Especialização em Gestão Pública Programa Nacional de Formação em Administração Pública VANDIRA LUIZA DE OLIVEIRA Governo Lula (2003– 2010): A continuidade da política ortodoxa do Governo FHC Maringá 2011 Especialização em Gestão Pública Programa Nacional de Formação em Administração Pública VANDIRA LUIZA DE OLIVEIRA Governo Lula (2003– 2010): A continuidade da política ortodoxa do Governo FHC Trabalho de Conclusão de Curso do Programa Nacional de Formação em Administração Pública, apresentado como requisito parcial para obtenção do título de especialista em Gestão Pública, do Departamento de Administração da Universidade Estadual de Maringá. Orientador: Prof. Ms: João Batista da Luz Souza Especialização em Gestão Pública Programa Nacional de Formação em Administração Pública VANDIRA LUIZA DE OLIVEIRA Governo Lula (2003– 2010): A continuidade da política ortodoxa do Governo FHC Trabalho de Conclusão de Curso do Programa Nacional de Formação em Administração Pública, apresentado como requisito parcial para obtenção do título de especialista em Gestão Pública, do Departamento de Administração da Universidade Estadual de Maringá, sob apreciação da seguinte banca examinadora: Aprovado em ___/___/2011 Professor (a)......................................................., Dr. (a) / Me. [orientador (a)] Assinatura Professor (a)......................................................, Dr. (a) / Me. [convidado (a)] Assinatura Professor (a)......................................................, Dr. (a) / Me. [convidado (a)] Assinatura RESUMO Esse trabalho tem como objetivo analisar os oito anos do Governo Lula, tomando como base a política macroeconômica utilizada. Em outras palavras, objetiva verificar se houve um rompimento com as políticas macroeconômicas neoliberais aplicadas no país desde o Governo de Fernando Collor, no início dos anos de 1990. Contudo, torna-se importante destacar que a análise do governo Lula será feita em relação ao Governo de FHC somente. Para tanto, para a realização desta pesquisa, foi analisada a literatura referente a essa temática: obras de alguns autores que se propuseram a analisar o governo de Lula, bem como procuramos buscar alguns dados oficiais do Banco Central. Após estudo e análise das obras e dados coletados no BC foi possível verificar que o Governo Lula manteve a mesma política macroeconômica do Governo FHC. Isto é, manteve como foco os interesses das elites nacionais e internacionais. Em seu primeiro Governo, tinha como retórica que era preciso primeiro se desfazer da “herança maldita” oriunda do governo anterior. Esse argumento justificava a taxa Selic em patamares elevados, garantia de superávit primário e uma política do Banco Central rigorosa. Já no segundo mandado, houve uma tentativa de incentivar o crescimento com o Programa de Aceleração do Crescimento - PAC, que , guardadas as suas devidas proporções, contava com uma estrutura política frágil. Diferentemente, da primeira gestão que contou com um cenário internacional favorável, o mundo crescia a 4,3%, enquanto o país cresceu em 2,4%, a segunda gestão contou com uma crise internacional de grandes proporções. Foram então utilizadas políticas fiscal e monetária expansionistas com a redução de impostos e juros e incentivo à demanda. Mesmo assim, verificou-se que o Brasil perdeu oportunidade de crescimento durante toda a gestão do governo Lula. Palavras-chave: GOVERNO LULA. NEOLIBERALISMO. CRESCIMENTO. GOVERNO FHC. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................ 5 2 Neoliberalismo e a mudança de paradigma................................ 6 2. 1 Neoliberalismo: conhecendo sua origem............................................. 8 2.2 O neoliberalismo: aplicações e resultados........................................... 10 2.3 Neoliberalismo no Brasil........................................................................13 2.4 O primeiro mandato do Governo Lula 2003-2006............................. 15 2.5 O segundo mandato do Governo Lula 2007-2010........................... 22 3 CONCLUSÃO.................................................................................................. 26 4 REFERÊNCIAS................................................................................................ 27 5 1. INTRODUÇÃO A temática acerca do papel do Estado na condução do crescimento econômico tem incitado muitos teóricos ao longo da literatura econômica a se debruçarem sobre a análise dos limites da ação estatal no campo macroeconômico de um país. No campo da política econômica, há sempre uma discussão muito acirrada sobre os limites do Estado no que se refere há economia: uns defendem a ação do estado para puxar o crescimento econômico e outros acreditam que o melhor é deixar o mercado livre, porque a liberdade do mercado conduz a economia ao equilíbrio. Essa dicotomia entre Estado e Mercado acaba por dividir as opiniões de economistas e gestores sobre a melhor forma de conduzir a economia de uma nação. O Brasil é um país em que a presença do Estado na economia é ainda muito forte, as pessoas vêem o Estado como o principal responsável pelo crescimento ou não da economia, isto é, do emprego, responsável pelo aumento ou não da taxa de juros e pela manutenção da inflação a níveis baixos. Todavia, ressalta-se que a partir dos anos de 1990, o país recebeu muitas influências do pensamento neoliberal que defende a desregulamentação da economia e dos mercados de trabalho. Influências essas que ganharam força com o fenômeno da globalização. Mas é certo de que quando falamos em Estado no Brasil inexoravelmente estamos falando de Governo. Não há ainda uma separação entre Estado e Governo, daí que podemos constatar que as expectativas sobre um novo presidente, em cada ano eleitoral, são enormes. Não foi diferente quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva – Lula assumiu a presidência do país em Janeiro de 2003. As expectativas eram ainda maiores porque se tratava de um líder sindicalista que havia fundado um partido que se opunha à ditadura militar e foi o responsável por organizar muitas paralisações e greves durante ainda o período de regime militar. Esse artigo procura analisar os oito anos de Governo Lula divididos em dois mandatos 2003-2006 e 2007-2010. O aspecto que tentamos abordar é a respeito do posicionamento ideológico do governo Lula. Em outras palavras, tentamos analisar se houve um rompimento com a política voltada para o financiamento externo, aplicada no Governo de Fernando Henrique Cardoso - FHC em seus dois mandatos ou a continuação de sua política. Para tanto, em um primeiro momento nos atentaremos para uma configuração do que é o neoliberalismo: sua origem, sua ideologia e sua aplicação no Brasil. Já em outro momento, vamos analisar propriamente o governo de Lula sempre tentando verificar uma aproximação de sua política macroeconômica com a ideologia de matriz neoliberal. Trata-se de uma pesquisa bibliográfica e assim sendo utilizamos de algumas obras que analisaram o governo bem como de dados oficiais do Banco Central. 