Resumo: Diabetes Insipidus Neurogênica Introdução: O DI neurogênico consiste na incapacidade, total ou parcial, de concentrar a urina em resposta ao aumento da osmolaridade plasmática. Isso ocorre devido à alteração da produção, transporte ou liberação da arginina vasopressina (AVP), provocando a excreção de uma urina abundante e insípida. A secreção de AVP está envolvida com diversos fatores, como a existência de osmorreceptores em regiões específicas do cérebro, influência de substâncias plasmáticas, como endotelinas e angiotensina II (ANG II), deficiências no seu transporte por neurofisinas e mutações em genes envolvidos na sua produção. Neuroanatomia: Áreas específicas do sistema nervoso central (SNC) são responsáveis por uma resposta integrada no controle do volume e da osmolaridade dos fluidos corporais, sendo dependente da integridade da região ântero-ventral do terceiro ventrículo (AV3V) e do sistema hipotálamoneurohipofisário (HNS). ▪Barreira Hematoencefálica (BHE): é formada principalmente pelo endotélio capilar, o qual possui junções de oclusão essenciais para sua função, sendo reforçada pela lâmina basal dos capilares e pelos pés terminais dos astrócitos perivasculares. A BHE reveste o tecido nervoso central de modo a dificultar a troca de substâncias entre este e o sangue. Contudo, há regiões onde esta barreira é inexistente, como nos Órgãos Circunventriculares (CVOs) ▪Órgãos Circunventriculares (CVOs): a ausência da BHE permite aos CVOs utilizarem mecanismos neuro-humorais para receber informações sistêmicas e influenciar funções periféricas. Os CVOs estão localizados no prosencéfalo e no tronco encefálico, totalizando 8 estruturas: órgão subfornical (SFO), órgão vascular da lâmina terminal (OVLT), eminência mediana (ME), lobos intermédio e posterior da hipófise (NH), glândula pineal (PI), órgão subcomissural (SCO), área postrema (AP) e plexo coróide do quarto ventrículo (CP). ▪Terceiro Ventrículo: estreita cavidade localizada na linha mediana do diencéfalo e cuja parede lateral é formada pelo tálamo e hipotálamo. A região AV3V, que possui neurônios sensíveis a mudanças de osmolaridade no plasma e no líquor (CSF), inclui a parte ventral do núcleo mediano pré-óptico (MnPO) e o órgão vascular da lâmina terminal (OVLT). ▪Lâmina Terminal (LT): contém o órgão subfornical (SFO), MnPO e o OVLT, sendo uma fina lâmina de tecido nervoso que une os dois hemisférios. ▪Hipotálamo: responsável pelo controle da homeostasia interna e comportamental; agrupa-se em vários núcleos dentre os quais os núcleos paraventricular (PVN) e supra-óptico (SON). Estes contem células magnocelulares (MNCs) que se conectam à neuro-hipófise, onde secretam a ocitocina (OT) e a vasopressina (AVP). ▪Hipófise: glândula situada na sela túrcica do osso esfenóide, sendo dividia em adeno-hipófise e a neuro-hipófise, sendo esta a porção secretora de AVP. ▪Núcleo do Trato Solitário (NTS) e Área Postrema (AP): o NTS está localizado no dorso do bulbo, enquanto a área postrema, no limite caudal do quarto ventrículo (4V), estando ambas interconectadas. Estão envolvidas com o controle do comportamento de ingestão de água e comida, função cardiovascular e a indução do vômito. ▪Tálamo: constituído por duas massas ovóides de tecido nervoso unidas pela aderência intertalâmica, apresentando diversos núcleos que podem ser divididos nos grupos anterior, posterior, mediano, medial e lateral. Sensores ▪ Barorreceptores: os barorreceptores periféricos de alta pressão (no arco aórtico e no seio carotídeo) e os de baixa pressão (os cardiopulmonares) percebem variações na volemia e na pressão arterial. Para ambos os tipos vale a seguinte via: volume circulatório efetivo estiramento da parede vascular relaxamento de canais da membrana dos barorreceptores entrada de cátionsdespolarização da membrana potenciais de ação NTS 1)NTS bulbo ventro-lateral caudal resistência vascular PA 2)NTShipotálamo secreção de AVP PA Há, ainda, barorreceptores renais capazes de detectar variações na pressão arterial, modulando então a atividade secretória das células justaglomerulares. Estimulam a secreção de renina em resposta à hipovolemia. ▪Osmorreceptores: Anormalidades na