores foi chamada I A T R O Q U Í M I C A . Doutrina médica reinante no século XVI que pretendia explicar os fenômenos fisiológicos pelas leis da Química. Figura 1.5: Paracelso. Com o surgimento da iatroquímica, a Química entrou em nova fase, inclinada à Medicina. Segundo o próprio Paracelso, “o fim próprio da Química não é fazer ouro, é preparar remédios”. Vale a pena notar que a alquimia se difundiu em plena Idade Média. A época de Paracelso corresponde precisamente ao período de transição entre a Idade Média e a Idade Moderna, marcado pelo Renascimento nas artes, na ciência, na religião e na organização social e política do Ocidente. CEDERJ 13 1 IATROQUÍMICA AULA Paracelso, cujo nome verdadeiro é Philippus Aureolus Theophrastus Elementos de Química Geral | Evolução da Química: da Pré-história a Lavoisier ATIVIDADE 2. No texto a seguir, estão materiais utilizados pelos alquimistas. Ao final do texto, são apresentadas definições que se encaixam corretamente nele. Utilize seus conhecimentos de Química Básica para completar adequadamente os espaços pontilhados. As definições descrevem materiais (e algumas propriedades deles) usados pelos alquimistas. O enxofre, .................................., era muito utilizado nas práticas alquímicas. Ao queimar, produz o .............................., um gás tóxico de odor irritante. O mercúrio era outro material querido dos alquimistas: atraía-os uma propriedade incomum, a de ser ............................... Muitos metais eram corroídos com ...................., um líquido xaroposo que provoca queimaduras dolorosas. Finalmente, o grande fascínio dos alquimistas era o ouro, ................................. a) Um metal amarelo brilhante e muito maleável b) Um sólido amarelo, opaco e muito quebradiço c) Dióxido de enxofre d) Ácido sulfúrico e) Um metal líquido à temperatura ambiente RESPOSTA COMENTADA Você precisa conhecer algumas propriedades dos materiais apresentados no texto. Felizmente são comuns, fazem parte do nosso dia-a-dia. O enxofre é um sólido amarelo e opaco, que se quebra com muita facilidade; a sua queima produz o dióxido de enxofre (SO2), um gás muito tóxico e que pode levar até à formação de ácido sulfúrico na atmosfera. O mercúrio é o único metal líquido à temperatura ambiente: é usado nos termômetros. O ácido sulfúrico é uma substância altamente corrosiva, com inúmeras aplicações em laboratório e indústria. O ouro é um metal de cor amarelo brilhante utilizado na fabricação de jóias e em partes de alguns instrumentos de precisão. b, c, e, d, a. O NASCIMENTO DA QUÍMICA MODERNA: A CIÊNCIA VENCE A CRENÇA O Renascimento marcou um novo período na civilização ocidental. O método científico de investigação foi introduzido por pensadores importantes como Rennè Descartes (1596-1650) e explicado por Francis Bacon (1561-1626) em seu livro Novum Organum, em 1620. As idéias destes pensadores se opunham às práticas alquímicas, nas quais não havia um método científico de obtenção e estudo das propriedades dos materiais utilizados. A figura de Robert Boyle (1627-1691) foi decisiva 14 CEDERJ 1 na implantação do método científico de investigação em Química. Suas AULA experiências com gases marcaram, para muitos, o início da Química moderna. ! As experiências de Boyle com os gases o levaram a formular a lei de Boyle, que diz ser a pressão (p) de um gás inversamente proporcional ao seu volume (V) se a temperatura (T) for constante. A forma matemática desta lei é pV = C, T constante, na qual a constante C depende apenas da temperatura. A determinação de C levou à famosa equação dos gases perfeitos: pV = nRT. Figura 1.6: Robert Boyle. A lei de Boyle fornece base para explicar as alterações que ocorrem na capacidade respiratória de mergulhadores no mergulho livre. Nossos pulmões têm uma capacidade média de seis litros de ar à pressão atmosférica. Quando um mergulhador atinge profundidades de algumas dezenas de metros, está sujeito a uma pressão muito maior; desta forma, sua capacidade pulmonar diminui sensivelmente. Figura 1.7: Um mergulhador desprovido de equipamento de mergulho tem sua capacidade pulmonar reduzida pelo aumento da pressão em seus pulmões. CEDERJ 15 Elementos de Química Geral | Evolução da Química: da Pré-história a Lavoisier Boyle definiu elemento como qualquer substância que não pode ser dividida em substâncias ainda menores. Afirmou ainda que a matéria é composta por “corpúsculos” (átomos) de várias espécies e tamanhos capazes de formarem grupos, sendo que cada um deles constitui uma substância química. Com estas hipóteses, Boyle fez renascer as antigas idéias de Demócrito sobre a estrutura da matéria. Na tentativa de explicar o fenômeno da combustão, Georg Stahl (1660-1734) propôs, em 1697, a teoria na qual entendia que as substâncias queimavam porque eram ricas em uma certa substância chamada flogisto. A palavra flogisto vem do grego e significa “eu inflamo”. Segundo esta teoria, um corpo combustível era constituído de “terra metálica” e flogisto. A combustão era, segundo Stahl, a liberação do flogisto, que se manifestava sob a aparência de fogo livre. Você conseguiu entender? Vamos explicar! Para Stahl, a queima de um metal era vista como a perda do flogisto, deixando apenas a “cal” do metal (o óxido formado pela reação de combustão). Hoje entendemos este processo como uma reação de oxidação, com a formação de óxido do metal, segundo o esquema: Metal + oxigênio → óxido do metal. saída de flogisto O mesmo princípio se aplicava à queima do carvão, produzindo gás carbônico. A chama nada mais era do que abundância de flogisto, como está ilustrado na Figura 1.8. A teoria do flogisto ganhou um grande número de simpatizantes, mas teve de enfrentar uma dificuldade que levou, mais tarde, à sua queda: verificou-se que os materiais resultantes da combustão (chamados materiais “deflogisticados”) pesavam mais do que o material com flogisto. Hoje podemos entender que esse fato é absolutamente coerente: a oxidação de um metal, por exemplo, o transforma no seu óxido; a substância formada tem massa maior que o metal puro, pois a ele foi incorporado o oxigênio do ar. Entretanto, na época de Stahl, não se sabia que a combustão era devida à reação das substâncias com o oxigênio. A descoberta do oxigênio por Joseph Priestley (1733-1804) e experiências bastante mais elaboradas de combustão de materiais à luz dessa nova descoberta, realizadas pelo próprio Priestley e por Antoine Figura 1.8: Segundo Stahl, a combustão era a liberação de flogisto, que saía pela chama do material queimado. 16 CEDERJ Lavoisier (1743-1794), destruíram a teoria do flogisto. Estamos no final do século XVIII e no começo de uma nova era para a Química. 1 Com isso, podemos ver que a história desta ciência vai muito além de AULA uma simples história. Vamos parar por aqui! Faça a Atividade Final para “fechar” esta breve introdução do curso. Figura 1.9: Joseph Pristley. ATIVIDADE FINAL O ferro se transforma em ferrugem (óxido de ferro) pelo contato com o oxigênio do ar atmosférico. Imagine que você tem a reação ferro + oxigênio → óxido de ferro. Como você mostraria que a teoria do flogisto não é válida? ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ RESPOSTA COMENTADA A teoria do flogisto foi uma tentativa de explicar os processos de combustão dos materiais. Uma dificuldade observada foi que a massa do material queimado era, muitas vezes, maior que a do material original. Este é o caso da oxidação de um metal. Na reação dada, um metal se transforma em seu óxido pela ação do oxigênio do ar. Se você pesar o material antes e depois da combustão, verá que o material oxidado tem massa maior que o metal puro. Se houvesse perda do flogisto do metal, o material queimado deveria ficar mais leve, o que entra em contradição com os resultados experimentais e mostra a inconsistência da teoria do flogisto. CEDERJ 17 Elementos de Química Geral | Evolução da Química: da Pré-história a Lavoisier RESUMO A história da Química se confunde com a história da humanidade. Desde tempos imemoriais, a Química está presente no cotidiano do homem. Uma medida do grau de desenvolvimento de um povo pode ser dada pelo número de materiais que podem ser manipulados por ele. A Química dos povos antigos e da Idade Média era essencialmente empírica; pouco interesse havia em compreender a natureza mais íntima da matéria. Com o Renascimento, inaugurando a Idade Moderna e trazendo o método científico sistemático de investigação, a Química passa, ao fim do século XVIII, a ter o status de ciência. INFORMAÇÃO SOBRE A PRÓXIMA AULA Na próxima aula, você vai acompanhar o fabuloso desenvolvimento da Química nos séculos XIX e XX, e as perspectivas atuais desta ciência. 18 CEDERJ objetivos AULA Evolução da Química: de Lavoisier até os dias atuais 2 Metas da aula Apresentar os principais períodos da evolução da Química, desde Lavoisier até os dias atuais. Descrever o modelo atômico de Dalton. Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de: • Aplicar a teoria atômica de Dalton à representação de processos químicos. • Identificar algumas áreas importantes da Química contemporânea. Pré-requisito Para acompanhar esta aula, você deverá rever o percurso histórico que foi apresentado na Aula 1 desta disciplina. Elementos de Química Geral | Evolução da Química: de Lavoisier até os dias atuais INTRODUÇÃO Vimos na aula anterior que, ao final do século XVIII, as bases científicas da Química foram estabelecidas, dando a ela o status de ciência exata. O químico francês Antoine Lavoisier foi fundamental neste processo. Graças a ele, as leis das combinações químicas ficaram bem estabelecidas, permitindo que, no início do século XIX, John Dalton propusesse o primeiro modelo atômico consistente com os dados experimentais disponíveis na época. A partir daí, um crescimento impressionante de técnicas de análise e síntese de compostos químicos marcou os séculos XIX e XX. Nesta aula, você vai acompanhar o notável desenvolvimento da Química, tanto na parte experimental quanto teórica, desde o final do século XVIII até os dias atuais. LAVOISIER E DALTON Em 1789, no seu Tratado elementar de Química, Antoine Lavoisier (1743-1794) fala das suas experiências com a combustão de metais e outros elementos. Ele observou que o aumento da massa do material queimado não se dá pela perda do flogisto (lembra do final da aula anterior?), mas sim pela incorporação de uma certa quantidade de ar (mais precisamente de oxigênio) ao metal. Seus trabalhos de análise quantitativa dos produtos obtidos nas reações de combustão e em outras reações químicas o levaram a propor a LEI DA CONSERVAÇÃO DA MASSA, ajudaram Joseph Proust (1754-1826) a estabelecer a LEI DEFINIDAS. DA CONSERVAÇÃO DA LEI DAS PROPORÇÕES Estas duas leis formam a base da estequiometria, que você estudará detalhadamente mais adiante em nosso curso. (Lavoisier) Em uma reação química, a soma das massas dos reagentes é igual à soma das massas dos produtos. “Na Natureza nada se perde, nada se cria. Tudo se transforma”. LEI DAS MASSA PROPORÇÕES (Proust) Um composto é formado por elementos específicos combinados sempre na mesma proporção em massa. DEFINIDAS Figura 2.1: Antoine Lavoisier. 20 CEDERJ e 2 Além da lei da conservação da massa, podemos destacar como AULA contribuições de Lavoisier: a) a definição precisa de elementos químicos e sua descrição; b) a descrição dos compostos químicos formados pelas combinações entre os elementos; c) a primeira nomenclatura sistemática dos compostos inorgânicos, usando seus elementos constituintes; d) a composição quantitativa dos compostos pelo uso de balanças de precisão; e) medições quantitativas das propriedades térmicas dos elementos, dos compostos e das reações entre eles, pela construção e uso de calorímetros. Se não inaugurou, Lavoisier fez avançar em muito a Química Analítica, Química Inorgânica e Termodinâmica Química. Os resultados das experiências de Lavoisier e Proust forneceram a base sobre a qual John Dalton (1766-1844) pôde formular, em 1808, o seu modelo atômico. Neste primeiro modelo quimicamente consistente, Dalton propôs que: a) a matéria é composta por partículas indivisíveis chamadas átomos; b) todos os átomos de um elemento particular são idênticos em massa e outras propriedades; c) os átomos de diferentes elementos diferem em massa e outras propriedades; d) os átomos são indestrutíveis e simplesmente se rearrumam nas reações químicas. Eles não se dividem; e) quando os átomos de diferentes elementos se combinam para formar compostos, eles formam partículas novas, mais complexas. As partículas de qualquer composto sempre contêm a mesma proporção fixa de átomos. Podemos imaginar o átomo de Dalton como uma esfera maciça e extremamente pequena. Átomos de um mesmo elemento correspondem a esferas iguais em natureza e tamanho. Átomos de elementos distintos são representados por esferas também distintas. A formação de um composto é descrita pela combinação de esferas, em proporção definida pela lei de Proust. Figura 2.2: John Dalton. CEDERJ 21 Elementos de Química Geral | Evolução da Química: de Lavoisier até os dias atuais O processo de formação da água a partir do hidrogênio e do oxigênio, por exemplo, seria descrito pelo modelo de Dalton como a aproximação de duas pequenas esferas ligadas entre si (representando a molécula de hidrogênio, H2) a uma esfera maior, representando um átomo de oxigênio. A molécula de H2O seria representada pela ligação destas três esferas, como ilustrado na Figura 2.3. Figura 2.3: Formação da água segundo o modelo de Dalton. Neste modelo, os átomos são esferas maciças e de tamanho e massa característicos de cada átomo, e as moléculas são representadas por esferas unidas entre si. A teoria atômica de Dalton sofreria, entretanto, profundas modificações, por já se saber ao final do século XIX que os átomos não eram indivisíveis. Ainda assim, ela continua descrevendo precisamente como a matéria se combina quimicamente segundo as leis de Lavoisier e Proust. ATIVIDADE 1. Faça uma representação da reação H2 +CO2 → H2O + CO utilizando esferas de tamanho ou de cor diferente para representar os átomos de hidrogênio, carbono e oxigênio, segundo o modelo de Dalton. ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ _________________________________________________________________ RESPOSTA COMENTADA Você deve desenhar inicialmente duas esferas pequenas unidas para representar a molécula de H2, e três esferas unidas para representar o dióxido de carbono. A forma como você vai unir as três esferas mostra se você percebe ou não como o carbono se liga aos átomos de oxigênio. A forma correta é colocar a esfera do carbono no centro e as esferas dos oxigênios uma em cada lado, com as três esferas em linha reta. Em seguida, você deve representar os produtos da reação. Para a água, faça como no CO2 , com o átomo de oxigênio no centro. A rigor, há um ângulo diferente de 180° entre as ligações O-H. Para entender mais sobre a geometria de moléculas, aguarde a Aula 11. A representação do CO é simples: duas esferas unidas representando a ligação C=O. 22 CEDERJ pela melhora de equipamentos ópticos de precisão e pelos estudos sobre É o estudo da luz absorvida ou emitida pelos corpos sólidos, líquidos ou gasosos. o magnetismo – permitiram a descoberta de muitos novos elementos POLARIMETRIA químicos. Também, graças a esses avanços, houve grande progresso na ocorridos naquele século, na área da Química, seja traçar uma pequena É o estudo do desvio do plano da luz polarizada quando atravessa uma substância quiral (nos compostos orgânicos, é a que apresenta carbono assimétrico). cronologia em que vamos destacar alguns eventos, bem como os químicos ELETROQUÍMICA que os produziram. Acompanhe esta cronologia na Tabela 2.1 a seguir: É o estudo dos efeitos da passagem de uma corrente elétrica sobre sólidos inorgânicos e orgânicos, líquidos puros ou soluções. Os avanços tecnológicos ocorridos no século XIX – pelo desenvolvimento das máquinas térmicas, pelo domínio da eletricidade, caracterização de compostos por técnicas não só puramente químicas, mas também por determinações ESPECTROSCÓPICAS , POLARIMÉTRICAS E ELETROQUÍMICAS. Talvez a melhor forma de ilustrar a importância dos acontecimentos Tabela 2.1: Alguns eventos importantes na área da Química no século XIX Ano Evento 1801 Humphrey Davis utilizou células eletrolíticas na decomposição de compostos 1803 Jön Berzelius realiza a decomposição eletrolítica de sais 1807 Humphrey Davis obtém sódio e potássio por eletrólise 1811 Amedeo Avogadro estabelece que volumes iguais de gases diferentes têm o mesmo número de partículas 1813 Jean-Baptiste Biot descobriu que a luz tem seu plano de propagação girado ao atravessar uma placa de quartzo e a seguir uma solução de sacarose 1815 Jön Berzelius calcula fórmulas de compostos orgânicos a partir de dados analíticos experimentais 1828 Franz Wöhler converteu o cianato de amônio em uréia, realizando assim a primeira síntese de um composto orgânico a partir de um inorgânico 1833 Michael Faraday expôs as leis da eletrólise e estabeleceu a nomenclatura ainda hoje usada em eletroquímica 1846 Thomas Graham explicou a lei da efusão dos gases em pequenos orifícios 1858 Stanislao Cannizzaro mostrou a diferença entre pesos atômicos e moleculares 1861 Friedrich Kekulé definiu a química orgânica como a química dos compostos do carbono 1861 Robert Bunsen e Gustav Kirchhoff descobriram o césio e o rubídio por técnicas espectroscópicas 1869 Dimitri Mendeleev criou o sistema de classificação periódica dos elementos. 1874 Jacobus van’t Hoff demonstrou que as quatro ligações do carbono estão distribuídas em forma de tetraedro 1884 Svante Arrhenius demonstrou que os eletrólitos se dissociam em íons, átomos ou grupos de átomos que transportam carga elétrica positiva ou negativa 1896 Henri Becquerel descobre a radioatividade 1897 Joseph John Thomson descobre o elétron CEDERJ 23 2 E S P E C T RO S C O P I A AULA A QUÍMICA DO SÉCULO XIX Elementos de Química Geral | Evolução da Química: de Lavoisier até os dias atuais Você certamente não entendeu o significado de muitos termos que apareceram na tabela anterior. Não se preocupe, pois a idéia aqui é apenas ilustrar a nossa discussão com eventos importantes na área da Química do século XIX. Você pode consultar alguns sites especializados em história da Química para obter mais informações sobre estes eventos. Podemos citar, por exemplo, o seguinte endereço: http://www.sobresites.com/ ciencia/historiadaciencia.html; além de outros que estão listados ao final desta aula. Apesar de parecer longa, a tabela apresentada está longe de ser completa. Ela ilustra apenas a evolução extraordinária da Química no século XIX e aponta claramente para a descoberta das partículas subatômicas, formadoras dos átomos. O vencedor do primeiro Nobel em Química foi Jacobus van’t Hoff (1852-1911), que recebeu esse prêmio em 1901 pelas suas pesquisas em dinâmica química e pelos estudos de pressão osmótica em soluções. Este assunto é de extrema importância em ciências biológicas e você vai aprender mais sobre ele no estudo das propriedades coligativas de soluções. A QUÍMICA DO SÉCULO XX E DOS DIAS ATUAIS Ao final do século XIX, o desenvolvimento da Química era tão amplo que já existiam “divisões” dela em áreas de conhecimento específico. A Química Inorgânica, Orgânica, Analítica e Físico-Química estavam estruturadas. A Química dos sistemas biológicos, devido à sua grande complexidade, ainda não tinha tido um desenvolvimento tão acentuado, mas este quadro se modificaria rapidamente no século XX, quando ganhou impulso extraordinário graças aos sofisticadíssimos equipamentos que começaram a surgir. Os avanços na Espectroscopia e o domínio das leis da eletricidade e do magnetismo permitiram descobrir e caracterizar partículas subatômicas. A determinação da relação entre a carga e a massa de partículas carregadas eletricamente levou à construção dos espectrômetros de massa. A espectroscopia de amostras na presença de campos magnéticos levou à construção dos aparelhos de ressonância magnética nuclear; hoje, versões destes aparelhos são amplamente utilizadas na medicina. 24 CEDERJ 2 AULA Figura 2.4: Aparelhos de ressonância magnética são hoje amplamente utilizados na área médica para diagnóstico. A descoberta das partículas subatômicas levou à formulação de novos modelos atômicos, dos quais destacamos os de Niels Bohr (1871-1937) e de Erwin Schrödinger (1887-1961). Estes modelos serão discutidos com detalhes nas próximas aulas. Os modelos criados para explicar as ligações entre os átomos evoluíram a tal ponto que levaram a estabelecer um novo ramo: a Química Teórica. O notável desenvolvimento da eletrônica, levando-nos aos microcomputadores e equipamentos extremamente sofisticados, tornou possível controlar experiências em nível molecular e realizar Figura 2.5: Niels Bohr. cálculos químicos que permitem prever as propriedades de moléculas tão grandes quanto polipeptídeos, carboidratos e polímeros. Novamente, um pequeno panorama cronológico pode ser traçado para facilitar a visualização da evolução da Química no século XX. Ele está apresentado na Tabela 2.2 a seguir. Tabela 2.2: Alguns eventos importantes na área da Química no século XX Ano Evento 1901 Mikhail Tsvet inventou o papel cromatográfico como meio de separação de pigmentos 1909 Sören Sörensen inventou a escala de pH 1911 Niels Bohr propôs o seu modelo atômico Figura 2.6: Erwin Schrödinger. CEDERJ 25 Elementos de Química Geral | Evolução da Química: de Lavoisier até os dias atuais 1912 Max Von Laue mostrou que os cristais eram compostos por camadas regulares e repetidas de átomos, através da difração de raios X 1914 Henry Moseley elaborou a tabela periódica baseada no número atômico, que ele igualou à carga positiva do núcleo de um átomo 1916 Gilbert Lewis explicou a ligação covalente como sendo uma distribuição dos elétrons 1925 Erwin Schrödinger estabeleceu o modelo dos orbitais para o átomo de hidrogênio 1927 Heitler e London descrevem a formação da molécula de hidrogênio à luz da mecânica quântica 1930 Arne Tiselius inventou a eletroforese, que separa partículas em suspensão em um campo elétrico 1932 Harold Urey descobriu o deutério, um isótopo do hidrogênio 1940 Edwin McMilan e Philip Abelson sintetizaram o primeiro elemento transurânico (de número atômico maior do que o urânio), o neptúnio, bombardeando urânio com nêutrons 1950 Derek Barton deduziu que as propriedades de compostos orgânicos são afetadas pela orientação dos seus grupos funcionais 1953 Francis Crick, Rosalind Franklin, James Watson e Maurice Wilkins determinaram a estrutura de dupla-hélice do DNA (ácido desoxirribonucléico) por difração de raios X 1962 Neil Bartlett preparou o primeiro composto de um gás nobre, o hexafluoroplatinato de xenônio 1981 Roald Hoffmann e Kenichi Fukui aplicaram a mecânica quântica para prever o caminho de reações químicas 1985 Harold Kroto e David Walton descobriram os fulerenos, uma nova família de sólidos constituídos por coberturas fechadas de átomos de carbono 1993 Químicos norte-americanos da Universidade da Califórnia sintetizaram a rapamicina, testada como agente anticanceroso ! A observação feita após a Tabela 2.1 vale também para as informações contidas nesta tabela: você não precisa se preocupar em entender o significado de todos os termos que aparecem; muitos deles são altamente especializados e sua interpretação foge aos objetivos do nosso curso. É notável que a Química do final do século XX e dos dias atuais esteja voltada para as aplicações em sistemas biológicos. Você mesmo pode concluir este fato olhando a seqüência de eventos mostrada na Tabela 2.2. A moderna tecnologia permite não só sintetizar e analisar moléculas muito complexas (como os fármacos mais diversos), mas também modelar computacionalmente os efeitos destas moléculas nos seres vivos. Parece não existirem mais fronteiras na Química e as perspectivas futuras são ilimitadas. 26 CEDERJ 2. A diversidade de conhecimento químico atual e a interdisciplinaridade geraram uma série de subdivisões na área de Química. Descubra do que tratam as seguintes subáreas da Química e descreva, de forma sucinta, suas aplicações: a) Bioeletroquímica b) Química Marinha c) Química Forense d) Geoquímica e) Petroquímica RESPOSTA COMENTADA Você encontrará facilmente o significado destas importantes áreas de conhecimento, nas quais a Química e outras ciências têm uma importante interface. A Bioeletroquímica se ocupa do estudo dos princípios e aplicações da Eletroquímica nos processos biológicos. A Química Marinha está voltada para a análise de materiais encontrados no mar; tem um forte componente voltado ao meio ambiente. A Química Forense está ligada às análises químicas e determinações de substâncias em locais onde ocorreram fatos que podem estar relacionados a delitos. Ambas são ramos da Química analítica. Finalmente, a Geoquímica e a Petroquímica fazem a interface da química com as geociências. Na Geoquímica, estuda-se a composição química e processos químicos que ocorrem no globo terrestre; um ramo especial desta ciência é a química do petróleo (Petroquímica). CONCLUSÃO Numerosos produtos que consumimos no nosso dia-a-dia são produzidos em decorrência de décadas de pesquisa e desenvolvimento, visando a sua obtenção. A Química atual conjuga experiência prática, avançados métodos de síntese e análise química e teorias sofisticadas que permitem desenhar fármacos, corantes e catalisadores antes mesmo de serem produzidos. Esses métodos tiveram sua origem nos esforços de outros grandes cientistas que, conhecendo o passado, avançaram em seu tempo, abrindo o caminho para a imensa tecnologia que dispomos nos dias atuais. CEDERJ 27 AULA 2 ATIVIDADE Elementos de Química Geral | Evolução da Química: de Lavoisier até os dias atuais RESUMO Uma seqüência de eventos importantes, das experiências rigorosamente quantitativas de Lavoisier até a formulação de modelos matemáticos extremamente sofisticados para a compreensão da estrutura da matéria, levou a Química ao status de ciência e trouxe grande desenvolvimento a esta área do conhecimento humano. A descoberta de muitos equipamentos permitiu estabelecer vários ramos da ciência química, com desenvolvimento particularmente notável na química de sistemas biológicos. INFORMAÇÃO SOBRE A PRÓXIMA AULA Na próxima aula, você vai aprender os conceitos de matéria, propriedades e transformações. Eles são essenciais para definir a Química como ciência. 28 CEDERJ objetivos AULA Propriedades gerais da matéria 3 Meta da aula Metas Caracterizar elementos, substâncias simples e compostas e misturas. Descrever os estados físicos da matéria. Descrever as unidades fundamentais do Sistema Internacional e aplicá-las na determinação de propriedades fundamentais da matéria. Esperamos que, ao final desta aula, você seja capaz de: • Caracterizar substâncias simples, compostas e misturas. • Identificar elementos comuns na tabela periódica. • Avaliar propriedades e transformações, distinguindo se são de natureza física ou química. • Determinar unidades de grandezas físicas com base nas unidades fundamentais do Sistema Internacional de Unidades (SI). Pré-requisitos É importante você rever os modelos de constituição da matéria descritos nas Aulas 1 e 2. Isso vai ajudar a compreender os conceitos expostos na primeira parte desta aula. Elementos de Química Geral | Propriedades gerais da matéria INTRODUÇÃO Você já aprendeu que a Química é a ciência que trata das propriedades e das transformações da matéria. Agora, vamos especificar algumas propriedades fundamentais da matéria e os tipos de transformações que vamos abordar ao longo de nosso curso. Você vai aprender a distinguir os estados físicos da matéria pelas suas características mais fundamentais. Vamos também introduzir nesta aula conceitos importantes que permitem distinguir as substâncias puras das misturas, e caracterizar as propriedades destas. Você vai conhecer também as unidades utilizadas na determinação das propriedades fundamentais da matéria. Através delas, as unidades de qualquer propriedade podem ser obtidas. TIPOS E COMPOSIÇÃO DA MATÉRIA Definição de matéria O mundo físico em que vivemos é formado por matéria, dos mais diversos tipos. Observe a Figura 3.1. Nela estão representados um ser vivo, um pequeno objeto contendo um líquido puro e um grande corpo celeste. Estes corpos, animados e inanimados, são formados por matéria. Matéria é tudo que contém massa e ocupa lugar no espaço. As folhas da aula que você está lendo, o seu corpo, a água que você bebe e o ar que você respira são exemplos de matéria. MASSA Massa é uma medida do quão difícil é começar o movimento de um corpo ou mudar a sua velocidade. Esta definição de massa é puramente operacional e vem das leis de Newton, que você aprendeu da Física elementar. A massa é propriedade intrínseca da matéria e não pode ser definida senão pelos efeitos que causa em outros corpos. 30 CEDERJ Figura 3.1: O peixe, o copo com água e o planeta Saturno são formados por matéria. A MASSA é, para um dado corpo, constante e independente do local onde o corpo se encontra. Você deve distinguir claramente a massa de um corpo de seu peso. O peso de um corpo é uma medida da força de atração da gravidade sobre ele e depende do valor da força gravitacional. Um mesmo objeto na Terra e na Lua tem pesos diferentes, embora sua massa seja a mesma. 