Hospital do Rim e Hipertensão Fundação Oswaldo Ramos Órgão Suplementar UNIFESP - EPM MANEJO DAS INFECÇÕES DE TRATO URINÁRIO EM PACIENTES SUBMETIDOS A TRANSPLANTE RENAL 1) INTRODUÇÃO: Infecção do Trato Urinário (ITU) representa a complicação infecciosa mais comum em pacientes submetidos a transplante renal. A incidência em pacientes que não recebem profilaxia varia de 5 a 36% na literatura*. Em pacientes submetidos a transplante renal, baixos níveis de bacteriúria podem representar um fator de risco significativo para infecção sistêmica*. A maioria das infecções ocorre nos primeiros meses após o transplante. Algumas infecções bacterianas são associadas a disfunção do enxerto e, mesmo, rejeição. Porém, não há estudos placebo-controlados, com ou sem profilaxia, para esclarecer o papel potencial que as infecções urinárias têm de desencadear rejeição do enxerto, não tendo sido comprovada esta associação até o momento*. Até 15% dos pacientes transplantados tem hemoculturas positivas, sendo o trato urinário sua origem em 50 a 60% das vezes. Uma série recente mostrou que 40% das bacteremias advém do trato urinário. As bacteremias mais graves ocorreram no primeiro mês, com até 11% de mortalidade*. A profilaxia com antibióticos por tempo prolongado reduz o risco de ITU e bacteremia, embora pareça não haver impacto no prognóstico do paciente e do enxerto. A droga, dose e tempo ideais de profilaxia ainda não estão esclarecidos. A profilaxia prolongada para ITU(pelo menos um ano) é classicamente recomendada, embora não haja evidências suficientes apoiando esta recomendação. Vários centros não utilizam a profilaxia. Os agentes mais utilizados na maioria dos centros são o TMT/SMX e o ciprofloxacin. Um estudo prospectivo, randomizado, duplo-cego com placebo ou TMT/SMX (1cp duplo 12/12h) foi feito envolvendo 132 pacientes. O pacientes que receberam profilaxia tiveram significantemente 2 vezes menos dias de hospitalização, menor frequencia de infecções bacterianas durante e após a internação. Os pacientes que receberam placebo tiveram maior tempo de internação e reinternações mais frequentes. A sobrevida tanto dos pacientes como dos enxertos foi similar*. 2) DIAGNÓSTICO: -Bacteriúria assintomática: pacientes sem sintomas e com contagem de colônias igual ou maior que 105/ml; -Infecção urinária: pacientes com sintomas (como disúria, polaciúria, febre) e contagem de colônias 103 ou maior. O crescimento de fungos, por si só, já é diagnóstico de ITU fúngica, não sendo necessária contagem de colônias. Nas pacientes com sintomas baixos e leucocitúria convém descartar vaginites e herpes genital. -Biópia renal mostranto microabscessos (pielonefrite histológica), mesmo que com culturas negativas * Muñoz (2001): UTIs and Lymphocele in Renal Transplantation. Clin Infect Dis 33:S53-S57 Hospital do Rim e Hipertensão Fundação Oswaldo Ramos Órgão Suplementar UNIFESP - EPM 3) INDICAÇÕES DO TRATAMENTO: O tratamento de ITU em pacientes submetidos a transplante renal é indicado basicamente nas seguintes situações: 1. Pacientes sintomáticos, ou seja apresentando : -disúria, polaciúria, ardência miccional, etc.; - febre; - bacteremia clínica; - dor no local do enxerto; -aumento da creatinina; 2. Pielonefrite histológica(achado de pielonefrite em Bx); 3. Bacteriúria assintomática nas seguintes situações: -pacientes em uso de OKT-3 (neste caso, indicar tratamento com crecimento de 104 ou mais UFC/ml); -em pacientes com menos de 6 meses de transplante(recente) e 105 ou mais UFC/ml; caso < 105 colher nova urocultura para confirmação; caso se obtenha valor de 105 ou mais UFC indica-se tratamento; caso se mantenha com contagens baixas, discutir o caso individualmente. 4) VIA DE ADMINISTRAÇÃO: A via de administração VO *(correlacionar com a tabela) é utilizada nas seguintes situações: -pacientes assintomáticos (exceto quando em uso de OKT-3, quando será indicado tratamento EV) -pacientes sintomáticos que apresentem sintomas de infecção baixa (disúria, polaciúria) sem sintomas ou sinais de infecção “complicada” como febre, dor em local do enxerto, perda da função renal ou uso de OKT-3, há menos de um mês do episódio de ITU. A via de administração EV(**) é indicada para: -todo paciente sintomático, conforme os itens 1 e 2, com exceção dos pacientes apenas com sintomas baixos(disúria, polaciúria) -pacientes em uso de OKT-3 5) ANTIMICROBIANO A SER ADMINISTRADO O antibiótico a ser administrado varia conforme a disponibilidade ou não de antibiograma, a gravidade da infecção, o grau de imunossupressão do paciente e o uso prévio de outros antimicrobianos. Se o paciente tiver recebido antimicrobianos há menos de 15 dias do diagnóstico atual de ITU, administrar antibiótico de maior espectro(discutir individualmente). 