a filosofia no ensino médio

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A FILOSOFIA NO ENSINO MÉDIO: REFLEXÕES SOBRE A PRÁTICA
EDUCATIVA
Luciene Saraiva Nogueira1
Raimunda Lucena Melo Soares2
O presente trabalho visa estabelecer relações entre Filosofia e Educação à partir de
sua inclusão na Lei de Diretrizes e Bases da Educação nº 9.394/96, essa proposta é essencial,
pois possibilita repensar a necessária permanência da Filosofia na matriz curricular do
Ensino Médio e conseqüentemente a valorização dos professores e a reflexão sobre suas
práticas educativas. Nosso objetivo é incentivar com esse estudo a reflexão dos professores
de ensino médio e contribuir para a discussão sobre a importância da Filosofia como
disciplina obrigatória a formação de cidadão crítico-reflexivo. A construção do referencial
foi feito a partir de uma pesquisa bibliográfica. Em busca de uma práxis educativa
apontaremos dois elementos: a didática da filosofia que procura abordar as estratégias de
ensino e a reflexão sobre o verdadeiro significado de sua práxis educativa.
Palavras chaves: filosofia, ensino, práxis.
Considerações Iniciais
O presente trabalho visa estabelecer relações entre Filosofia e Educação a partir de
sua inclusão na Lei de Diretrizes e Bases da Educação n°9.394/96, compreendendo que essa
proposta é essencial, pois possibilita repensar a necessária permanência da Filosofia na
matriz curricular do Ensino Médio e conseqüentemente a valorização dos professores e a
reflexão sobre suas práticas educativas.
Segundo a LDB n°9.394/96, Seção IV, o Ensino Médio terá como uma das finalidades:
“a preparação básica para o trabalho e a cidadania do educando [...]”.(Artigo 35, inciso II).O
artigo 36 (parágrafo I) referente ao currículo do ensino médio, diz que: “Os conteúdos, as
metodologias e as formas de avaliação serão organizadas de tal forma que ao final do ensino
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Discente do 5º semestre do Curso de Pedagogia, na Universidade Federal do Pará, bolsista PIBIC/CNPq,
lucynsaraiva@ hotmail.com
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médio o educando demonstre: III-domínio dos conhecimentos de Filosofia e Sociologia
como componente obrigatório [...]”. (Resolução n°333/99 Artigo 15, parágrafo IV).
Sendo assim, é mister que profissionais que lidam com a Filosofia reflitam sobre suas
práticas, seus instrumentais teóricos e metodológicos para que desta maneira, possam
consolidar a Filosofia como uma disciplina necessária para a formação de cidadãos
crítico-reflexivos, frente a isso a leitura de obras que tratam especificamente do ensino de
filosofia podem ser de grande valia para uma reflexão sobre a prática pedagógica.
Nessa perspectiva, acreditamos na relevância do Plano de Trabalho “A Filosofia no
Ensino Médio: A Contribuição de Alguns Autores Brasileiros” o qual vem sendo
desenvolvido há sete meses, com o auxílio de bolsa PIBIC/CNPq. Este constitui-se em um
estudo sistematizado, que tem por finalidade (re)conhecer os estudos de alguns autores
brasileiros que possuem como objeto de pesquisa a Filosofia no Ensino Médio. Com o
desenvolvimento da pesquisa constatamos que cursos, a nível de graduação e pós-graduação
estão direcionando suas atenções para a reflexão sobre “o quê ensinar”, “por que ensinar”,
“como ensinar filosofia”, exemplos deste crescente interesse são os trabalhos de conclusão
de curso, as dissertações de mestrado e as teses de doutorado. Outro alento são as obras que
tratam sobre a Filosofia no Ensino Médio.
Esperamos com este trabalho, estimular a produção filosófica e a procura por essa
produção, pois entendemos que o ‘exercício do filosofar’ é próprio da condição humana,
portanto o ensino de Filosofia, é imprescindível como mediação pedagógica para a formação
dos homens histórica e socialmente situados.