3 ! AULA O valor do peso P de um corpo de massa m é dado por P = mg Em que g é a aceleração provocada pelo campo gravitacional. Na Terra, g = 9,8 m/s2 ao nível do mar e a 45° de latitude. O valor de g muda em relação à altura e à latitude. Composição e tipos de matéria As inúmeras evidências experimentais mostram que a matéria é formada por partículas extremamente pequenas chamadas átomos. Embora a variedade de espécies de matéria seja extraordinária, existem apenas pouco mais de cerca de cem tipos distintos de átomos. ! Atente agora para as seguintes definições: Um elemento químico é uma substância que não pode ser decomposta em substâncias mais simples por processos físicos ou químicos comuns. Um átomo é a menor unidade de um elemento que detém suas propriedades. Uma molécula é uma unidade química que contém dois ou mais átomos unidos por ligações químicas. Átomos ou moléculas formadas pelo mesmo elemento são substâncias simples ou elementares. Substâncias formadas por moléculas que contêm átomos diferentes são denominadas substâncias compostas ou compostos. O oxigênio (O2), por exemplo, é uma substância simples, formada por moléculas que só contêm átomos do elemento oxigênio (O). Cada molécula de oxigênio é formada por dois átomos de oxigênio. Já a água (H2O) é um composto. Cada molécula de água contém dois átomos do elemento hidrogênio (H) e um átomo do elemento oxigênio (O). A observação de que a composição elementar de um composto é sempre a mesma corresponde à lei das proporções definidas, formulada por Proust por volta de 1800. Já vimos esta lei na aula anterior, está lembrado? Os compostos podem ser decompostos em substâncias elementares que o formam. A água pode ser decomposta (por meio da eletrólise), por exemplo, em hidrogênio e oxigênio. CEDERJ 31 Elementos de Química Geral | Propriedades gerais da matéria As substâncias (simples ou compostas) podem ser puras ou estar misturadas com outras substâncias. Uma substância pura é formada por átomos ou moléculas de uma só espécie. As misturas são formadas por substâncias de natureza diferente. Se a composição e a aparência da mistura for a mesma em toda a sua extensão, então temos uma mistura homogênea ou solução. Caso contrário, temos uma mistura heterogênea. Ao adicionarmos sal de cozinha à água, por exemplo, verificamos que a mistura formada é homogênea em sua constituição e propriedades: trata-se de uma solução. Já o sal de cozinha adicionado à areia do mar não forma uma solução. Percebemos claramente os grãos de areia e os cristais brancos do sal. Esta mistura é heterogênea. ATIVIDADE 1. Em uma bancada de laboratório estão quatro frascos contendo materiais distintos: Frasco 1 2 3 4 Conteúdo Etanol Água e açúcar Azeite e água Iodo Identifique o frasco que corresponde a uma: A) substância elementar pura B) composto puro C) mistura homogênea ou solução D) mistura heterogênea RESPOSTA COMENTADA Você deve ter em mente as definições dadas no tópico que precede esta atividade para bem desenvolvê-la. Lembre-se de que uma substância pura é formada por átomos ou moléculas de uma só espécie química; ela é elementar se só existe um elemento em sua constituição, e composta se é formada por mais de um elemento diferente. As misturas contêm mais de uma espécie química. São homogêneas se têm aspecto e composição uniforme; caso contrário, são heterogêneas. Assim, o conteúdo do frasco I é o de uma substância pura cujas moléculas são formadas por átomos de carbono, hidrogênio e oxigênio; trata-se de um composto puro (B). O frasco II contém uma mistura de dois compostos: a água (formada por átomos de hidrogênio e oxigênio) e a sacarose (formada por átomos de carbono, hidrogênio e oxigênio); como o açúcar é solúvel 32 CEDERJ 3 AULA em água, o frasco II contém uma mistura homogênea ou solução (C). O azeite e a água também formam uma mistura de dois compostos. Entretanto, o azeite não se dissolve na água; temos, então, uma mistura heterogênea no frasco III (D). Finalmente, o conteúdo do frasco IV é o de uma substância pura formada por átomos do mesmo elemento químico. Trata-se de uma substância elementar pura. Representação dos elementos químicos Um elemento é representado pelo seu símbolo. Normalmente, o símbolo dado a um elemento é formado pela primeira letra de seu nome. O símbolo do hidrogênio, por exemplo, é H, o do carbono é C e o do oxigênio é O. Quando mais de um elemento tiver seu nome começando pela mesma letra, as duas primeiras letras do nome serão usadas para representá-lo. Os símbolos do cálcio e do cromo, que começam com a mesma letra, são Ca e Cr, respectivamente. Em muitos casos, parece que as regras acima não são cumpridas. Isso ocorre porque muitos nomes de elementos vêm do latim. O símbolo do sódio, por exemplo, é Na, que vem de natrium. Dessa forma, o melhor é memorizar os símbolos dos elementos que aparecem com mais freqüência. Alguns deles estão listados na Tabela 3.1 a seguir: Tabela 3.1: Símbolos de alguns elementos comuns Elemento Símbolo Elemento Símbolo Nitrogênio N Alumínio Al Flúor F Cobalto Co Fósforo P Cobre Cu Enxofre S Ferro Fe Potássio K Sódio Na Iodo I Zinco Zn A lista dos elementos conhecidos, com seus símbolos e outras importantes características, está contida na Tabela Periódica dos Elementos, que você encontra no final deste livro. O estudo dessa tabela faz parte do conteúdo da Aula 5. CEDERJ 33 Elementos de Química Geral | Propriedades gerais da matéria ATIVIDADE 2. Observe a tabela periódica. Localize nesta tabela o quadro correspondente ao elemento oxigênio e copie as informações contidas nele. Na Aula 5, você compreenderá a organização de cada quadro da tabela. ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ RESPOSTA COMENTADA Embora esta tarefa seja muito simples, é importante que você observe os detalhes de cada quadro da Tabela Periódica. Ele apresenta o símbolo químico e nome do elemento considerado, além de um número acima (o número atômico) e um número abaixo (a massa atômica) no mesmo quadro. Na Aula 6, estudaremos detalhadamente a estrutura desta tabela. ESTADOS DA MATÉRIA Toda matéria pode existir em três estados, sólido, líquido e gasoso. Estes três estados diferem na: • distância entre as partículas que formam a substância • intensidade das forças de atração entre as partículas • intensidade e tipo de movimento de suas partículas Em um sólido, as forças de atração entre as partículas são relativamente fortes. As partículas se empacotam próximas umas das outras em um arranjo estrutural rígido. Isso dá forma e volume definidos ao sólido, como você pode visualizar no cubo de gelo mostrado na Figura 3.2. Figura 3.2: Os cristais hexagonais do gelo têm uma arrumação regular e definida, que dão forma e volume definidos ao gelo. 34 CEDERJ 3 Existem dois tipos de sólidos, em função da diferença no arranjo das AULA partículas que eles contêm. Nos sólidos amorfos, as partículas estão presas em um padrão orientado ao acaso. Nos sólidos cristalinos, as partículas formam estruturas tridimensionais com padrão ordenado e regular. Nestas estruturas, as partículas vibram em torno de suas posições de equilíbrio na rede cristalina. Quando a temperatura é baixa, as vibrações são pequenas. O aumento da temperatura faz aumentar a amplitude dessas vibrações até que, no ponto de fusão do sólido, a rede cristalina se rompe. ! Como exemplos de sólidos amorfos temos o vidro e os plásticos. Os metais são sólidos cristalinos, assim como o gelo, o açúcar (sacarose) e o sal de cozinha (cloreto de sódio). A rede cristalina do NaCl, por exemplo, tem o aspecto ilustrado na Figura 3.3. Nela as esferas pequenas são átomos de Na,e as maiores, de Cl. Você pode observar o rigoroso ordenamento dos átomos na rede. Figura 3.3: O NaCl é um exemplo de sólido cristalino; nele, os átomos têm um ordenamento rigorosamente definido. Em um líquido, as partículas não estão presas tão firmemente quanto em um sólido. Embora próximas umas das outras, podem mover-se de um lugar para outro, deslizando umas sobre as outras. Por isso, um líquido pode escoar de um lugar para o outro e tomar a forma do recipiente que o contém, mantendo, entretanto, o seu volume. Figura 3.4: Um líquido escoa e toma a forma do recipiente que o contém. CEDERJ 35 Elementos de Química Geral | Propriedades gerais da matéria Em uma dada temperatura, as moléculas da superfície de um líquido (ou próximas a ela) podem escapar, pois não estão presas às outras moléculas com a mesma intensidade que no interior da massa líquida. Se não colidirem com as moléculas do ar, elas não mais voltarão ao líquido. Este processo é denominado evaporação do líquido. O aumento da temperatura favorece a agitação das moléculas do líquido, enfraquecendo as forças de atração até que, no ponto de ebulição do líquido, as moléculas escapam completamente: o líquido se transforma em gás. Figura 3.5: Em um gás, as moléculas estão muito separadas umas das outras. No gás, as partículas estão muito afastadas e viajam a grande velocidade. O gás não tem forma nem volume definidos; ele enche completamente o recipiente que o contém. Ao se movimentarem através do recipiente que o armazena, as moléculas do gás colidem com as suas paredes. O efeito destas colisões é expresso pela pressão do gás dentro do recipiente. Quanto maior o número de colisões com as paredes, maior é a pressão do gás. ! Lembre-se da Aula 1: pela lei de Boyle, a pressão de um gás é inversamente proporcional ao volume do recipiente que o contém, se a temperatura for constante. Um cilindro de oxigênio, por exemplo, contém o gás a alta pressão; se abrirmos a válvula do cilindro para a atmosfera, o gás escapa e vai ocupar um volume muito maior, pois a pressão a que ele estará submetido é bem menor. PROPRIEDADES E TRANSFORMAÇÕES DA MATÉRIA Toda substância tem um conjunto único de propriedades que a distinguem das demais. A título de ilustração, algumas propriedades do hidrogênio, do oxigênio e da água foram listadas na Tabela 3.2. 36 CEDERJ Água Hidrogênio Oxigênio Estado Líquido Gasoso Gasoso Densidade (g/mL) 1,00 0,84 x 10 1,33 x 10-3 Ponto de fusão (°C) 100 -253 - 183 Inflamável? Não Sim Não -3 AULA Substância 3 Tabela 3.2: Algumas propriedades da água, do hidrogênio e do oxigênio à temperatura ambiente As propriedades podem ser agrupadas em duas categorias: • propriedades físicas – são medidas sem alterar a identidade e a composição da substância. Exemplos de propriedades físicas são a cor, o cheiro, a dureza, o ponto de fusão e o ponto de ebulição. • propriedades químicas – descrevem como a substância pode se alterar, ou reagir para formar outras substâncias. A capacidade que uma substância tem de queimar em presença de oxigênio (ou de reagir com ácidos e bases) é um exemplo de propriedade química. Assim como as propriedades de uma substância, as transformações que ela sofre são classificadas em: • transformações físicas – são aquelas cuja substância muda a sua aparência física, mas não muda a sua composição. A fusão e a ebulição são exemplos de transformações físicas, nas quais a substância muda de estado físico, mas continua com sua composição e identidade inalteradas. • transformações químicas – são aquelas cuja substância é transformada em outra(s) substância(s) quimicamente diferente(s) dela. São também chamadas reações químicas. UNIDADES DE MEDIDA Unidades fundamentais de medida Muitas propriedades da matéria são quantitativas, ou seja, estão associadas a números. Quando um número está associado a uma grandeza medida, as unidades deste número sempre devem ser especificadas. ! Se você medir a distância entre dois pontos, por exemplo, e não especificar a unidade, não saberemos se esta distância é em metros, centímetros ou quilômetros. CEDERJ 37 Elementos de Química Geral | Propriedades gerais da matéria As unidades usadas em medições científicas são derivadas do sistema métrico, desenvolvido na França ao final do século XVIII. Em 1960, um acordo foi obtido para especificar um conjunto particular de unidades métricas para uso em medições científicas. Estas unidades são as do Sistema Internacional de Unidades (SI). O SI tem sete unidades básicas, a partir das quais todas as demais são derivadas. Estas unidades estão listadas na Tabela 3.3 a seguir: Tabela 3.3: Unidades fundamentais do Sistema Internacional de Unidades (SI) Grandeza Física Nome da Unidade Símbolo Massa Quilograma Kg Comprimento Metro M Tempo Segundo S Corrente elétrica Ampère A Temperatura Kelvin K Intensidade da luz Candela cd Quantidade de substância Mol mol Muitas vezes é conveniente usar prefixos para indicar frações decimais ou múltiplos das várias unidades. O prefixo centi, por exemplo, representa 10-2 (o centésimo) de uma unidade. A Tabela 3.4 apresenta os prefixos mais utilizados em Química. ! Lembre-se de que a notação exponencial é utilizada para não carregarmos uma quantidade exagerada de zeros. Assim, 10n (n positivo) indica que temos n zeros após o número 1. Já 10-n indica que temos n zeros antes do número 1, sendo o primeiro deles seguido de vírgula. Por exemplo, 103 = 1000 e 10-3 = 0,001. 38 CEDERJ Prefixo Símbolo Significado giga G 109 mega M 106 quilo K 103 deci D 10-1 centi C 10-2 mili M 10-3 micro µ 10-6 nano n 10-9 pico p 10-12 femto f 10-15 AULA 3 Tabela 3.4: Prefixos mais utilizados no sistema métrico A unidade SI de comprimento é o metro. Grandes distâncias são medidas em quilômetros, e pequenas distâncias em submúltiplos do metro (centímetros, milímetros ou micrômetros). A unidade SI para massa é o quilograma. Seus submúltiplos são o grama (1 g = 10-3 kg), a centigrama (1 cg = 10-2 g = 10-5 kg), o miligrama (1 mg = 10-3 g = 10-6 kg) e o micrograma (1 mg = 10-6 g = 10-9 kg). ! Observe que a escolha do quilograma como unidade de massa não é usual, pois esta unidade é um múltiplo do grama. Em muitas situações práticas, o grama é usado ao invés do quilograma. A chamada quantidade de substância é dada pelo número de moles (ou móis) da substância presente. O mol é a quantidade de substância que contém 6,02×1023 partículas (átomos ou moléculas). Este número é chamado de número de Avogrado. Assim, 16 gramas de oxigênio molecular e 98 g de ácido sulfúrico correspondem à mesma quantidade (ambos têm 1 mol de cada substância), embora suas massas sejam diferentes. Você vai aprender tudo sobre a relação entre massa e quantidade de substância nas aulas de Estequiometria. CEDERJ 39 Elementos de Química Geral | Propriedades gerais da matéria ATIVIDADE 3. a) O diâmetro de um glóbulo branco do sangue mede cerca de 42 µm. Exprima este valor em m e em nm. b) Um médico prescreve uma dose de 0,1 g de um medicamento. Quantos tabletes contendo 25 mg do medicamento são necessários para satisfazer à prescrição? RESPOSTA COMENTADA a) Você precisa estar atento às transformações de unidades e ao trabalho com as potências de 10 (notação exponencial). Sabendo que 1 µm = 10-6 m, então 42 µm são 42×10-6 m ou 4,2×10-5 m. Sendo 1 nm = 10-9 m, então vale a seguinte relação entre µm e nm: 1 m = 106 µm = 109 nm. Dividindo os dois últimos membros por 106, vemos que 1 µm = 103 nm. Assim, 42 µm são 42×103 nm = 4,2×104 nm. b) Este exercício segue o mesmo padrão do exercício anterior, logo a recomendação para a sua execução é a mesma. Sabemos que 1 g = 103 mg. Então, 0,1 g = 102 mg = 100 mg. Cada comprimido tem 25 mg. Logo, precisamos de 100/25 = 4 comprimidos para ter a dosagem requerida. Unidades derivadas das unidades fundamentais As unidades de base do SI permitem que se obtenha a unidade de qualquer outra grandeza, basta que saibamos exprimir a grandeza desejada em termos de grandezas fundamentais. A unidade da grandeza desejada será uma combinação de unidades fundamentais, posto que deriva destas. VOLUME O volume (V) de um corpo define o lugar ocupado pelo corpo no espaço tridimensional. Para se obter a unidade SI de uma grandeza qualquer a partir das unidades fundamentais, procedemos da seguinte forma: • Etapa 1 - Exprime-se a grandeza desejada em termos das grandezas fundamentais do SI por uma relação matemática. • Etapa 2 - A unidade da grandeza desejada é obtida pela MASSA ESPECÍFICA combinação de unidades das grandezas fundamentais que guarda a A massa específica (ρ), ou densidade de um corpo, é a razão entre a massa (m) do corpo e seu volume (V). mesma relação matemática obtida na primeira etapa. 40 CEDERJ Vamos aplicar estas etapas na determinação da unidade SI de duas grandezas importantes em química: o de um corpo. VOLUME ea MASSA ESPECÍFICA 3 Como os corpos podem ter as mais diversas formas, vamos con- AULA siderar um cubo de aresta L. O volume deste corpo é dado por V = L3 Esta é a relação matemática entre a grandeza desejada (volume) e as grandezas fundamentais do SI (no caso, o comprimento). A unidade da grandeza desejada guarda com as unidades fundamentais a mesma relação matemática dada pela equação anterior. Assim, sendo o metro a unidade SI de comprimento, a unidade SI de volume é o metro cúbico (m3). ! Em laboratório, é comum usarmos submúltiplos de unidade: o decímetro cúbico (1 dm3 = 10-3 m3) e o centímetro cúbico (1 cm3 = 10-6 m3). Estas duas últimas se relacionam ao litro (L), uma unidade muito usada, mas que não pertence ao SI. As relações são 1 dm3 = 1 L 1 cm3 = 1 mL Logo, 1 L = 1 dm3 = 1000 mL = 1000 cm3 A massa específica se define pela relação ρ = m = m3 L V Então, lembrando as unidades de massa e de comprimento no SI, a unidade SI de massa específica é o kg/m3. ! É mais comum exprimir a densidade em gramas por mililitro (g/mL ou g mL-1) para sólidos e líquidos, e gramas por litro g/L ou g L-1 para gases. A relação entre estas unidades e as unidades SI pode ser obtida como se segue: 1g/mL = 10-3 kg/10-3 L = 10-3 kg/10-6 m3 = 103 kg/m3 1 g/L = 10-3 kg/10-3 m3 = 1 kg/m3 CEDERJ 41 Elementos de Química Geral | Propriedades gerais da matéria ATIVIDADES FINAIS a) Identifique se as transformações a seguir são físicas ou químicas, marcando a coluna correta: Transformação Física Química (A) Dissolução do açúcar na água (B) Solidificação do ferro numa siderurgia (C) Corrosão do ferro pela água do mar (D) Queima da glicose em uma célula viva b) Obtenha a unidade SI das grandezas a seguir, a partir de sua definição: 1) velocidade (razão entre a distância percorrida por um corpo e o tempo que o corpo leva para percorrê-la). 2) aceleração (variação da velocidade de um corpo com o tempo) 3) força (produto da massa de um corpo pela aceleração a ele imposta) 4) pressão (razão entre a força exercida em um corpo e sua área) __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ c) O que pesa mais, um quilo de papel ou um quilo de chumbo? E quem tem maior densidade? Justifique suas respostas. __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ 42 CEDERJ 3 RESPOSTAS COMENTADAS AULA a) Lembre-se dos conceitos mencionados no tópico PROPRIEDADES E TRANSFORMAÇÕES DA MATÉRIA. Uma transformação física mantém a identidade da substância, enquanto uma transformação química altera a substância, transformando-a em outras. Assim, (A) e (B) são transformações físicas, enquanto (C) e (D) são químicas. A corrosão leva o ferro à ferrugem (óxido de ferro), e a queima da glicose produz gás carbônico e água. b) Reveja as duas regrinhas estabelecidas no subtópico Unidades derivadas das unidades fundamentais. Você precisa inicialmente estabelecer a expressão da grandeza desejada em termos de grandezas fundamentais do SI. A unidade da grandeza desejada é obtida pela mesma relação entre ela e as grandezas fundamentais. Vamos analisar os quatro casos propostos. b.1) A velocidade (v) de um corpo é a razão entre a distância (L) percorrida pelo corpo e o tempo (t) necessário para percorrer esta distância. A expressão matemática definidora da velocidade é, então, v = L . A unidade de velocidade no SI será dada pela razão t entre as unidades de distância e de tempo. Então, teremos unidade de velocidade (SI) = unidade de distância (SI) unidade de tempo (SI) = m s = ms-1 b.2) A aceleração (a) é a razão entre a velocidade do corpo e o tempo necessário para alterar sua velocidade. A expressão matemática definiv dora da aceleração é a = . Por sua vez, a velocidade é definida em t termos de grandezas fundamentais, como no item (1). A aceleração, expressa em termos das grandezas fundamentais do SI, é dada por v = Lt2 . A unidade SI da aceleração será dada por a= t unidade de aceleração (SI) = unidade de distância (SI) (unidade de tempo (SI))2 = m s2 = ms-2 b.3) A força (F) é definida como o produto da massa (m) de um corpo L v por sua aceleração (a): F = ma = m = m 2 . A última igualdade t t exprime a força em termos das grandezas fundamentais do SI. A unidade SI de força será dada então por unidade de força (SI) = unidade de massa (SI) x unidade de distância (SI) (unidade de tempo (SI))2 = kg m s2 = kg ms-2 Esta unidade recebe o nome de newton, (N). Assim, 1 N = 1 kg m s-2. CEDERJ 43 Elementos de Química Geral | Propriedades gerais da matéria b.4) Por fim, a pressão (p) é a razão entre a força (F) e a área (A) de um F ma mL m corpo: p = . Novamente, a última expressão = = 22 = A L2 Lt Lt2 exprime a grandeza desejada (pressão) em termos de grandezas do SI (massa, distância, comprimento e tempo). A unidade SI de pressão é então dada por unidade de pressão (SI) = unidade de massa (SI) (unidade de comprimento (SI)) x (unidade de tempo (SI))2 = kg m s2 = Esta unidade é chamada de pascal, (Pa). Assim, 1 Pa = 1 N m-2 = 1 kg m-1 s-2. c) A massa dos dois corpos é a mesma (1 kg), logo o peso é idêntico (se ambos estiverem no mesmo lugar). O volume de 1 kg de papel é muito maior do que o de 1 kg de chumbo. Então, lembrando que a densidade é a razão entre a massa de um corpo e seu volume, concluímos que a densidade do papel é menor que a do chumbo. RESUMO De uma célula microscópica aos corpos celestes, tudo que tem massa e ocupa lugar no espaço é formado por matéria. As substâncias formadoras da matéria podem ser simples ou compostas. Elas possuem uma série de propriedades e podem sofrer transformações que alteram ou não a sua composição. A medida quantitativa dessas propriedades é expressa por números com unidades bem definidas, obtidas a partir de um conjunto de unidades fundamentais. INFORMAÇÃO SOBRE A PRÓXIMA AULA Na próxima aula, vamos começar a discutir a estrutura íntima da matéria. Você vai aprender a caracterizar as partículas formadoras dos átomos, dos quais toda a matéria é formada. 44 CEDERJ kg m-1s-2 objetivos AULA O átomo é divisível! 4 Metas da aula Listar as principais partículas formadoras dos átomos. Definir número atômico, número de massa e massa atômica. Distinguir os vários isótopos de um elemento. Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de: • Especificar o valor da carga e da massa das partículas fundamentais formadoras do átomo. • Comparar a massa e o tamanho de um átomo com a de corpos macroscópicos. • Determinar o número de prótons e nêutrons e o número de massa de um átomo. • Determinar a massa atômica de um elemento pelo conhecimento da abundância relativa de seus isótopos. Pré-requisitos É importante que você releia os modelos teóricos da Aula 1 e a teoria atômica de Dalton, da Aula 2, que vão ajudá-lo(a) a compreender as idéias expostas na parte inicial desta aula. Você deve rever também o conceito de elemento, Aula 3. Elementos de Química Geral | O átomo é divisível! INTRODUÇÃO Você já aprendeu o modelo atômico de Dalton, com base nas leis de Lavoisier e Proust. De acordo com este modelo, os átomos são partículas indivisíveis, como esferas maciças de tamanho microscópico. Segundo Dalton, a cada elemento corresponde um tipo de átomo distinto, característico deste elemento. Entretanto, à época de Dalton, não havia evidência direta da existência dos átomos. À medida que foram desenvolvidos métodos experimentais para estudar mais detalhadamente a natureza da matéria, surgiram indícios de que a estrutura do átomo era mais complexa do que se pensava. Nesta aula, você vai acompanhar as descobertas que levaram ao conhecimento das principais partículas formadoras do átomo. A seguir, você vai aprender a caracterizar um átomo pelo número destas partículas nele presentes e verá que, em alguns casos, um elemento pode estar associado a átomos com números diferentes de algumas destas partículas. DESBRAVANDO O ÁTOMO Raios catódicos e a descoberta do elétron Em meados do século XIX, os estudos com gases sob baixa pressão, (submetidos a uma descarga elétrica) apontavam a existência de uma “radiação”, denominada raios catódicos (raios que saíam do cátodo). Os gases são maus condutores de eletricidade à pressão ambiente, mas se tornam bons condutores sob baixa pressão. Colocando-se duas placas de metal (chamadas ânodo e cátodo) nas extremidades de um tubo contendo um gás a baixa pressão, e estabelecendo uma diferença de potencial, ocorrem vários fenômenos que dependem da pressão do gás. Se a pressão não for muito baixa, o gás brilha. Esta é a origem das lâmpadas ou a gás. Se a pressão for bastante baixa, surgem os raios catódicos. 46 CEDERJ Figura 4.1: Uma lâmpada fluorescente é um exemplo de tubo de descarga. 4 Em 1897, J.J. Thomson resumiu as propriedades dos raios AULA catódicos. Ele demonstrou que estes: 1. Movimentavam pequenos anteparos colocados em sua trajetória, indicando que tinham massa. 2. Eram desviados por campos elétricos e magnéticos, criados ao longo dos tubos de gás, indicando que tinham carga. 3. Eram sempre da mesma natureza, independentemente do material formador do cátodo. A última observação mostrava que estas partículas estavam presentes em qualquer material. Thomson as chamou de elétrons. Medições quantitativas dos efeitos dos campos elétricos e magnéticos sobre um feixe de raios catódicos permitiram que se obtivesse a relação entre a carga e a massa do elétron. A medição independente da carga do elétron permitiu a determinação do valor de sua massa. Os valores hoje aceitos são listados na Tabela 4.1: Tabela 4.1: Propriedades fundamentais do elétron Propriedade Carga (e) Massa (me) e/me Valor 1,6×10-19 C 9,1×10-31 kg 1,76×10-21 C/kg A unidade de carga elétrica no SI - como você vê na Tabela 4.1 - é o coulomb (C), que é a carga transportada quando uma corrente de 1 ampère atravessa um condutor em um segundo. A massa do elétron é extraordinariamente pequena. É cerca de 1.836 vezes menor que a massa de um átomo de hidrogênio, o mais leve dos elementos conhecidos. A carga do elétron é negativa. O símbolo indica o valor absoluto (módulo) de sua carga. Radioatividade Em 1896, Henri Becquerel descobriu que sais de urânio emitiam espontaneamente uma radiação muito energética. Esse fenômeno foi denominado radioatividade. Ele sugeriu a Pierre e Marie Curie que investigassem os métodos de isolamento dos componentes radioativos de um mineral. Nascia a Radioquímica, ramo da Química que lida com a obtenção e estudo das propriedades químicas de materiais formados por elementos radioativos, como o urânio. CEDERJ 47 Elementos de Química Geral | O átomo é divisível! Antoine Henri Becquerel (1852-1908) era descendente de uma tradicional família de físicos franceses. O fenômeno da radioatividade foi descoberto por acaso, enquanto ele estudava as propriedades fluorescentes dos sais de urânio. Pierre Curie (1859-1906) e sua esposa, Marie Curie (1867-1934), foram seus colaboradores e descobriram vários outros elementos radioativos, como o polônio e o rádio. Marie Curie foi a primeira mulher a receber um prêmio Nobel por seus trabalhos nessa área. As pesquisas dos Curie foram estendidas por Ernest Rutherford (1871-1937), que caracterizou as emissões radioativas como sendo de três tipos diferentes. As propriedades destes diferentes tipos de emissão são listadas na Tabela 4.2: Tabela 4.2: Propriedades das emissões radioativas Tipo de Emissão Carga (e) Natureza α 2 Partículas de He2+ β -1 Elétrons γ 0 Radiação de alta energia Por esta tabela, você pode verificar que a emissão radioativa α é, na verdade, um feixe de partículas carregadas (de carga positiva e igual a duas vezes a carga do elétron) e de massa igual ao do átomo de He. A emissão β é um feixe de elétrons, e a emissão γ (raios γ) é radiação de alta energia. Estas emissões ocorrem espontaneamente nos átomos dos elementos radioativos, como urânio, polônio e rádio. Os elementos radioativos têm grande importância na área médica. Como exemplo, citamos o cobalto e o iodo radioativo, usados na cura de doenças ou em exames de contraste. Entretanto, há um problema sério ao trabalhar com esses materiais: o tempo de exposição. Existem doses de radiação recomendadas, pois o excesso é extremamente danoso aos tecidos vivos. Outras partículas subatômicas As descobertas de Rutherford ampliaram o leque de partículas subatômicas. Muitas outras partículas foram descobertas (e são até hoje), mas para os químicos somente três são essenciais para caracterizar os átomos: elétron, próton e nêutron. As propriedades destas três partículas estão resumidas na Tabela 4.3: 48 CEDERJ Partícula Carga (e) Massa (mp) Próton (p) +1 1 Elétron -1 1/1836 Nêutron 0 1,0013 AULA 4 Tabela 4.3: Propriedades do próton, do elétron e do nêutron Nesta tabela, a unidade de carga é o módulo da carga do elétron, e a unidade de massa é a massa do próton. O próton e nêutron são muito mais pesados que o elétron. A carga do próton é idêntica à do elétron, porém de sinal contrário. O nêutron é uma partícula sem carga. ATIVIDADE 1. Refaça a Tabela 4.2 escrevendo os valores absolutos da carga e da massa de cada partícula. ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ _________________________________________________________________ RESPOSTA COMENTADA Para realizar essa atividade, você precisa saber os valores da carga e da massa do elétron. O próton e o elétron têm a mesma carga em módulo e o nêutron não tem carga. A massa do próton é 1.836 vezes maior que a do elétron, e a do nêutron é 1,0013 vezes maior que a do próton. Com estas informações e com o auxílio da Tabela 4.1, você pode montar a tabela a seguir: Partícula Próton (p) Carga +1,6×10 -19 Massa C 1,671×10-27 kg Elétron -1,6×10-19 C 9,1×10-31 kg Nêutron 0 1,673×10-27 kg O átomo nuclear A descoberta das partículas subatômicas levou Rutherford a criar um novo modelo para o átomo. Neste novo modelo, o átomo não era visto como um corpo maciço e indivisível. Ele seria formado por um núcleo denso e muito pequeno, contendo os prótons e nêutrons, presos por fortes forças de atração. Em torno do núcleo, ficariam os elétrons. O núcleo seria extremamente pequeno se comparado ao átomo como um todo. Este modelo nuclear do átomo vigora até hoje. CEDERJ 49 Elementos de Química Geral | O átomo é divisível! Figura 4.2: Modelo nuclear do átomo (fora de escala). As forças que prendem os prótons no núcleo são denominadas forças nucleares fortes. Elas são intensas o suficiente para vencer a repulsão eletrostática entre os prótons. Parece que os nêutrons desempenham importante papel na estabilização das forças nucleares fortes. Os átomos são partículas extremamente leves e pequenas. O diâmetro de um átomo varia entre 1×10-10 m e 5×10-10 m, ou seja, entre 100 a 500 pm. É mais comum medir as distâncias atômicas em angstroms (Å), que vale 10-10 m. Assim, o diâmetro de um átomo varia de 1 a 5 Å. Já o diâmetro dos núcleos é cerca de 10-4 vezes menor que o do átomo como um todo. Como a massa do átomo está concentrada no núcleo, a densidade do núcleo é extremamente alta, variando entre 1012 a 1013 g/cm3. Você tem idéia da ordem de grandeza desses números? Os exercícios da atividade a seguir vão ajudar a relacionar as dimensões atômicas com a dos corpos que encontramos no nosso dia-a-dia. 50 CEDERJ 2. a. O diâmetro de um átomo de carbono é de 1,5 Å. Quantos átomos de carbono poderiam ser alinhados lado a lado se comparados à ponta de um lápis, com 0,3 mm de espessura? 