2. Uma antropologia integral

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Apresentação elaborada por Luiz Eustáquio
S. Nogueira a partir do livro de J. Moltmann
“O Espírito da Vida – uma pneumatologia integral”
(Vozes)
ESPIRITUALIDADE E
ANTROPOLOGIA INTEGRAL
1. Espiritualidade como Vida no Espírito
 Espiritualidade, do ponto de
vista cristão: intenso
convívio com o Espírito de
Deus, nova vida en
pneumati.
1. Espiritualidade como Vida no Espírito
 Ruah Yahweh
no 1º Testamento e no
judaísmo: Espírito de Deus
como a força da vida das
criaturas, espaço vital para
seu florescimento e
desenvolvimento
(cf. Ez 37,1-6).
1. Espiritualidade como Vida no Espírito
“A mão de Javé pousou sobre mim e o espírito
de Javé me levou e me deixou num vale cheio de
ossos. E o espírito me fez circular em torno
deles, por todos os lados. Notei que havia
grande quantidade de ossos espalhados pelo
vale e que estavam todos secos. Então Javé me
disse: ‘Criatura humana, será que esses ossos
poderão reviver’ Eu respondi: ‘Meu Senhor, és
tu que sabes’. Então ele me disse: ‘Profetize,
dizendo: Ossos secos, ouçam a palavra de Javé!
Assim diz o Senhor Javé a esses ossos: Vou
infundir um espírito, e vocês reviverão. Vou cobrir
vocês de nervos, vou fazer com que criem carne
e se revistam de pele. Em seguida, infundirei o
meu espírito, e vocês reviverão. Então ficarão
sabendo que eu sou Javé” (Ez 37,1-6).
Tendências espiritualistas
 Tradição cristã tendenciada a deslocar essa
vitalidade criativa a partir de Deus para a
renúncia de uma vida espiritualizada em Deus.
 Contraposição ao mundo sensível na
introspecção psíquica: indicativo de
estado espiritual.
 Distante de suas raízes hebraicas, o cristianismo
primitivo misturou-se com as religiões gnósticas
da antiguidade tardia, cujo anelo maior era
"redimir-se deste mundo".
Tendências espiritualistas
 Exaltação platônica da transcendência
[contemplação da Ideia] e dos valores do e
espírito [ascetismo filosófico] empolgava
neófitos cristãos saídos do paganismo.
 S. Agostinho: sua psicologia determinou no
ocidente a repressão do corpo [“cárcere da
alma”] e dos valores terrenos [Cidade de
Deus X Cidade dos homens] e a tendência
ao individualismo, com sua ênfase na alma
racional imortal.
Redenção espiritualizada
 Nessa visão espiritualista, substitui-se:
• o futuro de Deus na história pela eternidade,
• o reino vindouro na Terra pelo céu,
• o Espírito da ressurreição da carne pela
imortalidade da alma.
 Redenção espiritualizada e idealizada X
realismo cristão: esfera da carne reduzida ao
aos instintos e às necessidades corporais. A
libertação da alma, e não a redenção do corpo
(como professava Paulo), toma a direção.
Redenção espiritualizada
 Nesse dualismo gnóstico, a esperança cristã
está voltada para cima, o céu, e não para frente,
o futuro da nova criação.
 O binômio tempo–eternidade silencia o conflito
apocalíptico entre passado–futuro, enquanto o
conflito impulso de vida–impulso de morte se
desloca para o dualismo antropológico
corpo-alma.
Antropologia paulina
 Cristianismo acusado de possuir uma antropologia pessimista ou ao menos dualista:
dimensões espirituais do ser destacadas em
detrimento do corpo, lugar da fraqueza e do
pecado. Acusação lícita? Algum mal entendido?
 Atribuição a Paulo por esse ranço negativo,
sobretudo em suas alusões à carne, sárx, e
suas obras pecaminosas (cf. Rm 8,6.7; Gl 6,8).
Urge melhor conhecer os textos paulinos, para
não incorrer em falaciosas interpretações.
