SECRETARIA DE ESTADO DE SAÚDE DO DISTRITO FEDERAL HOSPITAL MATERNO INFANTIL DE BRASÍLIA PROGRAMA DE RESIDÊNCIA MÉDICA EM PEDIATRIA RANISE NUNES PEREIRA MOURA ASPECTOS GERAIS DO TRATAMENTO DA FEBRE EM PEDIATRIA: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Brasília – DF 2014 www.paulomargotto.com.br RANISE NUNES PEREIRA MOURA ASPECTOS GERAIS DO TRATAMENTO DA FEBRE EM PEDIATRIA: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Projeto apresentada ao Programa de Residência Médica em Pediatria da Secretaria de Saúde do Distrito Federal, como requisito para obtenção do título de especialista em Pediatria. Orientadora: Freire Brasília, 19 de Novembro 2014 BANCA EXAMINADORA Orientador 1º Membro da Banca Examinadora 2º Membro da Banca Examinadora SUMÁRIO Sylvia Maria Leite 1. INTRODUÇÃO ---------------------------------------------05 2. OBJETIVOS -------------------------------------------------07 3. METODOLOGIA --------------------------------------------08 4. DISCUSSÃO -------------------------------------------------09 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ------------------------------15 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS --------------------16 RESUMO Introdução:Febre é definida como elevação da temperatura corpórea, sendo parte integrante da resposta inflamatória aguda. Trata-se de uma entidade clínica bastante comum na infância e é motivo de frequentes consultas aos serviços de emergência. Apesar de ser considerada benigna e desejável para uma melhor resposta do hospedeiro contra uma possível infecção, os pais ou responsáveis pelas crianças ainda a veem como uma doença em si e como um risco para complicações maiores. A necessidade de tratamento da febre é polêmica e são escassas evidências sobre a eficácia de esquemas alternados, em comparação à monoterapia. Objetivos:Realizar uma revisão de literatura e sumarizar os achados mais recentes sobre um tema bastante comum na pediatria: a febre, analisando os tratamentos específicos propostos pela literatura. Metodologia: Realizar pesquisa no banco de dados do Pubmed, Scielo, Cochrane. Usando as seguintes palavras-chaves: febre, criança, antipiréticos, acetaminofeno, dipirona, ibuprofeno. Discussão:A febre é um importante sinal clínico e o primeiro passo no tratamento é determinar a sua causa. Uma vez que a causa é conhecida, a principal razão para tratar a febre é para melhorar o conforto da criança. Os antitérmicos estão entre os fármacos mais utilizados em crianças e no Brasil as drogas mais utilizadas são dipirona, paracetamol e ibuprofeno. Embora haja plausibilidade biológica em utilizar o esquema de antipiréticos alternados ainda não há concordância nos estudos sobre o melhor esquema padrão, principalmente no que concerne ao intervalo de doses entre medicamentos diferentes, nem mesmo se o uso não poderia ser combinado. Conclusão: O uso de medicamentos para controlar a febre é uma prática comum, incluindo esquemas alternados de antipiréticos. A maioria dos cuidadores considera como febre temperaturas inferiores às preconizadas, e apontou não resposta à monoterapia e indicação médica como as principais razões para o uso alternado de antipiréticos. Embora haja uma tendência na redução das médias de temperatura com antipiréticos alternados em relação aos antipiréticos isolados, não existe evidência suficiente para afirmar que essa prática é mais eficaz que a monoterapia. ABSTRACT Introduction: Fever is defined as an increase in body temperature, being an integral part of the acute inflammatory response. This is a fairly common clinical entity in childhood and leads to frequent visits to the emergency services. Although considered benign and desirable for a better host response against possible infection, the parents or guardians of children still see it as a disease in itself and as a risk for major complications. The need for