tonicidade plasmática são percebidas em certas regiões do encéfalo, como os núcleos SFO, MnPO e o OVLT, que, desprovidos da proteção da BHE, são os principais sítios de osmossensibilidade. Os núcleos PVN e SON do hipotálamo, além de serem os sítios de síntese e secreção de AVP e OT, também se mostraram osmossensíveis. O controle osmótico é dado pela modulação da taxa de disparo dos neurônios magnocelulares ocitocinérgicos e vasopressinérgicos, 1.Mecanismos Intrínsecos de Regulação dos Osmorreceptores a) Canais de Cátions Inativados por Estiramento (SICs): presentes nas MNCs canais do tipo SIC (stretch-innactivated channel), são determinantes para a osmossensibilidade destas células e sua probabilidade de abrir (Po) varia de acordo com o volume celular. Assim: osmolaridade volume celular relaxa SIC permeabilidade a cátions despolarização potenciais de ação liberação de AVP. O contrário ocorre em hipotonicidade plasmática. Recentemente, demonstrou-se que aumentos fisiologicamente relevantes da concentração extracelular de Na+ aumentam a permeabilidade dos SICs a este íon. Isto é, mesmo na ausência de pertubações osmóticas sistêmicas, a variação na concentração de Na+ no liquor (CSF) pode modular o potencial das MNCs, alterando suas taxas de disparo de potenciais de ação. Os estudos que elucidaram tal propriedade mostraram que a amplitude da resposta excitatória é proporcional ao aumento da [Na+] do CSF. b)Receptores de Potencial Transiente Sensíveis a Vanilóide (TRPVs): quando estimulados, promovem aumento da [Ca++] intracelular, tanto por via direta, permitindo influxo deste íon ou liberação de Ca++ no citoplasma por uma organela, como de forma indireta, através da despolarização da membrana. - TRPV4: expresso nos SFO, MnPO e OVLT, assim como na porção distal do néfron. Pesquisas revelaram que esse receptor é expresso em mais alta densidade no tecido renal do que em qualquer outro local do corpo, mas sua função no rim ainda não está esclarecida. Os TRPV4 possuem um papel preponderante em situações de hipotonicidade sistêmica (“regulação da redução de volume”). O canal TRPV2 também demonstrou responder a quadros de hipotonicidade, além de estresse mecânico. No entanto, o conhecimento sobre este membro da família dos TRPV é limitado. -TRPV1: expresso tanto nos CVOs, como nas MNCs dos núcleos PVN e SON do hipotálamo. Está relacionado à osmorregulação em quadros de hipertonicidade plasmática, através do aumento da condutância de cátions, que geraria uma corrente interna. despolarizaria o osmorreceptor e aumentaria o disparo de potenciais de ação, consequentemente a secreção de AVP. O OVLT é o sítio primário de osmossensibilidade. 2.Mecanismo Extrínseco de Regulação dos Osmorreceptores Ação Parácrina Inibitória da Glia Adjacente: as células secretoras de AVP também respondem à liberação de taurina pela glia do SON, que aumentam tal liberação a partir de estímulos sobre canais aniônicos ativados por aumento volume celular em situação de hiposmolaridade. Nas MNCs: taurina() GlyR (strychinne-sensitive glycine receptor = canais de Cl-) influxo de Cl- hiperpolarização a liberação de AVP como resposta complementar à hipoosmolaridade. 3.Atividade Sináptica de Osmorreceptores da Lâmina Terminal Estudo com células isoladas do OVLT demonstrou sua sensibilidade intrínseca ao aumento da osmolalidade do FEC a partir da presença de canais da família TRPV. A sinalização osmostática entre o OVLT e os neurônios efetores (AVP/OT) no SON é mediada em parte por sinapses excitatórias. Especificamente, neurônios glutamatérgicos no OVLT codificam a osmolalidade do FEC via mudanças proporcionais em suas taxas de descargas sinápticas, e essa informação é transmitida para as MNCs na forma de estimulação excitatórias glutamatérgicas, cuja intensidade varia com a freqüência de disparo de PA do neurônio OVLT. Apesar de não provado, acredita-se que os neurônios GABAérgicos do OVLT apresentem sim uma função regulatória sobre a liberação de AVP. É provável que estes respondam a condições hipoosmóticas, e que a regulação da freqüência de disparo do SON necessite de uma co-ativação de neurônios excitatórios quanto inibitórios sobre seus