centro brasileiro de reabilitação e apoio ao deficiente visual

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CENTRO BRASILEIRO DE REABILITAÇÃO E APOIO AO DEFICIENTE VISUAL CEBRAV
BASES NEUROLÓGICAS DA APRENDIZAGEM: O FUNCIONAMENTO DO
CÉREBRO NO PROCESSO ENSINO E APRENDIZAGEM
Texto elaborado por Mara Musa Soares Silveira: filósofa e especialista em
psicopedagogia clínica e institucional, e adaptado pelo professor de Educação Física
Gérson Carneiro de Farias, mestre em Educação Especial, no ano de 2010.
A Neurologia é o estudo do Sistema Nervoso Central (SNC): suas
relações e transtornos. Portanto, intimamente ligada ao estudo do
funcionamento do organismo, isto é, sua fisiologia. Nesse sentido, também
ligada a Neuropsicologia por estudar a relação entre o cérebro e o
comportamento do indivíduo.
Em decorrência dos avanços das pesquisas neurológicas e estudos
realizados por neurocientistas; é curioso conhecer o funcionamento do cérebro
e sua plasticidade 1 ; que mesmo sofrendo traumatismos, tem condições de
reconstruir-se na busca da construção do conhecimento humano.
Assim, a neurociência é o estudo da realização física do processo de
informação no SNC humano. O estudo da neurociência engloba três áreas
principais: a neurofisiologia, a neuroanatomia e neuropsicologia.
A neurofisiologia é o estudo das funções do sistema nervoso. Ela utiliza
eletrodos para estimular e gravar a reação das células nervosas ou de área
maiores do cérebro. Ocasionalmente, separaram as conexões nervosas para
avaliar os resultados.
A neuroanatomia é o estudo da estrutura do sistema nervoso, em nível
microscópico e macroscópico. Os neuroanatomistas dissecam o cérebro, a
coluna vertebral e os nervos periféricos fora dessa estrutura.
A neuropsicologia, como relatada, é o estudo da relação entre as funções
neurais e psicológicas. A principal pergunta da neuropsicologia é qual área
específica do cérebro controla ou media as funções psicológicas. O principal
método de estudo usado pelos neuropsicólogos é o estudo do comportamento
1
Implica a presença de uma estrutura básica, com a qual cada membro da espécie nasce e a
partir da qual se estabelecerão os modos de funcionamento do Sistema Nervoso Central
(LURIA, 1997, p. 86). Trata-se de uma habilidade que permite aos circuitos de neurônios
preservados assumirem a função daqueles que por alguma razão foram lesados ou retirados.
Essa maleabilidade se mostra ainda mais forte em crianças menores de dois anos. ‘Nessa fase,
o cérebro tem grande capacidade de se reconfigurar’, explica o neurologista Cukiert.
“Neurônios que comandam o lado direito do corpo podem passar a responder pelas funções do
lado esquerdo também”. Estudos revelam, por exemplo, que as células nervosas associadas
às funções motoras se remanejam bem até os dois primeiros anos de vida. Nos setores
relacionados à fala, até os seis anos, e à visão, até os sete anos. No Brasil já existe uma
criança que sobrevive sem um dos lóbulos (hemisférios) do cérebro. Implica dizer que o lóbulo
existente assumiu a função de todo o organismo, fortalecendo o conceito de plasticidade neural
(FARIAS, 2010).
2
ou mudanças cognitivas que acompanham lesões em partes específicas do
cérebro. Estudos experimentais com indivíduos normais também são comuns.
Estrutura e funcionamento do sistema nervoso
Observando a estrutura do Sistema Nervoso, percebemos que eles têm
partes situadas dentro do cérebro e da coluna vertebral e outras distribuídas
por todo corpo. As primeiras recebem o nome coletivo de sistema nervoso
central (SNC), e as últimas de sistema nervoso periférico (SNP). É no sistema
nervoso central que está a grande maioria das células nervosas, seus
prolongamentos e os contatos que fazem entre si. No sistema nervoso
periférico estão relativamente poucas células, mas um grande número de
prolongamentos chamados fibras nervosas, agrupados em filetes alongados
chamados nervos.
