MAS, AFINAL, COMO FALAM (OU DEVERIAM FALAR) AS PESSOAS CULTAS? DINO PRETI Por Isac Andrade O PRESTÍGIO DA LÍNGUA A linguagem culta é prestigiada pela sociedade, esse prestígio é dado devido a função que ela exerce: de representar um grupo dentro do seio social. O estudo dessa variante não implica um critério de valor, mas de compreender como ela se constitui; e como esses aspectos constitutivos corroboram para seu prestígio e daqueles que a usam. As pessoas creem que exista um padrão ideal da língua, e que esse padrão seja superior aos demais, porém sabem que não dá para realizá-lo objetivamente. Por mais que prestigiem a linguagem culta, os falantes percebem que ela é ineficiente em certas situações de interação. A LINGUAGEM ORAL CULTA É praticada pelos falantes chamados cultos, mensurados pelo seu grau de escolaridade Mesmo possuindo um maior grau de escolaridade, os falantes dessa variante fazem com que ela divida espaço com a variante popular, por causa dos vários papéis que assume ao longo de suas práticas sociais. As grandes cidades urbanas favorecem esse fato, pois num mesmo dia um indivíduo pode exercer muitos papéis sociais. O USO DA LINGUAGEM ESTÁ ATRELADO AO PAPEL SOCIAL QUE O FALANTE EXERCE No momento da interlocução, segundo Preti, os falantes cultos possuem a habilidade e a prontidão para adaptar-se às mais diversas situações de interlocução e com os mais diversos interlocutores Preti também afirma que um falante culto não consegue sustentar um nível de fala mais formal numa interação espontânea “NOSSA LINGUAGEM É O CARTÃO DE VISITA QUE NOS PERMITE O ACESSO AO GRUPO SOCIAL EM QUE DESEJAMOS ENTRAR” O falante culto é aquele que adéqua sua linguagem de acordo com a situação de interação. É na sociedade urbana que ocorrem um sem número de variantes da linguagem, fazendo com que o falante seja flexível ao lidar com isso. O que diferencia os falantes cultos dos “incultos” é a capacidade de adequação, devido aos recursos que a língua oferece às diferentes situações de interação. A IMPORTÂNCIA EM COMPREENDER AS PARTICULARIDADES DO USO DA LINGUAGEM ORAL Para Preti, incultas são as pessoas que possuem certa dificuldade para impor suas ideias nas mais diversas situações de interação. Por isso que o professor de língua materna precisa compreender essas particularidades do uso da linguagem para exercitar em seus alunos a consciência sobre as variações. “UM POLIGLOTA DA PRÓPRIA LÍNGUA” Ninguém diz “Fi-lo chorar” em substituição à “Fiz ele chorar” ao explicar para a mãe a causa do olho roxo, por exemplo, após uma briga na escola, como a Gramática Normativa dita, visto que a primeira não se trata de uma forma linguística recorrente tanto entre crianças quanto entre adultos. O falante culto é aquele que dispõe de certa consciência sobre a prática da variação da linguagem. A LINGUAGEM ESCRITA CULTA A linguagem escrita também sofre variação quando se aproxima ou se afasta da língua oral. Sendo assim, também precisa estar adequada à situação de interação, ou seja, precisa aproximarse do leitor. Marcuschi, citado por Preti, considera que o advento da internet propiciou a flexibilização da escrita. NÃO VALE A PENA SER PURISTA QUANTO A VARIAÇÃO DA LINGUAGEM Preti percebe que os meios de comunicação de massa contribuem para a flexibilização da escrita, pois tencionam cativar um público cada vez mais heterogêneo e livre de purismos linguísticos. CONSIDERAÇÕES FINAIS O fenômeno da variação está longe de caracterizar uma crise no uso da língua, adverte Preti. Isso é um processo natural de evolução, que reflete as alterações sociais da comunidade. A língua reflete as crenças da sociedade: Aceitar ou não aceitar certas formas linguísticas se dá por conta dos seus avanços ou ranços. QUAIS SÃO, AFINAL, AS PESSOAS CULTAS DE VERDADE? São aquelas que não se frustram por não saber adequar a linguagem à situação de interação. REFERÊNCIA PRETI, Dino. Estudos de língua oral e escrita. Rio de Janeiro: Lucerna, 2004