Senhor Presidente , Senhoras e Senhores Deputados ,o Brasil convive há séculos com um modelo econômico de desenvolvimento que agride o meio ambiente e pauperiza as massas trabalhadoras. Embora haja um grande apelo para que se tenha mudança nesse padrão de desenvolvimento, muito pouco vem se fazendo para alterar esse triste e realista quadro sócio-ambiental. Neste dia em que comemoramos o dia Nacional da Mata Atlântica quero ressaltar a sua riqueza e importância para o desenvolvimento sustentável , inclusive a iniciativa do novo governo, que a partir do seu Programa Nacional de Meio Ambiente e do Projeto Político da Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca, inspirado na Carta Compromisso aos Pescadores de agosto de 2002, vem se comprometendo em adotar um novo padrão de desenvolvimento que combine a melhoria da qualidade de vida com a conservação do meio ambiente ,como também ,o aumento da produção natural e o desenvolvimento da aqüicultura, com a minimização dos impactos ambientais, em perfeita sintonia com o desenvolvimento sustentável do setor pesqueiro e aquicola , sem distanciar do compromisso com o princípio da participação popular. Portanto, neste 27 de maio, dia Nacional da Mata Atlântica, venho a esta tribuna para prestar minhas homenagens a este importante ecossistema, que contou no passado com algo em torno de um milhão de quilômetros quadrados (1.000.000 km²) de área, correspondentes a 12% do território brasileiro, e hoje resume-se a menos de 7% de sua área original. Nobres pares , tenho certeza que nós não estaremos , alheios aos apelos relacionados com a conservação do Meio Ambiente , principalmente a Mata Atlântica , e ao manejo sustentado deste importante ecossistema, que tem papel preponderante na conservação dos recursos ícticos, matéria prima da atividade pesqueira exercitada na região, gerando emprego e renda para um elevado contingente de trabalhadores, principalmente de ribeirinhos, seja na pesca extrativa quanto na aqüicultura. Sabemos que o significado do termo Mata Atlântica varia bastante de acordo com a perspectiva do seu usuário. Algumas definições englobam um conjunto de ecossistemas, com uma malha de bacias hidrográfica que são o limite físico das áreas de ocorrência da fauna icitiológica, que vive dependente e em perfeita sintonia com a vegetação ciliar ocorrente nas margens de seus rios. As características geo-climáticas da área de ocorrência da Mata Atlântica concorrem, por outro lado, para que sua ictiofauna, com grande proporção de endemismo, correspondentes às diversas bacias ou sistemas de bacias presentes na região, tais como as bacias costeiras do Nordeste, do Leste, do Paraíba do Sul e do Sudeste, cada uma com suas peculiaridades. Isto faz com que a definição de uma política pesqueira para a região venha respeitar tais peculiaridades, num trabalho de discussão e parceria com os seus usuários, em especial a classe de pescadores artesanais que, com certeza, compõe a sua maioria, sem prejuízo da discussão com os aquicultores que, nos últimos anos vêm demonstrando o seu potencial para um crescimento da produção pesqueira nacional que precisa ser de forma sustentável, principalmente se adotarmos uma política de aproveitamento racional e conseqüente dos recursos hídricos desse ecossistema. Apesar da escassez de informações detalhadas sobre a sistemática e distribuição de peixes da Mata Atlântica, os trabalhos científicos disponíveis indicam que existe pouca dúvida de que várias espécies estão ameaçadas e de que algumas já podem ter sido inclusive extintas. Vale ressaltar, entretanto, que assim como ocorre na maioria das bacias hidrográficas da América do Sul, ainda pouco se sabe sobre a ictiofauna existente nas bacias da Mata Atlântica. O maior volume de conhecimento está restrito às bacias do sudeste/sul, requerendo um maior esforço dos órgãos de pesquisa e principalmente apoio do setor governamental. A Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca terá um importante papel na articulação deste processo de fortalecimento dos órgãos de pesquisa, tais como o CEPTA/IBAMA, o Museu de Zoologia da USP, o Museu Nacional da UFRJ, e o Museu de Ciências e Tecnologia da PUCRS, hoje principais centros de pesquisa da região que, associando-se a alguns pesquisadores de universidades e laboratórios, poderão aumentar suas contribuições através de estudos a nível específico Assim tratando, se elevará o nível de conhecimento sobre a ictiofauna da Mata Atlântica, garantindo uma gestão ordenada e sustentável do uso dos recursos pesqueiros desse ecossistema potencializando o aumento da produção pesqueira, a geração de emprego e