Os nervos (conjunto de neurônios) podem ser divididos em nervos que
levam informação para o SNC e nervos que levam informação do SNC. Os
primeiros são chamados fibras aferentes e os últimos de fibras eferentes. As
fibras aferentes enviam sinais dos receptores (células que respondem ao
estímulo sensorial nos olhos, ouvidos, pele, nariz, músculos, articulações) para
o SNC. As fibras eferentes enviam sinais do SNC para os músculos e as
glândulas.
Os neurônios são formados por três partes: a soma, os axônios e os
dendritos. A parte central, corpo celular ou soma, contém o núcleo celular.
Pode-se observar que a soma possui grande número de prolongamentos, se
ramificando múltiplas vezes, como pequenos arbustos, são os dendritos. É
através dos dendritos que cada neurônio recebe as informações provenientes
dos demais neurônios a que se associa. O grande número de neurônios é útil a
célula nervosa, pois permite multiplicar a área disponível para receber as
informações aferentes. Saindo da soma também, existe um filamento mais
longo e fino, ramificando-se pouco no trajeto e muito na sua porção terminal, é
o axônio. Cada neurônio tem um único axônio, e é por ele que saem as
informações eferentes dirigidas às outras células de um circuito neural.
A região de contato entre um terminal de fibra nervosa e um dendrito ou o
corpo (mais raramente outro axônio) de uma segunda célula, chama-se
sinapse, e constitui uma região especializada fundamental para o
processamento da informação pelo sistema nervoso. Na sinapse, nem sempre,
os sinais elétricos passam sem alteração, podem ser bloqueados parcial ou
completamente, ou então multiplicados. Logo, não ocorre apenas uma
transmissão da informação, mas uma transformação durante a passagem.
A transmissão sináptica pode ser química ou elétrica. Na sinapse elétrica,
as correntes iônicas passam diretamente pelas junções comunicantes (região
de aproximação entre duas células) para as outras células. A transmissão é
ultra-rápida, já que o sinal passa praticamente inalterado de uma célula para
outra. Na sinapse química, a transmissão do sinal através da fenda sináptica
(região de aproximação entre duas células, bem maior que as junções
comunicantes) é feita através de neurotransmissores. A sinapse química pode
ser exitatória, quando ocorre um aumento no estímulo recebido pelo neurônio
pós-sináptico, ou inibitória, quando ocorre uma diminuição do estímulo no
neurônio pós-sináptico. São essas transformações ocorridas durante a sinapse
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que garantem ao sistema nervoso a sua enorme diversidade e capacidade de
processamento de informação.
Uma das melhores maneiras de perceber a influência dos
neurotransmissores na cognição é observando a quantidade de drogas cujo
efeito provém da modificação da atividade dos neurotransmissores, como a
nicotina.
Plasticidade
Como vimos plasticidade neural é a capacidade do sistema nervoso
alterar o funcionamento do sistema motor e perceptivo baseado em mudanças
no ambiente junto à tarefa que o indivíduo realiza.
Estudos comprovam a hipótese sobre o desenvolvimento neural e a
aprendizagem na qual funções particulares de processamento de informação
são controladas por grupos especiais de neurônios, mas quando uma dessas
funções fica inutilizada, os neurônios associados a ela passam a controlar outra
função. Por exemplo, se os neurônios que normalmente recebiam estímulos do
olho esquerdo parar de receber esse estímulo, eles se tornariam responsáveis
pelos estímulos do olho direito. O inverso também é verdadeiro, quando as
funções neurais são limitadas, os neurônios podem passar a controlar novas
funções.
No entanto, nem sempre esse processo ocorre. A plasticidade é mais
comum em crianças.
