Apresentação elaborada por Luiz Eustáquio S. Nogueira a partir do livro de J. Moltmann “O Espírito da Vida – uma pneumatologia integral” (Vozes) ESPIRITUALIDADE E ANTROPOLOGIA INTEGRAL 1. Espiritualidade como Vida no Espírito Espiritualidade, do ponto de vista cristão: intenso convívio com o Espírito de Deus, nova vida en pneumati. 1. Espiritualidade como Vida no Espírito Ruah Yahweh no 1º Testamento e no judaísmo: Espírito de Deus como a força da vida das criaturas, espaço vital para seu florescimento e desenvolvimento (cf. Ez 37,1-6). 1. Espiritualidade como Vida no Espírito “A mão de Javé pousou sobre mim e o espírito de Javé me levou e me deixou num vale cheio de ossos. E o espírito me fez circular em torno deles, por todos os lados. Notei que havia grande quantidade de ossos espalhados pelo vale e que estavam todos secos. Então Javé me disse: ‘Criatura humana, será que esses ossos poderão reviver’ Eu respondi: ‘Meu Senhor, és tu que sabes’. Então ele me disse: ‘Profetize, dizendo: Ossos secos, ouçam a palavra de Javé! Assim diz o Senhor Javé a esses ossos: Vou infundir um espírito, e vocês reviverão. Vou cobrir vocês de nervos, vou fazer com que criem carne e se revistam de pele. Em seguida, infundirei o meu espírito, e vocês reviverão. Então ficarão sabendo que eu sou Javé” (Ez 37,1-6). Tendências espiritualistas Tradição cristã tendenciada a deslocar essa vitalidade criativa a partir de Deus para a renúncia de uma vida espiritualizada em Deus. Contraposição ao mundo sensível na introspecção psíquica: indicativo de estado espiritual. Distante de suas raízes hebraicas, o cristianismo primitivo misturou-se com as religiões gnósticas da antiguidade tardia, cujo anelo maior era "redimir-se deste mundo". Tendências espiritualistas Exaltação platônica da transcendência [contemplação da Ideia] e dos valores do e espírito [ascetismo filosófico] empolgava neófitos cristãos saídos do paganismo. S. Agostinho: sua psicologia determinou no ocidente a repressão do corpo [“cárcere da alma”] e dos valores terrenos [Cidade de Deus X Cidade dos homens] e a tendência ao individualismo, com sua ênfase na alma racional imortal. Redenção espiritualizada Nessa visão espiritualista, substitui-se: • o futuro de Deus na história pela eternidade, • o reino vindouro na Terra pelo céu, • o Espírito da ressurreição da carne pela imortalidade da alma. Redenção espiritualizada e idealizada X realismo cristão: esfera da carne reduzida ao aos instintos e às necessidades corporais. A libertação da alma, e não a redenção do corpo (como professava Paulo), toma a direção. Redenção espiritualizada Nesse dualismo gnóstico, a esperança cristã está voltada para cima, o céu, e não para frente, o futuro da nova criação. O binômio tempo–eternidade silencia o conflito apocalíptico entre passado–futuro, enquanto o conflito impulso de vida–impulso de morte se desloca para o dualismo antropológico corpo-alma. Antropologia paulina Cristianismo acusado de possuir uma antropologia pessimista ou ao menos dualista: dimensões espirituais do ser destacadas em detrimento do corpo, lugar da fraqueza e do pecado. Acusação lícita? Algum mal entendido? Atribuição a Paulo por esse ranço negativo, sobretudo em suas alusões à carne, sárx, e suas obras pecaminosas (cf. Rm 8,6.7; Gl 6,8). Urge melhor conhecer os textos paulinos, para não incorrer em falaciosas interpretações. Antropologia paulina Apocalíptico em sua antropologia, Paulo parte do conflito universal vigente entre o éon (tempo, era) vindouro da vida e da justiça e o éon passageiro do pecado e da morte. Pecado para Paulo: expressão da revolta do mundo ao seu Criador, com suas formas várias de idolatria; confiança humana posta em realidades não divinas. Antropologia paulina Experiência de Damasco: revolução espiritual em Paulo