treatment of fever is controversial and is scarce evidence on the effectiveness of alternate schemes, compared to monotherapy. Objectives: To review the literature and summarize the latest findings about a fairly common theme in pediatrics: fever, analyzing the specific treatments proposed in the literature. Methodology: Conduct research in Pubmed database, SciELO, Cochrane. Using the following keywords: fever, children, antipyretic, acetaminophen, dipyrone, ibuprofen. Discussion: Fever is an important clinical sign and the first step in treatment is to determine its cause. Once the cause is known, the main reason to treat the fever is to improve the comfort of the child. The antipyretics are among the most popular drugs in children in Brazil and the most commonly used drugs are dipyrone, paracetamol and ibuprofen. Although there is biological plausibility of using the scheme of alternating antipyretics still no agreement on the best studies on standard procedures, especially in relation to the interval between doses of different drugs, even if the use could not be combined. Conclusion: The use of medications to control fever is a common practice, including alternating antipyretics schemes. Most caregivers considered as fever temperatures lower than recommended, and showed no response to monotherapy and medically indicated as the main reasons for the alternate use of antipyretics. Although there is a tendency towards a reduction of the average temperature with antipyretics alternating in relation to antipyretics isolated susuficiente there is no evidence to say that this practice is more effective than monotherapy. Introdução Febre é definida como elevação da temperatura corpórea, sendo parte integrante da resposta inflamatória aguda. Não há consenso absoluto entre os vários autores a respeito da definição exata de febre em crianças. A maioria classifica como febre a temperatura retal acima de 38ºC, mas alguns consideram febre temperatura retal acima de 37,7ºC ou 38,3ºC (1). A medida da temperatura axilar, timpânica ou por palpação são consideradas menos confiáveis. Apesar disso, em nosso meio, a medida axilar com termômetro de mercúrio em vidro é a mais usada. A temperatura axilar é 0,3 a 0,4ºC menor do que a temperatura retal(1). Trata-se de uma entidade clínica bastante comum na infância e é motivo de frequentes consultas aos serviços de emergência(2,3,4,5,6). Apesar de ser considerada benigna e desejável para uma melhor resposta do hospedeiro a uma possível infecção, os pais ou responsáveis pelas crianças ainda a veem como uma doença em si e como um risco para complicações maiores, como convulsões ou dano cerebral(2,3,4,6). A necessidade de tratamento da febre é polêmica, pois a resposta febril está associada a aspectos positivos, como o aumento da migração de neutrófilos e a produção de interferon gama e outras citocinas, que desempenham relevante papel na resposta imune para a eliminação de vírus e bactérias. Em animais de experimentação, a supressão da febre está associada a maior letalidade nas infecções bacterianas e, em humanos, a redução da temperatura com o uso de antitérmicos pode ocasionar excreção mais prolongada de vírus respiratórios(7). Estudos com pais e cuidadores demonstraram que a principal medida adotada frente a um episódio febril é a utilização de medicamentos, sendo os métodos não farmacológicos utilizados antes do medicamento ou associados ao mesmo. Uma parcela dos pais, no entanto, acaba adicionando um medicamento diferente, motivado pela suposta falha do primeiro ou pelo fato de a criança continuar febril, por orientação médica ou por temores em relação à febre passando a administrar dois antitérmicos de forma alternada(2). As evidências sobre a eficácia de esquemas alternados, em comparação à monoterapia são escassas e apontam para diferenças clinicamente desprezíveis, além de agregar riscos de