Índice 1 – Insuficiência Coronariana 02 Ia – Ins Coronariana Ib – Angina Estável Ic – Síndrome Coronariana Aguda 06 08 09 2 – Insuficiência Cardíaca Congestiva 14 IIa – Insuficiência Cardíaca IIb – Edema Agudo de Pulmão 17 21 3 – Hipertensão Arterial 4 – Diarréias Agudas e Crônicas 5 – Hepatites Agudas e Crônicas 6 – Suporte Nutricional 7 – Dispepsia, DRGE, Úlcera Péptica 8 – Obesidade e Dislipidemia 9 – Distúrbios Tireoidianos 21 23 30 41 44 53 61 IXa – Doença de Graves IXb – Hipotireoidismo IXc – Tireoidites 65 67 69 10 – Diabetes Mellitus 11 – Asma Brônquica e Rinite 12 – IVAS 13 – PAC 14 – DPOC 15 – Insuficiência Renal 69 70 78 88 96 103 XVa – IRA XVb – IRC 106 109 16 – ITU 17 – Infecções Agudas e Crônicas da Pele 18 – DST´s 19 – Princípios de Antibioticoterapia 20 – Distúrbios da Hemostasia e Tromboses 21 – Anemias 113 122 130 139 147 156 22 – Infecções do SNC 23 – Abordagem Clínica do Paciente Reumático 167 176 CARDIOLOGIA INSUFICIÊNCIA CORONARIANA Prof. Dr. Benedito Carlos Maciel A) Resumos de casos clínicos ilustrativos Caso 1 - I.H., 53 anos, sexo masculino, vendedor, procurou atendimento com queixa de dor precordial. O paciente referia estar bem até há 6 meses quando começou a apresentar a sensação de peso retroesternal aos esforços e, às vezes, após refeições. Ele procurou atendimento com um clínico geral que lhe disse que seu eletrocardiograma era normal, recomendou-lhe perder peso e prescreveu-lhe tranquilizante. Ele perdeu 3 kilos durante os 3 meses seguintes, mas a sensação de peso tornou-se ainda mais frequente, o que fez com que ele procurasse novo atendimento médico. O desconforto retroesternal era descrito como uma sensação de pressão ou aperto, que nunca ocorria em repouso ou durante o sono, mas principalmente enquanto subia escadas o caminhava, especialmente, nos dias mais frios. O desconforto precordial durava 10 a 15 minutos e cedia completamente após um período de repouso de alguns minutos. Com o tempo ele observou que era capaz de prever o nível de esforço que desencadeava a dor. Relata também que utilizou um comprimido sub-lingual que fazia a dor ceder em 2 a 3 minutos. Os sintomas vem mantendo as mesmas características durante esse período. O paciente não apresentava história de hipertensão arterial sistêmica, diabetes mellitus ou gota, mas mantinha-se 10 a 15 kilos acima do peso normal há 8 anos. Fumava 20 cigarros de papel por dia há 30 anos e bebia diariamente uma a duas cervejas.Sua mãe faleceu aos 80 anos com carcinoma e seu pai, aos 82 anos, não tem problemas graves de saúde.Sua única irmã teve um infarto do miocárdio com 55 anos de idade. Exame físico: Paciente obeso, em bom estado geral, ativo, hidratado, corado. Pressão arterial sistêmica = 120/80 mmHg, T= 36,5 C, FR= 18 mov/min, FC= 80 bat/min; pele quente e ligeiramente seca, sem lesões; ausência de sinais de aumento de pressão venosa central; pulmões semiologicamente normais; Ausência de pulsações precordiais anormais; bulhas cardíacas normofonéticas, ritmo regular, sem sopros ou outros ruídos anormais; fígado e baço não palpáveis; abdômen globoso, flácido, sem massas palpáveis; pulsos periféricos palpáveis e simétricos; sem edema periférico. Caso 2 - L.A., 51 anos, masculino, comerciante, admitido na Unidade de Emergência com queixa de dor precordial intensa com duas horas de duração. Paciente estava assintomático até há 6 meses, quando começou a apresentar irritabilidade e insônia. Há 2 meses passou a experimentar uma vaga sensação de peso na região anterior do tórax, em posição mais lateral do precórdio. Ele tinha alguma dificuldade em descrever seus sintomas, mais eles geralmente ocorriam à noite, particularmente quando voltava do trabalho em noites frias. Nessa época não procurou atendimento médico. No dia da internação, ele estava em casa assistindo à televisão quando começou a apresentar um desconforto retroesternal, que inicialmente era leve, mas foi se intensificando progressivamente, tornando-se muito intenso, com caráter opressivo e irradiando-se para a mandíbula e para o pescoço. Ele então resolveu procurar atendimento, sendo encaminhado para a Unidade de Emergência. Paciente negava hipertensão arterial sistêmica, diabetes mellitus ou gota. Nunca foi obeso e mantinha uma atividade física moderadamente intensa (caminhava regularmente durante 30 minutos, 3 vezes por semana). Fumava 30 a 40 cigarros por dia e bebia, apenas ocasionalmente, bebidas alcoólicas. Durante os últimos anos estava vivendo situação de grande estresse no seu ambiente de trabalho. Pai faleceu aos 63 anos com doença coronariana; mãe falecida aos 70 anos com câncer. Tem uma irmã com 54 anos, sem problemas de saúde. Dois de seus três tios paternos tinham doença coronariana, mas ele desconhecia a ocorrência de diabetes mellitus ou hipertensão arterial sistêmica na família. Exame físico: Paciente em bom estado geral, ativo, hidratado, corado. Pressão arterial sistêmica = 110/70 mmHg, T= 36,6 C, FR= 18 mov/min, FC= 58 bat/min; pele quente e ligeiramente seca, sem lesões; ausência de sinais de aumento de pressão venosa central; pulmões apresentavam estertoração crepitante em ambas as bases; murmúrio vesicular diminuído na base esquerda; ausência de pulsações precordiais anormais; impulso apical palpável no quinto espaço intercostal, um pouco à esquerda da linha hemi-clavicular esquerda; hipofonese da primeira bulha cardíaca, presença de quarta bulha cardíaca na área mitral; ritmo de base regular, mas com extrassístoles frequentes (10/min); sopro holossistólico suave em foco mitral, com irradiação para a axila; fígado e baço não palpáveis; abdômen normotenso, sem massas palpáveis; pulsos periféricos palpáveis e simétricos, mas com amplitude reduzida; sem edema periférico. Caso 3 - R.L, 45 anos, sexo feminino, secretária, com queixas de dor torácica há 2 meses. A paciente refere que até há 6 meses era completamente assintomática. Desde então começou a notar uma vaga dor torácica, localizada na face antero-lateral do tórax, próxima à região mamilar, difusa, sem relação definida com esforços, que se manifestava ocasionalmente. Há 2 meses observou o aparecimento de uma sensação de opressão retroesternal desencadeada por esforços como subir escadas ou andar em aclive, que não se irradiava. Ela consultou seu clínico geral que prescreveu-lhe dinitrato de isosorbitol e recomendou-lhe que se afastasse do trabalho durante 2 semanas. Disselhe também que seu eletrocardiograma basal era normal. Ela apresentou melhora do quadro até que, há 2 semanas, passou a apresentar uma dor bastante intensa, que durava até 30 ou 40 minutos, irradiando-se para o pescoço e face medial do braço esquerdo, podendo ocorrer mesmo em repouso. Há 2 dias ela acordou às 4 horas da manhã com dor precordial retroesternal que durou 2 horas. Paciente sabia ser hipertensa leve há 5 anos, mas vinha bem controlada utilizando apenas um diurético tiazídico. Desde a mesma época teve diagnóstico de diabetes mellitus que controlava apenas com dieta. Nega tabagismo ou etilismo. Mantinha uma vida bastante sedentária, não fazendo exercícios físicos regulares. Nega história familiar de doenças cardiovasculares, exceto alguns casos de hipertensão arterial sistêmica. Exame físico: Paciente obesa, em bom estado geral, ativo, hidratado, corado. Pressão arterial sistêmica = 140/90 mmHg, T= 36,5 C, FR= 20 mov/min, FC= 80 bat/min; pele quente e ligeiramente seca, sem lesões; ausência de sinais de aumento de pressão venosa central; pulmões semiologicamente normais; Ausência de pulsações precordiais anormais; bulhas cardíacas normofonéticas, ritmo regular, sem sopros; quarta bulha audível no foco mitral; fígado e baço não palpáveis; abdômen globoso, flácido, sem massas palpáveis; pulsos periféricos palpáveis e simétricos; sem edema periférico. B) Questões Considerando os dados apresentados na história clínica e no exame físico de cada um dos casos apresentados o aluno deverá: 1. Apresentar as hipóteses diagnósticas mais prováveis e estabelecer o diagnóstico diferencial entre elas. 2. Solicitar, em ordem de prioridade, os exames complementares essenciais para elucidação diagnóstica, justificando a solicitação com base no valor diagnóstico do método. 3. Com base nos dados clínicos e nos resultados dos exames complementares, estabelecer o diagnóstico clínico mais provável para o caso. 4. Discutir os princípios básicos do tratamento clínico indicado para o caso, estabelecendo uma ordem de prioridade na sua indicação e considerando suas contra-indicações. 5. Discutir o prognóstico do paciente considerando os elementos clínicos, os dados obtidos nos exames subsidiários e as possíveis complicações presentes no caso específico. 6. Discutir as medidas preventivas que poderiam ser aplicadas e seu possível impacto a longo prazo. Roteiro de estudo 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. Aspectos essenciais da epidemiologia da DIM A DIM e a aterosclerose. Hipóteses da aterogênese. A lesão coronária e seu comportamento nas síndromes isquêmicas agudas e crônicas Fatores de risco (maiores e menores). Conceito epidemiológico. História natural, influência do controle dos fatores de risco. Manifestação clínica: angina (tipos), infarto, insuficiência cardíaca, morte súbita. Fisiopatologia da doença isquêmica miocárdica Determinantes do consumo de oxigênio miocárdico. Fatores reguladores da resistência coronariana. Fatores limitantes da perfusão coronariana. Efeitos da isquemia sobre o eletrocardiograma. Efeitos da isquemia sobre a função ventricular. Conceito de miocárdio "atordoado" e hibernante Efeitos da isquemia sobre o metabolismo miocárdico. O conceito de "isquemia silenciosa". A síndrome X. 8. Angina pectoris estável Definição, conceito de reserva coronariana, fatores fisiopatológicos, mecanismos desencadeantes. Diagnóstico diferencial da dor isquêmica. Eletrocardiografia convencional, dinâmica e de esforço. O papel do teste ergométrico no diagnóstico. Uso associado de marcadores cintilográficos da perfusão (e.g., Tálio-201, Sestamibi-Tc-99m). O papel do estresse físico ou farmacológico, para caracterização de reserva coronária diminuída, por uso de ecocardiografia ou de métodos de cardiologia nuclear. O cateterismo cardíaco e a cinecoronariografia. Tratamento clínico: inibição plaquetária; o grupo dos nitratos; o grupo dos bloqueadores beta-adrenérgicos; o grupo dos antagonistas do cálcio. O papel das técnicas de revascularização miocárdica por via percutânea (cardiologia intervencionista): Angioplastia coronariana transluminal percutânea. A cirurgia de revascularização miocárdica e suas indicações, limitações e vantagens. História natural e prognóstico na angina estável. 9. Angina instável Formas de apresentação e classificação clínica. Mecanismos fisiopatológicos básicos, com realce para o comportamento da placa aterosclerótica. Angina variante de Prinzmetal. O aluno deverá, com o mesmo enfoque dos ítens 8.3 a 8.10 acima, aplicar os mesmos princípios de diagnóstico, estabelecimento de prognóstico e tratamento de pacientes com angina instável. 