Carcinoma da pelve renal e ureter Francisco Paulo da Fonseca Prof. de urologia da disciplina sistema urinário da UNINOVE Membro das sociedades urológicas: SBU, AUA e EUA Mestrado e doutorado em oncologia pela FMUSP E-mail: [email protected] Site: www.drfranciscofonseca.com.br Carcinoma urotelial do TUS Incidência • 5-10% de todas as neoplasias que ocorrem no TUS. Os tus. pielocaliciais ocorrem em dobro dos ureteliais (efeito contato da urina com urotélio) Ureter 35% (5% proximal, 25% médio e 70% distal) • Associados a Ca de bexiga em 8-13% dos casos. • 2-4% dos pacientes com CaB desenvolvem Ca do TUS (fatores de risco: Ca de alto grau, tu perto dos ureterais, multiplicidade, recidivas frequentes, presença de CIS na bexiga e falha terapêutica intravesical). • Razão homens/mulheres 2:1 • Pico de incidência: 7a e 8a décadas de vida, com média da idade de 75 anos e raros com idade < 40a. Tumores do TUS Sinais e sintomas • Sinal mais frequente é a hematúria indolor: 70-80%. • Sintoma mais frequente é a dor no flanco: 20-40%. • Até 15% são assintomáticos (tumores incidentais) e sintomas sistêmicos ocorrem com doença metastática. • Os tumores da pelve são mais silenciosos. • Não há predileção do lado e menos de 3% são sincrônicos e bilaterais. Estádio patológico do câncer de pelve e ureter CIS Ta T1 Urotélio Córion Invasão muscular Invasão da gordura ou parênquima renal Tumor invade órgãos adjacentes, ou invade rim com comprometimento da gordura perinefrética T2 T3 T4 Estadiamento pelo sistema TNM Estadiamento dos tumores de pelve renal e ureter Linfonodos: N NX LNs não podem ser avaliados N0 Ausência de metástase em LN regional N1 Metástase em um único LN, ≤2cm na > dimensão N2 Metástase em único LN, >2cm e <5cm na > dimensão N3 Metástase em LN > 5cm em sua maior dimensão Metástase: M MX Metástase distante não pode ser avaliado M0 Ausência de metástase distante M1 Metástase à distância Fatores de risco Tabagismo: RR 2,5-7 Aminas aromáticas (corantes, borracha, carvão): RR 8,3 duração da exposição: 7 anos; período de latência: 20a. Fenacetina (banida nos anos 70) e ciclofosfamida Nefropatia endêmica dos Balkans: ácido aristolóquico: ervas China, Taiwan, Índia e Vietnam Endêmica sudoeste de Taiwan: ácido aristolóquico e arsênico Polimorfismo: SULT1A1*2 (atividade reduzida da sulfa transferase) Ca urotelial do TUS familial/hereditária associada a HNPCC (síndrome de Lynch) - Idade < 60a. História familiar de HNPCC - Sequência DNA e aconselhamento genético Acher BJUI 2010, Colin BJUI 2009 Roupret Eur Urol 2009 Tan BJUI 2011. Chromecki, Shariat Nat Rev 2011 Carcinoma do TUS Diagnóstico por imagem Urotomografia (padrão ouro) Tamanho do tumor (mm) 5-10 <5 <3 Sensibilidade Especificidade (%) (%) 96 99 89 40 - Ressonância Nuclear Magnética Taxa de detecção: 75% para tumores < 2cm Contra-indicação: falha na função renal (eGFR < 30ml/min/1,73m2): fibrose nefrogênica Carcinoma do TUS Modelo multivariado para predizer invasão muscular e tumor não-órgão confinado em 274 pacientes Ca TUS músculo-invasivo Alto grau na ureteroscopia AUC OR (IC 95%) 0,607 2,92 (1,45-5,87) Ca TUS não-órgão confinado p AUC OR (IC 95%) 0,023 0,620 3,86 (1,60-9,28) p 0,003 Local tumor Sem Ref. Ref. ureter 1,27 (0,35-4,65) 0,67 (0,18-2,48) pelve 1,86 (0,49-7,10) 0,54 (0,14-3,10) Hidronefrose* 0,578 1,87 (1,16-3,03) 0,011 0,536 1,33 (0,79-2,24) 0,3 Invasão local* 0,584 4,11 (1,92-8,79) <0,001 0,605 4,34 (2,17-8,65) <0,001 * Na imagem Favaretto RL - BJU Int 2011; 109, 77-82 Carcinomas do TUS: Avanços da endoscopia Aumento da detecção de lesões papilíferas e planas Redução dos tumores residuais Redução da taxa de recidiva Aumento tempo para o controle endoscópico Fotoativo porfirina EV e 5-ALA: ácido 5 aminolevulínico intravesical e no TUS NBI- Narrow Band Imaging pT1 pT3 CIS na próstata Ca células grandes - Nested pTa HG Ca micropapilar Urotélio normal Carcinoma in situ Epitelio descamativo Subtipos e variantes dos carcinomas uroteliais UROTELIAL (MAIS DE 90% DOS CASOS) Urotelial com diferenciação epidermóide Urotelial micropapilífero Urotelail com diferenciação trofoblástica Carcinoma de pequenas células Carcinoma variante “em ninhos” Carcinoma de células fusiformes-sarcomatóide WASCO MJ et al. Hum Pathol 2010 Particularilades do Ca urotelial do TUS Nefropatias - Analgésicos - Chá de ervas chinesas - Nefropatia dos Balkans HNPCC – Lynch (15% dos Ca do TUS e ocorre 22x que a população normal) - História pessoal (tumor hereditário HNPCC, < 60a.) e familiar (parente 1º grau com < 50a. com tumor HNPCC ou 2 parentes do 1o grau com tumor HNPCC) - Expressão no tumor hMLH1/hMSH2 - Fator preditivo positivo para instabilidade microsatélite Besser, BJU 2011 Carcinoma do TUS Fatores prognósticos Pré-operatório Pós-operatório Tamanho > 3cm Estádio Multifocalidade Grau Estádio avançado Carcinoma in situ Idade avançada Excisão do cuff vesical Grau (biopsia e citologia) Invasão linfonodal Tabagismo Arquitetura tumoral Tratamento do ureter distal Margem cirúrgica positiva PS ECOG ≥1 e ASA Necrose tumoral Sintomas sistêmicos Marcadores tumorais Hidronefrose Variantes histológicas Atraso cirurgia > 3 meses Localização do tumor Carcinoma do TUS Princípio fundamental • 85% dos carcinomas do TUS é em princípio um ca. urotelial e demais causados por mutação germinativa. • Ao diagnóstico, 60-65% com apresentam doença em estádio mais avançado. • O urotélio está presente do pequeno cálice renal até a uretra prostática no homem e até a uretra distal nas mulheres • Papel do urologista Monitorar todo o urotélio desde o diagnóstico da neoplasia, tratamento e seguimento dos pacientes. Carcinoma do TUS Princípio fundamental A diferença anatômica da bexiga para o ureter é a espessura menor da parede do ureter em relação a bexiga. Há maior risco para a infiltração da neoplasia. A disseminação loco-regional e sistêmica é mais precoce. 60% dos casos iniciais são músculo-invasivos. Sua caracterização é mais difícil por meios de imagem e é invasiva (ureteroscopia) para os pacientes que são tratados com preservação do TUS. Deve-se restabelecer a normalidade funcional do TU Tratamento da dificuldade miccional (LUTS de alto escore) Evitar o resíduo pós-miccional: Nos homens (tratamento clínico da HPB ou RTU). Nas mulheres: correção da cistocele e tratamento ITU Diagnóstico com métodos propedêuticos disponíveis (USG, Tomo, RNM, ureteroscopia flexível com biopsia e citologia) Avaliação da função renal: clearance de creatinina e cintilografia renal estática e/ou dinâmica Tratamento baseado no estádio na neoplasia: grau, estádio, estratificação do risco e condição clínica do paciente Tratamento conservador: RTU ou Laser do tumor único ou multifocal. Tratamento adjuvante (Mitomicina C ou BCG: pacientes com duplo J ou nefrostomia) Tratamento radical: Nefroureterectomia radical com retirada de cuff vesical. NUNCA DEIXAR URETER DISTAL !!!!!! (Risco de recidiva no coto ureteral > 50%) Indicação: Baseada nas condições clínicas do paciente e na função renal: princípio da cirurgia poupadora de néfrons: absoluta ou de necessidade. EVITAR DIALISE A recorrência em bexiga do carcinoma urotelial do TUS após nefroureterectomia varia 33-47%. 