Engenharia Biomédica 07/08 2º Ano - 2º Semestre IST/FML Mendes,J.; Sousa e Silva,M .; Machado,M.; Santos,P. Biossíntese dos lípidos Metabolismo e Endocrinologia SÍNTESE DOS ÁCIDOS GORDOS • Quando comparado com a β-Oxidação dos ácidos gordos, a sua síntese dá-se em diferentes processos, é catalisado por diferentes tipos de enzimas e ocorre em diferentes lugares da célula. • Para que ocorra a síntese dos ácidos gordos, é essencial que exista malonil-CoA como intermediário(tal não acontece na β-Oxidação). •Transporte dos grupos acetilo através da membrana interna mitocondrial é realizada pelo citrato à custa de ATP; -citrato sintetase; -citrato liase; SÍNTESE DOS ÁCIDOS GORDOS Formação de malonil-CoA • É formado a partir de Acetil-CoA e de Bicarbonato(HCO3-). • Este processo é irreversível e é catalisado pela Acetil-CoA carboxilase. • A Acetil-CoA carboxilase catalisa a reacção e é composta por três subunidades polipéptidicas, fazendo parte de um único polipéptido multifuncional. • Esta enzima contém um grupo prostético Biotina, fundamental para a reacção catalisada. Acetil-CoA carboxilase: sítio alostérico Sítio de fixação da biotina transcarboxilase carboxilase biotina SÍNTESE DOS ÁCIDOS GORDOS – Formação de Malonil-CoA SÍNTESE DOS ÁCIDOS GORDOS - Complexo multienzimático • Nos mamíferos, a síntese é realizada por um complexo multienzimático, que funciona como um dímero(as 2 subunidades funcionam independentemente uma da outra). Este contém 7 centros activos diferentes, seis enzimas e uma molécula transportadora de grupos acilo (ACP): ACP (Acyl Carrier Protein) Acetil-CoA-ACP transacetilase β-Cetoacil-ACP sintase Malonil-CoA-ACP transferase β-Cetoacil-ACP redutase β-Hidroxiacil-ACP desidratase Enoil-ACP redutase • Contém também uma Tiosterase que promove a clivagem entre o ácido gordo final e o ACP. SÍNTESE DOS ÁCIDOS GORDOS - Complexo multienzimático SÍNTESE DOS ÁCIDOS GORDOS - Complexo multienzimático Proteínas do complexo multienzimático da sintase dos ácidos gordos Componente Função ACP – Proteína transportadora de grupos acil Transporta grupos acil através de uma ligação tioester AT – Acetil-CoA-ACP transacetilase Transfere os grupos acil da CoA para o grupo -SH da KS KS – β-cetoacil-ACP sintase Condensa o grupo acil e o malonil MT – Malonil-CoA-ACP transferase Transfere o grupo malonil da CoA para o ACP KR – β-Cetoacil-ACP redutase Redução do grupo β-ceto no grupo β-hidroxil HD –β-Hidroxiacil-ACP desidratase Remove H2O do β-hidroxiacil-ACP criando uma ligação dupla ER – Enoil-ACP redutase Reduz a ligação dupla, formando acil-ACP saturado SÍNTESE DOS ÁCIDOS GORDOS - Proteína Transportadora de grupos Acil (ACP) • Pequena proteína que contém um grupo prostético, 4’-fosfopantetaína. • O grupo –SH pertencente a este grupo prostético é o local de ligação do grupo malonilo (a CoA é libertada) durante a síntese, através da malonil-CoA-ACP transferase. SÍNTESE DOS ÁCIDOS GORDOS • Por cada ciclo de condensação redução, ocorrem 4 reacções diferentes: 1ª reacção – Condensação 2ª reacção – Redução do grupo carbonilo 3ª reacção – Desidratação 4ª reacção – Redução da ligação dupla SÍNTESE DOS ÁCIDOS GORDOS • 1ª reacção – Condensação Catalisada pela β-Cetoacil-ACP sintase(KS) O CO2 libertado nesta reacção é o mesmo introduzido na formação de malonil-CoA a partir do HCO3- •2ª reacção - Redução do grupo carbonilo Catalisada pela β-Cetoacil-ACP redutase(KR) Redução do grupo carbonilo em C-3 