neurônios. Figura 3.2.2.6(importante para prova): (a) Três diferentes mecanismos de regulação da excitabilidade das células magnocelulares neurossecretórias (MNCs): (1) ação parácrina inibitória da glia adjacente; (2) osmossensibilidade intrínseca das MNCs; (3) sinapses excitatórias de osmorreceptores da lâmina terminal. Lembrando que nesta imagem não se encontra representada a osmossensibilidade intrínseca mediada pelos canais TRPV1. (4) canais de sódio não inativados que, possivelmente, amplificam as mudanças de voltagem provocadas por outros mecanismos. (b) Contribuição de mecanismos locais (canais SIC e GlyR) e sinápticos (frequência excitatória do potenciais pós-sinápticos derivados dos osmorreceptores primários) ao potencial de membrana. Notar que é preciso uma resposta combinada para a modulação apropriada do disparo de potenciais de ação. 4.Ação das endotelinas(ET): Também influenciam na liberação de AVP. ET são encontradas em células neuronais e gliais e podem atuar como neurotransmissores peptidérgicos. A sua expressão e de seus receptores é particularmente alta em núcleos cerebrais relacionados à regulação da função cardiovascular, saída simpática e secreção de AVP. O SFO possui vários receptores ETa e projeções neurais para os núcleos PVN e SNO. Estudos sugerem a ação de ET no sistema nervoso central, estimulando a secreção de AVP e aumentando a pressào arterial. Experimentos comprovam que a resposta hemodinâmica (pressão arterial e freqüência cardíaca) ou nervosa simpática renal à estimulação por ET1 do SFO é, pelo menos em parte, modulada por AVP atuando sob receptores V1a dentro do PVN. Além disso, sabe-se que a insuficiência cardíaca moderada ou severa está associada com altas concentrações de ET e AVP no plasma. Entretanto, novos estudos ainda precisam ser realizados nesse ramo, podendo gerar novas alternativas no tratamento de patologias cardiovasculares 5. Efeitos de Estímulos Crônicos na Osmorregulação A privação de água por 24h resulta na expressão da proteína c-Fos, marcadora de atividade neuronal, no PVN e no SON. A ativação destes núcleos hipotalâmicos é mantida após estimulação osmótica crônica, induzida pela ingestão de solução hipertônica de NaCl ou pela privação de água e revertida por ingestão de água por 24h após a estimulação osmótica crônica. A estimulação crônica ocasionou: (1) grande detecção de Fos no PVN e no SON hipotalâmicos e no MnPO, OVLT e SFO, de ratos submetidos a privação de água por 24h a 48h; (2) elevou a expressão de mRNA de AVP no SON e PVN. Estas análises sugerem que a adaptação ao estresse osmótico crônico resulta em mudanças globais na expressão gênica dos neurônios MNCs do SON. ▪ Angiotensina 1. Sistema Renina- Angiotensina (RAS) No clássico RAS sistêmico, o rim e o fígado são as principais fontes de renina e angiotensinogênio (AGT), respectivamente. volume circulatório efetivo(PA): (1) barorreceptores (+)S.N. simpático AJG no rim liberação de renina; (2) pressão de perfusão renal receptores de estiramento das células granulares na arteríola aferente liberação de renina; Além disso, a secreção dessa enzima pode ser elevada pela queda de concentração de NaCl nas células da mácula densa, as quais sinalizam para a as células granulares. O RAS do sistema nervoso central age na regulação da pressão sanguínea independentemente do RAS sistêmico. Todos os compomentes do RAS foram localizados em regiões cerebrais, assim como os receptores para antiogensina, principalmente o tipo AT1, como nos CVOs (permitindo ação central da ANGII plasmática) e no NTS, fato que associa a ANG II com a regulação de funções cardiovasculares e autônomas. O receptor AT2 possui distribuição bastante restrita nos humanos, mas está presente, junto ao AT1, na camada molecular do cerebelo. ANG II do sistema nervoso central é gerada a partir da mesma sequência de clivagem do AGT, sendo posteriormente convertida a ANG III pela aminopeptidase A. Há, ainda, a ANG IV gerada a partir da ação da aminopeptidase N sobre a ANG III, que vem sendo relacionada ao mecanismo de retenção da memória e desenvolvimento neuronal, agindo também como vasodilatador, de modo a aumentar o fluxo sanguineo cerebral via interação com receptores AT4. 