2. b. Qual seria a massa de um pequeno cubo, de 1 cm de aresta, feito de um material com a densidade dos núcleos de um átomo? RESPOSTA COMENTADA 2. a. A primeira etapa que você deve tomar para resolver este exercício é converter os dois números dados à mesma unidade (metros): 1,5 Å = 1,5×10-10 m 0,3 mm = 0,3×10-3 m = 3×10-4 m Dividindo os dois números, obtemos a resposta: 3×10-4/1,5×10-10 = 2×106 átomos de C. Portanto, são necessários dois milhões de átomos de carbono enfileirados lado a lado para se obter uma ponta de lápis comum! 2. b. Você precisa recordar a definição de densidade estudada ao final da Aula 3: densidade = massa volume Então massa = densidade × volume. O volume (V) de um cubo de lado L é dado por V = L 3, e é 1 cm3. A densidade dos núcleos da ordem de 1013 g/cm3. Então: massa = 1×1013 (g/cm3) × 1 (cm3) = 1×1013 g = 1×1010 kg (Veja como a unidade correta aparece ao final da conta!). Para você ter uma idéia do que isto representa, um cubo de chumbo de mesmo volume tem massa igual a 11,34 g! IDENTIFICANDO OS ÁTOMOS DE UM ELEMENTO Número atômico e número de massa Um átomo de um dado elemento químico é caracterizado pelo seu número atômico Z. ! O número atômico (Z) de um elemento é dado pelo número de prótons (p) do átomo de um elemento. Em um átomo neutro, o número de elétrons é igual ao número de prótons. CEDERJ 51 AULA 4 ATIVIDADE Elementos de Química Geral | O átomo é divisível! Como a carga do próton cancela a do elétron, o número atômico Z nos informa também quantos elétrons há em um átomo neutro daquele elemento. O magnésio (Mg), por exemplo, tem 12 prótons em seu núcleo; logo, há doze elétrons em volta do núcleo. Por isso, a identidade de um elemento é ditada somente pelo número de prótons, independentemente do número de elétrons ou de nêutrons. É possível remover ou adicionar um ou mais elétrons de um átomo (formando os íons), ou termos átomos do mesmo elemento com números de nêutrons diferentes (os isótopos). Em todos estes casos, o número de prótons não se altera. Daí ser o número atômico Z a entidade que caracteriza um dado elemento químico. Já vimos que a massa de um átomo está concentrada no núcleo, onde estão os prótons e os nêutrons. ! Já vimos que a massa de um átomo está concentrada no núcleo, onde estão os prótons e os nêutrons. O número de massa M de um elemento é dado pela soma do número de prótons (p) e do número de nêutrons (n) do átomo que representa esse elemento. M=p+n Uma notação conveniente para representar o número atômico Z e o número de massa M de um elemento X qualquer é: M Z X O oxigênio, por exemplo, que possui 8 prótons e 8 nêutrons, é representado por 16 08 O . Uma notação mais compacta seria 16O, ou ainda oxigênio-16. Os elementos conhecidos estão ordenados em ordem crescente na Tabela Periódica que se encontra na contracapa deste livro. Nesta tabela, o número atômico encontra-se acima do símbolo do elemento. Você deve consultá-la para resolver os problemas da próxima atividade. 52 CEDERJ 3. Determine o número de prótons, nêutrons e elétrons do átomo neutro 12 de 06 C , cobalto-60 e 131I. RESPOSTA COMENTADA Você precisa lembrar que: • Em um átomo neutro, o número de prótons (p) é igual ao de elétrons (e). • A soma do número de prótons (p) com o de neutros (n) é o número de massa (M) de um átomo. 12 06 C : p=6, e = 6, M = 12 e n = M – p = 6. Neste exemplo, usou-se a notação M para representar o elemento C; Z1 X 1) Para o 2) Consulte a Tabela Periódica e descubra que o cobalto tem Z = 27; logo p = 27, e = 27. Como a massa dada é M = 60, então n = 60 – 27 = 33. (c) Consulte a Tabela Periódica e veja que o iodo tem Z = 53. Então, p = 53, e = 53. Como a massa dada é M = 131, então n = 131 – 53 = 78. ISÓTOPOS DE UM ELEMENTO No começo do século XIX, Dalton desenvolveu sua teoria atômica com base na idéia de que cada elemento era formado por átomos de uma só espécie. Cerca de um século depois, Frederick Soddy (18971956) provou que o neônio (Ne) era formado por dois tipos de átomos diferentes. Alguns átomos tinham número de massa 20, e outros 22 (mais tarde foi descoberto um terceiro tipo de Ne, com M = 21). O número atômico do Ne é 10, logo existem 10 prótons. Assim, concluímos que os tipos distintos de Ne diferem no número de nêutrons. Os tipos de átomo de um elemento que diferem pelo número de nêutrons (mas têm o mesmo número de prótons) são os isótopos do elemento. Após a descoberta de Soddy, foram identificados muitos isótopos dos outros elementos. Na verdade, são poucos os que têm um só tipo de átomo. Mesmo o hidrogênio (o elemento mais leve que se conhece), tem três isótopos distintos, cujas propriedades estão listadas na Tabela 4.4: CEDERJ 53 AULA 4 ATIVIDADE Elementos de Química Geral | O átomo é divisível! Tabela 4.4: Propriedades dos isótopos do hidrogênio Isótopo N° atômico Nº de massa Nº de nêutrons H 1 1 0 2 1 H 1 2 1 3 1 H 1 3 2 1 1 2 O isótopo 1 H tem um nome e um símbolo especiais – é o deutério (D). A água deuterada é feita de deutério, no lugar do ¹H. O deutério é muito utilizado como marcador de substâncias químicas. Neste caso, substitui-se um ou mais átomos de 1H por átomos de 2H; o composto resultante é mais pesado e o local onde o deutério entrou na molécula pode ser mapeado, dando informações estruturais sobre o composto de interesse. Na Figura 4.3 você pode visualizar os núcleos do 11 H e do 12 H . Embora nos dois casos o núcleo contenha um próton, o número de nêutrons muda, caracterizando os isótopos do elemento. Próton Figura 4.3: Os isótopos no núcleo. 1 1 H Nêutron e 2 1 H do hidrogênio diferem no número de nêutrons Isótopos importantes em aplicações biológicas são o cobalto-60 e o iodo-131. O cobalto-60 é um radioisótopo usado na teleterapia, que consiste em irradiar um sítio canceroso com raio-X ou raios gama de uma fonte externa contendo este elemento. O iodo-131 é utilizado em Medicina Nuclear para exames de tireóide. 54 CEDERJ 4. O oxigênio possui três isótopos: 16O, 17O e 18O. Monte uma tabela semelhante à Tabela 4.4 para os isótopos do oxigênio: ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ _________________________________________________________________ RESPOSTA COMENTADA Você já sabe que o oxigênio tem Z = 8. Como os números de massa dos isótopos são 16, 17 e 18, o número de nêutrons em cada isótopo é de 8, 9 e 10, respectivamente. A tabela que você vai montar fica assim: Isótopo N° atômico Nº de massa Nº de nêutrons O 8 16 8 17 08 O 8 17 9 18 08 O 8 18 10 16 08 MASSA ATÔMICA Uma vez que os átomos são tão pequenos e leves, não é prático medir a massa de um pequeno número deles. Foi escolhido arbitrariamente um tipo de átomo como padrão para medição de massas e, então, foi desenvolvida uma escala de medições relativas de massa. Nesta, atribui-se o valor exato de 12,000 unidades de massa atômica (u.m.a) ao isótopo mais abundante do carbono, o 12C. A massa desse isótopo tem o valor de 1,992×10-26 kg. Logo, 1 u.m.a. = 1,660×10-27 kg Nesta escala, as massas de cada tipo de átomo são especificadas em relação ao valor da massa do isótopo 12C do carbono. Por exemplo, o O tem massa 1,3333 vezes maior que a massa do 12C. A massa atômica 16 do 16O, em u.m.a, é 1,233×12 = 16. Já aprendemos que muitos elementos têm, pelo menos, dois isótopos que ocorrem naturalmente. Dessa forma, uma amostra desses elementos contém uma mistura de diferentes isótopos. A abundância percentual indica a contribuição percentual de um isótopo correspondente à ocorrência natural de um elemento. CEDERJ 55 AULA 4 ATIVIDADE Elementos de Química Geral | O átomo é divisível! ! A massa atômica de um elemento é a média dos números de massa dos isótopos do elemento, ponderada pela abundância percentual de cada isótopo do elemento. A massa atômica é expressa em unidades de massa atômica (u.m.a). O cloro, por exemplo, tem dois isótopos: o 35 Cl e o 37 Cl. As abundâncias percentuais de cada um destes isótopos são de 75,53% para o primeiro e 24,47% para o segundo. Uma amostra de átomos de cloro contém esses isótopos na proporção de suas abundância naturais. A massa atômica do cloro é dada por: 35 u.m.a×0,7553 + 37 u.m.a×0,2447 = 35,5 u.m.a Observe que o valor da massa atômica do cloro foi obtido somando-se os produtos dos números de massa dos isótopos do cloro multiplicados pela fração que corresponde à abundância percentual de cada isótopo. ! Lembre-se de que a percentagem é uma forma de exprimir uma fração. Por exemplo, 75,53% quer dizer 75,53/100 = 0,7553. ATIVIDADE 5. O magnésio (Mg) tem três isótopos: 24Mg, 25Mg e 26Mg. Complete a tabela a seguir e calcule a massa atômica do magnésio. Isótopo Abundância % Mg 78,99 Mg 10,00 Mg 11,01 24 25 26 p M n ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ _________________________________________________________________ RESPOSTA COMENTADA A montagem da tabela é semelhante a que você fez na Atividade 4. Consultando a Tabela Periódica, você pode verificar que o Mg tem doze prótons. Isto permite completar a tabela como segue: 56 CEDERJ 4 Abundância % P M N Mg 78,99 12 24 12 Mg 10,00 12 25 13 Mg 11,01 12 26 14 24 25 26 Para o cálculo da massa atômica, devemos considerar a contribuição de todos os isótopos do Mg, ponderadas pelas suas abundâncias relativas. A massa atômica é dada por 24×0,7899 + 25×0,1000 + 26×0,1101 = 24,32 u.m.a. CONCLUSÃO As experiências realizadas ao final do século XIX e começo do século XX mostraram que o átomo não é uma partícula maciça, como pensava Dalton, mas formado por muitas partículas com massa e carga elétrica definidas. O modelo nuclear do átomo é o que vigora até hoje. ATIVIDADES FINAIS a) Complete os espaços em branco da seguinte tabela: Símbolo Ni 58 S 33 Número de prótons 10 Número de nêutrons 10 Número de elétrons no átomo neutro 30 25 b) O gálio (Ga) tem dois isótopos naturais: 69Ga e 71Ga. As massas destes isótopos, em u.m.a, são 68,929 e 70,925, respectivamente. Determine as abundâncias percentuais destes isótopos do Ga. RESPOSTA COMENTADA a) Você precisa consultar a Tabela Periódica para resolver este exercício, que é semelhante ao que foi feito na Atividade 3. Deve recordar também as definições de número atômico (Z) e número de massa (M); ainda, para um dado elemento X, a representação destas grandezas é dada pelo símbolo M Z X . Lembre-se de que o número atômico é o número de prótons (p), o número de massa é a soma do número de prótons com o de nêutrons e CEDERJ 57 AULA Isótopo Elementos de Química Geral | O átomo é divisível! que, em um átomo neutro, o número de prótons é igual ao de elétrons. Vamos considerar as informações contidas em cada coluna para completar a tabela fornecida. A primeira coluna está ligada ao elemento níquel (Ni) que, pela Tabela Periódica, tem Z=28. (Se você tiver dúvidas sobre como é montada a Tabela Periódica, leia a resposta comentada da Atividade 1 da Aula 3.). Então, para este elemento, p = 28; sendo M dado e igual a 58, temos que n = 58 – 28 = 30. A segunda coluna diz respeito ao elemento enxofre (S). A Tabela Periódica mostra que ele tem Z = 16. Assim, p = 16. Sendo M dado e igual a 33, temos que n = 33 – 16 = 17. A terceira coluna é a de um elemento com p = 10 (Ne) e n = 10. Então, para este elemento, M = 20 e seu símbolo é 20Ne. Na quarta coluna, é dado o número de elétrons (25) e o número de nêutrons (30) do elemento. Então p = 25 (o elemento é o Mn) e M = 55. Juntando todas as informações, a tabela completa fica assim: Símbolo Ni 58 S 33 Ne 20 Mn 55 Número de prótons 28 16 10 25 Número de nêutrons 30 17 10 30 Número de elétrons no átomo neutro 28 16 10 25 b) Para resolver este exercício, você precisa lembrar que a massa atômica de um elemento é uma média das massas atômicas dos isótopos do elemento, ponderada na abundância relativa de cada isótopo. O valor da massa atômica listado na Tabela Periódica, conforme descrito na RESPOSTA COMENTADA da Atividade 3 da Aula 3, é o dessa média ponderada. Você pode verificar que o Ga tem massa atômica 69,723 (em u.m.a.). Então podemos escrever: i) Massa atômica Ga = (massa atômica 69Ga × abundância relativa do 69Ga) + (massa atômica 71Ga × abundância relativa do 71Ga); ii) abundância relativa do 69Ga + abundância relativa do 71Ga = 100%; A expressão (ii) estabelece a relação entre as abundâncias relativas dos dois isótopos. Lembre-se de que 100% = 1. Se você chamar de x a abundância relativa do 69Ga, então a abundância relativa do 71Ga será dada por 1 – x. Assim, usando os dados do problema, as informações da Tabela Periódica e a relação (ii), você pode escrever a relação (i) como segue: 69,723 = 68,929x + 70,925(1 – x) Esta equação do primeiro grau tem solução x = 0,6022, ou 60,22%. Assim a abundância relativa do 69Ga é de 60,22%, e a do 71Ga é de (100 – 60,22) = 39,78%. 58 CEDERJ 4 A estrutura do átomo é mais complexa do que se pensava quando o modelo atômico de Dalton foi elaborado. O átomo é formado por muitas partículas com propriedades distintas que se reúnem formando núcleo denso e rodeado pelos elétrons. O núcleo atômico pode conter um número diverso de nêutrons para o mesmo número de prótons, resultando em isótopos do elemento. A determinação da massa atômica de um elemento deve levar em consideração a existência dos isótopos. INFORMAÇÃO SOBRE A PRÓXIMA AULA Na próxima aula, você vai estudar a estrutura da eletrosfera, região do átomo que contém os elétrons. Vamos apresentar os modelos usados para descrever a distribuição dos elétrons nesta região. CEDERJ 59 AULA RESUMO objetivos AULA Estrutura eletrônica dos átomos 5 Meta da aula Metas Descrever os modelos atômicos de Thomson, Bohr e Schrödinger. Definir os números quânticos dos elétrons de um átomo. Determinar as configurações eletrônicas dos átomos neutros e de íons. Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de: • Comparar o tamanho das órbitas de Bohr em relação aos átomos distintos. • Determinar o número de orbitais atômicos em cada camada do átomo. • Escrever a configuração eletrônica de átomos e íons. Pré-requisito Você precisa dos conhecimentos da aula anterior sobre a estrutura do átomo para melhor compreender os conceitos desta aula. Elementos de Química Geral | Estrutura eletrônica dos átomos INTRODUÇÃO Na aula anterior, você aprendeu que um átomo é formado por um núcleo denso e extremamente pequeno circundado pelos elétrons. Nesta aula, vamos analisar a forma como os elétrons se distribuem em torno dos núcleos. Esta distribuição define a estrutura eletrônica do átomo. Você vai aprender a caracterizar os elétrons presentes no átomo pelos seus números quânticos e a forma de arrumá-los de acordo com o princípio da estruturação. OS MODELOS ATÔMICOS DE THOMSON E DE RUTHERFORD-BOHR No começo do século XX, devido à descoberta das partículas subatômicas, houve muita especulação de como seria a estrutura do átomo. Sabia-se que era formado por partículas de carga positiva e de carga negativa (a existência do nêutron foi comprovada mais tarde), mas não se tinha idéia de como estas partículas se arrumavam para formar o arranjo estável característico do átomo. Um modelo simples, proposto por J.J. Thomson, sugeria ser o átomo uma esfera maciça, como no modelo de Dalton, porém com cargas positivas e negativas disseminadas em seu interior. Este modelo inicial ficou conhecido como o “modelo do pudim de passas”. Na Figura 5.1, você pode ver como seria um átomo segundo essa formulação. A esfera maciça está cortada para que você visualize a disseminação de cargas positivas e negativas dentro da esfera. Elétrons Carga positiva Figura 5.1: No modelo de Thomson, o átomo era como um “pudim de passas”. 62 CEDERJ 5 Experiências realizadas por Rutherford, por volta de 1909, AULA mostraram que o modelo de Thomson era inconsistente. Naquelas experiências, lâminas finas de metais, como o ouro, eram bombardeadas por um feixe de partículas α, que já se sabia serem carregadas positivamente (veja a Tabela 4.2 da aula anterior). Observe o comportamento do feixe na Figura 5.2: Detetor Colimador ZnS Fonte α Folha de ouro Partículas Espalhadas Figura 5.2: Comportamento do feixe de partículas α ao incidir sobre uma fina lâmina de ouro. Rutherford verificou que este comportamento era incompatível com o modelo de Thomson. Rutherford verificou que a maioria das partículas atravessava a lâmina sem sofrer desvios, como se nada encontrasse em seu caminho; além disso, observou que uma pequena fração era desviada por ângulos muito maiores do que o previsto caso o átomo se comportasse segundo o modelo de Thomson. Para explicar as suas observações, Rutherford estabeleceu, em 1911, o modelo nuclear do átomo (que já foi apresentado na aula anterior). Neste modelo, o átomo contém um núcleo muito pequeno e massivo rodeado por elétrons, que se encontram bastante afastados dele. O modelo de Rutherford foi aprimorado por Niels Bohr, em 1913. Bohr postulou que: 1. Os elétrons de um átomo giram em torno do núcleo em órbitas circulares concêntricas, como planetas orbitando em torno do Sol (como você pode visualizar na Figura 5.3). 2. Apenas certas órbitas são permitidas para um dado elétron. Isto significa que a distância entre um elétron e o núcleo do átomo não pode ter qualquer valor, mas somente certos valores permitidos. 3. Os valores permitidos para a distância do elétron ao núcleo são aqueles em que o módulo do MOMENTO ANGULAR ORBITAL (L) do elétron é um múltiplo da constante de Planck (h). Estas distâncias permitidas MOMENTO ANGULAR ORBITAL Na Figura 5.4, você poderá visualizar as grandezas pertinentes ao movimento de uma partícula de massa (m), circulando a uma distância (r) de um ponto origem (O). A velocidade de deslocamento da partícula é v. O momento angular (L) da partícula, aponta perpendicularmente ao plano do movimento da partícula, e seu valor absoluto (módulo) é L = mvr. Segundo Bohr, o valor de L para um elétron em torno do núcleo de um átomo é um múltiplo da constante de Planck (L = nh/2π), em que n é um número inteiro e diferente de zero. CEDERJ 63 Elementos de Química Geral | Estrutura eletrônica dos átomos (rn) para um elétron em um átomo cujo núcleo tem número atômico Z n2 a0 são dadas por rn = . Nesta expressão, n é um número inteiro que Z define a órbita permitida, e a0 é uma reunião de constantes, cujo valor é 0,529 Å (conhecida como raio de Bohr). 4. Ao circular em uma órbita permitida, a energia do elétron é constante. A cada órbita corresponde um nível de energia (E) característico. Os valores de energia permitidos ao elétron dependem de um número inteiro positivo (n =1, 2, 3, 4,...), chamado número quântico. 5. O elétron pode pular de uma órbita para outra. Ao pular, ele emite ou absorve energia correspondente à diferença? E entre o nível de energia inicial, Ei, e o final, Ef: ∆E = Ef - Ei ω R m v ^ r Figura 5.3: Modelo de Bohr. Nesse modelo, os elétrons se movem no plano em órbitas definidas. Figura 5.4: Representação do momento angular orbital de uma partícula. O modelo de Bohr foi o primeiro a explicar o espectro do átomo de hidrogênio, um desafio para os físicos da época. Observe a Figura 5.5. Se a luz emitida por um gás contido em um tubo submetido a uma descarga elétrica for recolhida, passar por um prisma e impressionar uma chapa fotográfica, um conjunto de linhas pode ser observado na chapa: cada linha é luz de um comprimento de onda (λ) bem definido. Este conjunto de linhas forma o espectro do material contido no tubo. Pelo modelo de Bohr, esta linha é devida à emissão de energia, na forma de luz, quando o elétron passa de uma 64 CEDERJ 5 v= AULA órbita de energia mais alta para outra de energia mais baixa. A freqüência (ν) dessa luz é dada por ∆E h ∆E é a diferença entre os níveis de energia inicial e final do elétron (∆E = Ef – Ei), e (h) é a constante de Planck. Vale a pena lembrar que a freqüência se relaciona ao comprimento de onda da luz pela expressão ν = c é a velocidade da luz. c λ , em que Chapa fotográfica Fonte de radiação Prisma Fenda colimadora Figura 5.5: A luz emitida pelo gás contido no tubo provém da energia liberada pelos elétrons quando passam de um nível de energia mais alto para um mais baixo. ATIVIDADE 1. Compare os tamanhos da primeira órbita de Bohr em relação aos átomos de hidrogênio (H), carbono (C) e cálcio (Ca): ___________________________________________________________________ _________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ _________________________________________________________________ RESPOSTA COMENTADA A primeira órbita de Bohr é obtida fazendo-se n =1, na expressão geral rn = n2 a0 . Tudo que você precisa saber é o valor de Z do Z núcleo do átomo de interesse. Consultando a Tabela Periódica, você vai descobrir que ZH = 1, ZC = 6 e ZCa = 20. Então, o valor da primeira órbita de Bohr para o elétron em cada um desses átomos é dado pela seguinte tabela: CEDERJ 65 Elementos de Química Geral | Estrutura eletrônica dos átomos Átomo Z Expressão de rn Valor de rn em Å H 1 1 a0 = a0 1 0,529 C 6 12 a0 a = 0 6 6 0,088 Ca 20 12 a0 a = 0 20 20 0,0265 2 Observe que o tamanho da órbita diminui inversamente ao aumento do número atômico. Isto é consistente com o fato de que o aumento de Z implica um aumento da carga nuclear, que é positiva (pois aumenta o número de prótons). O elétron é atraído para o núcleo, o que faz encolher a órbita. Embora superado pelo modelo dos orbitais, que você vai estudar a seguir, o modelo de Bohr permite fazer várias previsões qualitativas que ainda permanecem válidas. O MODELO ATÔMICO DE SCHRÖDINGER Orbitais atômicos Cerca de dez anos após o modelo de Bohr, um grupo de cientistas – notadamente Erwin Schrödinger – desenvolveu um novo modelo para explicar a estrutura eletrônica do átomo. Este estava baseado nas leis da mecânica quântica e é obtido pela resolução de uma complicada equação matemática, a equação de Schrödinger, aplicada ao elétron no átomo. As leis da mecânica quântica, estabelecidas principalmente por Werner Heisenberg (1901-1976) e Erwin Schrödinger (1887-1961), são, muitas vezes, bastante distintas das leis da mecânica clássica, propostas por Issac Newton (1643-1727). Elas se aplicam a partículas de dimensões microscópicas, como os elétrons, átomos e moléculas. Segundo a mecânica quântica: • As partículas possuem um caráter ondulatório. Esta característica fica tão mais evidenciada quanto mais leve for a partícula. • Uma partícula microscópica pode ser tratada como uma “onda de matéria”. O comportamento desta partícula é obtido resolvendo-se uma equação de ondas, a equação de Schrödinger para a partícula. 66 CEDERJ 5 AULA • As soluções da equação de Schrödinger são funções matemáticas conhecidas como funções de onda, representadas por ψ (a letra grega psi maiúscula). O valor desta função depende da posição da partícula. A equação também fornece, quando resolvida, as energias possíveis da partícula. • Nem sempre uma partícula pode ter qualquer valor de energia. Se a equação de Schrödinger fornecer apenas certos valores de energia, dizemos que a energia é quantizada. • Devido ao caráter ondulatório da partícula, não podemos determinar com total precisão a sua posição e sua velocidade em um dado instante (esta afirmação é o princípio da incerteza, de Heisenberg). • O quadrado da função de onda Ψ obtida da equação de Schrödinger, avaliado em um dado ponto do espaço, é proporcional à probabilidade de encontrarmos a partícula em torno daquele ponto. As soluções da equação de Schrödinger para um elétron em um átomo são denominadas orbitais atômicos. Os orbitais atômicos são funções de onda que descrevem o comportamento do elétron no espaço. Segundo as leis da mecânica quântica, a probabilidade de encontrarmos um elétron em torno de um dado ponto do espaço depende do valor do orbital atômico naquele ponto. Assim, cada orbital descreve uma distribuição específica de onde se encontra o elétron no espaço. Além disso, um elétron, em um dado orbital atômico, tem uma energia perfeitamente determinada, obtida pela solução da equação de Schrödinger. Números quânticos O modelo de Bohr introduziu um único número quântico (n) para descrever a órbita de um elétron, e este que define as órbitas e a energia do elétron no átomo. Em contraste, os orbitais atômicos são caracterizados por três números quânticos (n, l e ml). Estes são obtidos a partir da solução da equação de Schrödinger. A interpretação destes números só pode ser feita resolvendo-se esta equação, o que está fora dos objetivos deste curso. Vamos resumir a seguir o tipo de informação dado por eles: • O número quântico principal (n) está ligado ao tamanho e à energia do orbital. Só pode ter valores inteiros e positivos (n = 1, 2, 3, 4, ...). À medida que n cresce, o orbital se torna maior, e a probabilidade de encontrar o elétron mais afastado do núcleo aumenta. A energia do elétron também aumenta com n. CEDERJ 67 Elementos de Química Geral | Estrutura eletrônica dos átomos Lembre-se de que o elétron e o núcleo têm carga oposta. Quanto mais afastado o elétron, menor a atração entre ele e o núcleo; logo, maior a energia do elétron. • O número quântico azimutal (l) mede o momento angular orbital do elétron em torno do núcleo e define a forma do orbital. Só pode ter valores inteiros, que vão de 0 até n – 1 para cada valor de n. Os valores de l são representados por letras segundo o esquema a seguir: Valor de l 0 1 2 3 Letra usada s p d f • O número quântico magnético (ml) mede o componente do momento angular orbital do elétron ao longo de um eixo z arbitrário. Só pode ter valores inteiros entre l e -l, incluindo zero. Para melhor compreender o significado dos números quânticos l e ml, você deve pensar no elétron girando em torno do núcleo. Já mencionamos que a grandeza pertinente a este movimento é o momento angular (L). Esta grandeza é caracterizada pelo seu valor numérico (módulo), direção e sentido, sendo melhor representada por um vetor orientado no espaço. Segundo a mecânica h , 2π h L = m l e a projeção do vetor ao longo do eixo z (Lz) é dada por z 2π . Logo, quântica, o valor numérico do momento angular (L) é dada por L = l (l + 1) l e ml determinam o valor do momento angular e sua projeção no eixo z. Tente visualizar estas informações na Figura 5.6. Nela, um vetor de módulo L = 1x2 h 2π , correspondendo a l = 1, orienta-se no espaço de forma que suas projeções no eixo (z) só podem assumir os valores correspondentes a ml = 0, +1 e -1. Ou seja, as projeções do momento angular (L) num eixo (z) (Lz) só l=1 ml = 1 l=1 π m =0 l 2π Z (1)(2) h 2π B Figura 5.6: O vetor correspondente a l = 1 se orienta no espaço somente de três maneiras, consistentes ao valor de ml = 0, +1 e -1. 68 CEDERJ −π 2π (1)(2) l=1 ml = −1 h 2π AULA 5 Relações entre os números quânticos Em um átomo, o conjunto de orbitais com o mesmo valor de n define uma camada eletrônica. É comum representar as camadas com letras maiúsculas, segundo o seguinte quadro: Valor de n 1 2 3 4 5 6 7 Símbolo da camada K L M N O P Q Obs.: Todos os orbitais com n = 3 pertencem à camada M, por exemplo. Os orbitais com mesmo valor de n e l pertencem à mesma subcamada eletrônica. Cada subcamada é representada por um número (o valor de n) e uma letra (o valor de l). Os orbitais com n = 3 e l = 2, por exemplo, são orbitais 3d e estão na subcamada 3d. O número de orbitais dentro de uma subcamada é o número de valores de ml possíveis para o valor de l que caracteriza a subcamada. Existem, por exemplo, cinco orbitais na subcamada 3d, pois nesta l = 2, e os valores possíveis de ml são 2, 1, 0, -1 e -2. A Tabela 5.1 apresenta os valores possíveis de l e ml para as camadas correspondentes a n = 1, 2 e 3. Você deve acompanhar cuidadosamente os dados desta tabela. Tabela 5.1: Valores possíveis de l e ml para n = 1, 2 e 3 n Símbolo da camada Valores possíveis de l Símbolo da subcamada Valores possíveis de ml Número de orbitais na subcamada Número total de orbitais na camada 1 K 0 1s 0 1 1 2 L 0 2s 0 1 4 1 2p 1, 0, -1 3 0 3s 0 1 1 3p 1, 0, -1 3 2 3d 2, 1, 0, -1, -2 5 3 M 9 Veja que na camada K (n = 1) existe somente uma subcamada, que contém um único orbital (o orbital 1s). A camada L (n = 2) tem quatro orbitais, distribuídos em duas subcamadas: na primeira subcamada (2s), há um orbital 2s; e na segunda (2p), há três orbitais 2p. CEDERJ 69 Elementos de Química Geral | Estrutura eletrônica dos átomos Os orbitais da subcamada 2p diferem pelo valor de ml. A camada M (n = 3) contém ao todo nove orbitais, distribuídos em três subcamadas: a primeira contém um orbital 3s, a segunda contém três orbitais 3p e a terceira, cinco orbitais 3d. ! Generalizando as relações entre os possíveis valores dos números quânticos, podemos observar que: 1. Cada camada, caracterizada pelo número quântico n, contém exatamente n subcamadas. Cada subcamada corresponde a um dos valores permitidos de l, de 0 até n-1. 2. Cada subcamada contém 2l +1 orbitais, cada um correspondendo a um dos valores possíveis de ml, que vão de +l até -l. 3. O número total de orbitais em uma camada é n2. ATIVIDADE 2.a. Estenda a Tabela 5.1, acrescentando os dados correspondentes a n = 4. 2.b. Determine o número de orbitais encontrados nas camadas O e P. RESPOSTA COMENTADA 2.a. Inicialmente, você precisa caracterizar os números quânticos compatíveis ao valor de n dado. Sabemos que, para um dado valor de n, são permitidos n valores de l, que vão de 0 até n -1; para cada valor de l, são permitidos 2l + 1 valores de ml, que vão de +l até -l de uma em uma unidade. Os valores de l permitidos para n = 4 são 0, 1, 2 e 3. De posse destes valores, a Tabela 5.1 pode ser estendida incluindo-se os seguintes dados: n Símbolo da camada Valores possíveis de l Símbolo da subcamada Valores possíveis de ml Número de orbitais na subcamada Número total de orbitais na camada 4 N 0 4s 0 1 16 1 4p 1, 0, -1 3 2 4d 2, 1, 0, -1, -2 5 3 4f 3, 2, 1, 0, -1, -2, -3 7 Observe que a camada N (n = 4) é formada por quatro subcamadas. Na subcamada 4s há apenas uma orbital; na subcamada 4p, existem três orbitais distintos, que diferem pelo valor de m . l 70 CEDERJ 5 AULA Da mesma forma, os cinco orbitais da subcamada 4d e os sete orbitais da subcamada 4f diferem pelos valores de ml . 