Antes da LDB nº 9.394/96, a Filosofia institui-se como uma disciplina livresca e
preocupada com a retórica. Com a criação dos cursos profissionalizantes e superiores, o
ensino de Filosofia passa a ser suprimido, pois ele não prepara o aluno diretamente para o
ingresso nos cursos superiores, muito menos os profissionalizantes, já que neste considera-se
a habilidade manual, o conhecimento fragmentado, em detrimento de uma visão integral,
capaz de preparar as habilidades e as destrezas cognitivas e argumentativas que a Filosofia
proporciona.
Mesmo com a tentativa de vários conselhos regionais de educação
em incentivar a inclusão da filosofia no Ensino Médio, a prioridade
2
Co-autora, Mestre em Educação: Políticas Públicas, na Universidade Federal do Pará, Centro de Educação,
Departamento de Fundamentos da Educação, rlvida@ hotmail.com
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pela educação profissionalizante, baseada na idéia de preparação
para o trabalho, excluiu a atividade filosófica da grande maioria das
escolas (Gallina, 2000, p.40).
Agora com a Lei n° 9.394/96 a disciplina retorna à grade curricular, no entanto, em
caráter optativo e a critério de cada estado. Neste estado o Conselho Estadual de Educação
determinou sua obrigatoriedade. Mesmo com a Resolução n°333/99-CEE, que de alguma
forma beneficia a permanência da Filosofia, na grade curricular, os principais sujeitos deste
processo, ainda desconhecem sua importância e a desvalorizam, vários motivos ocasionam
esta desvalorização como: professores não licenciados em Filosofia, ministrando as aulas, a
não aplicabilidade visível da teoria na prática e o seu conteúdo não ser exigido para ingresso
no ensino superior.
Ë neste sentido, que professores e pessoas ligadas à Filosofia e a Educação, de um
modo geral, preocupam-se com a permanência da disciplina na grade curricular, mas
especificadamente com seu êxito, pois de nada adianta ela “estar” na grade curricular, e não
estar voltada para o ensino dos alunos numa perspectiva crítico-reflexiva.Em Martins (2000,
p.97): “O objetivo desse processo, que se almeja superador do senso comum, é o de forjar
uma nova consciência, crítica e consciente, para e pelos integrantes das classes subalternas”.
Desta maneira, travaremos um diálogo com alguns autores acerca da Filosofia no
Ensino Médio, repensando os seguintes temas: filosofia e ensino; filosofia e formação de
professores; filosofia e procedimentos metodológicos.
Filosofia e Ensino
Ao longo dos tempos, o ensino de Filosofia passou por uma série de modificações,
desde a sua introdução, com a fundação do primeiro estabelecimento de ensino secundário, o
Colégio de Jesus, até a atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação nº 9.394/96.
Percorrendo a trajetória do ensino de Filosofia, constatamos que esta sempre serviu ao
estabelecimento e manutenção de forças hegemônicas que buscavam neutralizar ou mesmo
anular qualquer possibilidade de formação humana critica e autônoma.
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Hoje, face a Lei nº 9.394/96 e as novas políticas implementadas faz-se necessário
redefinir aspectos essenciais ao ensino da Filosofia no nível médio, é preciso que a própria
filosofia se debruce sobre o seu problema de ensino.
Se outrora, o ensino de Filosofia serviu à manutenção e ao estabelecimento das forças
hegemônicas, hoje em dia, um dos seus objetivos é “descortinar” as redes que invisivelmente
nos manipulam, através de seu processo educativo, preocupado com a formação de cidadãos
crítico-reflexivos.
Sendo assim, certas questões tornam-se essenciais para pensar o ensino de filosofia, tais
como: o que ensinar em filosofia no ensino médio, em como ensiná-la, as dificuldades com a
formação de pessoal docente devidamente habilitado para atuação neste campo de ensino e,
também a formação dos jovens que entram em contato com a filosofia pela primeira vez.
Garrido (1988) chama a atenção para a necessidade de se
explicitarem as diretrizes de tal ensino e de se definirem programas
e metodologias alternativas que se proponham a atender não só a
diversidade de educandos, mas ao pluralismo inerente a disciplina e
as diferentes funções que ela possa desempenhar no ensino médio.
