RIGOROSO CONTROLE GLICÊMICO EM CRIANÇA CRITICAMENTE DOENTE Tight Glycemic Control in Critically Ill Children. Agus MS, Wypij D, Hirshberg EL, Srinivasan V, Faustino EV, Luckett PM, Alexander JL, Asaro LA, Curley MA, Steil GM, Nadkarni VM; HALF-PINT Study Investigators and the PALISI Network.. N Engl J Med. 2017 Feb 23;376(8):729-741. doi: 10.1056/NEJMoa1612348. Epub 2017 Jan 24. Apresentação:Fernanda Arantes Alves Coordenação: Alexandre Serafim R4 Terapia Intensiva Pediátrica HMIB www.paulomargotto.com.br Brasília, 29 de abril de 2017 Introdução • Um controle glicêmico rigoroso em níveis entre 80 e 110 mg/dL demonstrou originalmente reduzir morbimortalidade em um ensaio clínico randomizado unicêntrico envolvendo pacientes adultos cirúrgicos, contudo em ensaios subsequentes em adultos não foi demonstrado benefício. • Resultados de ensaios de controle glicêmico rigoroso em crianças foram inconsistentes. • Estudos retrospectivos evidenciaram hiperglicemia e desfechos ruins. associação entre Introdução • Um ensaio clínico randomizado unicêntrico envolvendo crianças, das quais a maioria tinha sido submetida a cirurgia cardíaca, evidenciou significativamente menores taxas de mortalidade e de infecção e menor tempo de internação em pacientes com menores alvos de glicemia, apesar das maiores taxas de hipoglicemia severa. • Outro estudo evidenciou menor morbidade com menores alvos de glicemia em pacientes pediátricos com queimaduras. • Há ampla variação na prática médica de controle glicêmico. O ajuste seguro da infusão endovenosa contínua da insulina é crucial para minimizar o risco de hipoglicemia. Introdução • HALF-PINT: Heart and Lung Failure-Pediatric Insulin Titration • Hipótese: o controle glicêmico rigoroso com alvo de 80 – 110 mg/dL versus o alvo de glicemia entre 150 – 180 mg/dL aumentaria os dias livres de UTI em crianças criticamente enfermas com hiperglicemia que tiverem insuficiência respiratória ou cardiovascular. • Coorte com pacientes pediátricos internados em UTI, com monitorização contínua da glicemia e uso de insulina endovenosa ajustada por computador. Métodos • Um total de 35 Centros incluíram crianças de 2 semanas de vida a 17 anos de idade que estivessem recebendo suporte vasoativo por hipotensão ou ventilação mecânica invasiva. • Pacientes portadores de diabetes, com acesso venoso inadequado e que tivessem passado por cirurgia cardíaca foram excluídos. • Os dados do ensaio foram monitorizados eletronicamente com supervisão da segurança dos pacientes. • Os pacientes foram randomizados para receber o controle glicêmico rigoroso com alvo de glicemia de 80 – 110 mg/dL (“grupo de alvo glicêmico menor”) ou com alvo de glicemia de 150 – 180 mg/dL (“grupo de alvo glicêmico maior”). Métodos • O pacientes receberam insulina contínua endovenosa ajustada para manter o nível de glicemia de acordo com o alvo randomizado. • A intervenção começava em cada paciente quando a hiperglicemia era confirmada (2 glicemias consecutivas > 150 mg/dL). • A intervenção encerrava quando o paciente tivesse critério de alta da UTI, incluindo a descontinuação do uso de drogas vasoativas e ventilação mecânica invasiva, ou após 28 dias (o que ocorresse primeiro). Métodos • O tempo de aferição das glicemias, a dose da insulina e os bolus de resgate de glicose foram guiados pelo protocolo computadorizado CHECKS (Children’s Hospital Euglycemia for Kids Spreadsheet). • A glicemia foi aferida com o uso de um glicosímetro idêntico em todos os centros do estudo depois do sangue ser extraído de um sistem fechado, preferencialmente de um cateter arterial. • A monitorização contínua da glicemia foi utilizada para assinalar hipoglicemia