renda para as populações ribeirinhas e contribuindo para o Programa de Combate à Fome do atual Governo. Vale ressaltar, neste particular, que qualquer tentativa de preservar espécies da ictiofauna deste ecossistema, associada a pesca responsável, requer a distribuição de esforços em múltiplas áreas de conservação de forma a se obter o melhor resultado possível e necessário para a gestão responsável destes recursos, sob pena de cada vez mais ampliarmos o número de espécies já consideradas raras ou ameaçadas de extinção, cuja lista oficial já vem sendo identificada pelos órgãos ambientais competentes. A destruição da Mata Atlântica é considerada como um dos principais fatores na eliminação de espécies de peixes. O desmatamento no sul da Bahia, por exemplo, leva a extinção local de mais da metade das espécies. A retirada da floresta no sul de São Paulo pode reduzir a riqueza da ictiofauna dos valores originais de 25 a 30 espécies para apenas 8 a 10. A competição, a predação e destruição de hábitats, assim como a introdução de espécies exóticas, constituem importantes fatores no comprometimento das espécies nativas. A ocupação desordenada, urbana e industrial, também é responsabilizada pela eliminação de espécies e a redução dos estoques pesqueiros nas áreas mais impactadas. Com a devastação da floresta, houve uma profunda alteração, reduzindo a fauna original a uma fração do que existia no passado. Infelizmente a documentação da exuberância faunística pretérita foi muito incompleta, de tal forma que os dados atualmente disponíveis dão apenas uma pálida idéia sobre a diversidade ictiofaunística. A maior parte dos rios encontra-se degradada, principalmente pela eliminação das matas ciliares, erosão, assoreamento, poluição e represamento. Apesar de estudada há bastante tempo, a fauna de água doce brasileira não é bem conhecida . Nos rios da mata densa, existem espécies dependentes da floresta para seu ciclo de vida, principalmente aquelas que se alimentam de insetos, folhas, frutos e flores, contribuindo também para a dispersão de sementes e frutos e para a manutenção do equilíbrio do ambiente aquático. A fauna da Floresta Atlântica representa uma das mais ricas em diversidade de espécies e está entre as cinco regiões do mundo que possuem o maior número de espécies endêmicas. Ela está intimamente relacionada com a vegetação, tendo uma grande importância na polinização de flores, e dispersão de frutos e sementes. A relação entre animais e plantas da Mata Atlântica é bastante harmônica. O fornecimento de alimento ao animal em troca do auxílio na perpetuação de uma espécie vegetal, é bastante comum. As plantas com flores e seus polinizadores foram adaptando hábitos e necessidades ao longo de milhões de anos de convívio. Flores grandes e coloridas atraem muitos beija-flores, as perfumadas atraem as mariposas e outras atraem morcegos e mamíferos. Os frutos também desempenham importante papel nesse processo harmonioso da natureza. Acredita-se que de cada três a quatro espécies vegetais da Mata Atlântica, sejam dispersadas por animais, principalmente por aves e mamíferos, que alimentam-se de frutos e defecam as sementes ou as eliminam antes da ingestão. Pássaros frugívoros possuem grande percepção visual e se alimentam de sementes muitas vezes bem pequenas. Jacarés e lagartos, aproveitam os frutos caídos no chão e mamíferos como os macacos, acabam proporcionando a dispersão em grandes áreas. Para a conservação da diversidade da fauna da Mata Atlântica, a Renctas e a SOS Mata Atlântica, duas importantes organizações não-governamentais brasileiras, criaram a "União pela Fauna da Mata Atlântica" com a finalidade de implementar um programa nacional para a conservação de sua fauna, visando ao desenvolvimento de um conjunto de projetos e atividades em benefício da conservação dos animais silvestres. Esta iniciativa também pretende incentivar o estabelecimento de novas parcerias, somando esforços e potencializando as estratégias de ação em favor da proteção da biodiversidade do bioma. Caros colegas , agora cumpre a nós manifestarmos nosso apoio ao PL 285/99 somando ao esforço que a Comissão Geral da Câmara dos Deputados vem realizando, em particular os Deputados Luciano Zica, Luís Alberto e Fernando Gabeira, assim como à homenagem a este Dia Nacional da Mata Atlântica, na justa proteção desse importante ecossistema, considerando a defesa e a sustentabilidade do uso dos seus recursos naturais, uma vez que este é o caminho da melhoria da qualidade de vida da população da região, assim como também do desenvolvimento sustentável para o país. Obrigado senhor Presidente . Dep. César Medeiros