Antropologia paulina
 Apocalíptico em sua antropologia,
Paulo parte do conflito universal vigente
entre o éon (tempo, era) vindouro da vida e
da justiça e o éon passageiro do pecado e da
morte.
 Pecado para Paulo: expressão da revolta do
mundo ao seu Criador, com suas formas várias
de idolatria; confiança humana posta em
realidades não divinas.
Antropologia paulina
 Experiência de Damasco: revolução espiritual
em Paulo seu encontro com o Ressuscitado.
 Novo paradigma: do velho ao novo homem,
visão de um novo céu, de uma nova terra.

Velho Adão  Novo Adão

Lei  Liberdade

Pecado  Graça

Morte  Vida
Conceito sárx
sárx: referente à totalidade do
humano, não apenas à corporeidade;
condição do homem e do mundo não
redimidos, clamando por libertação.
 Conceito
 Carne, pecado e morte vistos pelo apóstolo como
poderes suprapessoais, não desde uma leitura
mitológica obscurantista, mas num realismo apocalíptico. Quanto maior a esperança, mais visível
a miséria do mundo. O conflito, de fato, só aparece
com a emergência do novo éon, no qual o impulso
de vida do Espírito desmascara o impulso de morte
do pecado.
Espiritualidade e vitalidade
 Urgente hoje reiterar: a proximidade de Deus
não despreza, mas faz a vida novamente
merecedora de ser amada.
 Bem atesta o 2º Testamento: o Espírito Santo
chega aos corpos humanos doentios, frágeis,
mortais como “força de vida da ressurreição”,
tornando-os “templos de Deus”. Segundo Paulo,
“o corpo é para o Senhor e o Senhor para o
corpo” (1Co 6,13).
Espiritualidade e vitalidade
 A espiritualidade cristã genuína
clama à vitalidade, ao amor à vida.
Vida espiritual é afirmação da vida
em liberdade, não obstante suas doenças,
obstáculos e fraquezas.
 Uma vida contra a morte!
Comunhão e glorificação dos corpos
 Retorno às raízes bíblicas da fé: propicia arejamento notável da mística ocidental. Imago Dei
em Gn 1,27 = comunidade humana de homens
e mulheres sintonizados com a Terra.
 Lugar da experiência de Deus: a experiência
pessoal de comunhão. Sem mística da comunidade não há mística da alma!
Somente a espiritualidade do corpo
e da comunhão realiza a esperança
da ressurreição.
Comunhão e glorificação dos corpos
 Espírito de Cristo = força de ressurreição:
de glorificação e não de anulação dos
corpos!
Para onde se inclina uma espiritualidade
da criação? Para “o libertar o corpo das
repressões da alma, das repressões da moral e
das humilhações do ódio contra si mesmo,
orientado para sua verdadeira saúde”
(J. Moltmann).
Espírito e saúde
o O shabbat bíblico (descanso do
7º dia): espiritualidade do corpo
e da terra e da alma saudável.
o Na
de trabalho e
repouso, a vida volta a latejar.
O tempo sagrado do sábado
vale para todos os viventes.
 Eis nossa
premissa
de fé:
VIDA NO
ESPÍRITO
É VIDA
CONTRA
A MORTE
E NÃO
VIDA
CONTRA
O CORPO!
Espírito e saúde
o Como que a cada sete anos, à
mãe terra lhe é dada a chance
de voltar a respirar, de ser
respeitada em sua dignidade
criatural, juntamente com seus
filhos, repletos de fardos
indevidos por uma religiosidade
opressora...
 Eis nossa
premissa
de fé:
VIDA NO
ESPÍRITO
É VIDA
CONTRA
A MORTE
E NÃO
VIDA
CONTRA
O CORPO!
2. Uma antropologia integral
 Dado fundamental:
experimentamo-nos a
nós mesmos como
unidade, ainda que
com uma pluralidade
de aspectos
irredutíveis entre si.
2. Uma antropologia integral
 A diversificação é
posterior à unidade.
