Hipertensão Arterial A elevação dos níveis pressóricos além das cifras determinadas pelas atuais diretrizes é um fator independente de risco de conseqüências a nível cardíaco, coronariano, cerebrovascular, renal e vascular . Elevações a partir de 115/75 mmHg já demonstram aumento nos índices de mortalidade cardiovascular. Mas a Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) não pode ser vista apenas pelo aspecto das cifras tensionais elevadas. Na verdade a HAS existe num contexto sindrômico, com alterações hemodinâmicas, tróficas e metabólicas, entre as quais a própria elevação dos níveis tensionais, as dislipidemias, a resistência insulínica, a obesidade centrípeta, a microalbuminúria, a atividade aumentada dos fatores de coagulação, a redução da complacência arterial e a hipertrofia com alteração da função diastólica do VE. Os componentes da síndrome hipertensiva são muitas vezes fatores de risco cardiovascular independentes. Os esquemas terapêuticos antigos, propostos com a intenção única de baixar os níveis tensionais, não obtiveram uma redução da morbidade e mortalidade como esperado, a despeito de uma redução eficaz dos níveis pressóricos. Ao tratar a hipertensão devemos ter em mente os fatores de risco associados e o impacto do tratamento nestes fatores. Assim apesar de um controle satisfatório da PA outros fatores de risco potencialmente maiores podem se sobrepor, não melhorando a situação clínica do paciente, fazendo com que o tratamento atual da hipertensão arterial sistêmica não possa se resumir simplesmente à redução dos níveis pressóricos, mas do risco cardiovascular global. Prevalência da HAS Conforme estudos Americanos a prevalência da HAS aumenta progressivamente com a idade em ambos os sexos. A prevalência entre os negros é sempre maior em qualquer idade. Até os 40 anos a prevalência é próxima a 10% (20% para a raça negra), até os 50 anos chega a 20% (40% para a raça negra), após 60 anos ultrapassa os 40%, atingindo 60% após 70 anos. Prevalência no Brasil Diversos estudos demonstram uma prevalência elevada de hipertensão arterial na população brasileira. Estudos mais recentes demonstram uma prevalência de 26% da população geral adulta, variando conforme o estudo e a localidade pesquisada de 22,3 até 44% conforme dados da última diretriz. Os segmentos sociais mais pobres são os que possuem maior prevalência de hipertensão e também de complicações como acidente vasculares. As regiões rurais apresentam menor prevalência de hipertensão em relação a metropolitana. O índice de prevalência de hipertensão varia numa mesma população de determinada origem conforme ocorrem migrações, portanto o ambiente é um importante fator determinante. A urbanização, os hábitos sociais e a atividade profissional são determinantes maiores. A estimativa de prevalência de Hipertensão Arterial na população adulta do Brasil, baseada nos dados estatísticos de 1995, estimava que existiam 13 milhões de brasileiros hipertensos com cifras de Pressão Arterial de > 160 e/ou 95 mmHg. Se considerarmos as cifras entre 140-159 e/ou 90-94 estima-se 30 milhões de hipertensos no Brasil em 1995. Provavelmente 50% destes (aproximadamente 15 milhões), desconheciam ser hipertensos. Impacto na morbidade A hipertensão é um importante fator de risco para a doença cardiovascular, seja na forma de doença isquêmica, insuficiência cardíaca ou doença cerebrovascular. A mortalidade por doença cerebrovascular, especificamente a hemorragia intraparenquimatosa, é diretamente relacionada com os níveis tensionais. Estudos americanos demonstram que um aumento de 10mmHg da PA diastólica usual incorre no aumento de 56% da incidência de AVE e de 37% de doença coronariana. No Brasil, em 2003 as mortes por doença cardiovascular foram 27,4 % de todos os óbitos. Excluindo-se as mortes violentas e de origem não definida o índice sobe para 37%. A HAS está envolvida em 40% das mortes por doença cerebrovascular e em 25% das mortes por doença coronariana. Em 2005, foram 1.180.184 internações relacionadas com a doença cardiovascular com um custo global superior a U$575.000.000,00 (Quinhentos e Setenta e Cinco Milhões de Dólares). Prevalência do tratamento e sucesso terapêutico Apesar do reconhecimento da hipertensão como uma entidade de prevalência elevada, seu tratamento continua inadequado. Estudos Americanos demonstram que apenas 27% dos hipertensos mantém um controle satisfatório da PA (< 140/90 mmHg). Apesar de devidamente diagnosticados, apenas 50% dos pacientes utilizam medicação de forma regular. Isto se deve principalmente ao caráter assintomático da hipertensão durante seus 15 a 20 primeiros anos de evolução, sendo difícil convencer um paciente do perigo em potencial que corre e da necessidade de mudar seu estilo de vida e principalmente da necessidade de utilizar as medicações. No Brasil os dados são piores, com 50,8% de índice de conhecimento da doença em portadores, 40,5% de tratamentos regulares e apenas 10,4 % de controle satisfatório. As taxas de controle inferiores se associaram a idade avançada, obesidade e baixo nível educacional. Fatores de Risco relacionados a HAS Idade, Fatores Sócio econômicos, consumo de sal, Obesidade, Sedentarismo e consumo excessivo de álcool são os principais fatores relacionados ao aparecimento e a piora da HAS. Medidas não Farmacológicas São modificações de estilo de