Disciplina: Debates Econômicos Contemporâneos 3ª aula Professor: Francisco Eduardo Pires de Souza ([email protected]) Recordando a aula passada: Principais resultados do estudo de Piketty • Não há determinismo econômico moldando a evolução da distribuição da riqueza e da renda • A dinâmica da distribuição de riqueza => alternância do predomínio de forças que operam no sentido da divergência e da convergência • A principal força de convergência (diminuição da desigualdade) é a difusão do conhecimento e das aptidões. • A principal força de divergência: r>g (Quando r>g, DK/K> DY/Y => K/Y ) Tendências para o futuro • g + DPOP/POP => agravam força de divergência (r>g) • r>g não tem qualquer relação com imperfeições de mercado • Ainda assim é possível contrabalançar tendência com políticas. Ex: imposto progressivo sobre o K, para alinhar r e g. Mas isso exigiria um brutal esforço de coordenação internacional... (por que?) • Uma reflexão importante: determinismo econômico (distribuição é uma questão puramente econômica; produtividades marginais) x voluntarismo (é tudo uma questão de “queda de braço”, de força política). Saber distinguir os limites do possível é questão da maior importância política; saber distinguir qual é o campo dentro do qual políticas redistributivas são uma questão de escolha política seria de grande sabedoria social. • Experiência francesa seria mais relevante para pensar o futuro do que a americana: pop francesa duplicou de 1789 para hoje (de 30 para 60 milhões), enquanto que a pop americana multiplicou por 100 (de 3 para 300 milhões) no mesmo período. França antecipou transição demográfica e seus problemas. Cap. 1 - Renda e produção Conceitos empregados: • PIB – depreciação = PIL (Piketty se referirá ao PIL como produção doméstica); – d = 5-10% do PIB nos PMD (cerca de 5% nas sociedades agrícolas tradicionais); – D =10%-15% nas economias mais avançadas (dado o maior estoque de capital e a maior participação de BK com obsolescência mais acelerada, como computadores) • PIL + RLE = Renda Nacional • Em nível global: Renda Mundial = Produção mundial • Obs: desigualdade com respeito ao K é muito mais uma questão doméstica do que internacional. Atualmente a RLE representa apenas entre 1-2% do PIB dos países mais ricos. Mas no passado colonial isso foi muito mais importante – e mesmo fora das relações metrópole-colônia (Ex: Inglaterra no século XIX) Conceito de capital (e riqueza) usado no livro • Capital = capital não humano = riqueza (todo tipo de riqueza que possa ser vendida, transmitida, etc.) • Inclui, além de edificações, máquinas e equipamentos (que resultam da FBCF) + terras + metais preciosos + imóveis residenciais + ativos financeiros (contas bancárias, ações, títulos de renda fixa, etc) – passivos financeiros (todas as dívidas) • Riqueza nacional = riqueza privada + riqueza pública • Riqueza nacional = capital nacional = capital doméstico + capital externo líquido • Em síntese, Piketty define a “riqueza nacional” ou o “capital nacional” como o valor de mercado de tudo que é possuído pelos residentes e governos de um dado país em um determinado ponto do tempo, desde que possa ser comercializado em algum mercado. • Obs: como é o valor de mercado, note-se que podem ocorrer grandes oscilações da riqueza por efeitos de variações de preços (ex: bolhas, etc) Definidos capital e renda, pode-se apresentar a primeira lei fundamental que os une • Chame-se a relação Capital/Renda de b (indicador da importância do capital numa sociedade) • noção de ordem de grandeza nos principais países avançados: – Y/POP = 30000 a 35000 euros – K/POP = 150000 a 200000 euros – b = K/Y = 5 a 6 anos de renda nacional (Y) • forma que assume o capital: Kres=50% e Knres=50% (aproximadamente). 