Roma, 1 de Novembro de 2008

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Roma, 1 de Novembro de 2008
Meus queridos amigos,
Com estes poemas que hoje vos mando dou contunuidade a uma tradição que comecei em 1983,
quando estudava Teologia em Friburgo: mandar um poema ou vários poemas de minha lavra
para os saudar pelo Natal e pela Páscoa. Até hoje fui fiel a essa tradição, tanto assim que alguns
amigos quando não recebem os poemas já me escrevem e perguntam: “Então os poemas deste
ano?”.
Os poemas fazem sempre referência aos mistérios de Natal ou da Páscoa que celebramos. Mas a
sua inspiração pode aparecer das mais diversas formas. Podem inspirar-se directamente de textos
bíblicos ou de acontecimentos relevantes de cada ano na proximidade do Natal ou da Páscoa.
Este ano ainda pensei escrever os poemas de Natal inspirado na eleição na eleição de Obama
para a presidência dos Estados Unidos. Creio que foi um acontecimento importante não só para
os Estados Unidos da América, mas para o mundo inteiro. Certamente, Obama não é nehum
“messias”, mas é muito possível que algumas coisas mudem na política americana para melhor.
Mas, no fim, acabei por escrever cinco poemas inspirados no livro ÁGUA DA ROCHA,
publicado em Junho de 2007. É uma publicação sobre a Espiritualidade Marista. O ano de 2008
foi expressamentre dedicado à Espiritualidade Marista. E sem que eu a tivesse pedido, muito
menos merecido, Deus concedeu-me a graça de ser um dos 5 Irmãos em Roma a animar esse ano
de Espiritualidade. Foi uma experiência de uma riqueza que nem eu sequer suspeitava. Encontrar
Maristas, Leigos e Irmãos, alunos e professores em muitas partes do mundo marista permitiu-me
descobrir a riqueza de uma Congregação que se encontra em 82 países e na qual os Leigos
Marisas desempenham um papel cada vez mais importante. Permitiu-me sobretudo descobrir
muitos Irmãos e Leigos Maristas que vibram com a Espiritualidade Marista e a sua missão.
O livro ÁGUA DA ROCHA foi traduzido em 16 línguas e mais algumas traduções se prepraram.
Mais de 50.000 volumes estão em circulação em todo o Instituto. Tudo isto mostra que o livro
ÁGUA DA ROCHA foi (e continua a ser: em 2009 tenho ainda algumas actividades de
divulgação do documento) um acontecimento de importância excepcional na história do
Instituto. Só podia inspirar os meus poemas de Natal deste ano. Com eles quero dar-vos a
conhecer, ainda que brevemente, alguns pontos essenciais do livro. São cinco poemas, referindose cada um a um dos capítulos do livro.
Depois dos poemas coloco duas reflexões do teólogo espanhol José Luiz Martín Descalzo que
utilisei na oração final para o encerramento do Ano de Espiritualidade em Roma no dia 7 de
Novembro de 2008. Agradaram a todos. É possíivel que também vos agradem. O primeiro é uma
pequena reflexão sobre uma frase de Santo Alberto, o Grande sobre o ser humano valendo-se do
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simbolismo da água. Portanto está muito dentro do tema do livro ÁGUA DA ROCHA. O
segundo é uma oração a Nossa Senhora. O tema mariano é um dos mais presentes no livro. O
que não podria deixar de ser, já que somos uma Congregação de Irmãos Maristas, isto é, Irmãos
de Maria. O nosso primeiro nome era: Congregação dos Pequenos Irmãos de Maria. A história
dessa oração é muito simples. Uma vez José Luís assistia a um programa debate sobre a mulher,
na televisão espanhola. Alguém, na mesa redonda, disse. a um momento, que afinal Nossa
Senhora não tinha representado nada de importante na História da humanidade e pouca
importância tinha para a mulher moderna. Ao ouvir tal disparate, José Luis fecha a televisão e
escreve este poema. Aqui apresento-o resumido.
Bom Natal 2008, feliz Ano Novo 2009 com todas a bênçãos do Senhor.
Com um abraço amigo.
Teófilo
Natal 2008 – I (1)
Natal do Menino Deus,
Alegria para todos nós, filhos seus,
Pela sua visita à nossa terra,
Envolvida em violência e guerra,
Que a fazem esquecer o amor...
Precisamos bem da tua visita, Senhor!