Corporeidade,
psiquismo e
espiritualidade
seguem juntos
numa antropologia
integral.
2. Uma antropologia integral
Enfoque binômico (L. Boff)
corpo
• temporalidade
• revelação
espírito
• transcendência
• significado
2. Uma antropologia integral
Enfoque binômico (L. Boff)
 Em sua totalidade, o ser humano é espiritual
e corporal: espírito corporalizado ou corpo
espiritualizado.
 Espírito = capacidade nossa em constituir
unidade na diversidade, de comungar com o
diferente sem perder a própria identidade.
2. Uma antropologia integral
Enfoque binômico (L. Boff)
 Corpo = o próprio espírito se realizando
num determinado espaço e tempo dentro
do mundo. Revela-nos por inteiro, nossa
encarnação, nossa identidade no mundo
(somos corpo, e não temos corpo).
 Como espírito, percebemo-nos abertos à
realidade total, transcendendo o empírico
imediato.
2. Uma antropologia integral
Enfoque trinômico (L. E. Nogueira)
mente
corpo
espírito
Ser humano
2. Uma antropologia integral
Enfoque trinômico (L. E. Nogueira)
 Somos uma unidade vital. Não abstrata e
estática, mas concreta e dinâmica.
 Trilogia corpo-mente-espírito nessa
perspectiva unitária: não componentes
estruturais, mas modalidades de expressão e
realização de nosso ser uno no espaço-tempo e
para além do tempo.
2. Uma antropologia integral
Enfoque trinômico (L. E. Nogueira)
 Dizer corpo [corporeidade] = movimento de
auto-exteriorização; autocomunicação e expressão no mundo circundante via relações.
 Dizer mente [psiquismo] = auto-interiorização
e crescimento em consciência e identidade;
auto-reconhecimento face ao outro corpóreo.
 Dizer espírito [espiritualidade] = transcendentalidade e abertura para o todo; percepção do
chamado a viver na liberdade do outro e do
"Totalmente Outro“.
2. Uma antropologia integral
Enfoque trinômico (L. E. Nogueira)
“Exteriorização, interiorização e transcendência compõem a tríplice dialética existencial da liberdade humana.
Nessa dinâmica insuperável
nos movemos e somos.
Crescemos em interioridade
psíquica à medida em que
nos relacionamos corporalmente com o mundo exterior,
acolhendo e superando a diferença do outro no elã integrador espiritual do Amor.
O homem participa da evolução. A matéria leva ao
espírito que, por sua vez, a
transcende. Mas transcendea incluindo-a. A plenificação
do homem é um crescendo
que integra tanto sua corporeidade quanto seu psiquismo espiritual. A evolução é
regida pela convergência do
distinto à unidade no Amor”.
2. Uma antropologia integral
Enfoque quaternário (J.-Y. Leloup)
PNEUMA
Soma
Psiqué
Nous
2. Uma antropologia integral
Enfoque quaternário (J.-Y. Leloup)
 Antiga tradição distingue o ser humano em três
aspectos: soma (corpo), psique (alma) e nous
(inteligência profunda).
 Em sua dimensão corpórea, o ser humano
é matéria. Reduzido a isso, o espírito seria
produzido pela matéria, não existindo fora dela.
Nesta visão unidimensional, vivemos num mundo onde só a matéria existe e todo o resto se
converte em sonho ou fantasia.
2. Uma antropologia integral
Enfoque quaternário (J.-Y. Leloup)
 Indo além do somático, abrimo-nos à dimensão
da alma ou psique. A informação que anima a
matéria talvez possa ter uma vida independente
da mesma. De uma visão unidimensional
chegamos à outra bidimensional. No entanto,
se nos fixamos aí, surge o impasse do dualismo:
mundo da alma privilegiado em detrimento do
mundo do corpo.