Memória de curto e longo prazo
Um dos conceitos mais importantes dessa área é a distinção entre
memória de curto e longo prazo. Uma razão para acreditar nessa distinção é
que, algumas vezes depois de um severo golpe na cabeça, uma pessoa pode
ser incapaz de lembrar eventos que aconteceram antes do golpe (amnésia
retrógrada), mas continuaria lembrando-se dos eventos que ocorreram bem
antes. A fragilidade das memórias recentes sugere que elas estavam num
estado fisiológico diferente das memórias mais antigas. Outra razão para essa
distinção é que nós somos capazes de lembrar um pequeno número de itens
que nós acabamos de guardar na memória, mas podemos lembrar uma grande
quantidade de informação de um passado distante. Esses fatos sugerem que a
memória de curto prazo e a memória de longo prazo podem ter propriedades
físicas distintas.
Memória de Curto Prazo (MCP): Capaz de armazenar informações por
períodos de tempo um pouco mais longos, mas também de capacidade
relativamente limitada.
Memória de Longo Prazo (MLP): Capaz de estocar informações durante
períodos de tempo muito longos, talvez até indefinidamente.
Linguagem e outras funções de alto nível
A área de Broca e área de Wernicke
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Em 1861,o neurologista francês Paul Broca identificou um paciente que
era quase totalmente incapaz de falar e tinha uma lesão nos lobos frontais, o
que gerou questionamentos sobre a existência de um centro da linguagem no
cérebro. Mais tarde, descobriu casos nos quais a linguagem havia se
comprometido devido a lesões no lobo frontal do hemisfério esquerdo. A
recorrência dos casos levou Broca a propor, em 1864, que a expressão da
linguagem é controlada por apenas um hemisfério, quase sempre o esquerdo.
Esta visão confere com resultados do procedimento de Wada, no qual um
hemisfério cerebral é anestesiado. Na maioria dos casos, a anestesia do
hemisfério esquerdo, mas não a do direito, bloqueia a fala. A área do lobo
frontal esquerdo dominante que Broca identificou como sendo crítico para a
articulação da fala veio a ser conhecida como área de Broca (BEAR, 2002).
Em 1874, o neurologista Karl Wernicke identificou que lesões na
superfície superior do lobo temporal, entre o córtex auditivo e o giro angular,
também interrompiam a fala normal. Essa região é atualmente denominada
área de Wernicke. Tendo estabelecido que há duas áreas de linguagem no
hemisfério esquerdo, Wernicke e outros começaram a mapear as áreas de
processamento da linguagem no cérebro e levantaram hipóteses acerca de
interconexões entre córtex auditivo, a área de Wernicke, a área de Broca e os
músculos requeridos para a fala.
"O modelo neurolinguístico de Wernicke considerava que a área de Broca
conteria os programas motores de fala, ou seja, as memórias dos movimentos
necessários para expressar os fonemas, compô-las em palavras e estas em
frases. A área de Wernicke, por outro lado, conteria as memórias dos sons que
compõem as palavras, possibilitando a compreensão." (LENT, 2002, p. 637).
Assim, se essas duas áreas fossem conectadas, o indivíduo poderia associar a
compreensão das palavras ouvidas com a sua própria fala.
Atualmente, o modelo de Wernicke teve que ser corrigido quando se
observou que pacientes com lesões bem restritas à porção posterior do giro
temporal superior (a área de Wernicke) apresentavam na verdade uma surdez
linguística e não uma verdadeira afasia de compreensão. A área de Wernicke
seria, então, responsável pela identificação das palavras e não da
compreensão do seu significado.
Distúrbios da fala e da compreensão
Damos o nome de afasia a alguns dos distúrbios da linguagem falada
causados por acidentes vasculares cerebrais na sua fase aguda. Entretanto,
nem todos os distúrbios da linguagem podem ser chamados de afasia. São
chamados de afasia apenas aqueles que atingem regiões realmente
responsáveis pelo processamento da linguagem e não distúrbios do sistema
motor, do sistema atencional, e outros que seriam apenas coadjuvantes do
processo. Ao contrário de um doente que não consegue falar devido à paralisia
de um nervo facial, os portadores de afasia podem apresentar problemas de
linguagem sem ter qualquer problema no funcionamento muscular facial.
Segundo Lent (2002), as afasias são classificadas em afasia de
expressão, de compreensão e de condução, de acordo com os sintomas do
paciente e com a região cerebral atingida.