2. Neoliberalismo e a mudança de paradigma O estabelecimento de um paradigma precisa ser entendido como refutação a outro existente, mas em declínio. Ele se estrutura quando o paradigma atual já não consegue mais dar respostas aos fenômenos contemporâneos de um dado momento histórico. Assim, o novo paradigma pode ser entendido como uma nova possibilidade, como alternativa. Podemos perceber toda essa questão quando nos propomos a analisar os fenômenos sociais, as ideologias, as mudanças de pensamento, os avanços e retrocessos, bem como as contradições presentes ao longo da história da humanidade. Nessa perspectiva, quando nos propomos a entender como as mudanças de paradigmas aconteceram nos planos políticos e econômicos, nos deparamos com as inevitáveis constatações de que na maioria das vezes um pensamento, uma teoria fica ali, escamoteada, na espreita esperando apenas o momento oportuno para voltar novamente, mesmo que seja com outra roupagem. Isto ocorreu com o neoliberalismo, que pode ser entendido como uma retomada do liberalismo clássico. O neoliberalismo surgiu como refutação do Estado de Bem Estar – Social, também chamado estado keynesiano. Este, por sua vez, após a crise da década de 1930 e seu aprofundamento com a Segunda Guerra Mundial, havia refutado o pensamento liberal de livre mercado e não- intervenção do estado na economia: o famoso laissez-faire. Naquele momento, de profunda depressão econômica que rapidamente atingiu a todos os países, o livre mercado foi colocado em xeque cedendo lugar às idéias keynesianas em defesa do estado interventor. As economias devastadas pela segunda guerra mundial, na década posterior à crise de 1929, foram paulatinamente recuperadas por meio de planos que contavam com a presença do Estado para direcionar, disciplinar e colocar em prática a políticas de reestruturação econômica em que o principal papel do estado era o de puxar o crescimento econômico. Contam-se aí o New Deal1 e o Plano Marshall2 . Tivemos então um longo período de crescimento econômico quase 40 anos de crescimento econômico em que o paradigma keynesiano permaneceu inquestionável. Fiori (1996) ao relembrar esse período excepcional da história do capitalismo afirma que se tratou de um longo período em que todos os países cresceram economicamente, de Norte a Sul, sejam países capitalistas ou “socialistas”, sejam eles ricos ou pobres: Nós também crescemos aqui no sul. E os países socialistas, que, hoje, estão em degradação econômica e social, cresceram mais do que ninguém nesse período. Houve aumento da produtividade do trabalho. Houve pleno emprego. Houve crescimento da renda per capita. Constituiu-se o sistema de proteção social e solidariedade republicana mais sofisticado que a humanidade já conseguiu construir. E conseguiu-se manter funcionando os sistemas democráticos com participação maciça da população por meio da intermediação dos partidos políticos (FIORI, 1996, p.7). O autor afirma que se tratou de uma era de ouro do capitalismo, uma era rigorosamente antineoliberal sustentada por três pilares, crescimento, pleno emprego e equidade. Segundo ele, esse período foi denominado ideologicamente por muitos estudiosos como predominantemente social-democrata ou keynesiano. Mas como o sistema capitalista é impulsionado por crises, o Estado de BemEstar Social também entrou em crise, a partir de 1973 com a primeira crise do petróleo que se aprofundou em 1979 com a segunda crise. Diante desse contexto de depressão econômica, impulsionado pelas crises do mercado petrolífero, o paradigma vigente, de matriz keynesiano, sofreu fortes críticas, dando lugar 1 Nome dado a série de programas - investimento maciço em obras públicas, a destruição dos estoques de gêneros agrícolas, o controle sobre os preços e a produçao, a diminuição da jornada de trabalho, implementados nos Estados Unidos no perído de 1933-1937 pelo presidente Roosevelt, afim de promover a recuperação da economia do paáis além de oferecrer assistencia aos países prejudicados pela Grande Depressão. 2 Plano elaborado pelos Estados Unidos após uma reunião com os Países europeus em julho de 1947, destinado à recuperação dos países da Europa Ocidental após a Segunda Guerra Mundial. Durante os seus quatro anos de funcionamento transferiu cerca de 13 bilhões de dólares (em valores da época) a título de assistência técnica e econômica (DICIONÁRIO POLÍTICO). novamente, paradigma (neo) liberal, que durante os anos de ouro estava adormecido (PAULANI, 2008). Inicia-se então uma discussão sobre ineficácia do modelo keynesiano, este que ao longo dos últimos 40 anos tinha garantido o crescimento no mundo todo começou a entrar em crise. Momento oportuno para a ideologia neoliberal surgir com toda a força e logo ser abraçada pelos governos dos centros econômicos Inglaterra e Estados Unidos. 2. 1 Neoliberalismo: conhecendo sua origem As raízes teóricas do neoliberalismo se encontram na escola austríacareconhecida por sua ortodoxia no campo do pensamento econômico. Uma expressão do pensamento dessa escola é sem dúvida Friedrich von Heyek autor do livro "O Caminho da Servidão"(1944), o qual muitos consideram como o Manifesto do Neoliberalismo. Obra em que o autor expressa os princípios mais gerais da doutrina neoliberal de que o crescente controle do estado levaria fatalmente à completa perda da liberdade (FIORI, 1996, PAULANI, 2008). Paulani (2008) destaca que Hayek fez uma crítica demolidora à teoria neoclássica e sua ideia de indivíduo no período de 1930-1937. Segundo ele, embora a teoria neoclássica quisesse comprovar cientificamente que a sociedade de mercado era capaz de produzir o ótimo social, não foi capaz de fazê-lo. A autora entende que o rompimento de Hayek com a teoria neoclássica explica o fato de o neoliberalismo ter aparecido como doutrina e não como ciência. A ciência que poderia legitimá-lo já havia sido refutada. As idéias de Hayek ficaram escamoteadas na era do Estado Forte, influenciado pelo ideário keynesiano. Hayek e Keynes tiveram várias contendas teóricas e contrariamente a Hayek, Keynes elaborou uma teoria que explicitava que o mercado, guiado por si, poderia conduzir a sociedade ao péssimo social: trabalhando ao nível abaixo do pleno emprego e produzindo recessão, desemprego e miséria. Assim, para sair da armadilha que o próprio sistema criava era necessária a intervenção do Estado “a enorme crise dos anos 1930 com todas as sequelas sociais que produziu, funcionou como aliada poderosa à vitória de Keynes nessa contenda teórica” (Paulani, 2010, p.108) A outra vertente do neoliberalismo surgiu nos Estados Unidos e concentrouse na chamada escola de Chicago, seu expoente é Milton Friedman, em sua obra “Capitalismo e Liberdade”, como a de Hayek, criticava políticas intervencionistas e fazia apologia ao livre mercado. Fiori (1996) ao explicitar o que seria essa a matriz neoliberal procura identifica nela traços do antigo liberalismo: O que é que eles trazem de novo? Eu diria, em primeiro lugar que, no século XVIII, eles estavam combatendo contra o estado absolutista e, portanto, nesse sentido, na essência do combate, eles eram pró ou protodemocratas Hoje, o combate dos neoliberais foi muito menos contra o totalitarismo socialista, coisa que eles sempre consideram uma coisa de menor relevância e já derrotado, e o objeto central de seu combate é o estado do bem estar social (FIORI, 1996, p.14). Significa afirmar que no século XVIII quando o que estava em pauta era o Absolutismo os liberais eram “germes” democratas, mas agora quando o que está em xeque é o Estado de bem- estar social os neoliberais são antidemocratas. O autor destaca que as idéias neoliberais combinadas com o fenômeno da globalização fizeram parecer que o neoliberalismo era algo natural, inevitável. Sendo que a: Grande novidade e que acabou dando um impulso enorme ao neoliberalismo, transformando o neoliberalismo numa coisa quase implacável, inevitável, a linguagem da natureza, foi a combinação, a articulação “virtuosa” que ocorreu nos anos 80, entre a progressão das idéias neoliberais, por um lado nos governos, nas políticas, e a progressão, por outro lado, do fenômeno da globalização (FIORI, 1996, p. 14). Deste modo, é possível afirmar que os ideais centrais que definiram a utopia liberal desde o século XVIII e voltam a definir a utopia neoliberal no final do século XX são: a despolitização da economia, a desregulação de todos os mercados e, em particular, os mercados do dinheiro e do trabalho. O resultado é o mínimo de Estado possível, daí o termo utilizado Estado-Mínimo em oposição ao Estado de Bem- Estar Social. A idéia de igualdade tanto para os liberais como para os neoliberais é apenas aceita como condição, assim sendo, “não é possível discutir, cientificamente, o conceito de justiça social. Conceito este inexistente para liberais e neoliberais. Friori (1996) faz alusão à escola Fisiocrata, séculos XVII/XVIII, a qual fez a primeira formulação teórica da economia. Para os fisiocratas a sociedade seria perfeita se tudo fosse mercado. Segundo essa escola, a vida dos homens seria perfeita se movesse pelo mercado, pois ficaria igual à natureza e seria o equilíbrio universal: mas a política impedia que esse equilíbrio ocorresse. Isso justifica a despolitização da economia. Esta por sua vez pode ser traduzida com a diminuição do Estado, isto é, de políticas intervencionistas, pois o que se deseja é o mercado livre, para que tudo fique em equilíbrio. 