Chama a atenção para a necessidade de se produzirem recursos
didáticos apropriados e de se garantir um caráter permanente de
experimentação e avaliação de materiais e programas utilizados no
ensino. (Garrido apud Ghedin, 2002, p.219).
A filosofia, como as outras disciplinas, tem suas categorias: possui uma linguagem
própria; tem um vocabulário específico, com o qual os educandos devem familiarizar-se aos
poucos, percebendo o indispensável rigor da linguagem como instrumento de compreensão,
de conhecimento e de construção de nosso ser no mundo.
O conhecimento filosófico a ser ensinado deve servir para a formação do espírito
crítico, para a análise reflexiva da situação do estudante, do professor e sobretudo, das
pessoas alijadas do processo educacional.
O objetivo de nosso ensino não seria mais o de aceitarmos um
desenvolvimento natural qualquer, nem tampouco o de
transmitirmos conhecimentos filosóficos prontos ou prêt-à-porter,
mas o de provocarmos, em nossos alunos, a manifestação do desejo
de saber sempre mais (Japiassú, 1997, p.97).
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O ensino de filosofia é o lócus de encontro entre o saber científico, o pedagógico e os
outros saberes, travando no interior da escola, uma relação complexa e polêmica, através da
qual busca-se conhecer mais e melhor a realidade na qual o ser humano vive, existe e
interpreta o significado de seu ser.
Lebrun (1976) diz que: os alunos do ensino médio, ao se
familiarizarem com os textos, as doutrinas, os conceitos e as
categorias filosóficas, poderão aprender a marcar o sentido de todas
as palavras educando-se para a inteligibilidade, pois onde os
ingênuos só vêem fatos diversos, acontecimentos amontoados, a
Filosofia permite discernir uma significação, uma estrutura (Lebrun
apud Favaretto, 1993, p.98).
É em seu caráter institucional-formativo, que a Filosofia apresenta a sua dupla
dimensão: a dimensão pedagógica e a sua dimensão política, ou seja, a filosofia forma quem
entra em contato com ela, no outro aspecto a humanidade como sujeito coletivo pensante,
busca explicitar/construir sentidos que tenham a ver com o direcionamento do agir histórico
de seu tempo. A tarefa pedagógica relacionada com o filosofar deve estar direcionada por
esses dois vetores. Para Severino (2003, p.52): “A filosofia se dirige, então, ao todo da
população e sua finalidade é formativa do humano. Não se pode ser plenamente humanizado
sem a prática do pensar reflexivo, sem o seu efetivo exercício”.
Para justificar e garantir os objetivos, aos quais a Filosofia se propõe, através do
processo de ensino-aprendizagem, alguns autores passam a referenciar a necessidade de uma
didática da filosofia, pois muitas vezes os professores procuram novas saídas para a melhoria
de seu trabalho e, no entanto, tais tentativas resultam inconsistentes e frustradoras.
[...] não há, ainda um estudo sistemático que possibilite uma
alternativa metodológica para o ensino da filosofia, isto é, a didática
da filosofia, muitas vezes não constrói caminhos e, quando o faz,
raramente sistematiza tal experiência pedagógica. Essa
sistematização poderia tornar-se um registro valioso para o seu
ensino. (Ghedin, 2002, p. 225).
Nos últimos dez anos aproximadamente, houve uma série de trabalhos relativos a
didática da filosofia (Cerletti, 2003), e hoje ao pensar o ensino de Filosofia, a questão
fundamental constitui-se em ensinar a filosofar.
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A concepção de uma didática da Filosofia possibilita pensar a sua própria prática de
transmissão, quebrando a dualidade: a didática de um lado, a filosofia do outro, como se
fossem terrenos independentes.
Significa questionar-se sobre os pressupostos dos saberes, valores e métodos
evidenciados na própria prática pedagógica, isto é, na prática docente do professor de
Filoosfia.
Esta ampliação do campo da Filosofia inclui a reflexão sobre seu ensino, tem como
ponto de partida o interesse na filosofia e a partir daí procura abordar as estratégias de ensino,
sendo a filosofia que irá avaliar a pertinência das técnicas de ensino, dos recortes de
conteúdos ou da seleção de recursos.
