Positivismo: August Comte 1798-1857 PROFª KARINA OLIVEIRA BEZERRA UNIDADE 1: CAPÍTULO 5 História e progresso O século XIX é, na Filosofia, o grande século da descoberta da História ou da historicidade do homem, da sociedade, das ciências e das artes. É particularmente com o filósofo alemão Hegel que se afirma que a História é o modo de ser da razão e da verdade, o modo de ser dos seres humanos e que, portanto, somos seres históricos. No século passado, essa concepção levou à idéia de progresso, isto é, de que os seres humanos, as sociedades, as ciências, as artes e as técnicas melhoram com o passar do tempo, acumulam conhecimento e práticas, aperfeiçoando-se cada vez mais, de modo que o presente é melhor e superior, se comparado ao passado, e o futuro será melhor e superior, se comparado ao presente. Essa visão otimista também foi desenvolvida na França pelo filósofo Augusto Comte, que atribuía o progresso ao desenvolvimento das ciências positivas. Essas ciências permitiriam aos seres humanos “saber para prever, prever para prover”, de modo que o desenvolvimento social se faria por aumento do conhecimento científico e do controle científico da sociedade. É de Comte a idéia de “Ordem e Progresso”, que viria a fazer parte da bandeira do Brasil republicano. “O nome “positivismo” tem sua origem no adjetivo “positivo”, que significa certo, seguro, definitivo. Como escola filosófica, derivou do “cientificismo”, isto é, da crença no poder dominante e absoluto da razão humana em conhecer a realidade e traduzi-la sob a forma de leis que seriam a base da regulamentação da vida do homem, da natureza e do próprio universo. Com esse conhecimento pretendia se substituir as explicações teológicas, filosóficas e de senso comum por meio das quais até então o homem explicaria a realidade e a sua participação nela.” (COSTA, Cristina. Sociologia: introdução à ciência da sociedade. São Paulo, 2005) Positivismo O termo positivismo identifica a filosofia que busca seus fundamentos na ciência e na organização técnica e industrial da sociedade moderna. O método científico é o único válido para se chegar ao conhecimento. Reflexões ou juízos que não podem ser comprovados pelo método científico, como os postulados da metafísica, não levam ao conhecimento e não tem valor. Na obra Discurso sobre o espírito positivo, August Comte aponta as características fundamentais que distinguem o positivismo das demais filosofias. São elas: Pesquisa de fatos concretos, acessíveis à nossa inteligência, deixando de lado a preocupação com mistérios impenetráveis, referentes às causas primeiras e últimas dos seres.(Realidade) Busca de conhecimentos destinados ao aperfeiçoamento individual e coletivo do homem, desprezando as especulações ociosas, vazias e estéreis; (Utilidade) Obtenção de conhecimentos capazes de estabelecer a harmonia lógica na mente do próprio indivíduo e a comunhão em toda a espécie humana, abandonando as dúvidas indefinidas e os intermináveis debates metafísicos; (Certeza) Lei dos Três Estados A filosofia da História – o primeiro tema da filosofia de Augusto Comte – foi sistematizada pelo próprio Comte na célebre “Lei dos Três Estados” e tinha o objetivo de mostrar por que o pensamento positivista deve imperar entre os homens. Teológico ou Fictício: os fenômenos são explicados através de vontades de seres sobrenaturais e/ou transcedentais. O Estado Teológico pode ser dividido em 3 fases progressivas: Metafísico: os fenômenos são explicados por meio de forças ocultas e/ou entidades abstratas. As abstrações personificadas substituem as vontades sobrenaturais. Positivo: o espírito humano renuncia a busca das causas primárias e dos fins últimos (“de onde viemos”?, "para onde vamos”?), subordinando os fenômenos a leis naturais experimentamente demonstradas. As causas absolutas (os porquês) e os fins (finalidades últimas) por serem inacessíveis ao exame científico, são substituidas pelo estudo e descobertas das Leis Naturais que explicam como os fenômenos ocorrem. No estágio positivo procura-se descobrir as leis segundo as