2.2 O neoliberalismo: aplicações e resultados O primeiro governo ocidental democrático a inspirar-se em princípios neoliberais foi o da Margaret Tatcher na Inglaterra, a partir de 1980. Na América Latina, foi o Chile. Contudo, a hegemonia do pensamento neoliberal se tornou tão abrangente que tornou as fronteiras e culturas permeáveis, pois hoje países de tradições completamente diferentes, governados por partidos e ideologias das mais diversas acabam por aplicar a mesma doutrina. No início dos anos de 1980, a América Latina tinha como foco a negociação da dívida externa, pois tal negociação se fazia necessária para o financiamento da divida econômica interna, privada e pública. No Brasil, o modelo que havia sido estruturado não deixava alternativa ao não ser o financiamento externo. O Brasil ficou bloqueado quase uma década, quando o então o ministro Pedro Malan renegociou a dívida para que o país voltasse a contar novamente com financiamento internacional. Ressalta-se aqui que para se voltar a este sistema de financiamento internacional, “sobretudo a partir de 1985/1989, um novo pacote de condicionalidades, isto é, essas grandes agências internacionais emprestadoras sempre emprestaram mediante condicionalidades” (FIORI, 1996,p.19). As condicionalidades versavam sempre sobre a questão do equilíbrio fiscal, conta externa, reservas internacionais, austeridade monetária. Contudo após os 1986 surge um novo pacote de condicionalidades que além de exigir o equilíbrio fiscal e estabilização monetária exige também a substituição do modelo anterior por meio de reformas políticas institucionais Não há possibilidade de os senhores voltarem ao sistema financeiro internacional e não há possibilidade de os senhores voltarem a querer crescer se os senhores insistirem com esse modelo desenvolvimentista, com o estado imperativo, com a economia fechada, com mercados de trabalho regulados, com os mercados financeiros regulados [...] Para que os senhores voltem ao sistema financeiro internacional às condições são: desregulação, privatização, abertura comercial, desmontagem do estado desenvolvimentista (FIORI, 1996, p.20). A critica que Fiori (1996) faz sobre o neoliberalismo é que ele guarda o mesmo diagnostico feito pelos liberais em relação ao Estado de Bem Estar social que segundo ambos liberais e neoliberais, trata-se de um Estado recessivo, interventor, regulador, gastador. O autor contrapõe essa ideia de Estado Gastador e sai em defesa dos países latino-americanos, porque nesses países se gastava sobretudo em atividades econômicas produtivas. Diferentemente do que aconteceu na Inglaterra e nos Estados Unidos, o Brasil nunca usufruiu de um Estado de BemEstar social propriamente dito. O neoliberalismo de Tacher foi retraduzido para um continente, de acordo com o autor, cheio de misérias, sem gastos sociais. No caso do Brasil, os gastos se concentraram estufaram em empresas estatais como a Petrobras, Vale do Rio Doce, empresas estas com “excesso de presença produtiva” do estado e não excesso de presença protetora. No início dos anos de 1990 a Argentina, México e Brasil acertam a renegociação de suas dívidas e todos recuperam crédito e voltaram ao sistema financeiro internacional, mas no momento exato em que o sistema financeiro internacional estava em uma explosão da bolha financeira, a chamada financeirização capitalista ou globalização financeira. Quer dizer, entramos por uma porta na expectativa de encontrarmos investimentos produtivos que nos reconduzissem ao sucesso, ao crescimento e o que nós encontramos foram capitais "sobrantes" e, absolutamente entusiasmados com as nossas taxas de juros, com as nossas vantagens em termos de investimento, de portfólio, enfim, uma maravilha (...). Nós resolvemos o nosso problema e voltamos ao sistema financeiro internacional; quando entramos nos bancos percebemos que nem eram os bancos que mandavam mais. Quem mandava no sistema financeiro internacional (...) eram fundos de seguros, fundos de pensão, outros tipos de agentes financeiros que jogavam o jogo financeiro internacional. (FIORI, 1996, p.23). A questão interessante aí é que na virada da década de 1990 as condicionalidades externas caem na simpatia dos polyce makers latino americanos e perdem o caráter de imposição duas a “medida em que várias forças políticas latino-americanas, de todos os matizes ideológicos e de todos os partidos vão se convencendo de que o único caminho para a América Latina passa mesmo pela destruição do modelo desenvolvimentista e pela construção desse novo negócio” (Fiori, 1996, p. 25). Fiori (1996) acrescenta que no contexto desse retorno ao sistema financeiro internacional, e pela porta financeira, viabiliza-se essa nova geração de planos de estabilização argentino, mexicano e brasileiro e que causaram tamanho entusiasmo na sua primeira hora; porque parecia que estabilizava, o povo passa a ter acesso a bens que antes não consumia: desde carne, geladeira, carros. Como o México já havia experimentado essas medidas de estabilização e de fora parecia tinha encontrado a solução para todos os problemas vivenciados na década perdida de 1980. A experiência imediata de estabilização no México servia como modelo e incentivo para a adoção dessas mesmas medidas no Brasil e Argentina. Em poucos anos o México vivenciaria uma de suas maiores crises financeira e institucional.3 Souza (2007) destaca que concomitante à campanha eleitoral de Collor no Brasil, no segundo semestre de 1989, em Washington acontecia uma reunião convocada pelo Instituto Internacional de Economia. Esta reunião foi presidida por John Williamson, mas patrocinada pelo governo americano, agências multilaterais e grandes bancos, além de contar com acadêmicos e executivos vinculados a esses bancos. Esse encontro objetivava uma análise do panorama mundial para se propor alternativas. Desse encontro saiu um documento chamado “Consenso de Washington”, constituído de dez pontos que Souza (2007) traduziu em quatro: a abertura econômica, isto é, fim das barreiras protecionistas; a desestatização (privatização das empresas estatais); a desregulamentação (fim de regras que limitam o movimento de capitais em nível internacional, contam aí também os capitais especulativos); a flexibilização das relações de trabalho (fim de direitos trabalhistas e previdenciários). De acordo com o autor, esse ideário sistematizava uma série de condicionalidades que passou a ser chamado de neoliberalismo: 3 Depois da crise mexicana, ficou absolutamente óbvio, que esse modelo não andava que não era possível crescer por esse modelo, que ia bater na balança comercial, como de fato aconteceu (FIORI, 2006). Importante destacar que a crise mexicana atingiu