A GESTÃO PÚBLICA MODERNA PARA O ESTADO BRASILEIRO Escola de Guerra Naval 27 de julho de 2009 João Geraldo Piquet Carneiro, diretor-presidente Instituto Helio Beltrão E-mail: [email protected] ÍNDICE DE TEMAS Cenário de deterioração gerencial Do pioneirismo ao retrocesso Os ciclos reformadores e o papel das elites do serviço público Os retrocessos Crise do modelo de “partilhamento” político da administração federal Agenda mínima de reformas voltadas para o desenvolvimento social e econômico CENÁRIO DE DETERIORAÇÃO lentidão do processo decisório multiplicação de órgãos e ministérios centralização administrativa ausência de coordenação administrativa controles formalistas e ineficazes “Carta de Brasília sobre Gestão Pública” (maio de 2008) disfuncionalidade do sistema político esgotamento do modelo de partilha de cargos DO PIONEIRISMO AO RETROCESSO O Brasil foi pioneiro em reformas administrativas desde a década de 30. Em termos comparativos, temos a administração pública mais estruturada da América Latina As reformas foram razoavelmente bem sucedidas. Mas várias perderam ímpeto ao longo dos anos Esses ciclos de retrocesso giram em torno de 3 forças básicas: a centralização administrativa, o formalismo jurídico, o viés autoritário da administração pública e o patrimonialismo – todas remontando ao período colonial Fragilidade do sistema federativo CICLOS REFORMADORES – PAPEL DAS ELITES DO SERVIÇO PÚBLICO Década de 30 (Estado Novo): a) criação do DASP (regime de compras públicas e pessoal), b) instituído o concurso público nacional e o sistema do mérito c) criados os institutos de previdência com autonomia gerencial e financeira (primeiro esforço de descentralização administrativa) Década de 50: criação de grandes empresas estatais (industrialização) com regime jurídico semelhante ao de empresas privadas BNDES e Banco do Brasil como instrumentos de financiamento e celeiro de competências públicas e núcleos de experiência - “Grupos Executivos” (JK) como by-pass da estrutura pesada do governo central 1962: reforma administrativa da Guanabara – descentralização administrativa e delegação de competência e administradores de alto nível 1965: início da mais abrangente reforma federal – embate entre os tradicionalistas (mudança de organograma) e os modernizantes (as pessoas são mais importantes que as estruturas) – Decreto-lei 200/1967 – Reforma Tributária, Banco Central (ex-Sumoc), CVM. CICLOS REFORMADORES – PAPEL DAS ELITES DO SERVIÇO PÚBLICO (II) 1980: Programa Nacional de Desburocratização (retomada da reforma de 1967), Estatuto da Microempresa, Juizado de Pequenas Causas – criação da Secretaria do Tesouro Nacional 1990: “reforma patrimonial” (Collor) – Plano Real (Itamar/FHC) – revisão constitucional – predominância da busca de equilíbrio fiscal – privatização – criação das agências reguladoras 2000: politização da gestão pública Hoje: esgotamento do modelo político de partilha de cargos como instrumento de manutenção da base parlamentar CRISE DO MODELO DE “PARTILHAMENTO” DA ADMINISTRAÇÃO FEDERAL (II) O modelo funcionou razoavelmente durante 20 anos – enquanto durou a crise fiscal e o desequilíbrio das contas públicas O aperto de caixa fez surgiu um balcão de negócios políticos Os ministérios setoriais tornaram-se inoperantes e alguns de modo crítico (Transportes, Correios) Com o reequilíbrio das contas públicas e a retomada de políticas de crescimento e distribuição de renda, os recursos voltaram a fluir para os ministérios setoriais – todos já “aparelhados” Instala-se o ambiente para desvios de recursos e corrupção tornaram-se inevitáveis CRISE DO MODELO DE “PARTILHAMENTO” DA ADMINISTRAÇÃO FEDERAL (I) Modelo de “partilha” instituído em 1985 por Tancredo Neves: os órgãos da área econômica ficaram fora da partilha e continuavam administrados segundo critérios de competência Excluídos: Relações Exteriores, Banco Central, Fazenda, Planejamento, Secretaria da Receita Federal, Secretaria do Tesouro Nacional Incluídos: ministérios setoriais (Transportes, Minas e Energia, Justiça etc.) O controle sobre os “incluídos” feito pelo orçamento e o contingenciamento de recursos AGENDA MÍNIMA DE REFORMAS (I) Pressuposto: não haverá mudança substancial do