Dador de electões: NADPH + H+ • 3ª reacção - Desidratação Catalisada pela β-Hidroxiacil-ACP desidratase(HD) Elementos constituintes de H2O, removídos dos carbonos C-2 e C-3 Formação de trans-Δ2-butenoil-ACP • 4ª Reacção – Redução da ligação dupla Catalisada pela Enoil-ACP redutase(ER) Ligação dupla de trans-Δ2-butenoil-ACP é reduzida, formando butiril-ACP SÍNTESE DOS ÁCIDOS GORDOS • Um palmitato é libertado do ACP, após sete ciclos de condensação e redução. Os últimos 2 carbonos(C-16 e C-15 do palmitato), são derivados do acetil-CoA e os restantes de malonil-CoA. Pequenas quantidades de ácidos gordos de cadeias maiores como o estearato(18:0), também são formados. • Ácidos gordos insaturados ou de cadeia mais longa são produzidos a partir do ácido palmítico por acção de elongases e desaturases. SÍNTESE DOS ÁCIDOS GORDOS Podemos considerar a reacção geral da síntese do palmitato a partir de acetilCoA dividida em duas partes: • 1ª Parte – Formação de sete moléculas de malonil-CoA 7 Acetil-CoA + 7CO2 + 7ATP 7 Malonil-CoA + 7ADP + 7Pi • 2ª Parte – Sete ciclos de condensação e redução Acetil-CoA + 7 Malonil-CoA + 14NADPH + 14H+ 14NADP+ + 6H2O Palmitato + 7CO2 + 8CoA + • Resultado geral do processo: 8 Acetil-CoA + 7ATP + 14NADPH + 14H+ + 6H2O Palmitato + 8CoA + 7ADP + 7Pi + 14NADP+ SÍNTESE DOS ÁCIDOS GORDOS - Alongamento • Palmitato é o percursor de ácidos gordos de cadeias mais longas, podendo estas ser saturadas(Estearato 18:0), ou monoinsaturadas(Palmitoleato 16:1, Oleato 18:1). • Os mamíferos não conseguem converter o oleato em linoleato ou α-linolenato pois, não são capazes de criar ligações duplas entre o carbono C-10 e o grupo terminal metilo, logo estes são essênciais na dieta. SÍNTESE DOS ÁCIDOS GORDOS - Alongamento • Sistemas de alongamento de ácidos gordos, permitem a adição de grupos acetil ao palmitato, formando assim ácidos gordos de cadeias mais longas. Encontram-se presentes no retículo endoplasmático liso e na mitocôndria. • No processo de alongamento, é a Coenzima A em vez da ACP, que tem a função de proteína transportadora de grupos acil. • O processo de alongamento é idêntico ao processo de formação do palmitol, ocorrendo as seguintes reacções: Doação de dois átomos de carbono pelo malonil-CoA Redução Desidratação Redução para o produto saturado SÍNTESE DOS ÁCIDOS GORDOS - Dessaturação • O palmitato e o estearato são percursores de dois dos mais comuns ácidos gordos no tecido animal, o palmitoleato 16:1(Δ9) e o oleato 18:1(Δ9), ambos com uma ligação dupla do tipo cis entre C-9 e C10. • Os mamíferos não são capazes de criar ligações duplas nos ácidos gordos, entre o carbono C-10 e o grupo terminal metilo. • No processo de redução, a ligação dupla é introduzida através de uma reacção oxidativa catalisada pela acil-CoA dessaturase. • Neste processo intervém um citocromo (citocromo b5) e a flavoproteína (citocromo b5 redutase), ambos presentes no retículo endoplasmático liso. Síntese de Acilgliceróis Ácidos gordos sintetizados ou ingeridos pelo organismo Incorporados em triacilgliceróis Incorporados em componentes fosfolípidicas membranares A repartição entre essas duas alternativas irá depender das necessidades correntes do organismo. Nos tecidos animais os triacilglicerois e os fosfolípidos têm 2 precursores comuns: acilos-CoA e L-glicerol 3-fosfato: Formados a partir de ácidos gordos por acção de acil-CoA-sintetases (lembrar a activação na β -oxidação) Primeiro passo