MÉTODOS PARA RAIZ QUADRADA: UMA ANALOGIA Thiago Formehl (UNICENTRO), Edilson Roberto Pacheco (Orientador – Dep. de Matemática/UNICENTRO): [email protected] Palavras-chave: História da Matemática, Levi Ben Gershon, Raiz Quadrada. Resumo: O presente trabalho é um estudo comparativo entre o método de Levi Ben Gershon (1288-1344) para extração de raízes quadradas e o antigo método babilônico. Observou-se que a eficácia do método de Levi em relação ao babilônico depende da classe de números a ser trabalhada. Introdução Com o expansionismo islâmico e a tradução de importantes obras científicas e filosóficas da antiguidade, estudiosos judeus se destacaram. Dentre eles, Levi Ben Gershon, considerado um dos maiores cientistas judeus da idade média, popularmente conhecido entre seus pares como Gersonides, Gershumi ou Ralbag. Levi desenvolveu vários trabalhos em distintas áreas, como Matemática, Física, Astrofísica, Filosofia e fez comentários ao Antigo Testamento. Embora tenha deixado inúmeras provas de seu talento matemático, Ben Gershon não é citado nos mais conhecidos e acessíveis livros de História da Matemática. Materiais e Métodos O estudo foi pautado sobre o método de Levi Ben Gershon e o método babilônico para extração de raízes quadradas, explicitados em Langermann e Simonson (2000). O método de Levi consiste em construir a raiz dígito a dígito, partindo de uma aproximação menor que a raiz desejada, e acrescentando a cada iteração, pequenos valores até chegar à raiz exata. Seu método é exclusivamente narrativo e trabalha basicamente sobre a identidade (a+b)² = a²+2ab+b². Pode-se descrever o método de Levi da seguinte forma: o primeiro passo é verificar quantos algarismos possui o número que se deseja encontrar a raiz quadrada, os quais Levi chama de “níveis”. Caso o número de algarismos seja par, unem-se os dois primeiros, da esquerda para a direita, formando-se um único nível. A seguir encontra-se o quadrado mais próximo a esse nível, mas sempre menor que ele. Escreve-se sua raiz na linha abaixo do número, no nível médio entre o primeiro e o último; essa é a “fila resultado”. Então subtrai-se esse quadrado do primeiro nível e escreve-se o resto na linha acima do número, essa será a “linha topo”. O resto é dividido por duas vezes a atual raiz e, se não for possível, eleva-se mais um dígito à linha topo. Multiplica-se o quociente pela soma do dobro da atual raiz com esse quociente; o resultado é subtraído da linha topo. Como o quociente é candidato a ser o próximo dígito, então a atual raiz será acrescida de um zero. Se não for possível efetuar a subtração um dígito a mais é elevado à linha topo. Repete-se o procedimento até não restar nada na linha topo e verifica-se que a aproximação seja menor que a raiz desejada. Exemplo: Encontrar a raiz quadrada de 277729. Níveis 5 4 3 2 1 Linha Topo 3 0 0 0 0 Linha Topo 2 7 3 2 9 Linha Topo 1 2 7 7 Número 27 7 7 2 9 5 2 7 Fila Resultado 7(2.520+7)=7329 2(2.50+2)=204 O Método Babilônico O método babilônico parte de uma aproximação qualquer da raiz quadrada de um número e o resultado vai sendo aperfeiçoado a cada iteração. A velocidade de convergência depende da primeira aproximação escolhida. Como os babilônios não deixaram explicação de suas idéias, é possível justificá-lo tanto algebricamente como geometricamente. Algebricamente: seja a uma aproximação da raiz r de um número n, e a<n, então n/a será maior que a, logo, a média entre eles é melhor que a, então r=(a+n/a)/2. Geometricamente, o método consiste em transformar um retângulo em um quadrado de mesma área; então, o lado do quadrado será a raiz desejada. Sendo a e n/a os lados de um retângulo de área n, divide-se o excesso de n/a em duas partes e move-se uma delas para o menor lado, e o quadrado resultante terá lado (a+n/a)/2, desta forma: Figura 1 Exemplo: encontrar a raiz quadrada de 277729 a0=500 a1=(500+277729/500)/2=527,729 a2=(527,729+277729/527,729)/2=527,0005035 a3=(527,0005035+277729/527,0005035)/2=527. Discussão e Resultados Aplicando o método da Levi para quadrados não perfeitos, como por exemplo 571386, tem-se: Níveis 5 4 3 2 1 Linha Topo 8 0, 0 0 0 0 6 1 5 9 Linha Topo 7 0, 0 0 0 2 1 2 7 8 Linha Topo 6 0, 0 1 0 7 9 5 3 9 Linha Topo 5 0, 1 3 1 7 3 9 5 1 Linha Topo 4 1, 1 9 Linha Topo 3 1 3 6 1 9 1 Linha Topo 2 8 8 Linha Topo 1 8 1 3 Número 57 1 3 8 6 8 6 Fila Resultado 7 5 5, 9 0 0 7 8 7 1 Como o objetivo do método de Ben Gershon é construir a raiz número a número, realiza-se uma iteração para cada número da raiz, porém observa-se que b=1,19/(2.755,9)=0,000787141, ou seja, na linha topo 4 o resultado já converge perfeitamente para a raiz encontrada na fila resultado. Utilizando o mesmo exemplo no método babilônico, tem-se: a0=700 a1=(700+571386/700)/2=758,1328571 a2=(758,1328571+571386/758,1328571)/2=755,904073 a3=(755,904073+571386/755,904073)/2=755,9007872 a4=(755,9007872+571386/755,9007872)/2=755,90078712 A velocidade de convergência do método babilônico depende da primeira aproximação escolhida e o número de iterações a serem realizadas depende da precisão desejada. Conclusão Comparando os métodos, observa-se que, para quadrados perfeitos, o método de Levi trabalha apenas com números naturais, ao passo que, o método babilônico apresenta, como aproximações, números racionais o que, de certa forma, pode dificultar as operações a serem realizadas. Porém, para quadrados não perfeitos, o método babilônico aparentemente converge mais rapidamente à raiz exata. Referências BALL, R. A Short Account of the History of Mathematics. 1 ed. New York: Dover, 1960. 522p. BOYER, C. História da Matemática. Trad. Elza F. Gomide. 2 ed. 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