2.b. Você deve lembrar que o número total de orbitais em uma camada é n2. Assim, teremos o seguinte resultado: Camada O P Valor de n 5 6 Nº de orbitais 25 36 Os orbitais da camada O ocupam as subcamadas 5s (um orbital), 5p (três orbitais), 5d (cinco orbitais), 5f (sete orbitais) e 5g (nove orbitais). Os da camada P ocupam as subcamadas 6s (um orbital), 6p (três orbitais), 6d (cinco orbitais), 6f (sete orbitais), 6g (nove orbitais) e 6h (onze orbitais). Cada orbital em uma subcamada difere dos demais pelo valor de ml . Forma e tamanho dos orbitais atômicos ! A determinação rigorosa da forma e do tamanho de um orbital só pode ser feita conhecendo-se a função matemática que o descreve, o que está fora dos objetivos deste curso. A forma de um orbital depende do valor de l, e seu tamanho, do valor de n. O tamanho de um orbital é normalmente definido por um contorno no espaço. Dentro deste contorno, há cerca de 90% de probabilidade do elétron ser encontrado. Orbitais s têm contornos esféricos. Na Figura 5.7, estão representados contornos dos orbitais 1s, 2s e 3s. À medida que n aumenta, o orbital torna-se maior e o elétron pode ser encontrado cada vez mais afastado do núcleo. Z Y 1s X Figura 5.7: Contornos representativos dos orbitais 1s e 2s. CEDERJ 71 Elementos de Química Geral | Estrutura eletrônica dos átomos Orbitais p têm contornos em forma de halteres. A Figura 5.8 mostra orbitais 2p que se orientam, cada um, ao longo dos eixos x, y, e z, respectivamente. Figura 5.8: Contornos representativos dos orbitais 2px, 2py e 2pz. Energia dos orbitais atômicos A energia de um elétron em um orbital atômico é obtida resolvendo-se a equação de Schrödinger. De um modo geral, esta energia depende dos valores dos números quânticos n e l do orbital onde o elétron se encontra (mas não depende de ml). Observa-se que: • Quanto maior o valor de n, maior é a energia do orbital. O orbital 1s, por exemplo, tem menor energia que o orbital 2s. • Para orbitais com o mesmo valor de n, quanto maior o valor de l, maior é a energia do orbital. Os orbitais da camada n = 3, por exemplo, têm energia na seguinte ordem crescente: 3s < 3p < 3d. • Em alguns casos, um orbital com menor valor de n tem energia maior que a de outro com n maior. Nestes casos, o valor de l do orbital mais energético (de menor n) é maior que o do orbital menos energético (de maior n). Um exemplo disso é o que ocorre entre os orbitais 3d e 4s. Embora o último tenha n maior, é menos energético que o primeiro. Estas observações levaram à construção de uma escala de energia dos orbitais atômicos. Nesta escala, os orbitais são dispostos em ordem crescente de energia. O ordenamento dos orbitais obedece à seqüência descrita a seguir: 1s < 2s < 2p < 3s < 3p < 4s < 3d < 4p < 5s < 4d < 5p < 6s < 4f < ... 72 CEDERJ 5 AULA Figura 5.9: Diagrama de Pauling, indicando o ordenamento dos orbitais. A energia cresce no sentido das setas. O diagrama de Pauling, mostrado na Figura 5.9, é um dispositivo mneumônico que permite obter o ordenamento sem ter de memorizá-lo. Use-o sempre que necessário. O spin do elétron Além da massa e da carga, o elétron possui uma outra propriedade intrínseca, chamada spin (S). A natureza desta propriedade é desconhecida, mas a forma como ela atua foi descrita por Wolfgang Pauli, estabelecendo os seguintes postulados: • O spin funciona como um momento angular intrínseco, cujo valor é único para cada partícula elementar. Para o elétron, está associado ao número quântico S = 1⁄2. • Para o elétron, só existem duas projeções do spin, chamadas α e β. À projeção α corresponde o número quântico ms=+1⁄2, ou �; à projeção β, corresponde o número quântico ms = -1⁄2, ou �. Estes postulados permitem que se visualize o spin como um vetor com módulo único e característico do elétron. Além disso, aponta no espaço de forma que suas projeções em um eixo z arbitrário só podem ter dois valores possíveis, representados por � e �. Imagine dois cones formados por um vetor que gira em torno do eixo z: um dos cones corresponde à projeção com ms = +1⁄2, e o outro à proteção ms = -1⁄2. Visualize o resultado na Figura 5.10. CEDERJ 73 Elementos de Química Geral | Estrutura eletrônica dos átomos B0 mI = + 1/2 (estado α) mI = - 1/2 (estado β) Figura 5.10: O vetor que representa o spin do elétron tem duas projeções, chamadas � � α ( ) e β( ). ! A inclusão do spin faz com que, no átomo, cada elétron seja caracterizado por quatro números quânticos. Os três primeiros, n, l e ml, dizem respeito ao orbital em que o elétron se encontra; o último, ms, define se o spin do elétron é � ou �. CONFIGURAÇÕES ELETRÔNICAS DOS ÁTOMOS O princípio da estruturação Imagine que você tem um núcleo de número atômico Z. Se o átomo é neutro, você já sabe que ele tem Z elétrons. De acordo com o modelo quântico dos orbitais, os elétrons vão se distribuir no átomo segundo o princípio da estruturação. ! O princípio da estruturação é concebido a partir de 4 regras. Elas indicam que: a) Os elétrons ocupam os orbitais em ordem crescente de energia (dada pelo diagrama de Pauling). b) Nenhum orbital pode conter mais do que dois elétrons. c) Se um orbital contiver dois elétrons, os seus spins serão distintos (diz-se que os elétrons estão emparelhados). d) Elétrons não se emparelham em um orbital se outro de mesma energia estiver disponível. Ou seja, os elétrons só se emparelham em um orbital quando todos os orbitais de mesma energia (na mesma subcamada) contiverem pelo menos um elétron. 74 CEDERJ 5 Você já conhece a regra “a”. As regras “b” e “c” são conseqüências AULA do princípio da exclusão de Pauli: Não há em um átomo dois elétrons com os quatro números quânticos iguais. A regra “d”, por sua vez, não pode ser explicada sem o apelo à mecânica quântica. Ela é conhecida como regra da máxima multiplicidade, e a explicação de sua origem está fora dos objetivos deste curso. Configuração eletrônica A distribuição dos elétrons nos orbitais, segundo o princípio da estruturação, determina a C O N F I G U R A Ç Ã O ELETRÔNICA do átomo. Para facilitar a construção das configurações eletrônicas, utiliza-se o diagrama de orbitais. Caixinhas representando os orbitais são arrumadas em ordem seqüencial de energia. Os elétrons entram nas CONFIGURAÇÃO ELETRÔNICA É a ocupação dos elétrons nos orbitais, segundo o princípio da estruturação. caixinhas segundo as regras do princípio da estruturação, gerando a configuração eletrônica desejada. Exemplo 1: O átomo de berílio tem Z = 4 (portanto, quatro elétrons). A distribuição dos elétrons é feita no seguinte diagrama de orbitais. 1s 2s �� �� Os primeiros dois elétrons ficam emparelhados no orbital 1s e os outros dois no orbital 2s. A configuração eletrônica é assim representada: Be: 1s2 2s2. Exemplo 2: O átomo de carbono tem Z = 6 (portanto, seis elétrons). O diagrama de orbitais é: 1s 2s �� �� 2p � � Os quatro primeiros elétrons se distribuem como no átomo de Be. Os dois restantes vão entrar em orbitais da subcamada 2p. Pela regra (d) do princípio da estruturação, cada um vai entrar em um orbital 2p distinto, sem haver emparelhamento de elétrons. A configuração eletrônica do átomo de carbono é C: 1s2 2s2 2p2. Exemplo 3: O átomo de oxigênio tem Z = 8. O diagrama de orbitais é 1s 2s �� �� 2p �� � � CEDERJ 75 Elementos de Química Geral | Estrutura eletrônica dos átomos Vejam que o último elétron só se emparelha na subcamada 2p depois que todos os orbitais desta subcamada contiverem um elétron. A configuração eletrônica do oxigênio é O: 1s2 2s2 2p4. Complicado? Pois é ... Se fosse simples, não seria necessário estudar. Que tal você dar uma “paradinha” rápida antes da atividade que segue? Descanse cinco minutos e volte à aula. ATIVIDADE 3. Forneça o diagrama de orbitais e a configuração eletrônica dos seguintes átomos: a. Neônio (Ne) b. Sódio (Na) c. Cálcio (Ca) d. Ferro (Fe) _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ RESPOSTA COMENTADA Você precisa ter em mãos a tabela periódica para descobrir os números atômicos dos elementos dados no problema. Sabendo o valor de Z, você tem automaticamente o número de elétrons contidos no átomo. O próximo passo é conhecer o ordenamento dos orbitais atômicos em ordem crescente de energia. Para isso, você precisa utilizar o diagrama de Pauling. A última etapa é aplicar as regras do princípio da estruturação. a. Para o Ne, Z = 10. Logo, o átomo tem 10 elétrons. O diagrama de orbitais é: 1s 2s 2p �� �� �� �� �� e a configuração eletrônica é 1s2 2s2 2p6. 76 CEDERJ , 5 AULA Observe que, neste caso, todos os orbitais de todas as camadas ocupadas estão completamente preenchidos. Esta configuração eletrônica é típica dos gases nobres, como será discutido na próxima aula. b. Para o Na, Z = 11. Logo, o átomo de sódio tem 11 elétrons. O diagrama de orbitais é: 1s 2s 2p 3s �� �� �� �� �� � , e a configuração eletrônica é 1s2 2s2 2p63s. Observe que o átomo de sódio tem um único elétron na última camada. Este tipo de configuração é comum ao lítio, rubídio e césio. Estes metais são denominados metais alcalinos, e suas propriedades serão também discutidas na próxima aula. c. Para o Ca, Z = 20. Logo, o átomo de cálcio tem 20 elétrons. O diagrama de orbitais é: 1s 2s 2p 3s 3p 4s �� �� �� �� �� �� �� �� �� �� , e a configuração eletrônica é Ca: 1s2 2s2 2p6 3s2 3p6 4s2. Neste caso, há dois elétrons na camada mais externa do átomo. Este tipo de configuração é comum aos metais alcalino-terrosos: berílio, magnésio, cálcio, estrôncio e bário. d. Para o Fe, Z = 26. Logo, há 26 elétrons no átomo de ferro. O diagrama de orbitais é: 1s 2s 2p 3s 3p 4s �� �� �� �� �� �� �� �� �� �� 3d �� � � � � , e a configuração eletrônica é Fe: 1s2 2s2 2p6 3s2 3p6 4s2 3d6. Diferentemente dos casos anteriores, a penúltima camada do átomo é que contém os elétrons de maior energia. Este é uma caso típico de configuração eletrônica dos metais de transição, que ocupam boa parte da Tabela Periódica. CEDERJ 77 Elementos de Química Geral | Estrutura eletrônica dos átomos Estados excitados e formação de íons No átomo normal, todos os elétrons são encontrados nos níveis de energia mais baixos possíveis. Dizemos que o átomo está no seu estado fundamental. Se o átomo absorver energia – seja na forma de luz ou por colisão com outros átomos – alguns elétrons podem passar para níveis de energia mais altos, ocupando orbitais mais energéticos. Dizemos que o átomo encontra-se em um estado excitado. Se a energia fornecida ao átomo for grande suficiente para arrancar um ou mais elétrons, o átomo terá mais prótons que elétrons, ficando carregado positivamente. É possível, também, que um átomo receba um ou mais elétrons, ficando com mais elétrons do que prótons. Em ambas as situações, a carga elétrica global do átomo não é mais nula. Os átomos carregados positiva ou negativamente são denominados íons. ! Um íon é uma espécie carregada que se forma quando um átomo perde ou ganha elétrons. Um cátion é um íon com carga positiva, e um ânion é um íon com carga negativa. O sódio, por exemplo, quando perde seu elétron 3s (ver a Atividade 2), forma o cátion Na+. O cloro, quando ganha um elétron, forma o ânion Cl-. A configuração eletrônica de um íon é obtida, a partir do átomo neutro, pela adição e retirada de elétrons. A configuração do magnésio (Mg), por exemplo, é Mg: 1s2 2s2 2p63s2. O íon Mg2+, obtido retirando-se os dois elétrons 3s do átomo neutro, tem configuração eletrônica Mg2+: 1s2 2s2 2p6. As espécies iônicas são muito importantes em Química e em Biologia. Muitos processos vitais são controlados por íons. Um exemplo importante é o equilíbrio entre os íons Na+ e K+ presentes nas células. A diferença de concentração entre eles é responsável por manter o volume celular, tornar células nervosas e musculares eletricamente excitáveis e acionar o transporte de aminoácidos, entre outras coisas. 78 CEDERJ AULA 5 ATIVIDADE 4.a. A configuração eletrônica de um certo átomo de magnésio (Z = 12) é dada pelo quadro a seguir: Camada K L M N Nº de elétrons 2 8 1 1 O O átomo está em seu estado fundamental? Justifique sua resposta. _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ 4.b. Obtenha a configuração eletrônica do íon sulfeto (S-). _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ RESPOSTA COMENTADA 4.a. O primeiro passo é escrever a configuração eletrônica do Mg no estado fundamental. Sendo Z = 12 (você obtém esta informação da Tabela Periódica), temos 12 elétrons no átomo neutro. O diagrama de orbitais do Mg neutro é: 1s 2s 2p 3s �� �� �� �� �� �� , e a sua configuração eletrônica é Mg: 1s2 2s2 2p6 3s2. Então o número de elétrons em cada camada é dado pelo quadro a seguir: Camada K L M Nº de elétrons 2 8 2 CEDERJ 79 Elementos de Química Geral | Estrutura eletrônica dos átomos Por comparação, vemos que a distribuição dada corresponde a um estado excitado do átomo, em que um elétron passou de um orbital da camada M para um orbital da camada N. 4.b. O átomo de enxofre neutro tem Z = 16 e configuração S: 1s2 2s2 2p6 3s2 3p4. Esta configuração é obtida do seguinte diagrama de orbitais: 1s 2s 2p 3s �� �� �� �� �� �� 3p �� � � Observe os detalhes da distribuição: há dois elétrons desemparelhados na última subcamada ocupada (lembra do princípio da estruturação?). A adição de dois elétrons leva ao diagrama a seguir: 1s 2s 2p 3s 3p �� �� �� �� �� �� �� �� �� Também leva à configuração S 2-: 1s 2 2s 2 2p 6 3s 2 3p 6. Esta configuração é idêntica à do gás nobre neônio (Ne), como você mesmo pode verificar! CONCLUSÃO O modelo atômico de Schrödinger, ou modelo dos orbitais atômicos, é o mais adequado para descrever a complexa estrutura da eletrosfera do átomo. Embora baseado nas soluções de uma complexa equação matemática, permite caracterizar os elétrons do átomo a partir de quatro números quânticos e descrever como os elétrons se distribuem na eletrosfera. ATIVIDADE FINAL 1. A configuração eletrônica de um certo íon é dada por X+: 1s22s22p63s23p64p1 a. Calcule o tamanho da órbita do elétron mais externo se seguisse o modelo de Bohr. b. Identifique a espécie química X. c. Indique se o íon está no seu estado fundamental ou em estado excitado. 80 CEDERJ 5 RESPOSTA COMENTADA AULA Para responder ao item “a”, você precisa apenas relembrar a fórmula proposta por Bohr para o tamanho das órbitas eletrônicas. Veja que, pelo modelo de Bohr, todos os elétrons pertencentes a uma mesma camada estariam na mesma órbita e à mesma distância do núcleo. O elétron mais externo do íon X+ está numa camada cujo n = 4. Utilizando este valor de n na expressão das órbitas permitidas por 2 Bohr, obtemos rn = 4 a0 . Z X+ Embora saibamos o valor de a0, não sabemos o número atômico da espécie X+. Para descobrir, você precisa contar o número de elétrons do átomo e lembrar que a espécie dada é um cátion, obtido pela retirada de um elétron do átomo neutro X. Sendo o número de elétrons contidos em X+ igual a 19, o átomo neutro (que tem o número de elétrons igual ao número atômico) contém 20 elétrons. Logo, Z = 20. Consultando a Tabela Periódica, você vai verificar que este é o número atômico do cálcio (Ca), o que responde imediatamente ao item (b): a espécie química é o Ca+. Levando o valor de Z=20 na expressão de r n , obtemos rn = o 16a0 = 0, 75a0 = 0, 397 A . 20 Em seu estado fundamental, o Ca neutro tem a configuração eletrônica (veja a Atividade 3) Ca: 1s2 2s2 2p6 3s2 3p6 4s2. O íon Ca+, em seu estado fundamental, tem a configuração Ca+: 1s2 2s2 2p6 3s2 3p6 4s1. A configuração fornecida indica que o elétron mais externo do íon foi promovido do orbital 4s para um orbital 4p; trata-se, portanto, de uma configuração correspondente a um estado excitado do íon. RESUMO A estrutura eletrônica dos átomos só pode ser compreendida à luz da mecânica quântica. O elétron em um átomo é descrito por quatro números quânticos; e não há, em um átomo, dois elétrons com os quatro números quânticos iguais. A configuração eletrônica é uma forma de identificar a distribuição dos elétrons em torno do núcleo. INFORMAÇÕES SOBRE A PRÓXIMA AULA Na próxima aula, você vai aprender a analisar detalhadamente a Tabela Periódica e descobrir como funciona a lei periódica dos elementos. CEDERJ 81 objetivos 6 AULA Propriedades periódicas dos elementos Metas da aula Apresentar o conceito de periodicidade. Localizar os metais, os não-metais, os metalóides e os elementos de transição na Tabela Periódica. Aplicar a Tabela Periódica em diferentes determinações de propriedades dos elementos. Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de: • Caracterizar um elemento por sua posição na Tabela Periódica. • Identificar se um elemento é, por sua configuração eletrônica, representativo de transição ou de transição interna. • Comparar as principais propriedades periódicas entre elementos do mesmo período e do mesmo grupo. Pré-requisito É essencial que você saiba escrever a configuração eletrônica dos átomos; este assunto foi abordado detalhadamente na aula anterior. Elementos de Química Geral | Propriedades periódicas dos elementos INTRODUÇÃO Várias propriedades físicas e químicas dos elementos variam periodicamente em relação ao número atômico. O sódio, o potássio e o rubídio, por exemplo, têm a mesma reatividade frente à água e a mesma facilidade em formar cátions frente ao cloro. Este fato é conhecido como lei periódica. Nesta aula, você vai aprender a origem desta lei e estudar as principais propriedades periódicas. PERIODICIDADE E TABELA PERIÓDICA Definição de periodicidade As propriedades físicas e químicas de um elemento dependem da distribuição de seus elétrons. Elementos com distribuições eletrônicas semelhantes comportam-se de forma semelhante em termos de reatividade e exibem propriedades físicas com um padrão perfeitamente definido. Essas propriedades variam com o número atômico de forma periódica (é a lei periódica). Analise cuidadosamente as seguintes configurações eletrônicas: Na: 1s2 2s2 2p6 3s K: 1s2 2s2 2p6 3s2 3p6 4s Rb: 1s2 2s2 2p6 3s2 3p6 4s2 3d10 4p6 5s F: 1s2 2s2 2p5 Cl: 1s2 2s2 2p6 3s2 3p5 Br: 1s2 2s2 2p6 3s2 3p5 4s2 3d10 4p5 Os três primeiros elementos têm um único elétron na camada mais externa; os três últimos têm sete elétrons nesta camada. Os elétrons da última subcamada ocupada de um átomo são os elétrons de valência, e a camada que os contém é a camada de valência. Elementos com o mesmo número de elétrons de valência têm propriedades semelhantes. É o que acontece com Na, o K e o Rb: eles têm a mesma reatividade frente ao cloro, por exemplo. Da mesma forma, o F, o Br e o Cl comportam-se de forma semelhante ao reagir com o sódio. 84 CEDERJ 6 ! AULA Periodicidade é a repetição das propriedades dos elementos. Ela deriva da forma como os elétrons enchem os orbitais s, p, d e f. A Tabela Periódica é a forma de arrumar os elementos de forma a exibir essa periodicidade (ou lei periódica). A primeira organização consistente da Tabela Periódica (TP) foi proposta em 1869, por Dimitri Mendelev, embora existam várias versões dela. Vamos utilizar a que consta neste livro (você já a utiliza desde a Aula 3). Nela, cada elemento aparece em um pequeno quadrado que contém o símbolo, o número atômico e a massa atômica do elemento, como na Figura 6.1: Figura 6.1: Representação de um elemento da Tabela Periódica. Períodos e grupos ! Período é o nome que se dá a cada linha da Tabela Periódica. Grupo é o nome que se dá a cada coluna da Tabela Periódica. Os períodos são numerados de 1 a 7, conforme o número da última camada do elemento que é ocupada por elétrons. Um elemento do terceiro período, por exemplo, tem elétrons até a camada n = 3 (camada N). Os elementos ao longo de uma coluna pertencem ao mesmo grupo, ou família química. Eles têm o mesmo número de elétrons de valência e, conseqüentemente, propriedades físicas e químicas semelhantes. ! Existem diversos sistemas em uso para numerar os grupos da Tabela Periódica. No sistema recomendado pela IUPAC (International Union of Pure and Applied Chemistry), as colunas são numeradas da esquerda para a direita, de 1 a 18. Um sistema mais didático usa os números 1 a 8 e as letras A e B. É o que nós vamos usar em nossa discussão. Os elementos do grupo A são chamados representativos. O número do grupo, que aparece no topo de cada coluna, indica o número de elétrons de valência de cada membro do grupo. Nestes elementos, a última camada ocupada é a mais externa. CEDERJ 85 Elementos de Química Geral | Propriedades periódicas dos elementos Exemplo: Os membros do grupo 3A são o boro (B), o alumínio (Al), o gálio (Ga), o índio (In) e o titânio (Ti). Todos têm três elétrons na camada de valência. Os elementos do grupo B estão em três linhas de dez elementos, no meio da Tabela Periódica; são chamados elementos de transição, ou metais de transição. Muitos exibem propriedades químicas semelhantes, não só nos grupos, mas também ao longo dos períodos. Isto se deve ao fato de que os últimos elétrons dos átomos desses elementos ocupam uma camada que não é a mais externa. Exemplo: Nos elementos de transição do quarto período, os orbitais 4s são preenchidos antes dos orbitais 3d. Assim, os últimos elétrons não se encontram na camada mais externa (4s), mas sim na imediatamente anterior a ela (3d). Finalmente, os elementos de transição interna são os que correspondem às duas fileiras na parte inferior da tabela. A primeira fileira é a dos lantanídeos e a segunda, a dos actinídeos. Observe que, no corpo principal da tabela, há uma lacuna entre os elementos lantânio (La) e háfnio (Hf), e outra entre o actínio (Ac) e o Rutherfórdio (Rf). Essas lacunas correspondem aos lantanídeos e aos actinídeos, respectivamente. Nestes elementos, as duas últimas camadas começam a ser preenchidas antes da antepenúltima. Nos lantanídeos, por exemplo, os últimos elétrons ocupam a camada 4, embora a última camada seja a n = 6. ! Alguns grupos da Tabela Periódica têm nomes especiais. Os elementos dos grupo 1A são os metais alcalinos; os do grupo 2A são os metais alcalinoterrosos; os do grupo 7A são os halogênios, e os do grupo 8A são os gases nobres. Estes últimos são assim nomeados devido a sua baixa reatividade. 86 CEDERJ AULA 6 ATIVIDADE 1.a. Complete a tabela a seguir: Elemento Período Cobalto (Co) 4 Grupo Representativo? Transição? Transição interna? Não Não Sim Iodo (I) Prata (Ag) 1B Selênio (Se) Urânio (U) 1.b. As configurações eletrônicas de três elementos X, Y e Z são dadas a seguir: X: 1s2 2s2 2p6 3s2 3p6 4s2 3d10 4p6 5s2 4d3 Y: 1s2 2s+ 2p6 3s2 3p6 4s2 3d10 4p6 5s2 4d10 5p6 6s Z: 1s2 2s2 2p6 3s2 3p6 4s2 3d10 4p6 5s2 4d10 5p6 6s2 4f Identifique o elemento representativo, o de transição e o de transição interna. RESPOSTA COMENTADA 1.a. Para realizar esta atividade, você precisa consultar a Tabela Periódica, localizar cada elemento e verificar a numeração do período e do grupo correspondente. A tabela completa é a que segue: Elemento Período Cobalto (Co) Iodo (I) Transição? Transição interna? Não Sim Não Sim Não Não Grupo Representativo? 4 8B 5 7A Prata (Ag) 5 1B Não Sim Não Selênio (Se) 4 6A Sim Não Não Urânio (U) 7 actinídeos Não Não Sim 1.b. Você precisa saber que em um elemento representativo, os últimos elétrons ocupam a última camada; em um elemento de transição, ocupam a penúltima; e em um de transição interna, a antepenúltima. No elemento X, o orbital 5s é preenchido antes dos orbitais 4d (pois estes têm energia maior que aquele, de acordo com o diagrama de Pauling, visto na aula anterior). Assim, os elétrons mais externos não estão na última camada (n = 5), e sim na penúltima (n = 4). Trata-se de um metal de transição. CEDERJ 87 Elementos de Química Geral | Propriedades periódicas dos elementos No elemento Y, a última camada (n = 6) é a mais externa. Trata-se de um elemento representativo. Finalmente, no elemento Z, a camada que contém os elétrons mais energéticos (n = 4) é a antepenúltima. Trata-se de um elemento de transição interna. Metais, não-metais e metalóides Várias propriedades dos elementos permitem que os classifiquemos em metais, não-metais e metalóides. Você deve estar familiarizado com algumas propriedades de metais e não-metais. Vamos listá-las na Tabela 6.1: Tabela 6.1: Algumas propriedades de metais e não-metais Propriedade Metais Não-metais Brilho Brilhantes Opacos Densidade Alta Baixa Ponto de Fusão Alto Baixo Condutividade elétrica Alta Baixa Os metais se encontram à esquerda e no centro da Tabela Periódica. Os não-metais pertencem aos grupos 5A, 6A, 7A e 8A. Entretanto, a fronteira entre esses dois tipos de material não é nítida. Existem elementos SEMICONDUTORES que exibem propriedades dos metais e dos não-metais. Eles são chamados Diz-se das substâncias com resistividade entre a de um condutor e a de um isolante, e que pode variar segundo as condições físicas a que está submetida. O computador que você utiliza funciona devido aos circuitos integrados, como os representados na Figura 6.2. Eles são dispositivos eletrônicos feitos à base de semicondutores, como o silício e o germânio. metalóides, ou semimetais. O arsênio, por exemplo, pertence ao grupo 88 CEDERJ 5A, mas se comporta como metal frente ao oxigênio e ao flúor. Uma propriedade muito importante dos metalóides é a sua condutividade elétrica: ela não é tão alta como nos metais, nem tão baixa como nos não-metais. São materiais ditos SEMICONDUTORES. 6 AULA Figura 6.2: Um circuito integrado utilizado em microcomputadores contém silício e germânio. PROPRIEDADES PERIÓDICAS DOS ELEMENTOS Vamos encerrar nossa aula ilustrando a lei periódica pela análise de algumas propriedades importantes dos elementos. O estudo dessas propriedades mostrará, também, as diferenças entre metais e não-metais. Raio atômico É impossível medir o tamanho exato de um átomo, pois ele não é uma esfera maciça, como pensava Dalton. Lembre-se de que os elétrons ocupam os orbitais atômicos (funções matemáticas que se espalham pelo espaço). Embora haja regiões de maior probabilidade de o elétron ser encontrado quando em um orbital, ele pode também estar localizado em outras regiões. Desta forma, a definição do tamanho do átomo é ambígua, e há várias maneiras práticas de determinar essa grandeza. Uma delas, e muito usada, é definir o raio atômico tomando-se a metade da distância entre os núcleos dos átomos adjacentes em um composto. A Figura 6.3 ilustra o procedimento usando a molécula de cloro. CEDERJ 89 Elementos de Química Geral | Propriedades periódicas dos elementos d = RCl Cl Cl Figura 6.3: A distância (d) entre os átomos de Cl permite obter o raio do cloro. ! Observa-se na Tabela Periódica que o raio atômico: • diminui ao longo de um período; • aumenta ao longo de um grupo. Acompanhe essa tendência pelo gráfico ilustrativo apresentado na Figura 6.4. Você pode verificar por ele que os metais mais à esquerda e mais abaixo na Tabela Periódica devem ter os maiores raios atômicos e que os não-metais da parte superior da tabela têm os menores raios atômicos. Figura 6.4: Variação do raio atômico com o número atômico. 90 CEDERJ AULA 6 Energia de ionização A energia de ionização (EI) de um elemento X é a energia necessária para remover o elétron mais fracamente ligado ao átomo, em fase gasosa do elemento. O processo pode ser representado pela seguinte equação: X(g) → X+(g) + e– A energia de ionização mostra o quão fácil é remover o elétron mais fracamente ligado ao átomo. O tamanho do átomo afeta a intensidade da atração entre os elétrons de valência e o núcleo do átomo. Se o raio atômico aumenta, os elétrons de valência ficam mais fracamente ligados; o contrário ocorre se o raio atômico diminui. ! Observa-se que, ao longo da Tabela Periódica, a energia de ionização: • aumenta ao longo de um período; • diminui ao longo de um grupo. Essas observações corroboram o que foi dito anteriormente. Os metais têm, em geral, energia de ionização menor que os não-metais. Os gases nobres, devido à sua estabilidade, têm energia de ionização muito alta. Você pode acompanhar essas informações por meio do gráfico apresentado na Figura 6.5, que indica como a energia de ionização varia em relação ao número atômico. Figura 6.5: Variação da energia de ionização com o número atômico. CEDERJ 91 Elementos de Química Geral | Propriedades periódicas dos elementos Afinidade ao elétron A afinidade ao elétron (AE) de um elemento X é a energia liberada quando um elétron é adicionado a um átomo neutro do elemento em fase gasosa. O processo pode ser representado pela seguinte equação: X(g) + e– → X–(g) Alguns elementos, como os gases nobres, não têm afinidade a elétrons adicionais. ! Observa-se que, ao longo da Tabela Periódica, a afinidade ao elétron: • aumenta ao longo de um período (à medida que o raio diminui); • diminui ao longo de um grupo (à medida que o raio atômico aumenta). A afinidade ao elétron dos metais é baixa, e a dos não-metais é alta. Isto indica, também, que os metais têm maior facilidade em perder elétrons, e os não-metais em ganhar. ATIVIDADE 2. Dos elementos rubídio (Rb), lítio (Li), cloro (Cl) e iodo (I), qual tem a. maior e menor raio atômico? b. maior e menor energia de ionização? c. maior e menor afinidade eletrônica? RESPOSTA COMENTADA Você precisa conhecer as tendências de cada propriedade em crescer ou diminuir ao longo da Tabela Periódica. Precisa também verificar a posição relativa de cada elemento na Tabela para realizar corretamente esta atividade. O Cs e o Li estão no mesmo grupo, na extrema esquerda da TP (são metais do grupo 1A, ou metais alcalinos); já o Cl e o I também estão no mesmo grupo, mas na extrema direita (são do grupo 7A, ou halogênios). Por outro lado, o Li e o F estão no mesmo período (correspondendo a n = 2), bem como o Rb e o I (correspondendo a n = 5). 92 CEDERJ 6 AULA O raio atômico diminui ao longo de um período e aumenta em um grupo; então, o elemento de maior raio é o Rb, e o de menor é o F. A energia de ionização aumenta ao longo de um período e diminui ao longo de um grupo. Logo, o elemento de maior energia de ionização é o F, e o de menor é o Rb. A afinidade ao elétron aumenta ao longo de um período e diminui ao longo de um grupo. Logo, o elemento de maior afinidade eletrônica é o F, e o de menor é o Li. OS ELEMENTOS NECESSÁRIOS À VIDA Os organismos vivos, como todos os corpos presentes na Terra, são compostos de átomos dos elementos que ocorrem na natureza. Entretanto, dos elementos conhecidos, somente 25 parecem ser essenciais à vida. A lista desses elementos essenciais é apresentada na Tabela 6.2, a seguir: Tabela 6.2: Os 25 elementos essenciais à vida Elemento Símbolo Elemento Símbolo Elemento Símbolo Arsênio As Flúor F Nitrogênio N Boro B Fósforo P Oxigênio O Cálcio Ca Ferro Fe Níquel Ni Carbono C Hidrogênio H Potássio K Cloro CL Iodo I Selênio Se Cromo Cr Magnésio Mg Silício Si Cobalto Co Manganês Mn Sódio Na Cobre Cu Molibdênio Mo Zinco Zn Enxofre S Os elementos mais abundantes nos organismos vivos são o carbono, o hidrogênio, o nitrogênio e o oxigênio. Eles formam 99,3% dos átomos de seu corpo, enquanto os 21 elementos restantes correspondem a apenas 0,7%. Apesar de entrarem em proporção tão pequena, eles realizam uma série de funções críticas para a vida. A ausência de qualquer desses elementos no organismo pode levar a doenças e até mesmo à morte. CEDERJ 93 Elementos de Química Geral | Propriedades periódicas dos elementos CONCLUSÃO A semelhança entre as propriedades físicas e químicas de alguns elementos não é casual; ela deriva da semelhança que ocorre na camada de valência desses elementos. A Tabela Periódica mostra de forma condensada e sistemática como os elementos se arrumam segundo a semelhança de suas propriedades. ATIVIDADE FINAL a) Identifique os seguintes elementos: (i) grupo 2A, período 5 (ii) grupo 4B, período 4 (iii) grupo 7A, período 2 (iv) grupo 2A, período 2 Quais desses quatro elementos têm propriedades químicas semelhantes? b) Arrume os seguintes elementos, do mais metálico para o menos metálico: (i) S, Cl, Si e Pd (ii) Sn, Rb, Ag e Pd c) Para cada um dos pares, diga qual elemento tem o maior raio atômico, a maior energia de ionização e a maior afinidade eletrônica: (i) Ca e Se (ii) S e Se (iii) Ca e Sr RESPOSTA COMENTADA a. Para realizar esta atividade, você só precisa consultar a TP. Nela, os elementos estão arrumados por grupos (numerados na parte de cima), que correspondem às colunas da tabela; e por períodos (numerados na parte lateral), que correspondem às linhas da tabela. Cada elemento fica caracterizado pela posição que ocupa em uma linha e em uma coluna da tabela. (i) O elemento que está no grupo 2A, período 5 é o estrôncio (Sr). Trata-se de um metal alcalino-terroso. (ii) O elemento que está no grupo 4B, período 4 é o cromo (Cr). É um metal de transição. 