seu encontro com o Ressuscitado. Novo paradigma: do velho ao novo homem, visão de um novo céu, de uma nova terra. Velho Adão Novo Adão Lei Liberdade Pecado Graça Morte Vida Conceito sárx sárx: referente à totalidade do humano, não apenas à corporeidade; condição do homem e do mundo não redimidos, clamando por libertação. Conceito Carne, pecado e morte vistos pelo apóstolo como poderes suprapessoais, não desde uma leitura mitológica obscurantista, mas num realismo apocalíptico. Quanto maior a esperança, mais visível a miséria do mundo. O conflito, de fato, só aparece com a emergência do novo éon, no qual o impulso de vida do Espírito desmascara o impulso de morte do pecado. Espiritualidade e vitalidade Urgente hoje reiterar: a proximidade de Deus não despreza, mas faz a vida novamente merecedora de ser amada. Bem atesta o 2º Testamento: o Espírito Santo chega aos corpos humanos doentios, frágeis, mortais como “força de vida da ressurreição”, tornando-os “templos de Deus”. Segundo Paulo, “o corpo é para o Senhor e o Senhor para o corpo” (1Co 6,13). Espiritualidade e vitalidade A espiritualidade cristã genuína clama à vitalidade, ao amor à vida. Vida espiritual é afirmação da vida em liberdade, não obstante suas doenças, obstáculos e fraquezas. Uma vida contra a morte! Comunhão e glorificação dos corpos Retorno às raízes bíblicas da fé: propicia arejamento notável da mística ocidental. Imago Dei em Gn 1,27 = comunidade humana de homens e mulheres sintonizados com a Terra. Lugar da experiência de Deus: a experiência pessoal de comunhão. Sem mística da comunidade não há mística da alma! Somente a espiritualidade do corpo e da comunhão realiza a esperança da ressurreição. Comunhão e glorificação dos corpos Espírito de Cristo = força de ressurreição: de glorificação e não de anulação dos corpos! Para onde se inclina uma espiritualidade da criação? Para “o libertar o corpo das repressões da alma, das repressões da moral e das humilhações do ódio contra si mesmo, orientado para sua verdadeira saúde” (J. Moltmann). Espírito e saúde o O shabbat bíblico (descanso do 7º dia): espiritualidade do corpo e da terra e da alma saudável. o Na de trabalho e repouso, a vida volta a latejar. O tempo sagrado do sábado vale para todos os viventes. Eis nossa premissa de fé: VIDA NO ESPÍRITO É VIDA CONTRA A MORTE E NÃO VIDA CONTRA O CORPO! Espírito e saúde o Como que a cada sete anos, à mãe terra lhe é dada a chance de voltar a respirar, de ser respeitada em sua dignidade criatural, juntamente com seus filhos, repletos de fardos indevidos por uma religiosidade opressora... Eis nossa premissa de fé: VIDA NO ESPÍRITO É VIDA CONTRA A MORTE E NÃO VIDA CONTRA O CORPO! 2. Uma antropologia integral Dado fundamental: experimentamo-nos a nós mesmos como unidade, ainda que com uma pluralidade de aspectos irredutíveis entre si. 2. Uma antropologia integral A diversificação é posterior à unidade. Corporeidade, psiquismo e espiritualidade seguem juntos numa antropologia integral. 2. Uma antropologia integral Enfoque binômico (L. Boff) corpo • temporalidade • revelação espírito • transcendência • significado 2. Uma antropologia integral Enfoque binômico (L. Boff) Em sua totalidade, o ser humano é espiritual e corporal: espírito corporalizado ou corpo espiritualizado. Espírito = capacidade nossa em constituir unidade na diversidade, de comungar com o diferente sem perder a própria identidade. 2. Uma antropologia integral Enfoque binômico (L. Boff) Corpo = o próprio espírito se realizando num determinado espaço e tempo dentro do mundo. Revela-nos por inteiro, nossa encarnação, nossa identidade no mundo (somos corpo, e não temos corpo). Como espírito, percebemo-nos abertos à realidade total, transcendendo o empírico imediato. 