10. Infarto agudo do miocárdio Papel relativo dos fatores anatômicos e funcionais causadores do infarto: progressão da lesão ateroesclerótica, rotura da placa, trombose, agregação plaquetária, espasmo coronariano. Efeitos do infarto sobre a função ventricular: disfunção sistólica e diastólica: conseqüências hemodinâmicas. A classificação de Killip e a hemodinâmica (de Forrester); complicações arrítmicas; complicações mecânicas; infarto ventricular direito. Peculiaridades; infarto Q e não-Q: aspectos clínicos. Manifestações clínicas e diagnóstico laboratorial: sintomas; alterações do exame físico; alterações eletrocardiográficas agudas; alterações enzimáticas; métodos de imageamento da função cardíaca: ecocardiografia, cintilografia nuclear de perfusão e de marcação do "pool" sangüíneo para avaliação do desempenho contrátil ventricular, angiocardiografia por contraste radiológico. Tratamento: condutas clínicas de emergência fundamentais. O conceito da reperfusão coronariana : trombólise farmacológica e mecânica (angioplastia coronariana percutânea); intervenções farmacológicas; o conceito de limitação do tamanho do infarto; suporte mecânico (contrapulsação aórtica); correção cirúrgica de complicações mecânicas; estratificação de risco. O papel dos métodos não-invasivos e da cinecoronariografia; prognóstico e reabilitação cardiovascular. 11. O conceito de viabilidade miocárdica em presença de miocárdio não-contrátil, e suas implicações clínicas. Diagnóstico com métodos cintilográficos e ecocardiográficos. Tratamento. INSUFICIÊNCIA CORONARIANA Epidemiologia: A dça isquêmica do miocárdio (DIM) é causada quase sempre pelas dças arteroscleróticas coronarianas (DAC), é muito prevalente e é de longe a principal causa de óbito no mundo. Mas sua prevalência vem ↓ devido : ao melhor conhecimento de sua fisiopatologia, as atitudes de prevenção 1° e 2° e pelo melhor suporte de tratamento. Qdo a obstrução é ↑ a 60%, a isquemia já pode surgir em condições de ↑ da demanda miocárdica. Fisiopatologia: -Isquemia = desbalanço entre Fluxo coronariano e Consumo de O2 1. Fluxo coronariano= Pressão de perfusão/ Resistência coronariana. Pressão de perfusão= Pressão sanguínea na raiz da aorta – pressão no átrio D, onde desemboca o sg venoso coronariano. Resistência coronariana= soma das 3 resistências a seguir: Resistência dos gdes vasos epicárdicos: estável em condições fisiológicas, adquire importância na DIM: em presença de obstr orgânica (arteriosclerose- q ↓ reserva de fluxo) ou funcional (vasoespasmo, ↑ do tônus vasc, agregação de plaquetas e trombose- q ↓ transitoriamente o fluxo ) Resistência dos pqs vasos em nível arteriolar: fundamental na auto- regulação. Possuem tônus vasomotor ↑, portanto gde capacidade de reserva p/ as ditalações necessárias. Resistência extravascular: resulta da compressão q os vasos intramiocárdicos sofrem. Seus efeitos são maiores nas regiões subendocárdicas do q nas subepicárdicas. 2. Consumo de O2= depende de fatores determinantes do trabalho cardíaco: contratilidade, freqüência e tensão parietal sistólica (pós-carga ventricular) -Aterosclerose: Acúmulo de lipoproteínas (LDL) na íntima da artéria (por: ↑ da permeabilidade, fissura endotelial ou por ligação na matriz extracel) → Recrutamento de PMN p/ a estria gordurosa nascente (aderem à receptores endoteliais) → Os PMNs captam os LDLs e viram cels espumosas→ Os PMNs produzem fatores de crescimento e citocinas, estimulando expansão da muscular da íntima e da sua matriz extracel, formando capa fibrosa em torno de um cerne repleto de macrófagos e lipídeos liberados de cels espumosas mortas. Fatores de risco p/ DAC: 1.Maiores: - Hiperlipidemia - DM - HAS - Tabagismo 2.Menores: -Idade: > 45 anos p/ ♂ e > 55 anos p/ ♀ -História familiar de DAC -Obesidade -Sedentarismo -Anti-concepcionais orais - Estresse Obs: a homocisteína têm se mostrado um importante fator de risco, provavelmente por seu efeito citotóxico direto ao endotélio. Prevenção: -Primária: é a identificação e a intervenção nos fatores de risco, por meio de mudança no estilo de vida p/ prevenir dças cardiovasc em pac sem dça prévia. -Secundária: é a identificação e tto de pac c/ DAC e tto e reabilitação de pacientes que tiveram evento isquêmico (p/ prevenir outro evento). ‘Cascata Isquêmica’: é a ordem em q ocorre as conseqüências da isquemia: disfunção contrátil→ alter no ECG→ angina pectoris. A isquemia pode ser subendocádica (típica da angina) ou transmural (típica do IAM). Miocárdio Atordoado: é uma disfunção contrátil (hipo, aci ou discinesia) pós-isquêmica, ñ há necrose e há completa recuperação alguns dias após normalização da perfusão miocárdica. Miocárdio Hibernante: p/ se proteger de uma coronária estenosada (isquemia crônica), há ↓ da contratilidade, mantendo ↓ consumo de O2. Isquemia Silenciosa: é uma isquemia sem sintomas, ocorre tanto em pac q tb tem isquemias sintomáticas quanto naqueles totalmente assintomáticos. Pode ser detectada pela monitoração c/ Holter ou ECG de esforço. Alteração no ECG: -isquemia=inversão de onda T/ infradesnivelamento transitório -‘onda de lesão’= supradesnivela/o de ST (mostra lesão aguda) - local infartado= onda Q patológica (maior q 1 quadradinho ou + q 1/3 do comprimento QR) Síndrome X: á a ocorrência de dor torácica típica c/ coronárias normais na angiografia (obstrução deve ser em artérias menores), podendo aparecer alter no ECG. Angina de Prinzmetal: caracterizada por ↓ da luz coronariana por vasoespasmo, há isquemia grave. 75% dos pac tem obstrução fixa há 1 cm do local de espasmo. Dor, em geral, aparece no repouso ou durante o sono. Tto: agudo= doses de nitrato sublingual e nifedipina de ação curta; crônico: nitratos longa duração e antag do Ca. Expectro Clínico da DIM: Angina Estável Sinds coronariana aguda: Ang Instável IAM s/ e c/ supra ANGINA ESTÁVEL É a manifestação clínica de uma placa de ateroma obstrutiva fixa. Clínica: Dor retroesternal, irradia-se p/ mandíbula, pescoço, braço E ou epigrastro Caráter da dor: + comuns: pressão ou aperto. - comuns: peso, queimação. Mas tb pode-se ter dor atípica ou o equivalente anginoso (cansaço, dispnéia). Duração: > 2 min e < 10 min Agrava c/: Esforço físico, Frio, Estresse emocional, Pósprandial. Em relação ao exercício físico, a angina ocorre c/ um nível presumível de esforço. Aliviada c/: Repouso ou Nitrato sublingual Diagnóstico: a presença de dor típica em pac c/ fatores de risco é bastante indicativo. Para investigar a DIM os melhores são os Testes Provocativos. Exames Complementares: ECG: Em repouso: 50% desses pac tem ECG normal. Alter + comuns: do segmento ST eda onda T, c/ ou s/ infarto trasmural prévio. De esforço (“Teste Ergométrico”): a sensibilidade do teste ergométrico é de 75% e a especificidade é de 85%. Fornece informações sobre grau e severidade, limitações funcionais e os prognósticos evolutivos. Há infradesnivelamento de ST (> 1mm). É o teste de escolha, por ↓ custo e ↑ praticidade. Cintilografia: é um teste ergométrico + exame de imagem perfusional (radioisótopo + utilizado= sestamibi c/ tecnécio 99 ou tálio 201). Maior acurácia, indicado qdo ECG esforço é inconclusivo ou qdo ECG basal alter. É positivo qdo: há defeito de perfusão no esforço que desaparece no repouso. Vantagem: mostra os segmentos acometidos. Teste c/ estresse farmacológico: indicado p/ pac q ñ pode realizar esforço físico (bloqueio de ramo, arritmias complexas, disfunção ventricular...). Os + utilizados são: ECO c/ dobutamina (↑ consumo O2 miocárdico)= ECOEstresse; ou a cintilo c/ dipiridamol (provoca roubo coronariano). Cinecoronariografia: realizada apenas em: casos duvidosos, pac c/ angina refratária ou c/ critérios de alto risco. Avalia extensão da dça e indicar possível revascularização. Tratamento: 1. Mudança no estilo de vida: visando ↓ progressão da aterosclerose. Inclui: controlar fatores de risco e realização de exercício físico regular (↑ HDL e reserva coronariana). 2. Medicamentoso: Drogas antianginosas: Nitrato sublingual: Coronariodilatador + eficaz, venodilatador. Droga de 1° linha p/ angina estável. Nos casos + esporádicos= uso profilático p/ prevenir angina ao exercício. Usar 15-30 min antes do esforço (Nitroglicerina sublingual, 0,3 a 0,6 mg). Se dor persistir= procurar UBS. Nos casos + freqüentes= nitrato regular (di 10 mg 3x/dia ou mononitrato de isossorbina 20mg 12/12h, SEMPRE c/ intervalo de 12 horas s/ uso da droga p/ evitar resistência acelerada-taquifilaxia). B- bloqueador: reduz consumo de O2 (↓ FC, PA e contratilidade cardíaca). Usar em todos os pac q tiveram angina instável ou infarto. Contra-indicações: bradicardia importante, PAS< 90mmHg, BAV 2° e 3° grau, DPOC, disfunção sistólica importante de VE. Drogas: Propranolol, metropolol e atenolol. Reduz morbimortalidade. Antagonista do Ca: agem dilatando as coronárias, ↓ consumo O2 (idem b-bloq). Drogas: diltiazem, verapamil, amlodipina e nifedipina retard. Indicado p/ pac c/ dor persistente mesmo em uso de nitrato e B-bloq, intolerantes a estas drogas, hipertensos e c/ angina variante de Prinzmetal. Antiplaquetários: Reduz morbi-mortalidade. AAS: 100-200mg/dia. Uso em todos os pac coronariopatas. (↓ em 40% a chance de SIMI) Ticlopidina (ticlid) e clopidogrel (plavix): p/ pac q ñ toleram AAS. Estatinas: ↓ LDL- colesterol. São drogas q estabilizam endotélio, prevenindo eventos coronarianos agudos. Alvo do tto: LDL ↓ que 100 mg/dL. 3. Revascularização Miocárdica: objetivos: controlar angina refratária e ↑ sobrevida na DIM grave. Sempre realizar cinecoronariografia nestes casos. Angioplastia: alivia angina em 85-90% dos casos. Indicado em: dça uni ou bivasc c/ função ventricular normal ou leve/e deprimida; anatomia das lesões favoráveis. Risco de reestenose por hiperplasia da íntima (20% c/ stent e 30% s/). Existe 2-5% de oclusão coronariana aguda pós-procedimento (por trombose ou dissecção da coronária recém-aberta) Cirúrgico: deve ser feita qdo há lesão: de tronco da CE > 50%, trivasc+ FE de VE <40%, bi ou trivasc em diabéticos, trivasc c/ anatomia complexa, bivasc c/ acometi/o extenso da DA proximal. Obs: cerca de 50% das safenas ocluem em 8-10 anos e < 10% das mamárias ocluem neste período. Prognóstico: Risco de óbito em 1 ano ~1%. Todo pac c/ angina estável deve ser estratificado qto ao risco de óbito. Pior prognóstico: dor aos pqs esforços, IAM prévia e testes provocativos mostrando critérios de alto risco. SÍNDROME CORONARIANA AGUDA É decorrente de instabilização da placa de ateroma por progresso inflamatório-degenerativo que causa erosão (25% dos casos) ou ruptura (75%) da placa. Com a superfície exposta há ativação do sist da coagulação formando- se um trombo que pode ser: suboclusivo (angina instável ou IAM s/ supra) ou oclusivo (IAM c/ supra de ST). Outro motivo p/ desencadear uma SIMI é o ↑ súbito do consumo de O2 (crise hipert, anemia, tireotoxicose, taqui ou bradiarritmias...) -ANGINA INSTÁVEL: Patogênese: o mecanismo da instabilidade da placa alterna do espasmo coronariano à formação de trombo. Clínica: Dor de mesma localização, irradiação e forma q a da Ang Estável, mas + intensa e + duradoura (em geral <20 min). Tipos clínicos: 1. Instável de Repouso: dor em repouso nas últimas 48h. Se >20 min indica ser de alto risco 2. Pós-IAM: é o quadro doloroso entre o período de 48h até 2 sem do IAM. Prognóstico ruim. 3. Pós-Angioplastia: quadro anginoso nas 1°s 2 sem da angioplastia. 4. ‘em Crescendo’: pac q tem ang estável e q vem piorando (pode ser por: ↑ da intensidade da dor, ↓ do limiar anginoso, ↑ da duração, ↑ da irradiação e apareci/o de equivalentes anginosos. 