2. Uma antropologia integral
Enfoque quaternário (J.-Y. Leloup)
 Ampliando tal antropologia, veremos que a psique
abre-se à dimensão do nous (“inteligência”, em
grego), ou seja, de uma consciência noética que
pode refletir o Pneuma (Espírito). Nessa visão
tridimensional, não evocamos somente a inteligência analítica ou racional, tampouco apenas o
mundo psicossomático das emoções e das sensações...
2. Uma antropologia integral
Enfoque quaternário (J.-Y. Leloup)
 Temos aqui um tipo de inteligência
contemplativa, silenciosa.
“É a experiência, no ser humano, de um espaço
e de um silêncio além do mental, além das
emoções, além das sensações”...
2. Uma antropologia integral
Enfoque quaternário (J.-Y. Leloup)
 Temos aqui um tipo de inteligência
contemplativa, silenciosa.
“É a experiência, no ser humano, de um espaço
e de um silêncio além do mental, além das
emoções, além das sensações”.
Contudo, se nos fixarmos nesta visão,
podemos divinizar uma parte
do ser humano e desprezar o restante.
2. Uma antropologia integral
Enfoque quaternário (J.-Y. Leloup)
 Há, pois, uma quarta dimensão no homem.
Nela, reencontramos todas as três dimensões
anteriores atravessadas por uma singular
dimensão: o Pneuma, o Sopro.
 “Assim como o corpo se abre à psique, a psique
ao nous, este está aberto ao Pneuma, ao Espírito
Santo, ao Espírito do Ser que É o que É”.
2. Uma antropologia integral
Enfoque quaternário (J.-Y. Leloup)
 É o Pneuma aquele que garante
a unidade do ser humano,
o viés profundo e transcendente de sua
integralidade, pois é nele que “existimos, nos
movemos e somos”. Nisto reside o sentido
profundo da espiritualidade na vida humana .
METÁFORAS BÍBLICAS E MÍSTICAS
PARA O ESPÍRITO
METÁFORAS BÍBLICAS E MÍSTICAS
PARA O ESPÍRITO
1. O Espírito Santo: pessoa?
 Tematizar sobre a personalidade do Espírito: o
que há de mais problemático na pneumatologia
e na doutrina trinitária.
 Desde a experiência de fé do 2º Testamento :
fica em aberto se a imagem do Espírito equivale
a uma pessoa ou força.
1. O Espírito Santo: pessoa?
 Com base na doutrina trinitária, o caráter pessoal do Espírito, diz Moltmann, “é antes afirmado que provado, na medida em que, com o
princípio ‘una substantia – tres personae’ de
Tertuliano, o conceito de pessoa, obtido de
Deus Pai, é simplesmente transferido para o
Espírito”, o qual, “juntamente com o Pai e o
Filho, é adorado e glorificado” (credo nicenoconstantinopolitano).
1. O Espírito Santo: pessoa?
 Encoberta-se a personalidade própria do Espírito,
que há de ser entendida na sua singular distinção
em relação ao Pai e ao Filho.
 Importa, além disso, rever o modelo antropológico
subjacente ao conceito de pessoa empregado no
discurso trinitário desde Agostinho. A definição
greco-romana de pessoa enquanto “rationalis
naturae individua substantia” postula um eu
separado, indiviso, existente em si próprio, no
máximo aplicável a Deus Pai enquanto “origem
original da divindade”. O mesmo não vale para o
Filho e o Espírito, existentes a partir do Pai.
1. O Espírito Santo: pessoa?
 A substituição ocorrida na teologia cristã de uma
compreensão substancial por outra relacional da
pessoa abriu espaço para o eu social e multirelacionado. No entanto, isso não atingiu a
peculiaridade do Espírito em sua pessoa mesma,
apenas descrito como o “terceiro na aliança”.
 Portanto, como entender a personalidade do
Espírito Santo? Abdicando-se de todo conceito
prévio de pessoa, Moltmann investiga as metáforas
bíblicas comumente aplicadas à experiência do
Espírito para uma melhor compreensão da questão.
2. Metáforas para a experiência do Espírito
segundo Jürgen Moltmann
A] Metáforas de pessoas
ESPÍRITO SANTO
COMO SENHOR,
MÃE E JUIZ
A] Metáforas de pessoas
 “O que domina e
vivifica” (dominum et
vivificantem).