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A afasia de Broca é também chamada de afasia motora ou não-fluente, já
que as pessoas têm dificuldade em falar mesmo que possam entender a
linguagem ouvida ou lida. Pessoas com esse tipo de afasia têm dificuldade em
dizer qualquer coisa, fazendo pausas para procurar a palavra certa (anomia). A
marca típica da afasia de Broca é um estilo telegráfico de fala, no qual se
empregam, principalmente, palavras de conteúdo (substantivos, verbos,
adjetivos), além da incapacidade de construir frases gramaticalmente corretas
(agramatismo). É provocada por lesões sobre a região lateral inferior do lobo
frontal esquerdo.
A afasia de compreensão ou afasia de Wernicke atinge uma região
cortical posterior em torno da ponta do sulco lateral de Sylvius do lado
esquerdo. Os pacientes não conseguem compreender o que lhes é dito.
Emitem respostas verbais sem sentidos e também não conseguem demonstrar
compreensão através de gestos. Apesar de possuir uma fala fluente, ela
também não tem sentido, pois não compreendem o que eles mesmos dizem.
Enquanto na afasia de Broca, a fala é perturbada, mas a compreensão está
intacta, na afasia de Wernicke, a fala é fluente, mas a compreensão é pobre.
A afasia de condução é provocada por lesão do feixe arqueado, feixes
que conectam a área de Broca com a área de Wernicke. Os pacientes seriam
capazes de falar espontaneamente, embora cometessem erros de repetição e
de resposta a comandos verbais.
Outros distúrbios
Afasia é apenas uma das desordens que resulta de lesões do cérebro.
Neurologistas catalogaram um grande número de desordens. Abaixo temos
uma pequena lista de algumas delas:





Alexia: inabilidade adquirida de compreender a linguagem escrita.
Agrafia: inabilidade adquirida de produzir linguagem escrita apesar da
presença da linguagem oral, da leitura e de controle de movimentos
normal
Apraxia: inabilidade de ter movimentos propositais apesar da
compreensão normal das instruções, da força, do reflexo e da
coordenação normais.
Agnosia visual: perda da habilidade de reconhecer ou identificar a
presença de objetos, apesar nas funções visuais estarem intactas. Uma
forma específica da agnosia visual foi registrada como propagnosia,
inabilidade de reconhecer faces.
Síndrome da negligência: a tendência a ignorar coisas numa região
particular do espaço ignorando o módulo sensorial responsável pelos
estímulos provenientes daquela região. Pacientes com uma forma dessa
síndrome chamada síndrome da negligência unilateral ignoram as
informações provenientes do lado esquerdo ou direito do corpo e podem
até se esquecer de barbear essa parte do rosto ou de vestir esse lado
do corpo.
A especialização dos hemisférios
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Apesar de o nosso cérebro ser divido em dois hemisférios não existe
relação de dominância entre eles, pelo contrário, eles trabalham em conjunto,
utilizando-se dos milhões de fibras nervosas que constituem as comissuras
cerebrais e se encarregam de pô-los em constante interação. O conceito de
especialização hemisférica se confunde com o de lateralidade (algumas
funções são representadas em apenas um dos lados, outras nos dois) e de
assimetria (um hemisfério não é igual ao outro).
Segundo Lent (2002), o hemisfério esquerdo controla a fala em mais de
95% dos seres humanos, mais isso não quer dizer que o direito não trabalhe,
ao contrário, é a prosódia do hemisfério direito que confere à fala nuances
afetivas essenciais para a comunicação interpessoal. O hemisfério esquerdo é
também responsável pela realização mental de cálculos matemáticos, pelo
comando da escrita e pela compreensão dela por meio da leitura. Já o
hemisfério direito é melhor na percepção de sons musicais e no
reconhecimento de faces, especialmente quando se trata de aspectos gerais. O
hemisfério esquerdo participa também do reconhecimento de faces, mas sua
especialidade é descobrir precisamente quem é o dono de cada face. Da
mesma forma, o hemisfério direito é especialmente capaz de identificar
categorias gerais de objetos e seres vivos, mas é o esquerdo que detecta as
categorias específicas. O hemisfério direito é melhor na detecção de relações
espaciais, particularmente às relações métricas, quantificáveis, aquelas que
são úteis para o nosso deslocamento no mundo. O hemisfério esquerdo não
deixa de participar dessa função, mas é melhor no reconhecimento de relações
espaciais categoriais qualitativas. Finalmente, o hemisfério esquerdo produz
movimentos mais precisos da mão e da perna direitas do que o hemisfério
direito é capaz de fazer com a mão e a perna esquerda (na maioria das
pessoas). Veja a Figura abaixo.
