Ensinar /aprender filosofia no ensino médio

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ENSINAR /APRENDER FILOSOFIA NO ENSINO MÉDIO: UMA ANÁLISE DA
PRÁTICA PEDAGÓGICA DOS PROFESSORES DE FILOSOFIA DA 18ªCRE
Karina Balenti da Silva*
Vânia Dias Oliveira
Ana Maria Fonseca**
Após duas décadas de ausência nos currículos oficiais, a disciplina de Filosofia teve a
oportunidade de ser reintegrada ao currículo do Ensino Médio Brasileiro por meio da nova
LDB. Com o retorno da Filosofia ao Ensino Médio recolocam-se questões de ordem
conceitual e didática que precisam ser retomadas.Este estudo busca formalizar algumas
possíveis respostas a esses questionamentos, fundamentadas em subsídios teóricos e material
de natureza empírica, resultado de um trabalho de pesquisa de campo, com professores e
alunos da rede oficial de Ensino Médio da 18ª Coordenadoria Regional de Educação
(Município de Rio Grande-RS) envolvidos com a atividade de ensinar e aprender Filosofia.
Embora não concluído, o trabalho aponta inadequações não de ordem epistemológica, mas
sim didático-pedagógicas.
Palavras Chaves: filosofia, ensino-aprendizagem, professores.
Precedentes
As questões relacionadas ao ensinar/aprender a disciplina Filosofia adquirem uma
maior importância a partir da Lei nº 9394/96, quando a Filosofia deixou de ser trabalhada
optativamente por algumas escolas, e passou a dividir com a Sociologia e a Psicologia o
caráter formativo do currículo do ensino médio. Apesar da amplitude da última Lei de
Diretrizes e Bases, a qual rege o ensino brasileiro, que apenas “recomenda” a inclusão de
qualquer uma dessas disciplinas no currículo de ensino médio, a rede pública de ensino fez a
sua opção predominantemente pela Filosofia, tornando-a assim presente na maioria das
escolas secundárias brasileiras.
*
Bolsistas e pesquisadoras. Alunas do Curso de Pedagogia da FURG- Rio Grande
Diante dessa nova realidade, isto é, da presença da Filosofia no currículo das escolas,
emerge a necessidade de se responder a alguns questionamentos: o ensino de Filosofia, depois
de tanto tempo ausente do ensino secundário brasileiro, isto é, matéria a ser trabalhada e
destinada a formação dos jovens, marcada em sua história por passado que acabou por reduzir
esse ensino à mera transmissão de conhecimentos doutrinários sistematizados, importados e
aqui transplantados e artificialmente mantida sem qualquer ligação com o contexto brasileiro,
seria agora capaz de se impor e contribuir, influindo na formação dos adolescentes de hoje?
De que forma a filosofia retorna ao ensino secundário? O que ela pretende? O que se tem feito
sob o nome de Filosofia?
Considerando-se ainda, a situação aparentemente paradoxal de a disciplina de
Filosofia possuir, por um lado, um grande potencial para o desenvolvimento intelectual e
pessoal dos alunos, enquanto indivíduos e cidadãos, e, por outro, ser limitada quanto ao
desenvolvimento ótimo desta potencialidade, por inadequações várias, acredita-se que
somente examinando a realidade atual do ensino da Filosofia no ensino médio, especialmente
do ponto de vista didático-pedagógico é que se poderá responder às interrogações propostas.
Objetivos
- Obter informações que forneçam de modo mais qualitativo do que quantitativo, um
recenseamento da situação atual da disciplina de Filosofia após todos os esforços
empreendidos para a sua volta ao currículo do ensino médio.
- Caracterizar a prática atual do ensino de Filosofia nas escolas de ensino médio, descrevendoa por meio de fatores como: formação acadêmica do professor responsável pela disciplina;
natureza e extensão do conteúdo programático da disciplina; metodologia usada em sala de
aula; recursos instrutivos utilizados, bibliografia recomendada, receptividade dos alunos ao
conteúdo e metodologia adotados; percepção dos alunos quanto a contribuição da disciplina à
sua formação intelectual e pessoal, visando a definir uma identidade própria para a disciplina.
**
Profª Adjunta do Departamento de Educ. e Ciências do Comportamento da FURG- Pesquisadora e
Coordenadora da Pesquisa
Problemas
- Com que objetivos, conteúdos, metodologia, recursos didáticos e avaliação
trabalham os professores de Filosofia do Ensino Médio da rede pública na 18ª Coordenadoria
Regional d Educação?
- O marco curricular satisfaz as necessidades de aprendizagem estabelecidas para a
disciplina?
- Com que identidade a disciplina retornou aos currículos do Ensino Médio?O que
está se propondo sob o nome de Filosofia?
Metodologia e instrumentos utilizados
Neste estudo de caráter descritivo- avaliativo foram utilizadas descrições quantitativas
e qualitativas, dando à metodologia um caráter misto.
Segundo Chizzotti (1991:34) “ a pesquisa quantitativa não deve ser oposta a pesquisa
qualitativa, mas ambas devem sinergicamente convergir na complementariedade mútua, sem
confirmar os processos e questões metodológicas a limites que atribuam os métodos
quantitativos exclusivamente ao positivismo, ou os métodos qualitativos ao pensamento
interpretativo (fenomenologia, dialética,etc.)”