A mudança de perspectiva acarreta diversas conseqüências:
1) Revaloriza a função do professor, ressaltando a sua capacidade crítica e criativa
especificamente filosófica.
2) Gera um campo novo da reflexão filosófica: a filosofia do ensino.
3) Recorta um novo campo de conteúdos, no qual o ensino da filosofia terá como tema um
próprio assunto da filosofia: a análise das condições de seu próprio ensino.
Filosofia e formação de professores
A didática possui como objeto de estudo, o processo de ensino-aprendizagem, nesta
perspectiva refletiremos sobre os sujeitos desse processo, os alunos do ensino médio e os
professores.
Como os professores concebem o aluno? Quem é ele? Qual a sua dimensão? Qual o seu
papel no processo de ensino-aprendizagem?
O professor, no geral, dificilmente se faz essas perguntas. Para ele, essa questão de quem
é o educando, já esta definida uma característica do educando que parece permear a prática
pedagógica é a de que ele é um ser passivo, e o papel do professor é o de depositador de
conhecimentos, num exemplo típico de educação bancária (Freire,1986). Aliada a essa
atitude esta a crença na qual se alicerça a prática pedagógica, de que o educando é um ser
dependente do educador, desde o que deve aprender até o que deve responder. Tem que se
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dar ao aluno a certeza sobre alguma coisa, a resposta pronta, pois ele não deve ter
independência para buscar respostas.
O aluno, por sua vez ao lidar com o ensino da filosofia, contagia-se e imbuído dela,
especificamente na relação professor-aluno, espanta-se, mostra-se descrente quanto à
validade dos ensinamentos propostos, pois o professor, no geral não transmite
conhecimentos acabados, prontos, absolutos. Ele educa para a inteligibilidade, para o olhar
perquiritivo, problematizador, buscando incitar nos alunos o processo de crítica do
conhecimento, educando-os para a autonomia, numa contínua relação “faça comigo” e não
“faça como eu faço”.
Quanto ao papel do educador, devemos nos perguntar: Quem é o educador no processo
educativo escolar? Será que ele reflete sobre o significado de sua atividade na sociedade e na
vida dos educandos?
Dentro do processo educativo, o professor tem servido como reprodutor do modelo
econômico vigente, tendo como função tomar um certo conteúdo, preparar-se para
apresentá-lo ou dirigir o seu estudo, ir para uma sala de aula, tomar conta de uma turma de
alunos, apresentar os conteúdos, controlar os alunos, avaliar a aprendizagem, disciplinar, etc.
Sua atividade de docência tornou-se uma rotina comum, descompromissada com a
realidade no qual está inserido e da importância de seu papel perante a sociedade.
A ação docente tem sentido e significado e como qualquer prática humana, quando não
formulamos um sentido específico para a ação que vamos realizar, adotamos um sentido
dominante presente na sociedade e na cultura em que vivemos.
Para que possa exercer esse papel o educador deve possuir algumas qualidades tais
como: Compreensão da realidade com a qual trabalha, comprometimento político,
competência no campo teórico de conhecimento em que atua e competência
técnico-profissional.
Em primeiro lugar, o educador dificilmente desempenhara seu papel na práxis
pedagógica se não tiver uma certa compreensão da realidade na qual atua. Precisa
compreender a sociedade na qual vive, através de sua história, sua cultura, suas relações de
classe, suas perspectivas de transformação ou reprodução.
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Em segundo lugar, o educador precisa ter comprometimento político com o que faz,
compreendendo a sociedade em que vive, terá clareza daquilo com que esta comprometida a
sua ação.
Em terceiro lugar, o educador necessita conhecer bem o campo científico com o qual
trabalha. Não pode mediar a cultura de sua área se não detiver os conhecimentos e as
habilidades que a dimensionam.
Em quarto lugar o educador deve possuir habilidades e recursos técnicos de ensino
suficientes para possibilitar aos alunos a sua elevação cultural através da apropriação da
cultura elaborada. O professor necessita de habilidades para a utilização e aplicação de
procedimentos de ensino.