2. Uma antropologia integral Enfoque trinômico (L. E. Nogueira) mente corpo espírito Ser humano 2. Uma antropologia integral Enfoque trinômico (L. E. Nogueira) Somos uma unidade vital. Não abstrata e estática, mas concreta e dinâmica. Trilogia corpo-mente-espírito nessa perspectiva unitária: não componentes estruturais, mas modalidades de expressão e realização de nosso ser uno no espaço-tempo e para além do tempo. 2. Uma antropologia integral Enfoque trinômico (L. E. Nogueira) Dizer corpo [corporeidade] = movimento de auto-exteriorização; autocomunicação e expressão no mundo circundante via relações. Dizer mente [psiquismo] = auto-interiorização e crescimento em consciência e identidade; auto-reconhecimento face ao outro corpóreo. Dizer espírito [espiritualidade] = transcendentalidade e abertura para o todo; percepção do chamado a viver na liberdade do outro e do "Totalmente Outro“. 2. Uma antropologia integral Enfoque trinômico (L. E. Nogueira) “Exteriorização, interiorização e transcendência compõem a tríplice dialética existencial da liberdade humana. Nessa dinâmica insuperável nos movemos e somos. Crescemos em interioridade psíquica à medida em que nos relacionamos corporalmente com o mundo exterior, acolhendo e superando a diferença do outro no elã integrador espiritual do Amor. O homem participa da evolução. A matéria leva ao espírito que, por sua vez, a transcende. Mas transcendea incluindo-a. A plenificação do homem é um crescendo que integra tanto sua corporeidade quanto seu psiquismo espiritual. A evolução é regida pela convergência do distinto à unidade no Amor”. 2. Uma antropologia integral Enfoque quaternário (J.-Y. Leloup) PNEUMA Soma Psiqué Nous 2. Uma antropologia integral Enfoque quaternário (J.-Y. Leloup) Antiga tradição distingue o ser humano em três aspectos: soma (corpo), psique (alma) e nous (inteligência profunda). Em sua dimensão corpórea, o ser humano é matéria. Reduzido a isso, o espírito seria produzido pela matéria, não existindo fora dela. Nesta visão unidimensional, vivemos num mundo onde só a matéria existe e todo o resto se converte em sonho ou fantasia. 2. Uma antropologia integral Enfoque quaternário (J.-Y. Leloup) Indo além do somático, abrimo-nos à dimensão da alma ou psique. A informação que anima a matéria talvez possa ter uma vida independente da mesma. De uma visão unidimensional chegamos à outra bidimensional. No entanto, se nos fixamos aí, surge o impasse do dualismo: mundo da alma privilegiado em detrimento do mundo do corpo. 2. Uma antropologia integral Enfoque quaternário (J.-Y. Leloup) Ampliando tal antropologia, veremos que a psique abre-se à dimensão do nous (“inteligência”, em grego), ou seja, de uma consciência noética que pode refletir o Pneuma (Espírito). Nessa visão tridimensional, não evocamos somente a inteligência analítica ou racional, tampouco apenas o mundo psicossomático das emoções e das sensações... 2. Uma antropologia integral Enfoque quaternário (J.-Y. Leloup) Temos aqui um tipo de inteligência contemplativa, silenciosa. “É a experiência, no ser humano, de um espaço e de um silêncio além do mental, além das emoções, além das sensações”... 2. Uma antropologia integral Enfoque quaternário (J.-Y. Leloup) Temos aqui um tipo de inteligência contemplativa, silenciosa. “É a experiência, no ser humano, de um espaço e de um silêncio além do mental, além das emoções, além das sensações”. Contudo, se nos fixarmos nesta visão, podemos divinizar uma parte do ser humano e desprezar o restante. 2. Uma antropologia integral Enfoque quaternário (J.-Y. Leloup) Há, pois, uma quarta dimensão no homem. Nela, reencontramos todas as três dimensões anteriores atravessadas por uma singular dimensão: o Pneuma, o Sopro. “Assim como o corpo se abre à psique, a psique ao nous, este está aberto ao Pneuma, ao Espírito Santo, ao Espírito do Ser que É o que É”. 