94 CEDERJ 6 (iii) O elemento que está no grupo 7A, período 2 é o flúor (F). É um AULA halogênio. (iv) O elemento que está no grupo 2A, período 2 é o berílio (Be). É um metal alcalino-terroso. Elementos no mesmo grupo têm propriedades semelhantes. Dos dados no problema, os que pertencem ao mesmo grupo são o Sr e Be. b. Você precisa saber que um elemento tem tão mais caráter metálico quanto mais à esquerda estiver na Tabela Periódica. Uma consulta vai mostrar, então, que a ordem será: (i) Pd > Si > S > Cl (ii) Rb > Pd > Ag > Sn Ou seja, o paládio (Pd) é o de maior caráter metálico entre os elementos listados no item (i) e o rubídio, entre os do item (ii). c. Para resolver esta questão, verifique se os elementos de cada par estão no mesmo período ou no mesmo grupo. Sabemos que o raio atômico (R) diminui ao logo de um período e aumenta ao longo de um grupo. A energia de ionização (EI) e a afinidade ao elétron (AE) aumentam ao longo de um período e diminuem ao longo de um grupo. Os elementos deste par (i) estão no mesmo período (n = 4). Os dos pares (ii) e (iii) nos mesmos períodos (6A e 2A, respectivamente). Podemos montar a seguinte tabela: Par R El AE (i) Ca > Se Se > Ca Se > Ca (ii) Se > S S > Se S > Se (iii) Sr > Ca Ca > Sr Ca > Sr CEDERJ 95 Elementos de Química Geral | Propriedades periódicas dos elementos RESUMO As propriedades periódicas dos elementos estão intimamente relacionadas aos elétrons de valência. A Tabela Periódica exibe essa periodicidade. Nela, dividimos os elementos em metais, não-metais e metalóides. O raio atômico dos elementos diminui ao longo de um período e aumenta ao longo de um grupo na tabela. Já a energia de ionização e a afinidade eletrônica têm comportamento oposto. INFORMAÇÃO SOBRE A PRÓXIMA AULA Na próxima aula, você vai estudar o primeiro tipo de ligação química entre os átomos: a ligação iônica. 96 CEDERJ objetivos 7 AULA Combinações entre átomos: a ligação iônica Metas da aula Definir os tipos de ligação química entre os átomos. Enunciar a regra do octeto e o seu significado. Representar o símbolo de Lewis de átomo. Descrever a ligação iônica. Relacionar o tamanho de um íon com o do átomo neutro que o originou. Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de: • Reconhecer se uma ligação química é iônica, covalente ou metálica. • Escrever o símbolo de Lewis de um elemento através de informações da Tabela Periódica ou da configuração eletrônica. • Representar a formação de um composto iônico utilizando os símbolos de Lewis. • Comparar o tamanho relativo de átomos e íons. Pré-requisitos Você precisa dos conceitos ensinados na Aula 6 (especialmente o de elétrons de valência) para compreender esta aula. Elementos de Química Geral | Combinações entre átomos: a ligação iônica INTRODUÇÃO Nas aulas anteriores, você aprendeu a descrever a estrutura eletrônica e as propriedades de átomos e íons. Se os átomos ou íons são fortemente atraídos uns pelos outros, dizemos que existe uma ligação química entre eles. Nesta aula, você vai aprender a distinguir os tipos de ligação e conhecer a regra do octeto, uma regra básica para a formação da ligação química. Ela será usada para compreender o primeiro tipo de ligação que vamos estudar em nosso curso: a ligação iônica. TIPOS DE LIGAÇÃO QUÍMICA As propriedades das substâncias são determinadas, em grande parte, pelas ligações químicas que mantêm os átomos unidos. O açúcar (sacarose, C12H22O10) e o sal de cozinha (cloreto de sódio, NaCl), por exemplo, são compostos totalmente diferentes. O que dá características tão marcantemente distintas a esses compostos é o tipo de ligação entre os átomos. As ligações entre os átomos de carbono, oxigênio e hidrogênio na sacarose têm um caráter totalmente diverso daquelas entre os átomos de cloro e de sódio no NaCl. O açúcar, por exemplo, tem baixo ponto de fusão; o sal de cozinha, alto. Se você colocar uma solução de açúcar entre dois eletrodos e tentar passar uma corrente, como mostrado na Figura 7.1, verá que a solução é má condutora elétrica; por outro lado, se a solução contiver sal de cozinha, a corrente flui com facilidade! Bateria e- Ânodo e- Cátodo Figura 7.1: Se a solução dentro do recipiente contiver açúcar, a corrente elétrica não passa; se contiver sal, ela passa com facilidade. 98 CEDERJ 7 Existem três tipos gerais de ligação química: AULA a. ligação iônica – é o resultado da ação de fortes forças eletrostáticas entre íons de carga oposta. Os íons podem ser formados a partir dos átomos neutros, pela transferência de elétrons de um átomo para outro. Este tipo de ligação ocorre normalmente entre os metais mais à esquerda e os não-metais mais à direita da Tabela Periódica; b. ligação covalente – é o resultado do compartilhamento de um ou mais pares de elétrons entre dois átomos. Ocorre normalmente entre os não-metais; c. ligação metálica – é a ligação encontrada nos metais, como no ferro, no cobre ou no alumínio. Neste tipo de ligação, cada átomo se liga a muitos outros átomos vizinhos. Os elétrons de ligação são relativamente livres para mover-se através da estrutura tridimensional do metal. ATIVIDADE 1. Determine o tipo de ligação entre os pares de elementos a seguir: a. carbono e oxigênio b. carbono e cloro c. magnésio e bromo d. magnésio e magnésio e. enxofre e enxofre __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ _________________________________________________________________ RESPOSTA COMENTADA Para resolver o exercício desta atividade, você precisa reconhecer se os elementos listados são metais ou não-metais. O estudo da Tabela Periódica (feito na Aula 6) permite que você identifique os elementos da seguinte forma: • metais: magnésio; • não-metais: carbono, oxigênio, cloro, bromo e enxofre. Sabemos também que a ligação iônica se dá entre um metal e um não-metal; a covalente, entre não-metais; a metálica, entre metais. Então a resposta do exercício é: a. ligação covalente b. ligação covalente c. ligação iônica d. ligação metálica e. ligação covalente CEDERJ 99 Elementos de Química Geral | Combinações entre átomos: a ligação iônica SÍMBOLOS DE LEWIS Os elétrons envolvidos nas ligações químicas são os elétrons de valência (lembre-se da Aula 6!), aqueles que estão na camada mais externa do átomo. O americano Gilbert N. Lewis (1875-1946) sugeriu uma forma simples de representar os elétrons de valência de um átomo e de acompanhá-los durante a formação da ligação química. Esta representação é conhecida como símbolo de Lewis, ou diagrama de pontos de Lewis. ! Símbolo de Lewis de um elemento = símbolo químico do elemento + um ponto para cada elétron de valência. A disposição dos elétrons em torno do símbolo de elemento é tal que: • cada elétron ocupa um dos quatro lados do símbolo; • se houver mais de quatro elétrons, preenche-se inicialmente os quatro lados com um elétron; os elétrons restantes entram a seguir, formando pares com cada um dos quatro primeiros. Será que este conceito ficou claro? Vamos trabalhar alguns exemplos para verificar se você compreendeu o que foi dito. Exemplo 1: Escrever o símbolo de Lewis para o fósforo (P) Solução: consultando a Tabela Periódica, você pode verificar que o fósforo pertence ao grupo 5A. Logo, ele tem cinco elétrons de valência (ele é um elemento representativo, como você aprendeu na aula anterior!). Colocamos cada um dos quatro primeiros elétrons em cada um dos lados do símbolo P; o último elétron fica emparelhado com qualquer um dos quatro primeiros. O resultado é: Obs.: Qualquer um dos diagramas mostrado está correto! Exemplo 2: Escrever o símbolo de Lewis do enxofre (S), que tem a seguinte configuração eletrônica: S: 1s22s22p63s23p4 100 C E D E R J 7 Solução: neste caso, podemos determinar o número de elétrons AULA de valência diretamente da configuração eletrônica do elemento. Vemos pela configuração dada que a última camada ocupada (n = 3) é também a mais externa (o enxofre é um elemento representativo). Esta camada tem seis elétrons ao todo. Logo, este é o número de elétrons de valência. O símbolo de Lewis para o enxofre é: Obs.: Ou qualquer representação com dois pares de elétrons emparelhados e dois desemparelhados, colocados nos quatro lados do símbolo. ATIVIDADE 2. Escreva o símbolo de Lewis do sódio (Na), do cloro (Cl), do carbono (C) e do neônio (Ne): __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ _________________________________________________________________ RESPOSTA COMENTADA Para resolver este exercício, você precisa consultar a Tabela Periódica e verificar o grupo em que cada elemento se encontra. Se o elemento for representativo, o número do grupo a que ele pertence indica o número de elétrons de valência. O Na pertence ao grupo 1A, o Cl ao grupo 7A, o C ao grupo 4A e o Ne, por sua vez, ao grupo 8A. Todos são elementos representativos. Portanto, o número de elétrons de valência de cada um é o número do grupo a que pertence (Na = 1, Cl = 7, C = 4 e Ne = 8). Os símbolos de Lewis desses elementos são: No caso do Na, o elétron pode ser colocado em qualquer um dos lados do símbolo químico; da mesma forma, você pode trocar a posição do elétron solitário no cloro com qualquer par, resultando em quatro formas equivalentes de representação. Para o C e o Ne, só há uma forma de arrumar os elétrons. Observe as regras para a representação de um símbolo de Lewis e verifique que, no caso do C, cada elétron deve entrar em um dos lados do símbolo do átomo. O Ne, por sua vez, possui oito elétrons de valência, que só podem ser arrumados como quatro pares de elétrons, um par em cada lado do símbolo. C E D E R J 101 Elementos de Química Geral | Combinações entre átomos: a ligação iônica A REGRA DO OCTETO Se você observar a configuração eletrônica dos elementos do grupo 8A (os gases nobres), verá que eles têm oito elétrons de valência. A baixa reatividade destes elementos foi atribuída a essa configuração eletrônica especial da camada de valência. Esta idéia tornou-se muito importante quando os cientistas observaram que as combinações químicas entre átomos dos elementos representativos se davam de forma que cada átomo, ao final da combinação, atingia a configuração de valência de um gás nobre. Estas observações levaram G.N. Lewis e outros cientistas a formular a regra do octeto. ! Regra do octeto: Os átomos tendem a ganhar, perder ou compartilhar elétrons até que tenham oito elétrons de valência. No caso do hidrogênio, cuja camada de valência é n = 1, o “octeto” fica completo com dois elétrons. Um octeto de elétrons consiste em subcamadas s e p completas de um átomo. Em termos dos símbolos de Lewis, um octeto é representado por quatro pares de elétrons em torno do átomo, tal como no neônio que você descreveu na Atividade 2. Há muitas exceções à regra do octeto, em particular aos elementos mais pesados, nos quais existem elétrons d e f na subcamada incompleta mais externa. Entretanto, a regra é útil para predizer os resultados de combinações entre os elementos mais leves (até cerca de Z = 22). A LIGAÇÃO IÔNICA Os elementos podem atingir um octeto estável pela transferência de elétrons de um átomo para outro. Isso faz com que os átomos neutros se transformem em íons. A força de atração entre íons de carga oposta é chamada ligação iônica. A ligação iônica ocorre entre elementos de baixa energia de ionização (ou seja, com facilidade de perder elétrons) e entre elementos de grande afinidade eletrônica (ou seja, com tendência muito acentuada de receber elétrons). Em outras palavras, ela ocorre preferencialmente entre os metais mais à esquerda e os não-metais mais à direita da Tabela Periódica. 102 C E D E R J 7 Podemos esperar que os elementos com poucos elétrons de valência AULA (em particular os metais dos grupos 1A, 2A e 3A) percam elétrons quando reagem com elementos que tenham quase oito elétrons de valência (como os não-metais dos grupos 6A e 7A). Os íons formados nessa transferência são atraídos uns pelos outros porque cargas opostas se atraem. Esta atração entre os íons é a ligação iônica. O sódio metálico, por exemplo, reage vigorosamente com o gás cloro, formando o cloreto de sódio. Nesta reação, um elétron é transferido do átomo de sódio para o átomo de cloro, com formação dos íons Na+ e Cl-. As configurações eletrônicas dos átomos de Na e de Cl são: Na: 1s2 2s2 2p6 3s; e Cl: 1s2 2s2 2p5. Os símbolos de Lewis para o Na e o Cl são: (Veja a Atividade 2!) Então o processo de transferência de um elétron do Na para o Cl se representa por: Veja que cada íon tem o seu octeto completo (O íon Na+ ficou com oito elétrons na camada n = 2 e nenhum elétron na camada n = 3!). Observe também que o símbolo de Lewis de um íon é escrito entre colchetes, com a carga do íon também indicada. A atração entre os íons positivos e negativos leva a um aglomerado tridimensional ordenado, chamado rede cristalina. O aglomerado total de íons é um composto iônico. A atração eletrostática entre os íons Na+ e Cl-, por exemplo, faz surgir o composto iônico NaCl. Observe a Figura 7.2! Nela você pode verificar que, na rede cristalina do NaCl, cada íon Na+ é rodeado por seis íons Cl-, e cada íon Cl- por seis íons Na+. Assim, há um íon Na+ para cada íon Cl- e o cristal de NaCl é eletricamente neutro. C E D E R J 103 Elementos de Química Geral | Combinações entre átomos: a ligação iônica Figura 7.2: Rede cristalina do NaCl. Cada íon é rodeado por seis íons de carga oposta. ! A razão entre os íons em uma rede cristalina de um composto iônico é tal que o composto, como um todo, é eletricamente neutro. A fórmula de um composto iônico traduz esta proporção entre íons positivos e negativos. No composto MgCl2, por exemplo, a rede cristalina é tal que a proporção entre os íons Mg2+ e Cl- é de 1:2. Em geral, os compostos iônicos são formados por metais e não-metais. Se os elementos envolvidos são representativos, você pode predizer o número de elétrons que eles podem ganhar ou perder, bastando saber a posição do elemento na Tabela Periódica. A Tabela 7.1 lista os íons comuns dos elementos representativos. Tabela 7.1: Íons comuns dos elementos representativos Grupo 104 C E D E R J 1A 2A 3ª 5A 6ª 7A Li+ Be2+ Al3+ N3- O2- F- Na+ Mg2+ P3- S2- Cl- K+ Ca2+ Se2- Br - Rb+ Sr2+ Te2- I- Cs+ Ba2+ AULA 7 Vamos ver se ficou claro? Acompanhe o exemplo a seguir: Exemplo 3: Com base na Tabela 7.1, explicar a formação do íon N3-. Solução: O N pertence ao grupo 5A. Logo, tem cinco elétrons de valência. Ele pode completar seu octeto se ganhar três elétrons. Esta transferência leva à formação do ânion N3-. ATIVIDADE 3.a. Como seria representada a formação do MgCl2 pelos símbolos de Lewis? 3.b. Explicar a formação dos íons S2- e Al3+. __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ __________________________________________________________________ _________________________________________________________________ RESPOSTA COMENTADA 3.a. Você pode consultar a Tabela Periódica para verificar que o Mg pertence ao grupo 2A; é um elemento representativo de modo que tem dois elétrons na camada de valência. Para o cloro, você já dispõe das informações necessárias no texto. Os símbolos de Lewis de cada elemento são: O átomo de Mg precisa perder dois elétrons para ter seu octeto completo. O átomo de Cl só pode receber um elétron. Logo, a formação do MgCl2 se dará pela transferência dos dois elétrons do Mg, um para cada átomo de Cl, segundo o esquema: 3.b. Para resolver este exercício, você deve inicialmente consultar a Tabela 7.1. Os dados desta tabela indicam que o enxofre (S) pertence ao grupo 6A, tendo seis elétrons de valência; logo, ele pode completar o seu octeto ganhando 2 elétrons, o que leva ao ânion S2-. O alumínio (Al), por sua vez, pertence ao grupo 3A, tendo três elétrons de valência; ao perdê-los, forma-se o cátion Al3+. C E D E R J 105 Elementos de Química Geral | Combinações entre átomos: a ligação iônica A formação dos íons de metais de transição é mais difícil de se prever, pois nestes elementos pode-se retirar elétrons não só da subcamada mais externa, como também daquela de maior n. É por esta razão que alguns elementos podem formar mais de um íon. A Tabela 7.2 lista alguns dos íons formados pelos metais de transição mais comuns. Tabela 7.2: Íons dos metais de transição mais comuns Metal Íon Metal Íon Metal Íon Cádmio Cd2+ Cromo Cr2+, Cr3+ Mercúrio Hg22+ , Hg2+ Chumbo Pb2+, Pb4+ Estanho Sn2+, Sn4+ Níquel Ni2+ Cobalto Co2+, Co3+ Ferro Fe2+, Fe3+ Prata Ag+ Cobre Cu+, Cu2+ Manganês Mn2+, Mn3+ Zinco Zn2+ TAMANHO DOS ÍONS Quando elétrons são acrescentados ou retirados de um átomo neutro, o íon formado tem seu tamanho modificado. O tamanho de um íon depende: • da carga do núcleo; • do número de elétrons do íon; • dos orbitais em que os elétrons mais externos se encontram. É mais interessante comparar o tamanho do íon em relação ao átomo neutro que deu origem a ele. Observe a Figura 7.3: ela ilustra o que ocorre em um átomo quando se retiram ou se adicionam elétrons. A formação de um cátion implica a retirada de um ou mais elétrons de orbitais mais afastados do núcleo. Isso diminui a repulsão entre os elétrons restantes e aumenta a atração deles pelo núcleo. O oposto é verdadeiro para os íons negativos: quando elétrons são adicionados para formar um ânion, o aumento da repulsão entre eles faz com que se espalhem mais no átomo. 106 C E D E R J 7 -e b) +e AULA a) Figura 7.3: (a) A retirada de elétrons faz o átomo diminuir; (b) a adição de elétrons faz o átomo aumentar. Finalmente, devemos considerar o tamanho de íons de mesma carga e de mesma família química (ou grupo da Tabela Periódica). Tal como o raio atômico cresce ao longo de um grupo, o tamanho do íon deve acompanhar essa tendência, pois cada elemento de uma mesma família tem elétrons mais externos em camadas com n crescentemente maior. Os íons gerados terão a mesma carga, mas seu tamanho cresce ao longo do grupo. ! Vamos resumir estas idéias da seguinte forma: • cátions são menores do que os átomos neutros que os originaram; • ânions são maiores que os átomos neutros que os originaram; • os íons de uma mesma família têm a mesma carga e aumentam de tamanho ao longo de seu grupo na Tabela Periódica. Acompanhe o exemplo a seguir para verificar se ficou tudo claro. Exemplo 5: Arranje os átomos e íons em ordem decrescente de tamanho: Na+, K+ e K. Solução: Sabemos que os cátions são menores que os átomos neutros de origem. Logo, K > K+. O Na+ e o K+ são íons de elementos do mesmo grupo, com o potássio no período n = 4 e o sódio com n = 3. Logo K+ > Na+. Então o ordenamento final é: K > K+ > Na+ C E D E R J 107 Elementos de Química Geral | Combinações entre átomos: a ligação iônica ATIVIDADE 4. Ordene as espécies a seguir em ordem crescente de tamanho: S2-, O2-, O __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ _________________________________________________________________ RESPOSTA COMENTADA Consultando a Tabela Periódica, você vai verificar que o S e o O pertencem ao mesmo grupo. Sabendo que um ânion é maior que o átomo neutro, então S < S2-. Entre os átomos neutros de O e de S, temos que O < S. Então o ordenamento é: O < S < S2- CONCLUSÃO Os átomos combinam-se entre si devido a forças atrativas que levam à formação de ligações químicas entre eles. Uma forma de combinação é dada pela transferência de elétrons de um átomo com baixa energia de ionização para outro com grande afinidade eletrônica. Este processo leva à formação de redes cristalinas formadas por íons, definindo um composto iônico. ATIVIDADE FINAL Considere os átomos de Ga e I: a. Que tipo de ligação se espera entre eles? Justifique sua resposta. b. Qual é o símbolo de Lewis de cada um destes elementos? c. Qual é o símbolo de Lewis do composto formado entre eles? d. Qual dos dois íons é maior? Justifique sua resposta. ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ 108 C E D E R J 7 RESPOSTA COMENTADA AULA Em primeiro lugar, você deve verificar a posição dos elementos considerados na Tabela Periódica. O Ga pertence ao grupo 3A; e o I, ao grupo 7A. Ambos são elementos representativos. O Ga é um metal e o I um não-metal. Com estas informações, podemos responder às questões propostas. a. Como o Ga é um metal e o I um não-metal, espera-se uma ligação iônica entre eles. b. O Ga tem três elétrons de valência, e o I tem sete. Assim, os símbolos de Lewis para cada elemento são: c. O Ga ganhará a configuração do octeto se perder seus três elétrons externos; o I precisa receber um elétron para formar o octeto. Desta forma, o Ga cede um elétron para cada átomo de I (em um total de três), formando o composto iônico GaI3. Neste composto, a proporção entre os átomos é de um de Ga para três de I. A representação do processo, usando os símbolos de Lewis, é: d. Para responder a esta pergunta, você deve inicialmente pensar na tendência de crescimento do raio atômico dos elementos neutros na Tabela Periódica (veja a aula anterior!). O Ga está no quarto período (n = 4) da Tabela; o I, no quinto, e mais à direita que o Ga. Logo, pela tendência de crescimento do raio atômico, o I é maior que o Ga. Ao formar os íons, o Ga diminui ao passar para Ga3+, e o I aumenta ao passar para I-. Desta forma, o I- é menor que o Ga3+. RESUMO Os elétrons de valência são os responsáveis pela formação das ligações químicas, que podem ser iônicas, covalente ou metálica. Na ligação covalente, há a transferência de um ou mais elétrons de um átomo para outro, até que cada átomo complete seu octeto. Os íons formados têm seus tamanhos alterados em relação aos átomos neutros. C E D E R J 109 Elementos de Química Geral | Combinações entre átomos: a ligação iônica INFORMAÇÃO SOBRE A PRÓXIMA AULA Na próxima aula, você vai estudar a ligação covalente, aquela em que os elétrons são compartilhados entre os átomos. 110 C E D E R J objetivos AULA Combinações entre átomos: a ligação covalente 8 Meta da da aula Metas Descrever a formação da ligação covalente. Caracterizar um composto covalente. Desenhar o diagrama de pontos e o diagrama de ligações para um composto covalente formado pelos elementos representativos. Definir eletronegatividade e definir as tendências da eletronegatividade ao longo da tabela periódica. Diferenciar uma ligação polar de uma ligação apolar. Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de: • Construir os diagramas de pontos e de ligações para combinações covalentes entre átomos. • Ordenar as ligações em ordem crescente de polaridade. Pré-requisitos Você precisa saber representar os símbolos de Lewis dos elementos e a regra do octeto para compreender o conteúdo desta aula. Estes assuntos foram tratados na Aula 7. Você deverá rever também energia de ionização e afinidade eletrônica, apresentados ao final da Aula 6. Elementos de Química Geral | Combinações entre átomos: a ligação covalente INTRODUÇÃO Já vimos que as substâncias iônicas possuem várias propriedades características, tais como alto ponto de fusão e alta condutividade elétrica. A maioria das substâncias não possui as características dos compostos iônicos. À temperatura ambiente, as substâncias são líquidas ou gasosas; se sólidas, têm baixo ponto de fusão. Para descrevê-las e explicar as suas propriedades, precisamos de outro modelo de ligação química, que você vai aprender na aula de hoje. A LIGAÇÃO COVALENTE Átomos que têm atração semelhante por elétrons não podem unirse por ligações iônicas. Neste caso, os seus octetos ficam completos por compartilhamento de elétrons, formando uma ligação covalente. ! Uma ligação covalente surge quando dois núcleos atraem os mesmos elétrons, geralmente arrumados em pares. Figura 8.1: Em uma ligação covalente, dois núcleos atraem os mesmos elétrons. Quando dois ou mais átomos compartilham elétrons através de ligações covalentes, a unidade resultante é uma molécula. Os compostos covalentes são formados por moléculas que, por sua vez, são formadas por átomos unidos por ligações covalentes. Os elementos não-metálicos formam normalmente ligações covalentes. Alguns destes elementos existem na Natureza com dois átomos unidos por uma ligação covalente. As moléculas assim formadas são ditas moléculas diatômicas. Vamos estudar mais detalhadamente duas delas: a molécula de Cl2 e a molécula de H2. ! Elementos que existem como moléculas diatômicas à temperatura ambiente são: 112 C E D E R J Hidrogênio (H2) Flúor (F2) Nitrogênio (N2) Cloro (Cl2) Oxigênio (O2) Bromo (Br2) Iodo (I2) 8 Cada átomo de cloro tem sete elétrons de valência (confira!) e AULA precisa de mais um para completar o seu octeto. O símbolo de Lewis do cloro mostra que existe um elétron desemparelhado na camada de valência (confira novamente!). Ao compartilhar um par de elétrons, formado por cada um dos elétrons desemparelhados, cada átomo de cloro adquire o seu octeto. De forma semelhante, cada átomo de hidrogênio tem um elétron na sua camada de valência. O compartilhamento de um par de elétrons, cada um proveniente de um dos dois átomos de H, permite que cada átomo complete a sua camada de valência com dois elétrons. O diagrama de pontos representativo dessas combinações está ilustrado na Figura 8.2. Nela incluímos também o diagrama de ligações, em que cada par compartilhado é representado por um traço unindo os dois átomos; este traço simboliza uma ligação simples (ou ligação de um par de elétrons). Figura 8.2: Diagrama de pontos e diagrama de ligações para as combinações entre dois átomos de cloro e dois átomos de hidrogênio. Moléculas diatômicas formadas por átomos iguais são ditas homonucleares. É possível que dois átomos diferentes formem ligações covalentes. Moléculas diatômicas formadas por átomos distintos são ditas heteronucleares. A molécula de fluoreto de hidrogênio (HF), por exemplo, é formada pela ligação covalente entre o H e o F, como ilustrado na Figura 8.3. Figura 8.3: Diagrama de pontos e diagrama de ligações para as combinações entre um átomo de flúor e um átomo de hidrogênio. C E D E R J 113 Elementos de Química Geral | Combinações entre átomos: a ligação covalente ATIVIDADE 1. Construa o diagrama de pontos e o de ligações para as moléculas de F2 e de HCl: ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ RESPOSTA COMENTADA Para resolver o exercício desta atividade, você precisa inicialmente escrever os símbolos de Lewis do flúor e do hidrogênio e do cloro: O flúor pode completar seu octeto compartilhando um par de elétrons com outro átomo de flúor; da mesma forma, o hidrogênio e o cloro completam seus octetos se ambos compartilharem um par de elétrons. Os diagramas de pontos e de ligações são dados a seguir: LIGAÇÕES MÚLTIPLAS Freqüentemente, um octeto estável de elétrons só pode ser atingido se mais de um par de elétrons for compartilhado entre dois átomos. Dizemos que há uma ligação múltipla entre os átomos. Dependendo do número de pares de elétrons compartilhados (NPE), teremos os seguintes tipos de ligação: 114 C E D E R J Símbolo Simples – 2 Dupla = 3 Tripla = 8 Tipo de ligação 1 AULA NPE Nada melhor do que observar na prática como as ligações ocorrem. Para tal, você verá exemplos de quatro moléculas. Exemplo 1: A molécula de O2 O oxigênio pertence ao grupo 6A, tendo seis elétrons na camada de valência. O símbolo de Lewis para o átomo de oxigênio é: Obs: Todas estas representações são equivalentes! A combinação de dois átomos de oxigênio forma um octeto estável se dois pares de elétrons forem compartilhados: Na molécula de O2, há uma ligação dupla entre os átomos de oxigênio. Observe que cada átomo fica rodeado por oito elétrons, sendo que quatro deles (dois pares) são comuns aos dois átomos. Exemplo 2: A molécula de CO2 O carbono pertence ao grupo 4A, tem, portanto, quatro elétrons de valência. Só há uma forma de construir o símbolo de Lewis para este elemento: Ele pode completar seu octeto formando duas ligações duplas, uma com cada átomo de oxigênio. O diagrama de pontos e de ligações da formação do CO2 é: C E D E R J 115 Elementos de Química Geral | Combinações entre átomos: a ligação covalente Exemplo 3: A molécula de N2 O nitrogênio pertence ao grupo 5A e tem cinco elétrons de valência. Seu diagrama de Lewis é: Obs: Todas estas representações são equivalentes! A combinação de dois átomos de N se dá pelo compartilhamento de três pares de elétrons, levando à formação de uma ligação tripla. O diagrama de pontos e de ligações é: Observe como cada átomo compartilha três pares de elétrons, completando o seu octeto! Exemplo 4: A molécula de H2O Já sabemos os símbolos de Lewis para o oxigênio e o hidrogênio: Observe que o octeto do oxigênio pode ser completado se este átomo compartilhar dois pares de elétrons; cada par terá um elétron vindo dele e o outro de um átomo de hidrogênio. Haverá, então, a formação de duas ligações simples O-H: ! É importante observar que o diagrama de pontos não indica a forma de uma molécula. Se você observar as representações para o CO2 e para a H2O, verá que não pode inferir delas a geometria de cada uma destas espécies. Este assunto será tratado futuramente. 