quais os fenômenos se encadeiam uns aos outros. Lei da atividade prática: o ser humano começa sua história fazendo a guerra expansionista, isto é, para conquistar territórios; em seguida, ele faz guerra defensiva, ou seja, faz guerras para defender-se de ataques externos; por fim, a sua atividade principal deixa de ser guerreira e torna-se pacífica, destinada à satisfação das várias necessidades humanas (materiais, intelectuais, afetivas). Lei dos sentimentos e dos instintos, o ser humano começa sua história preocupando-se com suas vinculações familiares (clãs, tribos), em que a base da associação é o respeito aos mais velhos (ou aos mais fortes). Em seguida, as associações humanas ampliam-se e sua base passa a ser cívica, nas cidades ou nas nações; por fim, o ser humano vincula-se a toda a humanidade, por meio da mais pura bondade (isto é, a preocupação com os outros, com os mais fracos ou com quem vem depois de nós). Comte cunhou a palavra "altruísmo" em 1831 para caracterizar o conjunto das disposições humanas (individuais e coletivas) que inclinam os seres humanos a dedicarem-se aos outros. Na doutrina comtiana, o altruísmo pode apresentar-se em três modalidades básicas: o apego, a veneração e a bondade. O apego refere-se ao vínculo que os iguais mantêm entre si; A veneração refere-se ao vínculo que os mais fracos têm para com os mais fortes (ou os que vieram depois têm com os que vieram antes); A bondade é o sentimento que os mais fortes têm em relação aos mais fracos (ou aos que vieram depois). O lema da bandeira do Brasil, “Ordem e Progresso”, indica a forte influência do positivismo na formação política do Estado brasileiro. A inscrição é uma forma abreviada do lema político positivista cujo autor é o francês Auguste Comte: O Amor por princípio e a Ordem por base; o Progresso por fim. O positivismo vinha expor de maneira sistemática a confiança da burguesia em seu impulso transformador da estrutura. A Religião da Humanidade Muito embora o positivismo seja uma escola filosófica onde domina o cientificismo, ela é também responsável por uma postura profundamente religiosa. Isto porque, a partir do encontro de Auguste Comte com Clotilde de Vaux, ou seja, após aquilo que ele chamou de sua "regeneração moral", desenvolveram-se em seu pensamento os elementos utópicos. De filosofia da história, o positivismo comtiano transformou-se em religião da humanidade, com sua teologia, seus rituais, sua hagiografia. O cívico tornou-se religioso: os santos da nova religião era os grandes homens da humanidade, os rituais eram festas cívicas, a teologia era sua filosofia e sua política. A mulher adquiriu importância crucial, sempre representada pela figura de Clotilde de Vaux, que, por determinação do mestre, deveria estar presente em todos os templos positivistas. A Virgem católica, alegoria da Igreja, tornou-se no positivismo a Virgem-Mãe, alegoria da humanidade. O novo culto foi minuciosamente descrito. Há um calendário positivista, com 13 meses, cada mês com quatro semanas, cada semana com sete dias. Cada mês e cada dia são dedicados a uma figura considerada importante na evolução da humanidade. O templo positivista deveria exibir a estátua da humanidade em posição central. Haveria também altares laterais, um deles dedicado às santas mulheres. A Religião da Humanidade A Religião da Humanidade também é conhecida como "Positivismo Religioso“. Estabeleceu as bases de uma completa espiritualidade humana, sem elementos extra-humanos ou sobrenaturais. O positivismo é um culto de amor e reconhecimento pelos parentes, pelos grandes homens, pelas instituições sociais, pela pátria e pelos antepassados. É um sistema de vida moralizador, um regime sem distinções de classe, cor e raças, de uma vida sem conflitos, tendo como principal interesse o coletivo e não individual, e que organiza a vida social pelos moldes científicos. O seu lema fundamental é O amor por princípio, e a ordem por base, o progresso por fim. Templo Positivista de Porto Alegre, Rio Grande do Sul-1900 Igreja Positivista do Brasil, Rio de Janeiro