severamente o Brasil: “O México de fato depois de cinco anos de políticas de abertura da economia, incluindo seu ingresso no Nafta em janeiro de 1994,sofreu o colapso de suas contas externas na virada de 1994 para 1995. O mesmo México que, um mês antes, em seu discurso de despedida do Senado, Fernando Henrique elegera como modelo de economia” (SOUZA, 2007, p.249). O que visava o governo dos EUA com o “Consenso de Washington” era, de uma lado, encontrar mercados para as mercadorias e capitais excedentes de suas corporações e, de outro, suprir-se de força de trabalho e de matérias-primas baratas a fim de melhorar sua capacidade de competir no mercado internacional (SOUZA, 2007, p.199). O autor afirma que o objetivo precípuo dos EUA era ocupar o mercado da América Latina, usando esse mercado como plataforma para continuar com sua política de confronto econômico com a União Européia e o Japão. A primeira grande incerteza que se apresenta com essa política que não tem o crescimento econômico como objetivo é que sem crescimento não há plano de estabilização que dê certo. O investidor investe no país incentivado com os lucros rápidos e elevado, mas depois precisa abandonar porque não tem consistência lógica. Trata-se de um modelo inconsistente isso porque paradoxalmente esse modelo neoliberal com a desregulamentação do mercado de trabalha, despolitização resulta em um processo de desaceleração industrial e, consequentemente, perda de postos de trabalho provocando recessão econômica. Sendo assim há fuga de investimentos, que são cada vez mais voláteis à procura de vantagens imediatas. Em outras palavras, esses investimentos são voltados para o capital financeiro e não capital produtivo. Na Argentina, anos mais tardes em 2001 houve fuga de investimento que vieram para o Brasil acarretando um cenário de instabilidade política entre os dois países, acordos firmados entre ambos de cooperação tecnológica ficaram estremecidos. O cenário de desaceleração industrial causa aumento nas taxas de desemprego que se agravam no decorrer dos anos: a requalificação mão de obra não aumenta o emprego. O que o que se observa depois de mais de duas décadas de políticas neoliberais é o crescimento do desemprego e aumento da concentração da renda tantos em países da Europa como em países da América Latina. E, no plano político, a grande preocupação é como resistir à paralisia crescente que o Estado apresenta diante das demandas do mercado internacional, as demandas advindas do mercado financeiro. Em outras palavras, os governos ficam a mercê dos objetivos de investidores interessados em ganhar cada vez com juros elevados e ao mesmo tempo alinhados ao compromisso de alcançar o equilíbrio fiscal. Neto (1995) contribui para essa discussão quando ressalta que a crise do Estado de Bem Estar Social é a demonstração que, se considerada em um processo histórico, a ordem do capital se mostrou inepta para promover o crescimento em uma escala global. Assim, a crise do Estado de bem estar social além de expressar a crise de um arranjo sócio político evidencia que um tipo de capitalismo voltado aos interesses sociais tem limites em si mesmo. Sendo assim, para o capitalismo se fortalecer precisa se reconfigurar e nessa reconfiguração não há espaço para justiça social, garantia de direitos trabalhistas. 2.3 Neoliberalismo no Brasil O governo FHC foi marcado pela adesão ao programa de ajustes estruturais voltado aos países periféricos, nos anos de 1990. Mudanças foram promovidas nos diferentes setores da sociedade, decorrentes desse processo chamado de globalização. É nesse contexto que a liberalização da economia, a privatização de empresas estatais, as restrições orçamentárias a setores sociais foram consideradas exigências necessárias à estabilização e ao crescimento econômico (ABREU, 1989). Tais mudanças tiveram seu início no Brasil com o Governo Collor e se aprofundou nos oito anos do Governo FHC. Vale lembrar que este foi amplamente criticado pelo Partido dos Trabalhadores por seguir os ditames da cartilha do FMI.4 Mega (2004, p. 8) ao analisar os traços neoliberais do Governo FHC pontua que a política adotada por esse governo “contribuiu para a diminuição da arrecadação, e, portanto aumento do déficit público assim como desaceleração do crescimento e perda de postos de trabalho e por fim diminuição do capital produtivo, entrando assim em um circula vicioso de crise”. O autor denuncia que esse cenário atrelado às altas taxas de juros permitiu aos especuladores internacionais uma vantagem no cenário econômico. O Brasil se encontrava em uma situação complexa devido a enorme dívida dos anos 2000 estava estreitamente vinculada ao Plano Real que foi implementado por Fernando Henrique Cardoso quando era Ministro da Fazenda do governo Itamar 4 O conjunto de medidas, como a desregulamentação da economia, as privatizações de empresas nacionais, os cortes nos gastos do governo voltados às áreas sociais, a abertura econômica a empresas multinacionais, ficou conhecido como Consenso de Washington e foi sugerido a países periféricos por órgãos internacionais como FMI e o Banco Mundial (GREMAUD, 2007). Franco (1992-1994). Novelli (2010) destaca que o Brasil “conviveu com altas taxas anuais de inflação (superiores a 100%) desde 1980 e todas as tentativas anteriores ao Plano Real para alcançar a estabilidade de preços fracassaram” (NOVELLI, 2010, p.4) O autor destaca que o sucesso do Plano Real no controle da inflação dever ser atribuído ao cenário internacional de capitais daquele período que contava com uma conjuntura de alta liquidez. Aquele cenário permitiu “a fixação do valor externo da moeda como forma para atingir a estabilidade do seu valor interno” (NOVELLI, 2010, p.4). As origens do processo inflacionário brasileiro remontam às políticas econômicas adotadas durante o regime militar (1964-1985). Grosso modo, o governo entendia que, sob um ritmo de crescimento econômico acelerado, seria natural que a inflação se mantivesse em patamares moderadamente elevados. Porém com a escalada internacional dos preços do petróleo, aliada com a elevação das taxas de juros das principais economias do mundo provocou no Brasil, um arrefecimento da atividade econômica e a disparada da inflação, que se tornou o principal problema econômico da década de 1980. Esses dois choques (um de origem internacional, outro estrutural) contribuíram para agravar a situação fiscal do estado, principal investidor da economia, o que levou ao agravamento da recessão econômica (GREMAUD, 2007). Assim, essa década entrou para a história republicana brasileira como o período em que todos os esforços foram canalizados para a resolução do problema da inflação. Uma série de planos de estabilização econômica foi adotada visando acabar com a inflação (Plano Cruzado, Plano Bresser e Plano Verão – nos anos de 1980, e Plano Collor I e Collor II – já no inicio dos anos de 1990). Todos, sejam os de origem ortodoxa quanto os de origem heterodoxa, falharam tanto no diagnóstico do problema quanto no prognóstico de soluções (GREMAUD, 2007). Coube ao plano real, lançado em junho de 1994 o êxito de reduzir a inflação para patamares mais seguros (nos acumulado do ano de 1993, o IGP-DI alcançou 2700 % de alta em relação a 1992; o índice de 1994 fechou em 1093 % principalmente devido aos 6 primeiros messes do ano; o índice de 1995, porém foi de apenas 14 %. IPEADATA. Torna-se necessário lembrar que o êxito do plano se deveu principalmente ao ajuste fiscal realizado anteriormente à sua execução. Isto é, o maior controle sob as finanças públicas que se basearam nos seguintes aspectos; corte e maior eficiência de gastos; recuperação da receita tributária; fim da inadimplência de Estados e Municípios em relação às dívidas com a União; controle e rígida fiscalização dos bancos estaduais e saneamento dos bancos federais. O grande feito de Fernando Henrique, desde sua gestão no Ministério da Fazenda, foi a derrubada da Inflação. No entanto, no final de seu de seu governo a inflação voltaria a recrudescer. O mesmo fato que havia derrubado as importações e produzido um elevado superávit comercial – a forte desvalorização do real – provocou recrudescimento da inflação (SOUZA, 2007, p.283). O autor lembra que a reação primeira do governo foi afirmar que a inflação não passava de uma bolha inflacionária, oriunda da valorização do dólar e que se o governo de Lula fosse competente faria a inflação recuar e a evitaria. 