116 C E D E R J 2. Escrever os diagramas de pontos e os de ligação para os compostos covalentes formados entre: a) nitrogênio e hidrogênio b) carbono e enxofre c) carbono e flúor ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ RESPOSTA COMENTADA Você deve proceder da mesma forma que na Atividade 1, escrevendo inicialmente os símbolos de Lewis dos elementos que vão combinar-se e completando os seus octetos por compartilhamento de elétrons. a) Os símbolos de Lewis para o nitrogênio (grupo 5A) e hidrogênio (grupo 1A) são: Observe que qualquer das representações para cada um dos dois elementos é válida. Para completar o seu octeto, o N precisa formar três pares de elétrons, compartilhando-os com os átomos de H. Como o H só pode ter um par de elétrons em sua camada de valência, o octeto do N só pode ser completado se três H formarem ligações simples com o átomo de N, formando a amônia, NH3. O diagrama de pontos e de ligações é: b) Os símbolos de Lewis do C (grupo 4A) e do Br (grupo 7A) são: C E D E R J 117 AULA 8 ATIVIDADE Elementos de Química Geral | Combinações entre átomos: a ligação covalente Para o carbono completar o seu octeto, precisa formar quatro pares de elétrons com átomos de Br. Como cada átomo de Br precisa compartilhar apenas um par de elétrons para ter seu octeto completo, o C deve ligar-se a quatro átomos de Br, formando o CBr4 (tetrabromometano): c) Os símbolos de Lewis para o C (grupo 4A) e o S (grupo 6A) são: Para completar seu octeto, o C precisa compartilhar quatro pares de elétrons e o S, dois. Assim, um átomo de carbono pode unir-se a dois átomos de enxofre por ligações duplas, segundo o esquema a seguir (idêntico ao da formação do CO2): ÍONS POLIATÔMICOS Um íon poliatômico é um grupo de átomos unidos por ligações covalentes e que tem uma carga elétrica. Eles são estáveis o suficiente para que o grupo, como um todo, participe da maioria das reações químicas sem fragmentar-se. Algumas vezes esses íons são formados, a partir de moléculas, pela retirada ou ganho de um ou mais elétrons nestas moléculas. Alguns exemplos de íons poliatômicos são listados na Tabela 8.1 a seguir: Tabela 8.1: Alguns íons poliatômicos Nome comum do íon Fórmula Nome comum do íon Fórmula Amônio NH4+ Nitrito NO2- Acetato C2H3O-2 CO 2- Oxalato C2O42MnO - Carbonato 118 C E D E R J 3 Permanganato 4 hidrogenofosfato Dicromato Cr2O72OH- Sulfato ClONO - Hidrogenossulfito SO32HSO - Tiossulfato S2O32- Hidroxila Hipoclorito Nitrato 3 Sulfito 8 Clorato ClO4- Fosfato O2-2 PO -3 AULA Peróxido Cianeto HCO3CN- Bicarbonato 4 HPO42SO 24 3 POLARIDADE DAS LIGAÇÕES Eletronegatividade Quando uma ligação covalente acontece entre dois átomos iguais, é fácil imaginar que os dois elétrons sejam atraídos com a mesma intensidade por cada um dos núcleos dos átomos formadores da ligação. Isso é o que acontece, por exemplo, nas moléculas de F2 ou de H2. E quando os átomos são diferentes? Neste caso, é possível (e este quase sempre é o caso) que um dos átomos tenha uma tendência maior em atrair elétrons do que o outro. Então, o par (ou pares) de elétrons deve estar deslocado na direção do átomo com maior tendência em atrair elétrons. ! Eletronegatividade é a habilidade que um átomo tem em atrair elétrons. Representa-se a eletronegatividade de um elemento pela letra grega χ (lê-se ki). Um átomo é tanto mais eletronegativo quanto maior for sua tendência em atrair elétrons. A eletronegatividade de um átomo depende: • de sua energia de ionização; • de sua afinidade eletrônica. Se a energia de ionização é alta, o átomo tem dificuldade em perder elétrons; se a afinidade eletrônica é alta, ele tem facilidade em ganhar elétrons. ! Podemos concluir que átomos com alta energia de ionização e alta afinidade eletrônica são muito eletronegativos. C E D E R J 119 Elementos de Química Geral | Combinações entre átomos: a ligação covalente Na Tabela Periódica, a eletronegatividade: • aumenta ao longo de um período (da esquerda para a direita); • aumenta ao longo de um grupo (de baixo para cima). Então, devemos esperar que o flúor seja o elemento mais eletronegativo; e o césio, o menos eletronegativo. ! Fique atento, pois alguns metais de transição não obedecem a essa regra! Foram criadas várias escalas para estimar a eletronegatividade dos átomos. A mais antiga e mais usada foi proposta por Linus Pauling. Os valores de eletronegatividade de alguns elementos, na escala de Pauling, são dados na Tabela 8.2 a seguir: Tabela 8.2: Escala de Pauling de eletronegatividade (χ) de alguns elementos Átomo χ Átomo χ Átomo χ Átomo χ Átomo χ H 2,1 Be 1,6 Co 1,9 C 2,5 F 4,0 Li 1,0 Mg 1,2 Cu 1,9 N 3,0 Cl 3,0 Na 0,9 Ca 1,0 Fe 1,8 O 3,5 Br 2,8 K 0,8 Sr 1,0 Cr 1,6 S 2,5 I 2,5 Cs 0,7 Ba 0,9 Zn 1,6 Se 2,4 At 2,2 Polaridade das ligações e eletronegatividade A forma como os pares de elétrons são compartilhados entre os átomos determina a polaridade de uma ligação. Em uma ligação apolar, os elétrons são igualmente compartilhados pelos átomos que formam a ligação. Em uma ligação polar, um dos átomos exerce uma atração maior pelos pares de elétrons do que o outro átomo. ! Da definição de eletronegatividade, você pode concluir que: a) ligações covalentes apolares ocorrem entre átomos de mesma eletronegatividade; b) ligações covalentes polares ocorrem entre átomos de eletronegatividade diferente. 120 C E D E R J 8 É a diferença de eletronegatividade, representada por ∆χ (lê-se AULA delta ki), que determina a polaridade de uma ligação entre dois átomos. Se os átomos que formam a ligação têm a mesma eletronegatividade (ou seja, se ∆χ = 0), a ligação é covalente apolar. Neste caso, os pares de elétrons envolvidos na ligação são igualmente compartilhados entre os dois núcleos dos átomos. É o caso das ligações entre dois átomos iguais, como as existentes nas moléculas diatômicas homonucleares. No extremo oposto estão as ligações onde ∆χ é tão grande que um dos átomos desloca completamente os elétrons de ligação para si. É o caso das ligações iônicas. A maioria das ligações está entre estes dois limites, sendo covalentes polares. Você pode visualizar o efeito de ∆χ na polaridade de uma ligação pelo quadro a seguir: ligação polar ligação apolar ligação iônica polaridade cresce ∆χ= 0 ∆χ grande ∆χ cresce Vamos considerar, por exemplo, as polaridades das ligações existentes nas moléculas de F2, HF e LiF. O quadro abaixo indica o tipo de ligação formada, se é covalente apolar (CA), covalente polar (CP) ou iônica (IO): Molécula F2 HF LiF ∆χ 0 1,9 3,0 Tipo de ligação CA CP IO Um valor de ∆χ >2,0 é indício de uma ligação fortemente polar ou iônica. ATIVIDADE 3. Ordene as ligações a seguir por ordem decrescente de polaridade: a) H-F; H-Cl; H-Br; H-I b) Li-H; Na-H; K-H; Rb-H ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ C E D E R J 121 Elementos de Química Geral | Combinações entre átomos: a ligação covalente ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ RESPOSTA COMENTADA Você pode resolver os exercícios dessa atividade consultando a Tabela 8.2 e calculando ∆χ para cada par de átomos envolvidos na ligação. No entanto, se você observar melhor, verá que as ligações do item (a) são todas entre H e um halogênio. Sabemos quem para um mesmo grupo, a eletronegatividade diminui ao longo do grupo (de cima para baixo). Então, o ordenamento fica: H–F > H–Cl > H–Br > H–I No item (b), novamente o H está ligado a elementos do mesmo grupo (os metais alcalinos). Entretanto, ao contrário do item (a), ele é o elemento mais eletronegativo. Então, o ordenamento será: Rb–H > K–H > Na–H > Li–H. CONCLUSÃO Nesta aula, você aprendeu uma nova forma pela qual os átomos podem se combinar. Este tipo de ligação, em que os átomos compartilham elétrons, responde pela formação de maior parte das moléculas conhecidas. ATIVIDADE FINAL O íon ClO- foi listado na Tabela 8.1: a) obtenha o diagrama de pontos e o de ligações deste íon; b) a substituição do Cl pelo I levaria a uma espécie mais polar? Justifique a sua resposta. __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ 122 C E D E R J 8 RESPOSTA COMENTADA AULA a) Inicialmente, você deve verificar que não se trata de uma espécie neutra e sim de um íon com carga total igual a -1. Os símbolos de Lewis do Cl e do O são conhecidos: e Para completar seu octeto, o átomo de Cl precisa compartilhar apenas um par de elétrons com o O, resultando numa ligação simples. O oxigênio neutro precisa de dois pares de elétrons. Entretanto, há um elétron adicional que, entrando no átomo de O, completa seu octeto. Assim, o diagrama de pontos e de ligações será: ou b) O I está abaixo do Cl na Tabela Periódica (ambos são do mesmo grupo). Portanto, sua eletronegatividade é menor e a ligação I-O deve ser mais polar, já que a diferença de eletronegatividade (∆χ) aumenta se substituirmos o Cl pelo I na ligação com o oxigênio. RESUMO As ligações covalentes são formadas entre átomos que compartilham um ou mais pares de elétrons. Elas ocorrem normalmente entre os não-metais. Dependendo da diferença de eletronegatividade entre os átomos envolvidos nas ligações, elas podem ser polares ou apolares. INFORMAÇÃO SOBRE A PRÓXIMA AULA Você vai aprender, na próxima aula, a sistematizar a representação do diagrama de ligações, obtendo a estrutura de Lewis de um composto. C E D E R J 123 objetivo AULA Estruturas de Lewis: Parte I 9 Metas da aula Enunciar as regras para escrever a estrutura de Lewis de um composto; discutir exemplos de obtenção das estruturas de Lewis de compostos formados por elementos representativos. Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de: • Escrever a estrutura de Lewis de compostos neutros ou de íons formados por elementos representativos. Pré-requisitos Tudo que você aprendeu sobre símbolos de Lewis dos elementos e diagramas de pontos e de ligações é essencial para a compreensão desta aula. Reveja rapidamente as Aulas 7 e 8 antes de começar a ver este novo conteúdo. Elementos de Química Geral | Estruturas de Lewis: Parte l INTRODUÇÃO Na aula anterior, você aprendeu a representar o diagrama de pontos e de ligações entre um grupo de átomos. A combinação dessas duas representações é uma estrutura de Lewis. Nesta aula, você vai aprender a representar a estrutura de Lewis de compostos formados por elementos representativos. ESTRUTURAS DE LEWIS A estrutura de Lewis é a representação que combina os símbolos de Lewis dos átomos formadores de um composto com o diagrama de ligações entre seus átomos. As estruturas de Lewis são úteis na compreensão da ligação química de muitos compostos. São freqüentemente usadas para discutir as propriedades das moléculas. As estruturas finais obtidas nos exemplos e exercícios da aula anterior são estruturas de Lewis, mas é importante que você aprenda a escrevê-las de forma sistemática. Esta é uma tarefa que você deve esforçar-se em fazer! ! Nesta aula, vamos considerar apenas os casos em que o composto é formado por átomos de elementos representativos da Tabela Periódica. Verifique na Aula 6 quais são os elementos representativos e onde eles estão localizados. REGRAS PARA REPRESENTAR A ESTRUTURA DE LEWIS DE UM COMPOSTO “Mas como eu faço para representar a estrutura?” Para responder a esta pergunta, vamos demonstrar os procedimentos necessários. Siga os seguintes passos para escrever a estrutura de Lewis de um composto: 1. Conte os elétrons de valência de todos os átomos formadores do composto. Para isso, use, se necessário, a Tabela Periódica. Para um ânion, adicione um elétron para cada carga negativa. Para um cátion, subtraia um elétron para cada carga positiva. Não se preocupe em saber de onde vem cada elétron contado; somente o número total é importante. 2. Escreva os símbolos dos átomos para saber que átomos estão ligados, e una-os por ligações simples (uma linha, que representa 126 CEDERJ 9 um par de elétrons). As fórmulas químicas são geralmente AULA escritas na ordem em que os átomos estão ligados na molécula ou no íon. Quando um átomo central tem um grupo de átomos ligados a ele, é representado primeiro na fórmula química. 3. Complete os octetos dos átomos ligados ao átomo central. 4. Coloque quaisquer elétrons restantes no átomo central, mesmo que, ao fazê-lo, ele fique com mais do que o octeto. 5. Se não existirem elétrons suficientes para completar o octeto do átomo central, tente ligações duplas ou triplas entre este e os seus vizinhos. Use um ou mais pares de elétrons dos átomos ligados ao átomo central para formar essas ligações. EXEMPLOS DE REPRESENTAÇÃO Vamos aplicar esse procedimento em alguns exemplos ilustrativos. Acompanhe atentamente o desenvolvimento das etapas e os comentários pertinentes. Exemplo 1: representar a estrutura de Lewis do tricloreto de fósforo, PCl3. • Primeiro passo: vamos somar os elétrons de valência de todos os átomos formadores do PCl3. Consultando a Tabela Periódica, vemos que o P pertence ao grupo 5A, e o Cl ao grupo 7A. Ambos são elementos representativos e têm cinco e sete elétrons de valência, respectivamente. Então, o número total de elétrons de valência é 5 + (3 × 7) = 26. • Segundo passo: vamos arrumar os átomos de forma a mostrar as ligações entre eles. Quase sempre existe mais de uma maneira pela qual os átomos podem ser arrumados para formar um composto. Em compostos com dois elementos, o primeiro elemento listado na fórmula química é geralmente envolvido pelos átomos restantes. Isto é particularmente verdadeiro em CEDERJ 127 Elementos de Química Geral | Estruturas de Lewis: Parte l compostos do tipo ABn, em que A é o átomo central. No caso do PCl3, o P é o átomo central, estando ligado a três átomos de Cl. Começamos, então, com um esqueleto de estrutura, que mostra as ligações simples entre o P e os átomos de Cl: ! Não é crucial colocar os átomos como no arranjo mostrado. As estruturas de Lewis não são desenhadas para mostrar a geometria da molécula. É importante apenas que você mostre quais átomos estão ligados o quê! • Terceiro passo: vamos completar os octetos de todos os átomos ligados ao átomo central. É importante lembrar que cada ligação simples indica existir um par de elétrons compartilhados entre dois átomos. Ao completar os octetos dos átomos de Cl, temos um total de vinte e quatro elétrons: • Quarto passo: colocamos os átomos restantes no átomo central. A intenção aqui é completar seu octeto. Nesta etapa, é possível que o octeto do átomo central seja ultrapassado, ou que não se consiga completá-lo. Não é o caso, porém, do P no PCl3: Esta estrutura deu ao P um octeto (lembre-se de que cada par de elétrons na ligação é compartilhado também pelo P). Então, paremos por aqui. A representação obtida é a estrutura de Lewis do PCl3. Vamos praticar? 128 CEDERJ 1.a. Quantos elétrons de valência devem aparecer na estrutura do CHCl3? 1.b. Represente a estrutura de Lewis do CHCl3 (o átomo de C é o átomo central). ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ _________________________________________________________________ RESPOSTA COMENTADA 1.a. Para resolver esta atividade, você pode consultar diretamente a Tabela Periódica. Os átomos formadores da molécula de CHCl3 pertencem aos grupos 4A (C), 1A (H) e 7A (Cl). Todos são elementos representativos. Assim, o número de elétrons de valência de cada átomo é de 4 (para o C), 1 (para o H) e 7 (para o Cl). Uma vez que a molécula contém um átomo de C, um átomo de H e três átomos de Cl, o número de elétrons de valência da molécula é de 4 + 1 + (3 × 7) = 26. 1.b. A primeira etapa para a representação da estrutura de Lewis do CHCl3 já foi cumprida no item anterior. Sendo o C o átomo central, vamos agora fazer um esboço da estrutura, unindo a ele os demais átomos formadores da molécula por ligações simples: A seguir, vamos completar os octetos dos átomos unidos ao átomo central. Você deve lembrar que em cada ligação simples há um par de elétrons compartilhados entre dois átomos. Observe que o “octeto” do H já está completo, pois a ligação simples C-H já permite ao H ter dois elétrons na sua camada de valência. Teremos então o diagrama a seguir: CEDERJ 129 AULA 9 ATIVIDADE Elementos de Química Geral | Estruturas de Lewis: Parte l Após completar os octetos dos átomos ligados ao C, você pode verificar que não sobram elétrons (os 26 foram utilizados). Entretanto, o octeto do átomo central também está completo, pois as quatro ligações simples permitiram que o C ficasse com oito elétrons ao seu redor (provenientes dos quatro pares de elétrons compartilhados com os átomos ligados a ele). Logo, a estrutura representada anteriormente é a estrutura de Lewis do CHCl3. Exemplo 2: representar a estrutura de Lewis do HCN. Solução: • Primeiro passo: o número de elétrons de valência de cada átomo é H = 1, C = 4 e N = 5 (Confira.). O número total de elétrons de valência é 10. • Segundo passo: as arrumações possíveis dos átomos unidos por ligações simples para formar o HCN são: Entretanto, como o átomo de H só pode acomodar dois elétrons, é possível formar somente uma ligação simples (isto descarta a última arrumação). A fórmula química, tal como escrita, indica que devemos escolher a primeira arrumação: • Terceiro passo: as duas ligações simples contêm quatro elétrons. Completando o octeto do N, vemos que os dez elétrons de valência foram consumidos: • Quarto e quinto passos: precisamos de quatro elétrons para completar o octeto do C. Eles só podem vir de dois pares de elétrons do N: 130 CEDERJ 9 • Isto indica que C e N devem compartilhar três pares de elétrons, AULA formando uma ligação tripla. A estrutura de Lewis do HCN é, então: ATIVIDADE 2. Represente a estrutura de Lewis do acetileno (C2H2 ): __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ _________________________________________________________________ RESPOSTA COMENTADA Você já sabe que cada átomo de C tem quatro elétrons de valência, e cada átomo de H, dois. Então, o número total de elétrons de valência do C2H2 é (2 × 4) + (2 × 1) = 10. Um esquema de estrutura pode ser obtido ligando-se os átomos por ligações simples: Observe que não há outro esquema, pois cada H só pode formar uma ligação simples com qualquer átomo. Os “octetos” dos átomos de H já estão completos. SE tentarmos completar o octeto de um dos átomos de C, o outro fica incompleto: O problema é resolvido quando os dois pares de elétrons forem compartihados pelos átomos de C, levando à formação de uma ligação tripla: A última representação é a estrutura de Lewis do C2H2. CEDERJ 131 Elementos de Química Geral | Estruturas de Lewis: Parte l Exemplo 3: representar a estrutura de Lewis do íon NO+. • Primeiro passo: o N tem cinco elétrons de valência, e o O, seis. O número total de elétrons de valência do NO é 11. Entretanto, por se tratar do cátion NO+, de carga +1, devemos retirar um elétron. Ficam, então, dez elétrons de valência no total. • Segundo passo: por se tratar de uma espécie química diatômica, só há uma forma de ligar os dois átomos por uma ligação simples: • Terceiro, quarto e quinto passos: qualquer um pode ser considerado o átomo central. Ao tentar completar o octeto de qualquer dos dois átomos, vemos que não conseguimos completar o octeto do outro: Deve haver uma ligação dupla ou tripla entre os dois átomos. Tentando uma dupla, vemos que não conseguimos, novamente, completar o octeto de um deles: Então, eles se ligam por uma ligação tripla: Veja que, no caso de íons, a estrutura de Lewis é representada entre colchetes. 132 CEDERJ 3. Representar a estrutura de Lewis do íon PO43-: ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ _________________________________________________________________ RESPOSTA COMENTADA Como nas atividades anteriores, você tem de começar contando os elétrons de valência dos átomos formadores do PO43-. O fósforo e o oxigênio pertencem aos grupos 5A e 6A, respectivamente. Então, cada átomo de P contém cinco elétrons de valência; e cada átomo de O, seis. O número total de elétrons de valência do PO4 neutro é 5 + (4 × 6) = 29. Entretanto, o ânion PO43- tem mais três elétrons que a espécie neutra que lhe dá origem. Logo, para este íon, o número total de elétrons é 32. A seguir, você deve desenhar o esqueleto da estrutura, ligando o átomo central (P) aos átomos de O por ligações simples: O próximo passo é completar o octeto dos átomos de O: Observe que, ao terminar de completar os octetos dos átomos de O, a estrutura está pronta, pois o P já tem seu octeto completo. É conveniente colocar esta estrutura entre colchetes e assinalar a carga do íon: Esta é a estrutura de Lewis do PO43-. CEDERJ 133 AULA 9 ATIVIDADE Elementos de Química Geral | Estruturas de Lewis: Parte l CONCLUSÃO As estruturas de Lewis são representações convenientes das características fundamentais de ligações entre os átomos. Por meio delas, podemos determinar como o octeto de cada átomo pode ser completado pela formação de ligações simples, duplas ou triplas entre eles. ATIVIDADE FINAL As moléculas de CH4, NH3 e H2O são isoeletrônicas (têm o mesmo número de elétrons), mas têm estruturas e propriedades totalmente distintas. Represente as estruturas de Lewis dessas moléculas: ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ RESPOSTA COMENTADA Embora este exercício seja, de certa forma, mais simples que alguns que você resolveu nas atividades anteriores, ele tem grande importância, que será comentada durante sua resolução. Como você já sabe, o número de elétrons de valência de cada átomo leva a concluir que estas moléculas não só têm o mesmo número total de elétrons, como também o mesmo número de elétrons de valência (são isoeletrônicas na camada de valência). Todas têm oito elétrons de valência, e o esqueleto de estruturas de Lewis (considerando apenas ligações simples com o átomo central) é: 134 CEDERJ 9 Os “octetos” dos átomos de H já estão completos em todas as estruturas. O AULA octeto do C (no CH4) também está completo. Colocando os elétrons restantes sobre o N e o O, ficamos com as estruturas finais a seguir: O ponto importante – e este é um comentário relevante que deve ser feito – é que as formas dessas três moléculas são completamente diferentes: o metano é tetraédrico, a amônia é piramidal e á água é plana e angular. Você não pode visualizar a forma das moléculas por meio das estruturas de Lewis, mas elas são o ponto de partida para fazê-lo. Esse assunto será abordado detalhadamente nas Aulas 11 e 12. RESUMO Para representar a estrutura de Lewis de um composto formado por elementos representativos, conte o número total de elétrons de valência dos átomos formadores do composto e distribua-os entre os átomos, de forma a completar, quando possível, os seus octetos. Você não vai visualizar a forma espacial do composto, mas terá noção de como os átomos se ligam para formá-lo. INFORMAÇÃO SOBRE A PRÓXIMA AULA Na próxima aula, vamos estender a representação das estruturas de Lewis a sistemas mais complexos, nos quais o átomo central tem excesso ou falta de elétrons para completar o octeto, e para o caso em que mais de uma estrutura é compatível com a formação de ligações no composto. CEDERJ 135 objetivos 10 AULA Estruturas de Lewis: Parte II Metas da aula Determinar a carga formal e número de oxidação de cada átomo em um composto; definir o conceito de estruturas de ressonância de um composto; analisar os casos em que a regra do octeto não pode ser aplicada com sucesso. Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de: • Calcular as cargas formais e os números de oxidação dos átomos formadores de um composto. • Representar as estruturas de ressonância de um composto. • Identificar quando um átomo terá seu octeto ultrapassado (ou quando não poderá ser completado). • Representar as estruturas de Lewis de compostos que não obedecem à regra do octeto. Pré-requisitos Você precisa saber as regras para a representação das estruturas de Lewis (este conhecimento foi adquirido na Aula 9); o conceito de eletronegatividade, discutido na Aula 8, também é essencial. Elementos de Química Geral | Estruturas de Lewis: Parte II INTRODUÇÃO Na aula anterior, você aprendeu a representar a estrutura de Lewis de compostos. Os exemplos apresentados eram de casos simples, nos quais as regras funcionam sem maiores complicações. Nesta aula, vamos trabalhar com algumas situações um pouco mais complicadas. Nos exemplos que vamos apresentar, é preciso aplicar as regras ensinadas na aula anterior com alguns cuidados adicionais (ou até mesmo reconhecer que elas não são válidas!). CARGA FORMAL E NÚMERO DE OXIDAÇÃO Em alguns compostos, é possível desenhar mais de uma estrutura de Lewis compatível com a regra do octeto. Vamos exemplificar a situação com a molécula de CO2, cuja estrutura de Lewis foi estudada no Exemplo 2 da aula anterior: Se você refletir um pouco mais, verá que existe uma outra estrutura que também satisfaz a regra do octeto: Na estrutura I, o carbono forma duas ligações duplas com os átomos de oxigênio. Na estrutura II, há uma ligação simples com um dos átomos, e uma tripla com o outro. Qual das duas estruturas é a mais adequada? Uma forma de determinar a estrutura mais adequada de um conjunto de estruturas plausíveis é a análise da carga formal sobre cada átomo, em cada estrutura de Lewis. ! A carga formal de um átomo em uma molécula é a carga que o átomo teria se todos os átomos da molécula tivessem a mesma eletronegatividade. Em outras palavras, a carga formal é a carga que o átomo teria em um composto caso suas ligações fossem consideradas covalentes apolares. Para calcular a carga formal de qualquer átomo em uma estrutura de Lewis, contamos os elétrons de cada átomo, na estrutura considerada, da seguinte forma: 138 C E D E R J 10 • todos os elétrons não compartilhados ficam no átomo em AULA que se encontram. Vamos chamar o número desses elétrons de NENC; • metade do número de elétrons compartilhados (NEC) em cada ligação é marcada em cada átomo que forma a ligação. O número desses elétrons para cada átomo é NEC/2. Então, o número total de elétrons em um átomo, em uma dada estrutura, é contado como NENC + NEC/2. A carga formal (CF) de um átomo é igual ao número de elétrons de valência do átomo isolado (NEV), menos o número de elétrons contados no átomo na estrutura de Lewis considerada, conforme a equação: CF = NEV – (NENC + NEC/2) Vamos acompanhar o exemplo a seguir para ver se ficou tudo claro. Exemplo: Determinar as cargas formais do C e do N no íon CN. Solução: A estrutura de Lewis do íon CN- é dada por: ! Verifique se a estrutura está correta. O quadro a seguir vai indicar a contagem dos elétrons em cada átomo para o cálculo da carga formal: Átomo NEV NENC NEC/2 CF C 4 2 6/2 = 3 4 - (2 + 3) = -1 N 5 2 6/2 = 3 5 - (2 + 3) = 0 Observe que a soma das cargas formais é igual à carga do íon. Isto é sempre verdadeiro, em qualquer situação, quer a molécula seja neutra ou carregada. Vamos praticar? C E D E R J 139 Elementos de Química Geral | Estruturas de Lewis: Parte II ATIVIDADE 1. Determine a carga formal sobre os átomos do íon ClO-: ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ _________________________________________________________________ RESPOSTA COMENTADA Para resolver este exercício, você precisa primeiramente escrever a estrutura de Lewis do ClO-. Use as regras que você aprendeu na aula anterior. A estrutura é: Em seguida, você deve identificar o NENC e o NEC em cada átomo para contar o número de elétrons no átomo considerado. Lembre-se de dividir NEC por dois (NEC/2). A seguir, você deve montar a tabela que vai permitir obter a carga formal (CF) sobre cada átomo: Átomo NEV NENC NEC/2 CF Cl 7 6 2/2 = 1 7 - (6 + 1) = 0 O 6 6 2/2 = 3 6 - (6 + 1) = -1 Observe que a soma das cargas formais é igual à carga do ânion ClO-, e que a carga mais negativa está no átomo mais eletronegativo. Vamos voltar agora ao caso do CO2, visto na primeira parte desta aula. O cálculo das cargas formais sobre cada átomo (nas estruturas I e II) está resumido no quadro a seguir. Acompanhe atentamente os números mostrados e confirme se estão corretos. 140 C E D E R J 10 I II Átomo O C O O C O NEV 6 4 6 6 4 6 NENC 4 0 4 6 0 2 NEC/2 2 4 2 1 4 6 CF 0 0 0 -1 0 +1 AULA Estrutura Observe que, em ambas as estruturas, a soma das cargas formais é zero, pois o CO2 é uma molécula neutra. Para decidir qual das possíveis estruturas de Lewis é a mais plausível, a regra geral é escolher aquela em que: 1. os átomos possuem as menores cargas formais em módulo; 2. quaisquer cargas negativas estejam nos átomos mais eletronegativos. Das duas estruturas, a de menor carga formal em módulo é a estrutura I. Além disso, na estrutura II, há uma carga positiva sobre um dos átomos de O, elemento mais eletronegativo que o C. Portanto, a estrutura mais adequada é a estrutura I. ! Isso está coerente com o fato, observado experimentalmente, de serem iguais os comprimentos das duas ligações C-O. A estrutura II não é coerente com esta observação, já que nela as ligações C-O são diferentes. A carga formal sobre um átomo é diferente do número de oxidação do átomo no composto. ! Número de oxidação (NOX) de um átomo é a carga que ele teria em um composto se suas ligações fossem consideradas completamente iônicas. Para determinar o NOX de um átomo, subtraímos do número de elétrons de valência do átomo (NEV) o número de elétrons sobre o átomo. Lembre-se de que eles são contados a partir da restrição de que C E D E R J 141 Elementos de Química Geral | Estruturas de Lewis: Parte II todos os elétrons compartilhados entre dois átomos vão para o átomo mais eletronegativo. Chamando este número de NET, temos que: NOX = NEV - NET A molécula de HF, por exemplo, tem a seguinte estrutura de Lewis: Para determinarmos o número de oxidação de cada átomo, o par de elétrons da ligação H-F deve ser contado no átomo de flúor. Logo, não ficam elétrons sobre o átomo de H, e o átomo de F fica com oito elétrons. O quadro a seguir mostra o valor do número de oxidação em cada átomo do HF: Átomo NEV NENC NOX H 1 0 +1 Cl 7 8 -1 Observe que, tal como nas cargas formais, a soma dos números de oxidação é igual à carga total da molécula. O conhecimento dos números de oxidação é essencial para o estudo das reações de oxirredução, que você verá em breve no nosso curso. ! Note que nem as cargas formais nem os números de oxidação dão o valor real da carga sobre um átomo. Eles refletem duas situações extremas: a de átomos ligados por ligações covalentes apolares e a dos mesmos átomos ligados por ligações puramente iônicas. Em um modelo mais realista, a carga real sobre cada um dos átomos em um ligação polar tem um valor intermediário entre o da carga formal e a do número de oxidação. 