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COMPORTAMENTO DE RÃ MANTEIGA Leptodactylus ocellatus Linnaeus,
1758 EM GAIOLAS
WEIGERT, S. C.2; CASTELÃO, G. P.2; MARTINS, I. A.3; LOEBMANN, D.4 &
FIGUEIREDO, M. R. C. 5
Palavras-chave: rãs, comportamento, estufas climatizadas, gaiolas.
1
CNPq (bolsas de Iniciação Científica e de Aperfeiçoamento) - FAPERGS (auxílio para recém-doutor)
Acadêmico de Oceanologia, bolsista de In. Científica; 3 Lic. em Biologia, bolsista de Aperfeiçoamento,
4
Acadêmico de Oceanologia; 5Prof.Adj. IV, DOc, FURG, Cx. P. 474, CEP 96201-900, RIO GRANDE,
RS;
2
OBJETIVO
Realizar observações do comportamento de deslocamento de rãs Leptodactylus
ocellatus no interior de gaiolas em estufas climatizadas, ao longo das 24 horas do dia,
visando principalmente determinar o melhor horário para o seu manejo.
MATERIAL E MÉTODOS
Rãs nativas da região sul, da espécie Leptodactylus ocellatus Linnaeus, 1758 (rãmanteiga), foram capturadas na fase de girinos, em novembro de 1997, nos arredores do
REURG (Ranário Experimental da Fundação Universidade do Rio Grande). Os animais
foram acondicionados em caixas de cimento amianto e aquários de vidro, ao ar livre,
onde foram mantidos até a fase de imagos, sendo alimentados com ração de carpa
moída ad libitum.
Os imagos foram marcados conforme método sugerido por MARTOF (1953), e,
após um período de recuperação (uma semana), foram transferidos para gaiolas, no
interior de estufas climatizadas (duas gaiolas por estufa) do modelo originalmente
descrito por FIGUEIREDO e MANGIALARDO (1992), para rãs touro Rana
catesbeiana, conforme ilustrado a seguir (FIG.1).
As rãs movimentam-se livremente no interior das gaiolas, constituído de piscina,
coxo e tampa. Para o experimento de observação do comportamento, foi colocada uma
lâmina de isopor de 15 X 15 X 1 cm flutuando na água da piscina, constituindo assim 4
setores onde as rãs podem se situar: piscina, isopor, coxo e tampa.
Os fotoperíodos no interior das estufas foram fixados em 12h de luz/12h de
escuridão e 8h de luz/16h de escuridão, com três repetições cada, e duas gaiolas em
cada repetição. A temperatura foi mantida à 28°C.
Para iniciar a adaptação, no dia 23.12.97, 240 animais foram acondicionados em
12 gaiolas distribuídas em 6 estufas, contendo cada uma duas gaiolas, com 20 rãs por
gaiola. No dia 29.12.97 foi realizada a primeira pesagem dos animais. Depois do
período de adaptação, em 05.01.98 selecionou-se 16 animais por gaiola, com peso
médio de 2,374g , para então dar início aos experimentos, concluídos no dia 17.02.98.
As rãs foram alimentadas com ração, preparada com componentes selecionados de
modo a apresentar teores de proteína e energia total definidos, misturada com larvas de
Musca domestica, obtidas diariamente a partir das moscas cultivadas em Moscários no
REURG. A composição dos ingredientes para a ração foi calculada utilizando-se o
programa Nutrisoft. Foram preparados 3 tipos de ração, com diferentes teores de
proteína 20, 30 e 40%, e mesma energia total. As rações com as larvas, colocadas nos
coxos, foram oferecidas cada uma para 4 gaiolas diferentes (escolhidas anteriormente,
no delineamento experimental), com duas repetições para cada fotoperíodo.
Novas pesagens dos animais foram efetuadas nos dias 12, 19, 26 de janeiro e nos
dias 03, 11 e 17 de fevereiro de 1998. Antes de cada pesagem, os indivíduos ficaram 24
horas em jejum.
Como parte do projeto de criação e estudo do desenvolvimento de rãs-manteiga,
Leptodactylus ocellatus, em gaiolas, foi delineado um estudo do comportamento,
planejado sob a forma de observações do deslocamento das rãs, entre os quatro setores
do interior das gaiolas, ao longo das 24 horas do dia. Como as rãs podem ocupar
qualquer dos setores na gaiola, foram definidos dias e horários para serem realizadas as
observações, sob a forma de contagem visual rápida do número de rãs presentes em
cada setor de cada uma das 12 gaiolas, a cada horário de observação (Tabela 1).
Tabela 1- Dias e horários de observação do comportamento
DATA 09.01 10.01 13.01 14.01 21.01 22.01 23.01 24.01 05.02 06.02 07.02 08.02
00
01
02
03
00
01
02
03
00
01
02
03
H
04
05
06
07
04
05
06
07
04
05
06
07
O
08
09
10
11
08
09
10
11
08
09
10
11
R
12
13
14
15
12
13
14
15
12
13
14
15
A
16
17
18
19
16
17
18
19
16
17
18
19
20
21
22
23
20
21
22
23
20
21
22
23
Conforme mostrado na tabela 1, a intervalos de 4 em 4 horas foi registrado o
número de animais encontrados dentro d’água, sobre o isopor, visitando o coxo em
atitude de tentativa de ingestão de alimentos ou em repouso, na tampa (abrigo). Esses
intervalos foram assim determinados visando evitar a interferência continuada que
pudesse afetar o comportamento das rãs. As observações foram realizadas em 3 ciclos
de 24 observações.