intoxicação e efeitos adversos (2,3,7). Objetivo geral O objetivo desta revisão de literatura é sumarizar os achados mais recentes sobre um tema bastante comum na pediatria: a febre, analisando os tratamentos específicos propostos pela literatura. Objetivos específicos Revisar particularidades dos fármacos mais frequentemente utilizados na faixa etária pediátrica; Conhecer aspectos referentes à indicação do uso alternado de antipiréticos na faixa etária pediátrica e sua efetividade. Metodologia Foi realizada pesquisa nos banco de dadosPubmed, Scielo, Cochrane. Não houve restrição para idioma ou ano de publicação. Foram usadas as seguintes palavras-chaves: febre, crianças, antipiréticos, acetominofeno, dipirona, ibuprofeno e selecionados artigos de acordo com os títulos dos trabalhos.Foram retiradas as entidades repetidas. Discussão A febre éo resultado deuma sériede acontecimentosaltamentecoordenadaquecomeçaperifericamentecoma síntese elibertação deinterleucina(IL) -1, IL-6, factor de necrosetumoral (TNF), interferon(IFN-alfa), eoutrascitocinaspirogênicasendógenaspor célulasfagocíticasno sangueoutecidos. Estas citocinasentram no sangueesão transportadas paraohipotálamo anterior, onde induzemum aumento abruptona síntese deprostaglandinas, especialmente a prostaglandinaE2(PGE2). Ainduçãode PGE2no cérebro(hipotálamo)é a responsável pelo aumento da temperatura do corpo(8). Além de causarfebre, citocinaspirogênicasaumentama síntese deproteínas de faseagudano fígado, diminuem os níveisde ferro e zincono soro, induzema leucocitosee 1tambéminduz o acelerama sonode proteólisedo ondas músculoesquelético. lentas, o que IL- talvez expliqueasonolênciafrequentemente associada adoenças febris. Oaumentode PGE2periféricapode contribuir paraasmialgias eartralgiasque muitas vezes acompanhama febre. Aumento da frequência cardíacaé uma respostafisiológica normalafebre(9). Os reprodução benefícios dealgumas adiminuiçãodo ferro potenciaisde bactériase sérico) febreincluemretardodocrescimento vírus (talvez ereforçadaa relacionadas função e com imunológicaem temperaturasmoderadamente elevadas(embora alguns dos benefíciossão revertidosemtemperaturas próximasde 40ºC(10,11). No entanto, assim como acontece com a função imunológica,os benefícios podemser diminuídosou mesmorevertidoscom o aumento datemperatura(12,13). Entre os principais malefícios relacionados a febre está o desconforto proporcionado ao paciente(14,15). Tal fato está associado com o aumento da taxa metabólica, o consumo de oxigênio, produção de dióxido de carbono, e as demandas sobre os sistemas cardiovascular e pulmonar. Para a criança normal, essas tensões são de pouca ou nenhuma conseqüência. No entanto, para a criança que apresenta quadro de choque ou para a aquela com anomalias pulmonares ou cardíacas, as exigências aumentam e podem ser prejudicials,compensando qualquer eventual benefício imunológico da febre(16). Logo a febre é um importante sinal clínico e o primeiro passo no tratamento é determinar a sua causa. Uma vez que a causa é conhecida, a principal razão para tratar a febre é para melhorar o conforto da criança (12). Os antitérmicos estão entre os fármacos mais utilizados em crianças, com ou sem prescrição médica, e são comumente causa de intoxicações, em geral por erro na administração de dose ou intervalo, ou por interação medicamentosa (6,). Existem poucos estudos bem desenhados para comparar a eficácia e a segurança dos diferentes antitérmicos em crianças, os dois principais aspectos na escolha da droga(6). O universo das drogas utilizadas como antitérmicos no Brasil gira em torno da dipirona, paracetamol e ibuprofeno. É sabido que o mundo ocidental sofre grande influência dos Estados Unidos e o fato da dipirona não ser aprovada pelo FoodandDrugAdministration (FDA), o ácido acetilsalicílico estar associado à Síndrome de Reye em algumas viroses, impôs a estes fármacos