Universidade Federal de Santa Maria Centro de Ciências Sociais Humanas Curso de Administração Disciplina de Ciências Políticas A manipulação e ideologia da mídia, na criação de uma sabedoria convencional equivocada. Aluno: Bruno Perin Data: 16/08/2007 A manipulação e ideologia da mídia, na criação de uma sabedoria convencional equivocada. Bruno Perin Acadêmico de Administração na Universidade Federal de Santa Maria Palavras-chave: manipulação – ideologia - mídia - sabedoria convencional. Resumo Os meios de comunicação (mídia) criam na sociedade sabedorias convencionais equivocadas, assimiladas por esta inconscientemente, a partir da combinação entre manipulação (informativa e psicológica) e ideologia Introdução No decorrer do tempo, conceitos éticos, culturais e sociais vêm sendo modificados e, alguns, criados no intuito de se adaptarem a realidade do mundo contemporâneo. Nos tempos atuais há grandes controladores destes conceitos, entre eles estão: os Três Poderes (Legislativo, Executivo e Judiciário), a religião e, o mais forte deles, a mídia. Esta fonte de poder utiliza-se, por sua vez, da manipulação e da ideologia, fazendo com que as pessoas assimilem algumas sabedorias convencionais (popularmente conhecidas como ‘senso comum’) errôneas retirando, assim, o enfoque que seria necessário dar a assuntos de maior importância e bastante questionados pela população, como por exemplo, de problemas sociais de alto risco. No estudo da evolução histórica da sociedade, determinados pensadores analisavam a comunicação entre os seres humanos, as formas de tomada de decisão e de convencimento utilizadas uns frente aos outros. Dentre essas maneiras, podemos destacar o termo “manipulação”, citado por Mario Stoppino (2002). Este estudioso relata em sua obra que o termo, originalmente, era empregado para designar certas intervenções do homem na natureza, onde se manuseavam ou se tratavam fisicamente determinadas substâncias naturais com o intuito de lhes alterar a forma. Ao longo dos anos, porém, a manipulação começou a apresentar sua utilização em um âmbito mais entre indivíduos, no qual um controla a outro sem seu consentimento. Ainda segundo Mario Stoppino (ano, página): O manipulador trata o manipulado como se fosse uma coisa: maneja, dirige, molda as suas crenças e/ou os seus comportamentos, sem contar com o seu consentimento ou sua vontade consciente. O manipulado, por sua vez, ignora ser objeto de manipulação: acredita que adota o comportamento que ele mesmo escolher, quando, na realidade, a sua escolha é guiada, de modo oculto, pelo manipulador. Outro enfoque se dado é ao termo “ideologia”, o qual prega que ambos indivíduos sofrem um errôneo incentivo de forma que ambos se enganam. Stopinno diz que isto seria a: “Falsa motivação dos comportamentos de mando e de obediência, pela qual dominador e dominados se auto-enganam através de processos inconscientes...” (ano, página). Utilizando, então, estes os dois conceitos relatados, a mídia cria e controla quase todas as crenças da sociedade, formando assim certas sabedorias convencionais, expressão cunhado pelo economista John Kenneth Galbraith (1959). Segundo este estudioso, a mídia se refere à associação entre verdade e conveniência, de modo que, o que é mais simples, cômodo e confortável, ou seja, conveniente, acaba por se tornar uma verdade, não necessariamente sendo uma (muitas vezes o senso comum é equivocado). O que ocorre, então, é que, normalmente, a mídia cria essas sabedorias convencionais para chamar atenção e se propagar no mercado de comunicação. Para exemplificar a tamanha abrangência e, o conseqüente risco, dessas “verdades embutidas” pela força midiática, usaremos o case de uma pergunta feita a alguns pais americanos, nos EUA, que é: “O que é mais perigoso para uma criança: uma arma de fogo em casa ou uma piscina?”. Objetivo O presente trabalho tem o intuito de estabelecer uma discussão dos conceitos de ideologia e manipulação, dentro do campo dos fenômenos existentes na sociedade atual com destaque para força que o discurso midiático assume dentro realidade dos indivíduos. Justificativa Sabe-se que a mídia, principalmente nos dias de hoje, assume a posição de principal formadora de “verdades” e opiniões - logo, de sabedorias convencionais através do uso dos seus diferentes discursos estratégicos, através dos diferentes meios de comunicação. É de alta relevância entender como essas estratégias midiáticas conseguem criar essas sabedorias convencionais, manipular para que estas sejam vistas como verdadeiras e, assim, interferir nas diferentes decisões e crenças da sociedade. A partir dessas primeiras definições, o estudo passa a assumir um maior grau de importância por, subseqüentemente, apontar a existência de riscos que o “senso comum” pode apresentar à sociedade, principalmente quando esta é passiva diante de certa “verdade” transmitida pela mídia, isso por não possuir conhecimento suficiente e adequado sobre o que lhe está sendo convencionada – como no case descrito nos EUA. Metodologia Apartir da pesquisa bibliográfica de autores de distintas áreas, com destaque para sociologia, ciência política e comunicação, foi realizado uma hipótese explicativa no sentido de conseguir captar a forma como a mídia, através de estratégias de convencimento (consciente ou não), acaba por influenciar de tal maneira nas