5. de Início Recente: angina aos pqs esforços há menos de 2 meses. Esses pacientes tem maior risco de evoluir p/ IAM do q a ang estável. Exames complementares: ECG: Em repouso: pode estar normal ou c/ alter isquêmicas da onda T (apiculada e/ou invertida, c/ segmento ST retificado). De esforço: o paciente pode apresentar: isquemia em baixas cargas (<5-6 METS), ↑ ou ↓ de ST, hipotensão, angina prolongada, alter de ST persistentes mesmo após 5 min de repouso. Cintilografia: pode haver: envolvimento de até múltiplas áreas de VE, sinais de congestão pulmonar, dilatação de VE. Cateterismo: indicado para elucidar alterações encontradas nos exames anteriores. È útil p/ selecionar tto (clínico/ angioplastia/ cirúrgico) Complicações: IAM, dores precordiais recorrentes, edema pulmonar, insuf mitral, choque cardiogênico, arritmias ventriculares malignas, bloqueio AV avançado. -IAM: Sem supra de ST: é quando há necrose de células miocárdicas (portanto há elevação de enzimas), mas não há supradesnivela/o de ST no ECG. O ECG freqüentemente tem infradesniv de ST. Com supra de ST: há ↑ de enzimas + supadesnivelamento de ST. Clínica: Dor de mesma localização, irradiação e forma q a da Ang Estável, mas + intensa e + duradoura (neste caso dura + q 20 min). Não melhora c/ repouso ou nitrato SL. Pode vir acompanhado, como a Ang Instável de: dispnéia, astenia, náusea, vômitos, pré-síncope, sensação de morte iminente... Ocorre preferencialmente nas 1°s horas da manhã (devido ↑ de catecolaminas q > agragação plaquetária), ñ está relacionado a esforço. O desempenho do VE fica prejudicado podendo levar a: perfusão inadequada de órgãos (palidez, capacidade mental prejudicada, hipotensão sudorese, taquicardia, insuf pré-renal), edema pulmonar... Ao exame físico: Cardíaco: aparecimento de B3, B4, sopros, extrassístoles, arritmias... Respiratório: pode haver estertoração. Extremidades: cianose, edema, palidez. ECG no IAM CSST: Fase Hiperaguda (1°s horas): supra de ST + onda T positiva Fase subaguda (1°s horas- 4 sem): onda T vai ficando -, aparece onda Q Fase crônoca (após 2 a 6 sem):permanece onda Q. Alt de T tb podem permanecer Localização do IAM: -IAM anterior: V1 e V2; V1-V3; V1-V4; V1-V5; V1-V6; D1 e aVL + uma das anteriores -IAM anter extenso: V!-V¨+ D1 e aVL -IAM lateral: D1 e aVL -IAM inferior: D2, D3 e aVF -IAM posterior: ‘imagem em espelho’ em V1 e V2 ou V1-V3. -IAM de VD: V3R e V4R Curva enzimática: INÍCIO PICO DURAÇÃO Mioglobina 1 h 2-4 h < 24 h CPK e CPK4-6 h 24 h 36- 48 h MB 4-6 h 24h 7-10 dias Troponinas LDH 24- 48 h 7 dias 10-14 dias Valores normais: CPK-MB: até 5-7 ng/ml (massa) e até 15-20 U/L (atividade) Troponina I: até 0,1 ng/ ml Infarto de VD: complicação do IAM inferior. Pode levar à disfunção de VD, tendo-se baixo débito e conseqüentemente hipotensão ou choque. Contraindicados: drogas q ↓ pré- carga (diuréticos e nitratos). Fazer reposição volêmica vigorosa. -Objetivos da estratégia de atendimento: 1. Distinguir pacientes com SIMI daqueles com outras condições (ver tabela 1) 2. Avaliar o risco potencial de desfechos adversos (ver tabela 2) 3. Iniciar, rapidamente, o tratamento em pacientes com risco elevado (ver abaixo). -TRATAMENTO: Medidas Gerais: até 10 min da chegada do pac. Fazer em toda SIMI 1. Repouso no leito 2. Monitorização cardíaca contínua 3. Acesso venoso 4. O2 nasal: 2 a 4l/min a 100%, por meio de catéter intra-nasal 5. Oximetria de pulso ou gasometria arterial 6. Solicitar ECG na admissão e em até 6h (pelo menos uma vez em casos não diagnósticos), 7. Solicitar marcadores bioquímicos de lesão miocárdica na admissão, e repetir após 6-9h (preferencialmente 912h após o início dos sintomas). 8. Analgesia: morfina 2 mg EV. Em pac ansiosos dar benzodiazepínicos (diazepam VO) Medidas Farmacológicas: 1.Terapia anti- plaquetária: - AAS: 200- 325 mg (mastigar e engolir). Dar imediatamente e manter terapia c/ 100 mg/ dia. Redução de 25% na mortalidade na fase aguda do IAM. Fazer em toda SIMI - Ticlopidina (ticlid) e clopidogrel (plavix): dar em IAMCSST e em pac classificados em médio e alto risco. - Heparina: Obs: no pac q usou estreptoquinase só é preciso fazer heparinização ‘profilática’ (7500U SC 12/12h). Já no q usou rtPA fazer a plena por 48h. Fazer em toda SIMI 2. Terapia de Reperfusão Coronariana: - Angioplastia 1°: fazer até 1,5h da chegada do pac no hospital. É o melhor método. - Trombolíticos IV: Temos estreptoquinase, rtPA e tenecteplase. Fazer em casos de IAMCSST, de preferência até 30 min da chegada do pac. Efeito adverso: sgto e da estreptoquinase tb é a hipotensão arterial. Contra-ind: sgto ativo. 3. B-bloqueador: reduz consumo de O2. Deve ser administrado o quanto antes IV. Propranolol 1 mg ou metoprolol 5 mg. Prescrever a todos pacientes em que não haja contra-indicação aparente: PR> 0,24seg; BAV de 2o ou 3o grau; FC< 60bpm; DPOC ou asma; PAS< 90mmHg; disfunção ventricular esquerda com sinais de ICC; insuficiência arterial periférica. Fazer em toda SIMI 4. Nitratos: Dinitrato de Isosorbida: Isordil® 5mg SL até 03 cp SL com intervalo de 5 minutos entre eles, até alívio completo da dor. Os pac que não obtiveram alívio completo da dor com a terapia SL devem receber nitrato por via EV. Fazer em toda SIMI 5. IECA: Reduz ou previne o remodela/o. Fazer em casos de IAMCSST. Classificação de Killip: analiza o grau de disfunção de VE I: s/ dispnéia, B3 ou estertores pulmonares. II: dispnéia e estertoração pulm nob 1/3 inf ou B3 III: Edema Agudo de Pulmão IV: Choque cardiogênico (PA sist < 80 mmHg s/ resposta a volume) OBS: Pac q evoluíram p/ Killip III ou IV, tiveram angina pós-IAM, arritmias ventric malignas ou FE de VE no Eco <40% = coronariografia + revascularização. O restante é estratificado pelo Teste Ergométrico realizado 5-7 dias do IAM. INSUFICIÊNCIA CARDÍACA CONGESTIVA Prof. Dr. André Schmidt A) Resumo de casos clínicos ilustrativos Caso 1 – Paciente com 54 anos, sexo masculino, refere edema de membros inferiores, frio, mole, indolor que iniciou-se há cerca de 2 anos, inicialmente vespertino, com pequena intensidade e que regredia na manhã seguinte. Progressivamente acentuou-se, alcançando o terço médio das pernas e sem regressão total matinal. Refere episódios de Dispnéia Paroxística Noturna e ortopnéia no último mês. Não faz uso de qualquer medicação. Refere ser originário da zona rural de Cássia dos Coqueiros, tendo habitado em casa de pau a pique, mas não se lembra de contato com triatomíneo. Refere etilismo social e nega tabagismo. Sem outros antecedentes relevantes. Ao exame apresenta REG, eupnéico, afebril. PA: 134/72 mmHg. PR= 104 bpm. Pescoço com turgência jugular a 45° ao nível do Ângulo da mandíbula, com onda "v" proeminente. Ictus no 5° EIC esquerdo 2cm a direita da linha axilar anterior, com 3 polpas digitais. Pulsação epigástrica visível. RCR em 3 tempos (B3), com SS +++/6+ em foco tricúspide; RiveroCarvalho positivo. Pulmões limpos. Abdome normotenso, com fígado 6 cm abaixo do RCD, levemente doloroso a palpação. Borda hepática romba. Traube livre. MMII com edema de +++/4, frio, mole, indolor, depressível, até o terço médio de pernas. Pulsos periféricos sem anormalidades. Caso 2 – Paciente do sexo feminino 74 anos, foi admitida em sala de urgência com quadro súbito de dispnéia, após forte emoção. Segundo familiar que a acompanha, ela apresentou IAM há 5 meses e é hipertensa de longa data. Nega precordialgia no momento. Faz uso de AAS 200mg/dia, Captopril 75mg/dia, nitrato SL se necessário. Nega outros antecedentes relevantes. Ao exame a paciente encontra-se em MEG, não conseguindo falar, taquipnéica (FR=38 irm), cianótica. PA: 210/130 mmHg. Sem turgência jugular a 90° ( paciente não deita). Ictus no 5° EIC esquerdo, na LHC com 2 polpas de extensão. Pulmões evidenciam estertores crepitantes no 2/3 inferiores de ambos hemitóraces. Abdome e MMII sem anormalidades. Caso 3 – Paciente com 25 anos do sexo masculino, futebolista, refere que teve episódio gripal há cerca de um mês e notou após melhorar quadro dispnéia progressiva aos esforços, de início recente (3 semanas), que progrediu rapidamente de grandes esforços para dispnéia em repouso. Refere ainda que passou a apresentar edema de MMII frio, mole, depressível que progrediu concomitante com a dispnéia. Hoje está com acentuada dor em hipocôndrio direito e náuseas. Refere que seu preparador físico falou que aumentou muito de peso (aproximadamente 6 quilos) neste período. Exame físico revela sinais de insuficiência cardíaca direita e esquerda. PA: 100/60 mmHg; PR=130 bpm; FR= 26 irm. B) Questões 1. Conceituar insuficiência cardíaca do ponto de vista funcional. Caracterização hemodinâmica, relação com o esforço físico, gradação da NYHA. Causas fundamentais, fatores precipitantes. 2. Significado funcional das vários conceitos clínicos de insuficiência cardíaca: a. aguda e crônica. b. direita e esquerda. c. anterógrada e retrógrada. d. sistólica e diastólica. e. com débito cardíaco baixo ou alto. 3. Caracterizar os diversos mecanismos compensatórios ocasionados pela sobrecarga inerente à insuficiência cardíaca e correlacioná-los com os sinais e sintomas que eles desencadeiam. a. hipertrofia. b. dilatação c. a relação volume sistólico e dimensão diastólica (curva de FrankStarling). d. sistema nervoso simpático (ação central e periférica) e. relação volume sistólico versus pós-carga. f. fatores humorais. O sistema renina-angiotensina- aldosterona, o fator natriurético atrial, a vasopressina. g. o significado de fração de ejeção e sua relevância clínica 4. O aluno será capaz de reconhecer e conceituar os diversos sinais e sintomas associados ao quadro clínico de insuficiência cardíaca, assim como de estabelecer a base fisiológica dos mesmos, destacando-se entre eles: a)- dispnéia, ortopnéia, dispnéia paroxística noturna. b)- hemoptise c)- respiração de Cheyne-Stokes. d)- cianose. e) estase jugular, hepatomegalia, edema subcutâneo, hidrotórax, anasarca, ascite. f)- oligúria. g)- taquicardia, ritmo de galope, pulso alternante. 5. O aluno deverá ser capaz de caracterizar clinicamente o quadro de edema pulmonar agudo, e os princípios terapêuticos essenciais aplicáveis. 6. O aluno deverá familiarizar-se com os resultados da avaliação ecocardiográfica na insuficiência cardíaca. 7. O aluno deverá ser capaz de identificar os sinais radiológicos evidenciáveis habitualmente em vigência de insuficiência cardíaca. 8. O aluno deverá ser capaz de descrever os mecanismos de ação dos agentes terapêuticos que atuam sobre a contratilidade (inotrópicos positivos), pré-carga (diuréticos e vasodilatadores venosos), pós-carga (vasodilatadores arteriolares) e freqüência cardíaca. Deverá, ainda ser capaz de estabelecer a indicação de cada um deles no tratamento da insuficiência cardíaca, e familiarizar-se com as doses dos agentes farmacológicos mais freqüentemente utilizados. Os inibidores do sistema renina-angiotensina-aldosterona e seu uso nas diversas fases da insuficiêncxia cardíaca. Finalmente, deverá conhecer os aspectos mais relevantes do tratamento básico por transplante cardíaco. 9. Deverá familiarizar-se com os aspectos essenciais da epidemiologia da insuficiência cardíaca, e sua história natural e fatores prognósticos. 