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Figura: Especialização dos hemisférios (LENT, 2002).
Implicações nas Ciências Cognitivas
Existem redundâncias consideráveis no sistema nervoso. A existência de
processamento paralelo é amplamente aceita na neurociência e acredita-se
que ele seja necessário devido à rapidez e complexidade do processamento da
informação no cérebro das criaturas vivas. O poder da computação paralela
pode ser observado nos modernos computadores seriais que demoram muito
mais que o cérebro humano para processar informações visuais. Nos últimos
anos, reconheceu-se que computadores com processamento paralelo são
necessários para acelerar o processamento de imagens, aproximando-o da
velocidade do cérebro humano.
Esse é um dos caminhos pelo qual a neurociência pode ajudar as
ciências cognitivas. A psicologia cognitiva tem se esforçado para modelar as
atividades intelectuais com elementos que interajam numa maneira
neurologicamente plausível. Esses modelos estão ajudando a mostrar como a
cognição pode ser estruturada através dos princípios básicos de operação da
mente.
Vale lembrar que os pesquisadores afirmam que o cérebro é uma
entidade material localizada dentro do crânio, que pode ser visualizado, tocado
e manipulado. E ainda, que ele é composto de substâncias químicas, enzimas
e hormônios, que podem ser medidos e analisados. Que seu funcionamento
depende de neurônios, os quais consumem oxigênio, trocando substâncias
químicas através de suas membranas. Pesquisas recentes mostram que o
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crescimento de novos neurônios, ou seja, “os neurogêneses”, também
acontecem no hipocampo que é uma região do cérebro fortemente ligada à
memória e a aprendizagem humana. Segundo a doutora Henriette Van Prag,
do Instituto Salk (San Diego, California, Estados Unidos), os ambientes
enriquecidos e estimulados com recursos materiais, práticas de educação física,
música e uma boa nutrição influenciam no desenvolvimento da memória e na
aprendizagem.
Pesquisas médicas atestam que o desenvolvimento do cérebro ocorre
mais rápido nos primeiros anos de vida da criança. Para Thompson (1993), “é
imperativo que o cérebro como sede do Sistema Nervoso Central (SNC) cresça
e se desenvolva, pois é ele que, junto com os demais sistemas, tornam
possível o resto do desenvolvimento”. De acordo com Fiori (1999), o primeiro
ano de vida da criança é o período de maior aceleração do crescimento
cefálico de toda a vida da pessoa. Acrescenta que o perímetro cefálico
aumenta dois centímetros por mês no primeiro trimestre; um centímetro por
mês no segundo trimestre; e meio centímetro por mês no segundo semestre;
portanto, doze centímetros no primeiro ano, o que corresponde a oitenta por
cento de seu total.
O desenvolvimento sadio do cérebro atua diretamente sobre a
capacidade cognitiva, bem como sobre as áreas do desenvolvimento afetivo,
motor, competência social e linguagem. Por exemplo, quando ativado para
funções como a linguagem, a matemática, a arte, a música ou a atividade física,
facilitam para que as crianças desenvolvam seu potencial e sejam futuros
adultos inteligentes, confiantes e articulados.