6) TEMPO DE TRATAMENTO Administração prolongada de antimicrobianos tem sido recomendada classicamente no tratamento das ITUs. precoces em transplantados, embora não haja estudos duplo-cegos comparativos para embasar esta conduta. O tempo de tratamento proposto varia conforme a situação clínica, conforme tabelas abaixo. Hospital do Rim e Hipertensão Fundação Oswaldo Ramos Órgão Suplementar UNIFESP - EPM Tratamento de ITU em Tx renal - situações mais comuns: SITUAÇÂO C/ antibiograma S/ antibiograma (empírico, inicial) VIA INDICADA (ver acima) VO* 1a escolha 2a escolha 3a escolha EV** ceftriaxona VO* ciproloxacin EV** ceftriaxona ciprofloxacin EV em: -OKT-3 -uso recente de antibiótico de amplo espectro -bacteremia -sepse grave cefepima ciprofloxacin imipenem Ou ertapenem ciprofloxacin ciprofloxacin Tempo de Tratamento Observação 10 a 14 dias -outras drogas como amoxicilina, amoxiclavulanato, norfloxacin, cefuroxima, podem ser utilizados, de acordo com o antibiograma -outras drogas como ampicilina e cefalotina podem ser usadas se o agente for sensível -sempre que possível poupar agentes de amplo espectro como cefalosporinas de 4a geração e carbapenens -o tratamento pode ser completado por via oral conforme evolução -adequar o tratamento de acordo com o antibiograma, dando preferência a drogas de menor espectro -o tratamento pode ser completado por via oral conforme evolução -individualizar o tratamento em pacientes com uso prévio de acordo com a droga usada previamente 2a6 semanas 10 a 14 dias 2a6 semanas 2a6 semanas Hospital do Rim e Hipertensão Fundação Oswaldo Ramos Órgão Suplementar UNIFESP - EPM Tratamento de ITU em Tx renal - situações especiais: VIA INDICADA (ver acima) VO ou EV, seguindo as orientações acima 1a escolha Pielonefrite histológica (c/ antibiograma) Pielonefrite histológica (s/ antibiograma) SITUAÇÂO Infecção recorrente (mais de duas, em período de 2 meses, com necessidade de internação) 2a escolha 3a escolha Tempo de Tratamento Observação Basear-se no antibiograma do último agente isolado em cultura 2a6 semanas EV ceftriaxona 3 a 6 semanas EV cefepima -Investigar anormalidades funcional ou anatômica; se descartadas, considerar profilaxia para os pacientes com infecções importantes (com febre, alteração de creatinina, etc.) -investigar Tb se culturas negativas -Checar uroculturas para determinar antibioticoprofi laxia Basear-se no antibiograma do agente isolado em cultura de urina, sangue ou biópsia renal; fazer a escolha do antibiótico Adequar esquema conformeantibiograma, se disponível ciprofloxacin imipenem ou meropenem 3 a 6 semanas Observações: Quando for indicada biópsia renal em pacientes com alteração de creatinina associada a febre, enviar, sempre que possível, um fragmento de tecido em solução fisiológica estéril para cultura de aeróbios e antibiograma. Hospital do Rim e Hipertensão Fundação Oswaldo Ramos Órgão Suplementar UNIFESP - EPM Tratamento de Candidúria em Tx renal. SITUAÇÃO Primeira escolha Secunda escolha Tempo de tratamento Candidúria assintomática Fluconazol VO Anfotericina B EV Tratamento por 2 semanas. Cistite por Candida spp. Fluconazol VO Anfotericina B EV -Adequar conforme teste de susceptibilidade -Tratamento por 2 semanas Candidúria em paciente com duplo J Fluconazol EV Anfotericina B EV -iniciar antes do procedimento. -tratar por 14 dias Anfotericina B EV Fluconazol EV Pielonefrite por Candida Caspofungina (dependendo da disponibilidade) Voriconazol (dependendo da disponibilidade e função renal) -tratar por 4 a 6 semanas. -completar o tratamento por via oral uma vez o paciente esteja estável, e com melhora clínica e tenha urocultura negativa * Em algunas situações especiais – possibilidade de irrigação vesical com Anfotericina B. 7)PREVENÇÃO: Colher rotineiramente uroculturas do doador e do receptor antes do transplante. Esta medida visa reduzir a taxa de infecções urinárias após o transplante. Considerar tratamento de bacteriúria assintomática tanto no doador como no receptor antes do transplante.