Vem então, mais uma vez,
Vem curar as nossas feridas,
Humedecer o chão da nossa aridez
E o Evangelho em nossas vidas
Produzirá fruto cem por um,
Colheita divina, fora do comum.
Em ti descobrimos a simplicidade (2)
Rica virtude de toda a criança
E do mundo marista, de verdade,
Que pelo século vinte e um avança,
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Decidido a ser para todos “água viva”,
Para ajudar tantos por aí à deriva!
Presépio, mistério da presença (3)
Deus entre nós a redimir o mundo,
E a despertar em nós a crença
Que nos habita, no mais profundo:
Desejo de vivermos o amor a Jesus (4)
E ao seu Evamgelho, divina luz.
No presépio encontramos Maria (5)
Que em tudo queremos imitar
Construindo um espírito de família (6)
Que vem de longe, de La Valla (7)
E cimenta em nós a união,
Tornando mais credível a nossa missão.
Roma, 10 de Novembro de 2008.
1) A Congregação Marista acaba de viver um ano especialmente dedicado à sua
espiritualidade: o ano de 2008. Uma Comissão de 5 Irmãos animou muitas iniciatvas ao
longo deste ano: seminários, retiros, encontros dos mais variados géneros. As iniciativas
eram precisamente baseadas no livro publicado em Junho de 2007 sobre a Espiritualidade
Marista (=EM). O livro chama-se ÁGUA DA ROCHA. Os 5 poemas de Natal que
escrevo este ano são precisamente inspirados nos 5 capítulos do livro. O primeiro
capítulo apresenta 6 cartacterísticas da EM. Neste poema lembro 5 dentre elas. Não faço
referência apenas à “Confiança em Deus”. O primeiro capítulo tem como título:
SACIADOS NAS CORRENTES DE ÁGUA VIVA. Daí o falar também de “água viva”
neste poema.
2) A simplicidade é a pedra de toque, a alma da EM.
3) Presença e amor de Deus: outra caracterísica da EM.
4) O amor a Jesus, outra característica.
5) O amor a Maria e a imitação das suas virtudes, não podia deixar de ser outra
característica da EM.
6) Espírito de Família, outra caracterísitca. Esta característicaa está bem presente em todas
as comunidades maristas. É o eco de muitas pessoas e amigos que nos visitam.
7) La Valla: aldeia francesa, junto a Saint Étienne, onde foi fundada a Congregação Marista
no dia 2 de Janeiro de 1817.
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Natal 2008 II
Dá-nos a força de caminhar na fé,
Como Maria, na Anunciação .(1)
De caminhar sem medo até,
Escutando bem no fundo do coração
A mensagem divina que vem até nós:
Obrigado oh Deus, não nos deixa sós!
Somos caminhantes olhando os céus,
Mas, de facto, és Tu que estendes os braços,
E na presença de Belém rasgas os véus
Que Te deixavam longe dos nossos cansaços.
Agora és presença divina, na nossa casa,
Fruto do amor que o Teu coração abrasa!
Já não somos prisioneiros do medo.
Em Ti colocamos a nossa confiança,
A Tua visita é o fim do nosso degredo,
O futuro sorri-nos agora e a esperança
É certeza de que somos amados sempre,
Amados por Ti, incondicionalmente.
Junto ao presépio recolhidos em oração,
Lembramos as necessidades do mundo
Já que somos “contemplativos na acção”
Abertos à pessoa de todas as idades. (2)
Queremos servi-las: esta é a Tua mensagem
E no Teu presépio se renova a nossa coragem.
Rezaremos a vida que nos envolve,(3)
Inspirados em Ti, Senhor Jesus.
A Tua presença outra vez nos devolve
A dignidade perdida e a Tua luz,
Enfim a Tua graça que vence o pecado.
É bom , Senhor, saber-Te aqui ao nosso lado!
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Roma, 10 de Novembro de 2008
1) Este poema ér inspirado no segundo capítulo de ÁGUA DA ROCHA que tem por título
“Caminhamos na fé”. O texto que introduz este capítulo é a narrativa da Anunciação.
2) Esta estrofe bem como a seguinte resume uma das grandes ideias do segundo capítulo: o
equilíbrio entre acção e contemplação, entre trabalho e oração. É claro que não são a
mesma coisa, mas estão intimamente relacionados. O número 76 diz: “Jamais
substituimos a oração pelo trabalho”. Mas acrescenta logo a seguir esta frase muito
importante: “A nossa oração surge da vida e devolve-nos à vida”. O mundo torna-se
assim um “lugar teológico”, um lugar onde encontramos Deus, um lugar que confiamos a
Deus na nossa oração. É o que digo no poema ao escrever: “Rezaremos a vida que nos
envolve...”.