Exemplo disto é o trabalho de Intervenção Precoce2 desenvolvido pelo
Centro Brasileiro de Reabilitação e Apoio ao Deficiente Visual de Goiânia
(CEBRAV), que favorece o desenvolvimento da linguagem, competência social,
cognição e motricidade de crianças cegas.3
Outro aspecto importante que facilita o desenvolvimento de crianças
deficientes é a presença de um animal na vida da criança. Um relato de
experiência contado por uma mãe de uma criança cega na Revista
Academinha do CEBRAV diz que a cachorrinha adquirida para o filho é
presença fundamental na vida da família.
2
Conjunto de procedimentos de natureza médico-psico-social, que visa a percepção, em todos
os níveis, de desvios no desenvolvimento infantil (Oliveira, 1994, p.15). Conjunto organizado de
estímulos e treinamentos adequados oferecidos nos primeiros anos de vida a crianças já
identificadas como deficientes e àquelas de alto risco, de modo a lhes garantir uma evolução
tão normal quanto possível (Farias, 1995).
3 Educandos que apresentam ausência total de visão até a perda de projeção de luz. Esses
educandos utilizam o sistema braile como principal veículo de comunicação escrita no
processo ensino/aprendizagem e não utilizam a visão para a aquisição de conhecimentos,
mesmo que a percepção de luz os auxilie na Orientação e Mobilidade, ou seja, ir e vir em sua
comunidade (Barraga, 1985; Faye, 1987; Farias, 1991).
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Em fevereiro de 2006 ganhamos uma cachorrinha da raça
dachshund, o popular salsicha ou cofap. Resolvemos aceitá-la
com a intenção de distrair nosso filho mais velho: o Júnior, pois
desde o nascimento do Alexandre ele se sentiu excluído. A
cadelinha recebeu o nome de Tchutchuca e ajudou bastante na
questão de diminuir o ciúme do Júnior. Só não imaginávamos
que
ela
teria
uma
participação
fundamental
no
desenvolvimento do Alexandre. Apesar de não enxergar ele
não conseguiu engatinhar, isto é, arrastava-se com o quadril na
posição sentada para pegá-la; e, esta parecia entender, pois
saía de perto dele. Ela deitava e rolava com a intenção de fazêlo tocar seu corpinho. Quando conseguiu andar, fazia
movimentos rápidos para encontrá-la. É só escutar seus latidos
e já sabe o rumo certo. Notamos que ela entende o fato de ele
não enxergar, pois fica sempre perto dele quando quer brincar;
se ele pula no chão, ela já sabe que é para morder o calcanhar
e repetem isso várias vezes. Na hora de balançar, tenho que
vestir uma calça no Alexandre, pois ela sempre morde sua
perna fazendo-o parar, o que faz ele sorrir e pedir para
balançar novamente. Quando não quer brincar pede para ela
sair; ela acha que é brincadeira e insiste até desistir e o deixa
sossegado. Hoje esta mascotinha é fundamental nas nossas
vidas e mais ainda, na do Júnior e Alexandre, que hoje brincam
juntos com ela. Faz três anos que ela esta conosco e sua
presença é de suma importância na vida da família.
Luíza Inês Pereira da Silva.
De acordo com Temple Grandin, cientista americana e professora da
Universidade do Estado do Colorado, nos EUA, a necessidade de tratar dos
bichos todos os dias lhe deu estabilidade emocional e ajudou-a a enfrentar
suas próprias dificuldades. “Os animais me salvaram”, afirma ela.
Para a pesquisadora, o mundo emocional dos bichos e do homem é
organizado de forma parecida. Acrescenta que de certa maneira, as emoções
básicas de animais e pessoas são as mesmas: medo, raiva, curiosidade,
atração sexual, ligação social (o que nós chamaríamos de “amizade”).
O relato da experiência da mãe do Alexandre mostra que a amizade da
Tchutchuca com seu filho é marcada por uma diferença, isto é, a menor
capacidade do cérebro animal para associar coisas o tempo todo. Por exemplo,
‘ele quer parar a brincadeira e ela insiste, desistindo em seguida’. Em outras
palavras, a menor capacidade do cérebro animal para associar coisas o tempo
todo ajudaria a manter essas coisas bem separadas. Bichos não têm relações
de amor e ódio com alguém: se o seu cão te ama, ele te ama e ponto (FARIAS,
2010).