 Alusão a duas
experiências do
Espírito:
libertação e nova vida
(cf. Is 59,19-20).
ESPÍRITO COMO
SENHOR
A] Metáforas de pessoas
 Ao nome “Senhor”
sucede o conceito da
liberdade: “Onde está o
Espírito do Senhor, há
liberdade” (2Co 3,17).
 Efusão do Espírito no
final dos tempos:
extensão messiânica da
história do êxodo a
todos os povos.
ESPÍRITO COMO
SENHOR
A] Metáforas de pessoas
ESPÍRITO COMO MÃE
Na qualidade de
vivificador, o Espírito
Paráclito é aquele que
consola com um
consolo de mãe,
aquele de quem
“nascem de novo”
os crentes
(cf. Jo 3,3-6).
A] Metáforas de pessoas
ESPÍRITO COMO MÃE
O Espírito é
“Mãe da vida”,
exclamam os padres
siríacos: liberta,
educa e regenera
os filhos de Deus
(cf. Sb 1,5; Is 38,16).
A] Metáforas de pessoas
ESPÍRITO COMO JUIZ
Se a liberdade sem
vida nova é vazia e
a vida sem liberdade
é morta, ambas só
granjeiam consistência na justiça
(cf. Rm 8,9-11).
A] Metáforas de pessoas
Ao convencer o
mundo do pecado e
do perdão dos
pecados, o Espírito
Santo como Juiz,
como Espírito da
Verdade, faz justiça e
corrige com vistas à
plenitude da vida em
Deus (cf. Jo 16,8;
Is 42,11).
ESPÍRITO COMO JUIZ
A] Metáforas de pessoas
SÍNTESE
Por trás destas
funções pessoais de
“Senhor”, “Mãe” e
“Juiz”, percebemos
a liberdade subjetiva
e transcendente do
Espírito que “sopra
onde quer”
(cf. Jo 3,8; 21,18).
B] Metáforas
de forma
ESPÍRITO SANTO
COMO ENERGIA,
ESPAÇO E FIGURA
B] Metáforas de forma
ESPÍRITO COMO ENERGIA
A experiência do
Espírito como força
de vida e energia está
ligada à noção hebraica
da ruah. Denota um
preenchimento total de
vitalidade, tornando o
ser portador de um
dinamismo novo
(Sb 1,7).
B] Metáforas de forma
ESPÍRITO COMO ENERGIA
A experiência da força
de vida é tão variada
como são variados os
seres vivos, e no
entanto, é uma única
força de vida que
chamou tudo quanto
vive à grande comunhão
da vida e que tudo aí
conserva”.
B] Metáforas de forma
ESPÍRITO COMO ENERGIA
“A comunidade de Cristo, vivendo na diversidade dos carismas e das energias e unida na
comunhão da mesma força do Espírito, pode
ser um modelo disto”. É próprio do Espírito
estimular energética e contagiantemente
“espíritos de vida” em comunidades de vida
(cf. At 9,31; 1Co 12,7). Quando, ao contrário, só
se experimenta repulsão e rejeição, a vida
é
afetada, a comunhão se desfaz e os corpos
definham-se.
B] Metáforas de forma
ESPÍRITO COMO ENERGIA
A experiência de Deus vincula-se intimamente
à experiência interpessoal. Na proximidade do
Deus vivo, os que foram despertos irradiam,
corporalmente, as energias da vida vivificante,
seja pela face luminosa e pelo olhar brilhante,
seja pelos gestos ternos e atenciosos
(cf. Cl 1,6-8).
B] Metáforas de forma
ESPÍRITO COMO ESPAÇO
VITAL
Um
adequado
espaço vital é condição
para que toda vida possa
desenvolver-se. Não
basta a energia vital
interna. Os espaços
sociais é que nos sustentam a
liberdade e
lhe possibilitam florescer.