iminente. Métodos • A taxa de infusão de glicose era orientada pela idade. Pacientes menores de 6 anos receberam TIG de 5 mg/kg/min e pacientes maiores ou igual a 6 anos TIG de 2,5 mg/kg/min. • Desfecho primário: número de dias livres da UTI no dia 28. O número de dias livres da UTI foi considerado zero para os pacientes que não tiverem critério de alta, que foram transferidos ou que morreram no dia 28. • Desfechos secundários: mortalidade em 90 dias, severidade da disfunção orgânica (de acordo com o escore PELOD), número de dias livres da ventilação mecânica no dia 28, incidência de infecções relacionadas à assistência de saúde e incidência de hipoglicemia. Análise estatística • A análise do desfecho primário foi analisada na base de intenção de tratar pelo risco proporcional de regressão com ajuste da faixa etária e severidade da doença nas primeiras 12h de internação na UTI (escore de PRISM III). • As características dos pacientes e as variáveis de glicemia e terapia de infusão de insulina foram comparadas com o uso do teste Wilcoxon e o teste de exatidão de Fischer. Resultados • O registro iniciou em abril de 2012 e encerrou em setembro de 2016. O recrutamento terminou precocemente com 50% do registro. • Um total de 713 pacientes foram randomizados em 32 centros. Um total de 360 pacientes foram atribuídos ao grupo de controle glicêmico menor e 353 para o grupo de controle glicêmico maior. • 10 pacientes foram retirados do estudo após início da intervenção por mudança no estado de elegibilidade e por não fornecimento do consentimento pelos responsáveis dos pacientes. (Figura 1) • As características do pacientes foram semelhantes entre os dois grupos (Tabela 1) Resultados • As medidas de glicemia que qualificaram os pacientes para randomização foram similares nos pacientes com alvo menor de glicemia (mediana de 189 mg/dL) e com alvo maior de glicemia (mediana de 182 mg/dL). • As medidas de glicemia para início da intervenção também foram similares entre os grupos (mediana de 133 mg/dL no grupo de menor alvo e de 131 mg/dL no grupo de maior alvo). • Houve separação significativa dos níveis de glicemia entre os grupos nos primeiros 18 dias de intervenção. A mediana do nível de glicemia ao longo do estudo foi de 109 mg/dL no grupo de menor alvo glicêmico e de 123 mg/dL no grupo de maior alvo glicêmico. Resultados • A quase totalidade dos pacientes do grupo de menor alvo de glicemia (344 dos 349 pacientes) receberam insulinoterapia pelo protocolo, com mediana de dose de 0,74 UI/kg/dia, enquanto que 215 dos 349 pacientes do grupo de maior alvo glicêmico (61,6%) receberam insulina com mediana de dose de 0,01 UI/kg/dia. • Houve maior número de aferições de glicemia no período de 24h no grupo de menor alvo glicêmico (mediana de 17,4 aferições) em comparação ao grupo de maior alvo glicêmico (mediana de 7 aferições). Resultados • Hipoglicemia severa (glicemia < 40 mg/dL) relacionada à administração de insulina ocorreu em 13 dos 349 pacientes (3,7%) no grupo de menor alvo glicêmico, comparado com 1 em 349 pacientes (0,3%) no grupo de maior alvo (p=0,0). • Em 3 pacientes ocorreram crises convulsivas durante o episódio de hipoglicemia. Nenhuma outra complicação da hipoglicemia foi reportada. • A incidência de hipocalemia (K < 2,5) foi similar entre os 2 grupos. (Tabela 2) Resultados • Durante os 8 primeiros dias de estudo as taxas de infusão de glicose, a porcentagem de nutrição enteral e o nível total de nutrição foi similar entre os 2 grupos. • A partir do oitavo dia, os pacientes de ambos os grupos recebiam mais da metade da alimentação enteral, com conteúdos calóricos similares (mediana de 38 Kcal/kg/dia no grupo