modelo de “presidencialismo de coalização” – nomeações políticas continuarão a ser a essência do modelo Novo mapa de distribuição de cargos e verbas: ampliação das “áreas de exclusão” para abranger os ministérios estratégicos para o desenvolvimento social e econômicos As “áreas de inclusão” terão tratamento diferenciado em função do risco de desvio de conduta. Ex: licitações etc O Executivo terá que negociar um “pacto anticlientelista” O Executivo deverá montar uma “matriz de risco” como a elaborada pela Comissão de Ética Pública da Presidência da República AGENDA MÍNIMA (II) Desburocratização e saneamento das licitações Abolição do Regime Jurídico Único do servidor público Instituição de pré-requisitos para a nomeação para cargos públicos Restabelecimento da autonomia efetiva de órgãos e entidades da administração indireta Reforço e blindagem das agências reguladoras ANEXOS Funcionalismo Público Civil Federal Executivo: 529.235 Administração Direta: 219.992 Autarquias: 212.622 Fundações: 106.621 Servidores Legislativo: 24.608 Servidores Judiciário: 93.607 Corrupção no Brasil – cenário geral O Brasil perde, em média, R$ 10,5 bilhões por ano com corrupção. (FIESP/CGU) O índice de percepção da corrupção no Brasil é de 3,5 pontos, em uma escala de 0 a 10. De 180 países, o Brasil ocupa o 80º lugar (TI). Cerca de R$ 27 bilhões são investidos anualmente no Brasil no combate à corrupção. 1/3 das empresas no Brasil já recebeu pedido de propina para facilitar concessão de licenças e alvarás. (BID) Metade das empresas no Brasil já recebeu pedido de propina em casos de tributos. (BID) Corrupção no Brasil – cenário geral De 2001 a 2008, foram abertos 12.838 processos administrativos de investigação de corrupção na Administração Pública. Montante envolvido: mais de R$ 3 bilhões. (CGU) De janeiro de 2003 a fevereiro de 2009, 2.031 demissões foram aplicadas pela Administração Pública por corrupção. Os principais motivos foram: (i) valer-se do cargo para obter vantagens (33,82%); improbidade administrativa (20%); (iii) casos de abandono de cargo (10,18%); (iv) recebimento de propina (6,28%) e (v) lesão aos cofres públicos (5,31%). (CGU) Com que frequência as empresas desses países se envolvem com (TI) País suborno a políticos de alto escalão ou partidos políticos? suborno a servidores de baixo escalão para “acelerar as coisas”? uso de influências pessoais ou familiares em contratações públicas? Canadá 4% 7% 10% Suíça 5% 2% 5% Reino Unido 5% 4% 7% Singapura 10% 11% 9% Espanha 11% 16% 19% EUA 12% 8% 11% França 12% 11% 14% Brasil 17% 21% 18% Itália 22% 20% 20% China 24% 28% 26% Índia 25% 30% 25% México 32% 32% 38% Rússia 51% 50% 43% Como são avaliadas as ações dos governos na luta contra a corrupção? (TI) País Muito inefetiva Inefetiva Nenhuma das opções Efetiva Muito efetiva Singapura 0% 1% 1% 26% 72% França 11% 43% 0% 41% 4% Alemanha 14% 58% 2% 22% 2% Chile 41% 39% 13% 5% 2% Índia 42% 30% 20% 9% 0% Brasil 51% 22% 3% 21% 3% Argentina 51% 38% 7% 3% 0% México 50% 30% 3% 15% 1% Em que medida as instituições abaixo são afetadas pela corrupção? (TI) (1 nada corrupto – 5 extremamente corrupto) Brasil França Alemanha Reino Unido EUA Partidos Políticos 4,2 3,4 3,4 3,2 3,8 Legislativo 3,6 2,7 2,8 2,8 3,6 Empresas/ Setor Privado 2,9 2,8 3,0 2,5 3,2 Mídia 2,8 3,0 3,0 2,8 3,3 Militares 2,7 1,8 2,2 1,9 2,5 ONGs 3,1 2,1 2,8 2,5 2,6 Igreja/ Órgãos Religiosos 2,9 1,9 2,5 2,3 2,8 Sistema Educacional 2,9 1,9 2,2 1,9 2,7 Judiciário 3,3 2,5 2,1 2,1 3,1 Serviços Médicos 3,4 2,3 2,8 1,8 2,8 Polícia 3,8 2,3 2,1 2,3 3,0 Serviços Notariais e de Licenças 3,4 2,2 2,8 2,5 3,1 Serviços Públicos 3,2 1,8 2,6 2,5 2,8 Autoridades Receita Federal 3,4 1,8 1,9 2,3 3,2 Causas da Corrupção no Brasil Burocratização como facilitador de corrupção Judiciário lento e pouco eficiente Centralização administrativa Ausência de reciprocidade no tratamento da conduta ética Outras regras relativas à conduta Os seguintes Códigos de Conduta são aplicáveis aos servidores públicos: Código de Ética Profissional do Servidor Público Civil (1994) Código de Conduta da Alta Administração Federal (2000) Código de Conduta Ética dos Servidores da Presidência e Vice-Presidência (2002) Lei de licitações, antitruste, etc