“Numa
sociedade meramente
de concorrência, que
garante a liberdade
pessoal, mas não põe à
disposição os espaços
livres, a liberdade pessoal
definha para a ‘liberdade
dos lobos’ e para a ‘liberdade’ dos sem trabalho e
dos sem pátria.”
B] Metáforas de forma
ESPÍRITO COMO ESPAÇO
VITAL
Esta é a miséria de um
‘mundo livre’, que
respeita as liberdades
subjetivas mas não os
espaços sociais”
(cf. At 2,42-47).
Nas Escrituras, o Espírito
de Deus é experimentado
como o espaço amplo e
aberto (cf. Sl 143,10b; 139)
onde
não mais existe
aflição, e sim, proteção e
alento.
B] Metáforas de forma
Nos espaços vitais, surgem das energias vitais as
múltiplas figuras da vida .
“Numa figura vital, o lado
de dentro e o lado de fora
de um ser vivo alcançam o
equilíbrio. Os contornos
limitam uma figura, mas
seus limites são abertos,
eles estabelecem comunicação”.
ESPÍRITO COMO
FIGURA
B] Metáforas de forma
“Por isso as figuras vitais
individuais se formam em
comunhão de vida com
outros seres vivos, através
da troca de energia que
sustenta a vida”.
ESPÍRITO COMO
FIGURA
B] Metáforas de forma
A figura vital humana,
sendo modelada pelas
condições genéticas,
ecológicas, culturais e
sociais da existência,
apresenta algo de
inconfundível e indedutível.
De modo similar configuranos a experiência da vida
na experiência de Deus.
ESPÍRITO COMO
FIGURA
B] Metáforas de forma
No caminho concreto e
pessoal de nossa vida, o
Espírito Santo configura-nos
a Cristo: à sua vida messiânica, à sua conduta de vida
que salva e cura, à sua
trajetória de sofrimento e, na
esperança, ao seu corpo
glorioso (cf. Rm 8,14-17; 1Jo
3,1-2; Ef 5,1-2).
ESPÍRITO COMO
FIGURA
B] Metáforas de forma
SÍNTESE
 Estas imagens de
forma não condizem
nem a sujeitos,
tampouco a ações de
sujeitos, mas a forças
modelantes.
B] Metáforas de forma
SÍNTESE
 Conjugando
as metáforas
precedentes de
energia, espaço e
figura, a experiência
do Espírito se traduz
em experiência da
vida divina que torna
viva nossa vida
humana.
C] Metáforas de movimento
C] Metáforas de movimento
ESPÍRITO SANTO
COMO VENTO,
FOGO E AMOR
C] Metáforas de movimento
As metáforas de movimento aplicadas ao
Espírito “expressam a comoção de algo
extremamente poderoso e o início de um novo
movimento próprio. Descrevem um movimento
arrebatador, que domina e excita não apenas as
camadas conscientes das pessoas, mas também
as inconscientes, e que põe em movimento,
para coisas novas e jamais imaginadas, as
pessoas atingidas”.
C] Metáforas de movimento
Paradigmática é a história de Pentecostes:
movidos no mais profundo de si mesmos, os
discípulos, até então muito amedrontados,
põem-se em movimento, saindo de si mesmos
como apóstolos do Evangelho de Jesus
(cf. At 2,1ss).
C] Metáforas de movimento
ESPÍRITO COMO VENTO
A imagem do vento
impetuoso , a ruah
Yahweh) criacional (cf.
Gn 1,1-2) evoca o hálito
vital de Deus que
movimenta e vivifica as
criaturas entorpecidas
(Jó 33,4).
C] Metáforas de movimento
ESPÍRITO COMO VENTO
Bem ilustrativa disso é a
experiência de Elias no
Monte Horeb (cf. 1Rs
19,11s), onde a suavidade
da brisa é precedida pelo
ímpeto de outras forças
cósmicas.
C] Metáforas de movimento
ESPÍRITO COMO FOGO
A imagem do fogo
conota o entusiasmo
contagiante de quem
está inflamado da presença divina. Quem se
aquece, aquece os
demais.
