Porque as Rãs estão morrendo Sapos, rãs e salamandras estão desaparecendo. O alarme tocou em um congresso de herpetologistas na década de 80. Após alguns anos, durante os quais os biólogos debateram se o desaparecimento não seria somente uma flutuação sazonal no número de animais e o desaparecimento não passaria de uma impressão passageira, os pesquisadores foram a campo e passaram a monitorar cuidadosamente as populações de anfíbios. Hoje todos concordam, estes simpáticos animais, que vivem parte de sua vida na água e parte em terra firme, são provavelmente o grupo de vertebrados que caminha com maior velocidade para a extinção. Em mais de 40% das espécies as populações estão encolhendo, 30% delas estão sob risco de extinção e mais de 400 espécies estão listadas como ameaçadas de extinção imediata. E o pior, aproximadamente 100 espécies que existiam em 1980 já são consideradas extintas. Neste ritmo nossos netos não poderão namorar ao som do coaxar das rãs. As causas deste rápido declínio ainda são desconhecidas, mas o fato destes animais dependerem de dois ambientes distintos, o aquático e o terrestre os torna alvos fácies das mudanças ambientais. Até a luz elétrica, que atrai os insetos da superfície dos pântanos para o alto dos postes e para longe das línguas adesivas das rãs foram listadas como culpadas. Mas a extinção de algumas espécies em áreas totalmente preservadas na America Central levanta a suspeita que múltiplas causas estão envolvidas no declínio das populações. Apesar das causas fundamentais ainda serem motivo de debate o fato é que um fungo chamado Batrachochytrium dendrobatidis, está se espalhando pelo mundo dos anfíbios. Não se sabe se ele ataca populações já enfraquecidas e somente acelera o processo de extinção ou se ele é a causa inicial do declínio populacional. O fato é que quando ele se instala na pele dos anfíbios causa uma micose superficial e os animais acabam morrendo em semanas. Durante os últimos anos muitos duvidavam que este fungo pudesse ser o responsável por tamanho estrago, afinal ele causa uma infecção superficial e não penetra no corpo do animal. Agora um estudo cuidadoso demonstrou como o ataque do fungo acaba por causar a paralisação do coração dos anfíbios. Os cientistas examinaram as propriedades da pele de rãs infectadas com o fungo. É bem conhecido que a pele dos anfíbios tem um papel importante no transporte de sal e na manutenção do meio interno do animal. Nos mamíferos este papel é desempenhado principalmente pelos rins e nossa pele é praticamente impermeável à água e aos sais. Da mesma maneira que nossos rins retiram sais da urina e o bombeiam de volta para o sangue, nos anfíbios a pele tem a função de bombear íons de sódio e potássio para o interior do corpo do animal. Quando a pele é infectada pelo Batrachochytrium dendrobatidis esta capacidade de transportar íons é danificada e a concentração de íons no interior do corpo diminui. Com a queda da quantidade de íons o coração perde eficiência e finalmente para de bater. A infecção da pele dos anfíbios causa uma doença similar ao que ocorre conosco quando sofremos uma falência renal. Isto explica porque uma infecção superficial pode levar a morte rápida destes animais. É pouco provável que esta descoberta ajude a salvar os anfíbios, mas demonstra que estes animais, por interagirem mais diretamente com o meio ambiente, são extremamente sensíveis às mudanças no ambiente em que vivem. No final desta investigação muito provavelmente a culpa será atribuída ao predador mor, o Homo sapiens. Mais informações: Pathogenesis of chytridiomycosis, a cause of catastrophic amphibian declines. Science vol. 326 pag. 582 2009 Fernando Reinach ([email protected])