da biossíntese de triacilglicerol: Biossíntese do diacilglicerol 3-fosfato (ácido fosfatídico) - Composto central do metabolismo lipídico Reacções de acilação; •R1 geralmente saturado •R2 geralmente insaturado Pode ser convertido quer em triacilglicerol, quer em glicerofosfolípidos Síntese do triacilglicerol a partir do ácido fosfatídico: •Ácido fosfatídico é hidrolisado por uma fosfatase específica, originando um diacilglicerol; •O diacilglicerol é acilado a triacilglicerol (diacilglicerol-acil-transferase); fosfatase + diacilglicerol-acil-transferase : Complexo triacilglicerol-sintase Regulação hormonal da biossíntese dos triacilgliceróis A taxa da síntese de triacilgliceróis é profundamente alterada pela acção de determinadas hormonas: •Insulina; •Glicagina; •Adrenalina(epinefrina). Modificação covalente ( por desfosforilação hormonodependente); •Insulina: •Promove a conversão de Carbohidratos e proteínas da dieta em triacilgliceróis (insulina vai provocar uma desfosforilação da enzima acetil-CoA carboxilase, na sua forma activada a acetil-CoA carboxilase polimeriza-se em longos filamentos). •Diabetes (quando incontrolada) resulta numa diminuição da síntese de ácidos gordos e o aparecimento do acetyl-CoA do catabolismo proteíco e dos glícidos é desviado para a produção de corpos cetónicos. Glicagina e adrenalina: •Efeitos contrários aos da insulina: Promovem a mobilização de ácidos gordos e reduzem o uso de glicose como combustível -inibem a glicólise (glicemia) . (situações de jejum e exercício físico prolongado) A fosforilação, provocada pelas hormonas epinefrina e glicagina, inactiva a enzima e reduz a sua capacidade à activação pelo citrato, retardando assim a síntese de ácidos gordos; a fosforilação é acompanhada pela sua dissociação em subunidades monoméricas e pela consequente perda de actividade. Regulação não hormonal da Lipogénese •Palmitoil-CoA; •Citrato; •Malonil-CoA; •Expressão genética; •[NADPH]/[NADP+]. •Palmitoil-CoA; •Principal produto da síntese de ácidos gordos (inibidor alostérica da enzima acetil –CoA carboxilase); •Citrato : •O citrato tem um papel muito importante no metabolismo celular na medida que impede que o combustível metabólico seja consumido. [acetil-CoA] e [ATP] mitocondriais •Precursor acetil-CoA citosólico; •Activador alostérico, que actua na acetil-CoA carboxilase, aumentando Vmax; •Inibe a actividade da fosfofrutocinase-1, diminuindo o fluxo de carbonos através da glicólise. •Malonil-CoA: •(Inibição alostérica da carnitina aciltransferase I) Se a síntese de ácidos gordos e a β-oxidação se dessem ao mesmo tempo, os 2 processos constituiriam um ciclo fútil, perda de energia. Assim durante a síntese de ácidos gordos, a produção do primeiro intermediário, o malonil-CoA, não permite a β-oxidação ao nível da membrana mitocondrial interna. •Expressão genética: •Quando ingerimos excesso de ácidos gordos insaturados a expressão dos genes que codificam muitas enzimas lipogénicas no fígado é suprimida; •[NADPH]/[NADP+]: [NADPH]/[NADP+] promovem um forte ambiente redutor, favorecendo a síntese de ácidos gordos (e outras biomoléculas); Nessas 2 vias a produção de NADPH promove a síntese lípidica: - Desidrogenases da via das fosfopentoses (principal fonte de fornecimento); - Enzima málica; - Isocitrato desidrogenase. Insulina Citrato ATP (+) Acetil- CoA Malonil- CoA (-) HCO3- Oxaloacetato ADP+Pi Glicagina Epinefrina Palmitoil -CoA Síntese dos Glicerolípidos