Portanto, para alguns autores são necessárias algumas mediações especificas: acesso a
textos filosóficos, exercício da escrita, como ensinar e os manuais.
A história da Filosofia, cujo instrumento imediato, são os textos filosóficos e os textos em
geral. Os textos são os materiais didáticos básicos para o professor e podem servir tanto para
o estudo histórico da filosofia, quanto para o estudo sistemático. Sendo que, no nível
histórico, considera-se a contextualização da obra e do autor e na dimensão sistemática do
texto não há a preocupação de saber as intenções do autor e o sentido histórico do texto, mas
saber se o argumento utilizado é verdadeiro ou falso.
O acesso aos textos filosóficos, que possibilitam o exercício do filosofar, através de um
diálogo com os pensadores, a partir dos quais os alunos refletem sobre questões de ordens
política, econômica e social, este contato permite ao professor relacionar a filosofia, o
interesse do aluno e as necessidades sociais. Segundo Paviani (2002, p.50): “A experiência
do ensino da filosofia mostra a relevância de uma situação problemática ou de aprendizagem
para conduzir uma ação pedagógica capaz de produzir efeitos”. Para Rodrigues (2002,
p.177): “ A atividade problematizadora, orientada na busca de inteligibilidade daquilo que se
apresenta como problema ao olhar perquiritivo, não se dá nem se concretiza no vazio
abstrato, mas ocorre através de relações concretas, situadas e contextualizadas”.
A escrita constitui-se em um recurso metodológico importante, segundo Paviani (2002)
e Severino (2003), pois apresenta vantagens para a aprendizagem, devendo o professor
“recomendar aos alunos fazerem anotações, relatório das aulas, dos argumentos
desenvolvidos” (Paviani,2002, p.47), que através dos conceitos dados sejam estabelecidas
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relações de construção do conhecimento, o escrever é um modo de pensar. Severino (2003,
p.57) diz que: “Impõe-se mesmo ao aprendiz da filosofia não só praticar os exercícios de
leitura, mas também o exercício da escrita”.
A questão sobre como ensinar, relacionada a elaboração dos programas de ensino os
quais apresentam algumas dificuldades específicas na escolha dos temas e dos problemas de
estudo. A opção pode considerar diversos critérios: a formação básica e geral ou a formação
profissional. Outro aspecto a ser considerado é o tipo de abordagem: uma abordagem
sistemática, que permite o ato de filosofar, ou a abordagem instrumental, que visa examinar
os pressupostos de uma determinada área do conhecimento.
Outro possível mediador para uma relação de aprendizagem são os manuais vistos com
bons olhos por Paviani (2002, p.50): “ Os manuais têm uma função de apoio: servem para
sistematizar conhecimentos necessários para realizar novas investigações”, já em outras
vezes são considerados irrelevantes pela comunidade científico- filosófica. Nessa
perspectiva Kohan (2002,p.35): “[...] não há nada mais antifilosófico que os chamados
“manuais de filosofia”, ainda, ou sobretudo, aqueles que dizem que ensinam a pensar”.
Sendo assim, essas mediações podem contribuir para a melhor atuação dos professores
em sala de aula, numa possível (re)significação da prática docente e, ainda poderão servir
aos alunos como estímulo para a obtenção de conhecimento.
Filosofia e procedimentos metodológicos
Sobre métodos e procedimentos de ensino, é preciso agir com critérios definidos e com
prudência. Há a necessidade de estudar que procedimentos e atividades possibilitarão, da
melhor forma, aos nossos alunos atingirem o objetivo de aprender o melhor possível daquilo
que estamos pretendendo ensinar.
Nesta perspectiva abordaremos quatro maneiras de se trabalhar com a filosofia:
histórico, sociológico, cultura geral e temático-reflexivo (Trombetta, 2002), sendo que este
último oferece maiores condições para o processo reflexivo.
O modo histórico faz um recorte na Filosofia a partir de uma seqüência cronológica da
Grécia Antiga até a contemporaneidade. No qual, os alunos entram em contato com a
produção de cada autor, inserindo-o no seu contexto social e histórico.