3 O primeiro mandato do Governo Lula 2003-2006 Muito alarde foi feito no momento em que Lula assumiu a presidência do Brasil, em janeiro de 2003. Não se sabia ao certo como seria a condução da política macroeconômica: durante os dois mandatos do Governo FHC, o principal enfoque foi para a redução da taxa de inflação, a melhoria da situação do país aos olhos dos órgãos e agências internacionais e o cumprimento da cartilha neoliberal do Fundo Monetário Internacional - FMI. Couto & Couto (2010) destacam o slogan da campanha de Lula “A esperança venceu o medo” fazendo um trocadilho de que a eleição de Lula para alguns sinalizava esperança e para outros medo e incertezas. Os autores ressaltam ainda que quando o líder do PT chegou à presidência, as expectativas de muitos intelectuais e economistas eram de um rompimento total com a política macroeconômica voltada aos interesses do mercado financeiro internacional, que vinha sendo aplicada. A esperança era que as políticas fossem comprometidas com o crescimento da economia em termos de aumento do emprego, crescimento do Produto Interno Bruto – PIB e aumento da renda per capita. Essa esperança estava em consonância com o discurso da campanha eleitoral de Lula que destacava que a política adotada em seu governo estaria comprometida com os interesses internos do país, principalmente em relação a criação de postos de trabalho. No final do ano de 2002 houve um estado de instabilidade e crise de confiança generalizado: o crédito externo para o financiamento externo chegou à zero; houve suspensão do financiamento para as exportações; a cotação do dólar chegou a patamares altíssimos R$ 3,95 e o risco Brasil atingiu o pico em outubro de 2002 de 2.400 pontos. Aquela atmosfera de incerteza vivida meses antes de Lula chegar à presidência justificou a recusa na substituição de títulos que estavam vencendo por novos. Diante do cenário de não-aceitação de novos títulos, o Banco Central – BC substituiu a emissão de títulos pela compra de títulos, sem lançar novos papéis. Esse processo expandiu a base monetária no valor de R$ 60,6 bilhões no mês de outubro de 2002, um aumento de 15,2 bilhões se considerarmos outubro de 2001 (COUTO & COUTO, 2010). Os autores pontuam que muitos economistas consideraram esse aumento na base monetária o fator determinante pela alta taxa inflacionária daquele período. Todavia, eles discordam dessa tese argumentando que a compra de títulos pelo BC não afetou a demanda agregada, já que apenas uma parte desse montante foi destinada ao consumo ou investimento produtivo. A fatia maior foi utilizada em aplicações financeiras, destacam que o dólar passou a ser atrativo e teve aumento considerável no segundo semestre daquele ano. Os autores atribuem assim a alta do dólar como responsável principal pela inflação. Os autores afirmam e procuram mostrar com índices e dados que infelizmente para a decepção de uma grande parcela da população, até mesmo, integrantes do Partido e para o alívio de outros, contam-se aí bancários, o que se constatou foi a continuidade da política do governo FHC a tanto criticado pelo Partido dos Trabalhadores. Couto & Couto (2010) ao analisar o primeiro ano do Governo Lula apresentam dados que demonstram a continuidade do governo anterior. Nas palavras dos autores, o rompimento com a política macroeconômica comprometida com o mercado financeira internacional aplicada largamente nos dois mandatos do governo FHC não vieram: Ao contrário disso, o presidente Lula assumiu o poder afirmando que tinha recebido uma “herança maldita5” do governo FHC e que para resolver os 5 A assim chamada "herança maldita" consistia, internamente, no alto endividamento público que correspondia a 29,2% do Produto Interno Bruto (PIB) em 31 de dezembro de 1994 (um dia antes da posse de Cardoso) e que atingiu 55,9% do PIB em 31 de dezembro de 2002 (último dia de seu problemas dessa herança era necessário seguir a mesma política econômica ortodoxa do governo anterior. Para surpresa de todos – os que apoiavam o novo governo e a oposição -, a equipe econômica de Lula, ainda no Mês de janeiro, anunciou a elevação da taxa Selic em 0,5 pontos percentual: de 25% para 25,5% ao ano (COUTO & COUTO, 2010, p.24). Os autores analisam que houve críticas ao aumento da taxa Selic, imediatamente após Lula assumir a presidência. O então presidente defendeu a elevação de 0,5 pontos percentuais como necessários para combater a inflação. A crítica dos autores é que não se combate inflação de custos com aumento da taxa de juros. A questão era ainda mais polêmica porque Lula meses antes apareceu criticando a alta taxa, contraditoriamente ao assumir o comando do país adota um comportamento até então repudiado por ele. Os autores sob uma análise keynesiana6 argumentam que taxas de juros elevadas podem até frear uma inflação de custos. Mas o preço pago é indiscutivelmente alto, porque taxas altas de juros inibem os investimentos produtivos e o consumo a crédito, resultando na contração da demanda agregada. A contração desta impede o crescimento econômico. Retomando a discussão sobre a política adotada no primeiro ano do Governo Lula, destacamos as conclusões desse primeiro ano de governo nas palavras de Couto &Couto (2010, p.57): Durante o seu primeiro ano no poder o governo Lula adotou a mesma política econômica do governo FHC, baseada em três pilares: a) superávit primário expressivo; b) meta de inflação (com taxa Selic elevada); c) taxa de câmbio flutuante. Essa política ortodoxa de cunho monetarista, resultou num crescimento econômico medíocre em 2003, com alto desemprego. Muitos simpatizantes do governo diziam que tal política econômica era temporária: apenas uma fase de transição. Apostavam otimistas, que durante o segundo ano do governo petista aconteceria a esperada mudança da política econômica. O que se verificou no final dos quatro anos que essa mudança, tão almejada não somente pelos simpatizantes do governo Lula, mas principalmente pela população que o elegeu, não ocorreu. governo). Essa enorme dívida está diretamente relacionada ao Plano Real implementado por Cardoso quando era Ministro da Fazenda do governo Itamar Franco (1992-1994) (NOVELLI, 2010, p.3). 