3) O capítulo 1 de ÁGUA DA ROCHA oferecia-nos 6 características da Espiritualidade
Marista (=EM): presença e amor de Deus; confiança em Jesus; amor de Jesus e seu
Evangelho; devoção a Maria; espírito de família; simplicidade. Este capítulo oferecenos os meios para pormos em prática a EM e vivermos assim essas características. Um
desses meis é a oração. Explicitando, o nº 79 diz: “Actualmente, algumas práticas são
essenciais para alimentar a nossa vida de fé como maristas”. Os números seguintes
mencionam essas práticas: Lectio Divina ou meditação da Palavra de Deus; oração
pessoal; revisão do dia; oação em comunidade; partilha da fé; acompanhamento;
celebração Eucarística; reconciliação. Não está explicitado nestes números, mas aparece
ao longo de todo o livro: a oração diária a Maria.
Natal 2008 III
Deste-nos um mandamento novo,
O de nos amarmos “como irmão e irmãs”, (1)
Lançando assim as bases de outro povo,
Longe de tantas promessas ocas e vãs,
Solidamente construído na riqueza do amor,
Já presente em Belém, onde nos visitas, Senhor!
Será o Povo de Deus, um povo diferente,
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Sacramento do “Amai-vos como eu vos amei”,
Vivendo em tudo e constantemente
A Tua Palavra que edifica a nova grei,
Comunidade de amor e de esperança,
Só porque em Ti deposita toda a confiança.
Em Belém começa este novo tempo ,
Belém inaugura outra idade,
Porque em Ti, Menino, vemos o exemplo
Que traça o caminho a toda a humanidade:
Descer do céu para oferecer até ao fim a vida,
Amor que resgata a dor de tanta ferida!
Também nós, como Tu, queremos viver
A graça deste tempo novo que é oblação
Que devolve ao homem a dignidade do SER,
Reencontrada no amor, na comunhão
Onde nos sentimos”abençoados, reunidos”
Como Tu também, “disponíveis e oferecidos”. (2)
Na “Casa do Pão” (3), adivinhamos a Cruz
Que desponta no horizonte da Tua vida,
Mas que na Ressurreição se torna luz
E dá ao homem a esperança perdida.
Junto ao presépio esta será a minha oração:
Ser para os outros Pão de vida, comunhão.
Roma, 11 de Novembro de 2008
.
1) “Como Irmãos e Irmãs” é o título do terceiro capítulo de ÁGUA DA ROCHA. O
capítulo é introduzido pelo conhecido texto de São João sobre o mandamento novo:
“Dou-vos um mandamento novo: amai-vos uns aos outros como eu vos amei” (Jo 13, 34).
2) Os quatro adjectivos entre aspas encontram-se nos números 86 e 104 de ÁGUA DA
ROCHA. São dois números que se referem explicitamente à Eucaristia que é fudamental
na Espiritualidade Marista (=EM). Podemos mesmo dizer que a EM é uma
espiritualidade eucarística. Os quatro adjectivos, como facilmente podemos ver vêm do
mundo eucarístico e são aplicados à Eucaristia e ao Senhor. A Eucaristia é o sacramento
que nos reune e onde somos abençoados. Nela o Senhor é partido (repartido) e
oferecido a todos nós. O original de ÁGUA DA ROCHA é inglês. Na versão original os
quatro adjectivos são: blessed, gathered, broken, shared. “Broken” seria mais
literalmente traduzido por “partido” e compreendemos bem: o pão eucarístico é partido
para depois ser repartido pelos fiéis. Contudo nos números 86 e 104 de ÁGUA DA
ROCHA esses quatro adejectivos do mundo eucarístico são aplicados à pessoa humana.
Preferi então uma tradução menos literal do adjectivo “broken” pois em português a
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expressão “homem/mulher partido/a” não é muito corrente. Por outro lado, não traduziria
da melhor maneira a ideia que está subjacente ao adjectivo “broken” que é a de
disponibilidade total para servir os outros. Aliás, o nº 107 de ÁGUA DA ROCHA que é
uma explicitação do nº 104 escreve textualmente: “O nosso apostolado, como o de Jesus,
manifesta-se como total disponibilidade aos nossos irmãos e irmãs. Na verdade, somos
pão de vida para os outros como o foi Jesus para nós”. Daí a tradução que adoptei para o
adjectivo “broken”: desponívies. Desponíveis para o serviço, para servir os nosos irmãos
e irmãs como Jesus os serviu desde o nascimento à morte, descendo do céu oferencendose por todos nós. Isso explica o meu verso: “Na ‘Casa do Pão’ adivinhamos a Cruz...”.
