UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE CCM – CMB – MIP Profª Helena Rodrigues Lopes Gênero STAPHYLOCOCCUS Veja aqui: Características gerais Staphylococcus aureus S.aureus – infecções agudas S.aureus – toxemias Estafilococos coagulase-negativos Estafilococcias de interesse veterinário - Características Gerais: O nome Staphylococcus provém do grego staphylé, que significa “cacho de uvas”. Isto se refere ao fato de que as células destes cocos Grampositivos crescem em grumos, seguindo um padrão que se assemelha a um cacho de uvas. Os estafilococos pertencem à Família Staphylococcaceae, possuem metabolismo anaeróbio facultativo, são imóveis e catalase-positivos. São mesófilos, podendo crescer em temperaturas entre 18 a 40ºC (ótimo: 35 – 40ºC). Esses microrganismos encontram-se amplamente distribuídos, podendo ser encontrados nas superfícies corporais do homem e de outros animais, assim como no solo, na água, em plantas e objetos. Atualmente, o gênero compreende 32 espécies, das quais 16 são encontradas em seres humanos. A tabela 1 apresenta os estafilococos de maior significado clínico. Tabela1. Espécies de Staphylococcus de maior significado clínico. Espécie Coagulase Manitol1 Hemólise Resistência à novobiocina aureus + + + 2 epidermidis V saprophyticus + haemolyticus + + intermedius + hyicus (+) 1 utilização anaeróbica 2 resultados variáveis 1 Staphylococcus aureus É o principal patogênico do gênero, que pode fazer parte da microbiota normal dos indivíduos, colonizando especialmente a pele, regiões com pêlos, tratos respiratório e urogenital. Eventualmente causam doença: A)INFECÇÕES AGUDAS – invasão direta e destruição tecidual. Podem ser: Primárias – desenvolvimento na porta de entrada do microrganismo Ex.: celulite, infecções pós cirúrgicas, piodermites, abscessos Secundárias – por disseminação hematogênica ou linfática Ex.: enterocolite, meningite, endocardite, septicemia, osteomielite B) TOXEMIAS – manifestações clínicas são decorrentes da ação de toxinas Ex.: Síndrome da pele escaldada Síndrome do choque tóxico Intoxicação alimentar estafilocócica FATORES DE VIRULÊNCIA S.aureus produz uma série de fatores de virulência, que estão aqui descritos em 3 categorias: enzimas, toxinas e estruturas de superfície (Tabela 2). Enzimas Coagulase Toxinas Catalase Citotoxinas: Hemolisinas (,,,) Leucocidina Toxina esfoliativa Hialuronidase Tox. Síndrome do choque tóxico Nucleases Enterotoxinas Estruturas de superfície Cápsula Proteína A Adesinas (ác. teicóico) Penicilinase Lipase 2 EXOENZIMAS Coagulase Enzima que coagula o plasma humano ou de coelho, formando uma malha protetora ao redor do microrganismo. COAGULASE TROMBINA FIBRINOGÊNIO PROTROMBINA FIBRINA Catalase - Transforma o peróxido de hidrogênio (H2O2) em água e oxigênio. O H2O2 pode acumular-se durante o metabolismo bacteriano e após a fagocitose. Hialuronidase - hidrolisa ácidos hialurônicos presentes na matriz acelular do tecido conectivo, facilitando a disseminação do S.aureus nos tecidos. Nucleases Enzimas que hidrolizam ligações internucleotídicas de ácidos nucleicos, despolimerizando-os e diminuindo a viscosidade do meio onde eles se encontram. Isto também facilitaria a disseminação da bactéria nos tecidos. - lactamase (penicilinase) Enzima que quebra o anel -lactâmico, inativando a droga, produzida por 90% das cepas hospitalares e 50% das domiciliares de S.aureus. É uma enzima extracelular indutível, cuja disseminação foi garantida pela sua presença em plasmídeos transmissíveis. Lipases - estas enzimas hidrolisam lipídeos, uma função essencial para garantir a sobrevida dos estafilococos nas áreas sebáceas do corpo, podendo ser importante para a invasão dos tecidos cutâneos e subcutâneos, assim como para o desenvolvimento de infecções cutâneas superficiais (ex.: furúnculos, carbúnculos). 