1ª lei fundamental do capitalismo: a = r x b • a = r x b = (rK)/Y (participação da renda do capital na renda nacional); onde: – r = taxa de retorno média sobre o estoque de capital – b = K/Y • Ex (típico da ordem de grandeza dessas variáveis numa economia avançada: • r = 5% (Balzac, Père Goriot, Jane Austen) • b = K/Y = 600% • a = r x b = 0,05 x 6 = 0,3 = 30% • Embora a relação acima seja uma identidade contábil (tautológica), Piketty a chama de lei fundamental do capitalismo porque relaciona de forma simples os 3 conceitos mais importantes para analisar o sistema capitalista A 1ª lei fundamental: exemplo para o caso de duas empresas (a “lei” vale tanto para uma economia como um todo como para uma empresa) A 1ª lei fundamental: exemplo para o caso de duas empresas A 1ª lei fundamental: exemplo para o caso de duas empresas A 1ª lei fundamental: exemplo para o caso de duas empresas A 1ª lei fundamental: exemplo para o caso de duas empresas A 1ª lei fundamental: exemplo para o caso de duas empresas A 1ª lei fundamental: exemplo para o caso de duas empresas A 1ª lei fundamental: exemplo para o caso de duas empresas As 3 variáveis fundamentais para a análise do capitalismo segundo Piketty Obs: 1) B tem maior rentabilidade que A, porém a participação dos lucros na renda é menor. Por que? Pq b de A é maior. Ou seja, participação dos lucros na renda depende não apenas de r, mas também de b. 2) É possível fixar 2 das 3 variáveis fundamentais. A 3ª será endógena. A divisão mundial da produção: processos de divergência e convergência • Entre 1900 e 1980, Europa e América foram responsáveis por algo entre 70% e 80% da produção mundial. Depois cai sistematicamente até chegar a 50% em 2010, nível semelhante a 1860 (gráficos). • O mais próvável é que continue caindo até chegar a 20%-30%, nível semelhante à sua participação na população mundial. • Há um processo de convergência internacional. 1700 1820 1870 1913 1950 1970 1990 2012 A divisão mundial da produção: processos de divergência e convergência 3 ressalvas: • A distribuição da renda é bem pior do que parece nas agregações apresentadas no gráfico I.3 porque cada região apresenta grandes disparidades internas; • Em dólares a distribuição é pior do que em PPC (medida usada nos gráficos). Contudo PPC é mais adequada; • A distribuição da renda é pior do que a distribuição da produção (PIB), porque os países mais ricos tendem a ter mais capital líquido no exterior, e portanto tendem a ter uma renda líquida do exterior positiva enquanto que os mais pobres tendem a ter uma RLE negativa. Isto é pequeno proporcionalmente para grande parte dos países, mas em alguns casos é relevante. No caso da África, a renda nacional tende a ser cerca de 5% abaixo do PIB (e em alguns países essa diferença chega a 10%). A divisão mundial da produção: processos de divergência e convergência 3 ressalvas: • A distribuição da renda é bem pior do que parece nas agregações apresentadas no gráfico I.3 porque cada região apresenta grandes disparidades internas; • Em dólares a distribuição é pior do que em PPC (medida usada nos gráficos). Contudo PPC é mais adequada; • A distribuição da renda é pior do que a distribuição da produção (PIB), porque os países mais ricos tendem a ter mais capital líquido no exterior, e portanto tendem a ter uma renda líquida do exterior positiva enquanto que os mais pobres tendem a ter uma RLE negativa. – Isto é pequeno proporcionalmente para grande parte dos países na atualidade. Mas foi importante no passado (no Reino Unido, Y era 10% superior ao PIB às vésperas da I Guerra Mundial). – E em alguns casos de PMDs ainda é relevante. No caso da África, a renda nacional tende a ser cerca de 5% abaixo do PIB (e em alguns países essa diferença chega a 10%). Forças que favorecem a convergência entre países • Uma hipótese: fluxos de capitais de países ricos com excesso de poupança e escassez de oportunidades de investir para os países pobres => aumento da acumulação de capital, da produtividade e do crescimento. • Piketty descarta esta hipótese como sendo a principal explicação para a convergência. Países asiáticos mais bemsucedidos no processo de convergência (Japão, Coréia do Sul e China) contaram fundamentalmente com poupança interna. • O mais importante seria a difusão do conhecimento e da tecnologia. A absorção de tecnologia pode ser tanto via IDE como via educação + abertura comercial (não financeira) (+ outros mecanismos como a engenharia reversa, etc, poderíamos acrescentar)