3) Não esqueçamos que a palavra hebraica Belém (Bethleem) significa literalmente “Casa
do Pão”. Na manjedoura de Belém jaz aquele que, mais tarde, será pão oferecido ao Pai e
repartido por todo o género humano.
Natal 2008 –IV
Poderoso Espírito que veio sobre Maria, (1)
Mensageiro de Deus em fecunda Anunciação
Que abre caminho ao Sol de um novo dia
Em que o Filho de Deus se torna missão
Que percorre vales e montes da Palestina,
Dizindo aos quatro ventos a melhor doutrina.
Também sobre nós desce o Espírito do Senhor (2)
Para continuar a missão de Jesus, outrora
E anunciar em todos os tempos o amor
Que deu aos pobres a esperança de nova aurora,
Porque Tu estás aí, na manjedoura de Belém
E, mais tarde, passaste a vida fazendo o Bem.
Também somos ungidos para dizer a Boa-Nova (3)
A tempo e contra-tempo em missão global,
Como Paulo que não desiste frente a tanta prova (4)
Quando anunciava o Senhor, combatendo o mal,
Dizendo que chegou o tempo de sermos filhos da luz: (5)
Não temos connosco agora a pregação de Jesus?
Testemunhas de Deus pelos caminhos do mundo,
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Seremos para muitos o único Evangelho que lerão; (6)
Talvez em nós encontrem o eco fecundo
Da Palavra de Vida, do Senhor que se fez Pão
Para que possamos sonhar um mundo melhor,
Onde a graça aumenta e diminui o desamor!
Partamos a dizer o Evangelho a todas as gentes,
Que é apostólica a nossa espiriualidade,
Sem ter medo do compromisso em todas as frentes,
Fazendo total a nossa disponibilidade
No mundo dos jovens, ainda inexplorado
Onde queremos ser Água viva e Pão amassado! (7)
Dia 11 de Novembro de 2008, no avião entre Roma e Lisboa, voo TP 839.
1) Referência ao texto da Anunciação que introduz o segundo capítulo, “Caminhamos na
fé”.
2) Referência ao texto evangélico que introduz este quarto capítulo mais explicitamente
dedicado à missão marista. Tem como título: “Anunciamos a Boa-Nova aos pobres”.
3) Ver nota 2).
4) Nester Ano paulino devemos fazer um esforço por conhecer melhor a Teologia de São
Paulo. Com São Pedro, ele é , de facto, um dos pilares da Igreja nascente. É o Apóstolo
dos Gentios (pagãos), o homem que leva a Igreja para fora das fronteiras da Palestina. No
seu tempo foi um homem de uma visão universal, como deve ser a da Igreja hoje em dia.
Mas nem tudo na vida de São Paulo foi fácel. Teve muitas difculdades na sua missão.
Alguns textos mostram essas dificuldades: cf Ga 2, 1-21; 2 Co 10-13; 1 Tim 1, 20; 2 Rom
4, 10.14¸2 Tim 4, 16; 2 Co 12, 7
5) Cf 1Tes 5, 4-5; Ef 5, 8; 2 Co 6, 14-16; Col 1, 13.
6) Eco directo de uma frase do nº 142 de Dom Helder Câmara. A citação exacta em ÁGUA
DA ROCHA diz: “Para muitos deles, somos o único ‘Evangelho’ que terão oportunidade
de ler”.
7) A imagem da “Água Viva” é muito comum em todo o primeiro capítulo de ÁGUA DA
ROCHA: Cf nº 14, 42-43. A imagem do Pão aparece mais no terceiro capítulo: cf nº 107,
117.
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Natal 2008 –V
Natal é a festa da esperança
Porque Deus se faz um entre nós
E reaviva no mundo a confiança,
Sendo de muitos a verdadeira voz.
Então já não é proíbido sonhar.
Cheios de alegria, vamos anunciar
Novos sonhos, novas visões (1)
Como fez o profeta antigo
Num mundo de convulsões,
Não isento de violência e de perigo.