vida de comprovado valor na redução da pressão arterial: a redução do peso, a redução da ingestão de sódio, maior ingestão de potássio, uma dieta rica em frutas e vegetais e alimentos com pouco teor de gordura, a diminuição ou abolição do álcool e a atividade física. Alimentos ricos em cálcio atualmente são preconizados em conjunto com toda a série de medidas dietéticas já citadas, que juntas são benéficas para a redução da PA. A ingestão de magnésio, de derivados do ácido ecosanóico e aumento da ingesta de proteínas entre outros, não possuem até o momento evidências de valor comprovado, que indiquem sua utilização. A interrupção do fumo não interfere diretamente sobre a redução da pressão, no entanto trata-se de importante fator de risco cardiovascular e deve ser incentivada. As modificações do estilo de vida são aplicáveis a todos os pacientes que se propõe a diminuição do risco cardiovascular, incluindo os normotensos, e necessárias também quando se impõe o tratamento farmacológico da hipertensão. Seguem comentários específicos sobre cada medida: Sal: Os pacientes hipertensos podem ser divididos em sensíveis e não sensíveis ao sal. Apesar da resposta heterogênea a restrição de sódio é recomendável de uma forma geral uma ingestão de sal menor que 6g/dia ou cerca de 2,3g de sódio. Redução do peso: Os mecanismos envolvidos na redução da pressão arterial relacionados a perda de peso incluem: a redução da atividade adrenérgica, do colesterol plasmático e da resistência insulínica. Mesmo reduções pequenas de peso possuem efeito protetor sobre o risco cardiovascular. Veja também: HAS e Obesidade Potássio: Há evidencias de proteção para AVE e menor necessidade de medicamentos para o controle da PA com a ingestão do potássio. Cálcio, Magnésio, Proteínas e Ac. Graxos monoinsaturados : Estudos são controversos quanto a redução da PA. Não há suporte até o momento para indicação de uso isolado de alguma dessas substâncias com fim de redução de PA. Dieta DASH: O VII JNC menciona o trabalho DASH (Dietary Aproaches to Stop Hypertension) como um plano dietético benéfico. A dieta utilizada preconiza vegetais, frutas, baixo consumo de gorduras (saturadas e total), sendo rica em potássio e cálcio. A adoção da dieta DASH, com medidas alimentares mais completas, possui um efeito hipotensor muito maior que a restrição isolada do sódio e do uso isolado de qualquer outra medida. Álcool : O uso excessivo de álcool esta relacionado com o aumento da pressão arterial. No entanto em baixas doses o álcool pode se mostrar hipotensor e até protetor de eventos coronarianos. Dessa forma, a melhor orientação aos pacientes que ingerem álcool habitualmente é que o façam em pequenas quantidades, preferencialmente apenas nas refeições, não sendo necessária a recomendação de interrupção, salvo nos pacientes que possuam indicações para tal, como nos com história de dependência alcoólica, nos hepatopatas e nos portadores de deficiências imunológicas. Atividade Física: Exercício físico não isométrico tem se relacionado com redução da pressão arterial, independentemente dos efeitos de aumento de sensibilidade a insulina e redução de peso. Ocorre ainda redução das taxas de colesterol total e diminuição na taxa de mortalidade por todas as causas. O mecanismo direto de redução da PA esta relacionado com a diminuição da atividade simpática refletida por vaso dilatação persistente pós exercício. Para detalhes leia Atividade Física e HAS Estresse: Ativa o sistema nervoso simpático, participando da patogênese da hipertensão. Acredita-se que pacientes estressados necessitam de maior quantidade de medicação para controle. Não há nenhuma técnica comprovada de redução de estresse que se relacione com a redução da PA. Café e cafeína: Apesar de simpaticomimético não há relação entre a ingestão do café e cafeína com o aumento da pressão arterial. Orientação Dietética Global: Sumarizando os dados acima, a V Diretriz Brasileira de HAS recomenda que o hábito alimentar dos hipertensos deve incluir: redução da quantidade de sal na elaboração de alimentos ; retirada do saleiro da mesa; restrição das fontes industrializadas de sal: molhos prontos, sopas em pó, embutidos, conservas, enlatados, congelados, defumados e salgados de pacote tipo snacks ; uso restrito ou abolição de bebidas alcoólicas; preferência por temperos naturais como limão, ervas, alho, cebola, salsa e cebolinha, em substituição aos similares industrializados; redução de alimentos de alta densidade calórica, substituindo doces e derivados do açúcar por carboidratos complexos e frutas, diminuindo o consumo de bebidas açucaradas e dando preferência a adoçantes não calóricos; inclusão de, pelo menos, cinco porções de frutas/verduras no plano alimentar diário, com ênfase em vegetais ou frutas cítricas e cereais integrais; opção por alimentos com reduzido teor de gordura, eliminando as gorduras hidrogenadas (“trans”) e preferindo as do tipo mono ou poliinsaturadas, presentes nas fontes de origem vegetal, exceto dendê e coco; ingestão adequada de cálcio pelo uso de produtos lácteos, de preferência, desnatados ; busca de forma prazerosa e palatável de preparo dos alimentos: assados, crus e grelhados ; plano alimentar que atenda às exigências de uma alimentação saudável, do controle do peso corporal, das preferências pessoais e do poder aquisitivo do indivíduo/família.