decisões e na cultura da sociedade atual, formando, muitas vezes, um senso comum equivocado na cabeça das pessoas. Descrevendo os Resultados A pergunta proposta para guiar o tema desse estudo foi feita por um consultor de riscos chamado de Sandman, P. New York Times Magazine, 2003. Este homem obteve como resultado na sua pesquisa uma quase que totalidade dos pais afirmando que a presença de uma arma de fogo dentro da residência representava maior perigo do que a presença de uma piscina. Apenas pessoas altamente informadas sobre o assunto responderam ao contrário dessa maioria. Para comparar os verdadeiros riscos entre arma de fogo/piscina, Sandman buscou apoio de um economista Steven Levitt (2005), o qual, apartir de dados e analises, concluiu que: “todos os anos há um afogamento infantil para cada 11 mil piscinas residenciais nos Estados Unidos (num país com seis milhões de piscinas, isso representa, aproximadamente, 550 crianças de menos de dez anos afogadas anualmente). Enquanto isso, a possibilidade de morte infantil por arma de fogo é de uma para cada milhão de armas (num país com um número estimado de 200 milhões de armas, isso significa que 175 mortes de crianças são causadas anualmente por armas de fogo). A probabilidade de morte por afogamento em uma piscina (um em 11 mil) contra morte por arma de fogo (um em um milhão) nem sequer é digna de comparação”. Então, o que pode se perceber é que a mídia ressalta, argumenta, cria campanhas e utiliza o sensacionalismo diante de casos de crianças mortas por armas de fogo. Isto mostra que esta não possui o verdadeiro enfoque do problema, deixando, assim, de alertar os pais sobre algo que representa um risco muito maior aos seus filhos, resultando em pais mais preocupados com perigos menores e desatentos aos maiores. Discutindo os Resultados Com uma linha de fatos chegaremos em como a mídia faz com que acreditemos em uma “verdade”, de modo que essa é empregada inconscientemente. Utilizando, ainda, o case, como de fato foi que a arma de fogo pareceu mais perigosa na escolha dos pais americanos? Digamos que, hipoteticamente, ocorreu uma morte por arma de fogo porque a criança estava brincando com a arma do seu pai, acabou atirando em si e veio a falecer na hora. A partir do ocorrido, a mídia entra em ação, pois aconteceu algo trágico aos olhos da sociedade, algo que com a estimulação correta pode gerar uma comoção geral dos indivíduos. Essa mobilização faz com que mais pessoas procurem os meios de comunicação para se informarem e se manifestarem no quesito moralmente correto, fazendo com que esses meios venham a se desenvolver e crescer no mercado. Logicamente existe o lado de “responsabilidade social” midiático, ao alarmar a sociedade sobre os grandes riscos trazidos por esse problema da arma de fogo em casa. Para garantir o impacto e atingir a mobilização social almejada, os meios de comunicação utilizam-se dos conceitos de manipulação e de ideologia (começando pelo primeiro, podendo ser este subdividido em duas categorias - a informativa e a psicológica). A mídia controla as informações a serem repassadas a todos, “o monopólio informativo diminui gravemente as possibilidades de resistência...” (Stoppino, M. Manipulação. In: Dicionário as Política, 2002). A partir daí, acaba deixando os adultos em questão mais vulneráveis, sendo então, submetidos a manipulação psicológica, “usada para definir o comportamento quando se há uma vulnerabilidade psicológica...” (Stoppino, M. Manipulação. In: Dicionário as Política, 2002). Conclui-se, assim, que a população se torna uma “marionete”. O segundo conceito se encaixa no modo de um errôneo incentivo, “falsa motivação dos comportamentos...” (Stoppino, M. Manipulação. In: Dicionário as Política, 2002). A mídia, em busca de alarmar a população, a manipula; mas, essa motivação provém do lado que não exerce tanto perigo (o da arma de fogo), ou seja, a motivação menos cabível. Dessa forma, pais caem em uma sabedoria convencional “empurrada”, “imposta”, de crerem que as mortes de crianças por arma de fogo aparentarem ser mais perigosas do que as causadas por afogamento. Estes adultos, devido ao senso comum formado inconscientemente pela mídia, acabam sendo movidos por este e direcionados a manter seus esforços e preocupações onde o perigo é cem vezes menor. Conclusão Com a configuração final do tema, ficou explícita a extrema influência que os meios de comunicação exercem sobre os comportamentos e decisões da sociedade. O modo mais eficaz de fazer com que não sejamos “marionetes” da mídia é passar a questionar tudo e qualquer fato por ela abordado, buscando, por tanto, obter informações e conclusões mais coerente sobre o assunto proposto. Desta forma, muitos riscos serão encarados proporcionalmente ao seu real perigo, nos deixando, assim, alertas e prevenidos diante das situações com as quais convivemos em nosso dia-a-dia. Bibliografia Levitt, Steven e Dubner, Stephen. Freakkonomics: O lado oculto e inesperado de tudo que nos afeta. São Paulo: Editora Campus, 2005. Galbraith, John Kenneth. A economia e a arte da controvérsia. Tradução de Gilberto Paim. Rio de Janeiro, Editora Fundo de Cultura, 1959. Hulbert, Ann. Educando os Estados Unidos: Especialistas, Pais e um Século de Conselhos sobre os filhos. Editora Elsevier, 1999. Babbio, Norberto. Dicionário as Política. Brasília: UND, 2002.