2. ANG II do Sistema Nervoso Central e o Mecanismo da Sede: -AGT é abundantemente expresso nessa região, sugere a possibilidade da ANG II verificada no SFO ser derivada tanto da circulação sanguínea quanto da síntese local do AGT. -Experimentos mostraram que superexpressão de ANG II no cérebro de camundongos transgênicos leva à maior ingestão de água, maior volume urinário e maior ingestão e sal, confirmando o fato de a resposta dipsogênica ser mediada por ANG II. Além disso, verificou-se que o sítio de produção de ANG II no SNC está no SFO, o qual então a liberaria de modo a estimular as MNCs em resposta a hipertonicidade plasmática. -MNCs isoladas de ratos: solução hipertônica + ANG II maior (+) canais SIC despolarização, em relação ao controle (sem ANG II), indicando que esse peptídeo eleva a mecanossensibilidade dessas células em resposta a sinais osmóticos, e com isso, também aumenta a transdução celular via PKC-dependente de cálicio intracelular. Uma vez que a ANG II se liga ao AT1 das MNCs: . Uma vez ativada, a sinalização via PKC atuaria sobre a densidade dos filamentos de f-actina presentes no citoesqueleto das MNCs e, assim, a osmossensibilidade destas variaria de acordo com a quantidade desses filamentos em seu interior, sendo, a densidade de F-actina maior ao longo do perímetro da célula, imediatamente abaixo da membrana plasmática, sendo ainda maior nas células tratadas com ANGII. Na presença de inibidores da PKC e de agentes que despolimezam a F-actina, a mecanossensibilidade das MNCs esteve reduzida, mesmo na presença de ANGII. Esse resultado realça a importância da integridade do citoesqueleto paras as respostas a ANG II pelas células MNCs do SON. 3. Angiotensina III Gerada pela conversão da ANG II pela aminopeptidade A, possui mesma afinidade pelos receptores AT1 e AT2 que a ANG II. Foi verificado que a injeção intracerebroventricular ou injeção direta no SON e no PVN tanto de ANG II quanto de ANG III aumentam a atividade das MNCs e induzem à liberação de AVP no sangue. Inibidores da aminopeptidade A reduziram a secreção de AVP em administração de ANG II, sugerindo que a conversão de ANG II a ANG III é requerida para estimular a secreção de AVP. Já a inibição da aminopeptidase N, leva a um acúmulo de ANG III endógena (não convertida a ANG IV), que se liga aos receptores AT1, aumentando a secreção de AVP, sendo este aumento inibido quando da concomitante administração de um antagonista da ANG II que compete pelo seu receptor. A ação da ANG III via ligação aos receptores para angiotensina, principalmente ao AT1, presentes no SFO e no OVLT, além de outras regiões envolvidas com o mecanismo dipsogênico, indicaria a sua participação, não só na liberação da AVP pelas MNCs, mas também na geração da sede e no comportamento para saciá-la. ▪A sede e regulação da ingestão de líquido A sede tem sido descrita como uma percepção subjetiva fornecedora da motivação necessária à ingestão de líquidos, a fim de que haja manutenção da homeostase dos fluidos corporais. Pode aumentar, por exemplo, devido à hipovolemia e à hipertonicidade do FEC, bem como ao aumento dos níveis de alguns hormônios dipsogênicos circulantes. A sede pode ser classificada em: (1)Volumétrica: resultante da perda anormal de volume do FEC, a qual é percebida por barorreceptores renais, vasculares, viscerais e cardiopulmores, desencadeando uma resposta caracterizada pelo aumento dos níveis de ANG II e na ativação do NTS e da AP. Essas vias ativam os osmoceptores da lâmina terminal, estimulando a sensação de sede. (2)Osmométrica: resultante do aumento da osmolaridade plasmática em cerca apenas1-2%, o qual ativa células principalmente da lâmina terminal que desencadearão ação dipsôgenica, através de vias ascendentes a áreas superiores. FIGURA 5.1 – LPBN(núcleo parabraquial-na ponte); Ap (área postrema); No gráfico: Fac=facilitação; INH= inibição Outros hormônios que tuam no mecanismo da sede são a relaxina (liberada pelo corpo lúteo do ovário) e o ANP (liberado pelos miócitos atriais), que atuam estimulando e inibindo, respectivamente, o consumo de água, via ação principalmente sobre o SFO (figura anterior). A