Sabemos bem, todos os caminhos
Do apóstolo são luz, mas também espinhos.
Foi assim com nosso pai Marcelino
E tantos Irmãos e Leigos ao longo da história.
Mas todos souberam cantar um hino
Como o de B elém que dizia nos céus: “Glória...”
É a riqueza dos primeiros lugares (2)
Que nada mais são do que três altares.
Vamos pois sem medo, a criança aos ombros, (3)
Que rica é a nossa tradição espiritual.
O apostolado é retirar o homem dos escombros
E dizer a todos que outra vez é Natal.
É tempo de sonhar novos horizontes,
Derrubando muros, construindo pontes!
Para em tudo glorificar o Senhor, (4)
Desbravando os caminhos do futuro.
Certamente, tudo isso não será sem dor,
Porque o sonho não se torna maduro
Sem viver a Sexta-feira da Paixão;
O sonho é porta aberta para a Ressurreição.
Teófilo
Dia 11 de Novembro de 2008, no avião entre Roma e Lisboa, voo TP 839
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1) O título da última parte é “Sonhamos novos Sonhos”. E no texto desenvolvido que
introduz esta última parte encontra-se a segunda parte da citação do profeta: “Temos
novas visões”.
2) É o primeiro capítulo que fala dos três lugares ao referir a caracterísica da Espiritualidade
Marista: “O amor de Jesus e seu Evangelho”. O nº 20 diz: “Para nós, Jesus é o rosto
humano de Deus. Encontramo-lo de modo especial nos três lugares Maristas onde Jesus
nos revela Deus”. Os números 21, 22, 23 e 24 apresentam uma reflexão sonre cada um
desses três lugares: o Presépio, o Altar e a Cruz. Nesses três lugares os maristas deviam
ser sempre os primeiros, seguindo a vontade do Fundador.
3) O símbolo escolhido para esta última parte é plenamente marceliniano. De facto
representa uma imagem de Marcelino com uma imagem de Champagnat carregando um
menino aos ombros. E o nº 153 fala dessa estátua como um símbolo. Um extracto desse
número diz : “Reconhecemos nesta expressão artística um símbolo da força inspiradora
da Espiritualidade Marista para o mundo de hoje. Ilustra também a certeza Marista de
sermos carregados sobre os ombros de uma vigorosa tradição espiritual capaz de nos
conduzir a um futuro prometedor de vitalidade e de esperança”.
4) O livro termina mesmo com uma oração-comentário do Magnificat. O último númeor de
ÁGUA DA ROCHA, nº 156 é, de facto, uma oração de louvor ao Senhor.
Clausura do Ano de Espiritualidade na Casa Geral dos Irmãos Maristas em RomA
Texto 1
Meditação : AS TRÊS PLENITUDES
No coração de Maria descobrimos esta fonte inesagotável de água viva que é o seu filho, o
“Senhor” da comunidade cristã primitiva. Com a certeza de que se bebemos da água viva, nos
tornamos água viva para os outros (cf. Jn 7, 38; AdR 42-43). Antes de caminharmos com Maria
na fé, junto a esta fonte, podemos entrar dentro de nós mesmos , com as palavras de Santo
Alberto Magno, comentadas por José Luis Descalzo. Meditamos as “três plenitudes”.
Diz Santo Alberto Magno que existen três espécies de plenitudes: "a plenitude do vaso, que
retem e não dá; a do canal, que dá e não retem e a da fonte, que cria, retem e dá". Que
tremenda verdade!
Efectivamente, conheci muitos homens-vaso. São pessoas que se dedicam a armazenar virtudes
ou ciência, que lêem tudo, colecionam títulos, sabem tudo quanto se pode saber, mas acham que
a sua tarefa só termina quando terminar o seu armanezamento: não repartem nem sabedoria nem
nem alegria. Têm, Mas não compartem. Retêm, mas não dão. São magníficos, mas
magnificamente estéreis. São simples servidores do seu egoísmo.
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Também conheci hombres-canal: são pessoas que se desfazem em palavras, que passam a vida
fazendo continuamente coisas , mas que nunca ruminam o que sabem; o que de importante lhes
entra pelos ouvidos sai-lhes imediatamente pela boca sem atingir a profundidade do coração.
Sofrem da neurose da acção, têm que fazer muitas coisas e todos depressa. Pensa que estão a
servir os outros , mas o seu serviço é, muitas vezes, um modo de acalmar o seu activismo
incontrolado. Homens-canal são muitos jornalistas, algunos apóstolos, sacerdotes ou leigos. Dão
e não retêm. E, depois de dar, sentem-se vazios.