6 A taxa de juros é que permite a determinação do nível de investimentos de uma economia. Daí que o investimento é função da Eficiência Marginal do Capital e da taxa de juros. As teorias keynesianas, em seu núcleo teórico consideram a demanda agregada como determinante fundamental do nível de emprego (DATHEIN, 2000). Novelli (2010) corroborando com Couto & Couto (2010) faz um retrato do que foi o governo FHC para tentar detectar a continuidade ou não das políticas adotadas nesse Governo no período em que Lula estava presidente da Republica. Assim, o autor afirma que para o sustento do valor externo da moeda, o real, “foi necessário atrair divisas, que somente vieram para o Brasil em razão da diferença entre a taxa de juros norte-americana e a brasileira, bem como do pagamento de um prêmio de risco” (NOVELLI, 2010, p.4). Daí que para esterilizar o ingresso de moeda estrangeira, o governo, necessariamente precisava emitir títulos da divida pública que “remunerados pelas altas taxas internas de juros, fizeram que a dívida pública crescesse espantosamente” (NOVELLI, 2010, p.4). Diante desse cenário, resultado da política macroeconômica no governo FHC, é que o Brasil ao quebrar três vezes necessitou pedir ajuda ao FMI. A taxa de crescimento do PIB foi pequena variando de 2,1% 2,6%, a taxa de desemprego cresceu expressivamente, mas a inflação foi mantida controlada. Sendo que a manutenção da inflação a níveis baixos foi a política precípua do governo FHC. Política esta deliberadamente criticada pelo líder do PT e depois mantida pelo presidente Lula durante seu mandato. Diferentemente do Governo FHC que enfrentou graves crises internacionais durante seu mandato, Lula teve um cenário internacional propício para o crescimento da economia nacional. Embora no último ano do primeiro mandato Lula tivesse tentado acelerar a economia por meio da redução da taxa Selic, um pacote para agricultura, ampliação do Programa Bolsa Família, os resultados ficaram aquém do esperado, ou melhor, aquém era possível naquele momento: Nesse último ano do primeiro governo Lula, a política econômica se manteve fiel ao tripé recebido do governo FHC (metas de inflação, superávit primário elevado e câmbio flutuante). O novo governo da Fazenda, Guido Mantega [...] não conseguiu mexer profundamente em nenhum desse tripé. Apenas aplicou medidas pontuais na redução dos juros de longo prazo, ajuda aos exportadores, pacote agrícola, reajustes da aposentadoria acima da inflação, entre outras medidas menores. A redução do superávit primário (de 4,5% para 4,25% do PIB em 2006) já tinha sido uma medida do ministro anterior (COUTO & COUTO, 2010 p. 155-156). Os autores destacam que Mantega não conseguiu entrar em acordo com o Comitê de Política Monetária - COPOM para a redução mais acelerado da Selic, e que manteve o Brasil como um dos campões em termos de juros reais. Oliveira & Nakatani (2005), estão de acordo nas análises do governo Lula que apontam para a continuidade de uma política com forte viés anti-crescimento. O modelo assumido pelo governo do PT focou nas metas de inflação e para tanto se utilizou de instrumentos para atingi-la: a manutenção da alta taxa de juros, a elevada carga tributária e o corte dos gastos públicos. Instrumentos estes que asfixiaram as atividades produtivas do país, por desestimularem investimentos públicos e privados. A manutenção das altas taxas de juros reais além de inibir o consumo e desestimular os investimentos, garante o ingresso de capitais externos na em busca de lucros fáceis e imediatos. Esse permanente ingresso de capitais externos acaba por valorizar a moeda nacional estimulando importações, tornando os produtos estrangeiros mais competitivos que os nacionais além de prejudicar o setor exportador. Destaca que o desempenho do setor exportador no primeiro governo de Lula foi possível por dois motivos: primeiro a exploração de commodities e, segundo, o crescimento surpreendente da economia mundial, a qual o Brasil ficou aquém. Os autores destacam que no final do primeiro governo, setores como o de calçados, vestuário e automobilísticos já apontavam dificuldades para manter suas atividades devido a situação cambial, ou seja, a valorização da moeda nacional (real) e consequentemente desvalorização do dólar. Já indicavam a desaceleração da economia mundial temendo os impactos para a economia brasileira. Destacam que elevadas taxas de juros expandem a dívida pública, o que acaba exigindo mais esforços para gerar os superávits primários – um dos tripés da política econômica do Governo Lula. A carga tributária constitui talvez o instrumento preferencial que vem sendo usado desde 1999 para gerar o superávit primário, ela é responsável pelo custo - Brasil porque além de reduzir a lucratividade dos investimentos privados inibe o mercado porque reduz a renda disponível da população. Por último os autores procuram demonstrar como o corte nos gastos públicos causa impactos desastrosos na economia, aprofundando a recessão e impedindo o crescimento econômico, já que o governo deixa em investir em infraestrutura. Em outras palavras, “sem investimentos públicos, que atualmente estão reduzidos a algo em torno 0,5% do PIB não há como gerar um estado de confiança indispensável para a retomada dos investimentos privados e para o crescimento sustentado” (Oliveira & Nakatani, 2005, p.). Paulani (2008) seguindo a mesma linha de análise, mas procurando também compreender e delinear o posicionamento político e ideológico do Governo Lula, denuncia seu governo ortodoxo e conservador. A autora acaba por concordar com a maioria dos analistas da política adotada nos oito anos de governo petista que o período presidido por Lula deixou a desejar em muitos aspectos e não há diferença alguma entre a política adotada por FHC e a adotada pelo líder do PT. Em sua obra “Brasil Delivery” que reúne uma série de ensaios sobre a análise do primeiro governo Lula, elaborados em momentos distintos a autora traz uma analise interessante sobre um pensamento ortodoxo que afirma haver apenas uma macroeconomia que é aplicada, independente das filiações ideológicas de cada governante. Então, de acordo com a autora, a matriz ideológica dessa política conduz a economia com enfoque nos apectos microeconômicos que para os governos de esquerda são utilizadas políticas ‘pró-social’ ou compensatória apenas, e que para os governos de direita não apresentam um interesse com o social. A afirmação peremptória de que existe uma única macroeconomia, independentemente da intenção com que é feita, esconde, atrás de sua aparente tecnicidade e neutralidade, o benefício de interesses muito específicos, que estão em linha com a virada pró-acumulação financeira do capitalismo mundial que começa no fim dos anos de 1970, devasta a América Latina nos anos 1990 e ainda está por aqui, firme e forte. A política econômica do PT fortalece esse ideário, visto que foi abraçada e é defendida e aplicada pelo maior partido de esquerda do mundo, no governo do maior país da América Latina, ganhando assim um inestimável reforço em sua imagem de política cientificamente aprovada (PAULANI, 2008 , p.21). A autora assevera sua análise ao argumentar que uma economia como a brasileira com todas suas características e peculiaridades, coloca em xeque sua credibilidade frente ao mercado internacional, ao ceder apelos de crescimento e aumento de postos de emprego. Em outras palavras, a política econômica “cientificamente” comprovada é formada por dogmas que não podem ser quebrados. É essa necessidade de recuperação da credibilidade que sustentou os argumentos do governo Lula. Contudo, ao recuperar a credibilidade, quais são então justificativas para o aprofundamento dessa política. Paulani (2008) ressalta que o COPOM manteve alterada a taxa Selic a patamares altíssimos mesmo quando país já havia conquistado a almejada credibilidade. Assim, nessa lógica de se fazer política econômica com finalidade de conquistar a credibiliade externa “qualquer mudança de humor do mercado do mercado financeiro mundial com relação – variável, aliás, sobre a qual temos um poder de árbitro muitíssimo limitado – pose desencadear um processo que (...) leve o país ao temido defaut” (PAULANI, 2008, p.32). Diante desse contexto, a autora enfatiza que se os anos de governo do presidente Lula ocorreram sem contratempos, isto é, crises sociais, políticas ou econômicas que teremos se mantido o modelo de gestão, será um crescimento infimo de 2% ao ano. Depois do primeiro mandato do Governo Lula, pudemos verificar que as previsões da autora sobre o crescimento