10. Reconhecer a distinção entre os efeitos benéficos do tratamento quanto à qualidade de vida (alterações hemodinâmicas, alívio sintomático, aumento da capacidade de esforço) e aqueles atuantes na sobrevida dos pacientes e o significado do tratamento precoce (quando há apenas disfunção ventricular, sem sintomas). INSUFICIÊNCIA CARDÍACA Definição: incapacidade do coração de executar a sua função primordial-bombear o sangue de modo a gerar e manter o fluxo sanguíneo circulante adequado para a perfusão orgânica e tecidual.Prevalência de 2% atualmente e a incidência vem aumentando. ICC: represamento de sangue no leito veno-capilar pulmonar (na IC esquerda) ou sistêmico(na IC direita). O aumento da pressão veno-capilar leva ao extravasamento de líquido para o interstício, determinando um acúmulo de líquido (edema). Tipos de IC: 1. *IC esquerda: cursa com congestão pulmonar. Ex: sobrecarga de VE (insuf. mitral, cardiopatia hipertensiva),IAM. 2. IC direita: cursa com congestão sistêmica. Ex: corpumonale, infarto de VD. 3. IC biventricular: geralmente começa com IVE e evolui para IVD. 4. *IC sistólica: geralmente provoca dilatação ventricular e redução da fração de ejeção (FE< 55%). EX: IAM, cardiomiopatia dilatada. 5. IC diastólica: Restrição de enchimento com aumento da pressão veno-capilar. Ex: cardiomiopatias hipertensiva e restritiva, pericardite constritiva, estenose mitral e tricúspide. 6. *IC baixo débito: hipoperfusão tecidual. Ex: todos citados até agora. 7. IC alto débito: ocorre em condições que exigem maior trabalho cardíaco, seja por aumento da demanda metabólica, seja por desvio do sangue do leito arterial para o venoso através de fístulas.Ex: anemia severa, sepse, cirrose hepática. * mais comuns. Mecanismos Compensatórios: 1. Lei Frank-Starling: maior distenção das fibras cardíacas, maior força de contração.Porém, se distender muito, há dificuldade para o ventrículo contrair. 2. Aumento da contratilidade dos miócitos remanescentes: Através da ação do SN simpático. 3. Hipertrofia ventricular esquerda: Sobrecarga de pressão - hipertrofia concêntrica, sem aumentar a cavidade. Sobrecarga de volume – hipertrofia excêntrica com aumento da cavidade. Ação da angiotensina II. 4. Aumento da freqüência cardíaca: manter débito cardíaco estável. Ação do sistema adrenérgico. Remodelamento ventricular: a progressão da doença miocárdica leva ao seguinte paradoxo: os mesmos mediadores neuro humorais que inicialmente mantêm o paciente compensado (sistema renina -angiotensinaaldosterona, sist. Adrenérgico) passam a exercer um efeito deletério na função miocárdica. A Ação dos 3 mediadores mais algumas citocinas contribuem para a piora progressiva da função ventricular. A alteração na forma e função do miócito, a degeneração celular a fibrose agem em conjunto para produzir o remodelamento ventricular.A parede ventricular torna-se alongada, sua espessura vai reduzindo-se e a forma elipsóide da cavidade vai tornado-se esférica. 1. Angiotensina II: apoptose do miócito, proliferação de fibroblasto, liberação local de noradrenalina e aldosterona. 2. Aldosterona: proliferação de fibroblasto. 3. Noradrenalina: injúria ao miócito, tornando-o uma célula alongada e hipofuncionante. Manifestações Clínicas: Sintomas 1. Síndrome de baixo débito: Aparece inicialmente aos esforços e confunde-se com uma síndrome geral: fadiga muscular, indisposição, mialgia, cansaço, lipotímia. A maioria desses sintomas é devida à inadequada perfusão muscular esquelética durante o esforço físico. 2. Síndrome congestiva pulmonar: dispnéia aos esforços. A ortopnéia pode ocorrer em alguns pacientes e o mecanismo é a piora da mecânica ventilatória diafragmática, associada à redistribuição de líquido pulmonar pelo decúbito. 3. Edema agudo de pulmão: extremo da congestão pulmonar. Caracterizado por: intensa taquidispnéia e ortopnéia, associada a insuf. Respiratória, às vezes com cianose central por uma grave hipoxemia. Exame físico revela estertoração pulmonar, principalmente em metade inferior do hemitórax. 4. Síndrome congestiva sistêmica: problema em VD. Qdo é secundária a falência de VE, pode haver melhora da congestão pulmonar pq chega menos sg ao pulmão. Sintomas: Edema de MMII,bolsa escrotal,ascite, dispnéia por derrame pleural,dor abdominal devido a hepatomegalia congestiva.A congestão da mucosa intestinal pode levar a diarréia. A IVD reduz ainda mais o débito cardíaco, explicando o fato comum de haver piora dos sintomas de baixo débito na insuf. Cardíaca biventricular. 5. Emagrecimento e caquexia cardíaca: diminuição da absorção intestinal (edema mucosa), diminuição de massa muscular (menor demanda metabólica). 6. Choque cardiogênico: estado mais grave da IC.Pode ser agudo (IAM) ou fenômeno terminal de fase crônica.Caracterizado por hipoperfusão, hipotensão e não responde a reposição volêmica. Manifestações clínicas: Sinais 1. Pulso arterial: no início do quadro é normal.Em fases avançadas, o pulso alternans é sinal de mau prognóstico. 2. Turgência jugular 3. Precórdio: na cardiopatia dilatada (95%) o ictus costuma estar desviado (para esquerda e para baixo), difuso (muitas polpas digitais) e fraco. 4. Auscuta cardíaca: B1 hipofonética (hipocontratilidade de VE), B2 hiperfonética (Hipertensão arterial pulmonar). Presença de B3 (sobrecarga de volume) e B4 (sobrecarga de pressão na cardiopatia hipertensiva). 5. Auscuta respiratória: estertoração pulmonar nos terços inferiores, predominando a direita. 6. Anasarca 7. Hepatopatia congestiva 8. Respiração de Cheynes-Stokes: não se sabe causa. Postula-se que seja a lentificação da circulação pulmão –centro respiratório. Etiologia 1. Causas mais comuns de IC crônica: HAS, dç coronariana aterosclerótica, cardiopatia dilatada idiopática, cardiomiopatia alcoólica, dç chagas. 2. Causas mais comuns de IC aguda: IAM, miocardites agudas (viral, reumática), endocardite infecciosa. Diagnóstico: 1. Critérios clínicos de Framingham (2 maiores ou 1 maior + 2 menores) 2. Rx tórax: é um critério maior.Pode ser encontrado: cardiomegalia, inversão do padrão vascular, linhas B de Kerley, infiltrados intersticiais bi ou unilaterais, derrame pleural. RX normal não afasta cardiopatia. 3. ECG: alterações inespecíficas. 4. Eco-Doppler: padrão ouro para diagnóstico e prognóstico. Critérios para disfunção sistólica: FE<55%, diâmetro sistólico do VE>3,7 cm ou diâmetro diastólico do VE>5,7 cm. Prognóstico: Principais determinantes da IC: 1. Classificação funcional NYHA. Classe I: sem limitação (6 METS na ergometria).Classe II: limitação leve, sintomas aos médios esforços (4-6 METS).Classe III: Limitação moderada, sintomas aos médios esforços (2-4METS). Classe IV: limitação grave, sintomas no repouso ou nos mínimos esforços, não tolera ergometria. *3 METS deambular ou guiar carro, 5 METS:passeio de bicicleta, 7 METS: ato sexual. 2. Fração de ejeção 3. Níveis dos mediadores neuro-humorais 4. Instabilidade do ritmo cardíaco (arritmias) Tratamento: melhorar a qualidade de vida, aumentar a sobrevida, evitar a progressão da dça. 1. Medidas gerais: dieta (controle da ingesta de sal), repouso para paciente muito sintomático. 2. Controle dos fatores de descompensação: gestação, estresse, não aderência ao tto (fator mais comum!), infecções, drogas... 3. Tto farmacológico: A. Inibidores da ECA: Diminuem mortalidade, reduzem progressão da cardiopatia e da disfunção ventricular, além de melhorar qualidade de vida, diminuindo a sintomatologia. Agem causando vasodilatação e diminuem o efeito da angiotensina. Efeitos adversos: tosse seca (5%), hipotensão, retenção de potássio. B. Inibidores da ARA-II: Tem os mesmos ações e efeitos dos IECA, mas não tantos efeitos adversos como a tosse.Indicada para pacientes que não toleram IECA. A união dessas duas drogas não aumenta a sobrevida, somente se somam os efeitos colaterais. C. Antagonistas de aldosterona (espironolactona) previne os efeitos deletérios da aldosterona sobre o coração (remodelamento-degeneração de fibras, apoptose e fibrose). Também previne hipocalemia. Melhora sobrevida. Não é usado pelos efeitos diuréticos. Cuidado com a associação com IECA que tb retem K. D. β-bloqueadores: principal mecanismo de ação é o bloqueio da ação tóxica da noradrenalina sobre os miócitos cardíacos e a redução da liberação de noradrenalina nas sinapses cardíacas.Agem diminuindo a contratilidade e a freqüência cardíacas, além de diminuir a ação da noradrenalina. No início, com doses pequenas e gradativas, o paciente pode até piorar, mas depois há melhora dos sintomas, aumento da capacidade de exercícios e da sobrevida.Efeitos colaterais: bradicardia, hipotensão e broncoespasmo. *A partir de agora, as drogas não aumentam a sobrevida, apenas aliviam os sintomas. E. Digitálicos: facilita a entrada de Ca na célula, aumentando o débito cardíaco. Diminuem o número de hospitalizações. A dose depende da musculatura. Intoxicação digitálica: manifestações gastritestinais (anorexia, náuseas e vômitos), neurológicas (cefaléia, convulsões, alt. visuais), ARRITMIAS! F. Diuréticos de alça e tiazídicos: Principal função é combater os sinais e sintomas da congestão e edema. Podem não ter efeito no débito cardíaco ou ainda piorá-lo, se em altas doses. É importante o controle do potássio (tiazídicos: poupam K; de alça: espolia K). Como tratar???? 1. Classe funcional I: inibidores da ECA 2. Classe funcional II, III, IV: associação de drogas: IECA,diuréticos, espironolactona, digitálicos, βbloqueadores ( usar mais tarde, qdo pcte não responde às outras drogas. Priorizar drogas que tb melhorem a sobrevida do pcte!) EDEMA AGUDO DE PULMÃO É o estágio mais grave da síndrome congestiva pulmonar, decorrente da insuficiência cardíaca esquerda. A causa mais comum recente é o IAM. O quadro clínico é: taquidispnéia franca e ortopnéia, secreção rósea e fluida das vias aéreas, estertoração creptante e subcreptante ocupando mais de metade dos campos pulmonares, sibilos e roncos difuso, pulsos finos e taquicardia. A PA pode ser baixa normal ou alta. Caso clássico: mulher acima de 60 anos, com hipertrofia ventricular esquerda concêntrica severa. (EAP hipertensivo) Tratamento: EAP hipertensivo - melhor prognóstico: diminuir PA e congestão pulmonar: Oxigênio, veia e monitor. Captopril VO ou SL-25-50mg Furosemida EV-20-80mg Dinitrato SL-5-10mg Morfina EV-2-10mg EAP não hipertensivo: afastar IAM através de ECG. Reduzir pré e pós-carga e suporte inotrópico. Oxigênio, veia e monitor. Furosemida EV-20-80mg Dinitrato SL-5-10mg Morfina EV-2-10mg Dobutamina EV-5-20mcg/Kg/min HIPERTENSÃO ARTERIAL Prof. Dr. Eduardo Barbosa Coelho A) Resumos de casos ilustrativos Caso 1 - Homem de 74 anos de idade apresentando 1 a 2 episódios semanais de cefaléia, ora holocraniana, ora occipital, de intensidade moderada, duração de 4 a 6 horas, há 6 meses. Referiu, em associação ao quadro acima, moscas volantes. Negou demais queixas. Relatou antecedente de tabagismo por 30 anos, cerca de 1 maço/dia, tendo abandonado o hábito de fumar há cerca de 15 anos. Negou etilismo. Referiu uso de dipirona ou aspirina quando apresenta cefaléia, sem uso de outros medicamentos. Na família refere que os pais faleceram de "derrame" cerebral, a mãe aos 62 anos e o pai aos 55 anos. Tem 4 irmãos mais jovens, sendo que 2 apresentam pressão alta e diabetes em uso de insulina. O exame físico geral é normal com peso de 82 Kg e estatura de 1.68 m. O exame do tórax revela aumento do diâmetro ântero-posterior, som claro pulmonar com perda da macicez cardíaca, ictus cordis pouco impulsivo, desviado para a esquerda, 2 polpas, ausculta com 2BRNF com SS++/4 FM, sem irradiação e PA de 178 x 82 mmHg, FC de 74 bpm. Demais aparelhos sem alterações dignas de nota. Caso 2 - Durante uma avaliação clínica anual de rotina, uma executiva de 42 anos apresentou ao exame físico uma medida da pressão arterial correspondente à 187 x 112 mmHg. A paciente encontrava-se assintomática e sem apresentar