Sendo assim,
empregaram-se o questionário (dirigido aos alunos) e a entrevista
(dirigida aos professores) como instrumentos de coleta de dados. Considerou-se necessário o
uso das duas metodologias, na medida em que ambas se complementam.
O aspecto quantitativo se fez presente através da aplicação de um questionário dirigido
aos alunos, procurando fundamentalmente conhecer as opiniões e o perfil do grupo
pesquisado. O mesmo foi elaborado contendo questões sem visar a opções bidimensionais.
As questões do questionário foram elaboradas/agrupadas em torno das seguintes temáticas:
-
crenças dos alunos sobre a Filosofia;
-
percepção dos alunos sobre o professor de Filosofia;
-
percepção dos alunos sobre a metodologia e recursos didáticos;
-
percepção dos alunos sobre os conteúdos;
-
percepção dos alunos sobre o livro texto e fontes documentais;
-
percepção dos alunos sobre a avaliação;
-
percepção dos alunos sobre suas capacidades e a aprendizagem de Filosofia;
-
percepção dos alunos sobre o contexto.
Para levar-se a efeito o aspecto qualitativo, optou-se pela entrevista semi-estruturada,
com um roteiro a ser seguido, permitindo, porém, uma abordagem flexível por parte dos
entrevistados, por parecer mais adequada, possibilitando a eles expressarem as suas opiniões
com maior liberdade e comentar aspectos, que, a princípio poderiam não parecer relevantes,
mas que são úteis para conhecer as suas características e as suas concepções, bem como o
referencial teórico e vivencial que cada um possui.
A entrevista foi elaborada com questões descritivas (idade, sexo, formação
acadêmica...) e questões qualitativas (atitudes, juízos, crenças...) O roteiro seguido na
elaboração das questões foi o mesmo adotado na elaboração do questionário dirigido aos
alunos, isto é, seguiu-se as mesmas categorias de análise. Isso possibilitou que professores e
alunos opinassem sobre as mesmas questões, tornando possível traçar um perfil da realidade
estudada sob o ponto de vista dos alunos e dos professores e as convergências e divergências
entre os pontos de vista de ambos.
Descrição da Amostra
O presente estudo foi realizado em dois municípios que fazem parte da 18ª CRE. Um
deles, o município sede, a cidade de Rio Grande e o município de São José do Norte. Embora
mais 3 municípios pertençam a essa região escolar, as escolas aí localizadas não continham na
sua grade curricular a disciplina de Filosofia.
A pesquisa foi desenvolvida em dois níveis:
-
junto a alunos de Ensino Médio das escolas públicas, cujos currículos indicavam a
presença da disciplina Filosofia em alguma de suas séries:
-
junto aos professores que ministravam as aulas de Filosofia nas escolas onde os
alunos haviam respondido aos questionários.
Os questionários, bem como as entrevistas foram aplicados durante o ano de 2003 em
4 escolas, 6 professores e 150 alunos. A escolha dessa amostra da população a ser pesquisada,
foi feita considerando a presença da disciplina nos currículos escolares, a facilidade de
contatar alunos e professores nas escolas, franqueada pela direção das mesmas, e a localização
das escolas na área geográfica da 18ª Coordenadoria Regional de Educação.
Conclusão
Embora este estudo não esteja concluído em sua totalidade, já podem ser apresentados
alguns indicadores considerados importantes. São eles:
- os alunos reconhecem não só a importância da disciplina de Filosofia, como também
mostram-se favoráveis em relação a manutenção da mesma no currículo do ensino médio;
- ficou evidenciado o interesse por assuntos relacionados com a situação concreta e
vivida pelos alunos;
- o uso sistemático das aulas expositivas, seguidos de trabalhos em grupos e debates
foi a metodologia apontada como a mais usada pelos professores;
- o clima favorável nas aulas de Filosofia, bem como o relacionamento cordial com o
professor;
- as provas tidas como fáceis e o alcance de bons resultados por parte da maioria dos
alunos.
Bibliografia
ABREU, Jayme. A Educacão Secundária no Brasil. São Paulo: MEC/INEP, 1995.
CARLOTANO, Maria Teresa Penteado. Filosofia no Ensino de 2o Grau. Coleção Educação
Contemporânea. São Paulo: Cortez/Autores Associados, 1985.
CHAUÍ, Marilena. O Ensino de Filosofia. In: Ciências Sociais Hoje. Associação Nacional de
Cientistas Sociais e Associação dos Sociólogos do Estado da Bahia. Salvador: 1978, pp 2440.
CHIZZOTTI, Antonio. Pesquisa em Ciências Humanas e Sociais. São Paulo: Cortez, 1991
THIOLLENT, Michel Jean-Marie. Aspectos Qualitativos da Metodologia de Pesquisa com
Objetivos de Descrição, Avaliação, Reconstrução. In: Cadernos de Pesquisa. São Paulo:
Fundação Carlos Chagas, 1984, v. 9, no 49, pp. 45-50.
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