Foi padronizada uma ficha para preenchimento com a data, o horário e o número
de rãs observadas em cada setor, conforme mostra o Quadro 1.
QUADRO 1 – Ficha de Observação do Comportamento
Data: __/__/1998
Estufa
Hora:______
Gaiola nº rãs n’água nº rãs n’cocho nº rãs n’isopor nº rãs n’tampa Obs.:
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A análise de variância mostrou que o número de rãs nos setores do coxo, isopor e
tampa difere significativamente (P< 0,05) em função da hora do dia, ao longo das 24
horas de observação, variando também em relação aos momentos de claro ou escuro
comparados entre si. O número de rãs na água não varia significativamente (P> 0,05),
nem com relação à hora do dia, nem com relação aos horários de claro e de escuro.
O fotoperíodo não provocou variação no número de rãs nos 4 setores, pois a
quantidade de rãs observadas nas estufas com fotoperíodo 8h Luz/16h Escuridão não foi
significativamente diferente (P> 0,05) daquele nas estufas com fotoperíodo 12h Luz/12h
Escuridão.
Nas observações realizadas, o número médio total de rãs nos setores água e isopor
foi sempre maior do que no coxo e na tampa.
Avaliando-se separadamente o número médio de rãs em cada setor das gaiolas,
observou-se maior número de rãs no coxo em torno do horário da alimentação (16
horas) (Fig.1), sendo que essa média diminui com o afastamento desse horário e
aumenta com a aproximação do mesmo. A dispersão dos dados é explicada por uma
função quadrática. Visto que as rãs passaram por um período de aclimação anterior ao
experimento, esse resultado pode indicar que as rãs estudadas são passíveis de
condicionamento, o que facilita seu manejo e cultivo.
O número médio de rãs na tampa ou abrigo aumenta significativamente (P<0,05)
com as horas de luz, e diminui nas horas de escuridão, indicando a procura de um
refúgio, na claridade (Fig.2).
O número médio de rãs no isopor aumenta nos horários de escuridão, e diminui
nos momentos de luz, sugerindo o repouso em um ambiente próximo à água, mas ao
mesmo tempo com o apoio sobre a lâmina. Considerando-se os horários de luz, o
número médio de rãs no isopor ainda é significativamente menor (P<0,05) nos
momentos em torno do horário da alimentação, quando aumenta o número de rãs no
coxo, o que reforça o indicativo de condicionamento com relação à comida (Fig.3).
Com relação ao número de rãs na água, por não haver ocorrido variações
significativas ao longo das horas do dia, ou nos momentos de claro e escuro, acredita-se
que o deslocamento das rãs para a água se dava obedecendo estímulos fisiológicos
digestivos e de excreção (eliminação de fezes e urina) (Fig.4).
Sugere-se que novas observações desse deslocamento sejam realizadas, em testes
com diferentes temperaturas, para efeitos de estudos do comportamento termo e
hidrorregulador nessa espécie de rã. Muitos estudos mostram que, do controle adequado
desses processos depende o bom funcionamento do metabolismo dos anfíbios em geral
(Brattstrom, 1963, 1979, Lillywhite, 1970, Seymour, 1972, Curtis, 1983, Bradford,
1984, Wollmuth et al. 1987, Wygoda, 1988, Warkentin, 1992, citados por
FIGUEIREDO, 1996).
Fig.1- Número médio de rãs no cocho
Fig.1- Número médio de rãs na tampa
y = -0,0084x 2 + 0,2448x + 0,7014
R2 = 0,3783
4,50
4,00
3,50
2,00
3,00
2,50
2,00
M ÉDIA
1,50
P o linô mio
(M ÉDIA )
1,00
0,50
0,00
-2 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24
Núm e ro de rãs
Núm ero de rãs
y = -0,0067x 2 + 0,1643x + 0,572
R2 = 0,5036
2,50
1,50
M EDIA
1,00
P o linô mio
(M EDIA )
0,50
0,00
-2 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24
Hora
Hora
Fig.1- Número médio de rãs no isopor
y = -0,0084x 2 + 0,2448x + 0,7014
R2 = 0,3783
4,50
9,00
4,00
8,00
3,50
7,00
3,00
2,50
2,00
M ÉDIA
1,50
P o linô mio
(M ÉDIA )
1,00
Núm e r o de r ãs
Número de rãs
Fig.1- Número médio de rãs na água
6,00
5,00
4,00
3,00
M ED IA
2,00
1,00
0,50
0,00
-2 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24
Hora
0,00
-2
0
2
4
6
8
10 12 14 16 18 20 22 24
Hora
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