inúmeras restrições, favorecendo a maior prescrição de paracetamol e ibuprofeno (6,13) O paracetamol ou acetaminofeno é um analgésico e antitérmico, muito utilizado em nosso meio. É o n-acetil-p-aminofenol, metabolito ativo na fenacetina, analgésico bastante conhecido derivado alcatrão. (16,17) Foi utilizado a primeira vez em 1890, quando foi isolado em urina de pessoas que haviam usado a fenacetina (18) . Desde 1950, é o analgésico/antitérmico mais utilizado nos EUA, quando ganhou popularidade (18) . Tem sua segurança e eficácia bem estabelecida (18) . Não produz nenhum efeito sobre o sistema cardiovascular e digestivo. Entretanto, é considerado a principal causa de insuficiência hepática na Grã-Bretanha e Estados Unidos da América, seja por ingestão acidental ou uso abusivo, e a principal causa de morte por medicamentos relatada à Academia Americana de Pediatria (16,17) . Sabe-se que o paracetamol age na via das ciclooxigenases impedindo a formação de prostaglandinas, assim como os antiinflamatórios não- esteroidais(AINEs), entretanto, paracetamol não age sobre a agregação plaquetária, a inflamação e não tem efeitos colaterais sobre o trato gastrointestinal. Assim, paracetamol não parece agir perifericamente e sim ter um efeito central (19,20) . Seu efeito antipirético é decorrente da ação direta em centros hipotalâmicos. Produz uma vasodilatação periférica, aumento do fluxo sanguíneo, sudorese e perda de calor e agiria modulando a temperatura corpórea (19,20,21) . Tem fraca potência como antiinflamatório e por isso não é útil para tratar condições inflamatórias. Isso se deve, provavelmente, ao fato do paracetamol ser um inibidor fraco da ciclooxigenase em presença de concentrações altas de peróxidos nas lesões inflamatórias (18) . A dose recomendada para criança é de 10 a 20mg/kg, sendo a dose tóxica de 120 a 150mg/kg apresenta poucas reações (20) . Quando utilizado em doses terapêuticas adversas. A hepatotoxicidade, levando a insuficiência hepática fulminante (reação adversa mais temida) é complicação (6) pouco frequente . A dipirona teve sua síntese em1883, quando, ao se pesquisar um termolítico substituto para quinina (antimalárico peruano derivado da Cinchona), Perkin isolou o primeiro corante sintético – a anilina – que serviu para extração do derivado pirazolônico, a antipirina. O metamizol ou dipirona é um derivado pirazolônicosintetizado pela primeira vez na Alemanha em 1920 (22) . Desde sua introdução no mercado mundial e no Brasil em 1922, sob o nome de Novalgina® pela Hoechst, dipirona tem sido amplamente utilizada (22,23) . Sua comercialização foi mundialmente crescente até 1970, quando foram relatados casos graves de agranulocitose, exigindo suspensão do medicamento e tratamento médico de urgência. Foi por isso proscrita em diversos países, como EUA, Inglaterra, Suécia, Austrália e Japão. Entretanto, este fármaco vem sendo utilizado em diversos países como Brasil, Rússia, Índia e outros países africanos, sul-americanos, caribenhos e asiáticos (23) . Embora haja grandes ataques ao uso da dipirona, sua ação na dor e na febre já foi amplamente comprovada em diversos estudos e é um dos antitérmicos e analgésicos mais prescritos no Brasil (24) . Seu mecanismo de ação não é totalmente esclarecido. A dipirona possui ação anti-cicloxigenase periférica, mas seu efeito antitérmico parece ser mediado pela inibição de IL-8, em uma via pirogênica intermediada pelo fator liberador de ACTH e independente das prostaglandinas. É bastante provável, entretanto, que a dipirona também bloqueie a COX -2 ou 3 na síntese de prostaglandinas no sistema nervoso central e, notadamente, no hipotálamo, dada a sua extrema eficiência como antitérmico Trata-se de um (22,25,26) . fármaco muito imunogênico, sendo responsável nãosomente pela reação de hipersensibilidade na medula óssea, mas por todo um espectro de doenças imunogênicas