C] Metáforas de movimento
ESPÍRITO
SANTO
Quem é consumido por
Deus torna-se uma
chama devoradora,
reflexo de seu zelo
apaixonado (cf. Mt
3,11). As “línguas de
fogo” também descrevem esta experiência de incandescência no Espírito
Santo (cf. At 2,1-4).
C] Metáforas de movimento
ESPÍRITO COMO AMOR
As metáforas do vento
impetuoso e do fogo
devorador evocam a
experiência do amor
eterno que faz viver a
partir de dentro (cf.
Rm 5,5). Este amor
divino, “forte como a
morte”, desperta na
criatura amada o desejo de também amar.
C] Metáforas de movimento
ESPÍRITO COMO AMOR
Embora não se
identifiquem sem
mais, o “fogo do amor”
divino pode acontecer
no amor humano
(cf. Ct 8,6-7).
D] Metáforas místicas
D] Metáforas místicas
ESPÍRITO COMO LUZ A metáfora da
luz aplicada
a Deus é comuníssima nos
textos sagrados. Fala da luz
que ilumina os olhos para
que possam ver. A luz divina
é a um só tempo fonte e
objeto de conhecimento
racional e amoroso
(cf. Dn 5,12; At 11,27).
D] Metáforas místicas
Inundados da luz do Criador,
ESPÍRITO COMO LUZ da “racionalidade divina”,
podemos compreender,
afirmar e amar a Criação. Mas
o mais especial no uso dessa
metáfora na experiência do
Espírito “está na transição
fluida da fonte para o raio de
luz e para o esplendor
luminoso. É uma e mesma luz
que se encontra na fonte, no
raio e no esplendor”.
D] Metáforas místicas
A metáfora da água
se apresenta quase
sempre associada às
imagens da fonte e
do poço. Enquanto a
luz vem de cima, a
água procede da
terra. E ambas
produzem juntas a
vida.
ESPÍRITO COMO ÁGUA
D] Metáforas místicas
Deus se compara a
uma “fonte de água
viva” (Jr 2,13; Ap 7,17),
da qual recebemos
“graça sobre graça”
(Jo 1,16). Esta fonte
não se encontra fora,
mas emerge
gratuitamente de
dentro do homem
(Jo 4,11-13).
ESPÍRITO COMO ÁGUA
D] Metáforas místicas
Deus se compara a
uma “fonte de água
viva” (Jr 2,13; Ap 7,17),
da qual recebemos
“graça sobre graça”
(Jo 1,16). Esta fonte
não se encontra fora,
mas emerge
gratuitamente de
dentro do homem
(Jo 4,11-13).
ESPÍRITO COMO ÁGUA
D] Metáforas místicas
A ligação das imagens da luz e da água
ESPÍRITO COMO
FECUNDIDADE resulta na metáfora da fecundidade do
Espírito. Assim como a luz e a água
tornam a árvore fecunda, da mesma
forma produzem frutos aqueles que se
expõem à luz e bebem da água viva do
Espírito (cf. Lc 1,18). Se a criação
primitiva, conforme a bela narrativa de
Hildegard de Bingen, era sempre bela e
repleta de viço, o pecado acarretou-lhe
uma espécie de inverno, a ponto de se
secar e congelar.
D] Metáforas místicas
ESPÍRITO COMO
FECUNDIDADE Contudo, o fluxo espiritual e
regenerador da luz e da água viva
representa o início de uma
primavera escatológica, na qual o
Espírito Santo é experienciado
como a vitalidade mesma desta
comunhão com o Deus vivo (cf.
Rm 8,22-23).
D] Metáforas místicas
CONCLUSÃO:
 Estas imagens, derivadas da experiência mística,
insinuam uma união tão íntima do Espírito
Santo com o humano que chega a ser difícil
distingui-los.
 “Nas metáforas místicas, é suprimida a distância
entre um sujeito transcendente e suas obras
imanentes. Desaparecem as distinções entre
causas e efeitos”.