lâmina terminal, como já dito, possui proteínas de membrana osmorresponsivas, TRPV1 e TRPV4, que transduzem estímulos osmóticos em potenciais de ação, modulando a secreção de AVP através de projeções eferentes para os núcleos PVN e SON. No entanto, além do controle neuroendócrino, é sugerido que a lâmina terminal possua outro papel fisiológico em resposta a sinais osmóticos, a partir projeções eferentes para algumas região do SNC como o tálamo, sugerindo um circuito lâmina terminal-tálamo-cortical, importante para a conversão de sinais osmóticos em estímulos provenientes da lâmina terminal para regiões efetoras corticais para a sede para a geração da sede. As duas regiões implicadas no aspecto emocional da sede são os córtices da ínsula e o cingulado, que recebem eferências de múltiplos núcleos. Foram avaliadas conexões funcionais entre a lâmina terminal e regiões do córtex envolvidas na homeostase. Assim: ↑osmolaridade → (+) osmoceptores da lâmina terminal → tálamo (núcleos talâmicos medianos, mediais e ventrolaterais )→ córtex cingulado e insular→ sede. ▪O papel do hipotálamo e da hipófise na secreção de AVP AVP é um peptídeo sintetizado nas MNCs dos SON e PVN do hipotálamo, as quais projetam axônios para a neuro-hipófise. A síntese se dá a partir do gene do complexo AVPneurofisina II, que contém 3 éxons intercalados por 2 íntrons, onde: éxon1 codifica o próprio ADH (ou AVP), o peptídeo sinalizador e alguns aminoácidos da neurofisina II (NPII); o éxon2, grande parte da NPII; e o éxon3, o COOH-terminal da NPII e um glicopeptídeo (GP). Esses componentes formam a pré-pró-AVP. Após splicing e tradução, o peptídeo sinal é removido pela enzima sinal-peptidase, havendo também glicosilação do GP, formando então a pró-AVP (= AVP + NPII + GP glicosilado). Esta sai do REG e passa para o complexo de golgi, onde o Gp será dissociado e a AVP-NP II serão “empacotadas” em vesículas –corpos de Herring – e transmitidas via transporte axonal rápido para o terminal nervoso, a NPII atuaria então como um transportador de AVP, estabilizando o complexo AVP-NPII. Quando: ↑ osmolaridade plasmática →(+) núcleos hipotalâmicos → ↑ PAs pelo axônio→influxo de Ca+2 no terminal axônico →liberação de AVP-NP II na neurohipófise por exocitose→ circulação hipofisária→AVP e NPII se dissociam devido ao pH ligeiramente alcalino do sangue→ circulação sistêmica. A AVP livre no sangue atuará: 1) no aumento da permeabilidade do ducto coletor à reabsorção de água, por meio de ligação AVP-receptor V2 na membrana basolateral das células principais, a qual provocará incorporação de canais AQP2 na membrana luminal, via altos níveis de cAMP e ação da PKA. Na menbrana basolateral, há canais AQP3 e 4, independentes de AVP. Contudo, para haver a reabsorção é necessária uma hipertonicidade medular, acentuada pela ativação dos co-transportadores NKCC2 da membrana luminal do epitélio do ramo grosso ascendente da alça de Henle, via AVP, aumentandoa reabsorção de NaCl para o interstício medular. 2) no aumento da permeabilidade do ducto coletor papilar à uréia, através da incorporação de canais UTA1 na membrana apical. Após reabsorção de água nas porções cortical e medular externa do ducto coletor, a uréia torna-se mais concentrada no fluido tubular, criando-se um gradiente favorável à sua reabsorção na porção medular interna desse segmento tubular, importante para o ciclo da uréia. Há canais de uréia UTA3 na membrana basolateral, independentes de AVP. 3) no estímulo à reabsorção de sódio no túbulo convoluto distal e também no ducto coletor, via canais ENaC, contribuindo também par a hipertonicidade medular. Quanto aos receptores do tipo V1a, sabe-se que estes se localizam nas paredes dos músculos lisos, sendo responsáveis, principalmente, pela diminuição do aporte sanguíneo na região medular interna. Sua atuação pode ser percebida em quadros hemorrágicos intensos, em que, na tentativa de aumentar o volume e a pressão sanguíneos, pode ocorrer uma isquemia renal. Como tentativa de impedir tal evento, ocorre a liberação de prostaglandinas, que atenuam os efeitos da vasoconstrição, inibindo a produção de AMPc, e por isso também limitando a ação de ADH sobre os receptores