Marketing social é conseqüência natural de uma postura socialmente responsável Se a responsabilidade social se faz urgente na gestão das empresas que querem construir um desenvolvimento sustentável, a responsabilidade individual, pessoal, se faz ainda mais necessária, podendo até ser considerada o primeiro passo para a mudança em busca de uma justiça social. Neste contexto, as ações de comunicação desempenham um papel fundamental, para influenciar e formar tanto positiva ou negativamente os cidadãos. Essa e outras discussões nortearam mais um encontro promovido pelo Núcleo de Estudos Avançados do Terceiro Setor (Neats), da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo, que teve como tema central a Responsabilidade Social e o Marketing Social. Valdir Cimino, diretor de Comunicação e Responsabilidade Social do Clube de Executivos de Marketing da Associação Brasileira de Anunciantes e presidente da Associação Viva e Deixe Viver, abriu as discussões apresentando um panorama atual da situação brasileira, marcado por uma revolução tecnológica que favorece a poucos, urbanização explosiva, crise fiscal, analfabetismo, desemprego, muito consumo de televisão, e um Estado-mínimo, tendo como conseqüência um governo que não atende as demandas sociais. É neste cenário, lembrou ele, que se insere a postura ou não socialmente responsável adotada pelas empresas. "A responsabilidade social é investimento no futuro. É a transformação das relações, com consciência, comprometimento e constância", completou. Segundo Percival Caropreso, vice-presidente executivo da McCann-Brasil, há várias motivações que podem levar uma empresa hoje a decidir ser socialmente responsável, como a consciência por uma justiça social, para a realização e gratificação pessoal ou a fim de promover a motivação interna, dando energia e sentido à estrutura impessoal das empresas. Ou ainda, estas motivações podem passar muito mais pelo negócio, como o interesse econômico, tendo em vista o valor agregado das marcas; o seu plano de negócios, a partir da constante valorização da responsabilidade social; e até mesmo por pressão da política internacional ou como estratégia de marketing. Mas, seja qual for o motivo, Percival acredita que a empresa deve sempre trabalhar pela eficácia e eficiência, buscando para isso parcerias e conhecimentos já desenvolvidos pelo assunto. Em sua opinião, o problema é que, apesar das práticas de responsabilidade social terem avançado, elas ainda continuam assistencialistas, sem comprometimento e foco, e muito pontuais. "Tem empresa que faz duas ações por ano, como campanhas especificas, e diz que é responsabilidade social. É preciso lembrar que responsabilidade social não é caridade, bom mocismo, favor, generosidade ou função de uma área específica da empresa", ressaltou. Para Valdir Cimino, há ainda muita "responsabilidade social comprada de forma promocional, em que as empresas só querem saber o que vão lucrar com sua nova postura". Para que isso não ocorra, lembrou Percival, é preciso que a gestão da empresa esteja baseada nas práticas de governança corporativa e esta firmada na plataforma do desenvolvimento sustentável: desenvolvimento econômico, social e ambiental, sendo que não se sacrifica nenhum e todos se alavancam juntos. Quando isso ocorre, de acordo com o publicitário, aí sim o marketing social surge como desdobramento natural e pode ser utilizado como ferramenta de comunicação pela empresa para divulgar sua postura socialmente responsável. "Mas essa comunicação não deve falar sobre o que esta empresa fez, mas sim quais os resultados que a ação gerou e os impactos positivos, não só para prestar contas para a sociedade, mas servir de exemplo também". 1 Por isso, a importância dos profissionais de comunicação agirem com critérios. Cimino destacou os seis passos importantes para um profissional de marketing: empreendedorismo, ética, transparência, liderança, criatividade e competência. Os resultados, de um marketing social bem feito e fundamentado em ações reais das empresas, garantem os especialistas, são diversos. Internamente, há um aumento de produtividade, maior comprometimento dos funcionários, valorização do trabalho em equipe, mudanças pessoais, diminuição de atritos trabalhistas, entre outros. Frente à sociedade, a empresa ganha também respeito e credibilidade, fortalece sua marca e as relações, abre portas para a mídia e reduz vulnerabilidade institucional. E isso, lembrou Percival, se torna essencial frente a consumidores cada vez mais exigentes, que buscam comprar seus produtos não somente mais pelo preço e qualidade, mas sim pelos valores que trazem. De acordo com uma pesquisa promovida pelo Instituto Akatu pelo Consumo Consciente, 70% da população acredita que as empresas devem ser socialmente responsáveis. No entanto, Cimino destacou que apenas 17% cobram realmente as ações de responsabilidade social das empresas. "Por isso, precisamos pensar em ações em longo prazo, cobrando respostas. Temos que nos envolver mais", apontou. Fonte PRÓSPERO, Daniele. Marketing social é conseqüência natural de uma postura socialmente responsável. [S.l.:s.n.]. 2