Poluição Marinha Por Raimundo Nonato e Patrícia Cristina A palavra poluição deriva do latim (“pollluere”- sujar), sendo a poluição marinha definida como a “introdução, pelo homem de substancias ou energia no ambiente marinho, acarretando em efeitos deletérios como danos aos recursos vivos, doenças a saúde humana, obstáculos às atividades marinhas, incluindo pesca e lazer, ocasionando redução da qualidade de vida”. Oceanos e mares são derradeiros sorvedores dos subprodutos gerados pelas atividades humanas e acolhem de forma direta ou indireta, uma grande quantidade de poluentes, rejeitos urbanos, agrícolas e industriais. As principais vias naturais de transporte de subprodutos para o ambiente marinho são o escoamento superficial dos continentes, rios e atmosfera. Entretanto, os poluentes são por vezes lançados diretamente no mar (SOARES-PEREIRA et al., 2002). Para explicar a situação dos ecossistemas marinhos no estado do Maranhão, Raimunda Fortes, professora da Universidade Estadual do Maranhão, mestre em Sustentabilidade de Ecossistema, e doutoranda em Biotecnologia, e vasta atuação em ambientes marinhos, concedeu esta entrevista ao GEEA. Confira! GEEA: A maioria dos grandes centros urbanos brasileiros está situada na região costeira, causando vários impactos. Na sua opinião quais os principais problemas decorrentes desse processo para os ecossistemas costeiros? Raimunda Fortes: Problemas decorrentes da implantação de centros urbanos na região costeira incluem: esgoto doméstico, dejetos industriais e de agricultura, vazamentos de esgotos, restos urbanos e industriais, acidentes, sobras, explosões, abandono de estruturas e ferro-velho no mar, produção e transporte de petróleo, vazamento de petróleo provocado por acidentes com petroleiros e limpeza dos tanques no mar, mineração, restos de nutrientes e pesticidas agrícolas, desperdício de fontes de calor e despejo de produtos químicos feitos pelo homem. GEEA: Quais os ecossistemas costeiros aqui no Maranhão que apresentam maior grau de poluição? Raimunda Fortes: Manguezais e estuários, onde se pratica a atividade portuária e próximos aos centros urbanos. GEEA: Que medidas poderiam ser tomadas para se evitar/amenizar a poluição nesses ambientes aliando desenvolvimento com preservação? Raimunda Fortes: Qualquer intervenção humana ligada ao processo de desenvolvimento da sociedade causa impacto ambiental. Assim, existem formas de se amenizar a poluição nos ambientes próximos aos centros urbanos, tais como: saneamento básico, correta urbanização das ruas com drenagem das águas pluviais, menos compactação do solo e asfaltamento, reservas de áreas verdes para infiltração das águas superficiais e educação ambiental de crianças, jovens e adultos para o correto uso dos recursos naturais. GEEA: A fauna dos ambientes marinhos é diretamente afetada pela poluição. Quais as espécies mais sensíveis/vulneráveis e que implicações isso pode trazer para o ecossistema? Raimunda Fortes: No ambiente marinho os peixes respondem de várias formas às contaminações porque estão no topo da teia trófica, sendo que peixes mais gordos tendem a acumular poluentes orgânicos persistentes nos seus corpos e eles podem passar para os consumidores humanos. Os moluscos bivalves filtradores são diretamente afetados e bioacumulam diversos poluentes. GEEA: O Maranhão é um dos maiores produtores de pescado do nordeste, que implicações a poluição pode trazer para os recursos pesqueiros do estado? Raimunda Fortes: Diminuição da biomassa total capturada, extinção local de algumas espécies, diminuição da qualidade dos produtos exportados, escassez de proteína animal para as populações humanas tradicionais. GEEA: Os recifes de corais formam um dos ecossistemas mais produtivos do planeta, qual a situação dos recifes de corais no estado do Maranhão? Raimunda Fortes: O Parcel de Manoel Luís está protegido legalmente pela legislação federal, mas o Estado do Maranhão não dispõe de um monitoramento ambiental dessa área. GEEA: A falta de consciência ambiental é um dos maiores entraves para a preservação dos ecossistemas costeiros, o que poderia ser feito para reverter esse quadro? Raimunda Fortes: Deve-se buscar mecanismos que facilitem a integração dos municípios na gestão do litoral brasileiro (pois é na zona costeira de cada município que os problemas se fazem sentir mais seriamente e às vezes, o problema que se faz sentir em um lugar tem origem em outro, como ocorre com os municípios da Ilha de São Luís). Além disso, precisamos entender melhor como funciona o litoral do ponto de vista geológico e oceanográfico, bem como as inter-relações com as dinâmicas biológicas, econômicas e sociais, políticas, legais e institucionais. Todos esses entendimentos só serão possíveis com ações de EDUCAÇÃO AMBIENTAL desde o ensino fundamental, educação de jovens e adultos e ensino superior.