3 TOXINAS: Hemolisinas: ação necrotizante e citolítica principalmente para hemácias, leucócitos e plaquetas. Prejudica a resposta quimiotática dos leucócitos. Leucocidina: ação lítica sobre leucócitos e macrófagos, levando a formação de poros e aumento da permeabilidade a cátions. Implica em maior resistência à fagocitose. TOXINAS RELACIONADAS A SÍNDROMES CLÍNICAS: Toxina epidermolítica (esfoliatina, esfoliativa) A Síndrome da pele escaldada (Doença de Ritter) é representada por uma dermatite esfoliativa, mediada pela toxina esfoliativa. Foram identificadas duas formas distintas (tipos sorológicos) desta toxina: ETA (cromossomial) e ETB (plasmidial), ambas capazes de produzir a doença, que é observada principalmente em crianças pequenas. Este fato pode estar relacionado à falta de anticorpos protetores. PATOGÊNESE: Colonização liberação da toxina ligação à proteína do citoesqueleto das céls. do estrato granuloso da epiderme vesículas e rupturas descamação (localizada / extensa ) Sintomas : febre, irritabilidade eritema macular fase escalatiniforme (1-2 dias) descamação : face, pescoço, axilas Tratamento : antimicrobianos adequados Toxina da síndrome do choque tóxico ( TSST-1) Os primeiros registros da Síndrome do Choque Tóxico em mulheres menstruadas foram publicados em 1980 (Julho de 1980: > 120 casos/ mês no CDC, nos Estados Unidos), relacionados à multiplicação rápidas de estirpes produtoras da toxina em tampões absorventes. Atualmente, cerca de 40-50% dos casos estão relacionados á infecções cutâneas e pós-cirúrgicas, partos, abortos, osteomelite e abcesso pulmonar. 4 - Sintomas: febre alta ( 38,9ºC), dor de cabeça, hipotensão rash escalatiniforme (eritroderma macular difuso) envolvimento de vários sistemas orgânicos: * gastrintestinal: vômitos ou diarréia aquosa * muscular: mialgia severa * mucosas: hiperemia conjuntival, orofaringeana ou vaginal * SNC: confusão mental, alteração de consciência descamação de toda a pele Tratamento : sintomático antimicrobianos adequados drenagem do foco infeccioso remoção de corpos estranhos Taxa de mortalidade : 5 – 10 %, até 65% Enterotoxinas A Intoxicação alimentar estafilocócica, uma das doenças alimentares mais comuns, é uma intoxicação causda pela ingestão do alimento contaminado pelas enterotoxinas, que são proteínas extracelulares (tipos sorológicos A - H) relativamente resistentes ao calor (100ºC/ 30 min) e à ação das enzimas digestivas (pepsina, tripsina). Condições que favorecem a ocorrência de intoxicação: alimentos : cozidos – manipulados laticíneos, carnes e derivados tortas, saladas S. aureus enterotoxigênicos manipuladores – animais – equipamentos multiplicação e liberação da toxina: 106 – 107 bact/g, em alimentos que permanecem por longos períodos (~4 horas) sem refrigeração adequada. Sintomas aparecem rapidamente (1- 6 horas): Náuseas Cólicas abdominais vômitos Diarréia, dor de cabeça Cãibra muscular Prostração Hipotensão, morte As enterotoxinas, assim como a toxina esfoliativa e a TSST-1, são fortes indutores da liberação de citocinas, como a interleucina-1, o que explicaria os efeitos sistêmicos superantígenos. Além disso, estimulam o peristaltismo intestinal e possuem um efeito sobre o sistema nervoso central, manifestado pela ocorrência de náusea e vômitos intensos nos pacientes. 5 Diagnóstico: Podemos associar a sintomatologia gastrointestinal à laboratorial. sintomatologia : Período de incubação curto (média 2 – 4 horas) Síndrome gastrintestinal vômitos confirmação laboratorial: isolamento de > 105S. aureus/g alimento isolamento de estafilococos enterotoxigênicos no alimento detecção de enterotoxinas no alimento suspeito confirmação ESTRUTURAS DE SUPERFÍCIE Proteína A Proteína que reveste uniformemente a superfície da maioria das estirpes de S.aureus. Possui afinidade para ligação ao receptor Fc das IgG (exceto IgG3), tendo portanto efeitos anti-complementar e anti-fagocitário. Podem induzir a ocorrência de reações anafiláticas (locais/sistêmicas): liberação de histamina. Cápsula A cápsula polissacarídica é produzida por algumas estirpes: inibe a opsonização e fagocitose por leucócitos polimorfonucleares e inibem a proliferação de células mononucleares após exposição a mitógenos. Adesinas Compostas por ác. Teicóico, medeiam a fixação dos estafilococos à superfícies mucosas através de sua ligação específica à fibronectina (glicoproteína de superfície de membrana citoplasmática). ISOLAMENTO E IDENTIFICAÇÃO LABORATORIAL DE S.aureus A) Material Swab da base de abcessos Sangue Secreção nasofaríngea Swab vaginal Amostras de alimentos B) Meios de Cultura Agar-sangue Agar Manitol Salgado Agar Baird-Parker 6 C) Identificação Coloração de GRAM; catalase Coagulase, DNase, Manitol (anaerobiose) TRATAMENTO, PREVENÇÃO E CONTROLE Os estafilococos são microrganismo ubíquos, encontrados na pele e nas mucosas, e sua introdução através de solução de continuidade na pele freqüentemente é inevitável. Entretanto, a dose infecciosa é alta, a não ser que haja algum corpo estranho na ferida (ex.: estilhaços, fios, sujeira). A limpeza apropriada da ferida e a atenção quanto a anti-sepsia das lesões (ex.: sabão germicida, solução de iodo), além dos cuidados com material de curativo, podem evitar a maioria das infecções em pessoas sadias. Uma observação se faz quanto ao caso das feridas cirúrgicas, que podem ser causadas por uma dose infectante baixa, devido à presença de corpos estranhos e tecido desvitalizado. A esterilização correta do material cirúrgico, a lavagem das mãos e a cobertura das superfícies cutâneas expostas podem minimizar o risco de contaminação durante o procedimento cirúrgico. S.aureus infecções agudas: INFECÇÕES CUTÂNEAS IMPETIGO: mácula-vesícula-pústula-crosta FOLICULITE: sicose (terçol) FURUNCULOSE: extensão dolorosa e necrótica da foliculite ANTRAZ: coalescência de furúnculos INFECÇÕES DE FERIDAS CIRÚRGICAS ou TRAUMÁTICAS BACTEREMIA E ENDOCARDITE ORIGEM: geralmente a partir de um foco infeccioso 50% dos casos: infecção hospitalar (cateterismo) ENDOCARDITE: taxa de mortalidade elevada 7 PNEUMONIA E EMPIEMA PNEUMONIA: ocorrência após aspiração de secreções orais (crianças, idosos, fibrose cística, gripe, doenças obstrutivas) ou disseminação hematogênica (endocardite, cateterismo) EMPIEMA: difícil drenagem (áreas isoladas) OSTEOMIELITE E ARTRITE SÉPTICA OSTEOMIELITE: infecção hematogênica ou pós-traumática Crianças: infecção metafisária de ossos longos vascularizadas) com dor local e febre alta. Adultos: região vertebral (dor intensa, febre) (áreas altamente ARTRITE: acomete crianças pequenas e adultos com problemas articulares. Causa inflamação e dor nas articulações, principalmente do ombro, joelho, quadril e cotovelo. 8 Estafilococos coagulase-negativos (ECN) Fazem parte da microbiota normal da pele e mucosas, porém podem causar infecções oportunistas: penetração por lesões cutâneas originadas por traumas ou procedimentos médicos invasivos. Já são considerados como os principais agentes de bacteremia de origem hospitalar e infecções pela presença de corpos estranhos. Os indivíduos mais susceptíveis são os imunocomprometidos, doentes crônicos, idosos e prematuros. Estes microrganismos produzem vários fatores de virulência, já tendo sido descritos enterotoxinas, -lactamase e resistência à meticilina. S. epidermidis Possui uma característica interessante do ponto de vista clínico, que é a capacidade de aderência à material plástico, como cateter (intravascular, diálise intraperitoneal) e próteses (cardíacas, articulares). Fases da Aderência: 1) Adesão: polissacarídeo capsular (PS/A) Proteínas de superfície 2) Formação de muco ou biofilme: ác. teicóico O biofilme constitui uma barreira contra antimicrobianos e interfere com a opsonofagocitose. S. saprophyticus Tem tendência a causar infecções das vias urinárias, e atualmente é considerado o 2º maior agente de infecção urinária em mulheres jovens sexualmente ativas. Em geral, as mulheres infectadas apresentam disúria (dor ao urinar), piúria (pus na urina) e eliminam numerosos microrganismos na urina. A resposta aos antimicrobianos normalmente é rápida. Fases de aderência: 1) Adesinas – específicas para glicoproteínas do epitélio uretral 2) Biofilme : mucoproteínas – carboidratos – cristais de stuvita e apatita (ocorrem na presença de uréia). 9 ESTAFILOCOCCIAS DE INTERESSE VETERINÁRIO ESTAFILOCOCOS podem fazer parte da microbiota normal da pele, pêlos, boca, narinas, intestino grosso e glândulas mamárias de vários animais. PRINCIPAIS PATOGÊNICOS: S.aureus, S.intermedius, S.hyicus S.aureus: lesões supurativas e septicemia Piodermite (principalmente em cães e cavalos) Infecções urinárias Enterocolite (pós-antibioticoterapia) Impetigo (pós-mordedura) Mastite MASTITE BOVINOS, ovinos, suínos Clínica ou sub-clínica LEITE: presença de leucócitos, pus, coágulos IMPORTÂNCIA ECONÔMICA: queda na produção fibrose, mortes custo do tratamento risco ao consumidor Associação de diferentes espécies de estafilococos com processos patológicos em animais: Espécie Principal condição patológica S.aureus Mastite em bovinos, suínos, ovinos Septicemia em suínos e aves (raro) Dermatite em aves, coelhos e suínos Dermatite e celulite em cavalos S.intermedius Piodermite e mastite em cães Septicemia em aves (raro) Dermatite e celulite em cavalos S.hyicus Dermatite e celulite em cavalos Dermatite exudativa em suínos Mastite (subclínica) em bovinos 10 IDENTIFICAÇÃO ESPÉCIME secreções, tecidos, leite isolamento identificação e provas bioquímicas como para isolados de humanos. TRATAMENTO antimicrobianos antibiograma, quando necessários adequados; drenagem cirúrgica e 11