de menor alvo glicêmico e de 142 Kcal/Kg/dia no grupo de maior alvo). Resultados - Desfechos • A mediana de número de dias livres da UTI não teve diferença entre os grupos (ambos com mediana de 19,4 dias). • Houve incidência significativamente maior no total de infecções relacionadas à assistência no grupo com menor alvo glicêmico em comparação ao grupo de maior alvo glicêmico (incidência de 3,4% versus 1,1%, respectivamente). • A incidência de infecções com cultura positiva não diferiu entre os grupos (8,3% versus 9,7%). O uso de antibioticoterapia empírica sem a presença de culturas específicas positivas foi levemente menos comum no grupo de menor alvo glicêmico (93,4% versus 96,8%). Resultados - Desfechos • A mortalidade com 28 dias não foi significativamente maior no grupo de menor alvo de glicemia do que no grupo de de maior alvo glicêmico (13,5% versus 9,2%) e não diferiu significativamente entre os grupos com 90 dias (14,9% versus 11,5%). • Não foi encontrada diferença estatística entre os grupos no número de dias livres da ventilação mecânica ou no número de dias livres do hospital. • Marcadores de severidade da doença foram elevados de forma similar entre os 2 grupos, incluindo o valor máximo do escore PELOD, o valor máximo do escore inotrópico diário, a incidência de ressuscitação cardiopulmonar e canulação para suporte extracorpóreo. (Tabela 3) Discussão • Neste ensaio clínico randomizado multicêntrico não foi identificado diferença significativa no número de dias livres da UTI ou nenhum dos desfechos secundários no controle rigoroso da glicemia com alvos de 80 – 110 mg/dL em comparação aos alvos de 150 – 180 mg/dL. • Uma coorte com crianças criticamente enfermas com hiperglicemia tiveram maior mortalidade em 90 dias e maior tempo de internação em UTI. • Houve uma maior incidência de infecções relacionadas à assistência, especialmente infecções sanguíneas relacionadas a cateter, nos pacientes do grupo de menor alvo de glicemia. Discussão • Não houve diferença entre os grupos na incidência geral de infecção com cultura positiva, assim com definições já descritas em estudos prévios de controle rigoroso da glicemia. • A força do ensaio incluiu 35 centros, tendo como método o controle explícito da glicemia e limitação da hipoglicemia, através de treinamento clínico padronizado e intensivo e através do suporte com a qualidade da monitorização contínua. O protocolo é claro e reprodutível e teve alta taxa de aderência. Discussão • Os resultados do estudo foram semelhantes a outros ensaios multicêntricos envolvendo crianças criticamente enfermas – o SPECS (Safe Pediatric Euglycemia in Cardiac Survey) e o CHIP (Control of Hyperglicemia in Pediatric Instensive Care). Ambos demonstraram ausência de diferenças no tempo de internação na UTI ou mortalidade nas crianças após cirurgia cardíaca. • O ensaio CHIP mostrou que nos pacientes que não tiveram cirurgia cardíaca a média de custos com saúde em 12 meses foi menor no grupo com menor alvo de glicemia, um achado atribuível a menor tempo de internação hospitalar Discussão • Os resultados do estudo diferem dos encontrados em um estudo unicêntrico conduzido em Leuven, Bélgica, que mostrou substancialmente menor taxa de mortalidade e menor tempo de internação na UTI e menor taxa de infecção com controle rigoroso da glicemia, apesar da maior taxa de hipoglicemia severa. (Intensive insulin therapy for patients in paediatric intensive care: a prospective, randomisedcontrolled study.Vlasselaers D, Milants I, Desmet L, et al. Lancet. 