33% são multifocais Análise multivariada: fatores preditivos para a recidiva vesical é o grau tumoral (p=0,007) e multifocalidade (p=0,03). A taxa de incidência cumulativa em 2 anos foi 5,6; 34,8 e 50% em indivíduos sem, com 1 ou 2 fatores de risco, respectivamente (p=0,01). Portanto, há indicação para o tratamento adjuvante intra-vesical com BCG/Mitomicina C Rouprêt M. et al. Eur Urol. 2013;63:1059-71; Xylinas E. et al. Eur Urol. 2012; 61:1069-70; Narukawa T et al. Jpn J Clin Oncol. 2015;45(5):488-93 Recidiva vesical pós-nefrourectomia Narukawa T et al. Jpn J Clin Oncol. 2015;45(5):488-93 Neoplasias do TUS podem ocorrer após o tratamento do Ca de bexiga (recidiva no TUS): 1,8-2%, mas pode aumentar para 7,5% nos tumores do trígono vesical Investigar qualquer dilatação após tratamento de Ca de bexiga, seja por métodos de imagem ou ureteroscopia Etiologia da dilatação: Recidiva por doença panurotelial ou multifocalidade, presença de CIS vesical ou lesão pós-RTU do meato ureteral (estenose do meato)? Nomograma para predizer a taxa de recidiva vesical após NU Xylinas E et al – Eur Urol 2014; 65: 650-8 Tratamento cirúrgico do ca do TUS Decisão: endoscópica ou NU radical • 30% dos pacientes com Ca do TUS têm invasão da muscular • Incidência de metástase linfonodal: 30-40%. • A seleção dos pacientes com de Ca do TUS para tratamento endocópico ou NU é baseada nos exames de imagem e anatomia patológica (biopsia e citologia) • Sensibilidade para citologia seletiva do ureter para Ca do TUS varia de 43-78% e falso negativo para Ca baixo grau é > 50% • Acuracidade da biópsia para diagnóstico do Ca do TUS varia de 71-89% Brien JC – J Urol 2010; 184: 69 Modelo multivariado para predizer o carcinoma urotelial invasivo do TUS 172 pacientes baseado na hidronefrose, biópsia e citologia urinária Músculo invasivo Órgão não-confinado HR (CI 95%) p HR (CI 95%) p Hidronefrose unilateral 12,0 (5,1-28,2) <0,001 5,1 (2,3-11,5) <0,001 Alto grau ureteroscopia 4,5 (1,9-10,4) <0,001 3,9 (1,8-8,7) <0,001 Citologia urinária + 2,3 (0,8-7,0) 0,172 3,1 (1,-10,0) 0,035 Local tumor 1,7 (1,0-2,8) 0,055 1,5 (0,9-2,4) 0,133 Gênereo 1,3 (0,6-2,9) 0,52 1,4 (0,6-3,0) 0,47 Idade 1,0 (1,0-1,1) 0,80 1,0 (1,0-1,1) 0,91 Brien JC – J Urol 2010; 184: 69 Sobrevida câncer específica em 5 anos Variável Patológico Estádio Ta, pT1 80-100 T2 60-80 T3 20-40 T4 M+ 0-10 Baixo 65-85 Alto 20-40 Pelve renal 70-90 Ureter 30-50 Grau Localização SCE 5 anos (%) Siegel R, Ca Cancer J Clin, 2012 Ca urotelial do TUS Ca de baixo risco Doença unifocal Tumor < 1cm Citologia de baixo grau Biopsia: tumor de baixo grau Urotomo: sem doença invasiva Todos fatores precisam estar presentes Ca de alto risco Hidronefrose Tumor > 1cm Citologia de alto grau Biopsia: tumor de alto grau Doença multifocal Prévia cistectomia radical Qualquer dos fatores presentes Carcinoma do TUS Diagnóstico Urotomo, citologia urinária, cistoscopia, ureteroscopia flexivel Ca de baixo risco Ca de alto risco Nefroureterectomia Cirurgia