A CRISE DO “KNOW HOW” José Adauto Olimpio1 Nos últimos anos, o setor público piauiense tem passado por uma crise generalizada em quase todos os setores da sua administração e das suas finanças. O poder executivo não se tem mostrado capaz de captar os recursos necessários para sequer manter o custeio da máquina administrativa, sem fazer os investimentos de que o Estado precisa para trilhar os caminhos do desenvolvimento; a situação torna-se mais grave quando se leva em consideração o atraso e a defasagem salarial dos servidores. As causas são múltiplas e complexas, mesmo porque tal desventura não envolve apenas o Piauí. Conhecemos estados que estão encontrando soluções, às vezes parciais, para o enfrentamento da crise, a exemplo dos nossos vizinhos Ceará e Maranhão. Governar, hoje, não significa mais administrar recursos públicos. Significa, sim, administrar a escassez de recursos públicos. E parece que os nossos administradores dos últimos dez anos não quiseram enxergar essa realidade, ou resolveram dar prioridade a outros aspectos, preferindo mandar planejar o que não desejam executar e executar o que Analisemos apenas o tema “know how”, que representa o domínio do conhecimento científico para a geração de produtos e serviços econômicos e sociais. Sabemos que para possuir o domínio desse conhecimento é necessário investir em recursos humanos. E esta é uma das áreas que mais produzem retorno. Mas o que vem acontecendo no Piauí nos últimos dez anos? Com exceção das universidades, da Embrapa e de algumas outras instituições federais, raríssimos são os casos de piauienses que saíram para se preparar no nível de mestrado ou doutorado. Por conta disso, a grande maioria dos nossos técnicos não possui o conhecimento necessário para desempenhar trabalhos de alto nível. E o Estado é obrigado a recorrer à colaboração técnica internacional ou às famigeradas consultorias, que elaboram as propostas, mas não repassam aos técnicos locais o “know A crise do “know how” tende a se agravar, uma vez que, sem 1 Eng°. Agr°., Economista, MSc. em Desenvolvimento e Meio Ambiente, Servidor do EMATER-PI. recursos financeiros para oferecer melhores salários e para melhor capacitar os recursos humanos do Estado, a perspectiva é de se fechar um ciclo vicioso, com prejuízos imensuráveis para o desenvolvimento futuro do Piauí. A capacitação de recursos humanos de curta duração (até 3 meses) é muito importante para o aumento da eficácia e da produtividade nas tarefas rotineiras do serviço público, e o Estado vem treinando seus servidores na medida do possível, mas quando se trata dos cursos de média e longa duração, a situação deixa muito a desejar. Há, portanto, que se acordar para a importância do domínio do conhecimento científico em nível local, também como fator de geração de idéias que possam, não apenas indicar os novos caminhos do desenvolvimento, mas possibilitar a captação dos recursos. A solução, caso seja desejada, aparecerá no médio e longo prazo, mas a definição e a implementação de um Programa Global de Capacitação de Recursos Humanos para o Estado deverá ser o mais imediato possível, sob pena de vermos passar mais uma década de atraso progressivo do Piauí em relação aos outros estados do Brasil. O processo de escolha dos dirigentes no Piauí é, predominantemente, através de critérios político-partidários. Assim, muitos “administradores” não possuem discernimento para compreender a importância da capacitação profissional, ou porque desejam afastar qualquer ameaça de concorrência, ou ainda, pela ambição de não querer dividir qualquer fatia do poder. Dessa forma, quando um dirigente mostra competência técnica, passa a incomodar os tais “administradores”, e logo iniciam-se as pressões para Nos últimos dez anos assistimos a um festival de extinção de órgãos e entidades públicas no Estado, acompanhado pela criação de outras organizações governamentais, em sua maioria para acomodar interesses políticos. Como resultado desse processo corrosivo de tratar a coisa pública, surge e se agiganta o descrédito da população em relação aos políticos e às instituições. Entidades que já foram sólidas, com relevantes serviços prestado ao Piauí, de elevado conceito junto à população, hoje encontram-se quase esquecidas, ameaçadas de extinção por inoperância e ineficiência. A quem cabe a culpa por esta situação? Aos servidores de tais instituições que, de repente, resolveram não mais produzir como antes? Ou aos “administradores” que, por incompetência ou por interesses escusos, desviaram os objetivos e modificaram as prioridades? Ou seriam outros os motivos desse nefasto autofagismo institucional? Então, a solução para a crise de “know how” passa, obrigatoriamente, pela solução do problema de administração das instituições públicas em todos os níveis, e esta depende diretamente da mudança no processo político de escolha dos dirigentes. Em resumo, os servidores públicos, a população que depende dos serviços prestados pelo setor público e o próprio Estado, vão continuar sofrendo os efeitos deletérios de um subdesenvolvimento selvagem ainda por longos anos, alimentados pela esperança que flui nos discursos políticos.