142 C E D E R J 2. Determine a carga formal e o número de oxidação de cada átomo nas seguintes moléculas e íons: Cl2, H2O, NO3-. __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ _________________________________________________________________ RESPOSTA COMENTADA Tal como no exercício anterior, a primeira etapa consiste em escrever a estrutura de Lewis para cada molécula usando as regras que você aprendeu na aula anterior: Obs.: Há três maneiras equivalentes de escrever a estrutura de Lewis do NO3-. A representação listada é uma delas; as outras são obtidas trocando-se a posição da ligação dupla N=O. Você saberá mais sobre este assunto logo a seguir. A próxima etapa é contar o número de elétrons em cada átomo. Para obter a carga formal, some o NENC do átomo com metade do NEC entre ele e os demais átomos a que ele estiver ligado. Para obter o número de oxidação, transfira inicialmente os pares de elétrons compartilhados entre dois átomos para o mais eletronegativo; depois, conte o que ficou sobre cada átomo (NET). C E D E R J 143 AULA 10 ATIVIDADE Elementos de Química Geral | Estruturas de Lewis: Parte II Vamos montar duas tabelas: uma para o cálculo da CF, e outra para o cálculo do NOX. Tabela para o cálculo das cargas formais Molécula Cl H2O NO3- Átomos Cl Cl O H- -H N O- -O NEV 7 7 6 1 1 5 6 6 6 NENC 6 6 4 0 0 0 6 6 4 NEC 2 2 4 2 2 8 2 2 4 NEC ÷ 2 1 1 2 1 1 4 1 1 2 CF 0 0 0 0 0 +1 -1 -1 0 O Tabela para o cálculo dos números de oxidação Molécula Cl H2O NO3- Átomos Cl Cl O H- -H N O- -O NEV 7 7 6 1 1 5 6 6 6 O NET 7 7 8 0 0 0 8 8 8 NOX 0 0 -2 +1 +1 +5 -2 -2 -2 Observe que, no caso da molécula de Cl2 – cuja ligação é apolar –, não há como transferir elétrons para o átomo mais eletronegativo, visando à determinação do número de oxidação. Neste caso, esse conceito perde o sentido. Compare os valores das cargas formais com os dos números de oxidação para as outras espécies e verifique como são diferentes. Lembre-se de como cada uma dessas grandezas é definida e comprove a coerência dos resultados obtidos! 144 C E D E R J AULA 10 ESTRUTURAS DE RESSONÂNCIA Você aprendeu que a molécula de CO2 pode ser representada por duas estruturas, mas que uma delas é mais adequada do que outra. Existem situações importantes em que o arranjo dos átomos não pode ser descrito somente por uma única estrutura e que, além disso, todas as estruturas compatíveis com a regra do octeto são igualmente plausíveis. Neste caso, dizemos que há R E S S O N  N C I A entre tais estruturas. RESSONÂNCIA Estruturas de Lewis equivalentes são denominadas estruturas de ressonância. O primeiro exemplo importante é o do ozônio (O3). Duas estruturas de Lewis são possíveis e satisfazem à regra do octeto (você dever conferir se as estruturas estão corretas!): As duas estruturas são rigorosamente equivalentes; elas só diferem na posição da dupla ligação. Além disso, ambas são igualmente importantes, o que pode ser confirmado pela análise da carga formal sobre os átomos. A estrutura do ozônio não pode ser descrita senão por uma mistura das estruturas de ressonância I e II. Isto significa que a molécula tem sua própria identidade, que não pode ser descrita por nenhuma das estruturas de ressonância separadamente. As estruturas I e II prevêem, por exemplo, que as ligações O-O têm comprimentos diferentes. Vale lembrar que isto não se verifica experimentalmente, pois sabe-se que as ligações O-O do ozônio são iguais. ! A determinação experimental da geometria de moléculas em fase gasosa, como no caso do ozônio, é freqüentemente realizada pela técnica da espectroscopia de microondas. Nesta técnica, um pulso de radiação na região das microondas estimula a rotação das moléculas. Estas absorvem energia para aumentar o seu movimento rotacional e, dessa forma, produz-se um espectro no qual são registrados os comprimentos de onda da radiação absorvida, e que induziu a rotação das moléculas. A análise deste espectro permite determinar os comprimentos das ligações entre os átomos formadores da espécie química em estudo. O segundo exemplo importante é o benzeno (C6H6). Os seis átomos de carbono do benzeno estão arrumados em um anel hexagonal, e cada átomo de hidrogênio está ligado a um átomo de carbono. C E D E R J 145 Elementos de Química Geral | Estruturas de Lewis: Parte II Um esqueleto básico para a representação da molécula (no qual os átomos estão unidos apenas por ligações simples) é mostrado a seguir: Duas estruturas de Lewis equivalentes satisfazem a regra do octeto: Nestas representações, são omitidas as ligações C-H e os símbolos dos átomos. Cada uma dessas estruturas contém três ligações simples C-C e três duplas C=C alternadas. A diferença entre elas está apenas na localização das ligações. O benzeno só pode ser descrito como uma combinação dessas estruturas. Suas propriedades são distintas das previstas por cada uma delas isoladamente. Sabe-se, por exemplo, que todas as ligações do benzeno têm o mesmo comprimento, que é intermediário entre o de uma ligação simples C-C e uma dupla C=C. Embora o comprimento das ligações C-C e C=C varie levemente de um composto para outro, pode-se tomar como valor médio 1,54 Å para a ligação simples, e 1,34 Å para a dupla. Dados experimentais mostram que, no benzeno, a distância entre dois átomos de C adjacentes é constante e igual a 1,40 Å. Este é o comprimento da ligação entre dois átomos de C nesta molécula. 146 C E D E R J 3. Determine as estruturas de ressonância do íon NO3- (nitrato): ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ _________________________________________________________________ RESPOSTA COMENTADA Na atividade anterior, você já representou uma das possíveis estrutura de Lewis deste íon: Como já foi comentado, a troca da posição da ligação dupla N=O permite obter mais duas estruturas equivalentes: Estas são as três estruturas de ressonância do íon NO3-. EXCEÇÕES À REGRA DO OCTETO Para encerrar nossa aula, vamos comentar brevemente sobre algumas situações em que você não pode aplicar com sucesso a regra do octeto. a) Moléculas com número ímpar de elétrons A maioria das moléculas tem número par de elétrons. Entretanto, em algumas moléculas, o número de elétrons é ímpar. O exemplo típico C E D E R J 147 AULA 10 ATIVIDADE Elementos de Química Geral | Estruturas de Lewis: Parte II é a molécula de NO, que tem um total de onze elétrons de valência. Nesses casos, não é possível emparelhar completamente os elétrons, e não se pode completar o octeto de pelo menos um dos átomos. As estruturas de Lewis possíveis para esta molécula são: Entretanto, a análise da carga formal mostra que I é a estrutura mais consistente. b) Átomos com menos do que o octeto Este caso ocorre especialmente na formação de compostos com boro (B) e berílio (Be). O exemplo típico é a molécula de BF3. O B pertence ao grupo 3A, e o F, ao 7A. Dessa forma, a molécula de BF3 tem 24 elétrons de valência (confira!). Se seguirmos os passos para escrever a estrutura de Lewis desse composto, ao completar os octetos dos átomos de F ficamos com a estrutura a seguir: Você pode verificar que, nesta estrutura, o B tem seis elétrons. Podemos tentar completar o octeto do B formando uma ligação dupla entre ele e um dos átomos de F. Teremos então três estruturas ressonantes, mostradas a seguir: As estruturas II, III e IV são equivalentes entre si, mas não são equivalentes à estrutura I. O cálculo das cargas formais nos mostra que I é preferível, embora nela o átomo de B não esteja com seu octeto completo. 148 C E D E R J 10 c) Átomos com mais do que o octeto AULA Este é, de longe, o caso mais importante e mais freqüente de violação da regra do octeto. Ocorre quando o átomo central pertence aos períodos mais altos da Tabela Periódica (do terceiro em diante). A possibilidade de elétrons estarem em (ou ocuparem) orbitais d ou f permite que a última camada do átomo central possa ser completada com mais de oito elétrons. Essa situação é comum em compostos nos quais o átomo central é um elemento de transição; ocorre também em compostos formados entre os não-metais, desde que existam elétrons d ou f na camada de valência, ou orbitais d ou f que possam ser ocupados nessa camada. Como exemplo ilustrativo, vamos considerar o íon [ClF4]-. O átomo central (Cl) é um não-metal (sendo também um elemento representativo), mas pertence ao terceiro período da Tabela Periódica. Sua camada de valência contém orbitais d (que não são ocupados no átomo de Cl neutro e isolado). Assim, há a possibilidade do número de elétrons ao redor do Cl ultrapassar o octeto. Você pode verificar que existem 36 elétrons de valência nessa espécie. Ao ligar o átomo de Cl aos de F e completar os octetos destes, ficamos com a seguinte estrutura: Observe que o octeto do Cl já está completo, mas sobram ainda quatro elétrons. Estes são arrumados em pares em torno do átomo central, gerando a estrutura a seguir: C E D E R J 149 Elementos de Química Geral | Estruturas de Lewis: Parte II ATIVIDADE 4. Em quais espécies a seguir a regra do octeto poderá não ser obedecida? Justifique sua resposta: a. C2H5OH; b. SF4 c. CF2Cl2 d. [Fe(CN)4]2___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ _________________________________________________________________ RESPOSTA COMENTADA Das espécies citadas, três contêm elementos do terceiro período da Tabela Periódica: SF4 (contém S), CF2Cl2 (contém Cl) e [Fe(CN)4]2(contém Fe). Entretanto, o átomo de Cl não é o átomo central no CF2Cl2 ; seu octeto não vai ser ultrapassado. Já S é o átomo central no SF4 , e Fe no [Fe(CN)4]2-. Portanto, é possível que os octetos do S e do Fe sejam ultrapassados. Você pode verificar se isto vai ou não ocorrer montando as estruturas de Lewis para estas espécies, que são: Observe que, nos dois casos, o octeto do átomo central é ultrapassado. CONCLUSÃO A base da representação de uma estrutura de Lewis é a regra do octeto. Há casos, porém, em que essa regra é violada; e outros, em que uma só estrutura não descreve adequadamente o composto químico. 150 C E D E R J 1. Calcule as cargas formais e os números de oxidação dos átomos presentes no íon CO32- (carbonato), e demonstre que essas grandezas são iguais em todas as estruturas de ressonância deste íon. ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ RESPOSTA COMENTADA A primeira etapa para resolver esta atividade é determinar o número total de elétrons de valência do ânion CO32-. Você já sabe que o C pertence ao grupo 4A; e o O, ao 6A. Então, esse número é 4 + (3 × 6) para o CO3, e 4 + (3 × 6) + 2 = 24 para o CO32-. A seguir, você vai verificar que pode escrever três estruturas de Lewis equivalentes para o CO32-. São elas: Observe que as estruturas diferem apenas pela posição da dupla ligação. C E D E R J 151 AULA 10 ATIVIDADES FINAIS Elementos de Química Geral | Estruturas de Lewis: Parte II O próximo passo é calcular a carga formal de cada átomo em cada uma das estruturas. A tabela a seguir mostra os valores que você deve encontrar ao calcular NENC, NEC/2 e CF = NEV – (NENC + NEC/2) em cada átomo: Estrutura I Átomo C NEV 4 NENC Estrutura II O- -O C O= 6 6 6 4 6 0 4 6 6 0 NEC/2 4 2 1 1 CF 0 0 -1 -1 O Estrutura III -O C =O 6 6 4 6 6 6 4 6 6 0 4 6 6 4 2 1 1 4 2 1 1 0 0 -1 -1 0 0 -1 -1 O O O- É importante verificar que o valor da carga formal é o mesmo para cada tipo de átomo de cada estrutura: a carga formal sobre o C é nula; também o é sobre o O, Ligado ao C por uma ligação dupla. Já a carga formal sobre cada O, ligado ao C por uma ligação simples, vale -1; e também é a mesma em todas as estruturas. Também vale mencionar que a soma de todas as cargas formais é -2, carga total do íon. Para o cálculo do número de oxidação (NOX), você precisa do número de elétrons de valência de cada átomo (NEV) e do número total de elétrons sobre cada átomo. Você deve considerar que, nessa contagem, os elétrons compartilhados nas ligações vão sempre para o átomo mais eletronegativo. A tabela que você vai construir deve ter a seguinte forma: Estrutura I Átomo C NEV 4 NET Estrutura II O- -O C O= 6 6 6 4 6 0 8 8 8 0 NOX 4 -2 -2 -2 CF 0 0 -1 -1 O Estrutura III -O C =O 6 6 4 6 6 6 8 8 8 0 8 8 8 4 2 -2 -2 4 -2 -2 -2 0 0 -1 -1 0 0 -1 -1 O Veja como são diferentes os valores de CF e NOX para cada átomo! Eles correspondem a dois modelos limites de partição da carga eletrônica: em um, as ligações são vistas como covalentes apolares, e os átomos 152 C E D E R J O O- 10 dividem igualmente os elétrons das ligações; no outro, os elétrons de AULA ligação são transferidos completamente para o átomo mais eletronegativo, como em uma ligação puramente iônica. Observe também que a soma dos NOX de todos os átomos é a carga total do íon. 2. Embora os gases nobres sejam inertes, eles formam compostos com o flúor. Um exemplo típico é o XeF2. Represente a estrutura de Lewis deste composto e verifique se o octeto do Xe é ultrapassado. ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ Você pode resolver este exercício começando por escrever a estrutura de Lewis do XeF2. O Xe pertence ao grupo 8A, e o F, ao 7A. O número total de elétrons de valência é 8 + (2 × 7) = 22. Montando o esqueleto da estrutura e completando os octetos dos átomos de F, obtemos: C E D E R J 153 Elementos de Química Geral | Estruturas de Lewis: Parte II Você vai notar que sobram seis elétrons. Eles podem ser arrumados em pares em torno do átomo de Xe. Logo, o átomo central terá seu octeto ultrapassado. Isto é aceitável, pois o Xe pertence ao quinto período da Tabela Periódica. A estrutura de Lewis é: RESUMO Muitos sistemas podem ser representados por mais de uma estrutura de Lewis. Quando isso ocorre, uma análise das cargas formais sobre os átomos permite decidir qual das estruturas compatíveis é a mais consistente. Em casos em que mais de uma estrutura consistente pode ser escrita, o composto tem propriedades que não podem ser descritas por nenhuma das estruturas isoladamente. Por fim, há casos nos quais a regra do octeto não pode ser cumprida. O mais comum é ter um átomo central com mais de oito elétrons; nessa situação, o átomo central pertence ao período igual ou superior ao terceiro da Tabela Periódica. INFORMAÇÃO SOBRE A PRÓXIMA AULA Na próxima aula, você vai aprender a determinar a geometria de uma molécula a partir do conhecimento da sua estrutura de Lewis. 154 C E D E R J objetivos AULA Forma das moléculas: Parte I 11 Meta da da aula Metas Descrever os fatores que determinam a geometria de uma molécula; utilizar a teoria da repulsão dos pares de elétrons de valência para prever a geometria de moléculas simples. Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de: • Determinar o número de pares de elétrons ligantes e não-ligantes em torno do átomo central A, em um composto ABn. • Determinar a geometriaS de um composto ABn utilizando o modelo RPECV. Pré-requisitos Os conhecimentos adquiridos nas aulas sobre estruturas de Lewis (Aulas 9 e 10) são indispensáveis para você compreender o conteúdo desta aula. Elementos de Química Geral | Forma das moléculas: Parte I INTRODUÇÃO Você já sabe como representar a estrutura de Lewis das moléculas. Essas estruturas dão bastante informação sobre a distribuição dos elétrons de valência nos átomos e sobre as ligações químicas formadas entre eles. Entretanto, elas não indicam como é a arrumação dos átomos no espaço tridimensional, ou seja, não definem a geometria da molécula. Nesta aula, você aprenderá um método para determinar a geometria de moléculas simples baseado na estrutura de Lewis das moléculas. TAMANHO E FORMA DAS MOLÉCULAS As moléculas são entidades muito pequenas, formadas por átomos arrumados no espaço tridimensional. Essa arrumação determina o tamanho e a forma das moléculas. Estes dois fatores, por sua vez, definem muitas propriedades das substâncias. Uma pequena modificação na forma de uma droga usada como medicamento, por exemplo, pode alterar a sua eficiência ou fazer aparecerem efeitos colaterais. ! O tamanho e a forma de uma molécula são determinados: • pelo comprimento das ligações • pelos ângulos entre as ligações TETRAEDRO O tetraedro é uma figura geométrica formada por quatro faces triangulares iguais. É um dos sólidos platônicos, figuras espaciais muito regulares e com propriedades geométricas bem definidas. Os demais sólidos platônicos são o cubo (seis faces quadradas), o octaedro (oito faces triangulares), o dodecaedro (doze faces pentagonais) e o icosaedro (vinte faces triangulares). Na Figura 11.2, você pode visualizar estas formas geométricas. 156 C E D E R J No metano (CH4), por exemplo, todas as ligações têm o mesmo comprimento, e o ângulo entre duas ligações C-H é sempre igual a 109,5°. A arrumação dos átomos está ilustrada na Figura 11.1: Essa estrutura tridimensional é característica de um TETRAEDRO. Já o XeF4 tem também as quatro ligações iguais, mas arrumadas no plano na forma de um quadrado, como também mostrado na mesma figura. Figura 11.1: Tanto o CH4 quanto o XeF4 têm quatro ligações iguais, mas geometrias completamente diferentes. 11 AULA Tetraedro Dodecaedro Cubo Octaedro Icosaedro Figura 11.2: Representação dos cinco sólidos platônicos. Em um segundo exemplo, temos as moléculas de BF3 e NH3. Na primeira, os átomos se encontram em um plano, com o átomo de B no centro de um triângulo cujos vértices são átomos de F. No NH3, os átomos de H também estão em um plano, mas o átomo de N está fora deste, formando uma estrutura piramidal. Visualize estas formas na Figura 11.3: Figura 11.3: Os átomos do BF3 se arrumam em um plano; os do NH3, em forma de pirâmide. Mais um exemplo importante: na água (H2O), os três átomos estão em um plano, mas não em linha reta; já no CO2, os três átomos se alinham. Veja a geometria destas moléculas na Figura 11.4: Figura 11.4: Na molécula de H2O, os átomos se dispõem formando um ângulo característico; na de CO2, os átomos estão alinhados. C E D E R J 157 Elementos de Química Geral | Forma das moléculas: Parte I O que há em comum em todos os casos citados? Nas moléculas listadas anteriormente, existe um átomo central, (A) ligado a um número n de átomos iguais (B), formando compostos do tipo ABn. Você vai aprender agora um modelo que permite prever a geometria de compostos do tipo ABn. Nesta aula, vamos tratar apenas dos casos em que o átomo central A é de um elemento representativo da Tabela Periódica. A TEORIA DA REPULSÃO DOS PARES DE ELÉTRONS DE VALÊNCIA Tipos de pares de elétrons Observe a Figura 11.5. Nela estão ilustrados os arranjos mais estáveis que podemos obter quando dois, três e quatro balões são amarrados pelas suas extremidades. Para dois balões, a forma mais estável é a de um halter, fazendo um ângulo de 180° entre eles. O arranjo mais favorável para três balões é o de um triângulo eqüilátero; para quatro balões, um tetraedro. Figura 11.5: Arranjos mais estáveis de dois, três e quatro balões. Vamos dividir os pares de elétrons que se agrupam em torno do átomo central A, em uma molécula ABn, em dois tipos distintos: • pares ligantes, que estão em uma região do espaço entre A e cada um dos átomos B ao qual A está ligado; • pares não-ligantes (ou pares solitários), que estão em uma região do espaço em torno do átomo A. A soma do número de pares ligantes (NPL) com o número de pares não-ligantes (NPNL), em torno do átomo central A em uma molécula, é o número total de pares (NPA) em torno de A: 158 C E D E R J 11 AULA NPA = NPL + NPNL A água, por exemplo, tem a seguinte estrutura de Lewis: Existem, ao todo, quatro pares de elétrons em torno do átomo de oxigênio (NPA = 4): dois pares ligantes (NPL = 2), cada um entre o átomo de O e cada um dos átomos de H; e dois pares solitários, centrados no átomo de oxigênio (NPNL = 2). ATIVIDADE 1. Determine o número de pares ligantes, não-ligantes e o número total de pares em torno do átomo central, nas moléculas de metano (CH4) e amônia (NH3): ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ RESPOSTA COMENTADA Você precisa inicialmente escrever as estruturas de Lewis das moléculas de CH4 e NH3 para fazer a contagem dos pares de elétrons em torno do átomo central de cada molécula. Estas estruturas foram obtidas na Atividade Final da Aula 9, e são: Então você pode construir uma tabela de resultados como a que se segue: Molécula CH4 NH3 NPL 4 3 NPNL 0 1 NPA 4 4 C E D E R J 159 Elementos de Química Geral | Forma das moléculas: Parte I Você deve comparar esses números com os da molécula de H2O, discutida no exemplo que precede esta atividade (para a H2O, NPL = 2, NPNL = 2 e NPA = 4). REPULSÃO ENTRE OS PARES DE ELÉTRONS Como os pares de elétrons são carregados negativamente, eles se repelem. Portanto, tendem a afastar-se ao máximo uns dos outros. Esta idéia é a base da teoria da repulsão dos pares de elétrons da camada de valência (RPECV). ! Segundo a teoria RPECV, o melhor arranjo de um dado número de pares de elétrons no espaço é aquele que minimiza a repulsão entre eles. Você pode agora verificar a analogia entre a arrumação dos balões e a dos pares de elétrons em torno do átomo central A de uma molécula ABn. As melhores arrumações dos pares eletrônicos dependem, obviamente, do número de pares em torno do átomo central A (NPA). A Tabela 11.1 indica os arranjos espaciais dos pares de elétrons, segundo o modelo RPECV. Tabela 11.1: Arranjos espaciais dos pares de elétrons em torno do átomo central A, em uma molécula ABn NPA Arranjo espacial 2 Linear Forma Ângulo entre os pares 3 Trigonal plano 120 4 Tetraédrico 109,5º 5 Bipirâmide 120º e 90º 6 Octaédrico 90º 180 Uma bipirâmide trigonal é um arranjo no qual três átomos ficam em um plano, e os dois restantes ficam simetricamente acima e abaixo desses plano; a linha que passa por estes dois átomos corta o triângulo formado pelos três primeiros exatamente em seu centro, como na Figura 11.6. 160 C E D E R J 11 AULA GEOMETRIA DAS MOLÉCULAS Na Atividade 1, você contou os números de pares de elétrons em torno do átomo central nas moléculas de CH4, NH3 e H2O. Talvez tenha passado despercebido, mas o fato é que, embora o número total de pares (NPA) dessas moléculas seja o mesmo (NPA = 4), os valores de NPL e NPNL são diferentes. Consultando a Tabela 11.1, você seria tentado a dizer que as três moléculas são tetraédricas. Entretanto, somente o CH4 é tetraédrico; NH3 é trigonal plano, e H2O é angular. Figura 11.6: Bipirâmide trigonal. Sua base é triangular, e a linha que une os pontos acima e abaixo da base passa pelo centro do triângulo. ! A geometria de uma molécula é definida pelo arranjo espacial dos núcleos dos átomos que formam a molécula. No CH4, os quatro pares de elétrons em torno do átomo de C são pares ligantes. Portanto, na extremidade da região de cada par há um átomo de H. O arranjo espacial dos núcleos é o mesmo dos pares em torno do átomo central, e a molécula é tetraédrica. No NH3, três dos pares são ligantes, e um é não-ligante; das quatro regiões de pares de elétrons, só três têm extremidades ocupadas por átomos de H. O tetraedro não pode ser formado, pois o par solitário não está ligado a ninguém. Da mesma forma, na H2O somente duas das regiões de pares têm átomos de H em suas extremidades; os dois pares não-ligantes sobre o O não se ligam a ninguém. Verificamos assim que a geometria depende não só do número total de pares ligados ao átomo central (NPA), mas do número de pares ligantes (NPL) e dos não-ligantes (NPNL) sobre ele. A Tabela 11.2 determina a geometria das moléculas ABn em função desses números: Tabela 11.2: Geometria de moléculas simples ABn em função de NPA, NPL e NPNL NPA NPL NPNL Geometria Exemplo 2 2 0 Linear CO2 3 3 0 Trigonal plana BF3 2 1 Angular NO2– 4 0 Tetraédrica CH4 3 1 Piramidal trigonal NH3 2 2 Angular H2O 4 C E D E R J 161 Elementos de Química Geral | Forma das moléculas: Parte I Regras para prever a geometria molecular de moléculas simples ABn pelo modelo RPECV Para prever a geometria nesta situação, siga os seguintes passos: 1. desenhe a estrutura de Lewis da molécula ou íon; 2. conte o número total de pares de elétrons em torno do átomo central (NPA). Nessa contagem, ligações duplas ou triplas são contadas como um só par; 3. conte os pares ligantes (NPL) e os não-ligantes (NPNL) em torno do átomo central. Nessa contagem, ligações duplas ou triplas são contadas como um só par ligante; 4. obtenha a geometria molecular, consultando a Tabela 11.2. Será que está claro? Vamos considerar agora alguns exemplos ilustrativos: Exemplo 1: Geometria da molécula de CO2. A estrutura de Lewis do CO2 já foi determinada na aula anterior: O átomo de C está ligado a cada átomo de O por uma ligação dupla. Nesta ligação, há dois pares de elétrons. Entretanto, como eles estão na mesma região, são contados como um par. Havendo duas ligações duplas, há dois pares de elétrons ligantes (NPL = 2). Não há pares não-ligantes no átomo de C (NPNL = 0). Assim, NPA = 2 + 0 = 2. Consultando a Tabela 11.2, verificamos que o CO2 é uma molécula linear, como já foi mostrado na Figura 11.4. Exemplo 2: Geometria da molécula de BF3. A estrutura de Lewis do BF3 também foi determinada na aula anterior: Existem três pares de elétrons ligantes (NPL = 3) e nenhum par solitário (NPNL = 0) em torno do átomo de B. Logo, NPA = 3. A Tabela 11.2 nos diz que a molécula é trigonal plana, como já foi mostrado na Figura 11.3. 162 C E D E R J 11 Exemplo 3: Geometria do íon NO2-. AULA Duas estruturas ressonantes são possíveis para este íon: ! É importante que você verifique se estas estruturas estão corretas. Qualquer uma das duas estruturas pode ser usada, pois elas são equivalentes, só diferindo na posição da dupla ligação N=O. Em cada uma, o N tem dois pares ligantes e um par não-ligante (lembre-se de que a ligação dupla – ou tripla – conta como um só par). Então, NPL = 2, NPNL = 1, NPA = 3, e o íon é plano angular. CONCLUSÃO O modelo RPECV fornece uma forma bastante conveniente de determinar a geometria de moléculas ABn, nas quais A é um elemento representativo, desde que se saiba construir as estruturas de Lewis da molécula em questão. ATIVIDADE FINAL 1. Utilizando o modelo RPECV, determine as geometrias das seguintes moléculas: a. PCl3 b. CF2Cl2 c. O3 _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ C E D E R J 163 Elementos de Química Geral | Forma das moléculas: Parte I _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ RESPOSTA COMENTADA A primeira etapa para resolver esta atividade é construir a estrutura de Lewis das moléculas de interesse. A seguir, você vai contar os pares de elétrons ligantes e não-ligantes em torno do átomo central e, por fim, usar a Tabela 11.2 para determinar a geometria correspondente ao arranjo dos núcleos de cada espécie química. a. A estrutura de Lewis do PCl3 foi obtida no exemplo 1 da Aula 9: Há três pares de elétrons ligantes e um par não-ligante em torno do átomo de P. Logo, NPL = 3, NPNL = 1 e NPA = 4. A Tabela 11.2 informa que esta molécula tem a forma de uma pirâmide com base trigonal, tal como a molécula de NH3. b. Nesta molécula, o átomo central é o átomo de C. Podemos imaginar que dois dos átomos de F foram substituídos por átomos de Cl. A estrutura de Lewis desta molécula é: Há quatro pares de elétrons ligantes em torno do átomo central (e nenhum par não-ligante). Logo, NPA = NPL = 4, e a molécula deve ter a forma de um tetraedro irregular, pois as ligações C-F são de comprimento diferente das ligações C-Cl. Veja a representação geométrica desta molécula na Figura 11.7: 164 C E D E R J 11 AULA Figura 11.7: Na molécula de CF2Cl2, as ligações C-F têm comprimento menor que as C-Cl. Por isso, a molécula é um tetraedro irregular. c. Você tem as duas estruturas de Lewis ressonantes da molécula de O3 descritas na Aula 10: Qualquer uma delas pode ser usada para mostrar que o O central está cercado por dois pares de elétrons ligantes (lembre-se de que a ligação dupla conta como um par no modelo RPECV) e um par não-ligante. Então, NPL = 2, NPNL = 1 e NPA = 3. A molécula é angular plana, como no caso da H2O. Lembre-se de que, no caso de existirem estruturas ressonantes, as propriedades da molécula não são descritas por nenhuma das estruturas separadamente. Em particular, as distâncias entre as ligações O-O no ozônio são iguais. Dessa forma, a geometria da molécula é melhor representada pela Figura 11.8: Figura 11.8: A molécula de O3 é angular, com seus três átomos no plano. As distâncias entre as ligações O-O são todas iguais. RESUMO As moléculas se apresentam nas mais variadas formas e tamanhos. O conhecimento da estrutura eletrônica das moléculas permite fazer previsões sobre a sua forma. Um modelo simples considera que os pares de elétrons presentes na molécula tendem a se afastar o máximo possível para minimizar a repulsão entre eles. Este modelo leva à previsão da geometria de moléculas simples. C E D E R J 165 Elementos de Química Geral | Forma das moléculas: Parte I INFORMAÇÃO SOBRE A PRÓXIMA AULA Na próxima aula, vamos estender o modelo RPECV de modo a englobar os casos em que o átomo central ultrapassa o octeto e quando não existe um único átomo central. 166 C E D E R J objetivos AULA Forma das moléculas: Parte II 12 Metas da aula Discutir a influência dos pares não-ligantes e das ligações múltiplas na geometria de uma molécula. Estender o modelo RPECV a moléculas ABn, no qual o átomo central está rodeado por mais de quatro pares de elétrons e a moléculas com mais de um átomo central. Discutir o efeito da geometria e da polaridade das ligações na determinação da polaridade de uma molécula poliatômica. Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de: • Prever a extensão com que os ângulos de ligação são alterados pela presença dos pares não-ligantes e das ligações múltiplas. • Caracterizar a geometria de moléculas a qual o átomo central fica envolvido por mais de oito elétrons. • Caracterizar a geometria de moléculas com mais de um átomo central, dando ênfase aos ângulos entre as ligações. • Determinar a polaridade de moléculas poliatômicas com base nos dipolos das ligações e na geometria da molécula. Pré-requisitos Para a compreensão desta aula, você precisa de todo o conteúdo da aula anterior (Aula 11) e precisa se lembrar das regras para escrever as estruturas de Lewis, estudadas na Aula 9. É também importante que você reveja os conceitos de carga formal, número de oxidação e polaridade de ligação ensinados na Aula 8. Elementos de Química Geral | Forma das moléculas: Parte II INTRODUÇÃO Na aula anterior, você aprendeu a determinar a geometria de moléculas simples ABn pelo método RPECV. Em sua forma mais simples, as geometrias previstas por este modelo consideram idênticas as repulsões entre pares de elétrons ligantes e não-ligantes. Nesta aula, vamos discutir o efeito dos pares não-ligantes e das ligações múltiplas na alteração dos ângulos de ligação previstos pelo modelo simples RPECV. Vamos estender este modelo a moléculas com cinco e seis pares de elétrons em torno do átomo central e a moléculas com mais de um átomo central. Por fim, discutiremos o efeito combinado da polaridade das ligações com a geometria da molécula para determinar a polaridade de moléculas poliatômicas. EFEITO DOS PARES NÃO-LIGANTES E DAS LIGAÇÕES MÚLTIPLAS NOS ÂNGULOS DAS LIGAÇÕES Vamos considerar as moléculas de metano (CH4), amônia (NH3) e água (H2O) que você estudou na aula anterior. Lá você aprendeu que todas elas contêm quatro pares de elétrons (NPA = 4) em torno do átomo central. Estes pares arrumam-se no espaço na forma de um tetraedro, com um ângulo de 109,5° entre eles (consulte a Tabela 11.1 da aula anterior). Este deveria ser o ângulo entre as ligações C-H no metano, N-H na amônia e O-H na água se os pares ligantes e não-ligantes fossem equivalentes. Entretanto, devemos considerar os seguintes pontos: • Os pares de elétrons ligantes são atraídos por dois núcleos, havendo uma redução na repulsão entre os elétrons nos pares. • Os pares de elétrons não-ligantes estão sobre um átomo, sendo atraídos por um só núcleo. Assim, os elétrons num par nãoligante experimentam uma maior repulsão. Estes fatos fazem com que a região em torno de um par nãoligante se expanda para compensar a repulsão entre os elétrons desse par. Logo, um par não-ligante ocupa mais espaço que um par ligante. Fazendo uma analogia com os balões de inflar, você pode pensar que um balão não-ligante é mais cheio que um ligante, como você pode ver na Figura 12.1. Figura 12.1: Pares ligantes e nãoligantes são como balões: os nãoligantes correspondem a balões mais cheios. Nesta figura, há dois pares ligantes e um não-ligante. 