poupadora renal: Ureteroscopia flexivel ou ressecção segmentar ou acesso percutâneo aberta laparoscópica recidiva Segmento rigoroso Dose única de Qt intravesical Tratamento cirúrgico conforme localização e grau SLR e SCE em 67 pacientes pT3N0 ou Nx, 25 casos com invasão do parênquima, 9 de pelve com invasão da gordura e 33 pT3 de ureter com invasão periureteral Park J – J Urol 2009; 182: 894 SLR e SCE conforme localização do tumor e RU Ca urotelial do TUS: arquitetura tumoral e SCE N=1363 Papilífero Sólido Remzi Met al – BJU Int 2008; 103, 307 N=475 com Ca urotelial do TUS Krabbe L-M et al. J Urol 2015; 193: 1486-93 RFS conforme a abordagem cirúrgica Favaretto et al. Eur Urol, 58(5) 645-52,2010 Características dos pacientes submetidos a nefroureterectomia em relação a linfadenectomia retroperitoneal Variável Média de idade (anos) n=551 Pacientes com LND negativos n=441 Pacientes com LND positivos n=140 p 67,1 (27-94) 66,7 (31-94) 67,6 (27-90) 0,59 Estádio patológico < 0,001 pT1 103 (18,7) 96 (23,4) 7 (5,0) pT2 114 (20,6) 93 (22,6) 21 (15,0) pT3 334 (60,7) 222 (54,0) 112 (80,0) Grau patológico < 0,001 Baixo 98 (17,7) 89 (21,7) 9 (6,4) Alto 453 (82,3) 322 (78,3) 131 (93,6) Número de LNs removidos Média (variação) 0,02 6,7 (1-41) * 8 LN para 75% de detecção de LN+ 7,5 (2-41) 6,2 (1-34) Roscigno M et al Urology 2009; 74(5): 1070 Regressão logística univariada e multivariada em pacientes submetidos à nefroureterectomia Análise univariada Fatores preditivos HR (IC 95%) 6,61 (2,67-12,79) ≥ 8 LNs vs < 8 LNs 5,52 (2,48-12,28) 4,59 (1,57-7,98) < 0,001 3,51 (1,67-7,28) 0,025 No. LNs removidos 1,678 (1,25-2,31) p < 0,001 < 0,001 Grau patológico Alto vs baixo HR (IC 95%) < 0,001 Estádio patológico Músculo-invasivo vs não músculo-invasivo p Análise multivariada 0,032 1,493 (1,28-2,19) Roscigno M et al Urology 2009; 74(5): 1070 Papel da linfadenectomia na Nefroureterectomia O número de LNs é fator preditivo independente para SLR (HR 10,93 p=0,03) e SCE (HR 0,903, p=0,007) Kondo T – J Urol 2007, Roscigno E - Urol 2008 Impact of an adjuvant chemotherapeutic regimen on the clinical outcome in high-risk patients with upper urological carcinoma: A Japanese multi-institution experience Shirotake S et al. – EUA, poster 813 Fatores prognósticos após NU radical Impact of an adjuvant chemotherapeutic regimen on the clinical outcome in high-risk patients with upper urological carcinoma: A Japanese multi-institution experience Shirotake S et al. – EUA, poster 813 84 PACIENTES EUA, POSTER 809 mais importante Xylinas E – Eur Urol 2014; 65, 650 Nomograma para SCE após a NU Xylinas E – Eur Urol 2014; 65, 650 Paciente VMVB, feminina, com 90 anos e 7 meses História de ITU de repetição e hematúria indolor intermitente há 3 anos. Investigação do TU com USG, RNM e pielografia ascendente BEG, corada, KPS 90% Creatinina de 1,9 dl/ml Clearance de creatinina 70 Ressonância Nuclear Magnética RD com boa função RE com dimensões ligeiramente reduzida, com certa retração e afilamento cortical. Presença de tu. de médio sinal em T1 e T2 em topografia da pelve renal com aspecto nodular/ovalado, contornos bocelados, com discreto realce heterogêneo ao gadolínio, com 2,5x2cm, e extensão calicial no pólo superior. Ectasia difusa do sistema coletor Sem adenopatias Hidronefrose, Biopsia e Citologia urinária podem predizer o ca urotelial avançado do TUS Brien JC – J Urol 2010; 184: 69