graves como nefrite intersticial, hepatite, alveolite e pneumonite tanto quanto doenças cutâneas graves como a síndrome de Steven-Johnson ou a de Lyell (27) . Está freqüentemente associado à discrasias sanguineas como anemia aplástica, mais raramente, e agranulocitose. Por isso tem seu uso proibido em diversos países. Entretanto, a prevalência de agranulocitose não é uniforme em todo o mundo. No Brasil, diversos estudos não comprovaram o aumento do número de agranulocitose induzida pela dipirona.A associação entre dipirona e a aplasia de medula é menor que a associação com agranulocitose, entretanto, é mais grave, pois o desfecho fatal é mais comum (27) . Para tratamento da febre em crianças, a dose usual varia de 10 a 20mg/kg/dose de 6/6h(28). O ibuprofeno (ácido 4-isobutil-α-metilfenilacético) é um antiinflamatório nãoesteroidal, derivado do ácido propiônico, que tem boa ação como antitérmico (29). É uma molécula que foi desenvolvida na década de 60 e é utilizada na Inglaterra desde 1967. Liberado para uso nos Estados Unidos da América em 1974 para tratamento de artrite e, em 1984, liberado seu uso como analgésico pelo FDA. Sua aprovação para uso pediátrico foi em 1989, mas só em 1995 foi possível sua compra sem prescrição médica(29,30). Ibuprofeno é um antiinflamatório não-esteroidal, inibidor não-seletivo da COX-1 e da COX-2. Impede a formação de prostaglandinas pela via dos tromboxanos. Entretanto, não impede a formação de leucotrienos pela via das lipoxigenages(29). Atua como antitérmico impedindo a formação de prostaglandinas, principalmente a tipo 2 nas regiões periventriculares e perto do hipotálamo(16,17). Assim como todos os antiinflamatórios não-esteroidaisnão-seletivos, o ibuprofeno pode provocar reações no trato gastrointestinal como náuseas, diarréia, epigastralgia e úlceras, sintomas relacionados a inibição da COX-1. Há risco de provocar hemorragia digestiva alta em 0,072% dos casos e em alguns estudos foi demostrado risco de neutropenia. Foi raramente associadaà agranulocitose e aplasia de medula (30). A dose usualmente recomendada é de 5 a 10 mg/kg/dose 3 a 4 vezes por dia(8). Em relação a terapia combinada o medicamento mais utilizadofoi o paracetamol. Nos estudos realizados nos Estados Unidos e Inglaterra, onde não se é utilizada a dipirona, o ibuprofeno é o principal antitérmico usado de forma alternada com o paracetamol(2). Embora haja plausibilidade biológica em utilizar o esquema de antipiréticos alternados para aumentar o tempo sem febre nas crianças, não há consenso nos estudos sobre o melhor esquema padrão, principalmente no que concerne ao intervalo de doses entre medicamentos diferentes, nem mesmo se o uso não poderia ser combinado – dois medicamentos no mesmo horário(5,33,34). Elevado percentual de erro na dosagem e intervalos na administração desses medicamentos pelos pais devem alertar para a necessidade de educação sobre o processo febril e o emprego racional da terapia com antipiréticos(2,5,34,35). Parece que o desconhecimento ou falta de orientação dos cuidadores quanto às doses recomendadas para tratamento da febre estendese à temperatura considerada febre. Considerando a variabilidade de medidas obtidas por diferentes termômetros e locais de aferição, a oscilação natural da temperatura corporal de acordo com a hora do dia, fatores ambientais, idade e variabilidade individual, a definição de febre pela temperatura corporal é arbitrária (5). A administração de subdoses de antipiréticos e os valores de temperatura utilizados para o diagnóstico de febre abaixo dos valores preconizados sugerem falta de orientação dos cuidadores e febrefobia. A ansiedade que acomete os pais e o desconhecimento sobre o tempo necessário para o início do efeito antitérmico poderia explicar, em parte, a utilização de doses em intervalos menores que quatro horas e a suposta ausência de resposta ao primeiro medicamento