V2 nas células do ducto coletor. ▪Principais causas da deficiência na secreção de AVP 1)Causa Genética : a mais comum consiste Diabetes Insipidus Neurohipofiseal Familiar autossomal dominante (adFNDI). A adFNDI, que se manifesta clinicamente por poliúria e aumento persistente de sede/ingestão de fluidos devido à secreção deficiente de AVP mediante flutuações de osmolalidade plasmática. Seria resultante na maior parte dos casos de mutações que levam à formação de uma estrutura tridimensional inadequada da NPII, gerando um pró-hormônio defeituoso que fica retido no REG. Isso causa citotoxidade nos neurônios, e sua posterior degeneração. As mutações podem ocorrer também no peptídeo sinal, importante para o endereçamento e a translocação do complexo para o REG. Mutações nessa porção costumam conferir resistência à clivagem do peptídeo sinal pelas peptidases do retículo, o que costuma interferir na formação de pontes dissulfeto na AVP, prejudicando também a estrutura tridimensional da neurofisina II. A citotoxidade decorrente do acúmulo dos compostos mutantes, produtos do gene de AVP, gera a morte celular dos neurônios produtores do hormônio antidiurético, caracterizando a Diabetes Insipidus. 2)Traumas e Lesões Cirúrgicas: ambos relacionados ao trato hipotálamo-hipofisário ou diretamente às células magnocelulares neurossecretoras de vasopresina. O NDI pós-traumático pode resultar de edemas inflamatórios ao redor do hipotálamo e/ou da hipófise posterior. Se os neurônios lesados forem capazes de formar novas conexões vasculares, a NDI pode ser somente temporária, porém, se houver morte glial, os distúrbios serão permanentes. 3)Infecção: verificou-se que, por exemplo, o citomegalovírus atinge nas áreas paraventriculares do hipotálamo, secretoras de AVP, e que a meningite tuberculosa afeta o eixo hipotalâmico-hipofisário, sendo uma causa infecciosa comum da diabetes insipidus neurogênica. 4)Neoplasia: craniofaringioma, meningioma, glioma, astrocitoma, leucemia, linfoma e teratoma, entre outros, podem ser causas neoplásicas de diabetes insipidus neurogênica. O eixo hipotalâmico-hipofisário é um dos sítios mais comuns de aparecimento do craniofaringioma sendo este, um dos tumores que mais causa diabetes insipidus neurogênica. 5)Auto-imune: é caracterizado pela presença de anticorpos circulantes para as MNCs, os AVPcAb, sendo comumente acompanhado por doenças endócrinas auto-imunes. Além disso, a doença pode estar relacionada com a presença de infundíbulo-neurohipofisite linfocítica (inflamação do sistema neurohipofisário). Seria processo auto-imune progressivo para as células secretoras de AVP, levando a uma severa NDI. ▪A fisiopatologia dos distúrbios secretórios de AVP A diabetes insipidus (DI) é uma síndrome caracterizada pela excreção de grandes quantidades de urina muito diluída (poliúria) e por uma sede pronunciada que provoca uma grande ingestão de líquidos (polidipsia). Há quatro mecanismos patofisiológicos que são diagnósticos diferenciais: 1)polidipsia primária(PP): caracterizada por uma ingestão excessiva de líquidos, reduzindo Posm e, assim, inibindo a secreção de ADH. Pode ser psicogênica, observada em parte de pacientes esquizofrênicos, com distúrbios bipolares e com um quadro de neurose chamado de “ingestão compulsiva de água”. 2)DI gestacional: resultante de uma excessiva degradação do AVP, durante a gravidez, por uma vasopressinase produzida pela placenta. 3)DI nefrogênica: deficiência dos receptores V2 no túbulo coletor 4)DI neurogênica: deficiência na secreção de AVP. ▪O Diagnóstico de Diabetes Insipidus Neurogênica As características clínicas incluem manifestações relacionadas a produção de volumes anormalmente grandes de urina diluída. O volume de urina em 24h é > 50ml/kg do peso corporal, e a osmolaridade, <300mosmol/l. A poliúria, micção de grandes quantidades de urina, produz sintomas de polaciúria (maior número de micções), enurese (eliminação involuntária de urina) e/ou enictúria (micção excessiva e freqüente a noite), que podem perturbar o sono e causar fadiga ou sonolência diurna. Está também associada à sede e ao aumento proporcional na ingestão de líquido (polidipsia). Os sinais de