quaisquer queixas pregressas. Estava um pouco ansiosa, pois uma colega descobriu ser portadora de câncer de mama em um exame semelhante realizado há um mês. O restante do exame clínico foi normal Caso 3 - Paciente de 80 anos foi atendida na UE com quadro de dispnéia intensa, associado à cianose labial e de extremidades, sudorese fria e palidez. Há 2 anos havia sido diagnosticado estenose de válvula aórtica, insuficiência cardíaca e distúrbios da condução ventricular. Nessa ocasião foi instalado marcapasso permanente com freqüência de 60bpm e iniciou-se uso de furosemida (40 mg/d) e digoxina (1/2 cp. dia). O exame físico mostrava paciente em MEG, taquipneica (42 mov./min), com estertores crepitantes acometendo 2/3 inferiores do tórax. O coração apresentava 3BRNF com SS+++/4, rude em FA. O Abdome era normal. A pressão arterial era de 260 x 145 mmHg e a FC de 120 bpm. O ECG encontra-se abaixo Caso 4 - Homem de 70 anos com história de ser portador de HA com diagnóstico há 2 anos. Refere que utilizou vários antihipertensivos, os quais não se lembra, sem controle adequado da pressão arterial. Relata que há 2 meses vem sentindo dor em panturrilha e extrema fraqueza de membros inferiores, necessitando parar a caminhada para obter alívio. No início apresentava os sintomas para caminhadas de 4 a 5 quarteirões e agora tolera no máximo 2 quarteirões sem sintomas. Está em uso de atenolol 100 mg/d, Clonidina 0.15 mg/3xd, Furosemida 40 mg/d e Nifedipina 20 mg /3xx. Fumante de 1 maço/d há mais de 40 anos. Exame físico Tórax com aumento de diâmetro AP e estertores crepitantes bases, coração 2BRNF c/ SS+/4 FM, FC 62 bpm, PA= 195 x 112 mmHg, Abdome plano com SS++/4 hipocôndrio esquerdo, suave. Pulsos pedioso ausente bilateralmente e femoral reduzido à esquerda. ECG padrão de SVE, Rx Tórax com discreto aumento de VE, Eco mostra hipertrofia septal e de ventrículo esquerdo, com sinais de disfunção diastólica FE 57%. Creatinina 1.7 mg/dl, Na 140 Meq/l, K 5.0 Meq/l, Glicemia 123 mg/dl, Colesterol total 263 mg% B) Questões 1. Definir e classificar hipertensão arterial 2. Definir fatores de risco cardiovascular .Comentar a sua importância no prognóstico e delineamento terapêutico para a HA 3. Definir as lesões de órgão-alvo da HA e seus aspectos diagnósticos, epidemiológicos e terapêuticos 4. Elabore um diagrama contendo os principais sistemas fisiológicos de controle da pressão arterial. Baseado nesse esquema discuta sobre os mecanismos fisiopatológicos gerais da HA 5. Comente sobre a medida da PA (consultório, monitorização ambulatorial e domiciliar) e os prováveis fatores de erro em sua aferição. 6. Descreva as medidas higieno-dietéticas utilizadas no controle da HA e comente sobre a sua eficácia terapêutica. 7. Defina droga anti-hipertensiva ideal e elabore um diagrama com as principais classes farmacológicas, efeitos adversos, indicações baseadas em grupos especiais e contra-indicações. 8. Quando suspeitar de hipertensão secundária. 9. Hipertensão em grupos especiais. Como tratar nefropatas e diabéticos hipertensos? 10. Defina urgência e emergência hipertensiva. Como abordá-las do ponto de vista terapêutico ? GASTROENTEROLOGIA DIARRÉIAS AGUDAS E CRÔNICAS Prof. Dr. Roberto Oliveira Dantas A) Resumos de casos ilustrativos Caso 1 – M.S. – Paciente do sexo masculino, 37 anos, brasileiro, pintor, casado, procedente de Ribeirão Preto. Refere diarréia há 9 meses com fezes amolecidas, ocasionalmente líquidas com frequência de 2 a 3 vezes por dia, sem sangue, muco ou pus, com restos alimentares (verduras) e com esteatorréia. Nega tenesmo. Tem dor abdominal difusa antes das evacuações, de moderada intensidade. A dor é em cólica e melhora com as evacuações. Há 8 meses tem episódios de dor em pontada em hipocondrio esquerdo, no início de pequena intensidade e que aumentou com o tempo, sendo de forte intensidade atualmente. Nega febre, náuseas ou vômitos. Emagreceu 10 kg. Refere que há 1 mês tem polidipsia, poliúria e polifagia. Nos antecedentes refere ingestão de aproximadamente 1 litro de aguardente por dia há 20 anos. No exame físico o paciente encontra-se emagrecido, abdomem doloroso à palpação profunda, difusamente, sem dor à descompressão brusca. Fígado e baço não palpáveis. Gordura fecal 14 g/24 horas. Caso 2 – M.R.C. – Paciente do sexo masculino 41 anos, casado, brasileiro, lavrador, procedente de Jaboticabal. Refere que sabe ter doença de Chagas há 11 anos. Desde essa época tem disfagia para alimentos sólidos e líquidos, progressiva. Foi operado de megaesôfago há 4 meses com regressão quase total da disfagia. Desde que foi diagnosticada a doença (11 anos) tem diarréia, evacuando 10 a 12 vezes por dia, fezes líquidas, sem sangue, muco ou pus. A diarréia ocorre de dia e à noite. Nega cólica abdominal ou tenesmo. Refere ter feito exame radiológico do intestino delgado, que revelou dilatação. Não foram observadas alterações no exame físico. No exame endoscópico de esôfago, estômago e duodeno foram observados megaesôfago e megaduodeno. No exame opaco havia dilatação do reto e sigmóide. Gordura fecal: 1,69g/24 horas. Caso 3 – E.A.A. - Paciente de sexo masculino 43 horas, brasileiro, vendedor, procedente de Sertãozinho. Há 12 anos tem diarréia, evacuando uma ou duas vezes por dia, com fezes amareladas, com muco e sangue vivo em pequena quantidade. Tem dor em baixo ventre durante a evacuação. Nega febre ou emagrecimento. O quadro evoluiu de maneira intermitente, com períodos em que a diarréia é mais intensa, associado com problemas emocionais. Nega etilismo. Há épocas em que tem tenesmo. Na palpação do abdomen tem dor à palpação do hipocondrio esquerdo. Hemograma – normal. Velocidade de hemossedimentação – 3 mm/hora. Caso 4 – L.P.P. - Paciente do sexo feminino 21 anos, estudante, procedente de Ribeirão Preto. Refere que há 7 horas tem diarréia, evacuando neste período 4 vezes, no início fezes amolecidas em grande quantidade, depois passando para fezes líquidas de pequena quantidade. Junto com a diarréia iniciou náuseas, vomitando 2 vezes nas últimas 5 horas. Antes do início dos sintomas estava bem, alimentando-se normalmente, o que não consegue fazer depois do início dos sintomas. Piora das náuseas quando tenta ingerir sólidos ou líquidos. Não observou sangue nas fezes. Nega tenesmo, e nega febre. No exame físico tem dor difusa à palpação profunda do abdomen. B) Questões 1. Quais são as questões fundamentais cujas respostas são necessárias ao diagnóstico da causa da diarréia? 2. Onde estão localizadas as principais causas de diarréia? 3. Quais são os exames iniciais indicados no diagnóstico de causa da diarréia. 4. Qual o tratamento indicado para os pacientes com diarréia? 5. Quais são as manifestações dos pacientes com síndrome do intestino irritável, diverticulite e pancreatite crônica. DIARRÉIAS Enquanto os nutrientes (carboidratos, proteínas e lipídeos) uma vez digeridos são absorvidos exclusivamente no intestino delgado, os eletrólitos e fluidos são absorvidos tanto no delgado quanto cólon. O intestino delgado é formado por vilosidades (superfície absortiva) e criptas (onde estão as células secretórias). Possui em média 6 m de comprimento (20 cm de duodeno, 2,5 m de jejuno e 3,5 m de íleo). O intestino grosso mede cerca de 1 m de comprimento, tem poucos microvilos e criptas, não possuindo vilosidades. Sua principal função é absorver fluidos, moldar as fezes e controlar evacuações. Absorção e secreção intestinal de fluidos Diariamente cerca de 10 litros de fluido alcançam o duodeno, sendo 2 litros da dieta e 8 litros do suco digestivo (saliva, suco gástrico, bile, suco pancreático, secreção duodenal). O intestino absorve 8,5 litros, sobrando 1,5 litro para o cólon, que absorve maior parte, sendo eliminado nas fezes apenas 100 ml. Os enterócitos das vilosidades são os responsáveis pela absorção. Líquido é absorvido por gradiente osmótico, acompanhando a absorção de eletrólitos. A força motriz desse processo é a NaK-ATPase. Em pessoas normais a absorção sempre excede a secreção. Diversos fatores interferem sobre absorção e secreção: somatostatina, noradrenalina, encefalina, glicocorticóides, mineralocorticóides, estimulando a absorção. Substâncias que aumentam secreção: serotonina, acetilcolina, substância P; mediadores inflamatórios aumentam secreção intestinal (histamina, prostaglandinas, leucotrineos, citoquinas). O que é Diarréia? Eliminação de fezes amolecidas ou líquidas, com aumento do número de evacuações diárias e aumento da massa fecal diária (> 200mg/dia). Ocorre quando balanço entre absorção e secreção está prejudicado, com queda da absorção ou aumento da secreção. Classificação: 1)Aguda (até 14 dias) 2)Persistente (entre 2 e 4 semanas) 3)Crônica (> 4 semanas ou 3 episódios em 60 dias) a)alta b)baixa Diarréia alta: (intestino delgado) geralmente episódios são mais volumosos; Diarréia baixa: (cólon) evacuações em pouca quantidade, mas muito freqüentes associadas a tenesmo e urgência fecal. I)Diarréia osmótica: quando existe uma substância osmoticamente ativa não absorvível (sorbitol, lactulose, lactose na deficiência de lactase). II)Diarréia secretória não invasiva: Algum fator (ex.toxina) está estimulando secreção do epitélio intestinal III)Esteatorréia: Acompanha má absorção de lipídeos e sempre tem origem no intestino delgado; acontece pelo componente osmótico. Obs: nem toda esteatorréia leva a diarréia IV)Diarréia invasiva ou inflamatória: devido a liberação de citoquinas e mediadores inflamatórios na mucosa intestinal (enterite, entero-colite, colite). Essa diarréia é marcada pela presença de muco, pus ou sangue nas fezes (disenteria); pode ser infecciosa ou não (dça inflamatória). V)Diarréia funcional: por hipermotilidade intestinal (ex. síndrome do intestino irritável, diarréia do diabético – neuropatia autonômica). DIARRÉIA AGUDA Geralmente dura menos de 72 horas. Maioria dos casos é infecciosa, podendo ser acompanhada de náuseas, vômitos, febre, dor abdominal. Outras causas: ingesta de toxinas, medicamentos, má absorção, má alimentação. Fisiopatologia: aderência a mucosa, invasão mucosa ou da lâmina própria produção enterotoxinas, Infecciosa: maioria bactérias adquiridas por via fecal-oral. Principais fatores de risco: < 5 anos, baixa condição sócio-econômica, saneamento básico precário, malnutridos. Agentes etiológicos: Escherichia coli (mais comum enterotoxigênica) * Salmonella não typhi * Shigella sp * Campylobacter jejuni Yersinia enterocolytica Vibrio cholera Vibrio parahemolyticus Staphylococcus aureus (toxina pré-formada) * Rotavírus Outros vírus (ex. adenovírus) Giárdia intestinalis (* mais comuns) E.coli enterotoxigênica: pode se proliferar na água ou alimentos; é a chamada diarréia dos viajantes (indivíduos de países ou regiões ricas que acabaram de viajar para regiões pobres). Não há invasão da mucosa – bactéria se adere aos enterócitos e produz toxinas que estimulam secreção. Intoxicação alimentar pela enterotoxina do S. aureus: alimentos mal conservados, especialmente maionese; surtos predominam no verão. Período de incubação é curto (2 – 8 horas); paciente tem náuseas, vômitos, cólicas abdominais, diarréia aquosa. Começa a haver melhora 12 horas após início do quadro. Salmonella: alimentos contaminados (frango, ovos, derivados do leite); período de incubação de 48 horas. Shigella: causa clássica de diarréia invasiva com disenteria (diarréia sanguinolenta), dor abdominal, febre alta; pode preciptar síndrome