Uma Etapa Decisiva para a Psicologia Social Capítulo Segundo “Dinâmica e Gênese dos Grupos” Gérald Bernard Mailhot MAILHIOT, G. B. Lewin: A Obra e o Homem. In: Dinâmica e Gênese dos Grupos. 2ª Edição. Ed. Livraria Duas Cidades, São Paulo. 1973. (...) Continuação (...) Como vimos anteriormente, Kurt Lewin consagrou oito anos dos vinte cinco anos de sua vida universitária, de 1939 a 1946, à exploração psicológica dos fenômenos de grupo. Os Precursores... Auguste Comte (1759 – 1857) Foi um filósofo francês, fundador do Positivismo e da Sociologia. Ao tentar edificar e definir a Sociologia, afirma por razões de ordem metafísica, sem nenhuma referência que o social deve absorver o psíquico, e construir uma Psicologia Social era, portanto, inútil. Acreditava apenas na ciência da vida (biologia) e na ciência da sociedade (sociologia). Émile Durkheim (1858 – 1917) Foi um filósofo francês considerado um dos pais da sociologia moderna, e fundador da escola francesa de sociologia. Define a Psicologia Social como uma ciência que “não é senão uma palavra que designa toda espécie de generalidades, variadas e imprecisas, sem objeto definido”. Ao estabelecer a autonomia da sociologia, afirma que a Psicologia não pode ser senão individual. Gabriel Tarde (1843 – 1904) Foi um filósofo e sociólogo francês, contemporâneo de Durkheim, mas acredita que “a sociologia será uma psicologia ou nada será”. Será também sua preocupação sua elaborar ao lado da Psicologia Individual uma ciência psicológica do Social que ora chamará de “sóciopsicologia” ora de “psicologia-social” para enfim adotar o termo “interpsicologia”. Também, ao contrário de Durkheim, explica que é o individual o social e o coletivo. Felix Le Dantec (1869 – 1917) Foi um biólogo e filósofo francês. Surgiu tardiamente na Psicologia depois de célebres trabalhos como biologista sobre a assimilação funcional, publica ao fim de sua vida um trabalho sobre a vida em sociedade intitulado “O egoísmo”. Para ele o social se explica pelos instintos psíquicos primitivos que o levará a concluir com pessimismos: “O egoísmo é o fundamento da sociedade e a hipocrisia sua mola-mestra”. Gustave Le Bon (1841 – 1931) Foi um sociólogo e psicólogo social francês. Em suas obras de Psicologia Social “O homem e as Sociedades” e a mais conhecida “A Psicologia das Multidões”, chegará, por sua vez, a assimilar todo fenômeno de grupo a um fenômeno hipnótico e manipuladas pelas elites. Pioneiros e Fundadores... Como vimos, são os franceses, sociólogos e filósofos sociais, os primeiros a introduzir o termo “Psicologia Social” nas categorias mentais dos postulados acadêmicos. São eles que apresentam as primeiras interpretações psicológicas dos fatos sociais. Por outro lado são os anglo-saxões que elaboram de modo sistemático e articulado os primeiros tratados de Psicologia Social. William MacDougall (1871 – 1929) Foi um Psicólogo Social e Sociólogo inglês, que se muda para os Estados Unidos, e no ano de 1920 aceita o convite para ensinar Psicologia Social na Universidade de Harvard. Segundo ele, as forças constituídas pelos instintos sociais evidenciam as condutas sociais ou os comportamentos em grupo e os comportamentos coletivos. Sendo, para ele, estes instintos sociais são inatos e múltiplos, ainda em número de dezoito. A primeira Universidade a responder ao apelo de do filósofo da Educação John Dewey (1859 – 1952), será a: Universidade de Harvard. Criando sua primeira cátedra de Psicologia Social em 1917, para a qual será nomeado Henry Holt como primeiro titular. E em 1920William MacDougall torna-se seu sucessor. Esta fase inicial, que vai de 1908 a 1930, onde a Psicologia Social se constitui em ciência autônoma e recebe seu estatuto acadêmico, é dominada por duas influências aparentemente contraditórias: Uma a de que as condutas sociais e os comportamentos coletivos são interpretados em termos de forças sociais inatas, de instintos determinantes, (influência de Tarde e de Le Bon); E, por outro lado, o ensino e a pesquisa em Psicologia nos Estados Unidos, sobretudo a partir de 1920, inspiram-se