e Esfingolípidos Introdução -Glicerofosfolípidos (fosfolípidos); -Esfingolípidos (fosfolípidos ou glicolípidos). Podem ser formadas diferentes espécies de fosfolípidos por combinação dos diferentes ácidos gordos e grupos polares da cabeça com o glicerol ou a esfingosina; Introdução Vias de biossíntese de fosfolípidos (passos padrão): (1) a síntese de uma molécula esqueleto, glicerol ou esfingosina; (2) ligação do(s) acido(s) gordo(s) ao esqueleto, por ligação éster ou amida; (3) adição de uma cabeça polar hidrofílica através de uma ligação fosfodiéster; E, em alguns casos: (4) alteração ou da troca da cabeça para formar o fosfolípido final. Local: superfície do retículo endoplasmático liso e na membrana interna das mitocôndrias Formação do ácido fosfatídico Passos 1 e 2: - comuns à via dos triacilglicerois: dois àcidos gordos são esterificados no C-1 e C-2 do L-glicerol 3-fosfato Normalmente o ácido gordo no: -C-1 é saturado -C-2 é insaturado Ligação da cabeça polar (3º Passo) Ligação fosfodiester - cada um dos dois grupos hidroxilo (um da cabeça polar e outro do C-3 do glicerol) formam uma ligação éster com ácido fosfórico Ligação da cabeça polar (3º Passo) 2 estratégias para formação da ligação fosfodiester : Sintese de fosfolípidos pela E. Coli (CDPdiacilglicerol – 1ª estratégia) • Síntese da fosfatidilserina e fosfatidilglicerol por um ataque nucleofilo pelos grupos hidroxilo da serina e do glicerol 3-fosfato, respectivamente; • Podem servir como precursores de outros lípidos da membrana das bactérias, como por exemplo: -fosfatidiletanolamina (descarboxilação da fosfatidilserina); -cardiolipina (junção de duas moléculas do fosfatidilglicerol) Síntese de fosfolípidos aniónicos nos eucariotas (CDP-diacilglicerol – 1ª estratégia) Fosfolípidos aniónicos Síntese de fosfolípidos aniónicos nos eucariotas (CDP-diacilglicerol – 1ª estratégia) Fosfatidilglicerol = bactérias Cardiolipina - difere ligeiramente: o fosfatidilglicerol condensa-se com o CDPdiacilglicerol e não com outra molécula de fosfatidilglicerol como na E. coli Fosfatidilinositol - condensação de CDP- diacilglicerol com inositol Síntese de fosfatidilserina, fosfatidiletanolamina e fosfatidilcolina nos eucariotas Leveduras: - podem produzir fosfatidilserina pela condensação de CDP-diacilglicerol e serina; - produzem a fosfatidiletanolamina por descarboxilação da fosfatidilserina; -a fosfatidiletanolamina pode ser convertida em fosfatidilcolina pela adição de três grupos metilo a seu grupo amino Síntese de fosfatidilserina, fosfatidiletanolamina e fosfatidilcolina nos eucariotas Mamíferos: - a fosfatidilserina é sintetizadada a partir da a fosfatidiletanolamina por uma reacção de troca de cabeças; - a fosfatidiletanolamina e a fosfatidilcolina são sintetizadas pela estratégia 2 a partir da etanolamina e colina, respectivamente - apenas no fígado a fosfatidilcolina pode também ser produzida pela metilação da fosfatidiletanolamina Síntese de fosfatidilserina, fosfatidiletanolamina e fosfatidilcolina Biossíntese dos Esfingolípidos 4 etapas: (1) síntese de uma amina de 18 carbonos, a esfinganina, a partir do palmitoyl-CoA e da serina; (2) ligação de um ácido gordo por ligação amida; (3) formação da ligação dupla na molécula de esfinganina para formar N-acilesfingosina (ceramida); (4) ligação de um grupo da cabeça para formar um esfingolípido, tal como um cerebrósido ou uma esfingomielina Biossíntese dos Esfingolípidos