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O segundo modo denominado sociológico propõe-se a dar um sentido “transformador”
para a atividade filosófica, utilizando-se de temas e atividades ligadas a problemas sociais
atuais. As aulas de filosofia transformam-se em debates, nos quais os alunos falam sobre
temas como: alienação, ideologia, indústria cultural, massificação do homem, etc...
O terceiro modo, cultura geral, permite aos alunos o contato com uma produção
bastante rica sobre temas do pensamento humano, construtores da cultura ocidental. Desta
maneira, o aluno passa a conhecer as tendências e os conceitos que a filosofia criou para
trabalhar com seus grandes temas como: teoria do conhecimento, filosofia da ciência,
estética, ética, filosofia política, etc. A aula adquire um caráter expositivo e o professor é
apenas um mediador deste processo de conhecimento.
O quarto e mais importante, o modo temático-reflexivo, pois ele proporciona aos
professores e alunos exercitarem a capacidade reflexiva. Compreendida aqui, como o “eterno
retorno”, a busca constante de respostas já instituídas, a investigação contínua, sendo assim a
busca é mais importante do que resultados definitivos.
Portanto, é necessário pensar a formação de profissionais da educação para trabalhar
com a filosofia nas escolas do ensino médio, cuja tarefa será a consolidação de um projeto
político-pedagógico que apresente à sociedade que tipo de filosofia precisamos construir
com os jovens estudantes; qual é a visão de mundo e sociedade que permeia nosso trabalho
pedagógico e qual a contribuição que temos a oferecer à educação.
Considerações Finais
Com a Lei nº 9.394/96 e as políticas implementadas nos Estados, referentes a disciplina
Filosofia, na matriz curricular do Ensino Médio, torna-se de extrema importância repensá-la
não e tão somente sob o olhar da Pedagogia, mas como uma questão extremamente
filosófica, é preciso que a própria filosofia se debruce sobre o seu problema de ensino.
Sendo assim, foram suscitadas algumas questões sobre o ensino de filosofia, como: o
que ensinar em Filosofia no Ensino Médio, em como ensiná-la e a formação de pessoal
docente qualificado.
Para tanto, dividimo-os nos seguintes temas: Filosofia e ensino; Filosofia e formação
de professores; filosofia e procedimentos metodológicos, sendo que essa divisão constituí-se
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apenas a nível de análise dos dados, visto que todas estão imbrincadas numa efetiva práxis
educativa.
Em busca de uma práxis educativa apontaremos dois elementos que poderão estar
subsidiando professores que, em sua prática docente, procuram saídas para a melhoria de seu
trabalho, tais como: a didática da filosofia que procura abordar as estratégias de ensino e a
reflexão sobre o verdadeiro significado de sua práxis.
Portanto, ao educador são necessárias algumas habilidades: compreender a realidade
com a qual trabalha, comprometimento político, competência no campo teórico de
conhecimento em que atua e competência técnico-profissional.
Outra questão, são os procedimentos metodológicos, os quais possibilitam aos
professores executarem suas atividades, fazendo com que os alunos aprendam o melhor
possível daquilo que se pretende ensinar.
Nesta perspectiva, delineamos quatro modos de se trabalhar com a filosofia: histórico,
sociológico, cultura-geral e temático-reflexivo, sendo que esse último oferece maiores
condições ao processo reflexivo.
Desta maneira, pensamos em uma Filosofia (disciplina) que em interação com as outras
áreas do conhecimento, baseada em uma relação dialógica aluno-professor, possa estar
contribuindo para a formação e construção de uma consciência e preocupada com a
cidadania, situada na realidade sociocultural em que vivem e se educam.
Referências Bibliográficas
CORNELLI, G; DANELON, M; GALLO, S. (orgs). Filosofia do ensino de filosofia.
Petrópolis, RJ: Vozes,2003.
FÁVERO, A.A; KOHAN, W.O; RAUBER, J. J (orgs.). Um olhar sobre o ensino de
filosofia. Ijuí: Ed. UNIJUÌ, 2002.
PARÁ. Conselho Estadual de Educação, Resolução, N° 333 de 11 de março de 1999.
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