2009 Feb 14;373(9663):547-56. doi: 10.1016/S01406736(09)60044-1. Epub 2009 Jan 26) • Em estudos envolvendo adultos, uma explicação para incongruências similares está relacionada às diferenças nas práticas de nutrição parenteral. Discussão • O estudo planejava envolver randomização de 1414 pacientes, mas o estudo terminou com o registro de 50% da amostra, porque os dados já indicavam uma baixa probabilidade de benefício e evidência de um possível malefício ao grupo de menor alvo glicêmico (mortalidade não significativamente maior, maior incidência de infecção e risco de hipoglicemia severa). • Houve baixa incidência de hipoglicemia severa no estudo, assim como o ensaio SPECS. Em metade dos episódios de hipoglicemia foi julgado não estar relacionado à infusão de insulina, mas com a própria doença ou com a descontinuação abrupta da oferta calórica. Discussão • Limitações: o termo de consentimento foi adquirido após confirmação da hiperglicemia (o que gerou um atraso entre o evento e o início da intervenção); foi impossível manter a equipe médica assistente “cega” da randomização de cada paciente; não foi incluído um terceiro grupo em que a hiperglicemia não foi tratada. Conclusão • Este ensaio multicêntrico e randomizado, envolvendo paciente que não foram submetidos á cirurgia cardíaca, não demonstrou diferença significativa entre os grupos no número de dias livres da UTI ou nenhum dos desfechos secundários quanto a um controle rigoroso da glicemia para níveis entre 80 – 110 mg/dL foi comparado com níveis de 150 – 180 mg/dL em crianças criticamente enfermas com hiperglicemia que tiveram insuficiência respiratória ou cardiovascular. • Assim, os autores concluíram que em uma população de crianças criticamente doentes com hiperglicemia, um alvo de glicemia de 150 a 180 mg /dL foi associado com resultados clínicos semelhantes às crianças com um alvo de 80 a 110 mg/dL por decilitro, com menor risco de hipoglicemia. Nota do Editor do site, Dr. Paulo R. Margotto. Consultem também! Aqui e Agora! Na Neonatologia • Qual é a glicemia Normal • todo esforço deve ser realizado para evitar tanto a Hiperglicemia (>150mg/dL) e a Hipoglicemia (<50mg/dL) Qual é a glicemia normal? (What is a normal blood glucose?) Güemes M, et al. Apresentação: Fernanda Reginatto, Evelyn Mirela, Paulo R. Margotto • A concentração normal de glicose em jejum é de 3,5–5,5 mmol/L (63-99 mg%) com exceção do período pós-natal. • A concentração sérica de glicose é mantida nessa faixa por uma complexa relação hormonal que controla a produção e a utilização de glicose. • Em recém-nascido a termo adequado saudáveis, nas primeiras horas de vida a concentração sérica “normal” de glicose pode variar entre 1,4 mmol/L (25,2mg%) e 6,2 mmol/L (111,6mg%), mas por volta de 72h de vida atinge o valor entre 3,5–5,5 mmol/L (63-99mg%). • A hipoglicemia deve ser considerada como um continuum e o nível de glicose sérico deve ser interpretado dentro de um cenário clínico e com respeito as respostas dos hormônios contra-regulatórios e metabólitos intermediários. •HIPOGLICEMIA Prognóstico a longo prazo da epilepsia sintomática do lobo occipital secundária a hipoglicemia neonatal Autor(es): Hesham Montassira, Yoshihiro Maegaki, Kousaku Ohnoa, Kaeko Ogura. Apresentação:Fernando Augusto Lopes Deckers • Este estudo mostrou um grupo de pacientes que teve hipoglicemia no período neonatal, evoluíram com epilepsia do lobo occipital (apresentando cada um pelo menos um episódio de status epilepticus). • - Este grupo de pacientes apresentou quadros de epilepsia que inicialmente foram de difícil controle, alguns evoluindo com vários episódios de status epilepticus. • - A maioria evoluiu com controle das crises epilépticas, apenas um se mantinha sintomático Possíveis razões da predileção cerebral para a encefalopatia