hemolítico-urêmica. Comum epidemia em creches e casas de saúde (transmissão interpessoal fácil – 10 bactérias já são suficientes). Giardíase aguda: diarréia aquosa e esteatorréia e fezes malcheirosas, flatulência, distensão e dor abdominal, perda ponderal, náuseas, vômitos, fadiga. Diarréia costuma durar 7 dias. Contaminação interpessoal ou água contaminada. Rotavirose: autolimitada, acomete mais crianças. Não Infecciosa: uso de álcool (principal), medicamentos (AINEs, antibióticos, laxantes, digoxina, antihipertensivos, antiácidos), dieta enteral, colite isquêmica, retocolite ulcerativa, diarréia osmótica, envenenamentos, toxinas de animais ou algas marinhas, etc. DIARRÉIA PERSISTENTE É uma evolução da diarréia aguda, com instabilidade hidroeletrolítica e comprometimento do estado geral, principalmente em lactentes. DIARRÉIA CRÔNICA Possui várias causas (sínd cólon irritável, intolerância a carboidratos, intolerância a proteína alimentar, parasitoses, desnutrição, erro alimentar, doença celíaca, fibrose cística, etc. Osmótica: suspeitar quando sintomas desaparecerem no jejum (após uma noite de sono) e reaparecerem com alimentação. Principais causas: uso de laxativos, deficiência de lactase, ingestão de quantidades expressivas de sorbitol (presente em doces, goma de mascar), uso de lactulose ou manitol oral. Secretória: toxinas que estimulam secreção Síndrome do cólera: produção excessiva de peptídeo intestinal vasoativo (VIP) determinando hipersecreção de água e eletrólitos – VIP age de forma semelhante à toxina colérica; há grandes perdas fecais de potássio e bicarbonato, podendo levar a hipocalemia e alcalose metabólica. Tratamento clínico com octreotide que inibe secreção intestinal, mas deve-se fazer retirada cirúrgica do tumor, mas 60 a 80 % dos casos já apresenta metástase no diagnóstico. Síndrome carcinóide: carcinóide prod de serotonina por um tumor Carcinoma medular da tireóide: devido calcitonina Diarréia Absortiva: má absorção de carboidratos, ácidos graxos (efeito osmótico). Principais causas: insuf pancreática exócrina, colestase, doença celíaca, doença de Whipple, doença de Crohn, espru tropical, ZollingerEllison (gastrinoma), linfoma intestinal, etc. Esses pacientes tem perda ponderal importante, deficiência específica de nutrientes, fezes oleosas, malcheirosas. Esteatorréia confirmada por método quantitativo (> 6 g/dia) ou qualitativo (Sudam III). Invasiva ou Inflamatória: inibem absorção e estimulam secreção; amebíase, yersinia, dça inflamatória intestinal, alergia ao leite de vaca, etc. maioria desses pacientes apresenta exame de fezes positivo para leucócitos fecais e lactoferrina. Hemograma pode mostrar leucócitos e eosinofilia. Diarréia Funcional: (ex. síndr do intestino irritável, diarréia diabético) maioria alterna episódios de diarréia e constipação, freqüente cólicas abdominais ABORDAGEM Vale a pena pedir exames? Vale a pena fazer alguma medicação? A grande maioria das agudas é autolimitada, durando 24-72 h sem desidratação perceptível, mas existem casos graves que requerem maiores cuidados e investigação. Sempre investigar quando tiver um dos itens a seguir: Idade > 70 anos Imunodeprimidos (ex. AIDS) Diarréia aquosa profusa com desidratação Febre > 38,5º Passagem de muco ou sangue nas fezes > 6 evacuações diárias Diarréia que dura > 72h Dor abdominal intensa + idade > 50 anos Diagnóstico laboratorial: 1)exames gerais: hemograma com VHS, parasitológico de fezes. 2)testes de integridade de mucosa: teste da D-xilose, determinação de 1-antitripsina nas fezes. 3)teste de absorção de lipídeos: teste de Sudan, esteatócrito, determinação de gordura fecal (Van der Kamer), teste de lipiodol, teste de tolerância a triglicérides. 4)teste de absorção de HC: medida de pH e subst redutoras nas fezes, teste de tolerância aos açúcares (quando há suspeita de tolerância a um dos açúcares: dáse o açúcar e dosa-se o perfil glicêmico; se absorver bem vai estar elevado), teste do H2 respiratório (se açúcar não é absorvido vai ser consumido por bactérias que produzem gás). 5)biópsia jejunal Tratamento da diarréia aguda Reposição hidro-eletrolítica: 1 litro água potável, 3,5g de NaCl, 20g de glicose ou 40g sacarose, 1,5g de KCl e 3 g de bicarbonato ou citrato de sódio (soros formulados pela OMS). Soluções como Gatorade não substituem soros. Em pacientes mais graves hidratação EV é necessária. Alimentação: dieta líquida. Sopas, vegetais cozidos, cream crackers, banana e iogurte podem ser consumidos. Antidiarreicos: Loperamida (Imosec), 2mg a cada evacuação por 2 dias, Difenoxilato (Lomotil) 4mg 6/6 h podem ser usados quando não há muco, sangue nas fezes ou febre). Floratil pode ser indicado para repopular flora intestinal normal e reduzir período de diarréia em alguns pacientes. Antidiarreicos são contra-indicados na diarréia invasiva! Antibiótico empírico: em casos de febre, fezes com sangue, > 8 evacuações diárias, desidratação, diarréia por mais de 7 dias. Quinolonas são drogas de escolha: Norfloxacina 400mg 12/12h, Ofloxacina 400mg 12/12h, Ciprofloxacina 500mg 12/12h. Duração por 5 dias. Tratamento da diarréia crônica: específico SÍNDROME DO INTESTINO IRRITÁVEL A síndrome do intestino irritável (SII) é distúrbio comum do intestino que leva a dor em cólica, formação excessiva de gases, distensão abdominal e alterações do hábito intestinal. Algumas pessoas com SII têm constipação (evacuações difíceis ou infreqüentes); outras têm diarréia (fezes com menos consistência, muitas vezes com necessidade urgente de evacuar); e algumas pessoas experimentam ambas. Algumas vezes, a pessoa com SII tem urgência com cólica, mas não consegue evacuar. Através dos anos, a SII tem sido chamada por muitos nomes – colite, colite mucosa, cólon espástico, intestino espástico e doença intestinal funcional. A maioria destes termos é imprecisa. Colite, por exemplo, significa inflamação do intestino grosso (cólon). A SII, contudo, não causa inflamação e não deve ser confundida com colite ulcerativa, que é um distúrbio mais grave. Não se conhece a causa da SII e ainda não há cura. Os médicos chamam-na distúrbio funcional porque não há sinal de doença quando o cólon é examinado. A SII causa muito desconforto e sofrimento, mas não causa prejuízo permanente aos intestinos e não leva a sangramento intestinal do intestino a uma doença grave, como câncer. Muitas vezes, a SII é apenas um incômodo leve, mas, para algumas pessoas, pode ser incapacitante. Podem ficar com medo de ir a eventos sociais, de sair para trabalhar ou de viajar até curtas distâncias. A maioria das pessoas com SII, contudo, é capaz de controlar seus sintomas através de dieta, conduta para o estresse e algumas vezes com medicamentos prescritos por seus médicos. DOENÇA DE CHRON Processo de inflamação crônica capaz de afetar qualquer segmento do canal alimentar, desde a boca até o ânus, que evolui por surtos de exacerbação e remissão imprevisíveis e com resposta à terapia medicamentosa ou cirúrgica igualmente inesperada. As lesões não respeitam a mucosa e podem produzir úlceras, estenoses e fístulas. Etiologia indefinida. Incidência maior em pacientes entre a terceira e a sexta décadas, sendo bem menor em pacientes com menos de 20 anos. Incidência um pouco maior em mulheres. 10 a 20% dos pacientes podem apresentar longo período de remissão após a apresentação inicial. Fisiopatologia: Doença transmural, envolvendo o mesentério e os linfonodos regionais. A alteração da mucosa é mais precocemente reconhecível por endoscopia onde se vê a úlcera aftóide. A mucosa pode apresentar aspecto de paralelepípedo. A inflamação da mucosa com fibrose, a obstrução linfática e o edema, quando localizados no delgado, podem levar à má absorção por redução de área absortiva (má absorção epitelial) ou por dificuldade no transporte (má absorção pósepitelial). Manifestações clínicas: Uma das manifestações iniciais mais comum é a diarréia não sanguinolenta acompanhada de dor abdominal e emagrecimento. Ileíte aguda com dor em FID, febre, náuseas, vômitos e leucocitose pode ser indistinguível da apendicite aguda. Sangramento digestivo é menos freqüente que na retocolite ulcerativa. Risco de Carcinoma: 4 a 20 vezes maior que o risco da população geral. Colonoscopia com biópsia após 10 anos de doença Tratamento: O tratamento medicamentoso inclui antiinflamatórios e imunossupressores. O tratamento cirúrgico está indicado nas complicações (perfuração, obstrução), ausência de resposta ao tratamento clínico e comprometimento grave de crescimento. HEPATITES AGUDAS E CRÔNICAS Profª Drª Ana de Lourdes Candolo Martinelli A) Resumos de casos clínicos ilustrativos Caso 1 - Paciente de 15 anos de idade, masc, procedente de Sertãozinho. Há 20 dias começou a apresentar náuseas e indisposição, com febre baixa não medida. Há 1 semana notou colúria e há 5 dias icterícia. Nega acolia fecal, dor abdominal, vômitos. Notou diminuição do apetite no início do quadro, atualmente com apetite normal. Nega uso de medicamentos, drogas endovenosas, etilismo, tabagismo, transfusões de sangue. Não iniciou vida sexual. Refere que um primo de 14 anos de idade, com o qual tem contacto, teve hepatite há cerca de 1 mês, com resolução espontânea do quadro. Ao exame apresentava bom estado geral, icterícia de pele e mucosas de 2+/4+; afebril. Fígado percutível a partir do 6o EICD, palpável a 3 cm do RCD, levemente doloroso à palpação, borda romba, consistência parenquimatosa. Sem estigmas de doença hepática crônica. Restante do exame físico normal. Exames laboratoriais revelaram; AST= 800 U/l; ALT=900 U/l; Bilirrubinas totais de 7 mg/dl; bilirrubinas direta de 4,7 mg/dl. Sorologias para hepatites: HAV IgM positivo; HBsAg negativo; anti-HBc negativo; anti-HCV negativo. Caso 2 - Paciente de 45 anos, masculino, natural e procedente de Jaboticabal. Relata que há 3 meses, ao doar sangue, foi notificado que o teste para hepatite C era positivo. Nega qualquer sintoma. Nega: icterícia, colúria e acolia fecal. Nega contacto com portadores de hepatite, transfusões de sangue, promiscuidade sexual e tatuagens. Relata que aos 18 anos de idade usava gluconergan ® endovenoso antes de jogar futebol. A medicação era feita em farmácia com seringas não descartáveis. Relata que vários amigos tinham esse hábito e freqüentavam a mesma farmácia. Soube que alguns desses amigos também tiveram o diagnóstico de hepatite C há alguns meses. Bebe 3-4 cervejas por semana desde os 18 anos de idade. Nega uso de destilados. Ao exame físico apresentava-se em bom estado geral, sem quaisquer anormalidades. Exames laboratoriais revelaram: ALT=80 U/l, AST=44 U/l, GGT= 50 U/l, HBsAg negativo; anti-HBc negativo, anti-HBs negativo; anti-HAV IGM negativo, anti-HAV IgG positivo; anti-HCV positivo. Pesquisa do HCV RNA no soro positiva. Biopsia hepática: espaços porta com infiltrado inflamatório crônico moderado, necrose em saca-bocado moderada e leve fibrose. Caso 3 - Paciente de 49 anos de idade, feminina, casada, natural e procedente de Morro Agudo. Relata que há 3 meses ao fazer exames de rotina foi verificado ser portadora de infecção pelo vírus da hepatite B. Nega qualquer quadro de hepatite, icterícia, colúria e acolia fecal. Nega; transfusões de sangue, promiscuidade sexual, uso de drogas endovenosas e tatuagem. Nega relacionamento sexual extra-conjugal. Refere que o único parceiro sexual foi o marido. Desconhece que o marido tenha ou teve hepatite B. Relata que sua mãe é falecida