utilizado, referida pelos cuidadores como justificativa para o uso de terapia alternada (2). Se levarmos em consideração que a maioria dos cuidadores refere utilizar um segundo antipirético pela falha de ação do primeiro, a correta orientação da dose a ser utilizada poderia evitar o emprego de um segundo medicamento e consequente exposição ao risco de efeitos adversos inerentes a eles. Embora muitos profissionais postulem que o uso alternado de antipiréticos não apresenta riscos óbvios para as crianças, pode ocorrer muita confusão devido às várias dosagens, formulações, concentrações e dispositivos de administração, gerando resposta negativa ou retardo no efeito antitérmico desejado (2,5). A literatura é vasta em trabalhos que comparam o acetaminofeno com o ibuprofeno e contempla estudos com a dipirona com acetaminofeno, porém, é restrita quanto aos que relacionam o ibuprofeno com a dipirona (36). Recentemente o iburprofeno foi introduzido na prática pediátrica como antitérmico e analgésico. Eventos adversos como sangramento digestivo, insuficiência renal e anafilaxia foram descritos em adultos associados ao uso do iburprofeno e outro anti-inflamatórios não esteroides. Tais eventos são raros em crianças. No entanto, ainda há pouco na literatura a respeito do assunto (5,33). Quanto à eficácia, o ibuprofeno na dose de 5-10 mg/kg é mais efetivo em reduzir a temperatura do que o acetaminofeno (10-15 mg/kg), depois de duas, quatro e seis horas da ingestão, embora o efeito analgésico do ibuprofeno (4-10 mg/kg) seja semelhante ao do acetaminofeno (7-15 mg/kg) (37).Para febre elevada, com temperatura retal acima de 39ºC, 10 mg/kg de ibuprofeno têm ação mais efetiva que o paracetamol, mas o mesmo não é verdadeiro para febre mais baixas (7). Um estudo multicêntrico mostrou que a dipirona na dose de 20 mg/kg propiciou redução da temperatura por período de tempo mais longo que o paracetamol (12,5 mg/kg) e o ibuprofeno (5 a 10 mg/kg) (2,7). Dois estudos randomizados avaliaram o uso de diferentes antitérmicos, alternadamente; ambos demonstraram que o uso alternado de ibuprofeno e paracetamol é mais efetivo do que a monoterapia para manter a criança afebril11,12. Em nossa revisão da literatura, não encontramos nenhum estudo que comparasse o uso alternado desses antitérmicos com a dipirona (7,38,39). Não encontramos evidências definitivas que suportem o uso alternado de antipiréticos para tratamento da febre em crianças. A indefinição existente sobre o tratamento da febre de forma agressiva ainda necessita ensaios clínicos que avaliem não somente quantos graus a temperatura em cada grupo diminui, mas o impacto dessa terapia no bem-estar do paciente, relacionado principalmente com morbidade/mortalidade. Esses resultados somente poderão ser obtidos com estudos mais longos, com maior número de participantes e que incluam outros antipiréticos de amplo uso no Brasil e em outros países, como a dipirona(5). Considerações Finais Conclui-se que o uso de medicamentos no manejo da febre é uma prática comum em crianças, incluindo a adoção de esquemas alternados de antipiréticos. A maioria dos cuidadores considera como febre valores de temperatura inferiores aos recomendados, apontando a não resposta à monoterapia e indicação médica como as principais razões para o uso alternado de antitérmicos. Medidas educativas, que esclareçam a população sobre o que é a febre, quando e como tratá-la, poderão auxiliar no uso correto dos medicamentos e evitarão a procura excessiva por consultas não programadas e atendimentos de emergência(2). Embora haja uma tendência na redução das médias de temperatura com antipiréticos alternados em relação aos antipiréticos isolados, não existe evidência suficiente para afirmar que essa prática é mais eficaz ou segura que a monoterapia (5). Referência Bibliograficas 1. 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