D] Metáforas místicas
 “Nas metáforas da luz, da água e da
fecundidade, o divino e o humano se
encontram numa união orgânica.
Chega-se a uma interpenetração pericorética:
Vós em mim – eu em Vós. O divino passa a ser
presença abrangente na qual o humano pode
desdobrar-se produzindo frutos”.
www.padreluiz.net
O ESPÍRITO SANTO COMO
PLENITUDE DE AMOR E VIDA
O ESPÍRITO SANTO COMO
PLENITUDE DE AMOR E VIDA
A impetuosa personalidade do Esp. Santo
 Mediante as metáforas descritivas do agir do
Espírito, bem distinto do agir do Pai e do Filho,
experimentamos a ação do próprio Deus que
vem a nós e se faz presente em nós, revelandonos um modo único de entendimento de Deus
mesmo.
 Evocando o Espírito como “Senhor”, “Mãe” ou
“Juiz”, fazemos uma distinção entre um sujeito
e suas ações, ou seja, o sujeito permanece
transcendente e livre perante as suas ações.
A impetuosa personalidade do Esp. Santo
 A metáfora “Senhor” sugere a efetiva transcendência do Espírito que intervém de fora “com
braço forte”. As metáforas “Mãe” e “Juiz”, no
entanto, falam de um compartilhar a vida do
filho por dentro e de uma profunda solidariedade interior para com os justificados no amor.
A impetuosa personalidade do Esp. Santo
 As metáforas de forma e as imagens místicas real-
çam, por sua vez, a imanência de Deus. O Espírito
se apresenta em nós e em torno de nós como pura
presença. Para percebê-lo enquanto objeto, seria
necessário distanciar de sua presença. Mas, mesmo
em sua presença, não poderíamos concebê-lo
como parceiro ou interlocutor?
 Analogias tiradas da experiência interpessoal sugerem essa compreensão: o filho que cresce na mãe,
antes que se torne uma pessoa ou parceiro reconhecível; os amantes que em seu amor mútuo
chegam um ao outro e a si mesmos como parceiro
e presença.
A impetuosa personalidade do Esp. Santo
 Com efeito, o ser-alguém não advém de
contraposições, mas do fluir mutual de forças
vitalizantes. “Se assumirmos esta analogia para
compreender a experiência de Deus, então
perceberemos a personalidade do Espírito
divino em seu fluir entre o estar-presente e o
estar-em-frente, entre suas energias e sua
essência. Por isso não é de admirar que os
atingidos por sua experiência dele falem como
força e como pessoa, como energia e como
espaço, como fonte e como amor”.
A impetuosa personalidade do Esp. Santo
 “O fato de o próprio Espírito ‘ser derramado’
sobre toda carne é um auto-esvaziamento pelo
qual, graças às suas energias, Ele se torna
presente a toda carne. Quando as pessoas
entram em sua presença, elas percebem Deus
na sua luz, a fonte da luz. O Espírito, de acordo
com a promessa profética, traz não apenas vida
e justiça mas também conhecimento de Deus a
toda carne”.
A impetuosa personalidade do Esp. Santo
 Ante a definição clássica de pessoa como
“rationalis naturae individua substantia”
(cf. Boécio), Moltmann propugna um
novo conceito para a personalidade
do Espírito Santo advindo da experiência
de sua ação histórica:
A impetuosa personalidade do Esp. Santo
 a) Tal personalidade “não é indivisível, mas
comunica-se a si mesma;
 b) ela não é um ‘auto-estado’ (substantia )
separado, mas sim, um ser comunitário rico em
relações e capaz de entrar em múltiplas
relações;
 c) ela não apresenta apenas a natureza
racional, mas a eterna vida divina como fonte
de vida para toda criatura
A impetuosa personalidade do Esp. Santo
 Por conseguinte,
“a personalidade
de Deus Espírito Santo
é a presença amorosa
que se comunica, se espalha
e se derrama,
da eterna vida divina
do Deus uno e trino”.
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