168 C E D E R J 12 AULA Ao se espalhar mais, um par não-ligante comprime mais os pares ligantes à sua volta. Isto faz diminuir o ângulo entre as ligações em que os pares ligantes estão envolvidos. Quanto maior o número de pares não-ligantes, menor deve ser o ângulo de ligação. Voltemos às moléculas consideradas no começo de nossa aula. O quadro a seguir resume o que se sabe sobre a estrutura e geometria destas moléculas (os dados nela contidos foram colhidos das Tabelas 11.1 e 11.2): Molécula CH4 NH3 H2O NPA 4 4 4 NPL 4 3 2 NPNL 0 1 2 Ângulo previsto entre as ligações 109,5° 109,5° 109,5° Ângulo experimental entre as ligações 109,5° 107° 104,5° A última linha deste quadro fornece o valor experimental dos ângulos entre as ligações nestas moléculas. Observe que para o NH3 o ângulo diminui do valor esperado, característico de um tetraedro (109,5°) para 107°. No caso da água, o valor é ainda menor (104,5°). Na Figura 12.2, indicamos estas modificações de geometria. a b c Figura 12.2: Os ângulos entre as ligações N-H no NH3 e O-H na H2O são menores que entre as ligações C-H no CH4. C E D E R J 169 Elementos de Química Geral | Forma das moléculas: Parte II Distorções semelhantes nos ângulos de ligação são provocadas por ligações duplas e triplas. A concentração de carga negativa entre os átomos que formam estas ligações é maior que em uma ligação simples. Assim, elas funcionam como um par não-ligante: espalham-se mais no espaço e comprimem as ligações simples à sua volta, diminuindo os ângulos entre elas. Por exemplo, a molécula de fosgênio (COCl2) tem a seguintes estrutura de Lewis: Em torno do átomo de C, existem três regiões de pares de elétrons. Espera-se que, assim, o arranjo desses pares seja trigonal plano (veja a Tabela 11.1 novamente), formando um ângulo de 120° entre eles. Entretanto, a presença da ligação dupla C=O comprime as ligações CCl, diminuindo o ângulo entre elas de 120° para 111°. Observe o efeito desta contração na Figura 12.3 a seguir: Figura 12.3: A presença da ligação dupla C=O reduz o ângulo entre as ligações C-Cl no COCl2. Você não pode prever quantitativamente o ângulo correto entre as ligações, mas pode prever se haverá ou não diminuição do ângulo entre ligações em relação aos valores esperados no modelo RPECV simples. Para isto, basta que você saiba a relação entre o número total de pares de elétrons e de pares solitários, e ligações duplas e triplas em torno do átomo central. Vamos verificar se este conceito ficou claro, resolvendo o exercício da atividade a seguir. 170 C E D E R J 12 1. Utilize o modelo RPECV e o que você aprendeu sobre o efeito dos pares não-ligantes e das ligações múltiplas para determinar qual das seguintes espécies tem o menor ângulo entre as ligações N-H: NH2-, NH3, NH4+. ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ _________________________________________________________________ RESPOSTA COMENTADA Como você pôde observar, todas as espécies têm oito elétrons de valência. A primeira etapa para resolver esta atividade é, então, representar as estruturas de Lewis de cada uma delas: Todas as espécies têm o mesmo número total de pares de elétrons de valência (NPA = 4) em torno do átomo central. Logo, o arranjo geométrico básico dos pares é o tetraedro. Entretanto, somente o íon NH4+ tem quatro pares de elétrons ligantes (NPL = 4, NPNL = 0); o ângulo entre as ligações N-H nesta espécie deve ser igual a 109,5°. O NH3 tem um par de elétrons não-ligantes e o NH2-, dois. Espera-se, portanto, que as ligações N-H no NH3 sejam menos comprimidas que no NH2-, sendo esta a espécie com o menor ângulo entre as ligações. GEOMETRIA DE MOLÉCULAS ABN ONDE O ÁTOMO CENTRAL TEM UM OCTETO ESTENDIDO Se o átomo central A numa molécula ABn pertencer a um período igual ou superior ao terceiro período da tabela periódica, é possível que, ao formar ligações, ele fique rodeado por mais de oito elétrons. Isso se deve ao fato de que, para estes átomos, podem existir elétrons d ou f em subcamadas estendidas, e a regra do octeto não funcione mais. Vamos ampliar a Tabela 11.2 da aula anterior para incluir estes casos. Novamente, tal como nos casos observados naquela tabela, o C E D E R J 171 AULA ATIVIDADE Elementos de Química Geral | Forma das moléculas: Parte II arranjo espacial dos pares de elétrons depende do número total de pares em torno do átomo central (NPA); a geometria depende deste número, mas também do número de pares ligantes (NPL) e dos não-ligantes (NPNL). A contagem dos pares é feita da mesma forma que a descrita na aula anterior (reveja rapidamente as regras do método RPECV). A Tabela 12.1 indica as geometrias possíveis quando o número total de pares vale cinco ou seis. Estes são, certamente, os casos mais comuns e são os que nós estudaremos. Tabela 12.1: Geometria das moléculas ABn em função de NPA, NPL e NPNL NPA Arranjo dos pares Ângulo entre os pares NPL NPNL Geometria Exemplo 5 Bipirâmide trigonal 120° e 90° 5 0 Bipirâmide trigonal PCl5 4 1 Gangorra SF4 3 2 Forma de T ClF3 2 3 Linear XeF2 6 0 Octaedro SF6 5 1 Pirâmide quadrada BrF5 4 2 Quadrado plano XeF4 6 Octaedro 90° Vamos acompanhar um pouco mais detalhadamente as informações desta tabela. O arranjo geométrico mais estável para cinco pares de elétrons é a bipirâmide trigonal. Você se lembra de como ela é? Recorde a Figura 11.6 da aula anterior e verifique que esta forma geométrica é a de duas pirâmides com uma base triangular comum. Numa molécula com esta forma, o átomo central se localiza no centro da base da pirâmide e os demais átomos (ou pares de elétrons) ocupam as posições dos seus vértices. Os átomos presentes na base da pirâmide estão em posição equatorial; os que estão acima e abaixo do plano que contém a base estão em posição axial. Se houver cinco pares de elétrons ligantes, isto indica que existem cinco átomos ligados ao átomo central e a molécula terá exatamente a geometria que acabamos de descrever. Um exemplo é dado pela molécula de PCl5. 172 C E D E R J 12 ! a AULA Como você pode inferir a figura geométrica que define a forma de uma molécula? Observe a Figura 12.4.a, que mostra as ligações químicas entre o átomo central P e os átomos de Cl unidos a ele no PCl5. Ao unir os átomos de Cl (que rodeiam o átomo central) por linhas retas, você verá a bipirâmide trigonal ilustrada na Figura 12.4.b. b Figura 12.4: O PCl5 tem a forma de uma bipirâmide trigonal, que é visualizada unindo-se os átomos de Cl por linhas retas. A redução do número de pares ligantes provoca a modificação da forma básica da bipirâmide trigonal para outras mais simples. A presença de um par solitário no átomo central leva à formação de uma estrutura em forma de gangorra, como o SF4. Para entender a origem desta forma geométrica, considere a Figura 12.5, que ilustra as duas possibilidades de localização do par de elétrons não-ligantes em torno do átomo de S no SF4. Ele pode ficar em posição equatorial ou em posição axial. Em posição equatorial, o par não-ligante forma um ângulo de 90° com os átomos de F axiais e de 120° com os equatoriais. Em posição axial, ele faz um ângulo de 90° com os três átomos de F contidos na base da pirâmide, provocando um efeito repulsivo maior. Logo esta última distribuição espacial é menos favorável e o par de elétrons não-ligantes se localiza no plano que contém a base da pirâmide (em posição equatorial). Figura 12.5: O par de elétrons não-ligantes do SF4 pode ficar em posição equatorial ou axial. A primeira é energeticamente mais favorável e tem a forma geométrica de gangorra. C E D E R J 173 Elementos de Química Geral | Forma das moléculas: Parte II Considerações semelhantes explicam o arranjo geométrico em forma de T de moléculas com NPL = 5 e NPNL = 2 – como no ClF3 – ou o arranjo linear em moléculas com NPL = 5 e NPNL = 3 – como no XeF2, ilustrados na Figura 12.6. a b Figura 12.6: A molécula de ClF3 tem um arranjo espacial em forma de T; a de XeF2 é linear. Vamos agora considerar o caso em que o átomo central está rodeado por seis pares de elétrons. Voltando à Tabela 12.1, verificamos que o arranjo geométrico mais estável para este número de pares de elétrons é o octaedro. (Lembra-se do octaedro da Figura 11.1 da aula anterior?) Quando o átomo central é rodeado por seis pares ligantes (NPL = 6, NPNL = 0), o arranjo geométrico da molécula é um octaedro. É o caso do SF6, ilustrado na Figura 12.7. Figura 12.7: Na molécula de SF6, os átomos de F se arrumam em torno do S num arranjo octaédrico. A diminuição do número de pares ligantes (NPL) e o aumento do número de pares não-ligantes (NPNL) produzem outras geometrias. Os casos importantes são os que NPL = 5 e NPNL = 1, formando uma pirâmide quadrada, e NPL = 4 e NPNL = 2, em que a molécula adquire a forma geométrica de um quadrado. É o que ocorre nas moléculas de BrF5 e XeF4, respectivamente. Você pode ver estes arranjos na Figura 12.8. 174 C E D E R J 12 a AULA b Figura 12.8: As moléculas de BrF5 e XeF4 têm formas de uma pirâmide quadrada e de um quadrado, respectivamente. Embora tenhamos apresentado a geometria de várias espécies, não demonstramos que as formas obtidas são as previstas segundo o modelo RPECV. Vale a pena investigar um pouco mais sobre isso, e, por esta razão, propomos que você a faça na atividade a seguir. ATIVIDADE 2. Utilize o modelo RPECV para confirmar que o XeF2 é linear e que o XeF4 tem a forma de um quadrado. ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ _________________________________________________________________ RESPOSTA COMENTADA O Xe e o F pertencem aos grupos 8A e 7A, respectivamente. No XeF4 , o número total de elétrons de valência é 36; no XeF2, é 22. O esqueleto básico das estruturas de Lewis dos dois compostos é: observe agora que, embora o octeto do Xe esteja completo na primeira estrutura, ainda sobram quatro elétrons. Eles vão entrar como dois pares não-ligantes centrados no átomo de Xe. Na segunda estrutura, ainda sobram seis elétrons, que entram como três pares não-ligantes centrados também no Xe. As estruturas de Lewis completas para cada composto são: C E D E R J 175 Elementos de Química Geral | Forma das moléculas: Parte II Na primeira estrutura, temos seis pares de elétrons em torno do átomo central (NPA = 6) com quatro pares ligantes (NPL = 4) e dois nãoligantes (NPNL = 2). A Tabela 12.1 informa que o arranjo geométrico da molécula é um quadrado plano. Já na segunda estrutura, temos cinco pares de elétrons em torno do átomo central (NPA = 5), com dois pares ligantes (NPL = 2) e três não-ligantes (NPNL = 3). A mesma tabela mostra que a molécula é linear. GEOMETRIA DE MOLÉCULAS COM MAIS DE UM ÁTOMO CENTRAL A maioria das moléculas que você vai encontrar tem mais de um átomo central. É o caso dos compostos orgânicos com mais de um átomo de carbono. Será que podemos prever a geometria destes compostos? É melhor responder a esta pergunta através de exemplos ilustrativos. Vamos considerar inicialmente a molécula do etanol (C2H5OH). A estrutura de Lewis deste composto é fácil de ser obtida utilizando-se as regras que você aprendeu nas aulas anteriores: I II III As linhas cheias cortando as ligações C-C e C-O indicam que podemos considerar a molécula como se tivesse três átomos centrais, os dois átomos de C e o átomo de O, marcados como I, II e III. Você pode montar um quadro em que, para cada átomo central, determinamos o número de pares totais (NPA), o número de pares ligantes (NPL) e o de pares não-ligantes (NPNL) em torno dele. O quadro vai ter a forma mostrada a seguir: 176 C E D E R J C(II) O(III) NPA 4 4 4 NPL 4 4 2 NPNL 0 0 2 Arranjo dos pares Tetraedro Tetraedro Tetraedro Geometria Tetraedro Tetraedro Angular Ângulo entre ligações 109,5° 109,5° <109,5° 12 C(I) AULA Átomo Central Vamos desenhar a molécula? A Figura 12.9 mostra a forma da molécula de etanol. Observe que o desenho está de acordo com as previsões do modelo RPECV. Figura 12.9: A forma da molécula de etanol (C2H5OH) pode ser obtida analisando-se as geometrias das partes formadas pelos três átomos centrais. Como segundo exemplo, considere a molécula de acetona (C3H6O), cuja estrutura de Lewis é: I II III A escolha dos átomos centrais deve estar clara para você. Eles são os átomos de C, numerados como I, II e III. Montando um quadro semelhante ao que foi feito para o etanol, obtemos as seguintes informações, que você deve conferir! C E D E R J 177 Elementos de Química Geral | Forma das moléculas: Parte II Átomo Central C(I) C(II) C(III) NPA 4 3 4 NPL 4 3 2 NPNL 0 0 2 Arranjo dos pares Tetraedro Trigonal Tetraedro Geometria Tetraedro Trigonal Tetraedro Ângulo entre ligações 109,5° 120° 109,5° Observe que existem três regiões de pares de elétrons em torno do C ligado ao O, pois a ligação dupla C=O conta como um par. Dessa forma, o arranjo deste átomo de C é diferente dos outros dois. Você pode conferir estas informações observando a Figura 12.10, onde a molécula de acetona é representada em forma tridimensional. Figura 12.10: Na acetona (C3H6O), o carbono ligado ao átomo de oxigênio tem arranjo espacial distinto dos demais átomos de C. Vamos verificar se tudo ficou claro? Resolva, então, os exercícios da atividade a seguir. ATIVIDADE 3. Dê os ângulos aproximados entre as ligações indicadas nas moléculas representadas pelas estruturas de Lewis a seguir: a) b) c) 178 C E D E R J RESPOSTA COMENTADA Para resolver esta atividade, o primeiro passo a ser dado é decidir, para cada uma das estruturas, quantos e quais são os átomos centrais. A seguir, você deve montar uma tabela que contenha, para cada um dos átomos centrais que você escolheu, os valores de NPA, NPL e NPNL. Desta forma, você pode prever o arranjo geométrico em torno de cada átomo central e, desta forma, o ângulo entre as ligações que envolvem este átomo. A estrutura de Lewis do composto (a) indica que você deve escolher os dois átomos de C como átomos centrais: I II A linha cheia divide a estrutura em duas regiões, uma correspondendo ao C central I e a outra, ao II. Observe agora que cada átomo de C está rodeado por dois grupos de pares de elétrons (a ligação tripla conta como um par!), e que não há pares não-ligantes em nenhum deles. O quadro a seguir resume estas informações: Átomo Central C(I) C(II) NPA 2 2 NPL 2 2 NPNL 0 0 Arranjo dos pares linear linear Geometria linear linear Ângulo entre ligações 180° 180° C E D E R J 179 12 AULA ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ _________________________________________________________________ Elementos de Química Geral | Forma das moléculas: Parte II Logo, o ângulo marcado é 180°. A representação espacial da molécula é apresentada na Figura 12.11.a. Para a estrutura (b), você deve escolher os átomos de O e N unidos pela ligação simples O-N como átomos centrais. Examinando a estrutura de Lewis do composto, você pode montar o quadro a seguir: Átomo Central O- -N NPA 4 3 NPL 2 2 NPNL 2 1 Arranjo dos pares tetraedro trigonal Geometria angular angular Ângulo entre ligações 109,5° 120° Assim, o ângulo HON entre as ligações H-O e O-N fica em torno de 109,5° e o ângulo ONO entre as ligações O-N e N=O, em torno de 120°. A molécula tem o arranjo espacial mostrado na Figura 12.11b. Finalmente, os átomos centrais da estrutura (c) são os que formam a ligação C-O-C. O quadro representativo dos números de pares em torno de cada átomo é: Átomo Central C- -O- -C NPA 3 4 4 NPL 3 2 4 NPNL 0 2 0 Arranjo dos pares Trigonal Tetraédrico Tetraédrico Geometria Trigonal Angular Tetraedro Ângulo entre ligações 120° 109,5° 109,5° Portanto, o ângulo HCO entre as ligações H-C e C=O é de 120°, e o ângulo COC entre as ligações C-O e O-C é de 109,5°. O arranjo espacial da molécula é o indicado na Figura 12.11.c. 180 C E D E R J 12 a AULA b c Figura 12.11: Arranjo espacial das estruturas de Lewis (a), (b) e (c). POLARIDADE DE MOLÉCULAS POLIATÔMICAS Você aprendeu na Aula 8 que a polaridade de uma ligação é definida pela forma pela qual os elétrons são compartilhados na ligação. Num extremo estão as ligações apolares, em que os elétrons ligantes são igualmente compartilhados pelos dois átomos; neste caso, os dois átomos têm a mesma eletronegatividade. No outro extremo, estão as ligações iônicas, em que os elétrons ligantes estão completamente deslocados para o átomo mais eletronegativo. A maioria das ligações entre dois átomos não é nem completamente apolar, nem completamente iônica: ou seja, é polar, com os elétrons ligantes mais ou menos atraídos pelo átomo mais eletronegativo. Uma grandeza útil para quantificar a polaridade de uma ligação é o momento de dipolo da ligação. Observe a Figura 12.12.a Nela, duas cargas (+q e –q) iguais em valor absoluto, mas de sinais opostos, estão separadas por uma distância R. O momento de dipolo é definido como uma grandeza cujo valor absoluto (d) é dado por d = qR Se R = 0, as duas cargas se sobrepõem e d = 0. Por convenção, o dipolo elétrico gerado por estas duas cargas é representado por uma seta cortada, apontando na direção da carga negativa. Num átomo isolado, todos os elétrons ficam em torno do núcleo. O átomo pode ser representado por duas cargas iguais (em valor absoluto) e coincidentes: a carga positiva é a do núcleo e a negativa, a dos elétrons. C E D E R J 181 Elementos de Química Geral | Forma das moléculas: Parte II Ou seja, o centro de cargas positivas (o núcleo) coincide com o centro de cargas negativas (a carga total dos elétrons). Neste caso, não há momento de dipolo. Numa ligação química entre dois átomos, há dois núcleos, ambos com carga positiva, pares de elétrons entre os átomos (os elétrons ligantes) e pares de elétrons não-ligantes centrados em cada átomo que forma a ligação. O efeito combinado da carga positiva do núcleo de um átomo com a carga dos elétrons em torno dele é descrito pela carga parcial (δ) sobre cada átomo que forma a ligação, como você pode visualizar na Figura 12.12.b a b Figura 12.12: (a) Duas cargas de mesmo módulo q, separadas por uma distância R, geram um dipolo cujo valor é d = qR. O dipolo aponta para a carga negativa. (b) Numa ligação entre dois átomos, a carga sobre o átomo A é δA e sobre B, δB. Numa ligação apolar, os dois átomos atraem elétrons com a mesma intensidade. Tudo se passa como se a nuvem eletrônica ficasse igualmente distribuída entre eles. Portanto, cada átomo fica com uma carga parcial nula (δA = δB = 0) e não há momento de dipolo na ligação. É o que ocorre com as ligações H-H na molécula de H2 ou Cl-Cl na molécula de Cl2. Quando os átomos que formam a ligação têm eletronegatividades distintas, a nuvem eletrônica se desloca para o átomo mais eletronegativo. Este fica com uma carga parcial negativa (δ-), enquanto o outro fica com carga parcial positiva (δ+). Gera-se, então, um dipolo cujo valor é o produto do valor absoluto (δ) da carga parcial com a distância (R) entre os átomos. É o que ocorre nas ligações O-H ou H-Br, por exemplo. É importante que você saiba distinguir a carga parcial δ da carga formal ou do número de oxidação de um átomo, que você aprendeu na Aula 10 (vale a pena você revisar estes conceitos!). Numa ligação apolar, a carga parcial sobre cada átomo é igual à carga formal, e ambas valem zero. Numa ligação completamente iônica, a carga parcial é igual ao número de oxidação, pois nela há transferência completa de elétrons para o átomo mais eletronegativo. Numa ligação polar, a carga parcial é a que melhor representa a polaridade da ligação; ela não é nem igual à carga formal nem ao número de oxidação. Infelizmente, não há uma forma simples de calcular o seu valor. 182 C E D E R J 12 Numa molécula poliatômica, há várias ligações químicas. AULA A polaridade da molécula depende de dois fatores: • polaridade de cada ligação; • geometria da molécula. Você com certeza compreende o porquê do primeiro fator. Vamos explicar o segundo através de um exemplo simples. Considere as moléculas de CO2 e H2O. Ambas são moléculas do tipo ABn, em que um átomo central A está ligado a n átomos B. No CO2, há duas ligações polares C=O, e na H2O, duas ligações O-H, também polares. Você poderia supor que ambas as moléculas são polares, mas somente a molécula de H2O o é; o CO2 é uma molécula apolar. Já analisamos a geometria destes compostos na aula anterior e sabemos que o CO2 é linear e a H2O é angular. A representação dos dipolos das ligações combinada com a geometria de cada molécula é ilustrada na Figura 12.13 a seguir. Você pode verificar através dela que, no caso do CO2, os dipolos apontam para sentidos opostos, cancelandose mutuamente. O mesmo não acontece com os dipolos das ligações OH na H2O. Há nesta molécula um dipolo resultante que aponta ao longo da linha bissetriz do ângulo entre as ligações O-H, na direção do átomo de O. Figura 12.13: Os dipolos das ligações C=O se cancelam no CO2, mas os das ligações O-H não se cancelam na molécula de H2O. r O momento de dipolo ( d ) é, na verdade, uma grandeza vetorial que se caracteriza não só pelo seu valor absoluto (d) como também pela sua direção r e sentido. Quando há vários dipolos numa r molécula, o dipolo resultante ( d ) é obtido pela soma vetorial dos dipolos ( d i ) das ligações que formam a molécula. Lembre-se da Física que: r 1. um vetor ( v ) pode ser decomposto r r r ao longo dos r r em rsuas componentes r eixos cartesianos como v = x i + y j + zk , onde i , j , k são os vetores unitários em cada um dos eixos. Se o vetor estiver no plano, só haverá duas componentes; r r r r r r r r 2. a soma de dois vetores v1 = x1 i + y1 j + z1k e v 2 = x 2 i + y 2 j + z 2 k é um r vetor v cujas componentes são x = x1 + x 2 , y = y1 + y 2 e z = z1 + z 2 . Esta soma é representada pela regra do paralelogramo. A Figura 12.14 ilustra estas duas propriedades vetoriais para o caso simples de dois vetores no plano xy. C E D E R J 183 Elementos de Química Geral | Forma das moléculas: Parte II a b Figura 12.14: Um vetor é caracterizado por suas componentes ao longo dos eixos cartesianos; a soma de dois vetores é representada pela regra do paralelogramo. É importante que você visualize a formação do dipolo resultante na molécula de H2O decompondo cada um dos dipolos das ligações OH ao longo dos eixos dos x e dos y no plano xy que contém a molécula. Você pode perceber que as componentes de cada dipolo de ligação ao longo do eixo dos x têm o mesmo valor, mas em sentidos opostos – elas se anulam. Já a componente y de cada dipolo tem o mesmo valor absoluto, mas se reforçam, somando-se no eixo dos y. Assim, o vetor resultante fica exatamente ao longo do eixo y, como ilustrado na Figura 12.15. Figura 12.15: Na molécula de H2O, as componentes dos dipolos das ligações O-H ao longo do eixo dos x se cancelam, e ao longo do eixo dos y se somam. O vetor resultante aponta para o átomo de O, ao longo do eixo dos y. ! Os argumentos utilizados para prever a polaridade do CO2 e da H2O são gerais e podem ser resumidos da seguinte forma: se a soma dos dipolos das ligações (consideradas as suas orientações) for nula, a molécula é apolar; se for diferente de zero, ela é polar. 184 C E D E R J 12 4. Determine a polaridade das moléculas a seguir; caso sejam polares, indique onde aponta o dipolo resultante. a) BF3 b) CH4 c) CF2Cl2 d) XeF4 ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ _________________________________________________________________ RESPOSTA COMENTADA A primeira etapa para você resolver esta atividade é determinar a estrutura de Lewis de cada composto. A seguir, utilizando-se as Tabelas 11.2 e 12.1, você pode determinar a geometria de cada molécula. Construa a seguir os dipolos das ligações e verifique se eles se cancelam (ou não) no espaço. Já sabemos bastante sobre as moléculas envolvidas nesta atividade. A molécula de BF3 é trigonal plana (Figura 11.3.a), a de CH4 e de CF2Cl2 são tetraédricas (Figuras 11.1.a e 11.7) e a de XeF4 é quadrada plana (Figura 12.8.b). Todas as ligações entre o átomo central e qualquer outro átomo nestas moléculas são polares. A polaridade final vai depender, portanto, da composição dos vetores que correspondem aos dipolos das ligações em cada uma delas. Na molécula de BF3 , os dipolos ficam dispostos como está mostrado na Figura 12.16.a. Observe que todos os dipolos de ligação são iguais. A trigonometria elementar mostra que as componentes ao longo dos eixos dos x e dos y se anulam, de forma que a molécula é apolar. O mesmo ocorre com a molécula de XeF4, cujos dipolos estão representados na Figura 12.16.b. Esta molécula também é apolar. A composição dos dipolos das moléculas de CH4 e CF2Cl2 é um pouco mais difícil, pois o arranjo geométrico é tridimensional. Talvez fique mais C E D E R J 185 AULA ATIVIDADE Elementos de Química Geral | Forma das moléculas: Parte II fácil se você visualizar as geometrias por um outro ângulo. É o que está ilustrado nas Figuras 12.16.c e d, juntamente com os dipolos das ligações. No CH4, as duas ligações CH superiores formam um plano e o dipolo resultante destas ligações aponta para cima. As ligações inferiores também formam um plano, perpendicular ao superior, mas o dipolo inferior resultante é colinear com o superior. Como todas as ligações são iguais, o dipolo total é nulo e a molécula é apolar. No CF2Cl2, os dipolos resultantes superior e inferior também são colineares, mas não são do mesmo tamanho, e a molécula é polar. O dipolo resultante das ligações C-F é maior que o das ligações C-Cl (devido à diferença de eletronegatividade) e o dipolo total fica ao longo da bissetriz das ligações C-F. a b c b Figura 12.16: As moléculas de BF3, XeF4 e CH4 são apolares, mas a de CF2Cl2 é polar com o dipolo apontando ao longo da bissetriz entre as ligações C-F. 186 C E D E R J 12 AULA CONCLUSÃO A geometria de moléculas pode ser prevista com excelente aproximação por um modelo simples, baseado na distribuição dos pares de elétrons em torno de um ou mais átomos centrais. Entretanto, a presença de pares de elétron não-ligantes e de ligações múltiplas distorce os ângulos das ligações em relação ao previsto pelo modelo simples RPECV. O arranjo geométrico da molécula é de fundamental importância na determinação da sua polaridade, que resulta da composição dos dipolos das ligações, considerando as suas orientações no espaço. ATIVIDADE FINAL Determine a geometria e a polaridade das espécies a seguir: a. HBCl2 b. GeH4 c. SO3 ___________________________________________________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________________________________________________ RESPOSTA COMENTADA Você precisa escrever a estrutura de Lewis de cada composto, determinar a geometria pelo método RPECV e compor os dipolos das ligações para formar o dipolo resultante. C E D E R J 187 Elementos de Química Geral | Forma das moléculas: Parte II Na molécula de HBCl2, o átomo de B é o átomo central. Ele é do grupo 3A, tendo três elétrons de valência. Os átomos de H e Cl têm um e sete elétrons de valência, respectivamente. Então, a estrutura de Lewis do BHCl2 é: Observe que o B não tem o seu octeto completo neste composto; a ele estão ligados três pares de elétrons (NPA = 3), todos ligantes (NPL =3, NPNL = 0). Logo, o HBCl2 é trigonal plano. Na Figura 12.17 está a representação da molécula, com os dipolos das ligações e o dipolo total. Este aponta ao longo da bissetriz das ligações B-Cl, pois os átomos de Cl são bem mais eletronegativos que o átomo de H. Figura 12.17: A molécula de HBCl2 é polar com o dipolo resultante apontando ao longo da bissetriz das ligações B-Cl. O Ge (germânio) pertence ao grupo 4A, tendo quatro elétrons de valência. Assim, a estrutura de Lewis do GeH4 é: Vejam que NPA = 4, NPL = 4 e NPNL = 0. Logo, a molécula é tetraédrica e, tal como no CH4 , é apolar (Veja a discussão sobre o CH4 na resposta comentada da Atividade 4). O S pertence ao grupo 6A, tal como o O. Há três estruturas de Lewis ressonantes para o SO3 188 C E D E R J 12 Em qualquer uma delas, há três pares de elétrons em torno do átomo de S AULA (lembre-se de que a ligação dupla conta como um par!). Então, NPA = 3, NPL = 3 e NPNL = 0. Desta forma, o SO3 é trigonal plano. Se você pensar que há duas ligações simples e uma dupla, deve esperar que as distâncias das ligações S-O e S=O sejam diferentes, o que está certo. Entretanto, convém lembrar que, quando há ressonância de estruturas, a estrutura real do composto não pode ser representada por nenhuma das estruturas ressonantes isoladamente. Na verdade, as distâncias S-O no SO3 são todas iguais. Se assim for, a molécula tem a mesma composição de dipolos que o BF3 , sendo apolar. RESUMO Nesta aula, aprendemos que o conhecimento do arranjo espacial dos átomos formadores de uma molécula depende não apenas dos pares de elétrons em torno dos átomos centrais, mas também da natureza destes pares. Também verificamos que este arranjo é essencial para compreendermos por que algumas moléculas são polares e outras não. INFORMAÇÃO SOBRE A PRÓXIMA AULA Na próxima aula, você vai estudar as reações de oxirredução, de grande importância em muitos processos químicos e biológicos. C E D E R J 189 Serviço gráfico realizado em parceria com a Fundação Santa Cabrini por intermédio do gerenciamento laborativo e educacional da mão-de-obra de apenados do sistema prisional do Estado do Rio de Janeiro. Maiores informações: www.santacabrini.rj.gov.br 978- 85- 7648- 385- 4