Quarta-feira _28 de janeiro de 2015. Diário de Notícias 35 ARTES Foto da Time ajuda a datar pintura OUTRAS DESCOBERTAS DOIS GOYAS EM UM › Em 2011, num museu de Amesterdão, foi descoberto por baixo de uma obra de Goya outra obra do espanhol. O suposto retrato do irmão de Napoleão, Joseph, foi descoberto graças a técnicas com raio X. MUSEU Logo depois de descoberto o fresco de Portinari, os responsáveis do Museu Casa de Portinari encontraram uma foto, propriedade do grupo americano Time, de Hart Preston, repórter fotográfico que acompanhou uma visita de Walt Disney ao Brasil, com o pintor e a sua família. Encantado com os trabalhos do pintor brasileiro, então no auge da sua fama, foi até à casa de Brodowski e fotografou os Portinari em férias. Numa delas surge o fresco agora descoberto e batizado de Menino Jesus com Madona (em cima, atrás da mulher de branco). Como a fotografia é de 1940, os especialistas na obra de Portinari acreditam que o fresco data de 1937, ano em que o artista e alguns amigos fizeram dezenas de obras nas paredes da casa. POR TRÁS DE UM SOFÁ › O americano Martin Koder, de Buffalo, resolveu depois de 30 anos tirar de trás do sofá um quadro com a assinatura de Michelangelo. E era mesmo um Michelangelo, que pertenceu a uma baronesa alemã, parente afastada do americano. FARO DE CÃO › Parece um livro de Enid Blyton mas não é: numa caverna em Montignac, França, quatro adolescentes e um cão descobrem em 1940 centenas de pinturas com 15 a 17 mil anos de existência. Olho azul desvenda fresco escondido de Portinari Brasil. Obra de 1937, batizada de Madona com Menino Jesus, foi encontrada debaixo de 15 camadas de tinta numa parede da casa, hoje museu, onde o maior pintor brasileiro morou JOÃO ALMEIDA MOREIRA, São Paulo “Um olho azul, descobri um olho azul”, gritou um dos restauradores que ajudava nas obras da casa onde viveu Cândido Portinari, considerado o maior pintor brasileiro da história, na cidade de Brodowski, 350 quilómetros a norte de São Paulo. Cristiane Patrici, gerente-geral do museu, situado na própria casa de Portinari, correu aos prantos para avisar Angélica Fabbri, a diretora executiva, e comemoraram todos juntos em êxtase: o olho azul era da figura de um Menino Jesus, ao colo da mãe, e revelou-se a última das obras do artista. “Deve ser uma sensação parecida com a do garimpeiro que descobre ouro”, descreve Angélica. Nos últimos dias de 2014, um laudo divulgado por pesquisadores da Universidade de São Paulo e da Universidade Federal do Rio de Janeiro confirmou, após complexos estudos, o que se esperava desde aquele dia: a obra, um fresco entretanto batizado de Madona com Menino Jesus, pode ser catalogada como um dos cinco mil trabalhos do pintor. Estava debaixo de 15 camadas de tinta na parede do que seria, à época, a varanda da sua casa. Segundo os especialistas, Portinari não trabalhou sozinho. O artista tinha o hábito de convidar amigos pintores e criar frescos pelas paredes de casa em coautoria, como parece ser o caso de Menino Jesus com Madona. A reforma no Museu Casa de Portinari foi realizada depois de se constatar que a humidade estaria a prejudicar a conservação das obras e dos objetos utilizados pelo pintor expostos no local. A última obra atribuída antes desta ao brasileiro, data de 1970. “São 44 anos de diferença e mais de 50 desde a morte dele, em 1962, é muita emoção”, resume André Resende, assessor de imprensa do Menino Jesus resgatado à tinta Museu Casa de Portinari. A diretora executiva, Angélica, desabafa: “A gente passa uma vida pensando que isto pode acontecer e não é que aconteceu mesmo?” As surpresas não terminaram por aqui. Logo após a descoberta, foi encontrada uma velha fotografia da família Portinari, tirada por Hart Preston, um fotógrafo da revista Time que acompanhava uma visita de Walt Disney ao Brasil em 1940 e se encantou com o trabalho do brasileiro. Nessa foto (acima), está exposto num canto Madona com Menino Jesus. “Essa fotografia provou-nos que o fresco é anterior a 1940, provavelmente de 1937.” As novas descobertas são agora a principal atração do Museu Casa de Portinari, um espaço que mantém intactos quartos, cozinhas, casas de banho, ateliês, jardins, uma pequena capela, materiais ou roupas do artista e permite visitas in- FRESCO DE DA VINCI › Durante 400 anos ninguém soube de um fresco de Da Vinci. Foi descoberto em 2011 no Palazzo Vecchio, em Florença, por trás de um mural de Giorgio Vasari onde estava escrito “procurem que encontram”. IMPRESSÃO DIGITAL › Um empresário suíço comprou por 19 mil dólares um quadro de um autor alemão do século XIX. Especialistas, porém, descobriram uma impressão digital de Da Vinci. Tratava-se de La Bella Principessa, pintado 500 anos antes e com valor estimado em 150 milhões de dólares. terativas narradas por, entre outros, o ator Lima Duarte. Portinari, nascido em 1903 numa fazenda de café perto de Brodowski (a cidade deve o nome ao engenheiro polaco que construiu a estação de caminho-de-ferro em 1894) filho de imigrantes italianos, morreu em 1962. Depois de sair com 15 anos da pequena cidade natal, à qual regressava por longos períodos de férias, Portinari matriculou-se na Escola Nacional de Belas-Artes no Rio de Janeiro, ganhou prémios nacionais e internacionais, viveu em Paris, expôs no MoMA de Nova Iorque e especializou-se em murais e painéis. Os painéis Guerra e Paz, oferecidos à sede da ONU em Nova Iorque em 1956, são uma das suas principais obras. Com forte apelo social, o trabalho de Portinari é normalmente definido entre o cubismo e o surrealismo.