hipoglicêmica: • alto grau de migração axonal e sinaptogênese ocorrem no lobo occipital, durante o período neonatal e o desenvolvimento de receptores para aminoácidos excitatórios, os quais podem ser estimulada por níveis elevados de aspartato.Este último mecanismo pode resultar na morte selectiva de os neurônios pós-sinápticos • Também foi levantada a hipótese de que a alta atividade metabólica durante o início da vida predispõe esta área para lesão, como ocorre em doenças mitocondriais Hipoglicemia e lesão cerebral neonatal - 2013 Autor(es): James P Boardman, Courtney J Wusthoff, Frances M Cowan. Apresentação: Guilherme Prata, Daniel Pinheiro Lima; Guilherme Ferreira Almeida; Paulo Ferraresi, Paulo R. Margotto • Em uma grande série de crianças com hipoglicemia neonatal isolada e disfunção neurológica aguda, houve relação com um padrão predominantemente posterior de lesão em um terço delas, e foi mais comum uma distribuição mais ampla das lesões. • Exitem fortes evidências que o resultado é pior quando a hipoglicemia ocorre associada à encefalopatia hipóxica-isquêmica e essas crianças devem ser acompanhadas com cuidado extra, especialmente quando o crescimento da cabeça está abaixo do ideal.. HIPOGLICEMIA E LESÃO CEREBRAL Hipoglicemia neonatal e lesão cerebral occipital Autor(es): Peter M. Filan;Terrie E. Inder;Tergus J. Cameron;Michael J. Apresentação: Fabiana Márcia de Alcântara Morais • A lesão em região occipital associado a hipoglicemia tem como consequências a longo prazo a instabilidade,epilepsia e diminuição da visão. • A etiologia é desconhecida,no entanto o hiperinsulinismo transitório pode ser um fator de risco independente. • Descrição de 4 casos de hipoglicemia,que levaram a lesão cerebral principalmente em região occipital. • O que foi descrito nestes casos, já havia sido demonstrado previamente. • No entanto,esta amostra foi pequena, e cada RN teve períodos prolongados e repetidos de hipoglicemia. • 3 dos 4 casos tiveram diagnóstico definitivo de transtorno de hiperinsulinismo. LESÃO CEREBRAL E HIPOGLICEMIA NEONATAL Traill Z, Squier M, Anslow P.Related Articles, Links Brain imaging in neonatal hypoglycaemia. Arch Dis Child Fetal Neonatal Ed. 1998 Sep;79(2):F145-7. (ARTIGO INTEGRAL!) Segundo Traill e cl é possível diferenciar a lesão cerebral associada com hipoglicemia neonatal da lesão cerebral associada com a isquemia hipóxica cerebral por meio de estudo de imagens. Na hipoglicemia ocorre um predomínio do envolvimento occipital sugerindo que a lesão cerebral hipoglicêmica não é o resultado de isquemia cerebral causada pelas convulsões secundárias. Na lesão por isquemia hipóxica, o envolvimento predominante são as áreas “watershed” (divisor das águas) parassagitais, envolvendo as regiões frontal e parieto-occipital. Consulte os 2 casos relatados pelos autores de lesão cerebral por hipoglicemia neonatal severa e prolongada com convulsões. Então, como evitar e tratar a HIPOGLICEMIA nos pré-termos extremos? Distúrbios metabólicos do recém-nascido Autor(es): Paulo R Margotto , Albaneyde F Formiga Como definimos? Existem controvérsias a respeito dos limites de euglicemia. Atualmente, mais importante que definir um nível crítico, é manter os valores da glicose mais elevados (glicose sanguínea > 50 mg%, que equivale a uma glicemia plasmática de 60mg%) garantindo um nível seguro para prevenir possível comprometimento do SNC (a hipoglicemia está associada com aumento do fluxo sanguíneo cerebral em 2 a 3 vezes). HIPOGLICEMIA RESISTENTE • Se for uma hipoglicemia resistente, procure causas, como a interrupção do acesso venoso, verificar se está em um ambiente neutro, tratar a acidose, a sepse; avalie a