2. Uma antropologia integral Enfoque quaternário (J.-Y. Leloup) É o Pneuma aquele que garante a unidade do ser humano, o viés profundo e transcendente de sua integralidade, pois é nele que “existimos, nos movemos e somos”. Nisto reside o sentido profundo da espiritualidade na vida humana . METÁFORAS BÍBLICAS E MÍSTICAS PARA O ESPÍRITO METÁFORAS BÍBLICAS E MÍSTICAS PARA O ESPÍRITO 1. O Espírito Santo: pessoa? Tematizar sobre a personalidade do Espírito: o que há de mais problemático na pneumatologia e na doutrina trinitária. Desde a experiência de fé do 2º Testamento : fica em aberto se a imagem do Espírito equivale a uma pessoa ou força. 1. O Espírito Santo: pessoa? Com base na doutrina trinitária, o caráter pessoal do Espírito, diz Moltmann, “é antes afirmado que provado, na medida em que, com o princípio ‘una substantia – tres personae’ de Tertuliano, o conceito de pessoa, obtido de Deus Pai, é simplesmente transferido para o Espírito”, o qual, “juntamente com o Pai e o Filho, é adorado e glorificado” (credo nicenoconstantinopolitano). 1. O Espírito Santo: pessoa? Encoberta-se a personalidade própria do Espírito, que há de ser entendida na sua singular distinção em relação ao Pai e ao Filho. Importa, além disso, rever o modelo antropológico subjacente ao conceito de pessoa empregado no discurso trinitário desde Agostinho. A definição greco-romana de pessoa enquanto “rationalis naturae individua substantia” postula um eu separado, indiviso, existente em si próprio, no máximo aplicável a Deus Pai enquanto “origem original da divindade”. O mesmo não vale para o Filho e o Espírito, existentes a partir do Pai. 1. O Espírito Santo: pessoa? A substituição ocorrida na teologia cristã de uma compreensão substancial por outra relacional da pessoa abriu espaço para o eu social e multirelacionado. No entanto, isso não atingiu a peculiaridade do Espírito em sua pessoa mesma, apenas descrito como o “terceiro na aliança”. Portanto, como entender a personalidade do Espírito Santo? Abdicando-se de todo conceito prévio de pessoa, Moltmann investiga as metáforas bíblicas comumente aplicadas à experiência do Espírito para uma melhor compreensão da questão. 2. Metáforas para a experiência do Espírito segundo Jürgen Moltmann A] Metáforas de pessoas ESPÍRITO SANTO COMO SENHOR, MÃE E JUIZ A] Metáforas de pessoas “O que domina e vivifica” (dominum et vivificantem). Alusão a duas experiências do Espírito: libertação e nova vida (cf. Is 59,19-20). ESPÍRITO COMO SENHOR A] Metáforas de pessoas Ao nome “Senhor” sucede o conceito da liberdade: “Onde está o Espírito do Senhor, há liberdade” (2Co 3,17). Efusão do Espírito no final dos tempos: extensão messiânica da história do êxodo a todos os povos. ESPÍRITO COMO SENHOR A] Metáforas de pessoas ESPÍRITO COMO MÃE Na qualidade de vivificador, o Espírito Paráclito é aquele que consola com um consolo de mãe, aquele de quem “nascem de novo” os crentes (cf. Jo 3,3-6). A] Metáforas de pessoas ESPÍRITO COMO MÃE O Espírito é “Mãe da vida”, exclamam os padres siríacos: liberta, educa e regenera os filhos de Deus (cf. Sb 1,5; Is 38,16). A] Metáforas de pessoas ESPÍRITO COMO JUIZ Se a liberdade sem vida nova é vazia e a vida sem liberdade é morta, ambas só granjeiam consistência na justiça (cf. Rm 8,9-11). A] Metáforas de pessoas Ao convencer o mundo do pecado e do perdão dos pecados, o Espírito Santo como Juiz, como Espírito da Verdade, faz justiça e corrige com vistas à plenitude da vida em Deus (cf. Jo 16,8; Is 42,11). ESPÍRITO COMO JUIZ A] Metáforas de pessoas SÍNTESE Por trás destas funções pessoais de “Senhor”, “Mãe” e “Juiz”, percebemos a liberdade subjetiva e transcendente do Espírito que “sopra onde quer” (cf. Jo 3,8; 21,18). B] Metáforas de forma ESPÍRITO SANTO COMO ENERGIA, ESPAÇO E FIGURA B] Metáforas de forma ESPÍRITO COMO ENERGIA A experiência do Espírito como força de vida e energia está ligada à noção hebraica da ruah. Denota um preenchimento total de vitalidade, tornando o ser portador de um dinamismo novo (Sb 1,7). B] Metáforas de forma ESPÍRITO COMO ENERGIA A experiência da força de vida é tão variada como são variados os seres vivos, e no entanto, é uma única força de vida que chamou tudo quanto vive à grande comunhão da vida e que tudo aí conserva”. B] Metáforas de forma ESPÍRITO COMO ENERGIA “A comunidade de Cristo, vivendo na diversidade dos carismas e das energias e unida na comunhão da mesma força do Espírito, pode ser um modelo disto”. É próprio do Espírito estimular energética e contagiantemente “espíritos de vida” em comunidades de vida (cf. At 9,31; 1Co 12,7). Quando, ao contrário, só se experimenta repulsão e rejeição, a vida é afetada, a comunhão se desfaz e os corpos definham-se. B] Metáforas de forma ESPÍRITO COMO ENERGIA A experiência de Deus vincula-se intimamente à experiência interpessoal. Na proximidade do Deus vivo, os que foram despertos irradiam, corporalmente, as energias da vida vivificante, seja pela face luminosa e pelo olhar brilhante, seja pelos gestos ternos e atenciosos (cf. Cl 1,6-8). B] Metáforas de forma ESPÍRITO COMO ESPAÇO VITAL Um adequado espaço vital é condição para que toda vida possa desenvolver-se. Não basta a energia vital interna. Os espaços sociais é que nos sustentam a liberdade e lhe possibilitam florescer. “Numa sociedade meramente de concorrência, que garante a liberdade pessoal, mas não põe à disposição os espaços livres, a liberdade pessoal definha para a ‘liberdade dos lobos’ e para a ‘liberdade’ dos sem trabalho e dos sem pátria.” B] Metáforas de forma ESPÍRITO COMO ESPAÇO VITAL Esta é a miséria de um ‘mundo livre’, que respeita as liberdades subjetivas mas não os espaços sociais” (cf. At 2,42-47). Nas Escrituras, o Espírito de Deus é experimentado como o espaço amplo e aberto (cf. Sl 143,10b; 139) onde não mais existe aflição, e sim, proteção e alento. B] Metáforas de forma Nos espaços vitais, surgem das energias vitais as múltiplas figuras da vida . “Numa figura vital, o lado de dentro e o lado de fora de um ser vivo alcançam o equilíbrio. Os contornos limitam uma figura, mas seus limites são abertos, eles estabelecem comunicação”. ESPÍRITO COMO FIGURA B] Metáforas de forma “Por isso as figuras vitais individuais se formam em comunhão de vida com outros seres vivos, através da troca de energia que sustenta a vida”. ESPÍRITO COMO FIGURA B] Metáforas de forma A figura vital humana, sendo modelada pelas condições genéticas, ecológicas, culturais e sociais da existência, apresenta algo de inconfundível e indedutível. De modo similar configuranos a experiência da vida na experiência de Deus. ESPÍRITO COMO FIGURA B] Metáforas de forma No caminho concreto e pessoal de nossa vida, o Espírito Santo configura-nos a Cristo: à sua vida messiânica, à sua conduta de vida que salva e cura, à sua trajetória de sofrimento e, na esperança, ao seu corpo glorioso (cf. Rm 8,14-17; 1Jo 3,1-2; Ef 5,1-2). ESPÍRITO COMO FIGURA B] Metáforas de forma SÍNTESE Estas imagens de forma não condizem nem a sujeitos, tampouco a ações de sujeitos, mas a forças modelantes. B] Metáforas de forma SÍNTESE Conjugando as metáforas precedentes de energia, espaço e figura, a experiência do Espírito se traduz em experiência da vida divina que torna viva nossa vida humana. C] Metáforas de movimento C] Metáforas de movimento ESPÍRITO SANTO COMO VENTO, FOGO E AMOR C] Metáforas de movimento As metáforas de movimento aplicadas ao Espírito “expressam a comoção de algo extremamente poderoso e o início de um novo movimento próprio. Descrevem um movimento arrebatador, que domina e excita não apenas as camadas conscientes das pessoas, mas também as inconscientes, e que põe em movimento, para coisas novas e jamais imaginadas, as pessoas atingidas”. C] Metáforas de movimento Paradigmática é a história de Pentecostes: movidos no mais profundo de si mesmos, os discípulos, até então muito amedrontados, põem-se em movimento, saindo de si mesmos como apóstolos do Evangelho de Jesus (cf. At 2,1ss). C] Metáforas de movimento ESPÍRITO COMO VENTO A imagem do vento impetuoso , a ruah Yahweh) criacional (cf. Gn 1,1-2) evoca o hálito vital de Deus que movimenta e vivifica as criaturas entorpecidas (Jó 33,4). C] Metáforas de movimento ESPÍRITO COMO VENTO Bem ilustrativa disso é a experiência de Elias no Monte Horeb (cf. 1Rs 19,11s), onde a suavidade da brisa é precedida pelo ímpeto de outras forças cósmicas. C] Metáforas de movimento ESPÍRITO COMO FOGO A imagem do fogo conota o entusiasmo contagiante de quem está inflamado da presença divina. Quem se aquece, aquece os demais. C] Metáforas de movimento ESPÍRITO SANTO Quem é consumido por Deus torna-se uma chama devoradora, reflexo de seu zelo apaixonado (cf. Mt 3,11). As “línguas de fogo” também descrevem esta experiência de incandescência no Espírito Santo (cf. At 2,1-4). C] Metáforas de movimento ESPÍRITO COMO AMOR As metáforas do vento impetuoso e do fogo devorador evocam a experiência do amor eterno que faz viver a partir de dentro (cf. Rm 5,5). Este amor divino, “forte como a morte”, desperta na criatura amada o desejo de também amar. C] Metáforas de movimento ESPÍRITO COMO AMOR Embora não se identifiquem sem mais, o “fogo do amor” divino pode acontecer no amor humano (cf. Ct 8,6-7). D] Metáforas místicas D] Metáforas místicas ESPÍRITO COMO LUZ A metáfora da luz aplicada a Deus é comuníssima nos textos sagrados. Fala da luz que ilumina os olhos para que possam ver. A luz divina é a um só tempo fonte e objeto de conhecimento racional e amoroso (cf. Dn 5,12; At 11,27). D] Metáforas místicas Inundados da luz do Criador, ESPÍRITO COMO LUZ da “racionalidade divina”, podemos compreender, afirmar e amar a Criação. Mas o mais especial no uso dessa metáfora na experiência do Espírito “está na transição fluida da fonte para o raio de luz e para o esplendor luminoso. É uma e mesma luz que se encontra na fonte, no raio e no esplendor”. D] Metáforas místicas A metáfora da água se apresenta quase sempre associada às imagens da fonte e do poço. Enquanto a luz vem de cima, a água procede da terra. E ambas produzem juntas a vida. ESPÍRITO COMO ÁGUA D] Metáforas místicas Deus se compara a uma “fonte de água viva” (Jr 2,13; Ap 7,17), da qual recebemos “graça sobre graça” (Jo 1,16). Esta fonte não se encontra fora, mas emerge gratuitamente de dentro do homem (Jo 4,11-13). ESPÍRITO COMO ÁGUA D] Metáforas místicas Deus se compara a uma “fonte de água viva” (Jr 2,13; Ap 7,17), da qual recebemos “graça sobre graça” (Jo 1,16). Esta fonte não se encontra fora, mas emerge gratuitamente de dentro do homem (Jo 4,11-13). ESPÍRITO COMO ÁGUA D] Metáforas místicas A ligação das imagens da luz e da água ESPÍRITO COMO FECUNDIDADE resulta na metáfora da fecundidade do Espírito. Assim como a luz e a água tornam a árvore fecunda, da mesma forma produzem frutos aqueles que se expõem à luz e bebem da água viva do Espírito (cf. Lc 1,18). Se a criação primitiva, conforme a bela narrativa de Hildegard de Bingen, era sempre bela e repleta de viço, o pecado acarretou-lhe uma espécie de inverno, a ponto de se secar e congelar. D] Metáforas místicas ESPÍRITO COMO FECUNDIDADE Contudo, o fluxo espiritual e regenerador da luz e da água viva representa o início de uma primavera escatológica, na qual o Espírito Santo é experienciado como a vitalidade mesma desta comunhão com o Deus vivo (cf. Rm 8,22-23). D] Metáforas místicas CONCLUSÃO: Estas imagens, derivadas da experiência mística, insinuam uma união tão íntima do Espírito Santo com o humano que chega a ser difícil distingui-los. “Nas metáforas místicas, é suprimida a distância entre um sujeito transcendente e suas obras imanentes. Desaparecem as distinções entre causas e efeitos”. D] Metáforas místicas “Nas metáforas da luz, da água e da fecundidade, o divino e o humano se encontram numa união orgânica. Chega-se a uma interpenetração pericorética: Vós em mim – eu em Vós. O divino passa a ser presença abrangente na qual o humano pode desdobrar-se produzindo frutos”. www.padreluiz.net O ESPÍRITO SANTO COMO PLENITUDE DE AMOR E VIDA O ESPÍRITO SANTO COMO PLENITUDE DE AMOR E VIDA A impetuosa personalidade do Esp. Santo Mediante as metáforas descritivas do agir do Espírito, bem distinto do agir do Pai e do Filho, experimentamos a ação do próprio Deus que vem a nós e se faz presente em nós, revelandonos um modo único de entendimento de Deus mesmo. Evocando o Espírito como “Senhor”, “Mãe” ou “Juiz”, fazemos uma distinção entre um sujeito e suas ações, ou seja, o sujeito permanece transcendente e livre perante as suas ações. A impetuosa personalidade do Esp. Santo A metáfora “Senhor” sugere a efetiva transcendência do Espírito que intervém de fora “com braço forte”. As metáforas “Mãe” e “Juiz”, no entanto, falam de um compartilhar a vida do filho por dentro e de uma profunda solidariedade interior para com os justificados no amor. A impetuosa personalidade do Esp. Santo As metáforas de forma e as imagens místicas real- çam, por sua vez, a imanência de Deus. O Espírito se apresenta em nós e em torno de nós como pura presença. Para percebê-lo enquanto objeto, seria necessário distanciar de sua presença. Mas, mesmo em sua presença, não poderíamos concebê-lo como parceiro ou interlocutor? Analogias tiradas da experiência interpessoal sugerem essa compreensão: o filho que cresce na mãe, antes que se torne uma pessoa ou parceiro reconhecível; os amantes que em seu amor mútuo chegam um ao outro e a si mesmos como parceiro e presença. A impetuosa personalidade do Esp. Santo Com efeito, o ser-alguém não advém de contraposições, mas do fluir mutual de forças vitalizantes. “Se assumirmos esta analogia para compreender a experiência de Deus, então perceberemos a personalidade do Espírito divino em seu fluir entre o estar-presente e o estar-em-frente, entre suas energias e sua essência. Por isso não é de admirar que os atingidos por sua experiência dele falem como força e como pessoa, como energia e como espaço, como fonte e como amor”. A impetuosa personalidade do Esp. Santo “O fato de o próprio Espírito ‘ser derramado’ sobre toda carne é um auto-esvaziamento pelo qual, graças às suas energias, Ele se torna presente a toda carne. Quando as pessoas entram em sua presença, elas percebem Deus na sua luz, a fonte da luz. O Espírito, de acordo com a promessa profética, traz não apenas vida e justiça mas também conhecimento de Deus a toda carne”. A impetuosa personalidade do Esp. Santo Ante a definição clássica de pessoa como “rationalis naturae individua substantia” (cf. Boécio), Moltmann propugna um novo conceito para a personalidade do Espírito Santo advindo da experiência de sua ação histórica: A impetuosa personalidade do Esp. Santo a) Tal personalidade “não é indivisível, mas comunica-se a si mesma; b) ela não é um ‘auto-estado’ (substantia ) separado, mas sim, um ser comunitário rico em relações e capaz de entrar em múltiplas relações; c) ela não apresenta apenas a natureza racional, mas a eterna vida divina como fonte de vida para toda criatura A impetuosa personalidade do Esp. Santo Por conseguinte, “a personalidade de Deus Espírito Santo é a presença amorosa que se comunica, se espalha e se derrama, da eterna vida divina do Deus uno e trino”.