e tinha cirrose do fígado, não sabe a causa. Tem 2 filhos saudáveis (24 e 19 anos). Tem 6 irmãos bem de saúde. Nega outros casos de hepatite ou doença hepática na família. Exame físico: Bom estado geral, anictérica, "spiders" no tronco, com palma hepática. Fígado percutível desde o 7o EICD, palpável a 4 cm do RCD, consistência aumentada, indolor. Baço: palpável a 2 cm do RCE, consistência aumentada, indolor. Ausência de ascite e de circulação colateral. Exames laboratoriais: AST=50U/l; ALT=70U/l; GGT=44 U/l; HBsAg positivo, anti-HBc positivo, HBeAg positivo, anti-Hbe negativo. Ultra-sonografia de abdômen revelou hepatoesplenomegalia, fígado com ecotextura finamente heterogênea, veia porta de calibre normal com fluxo hepatopetal, veia esplênica de calibre aumentado não variando com a respiração, sem sinais de ascite. Endoscopia digestiva alta revelou varizes ( 2 cordões) de esôfago de fino calibre. Exames do cônjuge: HBsAg negativo; anti-HBc positivo, anti-HBs positivo. Exames dos 2 filhos: HBsAg positivo, anti-HBc positivo. Exames dos irmãos: 3 com HBsAg e anti-HBc positivos e 3 com HBsAg negativo, anti-HBc e anti-HBs positivos. Pai recusou-se a colher exames. Caso 4 - Paciente do sexo feminino, 25 anos. Há 3 semanas notou icterícia, colúria e hipocolia fecal. Procurou médico que diagnosticou hepatite B. Nega: transfusões de sangue, uso de drogas EV, promiscuidade sexual, tatuagens. Relata que o marido tem tatuagens e já foi usuário de drogas endovenosas. Não sabe se teve hepatite. O marido faz uso de bebidas alcóolicas em grande quantidade há vários anos. A paciente não ingere bebidas alcóolicas. É casada há 6 meses, nunca engravidou. Nega uso de preservativos. Antecedentes familiares: nada digno de nota. Ao exame físico encontrava-se ictérica 1+/4+, sem estigmas de doença hepática crônica, fígado percutível desde o 6o EICD, palpável a 2cm do RCD, borda romba, consistência parenquimatosa. Exames laboratoriais: ALT=300 U/l, AST=240 U/l, GGT=70U/l, Bilirrubinas totais=3,5 mg/dl, bilirrubinas direta=2,0 mg/dl. HBsAg positivo; anti-HBc IGM positivo, anti-HBC IgG positivo, HBeAg positivo, anti-HBe negativo, IGM antiHAV negativo, IgG anti-HBC positivo, anti-HCV negativo, anti-HIV negativo. Exames do cônjuge: HBsAg positivo, anti-HBc positivo, HBeAg positivo, anti-HBe negativo, anti-HIV negativo. Caso 5 - MJL, 48 anos, feminina, do lar. Há 1 mês iniciou quadro de icterícia e dor contínua em hipocôndrio direito de leve intensidade. Notou ainda colúria. Nega acolia fecal, prurido cutâneo e perda de peso. Sabe ser hipertensa há 3 anos em uso de alfametildopa. É diabética em uso de Daonil há vários anos. Nega transfusões de sangue, uso de drogas endovenosas, etilismo, contacto com portadores de hepatite. Nega antecedente de doenças hepáticas. Tabagista há 20 anos (1/2 maço de cigarro/dia). Ao exame encontrava-se ictérica 3+/4+, com hepatomegalia (fígado palpável a 10 cm do RCD, consistência um pouco aumentada, levemente doloroso à palpação, sem nódulos). Ausência de outros estigmas de hepatopatia crônica. Restante do exame físico normal. Exames laboratoriais revelaram: bilirrubinas totais: 3,7 mg/dl, bilirrubina direta: 3,3 mg/dl; AST = 60 U/l; ALT= 50 U/l; ausência de autoanticorpos (anti-músculo liso e anti-mitocôndria). Sorologias para vírus B e C: negativas. Biopsia hepática com infiltrado inflamatório misto com eosinófilos, fibrose moderada. Ausência de cirrose. B) Questões 1. Especifique os períodos de incubação e os possíveis meios de transmissão para as hepatites virais A, B e C. 2. Que exames laboratoriais caracterizam as hepatites agudas A, B e C?. Especifique o significado de cada um dos exames sorológicos para as hepatites A, B e C. Qual o valor da realização da pesquisa do RNA do vírus C no soro para o diagnóstico da hepatite pelo vírus C? 3. Ao se fazer o diagnóstico de hepatite viral (A, B e C) quais contactantes devem ser testados? Quais exames solicitar? 4. Quais as indicações de vacinas para as hepatites? Quais as disponíveis? Quando se deve vacinar os filhos de portadores da infecção pelo vírus da hepatite B? Quais as indicações de imunoglobulinas? Quais as disponíveis, as doses e via de administração? 5. Qual o tratamento para as hepatites agudas virais? 6. O que se espera no exame físico de um paciente com hepatite aguda? 7. Como interpretar os achados: "spiders", palma hepática, circulação colateral, esplenomegalia. 8. Qual o valor da biopsia hepática no manuseio do paciente com hepatite viral? 9. Qual a definição de hepatite crônica? Com que freqüência ocorre evolução das hepatites virais agudas para formas crônicas? Quais hepatites virais evoluem para cronificação? 10. Quais as possíveis causas de hepatite crônica? Cite algumas drogas que podem causar hepatite crônica. Como se faz o diagnóstico de hepatite auto-imune? 11. Existem medicamentos para o tratamento das hepatites crônicas B e C? Qual o tratamento para a hepatite auto-imune? Qual o tratamento para as hepatites causadas por medicamentos? HEPATITES AGUDAS E CRÔNICAS SINAIS E SINTOMAS HEPATITE AGUDA: Raramente tem sintomas. Icterícia, colúria, acolia fecal, adinamia, fraqueza, náuseas, vômitos, hepatomegalia dolorosa à palpação. HEPATITE CRÔNICA: Definida como inflamação e necrose que permanecem por mais de 6 meses. Palma hepática, spiders, encefalopatia hepática, hepatoesplenomegalia, ascite, circulação colateral, perda de peso, ginecomastia, fadiga, icterícia persistente, HDA. o Causas: virais, auto-imune, associada a fármacos e criptogênica. HEPATITES VIRAIS A hepatite viral é uma doença sistêmica, infecciosa, causada por vírus que têm tropismo pelo fígado, como os vírus A, B, C, D e E. HEPATITE PELO VÍRUS A (HAV) É causada por um vírus RNA (família Picornaviridae). Tem período de incubação de 15 a 50 dias (média de 30 dias). Sua transmissão é de pessoa a pessoa ou por fonte comum de infecção pela via fecal-oral. Os vírus eliminados nas fezes de indivíduos infectados podem contaminar alimentos, água ou diretamente outra pessoa. Portanto, as condições sanitárias e higiênicas são importantes na sua disseminação. A transmissão por via parenteral é possível, porém rara, pois o período de viremia é muito curto. 80 a 90% da pop. adquire a infecção, princ. nos primeiros anos de vida. Com a melhora das condições sanitárias diminui o número de crianças infectadas, mas aumenta o número de adolescentes e adultos jovens susceptíveis à infecção, grupos em que a infecção pode ser mais grave. Os vírus podem ser detectados nas fezes 3 semanas antes do aparecimento dos sintomas, portanto qdo o diag. é feito, a transmissão já vem ocorrendo. Os sintomas podem estar ausentes (principalmente em crianças) ou serem inespecíficos, dificultando o diagnóstico. Poucos pctes apresentam icterícia, que é mais comum em adultos. O diagnóstico é feito com base na história clínica, dosagens de aminotransferases (níveis séricos elevados de ALT e de AST) e pesquisa no soro de acs IgM anti-HAV, o qual persiste por vários meses. O diag. de infecção no passado pode ser feito pela pesquisa no soro de IgG anti-HAV, marcador que permanece positivo após a cura da infecção, e sua presença confere imunidade à infecção. Tem evolução benigna, autolimitada, não exigindo tratamentos específicos, apenas cuidados gerais. Raramente cursa com evolução grave, podendo levar a hepatite fulminante, que tem alta taxa de mortalidade. Não evolui para formas crônicas. A vacina contra o HAV está disponível comercialmente, constituída de vírus inativados. A produção de acs protetores contra a hepatite A após a administração da vacina é alta, aprox. a 100%. Está indicada em freqüentadores de creches e instituições para deficientes, após contato com portadores da infecção; em familiares de pacientes com infecção; em indivíduos que viajam para áreas cuja prevalência da infecção é alta e em portadores de hepatite crônica por vírus C ou B susceptíveis à hepatite A. Discute-se o custo x benefício de incluir a vacina para adolescentes e adultos jovens, já que apresentam quadros mais graves. A Imunoglobulina (Ig) deve ser usada qdo a exposição ao vírus ocorreu dentro de 2 semanas e se o indivíduo não teve a infecção no passado. Sua proteção é transitória (até 3 meses), enquanto que a da vacina é duradoura. Pode ser usada concomitantemente com vacina, desde que em locais diferentes. HEPATITE PELO VÍRUS B (HBV) É causada por um vírus DNA (família Hepadnaviridae). Tem período de incubação de 30 a 180 dias (média de 60-90 dias). Sua transmissão é feita por meio de contato com sangue ou secreções contaminadas. Acomete qualquer faixa etária. Grupos de risco: usuários de drogas EV, homossexuais, profissionais da área da saúde, crianças moradoras em áreas endêmicas para hepatite B, parceiros sexuais e familiares de portadores da infecção pelo vírus B. No Brasil há áreas de prevalência alta (>7%), média (2 a 7%) e baixa (<2%). O HBV é carcinogênico, sendo que as áreas de prevalência do CA correspondem àquela da infecção viral. 90 a 95% dos casos em que a infecção ocorreu na fase adulta evoluem para a cura, e 10% para formas crônicas. O oposto ocorre qdo a infecção é vertical, em que 90% evoluem para formas crônicas. As manifestações são pobres na maioria dos casos tanto na fase aguda quanto na crônica. Em fases avançadas pode haver manifestações de hipertensão portal e cirrose. O diagnóstico é feito por meio da dosagem de aminotransferases (ALT e AST) no soro e pela pesquisa dos marcadores sorológicos. Na infecção aguda encontram-se positivos: HBsAg, anti-HBc IgG e IgM (este último é fundamental para o diagnóstico da hepatite aguda), HBeAg e DNA-HBV. Considera-se evolução para formas crônicas qdo há persistência do HBsAg no soro por mais que 6m após a infecção. Na infecção crônica podemos distinguir 2 fases: replicativa e não replicativa. Na fase replicativa são detectados nos soro o HBeAg e o HBV-DNA em altos títulos. Nessa fase é comum a observação de níveis séricos elevados de aminotransferases e na biópsia hepática, hepatite crônica com inflamação e necrose dos hepatócitos em graus variados, com pesquisa positiva dos marcadores virais no tecido hepático, HBsAg e HBcAg. Na fase não replicativa, observa-se no soro, HBeAg negativo, anti-HBeAg positivo e HBV-DNA negativo. O tratamento é feito com interferon-α (imunomodulador e antiviral) ou lamivudina (antiviral) e está indicado nas formas crônicas em fase replicativa qdo há lesão hepática. Dose de IFN-α: 4,5-5 milhões de unidade/dia, VSC, durante 4 meses. A sua resposta é definida pelo aparecimento do antiHBeAg e desaparecimento do HBeAg. A lamivudina pode ser usada qdo não houve resposta ao trat. com IFN ou qdo este é contra-indicado (Tx de órgãos, plaquetopenia e leucopenia). Dose de Lamivudina: 100-150mg/dia, VO, por pelo menos 12m. A sua resposta é controlada pelas dosagens das enzimas hepáticas, marcadores sorológicos (soroconversão para anti-HBeAg positivo) e negativação do HBV-DNA no soro. A vacina é altamente eficaz e está disponível. Contém o antígeno de superfície do HBV purificado obtido por engenharia genética. São feitas 3 doses (0, 1 e 6 meses), VIM. A Ig hiperimune anti-hepatite B pode ser empregada nos casos susceptíveis (não imunes) em que houve a exposição ao vírus. Devem ser aplicadas em locais diferentes qdo juntas. Deve ser feito screening (US do fígado e dosagem de alfafetoproteína) para carcinoma hepatocelular, princ. nos indivíduos cirróticos. HEPATITE