possibilidade do uso de hidrocortisona (aumenta a glicemia por indução de enzimas gliconeogênicas por 2-3 dias; não havendo resposta temos a opção do uso do glucagon (mobiliza glicogênio hepático), e também do diazóxido (suprime a produção de insulina), MAS JAMAIS SUSPENDE A NUTRIÇÃO PARENTERAL OU DIMINUIR A OFERTA DE AMINOÁCIDOS (não conhecemos evidência de que diminuir aminoácido com o objetivo, teoricamente falando de produzir inanição, seja uma boa prática para tratar hipoglicemia!). Considerar maior oferta de lipídios nesta situação ( cuidado com muita glicose endovenosa: risco de produzir mais CO2 e piorar o sistema ventilatório). Com menor aporte proteico vamos ter mais displasia broncopulmonar (doença inflamatória que leva a proteólise, segundo colocou para todos nós agora em Belo Horizonte o Dr. Wiliam Ray).OS RN entre 24 semanas e 30 semanas precisam de 3,6 a 4,8g/kg/de proteina! Como conduzimos a hipoglicemia HIPOGLICEMIA SINTOMÁTICA AGUDA • Push somente na presença de clínica, principalmente apnéia, convulsão: 200 mg/kg de Glicose em 1 minuto, que é igual a 2 ml de Glicose a 10% diluído em água destilada; manutenção: com Glicose a 10%, na velocidade de 5 a 8 mg/Kg/min: 0,05 a 0,08 X peso (kg) X 1440 = quantidade de ml de glicose a 10% que deverá correr em 24 horas. HIPOGLICEMIA ASSINTOMÁTICA Perfusão venosa com Glicose, na velocidade de 4-8 mg/kg/min (RN prematuro: 4-6mg/Kg/min Importante: no tratamento da Hipoglicemia: reduzir os gastos energéticos (tratar a septicemia, corrigir a acidose, propiciar ambiente térmico neutro). Se a glicemia persistir menor que 50 mg%, 6 horas após, introduzir Hidrocortisona (aumenta a glicemia por indução das enzimas gliconeogênicas), na dose de 10mg/kg/dia –12/12 horas, EV, durante 2 a 3 dias ou Prednisona: 2 mg/kg/dia – VO, podendo ser suspenso abruptamente. • Não havendo resposta, Glucagon (aumenta a glicemia por mobilizar glicogênio hepático): ataque: 0,2 mg/kg - EV ou IM (máximo: 1 mg) e manutenção: 2 a 10 mcg/kg/h. O uso do glucagon pode fazer com que a glicose suba muito rapidamente, com aumento da produção de insulina e o problema não se resolve. Há risco de hiponatremia e trombocitopenia. • Se persistir a hipoglicemia: Diazóxido: 10 – 15mg/kg/dia – VO – 8/8 horas (suprime a secreção pancreática de insulina): indicado nos casos de hiperinsulinismo grave, como adenoma de pâncreas. •HIPERGLICEMIA (glicose sanguínea >150mg%) Hiperglicemia e morbimortalidade nos recém-nascidos prematuros extremos Kao LS et al; LM Soghier e LP Brion (Editorial). Apresentação: Alexandra Barreto, Ruiter Arantes, Gustavo Gomes e Paulo R. Margotto • Os níveis glicêmicos maiores que 180mg/dl foram significativamente maiores que os menores que 120mg/dl quando relacionados ao desenvolvimento de Enterocolite Necrosante (OR:7,40 e IC95%:1,52 a 36,1); • RN que desenvolveram Enterocolite Necrosante com hiperglicemia persistente na primeira semana tiveram níveis elevados de mortalidade (OR:13,1 e IC95%:1,2 a 143); Hiperglicemia, insulina e lenta velocidade de crescimento podem aumentar o risco de retinopatia da prematuridade JW Kaempf, AJ Kaempf, Y Wu, M Stawarz et al. Apresentação:Marília Menezes, Otávia Araújo, Rafael Cavalcante, Paulo R. Margotto • Revisão gráfica retrospectiva de 372 crianças nascidas com idade gestacional (IG) < 30 semanas demonstrou que a média mais alta de glicemia, o número e a severidade dos episódios de hiperglicemia e insulina exógena usada nos primeiros 29 dias de vida são todos preditivos de um aumento no risco de retinopatia da prematuridade (ROP) moderada e severa. • A análise de regressão multivariada ajustada aos principais fatores de risco confundidores para