Mas como é difícil, pelo contrário, encontrar homens-fonte, pessoas que são capazes de dar o
que de importante lhes vai na alma. E são capazes de o repartir como as chamas, enchendo de
entusiasmo a chama dos outros sem diminuir a propia, porque são capazes de recriar tudo o que
vivem e de repartir tudo quanto recriaram. Dão sem se esvaziar, regam sem se deixarem secar
eles mesmos, oferecem a água do seu poço sem o deixarem secar. Estou convencido de que
Cristo foi um homem-fonte. Era a fonte de água inesgotável, da água que acalma a nossa sede de
vida eterna.
E nós …Ah! Já seríamos talvez bastante se fossemos como um desses riachos que correm sem
cessar do cimo da grande montanha da vida.
Somos homens-vaso, homens-canal ou homens-fonte?
Texto 2
Oração : OBRIGADO, MARIA
Água da Rocha presta, não sem razão, uma atenção especial à mulher e à sua presença na
missão e na espiritualidade marista. De facto, a referência ao mundo feminino atravessa todos os
capítulos do documento (cf. 1º capítulo: 31, 43; 2º: 58, 71; 3º: 97, 119, 122; 4º: 127, 139). A sua
presença fortalece uma dimensão da nossa espiritualidade: ela é relacional e afectiva. (cf. AdR
31). Na relação com os outros é profundamente fraternal e sororal. Este é outro modo de dizer o
espírito de família que caracteriza a nossa espiritualidade (cf. AdR, 30-32). Agradecianos a sua
presença no mundo marista dando graças ao Senhor por todas elas, na pessoa de Maria. Ainda
aqui, serviamo-nos das palavras de José Luís Martín Descalzo: OBRIGADO, MARIA.
Obrigado, Maria, por seres uma mulher. Obrigado por teres sido mulher como minha mãe, e por
tê-lo sido num tempo em que ser mulher era como não ser nada.
Obrigado por teres sido uma mulher livre e liberta, a mulher mais livre e liberta da História, a
única mulher livre e liberta da História, porque foste a única não sujeita ao pecado, a única não
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tocada pela vulgaridade, a única que nunca foi medíocre, a única verdadeiramente cheia de graça
e de vida.
Obrigado porque soubeste encontrar a liberdade sendo escrava, aceitando a única dependencia
que liberta, a dependencia de Deus, e nunca te deixaste dominar por tantas outras dependencias
que a nós nos sufocam.
Obrigado porque te atreveste a tomar a vida com as duas mãos, porque quando chegou o anjo te
atreveste a preferir a tua missão à tua comodidade, porque aceitaste a tua missão sabendo que
era uma missão difícil, que te levava costa acima até chegar ao Calvário. (…)
Obrigada pela tua liberdade de palavra quando falaste com Isabel. Obrigado porque te atreveste a
dizer que Deus derrubaria os poderosos,sem te preocupares com o que pensaria Herodes.
Obrigado por saber que eras pobre e que Deus te tinha escolhido precisamente por seres pobre.
Obrigado porque soubeste falar dos ricos sem rancor, mas colocando-os no seu lugar : o vazio.
Obrigado porque soubeste ser a mais maternal das virgens, a mais virginal das mães. Obrigado
porque compreendeste a maternidade como um serviço à vida, e que Vida! (…)
Obrigado porque depois soubeste ser uma mulher do povo, por não teres tido necessidade de
anjos ou de criadas que te amassassem o pão e te fizessem a comida, obrigado por teres sabido
viver sem milagres nem prodígios. Obrigado por saberes que o importante não era estar cheia de
títulos e de honras, mas sim amor. (…)
Obrigado por teres respeitado a vocaçã de teu Filhoquando se foi para a sua loucura,por não lhe
teres dado uns conselhitos prudentes. (…) Obrigado por teres sabido permanecer em silêncio na
sombra durante a sua missão, mas apoiando de longe o grupo de mulheres que seguiam o teu
Filho (…)
Obrigado por teres sido a mulher mais perfeita que jamais existiu. E obrigado, sobretudo, por
teres sido
a única mulher de toda a História que voltou perfeita aos braços de Deus. Obrigado porque
continuas a ser mãe e mulher no céu, porque não te cansas de proteger os teus filhos de hoje.
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