medíocre do país se concretizaram. Giambiagi (2005) ao analisar o desempenho da política econômica do Governo Lula destaca que tanto a política monetária como a política fiscal seguiram a mesma rigidez do governo FHC: O governo do presidente Lula deu prosseguimento àquelas reformas e à política econômica baseada no “tripé” flutuação cambial/metas de inflação/austeridade fiscal, rumando, assim, para o centro em relação às posições tradicionalmente defendidas pelo PT até então. O Partido repetiu a experiência histórica de muitos partidos de esquerda que, na América Latina ou na Europa, tinha abandonado posturas mais radicais, em nome da governabilidade e da conciliação dos ideais socialistas com o modelo de economia de mercado. Assim, o PT passou a disputar o campo da socialdemocracia, até então ocupado no Brasil apenas pelo PSDB (GIAMBIAGI, 2005, p.216). O autor comunga da mesma opinião que Paulani (2008) ao afirmarem que o discurso ideológico do líder do PT mudou consideravelmente ao assumir a presidência do país, políticas que até então criticava quando era oposição passou a fazer uso delas e, em muitos casos, de forma até mais conservadora quando na presidência. 4 O segundo mandato do Governo Lula 2007-2010 Como vimos na seção anterior que o primeiro mandado do governo Lula acabou sendo uma réplica do governo FHC. Em outras palavras, o então presidente Lula manteve as mesmas políticas macroeconômicas ortodoxas comprometidas com mercado financeiro internacional. O compromisso com o crescimento econômico prometido em campanha não ocorreu: houve na verdade perda de oportunidade de crescimento, enquanto a economia mundial crescia a 4,3 % o país cresceu apenas 2,4%. A explicação para um crescimento tão baixo e uma política macroeconômica e fiscal austeras foi segundo Paulani (2008, p.137) falaciosa, segundo o presidente “essas medidas eram necessárias para retirar a economia brasileira da beira do abismo em que se encontrava”. A autora continua sua análise afirmando que o governo Lula não contribui para criar uma alternativa ao projeto neoliberal: Ao contrário, frustrou-se mais uma vez, o processo de refundação da sociedade brasileira, cujo início (ao menos) dele se esperava, depois devastação produzida pelos governos militares. Antes dessa frustração vieram a empolgação com as diretas, a primeira eleição para presidente, o Plano Cruzado, a Constituinte e o Plano Real. Em todas essas oportunidades prevaleceu a idéia de que seria resgatado o processo de construção da nação. Interrompido politicamente em 1964 e economicamente uma década depois. Nesse meio tempo, o capitalismo se transformou, assim como se alterou a relação do centro com a periferia. O alcance do estatuto de nação desenvolvida ficou mais distante – e tão mais distante quanto mais profunda foi se configurando a submissão das elites dos países periféricos aos imperativos da acumulação financeira e aos acenos enganosos do discurso neoliberal (PAULANI, 2008, p.132). Nesse contexto de submissão aos interesses da elite financeira internacional, a autora analisa que no caso do Brasil essa submissão foi tão completa que mesmo um governo presidido por um partido operário foi incapaz de enfrentar interesses secularmente constituídos e intensamente reforçados nas últimas duas décadas pelo ideário neoliberal. Ao analisar o projeto “Programa de Aceleração do Crescimento” – PAC, lançado no segundo governo com a intenção de puxar o crescimento do país já que no primeiro governo as políticas foram extremamente ortodoxas e voltadas para “arrumar a casa”, afirma que o governo tinha a intenção de revitalizar a economia com projetos voltados ao crescimento em todo país. Segundo a autora, embora o projeto tivesse uma dimensão descomunal em termos de objetivos não apresentava consistência estrutural e política. O governo “garante a ‘estabilidade macroeconômica’, com autonomia do Banco Central, ataca alguns gargalos de infraestrutura e energia, incentiva o setor privado a investir e conta com a sorte para que a situação externa não prejudique os planos” (PAULANI, 2008, P.142). É salientado pela autora o descontentamento da ortodoxia brasileira para com o PAC, pois segundo os analistas ortodoxos as medidas deveriam ter sido: aperto fiscal, reformas previdenciária e tributária, desonerando a produção. Houve protestos, também, das agências classificadoras de risco: A Merryl Linch protestou contrariamente, afirmando que o PAC traria incerteza fiscal, já a Moody’s recusou elevar a classificação do Brasil. Os setores rentistas7, por sua vez, se posicionaram contrários quando o governo sinalizou investimentos para puxar o crescimento. A autora conclui afirmando que o PAC está longe de trazer uma medida que seja capaz de reduzir a força desse empecilho estrutural (modelo de gestão ortodoxa, preocupada com os interesses de uma minoria e atrelada à dominância financeira) ao desenvolvimento econômico. Sendo assim: A despeito da retórica do crescimento, da margem de manobra que teria sido conquistada pelo Estado (como “prêmio” pelo bom comportamento nos quatro anos anteriores) e da “nova economia política” no fundamental, a desempenhar o mesmo papel que antes: pratica uma política monetária hiperconservadora, defende reformas liberais, patrocina uma abertura financeira incondicional e mantém sempre pronto, para uso imediato, o discurso de emergência (afinal nunca se sabe se uma casa norte-americana não desabará sobre nossa cabeça)(PAULANI, 2008, p.145). O cenário internacional vivido no primeiro governo não se realizou no segundo. No final dos anos de 2007, iniciou-se uma crise no mercado financeiro norte-americano que teve seu aprofundamento no final de 2008. A situação brasileira era relativamente confortável em meio às economias emergentes devido à estabilidade das contas governamentais - propiciada pela redução da dívida do governo e pelo alto nível de reservas estrangeiras - e do sistema bancário. Entretanto, a economia nacional estava longe da imunidade quanto à crise: uma economia globalizada não consegue se blindar de uma crise de tamanha proporção. O presidente tentou insistir que a economia brasileira estava blindada, devido à regulação dos bancos nacionais, sempre fiscalizados pelo Branco Central além do controle cambial, continuamente exercido pelas autoridades monetárias brasileiras. (TORRES, 2008). 7 “Parcela da sociedade que vive de rendas, em particular da imensa transferência que se processa pelo Estado, o qual recolhe impostos oriundos da renda gerada pela sociedade toda e, como pagamento do serviço da dívida pública, os repassa a poucos” (PAULANI, 2010, p. 143). O mercado financeiro é um setor sensível da economia, daí que uma crise no epicentro econômico do mundo expurga sua instabilidade às economias em desenvolvimento como a do Brasil. Torres (2008) pontua o recorrente temor de uma recessão como o dos anos de 1930, oriunda dos pronunciamentos de líderes norteamericanos e europeus assinalou um novo período na gestação da crise. Assim, foi no mercado de ações que foram verificados a internacionalização dos seus efeitos, marcados pelas perdas em todo o mundo. Nesse contexto, a redução dos recursos financeiros foi a principal responsável do transbordamento da crise para a economia real. E por conta dessa sensibilidade do mercado financeiro que Munhoz (2009, p. 82) que ressalta que a crise internacional teve impactos na economia brasileira desacelerando o crescimento, de forma que: Particularmente em relação aos investimentos do PAC, cobertos com recursos do Orçamento Federal, pode-se afrmar que seu montante é inexpressivo. Hoje, gira em torno de R$ 20 bilhões anuais – valor que representa apenas um décimo do que o governo gasta a cada ano no conjunto de