retinopatia da prematuridade, como idade gestacional, sexo, peso de nascimento, restrição de crescimento e marcadores de doença pulmonar, indicam que glicemia capilar elevada e uso de insulina estão significativamente associados a retinopatia da prematuridade (ROP) Este é o maior estudo em termos de número de crianças abaixo de 30 semanas de IG e com o maior número de casos de ROP Hiperglicemia precoce é um fator de risco para a morte e redução da substância branca em crianças pré-termos Georgios Alexandrou, Beatrice Sklold Jonna Karlén, Mesfin K. Tessma, Mireille Vanpée.Apresentação: Nathália Bardal • Regressão logística multivariada revelou que a hiperglicemia durante as primeiras 24 horas de vida permaneceu como fator de risco para a morte (OR:3,7;IC a 95%:1,3-10,6-p=0,01) e alterações (REDUÇÃO!) da substância branca (OR=3,1; IC a 95%:1,01-9,2 –p=0,04), demonstrada na ressonância magnética Hiperglicemia como fator de risco para desenvolvimento da retinopatia da prematuridade Shakir Mohamed, Jeffrey C Murray, John M Dagle and Tarah Colaizy . Apresentação: Caroline Dias. Fabiana Márcia de Alcântara Moraes Altivo • Recém-nascidos com ROP experimentaram maior número médio de dias com hiperglicemia (7 contra 2 , p = <0,0001). O risco de ser diagnosticado com ROP aumentou em 7% para cada dia adicional de hiperglicemia. Este estudo demonstra uma associação entre a duração da hiperglicemia (definido como número de dias com a glicose de sangue total > 150 mg/dL) e no desenvolvimento de ROP em prematuros com menos de 32 semanas de idade gestacional . • Em um estudo realizado por Garg et al avaliando a hiperglicemia e o desenvolvimento de ROP estágios III ou IV foi mostrado que para cada aumento de 10 mg/dL de glicemia média, houve aumento de 2,7 vezes no risco de desenvolver ROP. • Blanco et al18 encontraram que hiperglicemia foi associada a um aumento de 4,5 vezes na incidência de ROP em uma população hispânica dos bebês com peso extremamente baixo. • Hiperglicemia pode influenciar a ROP devido ao seu efeito significativo sobre o fluxo sanguíneo da retina. • Ratos diabéticos apresentaram melhora do fluxo sanguíneo na retina com a redução da glicemia, versos ratos diabéticos hiperglicêmcos22. • Além disso , tem se demonstrado que a hiperglicemia aumenta a formação de diacilglicerol , que por sua vez aumenta a ativação da proteína C quinase. A proteína quinase C tem um efeito em vários fatores de crescimento diferentes: tais como o fator de crescimento endotelial vascular ( VEGF ) , o que impacta na angiogênese e na permeabilidade vascular. • A hiperglicemia, em condições de cultivo de hipóxia tem aumentado a produção de VEGF em células de Müller da retina. Longa duração da hiperglicemia nas primeiras 96 horas de vida associa-se com severa hemorragia intraventricular nos recém-nascidos pré-termos Auerbach A, Friedman SE, Arad I, Peleg O, Abram TB, Oz B, Zangen DH. Apresentação: Lara Vieira S. Meira, Paulo R. Margotto • O grupo com HIV teve eventos mais frequentes e mais duradouros de hiperglicemia (10 horas de duração de mesmo leve hiperglicemia nos primeiros 4 dias de vida associou-se com risco de 10,33 vezes com a HIV); este achado sugere que alterações na homeostase da glicose são importantes como reflexo de um continuum de anormalidades biológicas; tornase assim importante o acompanhamento rigoroso da glicose nestes recém-nascidos na UTI Neonatal; no entanto, não houve associação significativa entre hipoglicemia e HIV. Nos links as implicações dos distúrbios da glicose no cérebro, olho e intestino! Insulina precoce nos recém-nascidos de muito baixo peso Beardsall K, Vanhaesebrouck S, Ogilvy-Stuart AL et