PELO VÍRUS C (HCV) É causada por um vírus RNA (família Flaviviridae). Tem período de incubação de 15 a 160 dias (média de 50 dias). Sua transmissão é feita por via parenteral, por meio de sangue e derivados. Grupos de risco: usuários de drogas EV, profissionais da área da saúde, indivíduos que receberam transfusão de sangue ou derivados, hemofílicos. A grande maioria é assintomática. A icterícia ocorre em peq. parte dos casos agudos. Na fase crônica apresenta poucos sint. ou inespecíficos como adinamia e indisposição. Em fases avançadas as manifestações são aquelas da cirrose ou hipertensão portal. Tem alta taxa de evolução para infecção crônica, cerca de 85% dos casos. Desses, cerca de 20% evolui para cirrose após vários anos de infecção, e dos que cursam com cirrose, 1-4%/ano pode desenvolver hepatocarcinoma. O diag. é feito pela dosagem de aminotransferases, pesquisa de acs anti-HCV e do HCV-RNA no soro. Em cerca de 30% dos portadores de infecção crônica os níveis de ALT podem estar flutuantes (ora normais ora elevados), o que justifica a realização de pelo menos 3 dosagens seriadas em um período de 6m. Para pesquisa do anti-VCV utilizam-se os testes de EIA. Existe um período de latência entre a exposição ao vírus e a detecção de acs que é de cerca de 8-10 semanas. Nesse período o diag. pode ser feito pela pesquisa do HCV-RNA no soro (pelo PCR), que pode estar positivo cerca de 1 semana após a exposição. É indicado no diag. de infecção por transmissão vertical, no controle de resposta ao trat. antiviral e no controle de manutenção da resposta ao trat. após sua suspensão. O HCV tem altas taxas de mutação. São reconhecidos pelo menos 6 tipos de genótipos e vários subtipos. O genótipo 1 cursa com cargas virais mais altas e menores respostas ao trat. O trat. da infecção por genótipos não 1 é feito por 6m e pelo genótipo 1 a duração do trat. pode ser determinada pela carga viral (6 ou 12m). O tratamento é feito com IFN-α e Ribavirina, e está indicado nos casos de hepatite moderada a grave avaliada pela biópsia hepática. Dose de IFN-α: 3 milhões de unidades, VSC, 3x/semana. No caso de monoterapia com IFN, faz-se a pesquisa do HCV-RNA no 3º mês de trat, e no caso do emprego das duas drogas em associação, no 6º mês. Indica-se prosseguir o trat. qdo o HCV for negativo. Nos casos em que for positivo, o trat. é suspenso por insucesso. Até o momento não existe vacina contra a infecção pelo HCV. Pacientes cirróticos devem ser submetidos a screening do carcinoma hepatocelular (US do fígado e dosagem de alfafetoproteína), a cada 4-6m, para detecção precoce e tratamento. Em fases avançadas da dça hepática ou na presença de complicações está indicada a realização de transplante de fígado, sendo que a hepatite C hoje é considerada a causa mais comum de dça hepática dentre as indicações de tx de fígado. HEPATITE PELO VÍRUS D (HDV) É causada por um vírus RNA incompleto que exige a presença do HBV para sua replicação e expressão. Pode infectar simultaneamente uma pessoa com o HBV (Co-infecçâo), ou superinfectar uma pessoa já infectada pelo HBV (Infecção secundária). A co-infecção tem a mesma severidade da hepatite B sozinha. Já a superinfeção na hepatite B crônica piora o prognóstico resultando em hepatite fulminante ou rápida evolução para cirrose. Marcadores: anti-HDV IgM e IgG, antígeno do HDV e RNA do HDV. Tratamento: IFN? HEPATITE PELO VÍRUS E (HEV) É causada por um vírus semelhante ao da Hepatite A, e as manifestações clínicas são tb semelhantes. Tem transmissão entérica tb, sendo o vírus detectado nas fezes, na bile e no fígado, sendo excretado nas fezes durante o período de incubação tardio. As respostas imunológicas aos antígenos virais (acs IgM e IgG anti-HEV) ocorrem muito cedo durante o curso de infecção aguda e caem rapidamente. HEPATITE AUTO-IMUNE É dça inflamatória sistêmica etiologia desconhecida. que acomete o fígado, de Caracteriza-se pela presença de auto-acs (FAN e outros) contra componentes do hepatócito (nuclear, citosólico, microssomal), hipergamaglobulinemia e lesão hepática mostrando necrose e inflamação periportal. Acomete princ. mulheres jovens, mas pode ocorrer em qualquer faixa etária. O diag. é feito com base em manifestações clínicas (icterícia, colúria, amenorréia, estrias, indisposição e, em fases avançadas, sinais de hipertensão portal e cirrose), laboratoriais (auto-acs em títulos altos, níveis elevados de enzimas hepáticas e hipergamaglobulinemia) e exame histopatológico (biópsia hepática que mostra infiltrado inflamatório crônico exuberante em espaços portas, necrose de hepatócitos e fibrose em graus variáveis), na ausência de outras causas de dça hepática. O tratamento deve ser feito com drogas imunossupressoras, preferencialmente corticosteróide associado ou não a Azatioprina. A resposta costuma ser boa. HEPATITE POR DROGAS E TÓXICOS Ao avaliar um pcte com dça hepática, a exposição a drogas ou tóxicos deve ser sempre considerada como possível causa. Os mecanismos de lesão podem ser por toxicidade direta ou por resposta idiossincrásica, que pode ser mediada imunologicamente ou conseqüente a diferenças individuais na via metabólica da droga. Fatores que influenciam na susceptibilidade: idade, sexo, ingestão alcoólica, estado nutricinal, etc. Toda droga deve ser considerada como potencialmente hepatotóxica, mas as mais conhecidas, entre outras, são: o Hepatites agudas: alfa-metildopa, isoniazida, fenitoína, sulfonamidas, halotano. o Hepatites crônicas: alfa-metildopa, AINEs, nitrofurantoína, sulfonamidas, oxifenisatina, isoniazida, PTU. Não existe nenhum marcador ou teste laboratorial específico que permita fazer o diag. Este deve ser feito após terem sido afastadas outras causas e com base na relação temporal entre a exposição à droga e o aparecimento da dça hepática. A base do trat. é a suspensão imediata da droga suspeita ou o afastamento do tóxico. Deve ser feito aconselhamento para o pcte não se expor novamente. Trat. deve ser tb sintomático. HEPATITE POR ÁLCOOL Tem 3 formas principais: o Esteatose hepática o Hepatite alcoólica o Cirrose Lembrar que 1 lata de cerveja, 120ml de vinho ou 30ml de bebida com teor alcoólico de 80% contêm aprox. 12g de álcool. O limiar p/ o desenv. da dça hepática alcoólica grave em homens é ingestão > 60 a 80g/dia de álcool por 10 anos, e em mulheres de 20 a 40g/dia. Diagnóstico: história e laboratorial: Anemia, aminotransferases elevadas, fosfatase alcalina e gamaGT elevadas, bilirrubina elevada, albumina sérica baixa. O tratamento é a abstinência alcoólica completa. Dirigir a atenção aos aspectos nutricionais e psicossociais durante a avaliação e o tratamento. Como ocorre liberação de ocitocinas e há perpetuação da lesão por mecanismos imunológicos, avalia-se a utilização dos glicocorticóides no tratamento. CIRROSE Resultado final da lesão hepática, com fibrose e regeneração nodular completa do fígado. É irreversível. São causas de cirrose: o Dças infecciosas: Brucelose, Capilaríase, Hidatidose, Esquistossomose, Toxoplasmose, Hepatites virais (B, C, D, CMV e Epstein-Barr). o Hereditários e Distúrbios metabólicos: deficiência de α1-antitripsina, Sd de Alagille, Atresia biliar, Colestase intra-hepática familiar, Sd de Fanconi, Galactosemia, Dça de Gaucher, Dça de depósito de glicogênio, Hemocromatose, Intolerância hereditária à frutose, Tirosinemia hereditária, Dça de Wilson. o Dças/fármacos e toxinas: Álcool, Amiodarona, Arsenicais, Anticoncepcionais orais, Alcalóides de pirrolizidina, etc o Outras: Obstrução biliar, Fibrose cística, Dça do enxerto versus hospedeiro, Desvio jejunoileal, Esteato-hepatite não-alcoólica, Cirrose biliar primária, Colangite esclerosante primária, Sarcoidose. Sinais e Sintomas: o Insuficiência hepatocelular: Icterícia, ascite, encefalopatia hepática, spiders, eritema palmar, diminuição de pêlos, atrofia testicular, diminuição dos níveis séricos de albumina, alteração da coagulação (alargamento do TP) o Hipertensão portal: Esplenomegalia, circulação colateral abdominal, varizes de esôfago pela endoscopia Os exames laboratoriais revelam insuficiência hepática: o Albumina baixa o Bilirrubinas aumentadas o INR aumentado (por diminuição da produção hepática dos fatores da coagulação) O diagnóstico só é feito por biópsia, que mostra a regeneração nodular. Esta pode ser micro ou macronodular. A cirrose micronodular é típica da cirrose alcoólica. Hematêmese, icterícia persistente e ascite são sinais desfavoráveis. A disfunção hepática é severa qdo albumina <3, bilirrubina >3, ascite, encefalopatia, caquexia e HDA. Desses pctes, 50% sobrevivem em 6m. A classificação de Child fornece o prognóstico. Complicações da cirrose: Hipertensão portal; Sangramento varicoso; Esplenomegalia (hiperesplenismo); Ascite; PBE; Sd Hepatorrenal; Encefalopatia Hepática; Coagulopatia; Carcinoma hepatocelular. Algumas causas de fibrose hepática não cirrótica: Hipertensão portal idiopática, Esquistossomose e Fibrose hepática congênita. Todo pcte cirrótico deve ser submetido a screening de Carcinoma Hepatocelular a cada 6 meses. ENCEFALOPATIA HEPÁTICA (EH) Ocorre em pctes com disfunção hepática grave. A amônia é uma toxina proveniente do intestino e não pode ser metabolizada pelo fígado, causando a EH. Principais desencadeantes: HDA, infecções, uso abusivo de diuréticos, constipação intestinal, ingestão de grande quantidade de proteína, etc. O principal sinal clínico é o flapping. O tratmento consiste na restrição de proteína animal, administração de lactulose (efeito laxtivo e acidifica a luz intestinal) ou sulfato de neomicina (esteriliza a flora gram negativa intestinal) e tratamento dos fatores desencadeantes. CLASSIFICAÇÃO DE CHILD-PUGH PARA CIRROSE MODIFICADA 1 2 3 Ausente Leve Moderada a severa Ascite 0 1-2 3-4 Grau de encefalopatia <2,0 2-3 >3,0 Bilirrubina (mg/dL) >3,5 2,8-3,5 <2,8 Albumina (mg/dL) 1-3 4-6 >6,0 INR Pontos 5-6 7-9 10-15 Classe A B C ENCEFALOPATIA HEPÁPTICA GRAU ALTERAÇÕES NEUROPSIQUIÁTRICAS Sem alteração da consciência, função intelectual ou 0 personalidade Insônia, inversão do ritmo do sono, aumento do sono, 1 euforia, ansiedade irritabilidade Letargia, desorientação, ataxia, alterações cognitivas, 2 comportamento inapropriado Sonolência, confusão mental 3 Coma 4 EXAMES DA HEPATITE B Exames solicitados para o paciente HBsAg Marcadores da Hepatite B Anti-HBeAg HBeAg Enzimas hepáticas (mostram AST lesão de hepatócitos) ALT GGT Enzimas canaliculares FA (Fosfatase Alcalina) Bilirrubinas (Total e Direta) Função hepática Albumina INR Hemograma US de fígado Exames solicitados para os contactantes HBsAg Anti-HBsAg Anti-HBcAg IgG ↓ Interpretação dos resultados HBsAg Tomar vacina Portador Vacinado Curado Tomar 1 dose da vacina neg + neg neg neg AntiHBsAg neg neg + + neg (títulos muito baixos) AntiHBcAg IgG neg + neg + + SUPORTE NUTRICIONAL Dra Vivian Marques Miguel Suen Dra Nádia Juliana Borges A) Resumos de casos ilustrativos Caso 1: J.S.A., 30 anos, solteiro, natural e procedente de Ribeirão Preto, açougueiro HPMA : Paciente portador de obesidade grau III, sem comorbidades prévias. Foi submetido a gastroplastia redutora em outro serviço, e encaminhado ao HC no trigésimo pós operatório. Paciente relatava perda de 40 kgs no período, inapetência, indisposição e nos últimos dias estava restrito ao leito. ISDA : Cabeça: dor de cabeça em pontada Abdome: relatava anorexia, plenitude, distensão abdominal e vômitos pós prandiais. ANTECEDENTES PATOLