Emergências no Uso de Drogas Alessandro Alves Quando se pensa em uma situação de emergência relacionada ao uso de drogas, o natural é pensarmos que, como em qualquer situação de emergência, devemos imediatamente buscar atendimento médico e paramédico especializado e salvar a vida da pessoa. Isso é TOTALMENTE verdade. Mas é também verdade que o Terapeuta em Dependência Química pode ter uma função importante nesse momento. Muitas vezes, o primeiro contato do paciente com o tratamento acontece em uma situação de emergência. Pode ser também a primeira vez que a família entra em contato com a real possibilidade de morte causada pelo uso de drogas. Nesse sentido, o pronto‑socorro oferece uma “janela de oportunidades” para intervenções terapêuticas, que não só aquelas imediatas para preservar e manter a vida, mas também as que podem criar QUALIDADE DE VIDA. Para gravar: Em caso de emergência, CHAME O MÉDICO. Mas não vá embora depois que ele chegar, pois você ainda terá trabalho a fazer. É muito bom que o Conselheiro tenha noção de certos aspectos: Sentimentos contra transferenciais são comumente relatados por profissionais de prontos‑socorros quando atendem pacientes que apresentam algum tipo de envolvimento com o consumo de substâncias psicoativas. Isso ocorre até mesmo em casos nos quais a ingestão de álcool ou outras drogas tenha resultado em ameaça à vida. Quadros associados ao consumo de substâncias psicoativas atendidos em serviços de pronto socorro pode ser bem mais complexos do que a simples queixa inicial apresentada pelo paciente. A presença de pensamentos suicidas pode estar “camuflada”, se não questionados diretamente, aumentam ainda mais as responsabilidades desse tipo de atendimento. Lembre-se: ser dependente de álcool, por exemplo, aumenta o risco de suicídio em três a quatro vezes. As principais situações de emergência no uso de drogas são: Intoxicação aguda. Síndrome de abstinência. Agitação psicomotora. Sintomas psicóticos. Alterações do humor. Comportamento suicida. Cabe destacar que, talvez, a função mais importante do pronto‑socorro no que tange aos transtornos relacionados ao uso de drogas seja esclarecer e motivar o tratamento ambulatorial. A experiência no pronto‑socorro em relação aos transtornos relacionados ao uso de substâncias mostra que a admissão em serviço de emergência é um momento em que os pacientes e seus familiares estão sensíveis às técnicas motivacionais direcionadas ao tratamento ambulatorial. Tal oportunidade deve ser explorada para alterar o curso da doença, sobretudo em casos de gravidade leve a moderada, em que abordagens breves surtem tanto efeito quanto tratamentos mais demorados. ABORDAGEM DO PROFISSIONAL EM CASOS DE EMERGÊNCIA Essas são orientações são feitas para a equipe técnica que atende dependentes químicos em situações de urgência. Lembre-se que o Conselheiro, trabalhando dentro de uma Unidade de Saúde onde há pacientes internados, em especial naquelas onde não há médico plantonista, pode ser o único profissional disponível em um primeiro momento. A primeira atitude é conduzir o paciente ao local de atendimento adequado. Se estiver consciente, orientado, deambulando e colaborativo, deve ser conduzido a um local que deve estar livre de objetos que possam ser utilizados como “armas” pelo paciente intoxicado. O Conselheiro deve se colocar de costas para a porta de entrada para que, em caso de agitação ou agressividade, não fique “encurralado” no fundo da sala. Também é importante que perceba se a necessidade de deixar a porta da sala aberta Todas essas estratégias são importantes para zelar pela integridade física do profissional e do paciente, bem como evitar danos ao patrimônio. Cuidados devem ser tomados com relação à indumentária do profissional. Roupas indevidas, informais ou provocantes podem gerar atitudes sedutoras ou agressivas em pacientes que estão com a crítica comprometida. Certos adereços, como colares, cachecóis e mesmo cabelos compridos e soltos também devem ser evitados, pois podem proporcionar riscos ao atender pacientes agitados ou agressivos. O comportamento do entrevistador também é de grande importância nesse momento, mesmo o paciente se encontrando com algum grau de intoxicação. Atitudes respeitosas são importantes para o estabelecimento de uma relação de confiança. Alguns comportamentos e atitudes do paciente podem ser sinalizadores significativos da possibilidade de que ele se torne agitado ou agressivo durante a abordagem e, portanto, exigem atenção especial: Atitudes hostis, ansiosas ou desconfiadas; Fazer barulho, falar palavrões ou gritar; Ser ameaçador de forma verbal ou em gestos; Bater portas, chutar móveis, espalhar objetos ou jogar no chão; Balançar o corpo de um lado para outro ou ficar em pé ou andando pelo consultório. Objetivos da abordagem do Conselheiro em situações de emergência Alcançar a abstinência. Identificar antecedentes e consequências do uso. Fornecer princípios de habilidades sociais e cooperação para permanecer sóbrio. Estimular a realização desses objetivos em curto prazo. Internação em hospital psiquiátrico ou Unidade de Psiquiatria em hospital geral A internação integral é reservada como recurso extremo no tratamento da dependência química, porém é indicada para: 1. Paciente com ameaça de suicídio ou comportamento francamente autodestrutivo; 2. Paciente que ativamente ameace a integridade física de outros; 3. Paciente com sintomas psiquiátricos graves (psicose, depressão, mania); 4. Presença de complicações físicas importantes; 5. Falhas recorrentes na promoção de abstinência em nível ambulatorial; 6. Paciente que não possui suporte social algum, ou seja, seus relacionamentos são exclusivamente com outros usuários. Concluindo... e facilitando! Ao falar de Emergência em Dependência Química, o Conselheiro não deve preocupar-se com sinais e sintomas que possibilitem diagnósticos; e sim em imediatamente fazer equipe médica e paramédica alcançar o paciente. Há profissionais treinados em dar suporte avançado à vida do paciente, coisa que o Conselheiro não é. Contudo, o Conselheiro é o profissional possivelmente mais bem equipado naquele momento para dar início ou retomar um tratamento que vise a mudança de hábitos à recuperação. OBRAS CONSULTADAS: Dependência Química – Alessandra Diehl e cols.