al. Apresentação: Marília Aires • Early insulin therapy in very-low-birth-weight infants. ARTIGO INTEGRAL • Beardsall K et al. N Engl J Med. 2008 Oct 30;359(18):1873-84. • Diferença significante na mortalidade nos primeiros 28 dias de vida, mesmo corrigidos fatores de confusão (peso de nascimento e idade gestacional): (P = 0.04); maior no grupo tratado precocemente com insulina (11.9% x 5,75%). Então, como evitar e tratar a HIPERGLICEMIA nos pré-termos extremos? AMINOÁCIDOS NA PRIMEIRA PRESCRIÇÃO! • No intuito inicial de fornecer calorias e nitrogênio para prevenir o catabolismo e balanço de nitrogênio positivo, iniciar aminoácidos (AA) na primeira prescrição (1,5g/kg). • Estes RN apresentam uma perda protéica de 0,5-1g/Kg/dia, causando significante retardo do crescimento e outras morbidades, importantes como a hiperglicemia que resulta de uma diminuição da secreção de insulina em resposta à queda da concentração plasmática de aminoácidos responsáveis pela estimulação da insulina. Outra forma de entender como a administração precoce de aminoácidos previne a hiperglicemia! Apesar da grande síntese protéica nesta idade, a adequação do AA excede ao gasto para a síntese protéica e este excesso de AA é oxidado produzindo energia e esta oxidação é documentada pela identificação da uréia no metabolismo destes fetos. Quando o cordão umbilical é ligado ao nascer, há um corte abrupto de oferta de AA a esta criança e isto leva a um estado que a literatura chama de inanição. Este estado de inanição neste RN prematuro provoca uma produção exagerada de glicose. Por muitos anos, a hiperglicemia foi interpretada como intolerância destes RN a infusões de glicose. Em 2002, Sunehag AL e Haymond MW documentaram cientificamente que não havia um aumento de tolerância à glicose e sim a não necessidade da produção exagerada de glicose, pois não havia inanição quando se acrescentava precocemente AA ao esquema de nutrição parenteral do nosso RN pré-termo extremo. Boher, 2007 Nutrição parenteral: quando iniciar Autor(es): Mauro Silva de Athayde Bohrer (RS). Realizado por Paulo R. Margotto USO DE AMINOÁCIDOS:NA PRIMEIRA PRESCRIÇÃO HIPERGLICEMIA (Boher, 2007; Sunehag, 2002, Kaempf, 2010) Metabolismo fetal:Aminoácido (AA) grama fetal>AA grama materno -fonte energética -síntese proteica (3,8g/kg/dia:700-1000g Nascimento -corte abrupto da oferta de aminoácidos da produção insulina hiperglicemia (risco de ROP/ECN) INANIÇÃO produção exógena de glicose (intolerância a glicose?) -sem produção exógena de glicose Com o AA -melhora a hiperglicemia iatrogênica do prematuro OBRIGADO! Drs. Roberto, Cintia, Alexandre Serafim, Yuji, Fernanda Arantes e Laura Portanto... • Estudos anteriores mostraram menor morbidade com menores alvos de glicemia. A hipótese do presente estudo testou se o controle glicêmico rigoroso com alvo de 80 – 110 mg/dL(foi utilizado insulina para manter este alvo) versus o alvo de glicemia entre 150 – 180 mg/dL (360 e 353 pacientes, respectivamente) aumentaria os dias livres de UTI em crianças criticamente enfermas com hiperglicemia (2 glicemias acima de 150mg/dL) que tiverem insuficiência respiratória ou cardiovascular (pacientes entre 2 semanas e 17 anos).Não foi encontrada diferença entre os grupos quanto aos dias livres de UTI, maior incidência (significativa) de infecções (relacionadas ao cateter) no grupo de menor alvo, significativamente mais hipoglicemia (<40mg/dL) no grupo de menor alvo, sem diferenças na mortalidade aos 28 dias e 90 dias entre os grupos. Portanto, na Neonatologia manter a glicemia menor que 150mg/dL e maior que 5omg/dL, enquanto na UTI Pediátrica, talvez seja melhor manter entre 150-180mg/dL. Paulo R. Margotto