juros líquidos ditados pela taxa Selic (cobertura dos prejuízos do Banco Central nas enigmáticas operações com derivativos cambiais, e mais os R$ 25 bilhões anuais de subsídios do Tesouro ao BC, ao lhe conceder a custo zero o valor do papel moeda emitido e ainda abrir mão dos juros que o banco obtém na aplicação dos meios de pagamento). A questão que Munhoz destaca severamente é a ausência de uma ação governamental anticrise . Isto porque posicionamento que o Banco Central têm hoje frente a economia nacional é de centralização do poder de decisão em que os Ministérios da Fazenda e do Planejamento formulação da política econômica. ficam marginalizados quanto à Nesse aspecto, o Banco Central se volta unicamente para a administração das taxas de juros que favoreçam aos capitais predatórios e a adoção de rígidas metas de inflação que garantam a essa instituição o poder político. Outra questão é o sistema bancário brasileiro foi minimamente afetado no início da crise do subprime, ao contrário do setor real da economia que “foi duplamente atingido, com a queda das exportações e o recuo da demanda interna por força da fragmentação da parcela do consumo que se sustentava na valorização de ativos e ganhos na intermediação financeira” (MUNHOZ, 2009, p.83). O autor ressalta a fragilidade da economia brasileira que deixa sua economia ser conduzida por uma instituição que tem interesses distintas dos brasileiros, trabalhadores e contribuintes. A compreensão de que a crise se expandiria para outros setores, além do mercado financeiro, ou que ela provocaria efeitos consideráveis nesses outros setores incitou reações distintas no grupo das economiasemergentes. Alguns países com altos graus de reservas estrangeiras, com contas relativamente ordenadas e com mercados internos apreciáveis, cita-se aqui o Brasil conseguiram manter seus índices em níveis saudáveis. Como até mesmo nesse grupo de três países as repercussões foram diversas, apesar da avaliação geral positiva, supõe-se a necessidade de um exame mais detido das circunstâncias individuais (TORRES, 2008). A crise iniciada em 2008 ocorreu devido à desregulamentação das finanças em um mundo caracterizado pela crescente globalização das relações financeiras entre os mercados-nações de complacência com vários instrumentos financeiros sofisticados. Este fato explica porque uma crise em um sub-segmento do setor imobiliário norte-americano (subprime) resulta em uma crise financeira mundial de grandes proporções. Parece que o mundo está se voltando novamente para a questão da importância da regulação da economia. O livre mercado parece não estar dando conta de encontrar a eficiência, isto é, o ponto “ótimo” da economia. O governo brasileiro, por meio do Banco Central, viveu um momento delicado entre a lógica do interesse privado, representada e orientada pelo sistema bancário, e as necessidades de crédito para impulsionar o crescimento da economia e evitar a recessão. Nesta perspectiva, o Banco e Central tem destinado um volume considerável de recursos ao setor financeiro: redução do percentual de depósitos à vista e redução no compulsório e nos recolhimentos como medidas para regular a liquidez e evitar a contração do crédito. Contudo os bancos, como eram de se esperar, têm preferido aplicações mais seguras ao invés de conceder empréstimos ao mercado e a outras instituições. As aplicações em títulos cresceram em mais de 25% desde o início do ano, informa Belluzo (2008) que critica a política ortodoxa do Banco Central que concede rendimento de 8% reais, sem risco à tesouraria e torna um mau negócio para o país. Este cenário pode ser contemplado em outros cantos do mundo porque os bancos deixaram de cumprir sua função original, tornar liquidez em crédito. o autor reforça que o BC deve se tornar o emprestador universal e permitir que a liquidez disponível chegue ao destino certo: chegue a quem pode transformá-la em dinâmica produtiva. Assim, “o BC deve liberar volumes determinados de crédito ao mercado e anunciar que a rede bancária, de agora em diante, está a seu serviço como repassadora do recurso” (BELLUZO, 2008, p. 2). Segundo TAVARES (2008), o Brasil estaria numa situação privilegiada, porque não é exportador nem de petróleo e nem de metais, que é o caso da Venezuela, o país conta também com bancos fortes, estes podem utilizar-se de instrumentos para intervir na economia. A autora destacou as empresas estatais que se trata de um trunfo salvaguardado do ciclo de exportações. O governo precisaria então se utilizar dos instrumentos monetários para garantir maior liquidez aos bancos, para que estes possam garantir o crédito. Caso algum banco não fizer este repasse, Tavares aconselha que o Banco Central deva tomar medidas punitivas severas. Para evitar que a crise financeira se alastrasse na economia nacional, o governo tomou algumas medidas importantes como a redução da Taxa Selic, a redução do Imposto para produtos Industrializados – IPI, incentivando a demanda; e no ano de 2009, foi criado o Projeto Minha Casa Minha Vida. Este foi de suma importância porque possibilitou a aquisição de casa própria por famílias com renda de R$ 1.200 reais, as quais contaram ainda com subsidio governamental de até R$ 11.000 em moradias com planta no valor de até cem mil reais. Isto significa incentivo para a construção civil fazendo com que a economia permanecesse aquecida. Embora muitos autores tenha afirmado que Lula deu continuidade às políticas macroeconômicas conservadoras, torna-se importante destacar que o Programa “Minha Casa Minha Vida” possibilitou que muitos brasileiros realizassem o sonho da casa própria além de ter aquecido a economia do país em um momento de crise de proporções até hoje, ainda, desconhecidas. 3. CONCLUSÃO Neste trabalho foram analisados os dois governos do presidente Lula para verificarmos se houve ou não um rompimento com a política neoliberal empregada durante os oito anos de governo de FHC. Sendo assim, de acordo com a literatura analisada é consenso de que esse rompimento não aconteceu, aliás muitos analistas afirmam que a política macroeconômica utilizado por Lula, em muitas situações, foi até mais ortodoxa do que a aplicada durante o Governo FHC. Autores, como Paulani acreditam que o PT perdeu sua ideologia, enquanto partido dos trabalhadores, voltado aos interesses da classe operária, e como a maioria dos partidos de esquerda dos países europeus se tornou centro-esquerda. Isto é, o PT se deixou influenciar pelo ideário neoliberal e passou a atender os interesses de uma elite que para não perder seu status quo, garantido secularmente, exige uma política econômica que atenda às exigências de rentistas e de uma elite internacional. É nesse sentido que o projeto de crescimento fica a mercê dos interesses das elites nacionais e internacionais. O país se torna refém desses interesses, e o crescimento acontece de acordo com o cenário favorável ou não de economias como a norte-americana e de suas elites. Concordamos que o Brasil, no período do governo Lula perdeu grandes oportunidade de crescimento, contudo, acreditamos que houve sim alguns pontos positivos no período em que Lula esteve presidente do Brasil. Entre os pontos positivos, citamos a ampliação do programa Bolsa Família, o PAC, o programa Minha Casa, Minha Vida que não significaram alternativas às políticas neoliberais, mas guardadas suas proporções, possibilitaram que uma parcela de brasileiros participasse como consumidores, conseguisse a tão sonhada casa própria. 4. REFERÊNCIAS BELLUZZO, Luiz Gonzaga. Como evitar a recessão. Economia I. Carta Maior, 07/10/2008. Disponível em: www.cartamaior.com.br. Acesso em: 15/09/2011. COUTO, Joaquim Miguel. 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