desidratação são incomuns a menos que a taxa hídrica esteja comprometida. Teste de privação hídrica: se esta não resultar em concentração urinária antes que haja perda ponderal de 5% ou a osmolaridade/sódio do plasma ultrapasse o limite superior ao normal, a polidipsia primária e qualquer defeito na ação da AVP estão praticamente excluídos. Nestes pacientes o DI hipofisário ou nefrogênico graves são as únicas possibilidades remanescentes e, em geral, podem ser distinguidos pela administração de desmopressina (análogo da AVP) e determinação rápida da osmolaridade urinária dentro de 1-2h. A observação de um aumento maior que 50% indica DI hipofisário grave. A maneira mais apropriada de diferenciar esses 3 distúrbios consiste em determinar os níveis plasmáticos ou urinários de AVP antes e no decorrer do teste de privação hídrica, analisando o resultado em relação a osmolaridade plasmática ou urinária concomitante. Como é difícil produzir o nível necessário de desidratação hipertônica apenas através de privação hídrica, em geral, acrescenta-se uma infusão de solução salina hipertônica (a 3%) e repetem-se as determinações da AVP quando a osmolaridade plasmática aumentar para >300mosmol/l (Na+>145mmol/l). O diagnóstico diferencial de DI também pode ser facilitado pela ressonância magnética (RM) da hipófise e do hipotálamo, através de um “ponto brilhante” quase sempre ausente ou anormalmente pequeno nesses pacientes, sendo, porém observado em pacientes com polidpsia primária. Assim, os achados à RM devem ser interpretados com cautela e apenas no contexto de outros exames diagnósticos baseados nos ensaios da AVP ou nas respostas diferenciais ao tratamento. Confirmada a origem neurogênica do diabetes insipidus, deve ser feita uma investigação acerca do tipo de lesão que acometeu o eixo hipotálamo-hipofisário. É interessante notar que as lesões traumáticas podem ser, basicamente, de duas naturezas: se há transecção do infundíbulo, os sintomas surgem algum tempo após a lesão, pois há ainda quantidades sufientes de AVP na neurohipófise, mas se lesão foi direta na neuro-hipófise, o quadro de diabetes insipidus é apresentado horas após o trauma. ▪O Tratamento de Diabetes Insipidus Neurogênica DDAVP (desamino-D-arginina-8-vasopressina), um análogo sintético da vasopressina, é comumente utilizado porque atua seletivamente sobre os receptores V2 aumentando a concentração da urina e reduzindo o fluxo urinário de forma dependente da dose. É também mais resistente à degradação que a AVP e sua ação dura três a quatro vezes mais. Pode-se administrar a DDAVP por via parenteral (IV ou SC), inalação nasal ou por via oral (em comprimidos). Outro tratamento possível para DI neurohipofisário consiste na administração de cloropropanamida cujo mecanismo de ação antidiurético ainda é desconhecido, mas pode envolver a potencialização de pequenas doses de AVP ou ativação direta do receptor V2. Seus efeitos são análogos ao da DDAVP. Entretanto pode apresentar efeitos adversos, como a hipoglicemia, sendo ainda contra-indicado em casos de DI gestacional por ter seu potencial teratogênico desconhecido O tratamento com DDAVP, entretanto, não é eficaz para DI nefrogênico, dipsogênico ou psicogênico, nem sobre a polidipsia primária podendo inclusive para esse último causar um quadro de intoxicação hídrica dentro de 24-48h. ▪Conclusão Foi abordada neste trabalho a importância que compete à concentração ideal de AVP na circulação sistêmica, visando à manutenção da homeostase do organismo por meio de uma adequada diurese, natriurese e excreção de uréia, sendo associada a mecanismos centrais de controle da ingestão de água e de solutos ( NaCl principalmente). Dessa forma, sua secreção está sob fina regulação osmótica e hemodinâmica de osmorreceptores e barorreceptores, respectivamente. Esse sistema sensorial modula a secreção de vasopressina pelas células MNCs. Distúrbios de origens diversas nesse mecanismo neurossecretório podem levar ao diabetes insipidus neurogênica (NDI). O diagnóstico dessa patologia deve ser preciso a fim de se possa distingui-la de outros distúrbios com sintomas semelhantes e, assim, iniciar rapidamente o tratamento adequado.