Outra analogia que podemos fazer do ser humano em relação aos
animais é a experiência realizada com ratos pela Dra. Marian Diamond,
neuroanatomista americana, demonstrando que os animais que são criados em
gaiolas cheias de brinquedos tais como bolas, rodas, escadas, rampas entre
10
outros, desenvolveram um córtex cerebral em um maior número de células
nervosas. Embora ainda não existam evidências diretas, como os experimentos
realizados com ratos, presume-se que o mesmo aconteça com os seres
humanos a exemplo do trabalho de intervenção precoce do CEBRAV, que
favorece a vivência social.
Segundo as pesquisas realizadas afirma-se que o cérebro se divide em
dois hemisférios e que o temperamento de cada pessoa tem relação direta com
a utilização desses hemisférios. As pessoas que apresentam o lado esquerdo
mais desenvolvido são tendentes a usarem de forma adequada à lógica, à
matemática, possuindo habilidades para planejar e reorganizar suas ações. Já
que é o lado mais intuitivo do homem. Por isso são introspectivas, amorosas,
delicadas e mais emocionais no uso da razão.
O lado direito do cérebro é responsável pela imaginação criativa, a
serenidade, a capacidade de síntese, a facilidade de memorizar. As pessoas
que utilizam mais esse lado do cérebro possuem habilidades para analisar
esquemas e técnicas em oratórias.
Para que a memória funcione adequadamente no processo de
informação; faz-se necessário a busca da integração entre os dois hemisférios,
equilibrando o uso de nossas potencialidades. Como se processam muitas
informações diárias o cérebro acaba seletivo, guardando apenas informações
que o impressione desenvolvendo a capacidade para fixação dos fatos.
Manter ativada a atenção é de suma importância, visto que,
normalmente o ser humano distrai-se com facilidade.
Alguns pesquisadores sugerem que se recorra à música, pois o uso da
música apropriada diminui o ritmo cerebral, contribuindo para haver um
equilíbrio no uso dos hemisférios cerebrais. Enfatizam ainda que a música
barroca, especialmente o movimento “largo” propiciam um bom aprendizado.
Diante dos estudos realizados pelos pesquisadores conclui-se que se
torna necessário estimular as áreas do cérebro, objetivando auxiliar os
neurônios a desenvolverem novas conexões; educar as crianças desde a mais
tenra idade em um trabalho de Intervenção Precoce que propicie um ambiente
enriquecedor, estimulando a linguagem falada, cantada, escrita criando um
clima estruturado com afetividade, diversificando positivamente as sensações,
com a presença de cor, de música, de interações sociais, e de jogos, visando o
desenvolvimento de suas capacidades cognitivas e memórias futuras;
favorecendo assim o seu processo de aprendizagem, é de fundamental
importância.
Nesse sentido, observa-se que devido às inúmeras pesquisas
desenvolvidas sobre o cérebro no processo de aprendizagem, verifica-se que
cada indivíduo possui diferentes potenciais de inteligência. E que ela não é fixa,
já que todo ser humano possui habilidade para expandir e aumentar sua
própria aprendizagem. Segundo Rogers, o aluno deve ter desejo de aprender e
o professor como facilitador do aprendiz deverá ser o incentivador (motivador)
11
da aprendizagem. Apreciando, escutando e respeitando o estudante, criando
um estabelecimento de vínculo positivo confiando na capacidade de crescer e
aprender do aluno.
Por fim, a escola tem um importante desafio, que é o de aproveitar o
potencial de inteligência de seus alunos para conquista do sucesso de
aprendizagem. Os professores são os principais agentes, por meio do
desenvolvimento de projetos de interesse para a realidade do ensino e
aprendizagem. Quando compreendem que aprendizagem envolve cérebro,
vivência social, instrumentos, símbolos, corpo e sentimentos, adotam uma ação
mais competente levando em conta a influência das emoções para o
desenvolvimento na construção do conhecimento. Já que, segundo Eric Jensen,
somos mais seres emocionais do que seres cognitivos.
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