em grande parte nas teorias behavioristas, e nesta perspectiva, Dewey, será o primeiro a salientar que a Psicologia Social inicialmente deve preocupar-se em definir qual seria o meio social ideal mais próprio a favorecer a socialização do ser humano e seu acesso à maturidade social. Reducionistas e Anexionistas... A fase que sucede de 1930/1940, que é conhecida como a fase dita “instintiva” e “psicopedagógica”; Uma evolução da Psicologia Social em dois tempos que, por momentos se justapõem e são geralmente vividos, não sem conflitos, de modo simultâneo, pelos meios acadêmicos desta época nos Estados Unidos. Após 1930, paradoxalmente, a Psicologia Social passa por aquilo que G.W.Allport chama de “crise de individualismo”; “Psicologia Coletiva e Análise do Eu”, “Totem e Tabu” e “Mal Estar na Civilização”, são traduzidas para o inglês e causam polêmica. Reducionistas e Anexionistas... Sob a influência das teorias de Freud, a pesquisa em Psicologia Social preocupa-se, cada vez mais, em formular uma Psicologia exaustiva do “leadership”. A partir de 1930, é a influência do indivíduo sobre o grupo que os psicólogos sociais deste tempo tentam descobrir através de experimentações em situações controladas. Por outro lado, a Psicanálise que se torna cada vez mais acreditada nos departamentos de Psicologia, fornece a partir das idéias Freudianas – as descobertas clínicas. Reducionistas e Anexionistas... Mas esta colaboração da Psicanálise foi colocada em questão; Principalmente por uma nova ciência: a Antropologia Cultural. Através de estudos comparados das culturas, consegue dar visibilidade ao relativismo das culturas; E discutir aquilo que os psicanalistas haviam apresentado como dados de natureza, essenciais e fundamentais a todo ser humano que era, muitas vezes, precipitado, equivocado. Isto é típico da segunda fase: seja a Psicanálise ou a Antropologia, quase sempre se toma o rumo do reducionismo/anexionismo; Individualismo X Culturalismo Kurt Lewin... Psicólogos Sociais como Mac Dougall, buscavam descobrir as leis fundamentais que tornem inteligível as condutas sociais em qualquer contexto sócio-cultural. Rompendo com qualquer aproximação especulativa/filosófica, trabalham em laboratórios, com seus esquemas e referências. Kurt Lewin sugere que os psicólogos sociais repensem radicalmente a experimentação feita em Psicologia Social; Muito cedo ele convida os psicólogos sociais a centralizar seus esforços sobre o estudo dos “micro-grupos”, por ele chamado de “face-to-face-groups”; por parecer uma opção estratégica que permitiria eventualmente, tornar inteligível a Psicologia dos “macro-fenômenos”. Contemporâneos... Kurt Lewin, conduz a Psicologia Social a um plano mais realista, por sua utopia de edificar um saber coerente. Teóricos e práticos de maior prestígio entre os psicólogos sociais contemporâneos consideram que a Psicologia Social de 1968 deve muito a Kurt Lewin, em destaque 3 pontos: 1) Diversificação das Ciências Sociais, que hoje parece certo reconhecer três ciências sociais fundamentais: a Sociologia, a Antropologia Cultural e a Psicologia Social. Entende-se aqui os fenômenos como multidimensionais que não podem ser atingidos se não por aproximações sucessivas e complementares, de interdependências e dinâmicas; 2) Basicamente a Psicologia Social parece se ir entre duas direções científicas. Primeira: muitos autores/as consideram seu significado mais estrito, em observação, identificação, definição e interpretação das condutas sociais ou os comportamentos em grupo. Assim, as condutas sociais tornam-se distintas das condutas pessoais e dos comportamentos de grupo. Segunda: para que haja comportamento de grupo é necessário que vários indivíduos experimentem as mesmas emoções de grupo, e que elas os integre; 3) A distinção entre “sócio-grupo” e “psico-grupo”: o “sócio-grupo” seria o grupo de tarefa, o grupo estruturado e orientação em função da execução. O “psico-grupo”, ao contrário, seria um grupo de formação, um grupo em função dos próprios membros. Obrigada! Professora Lenise Santana Borges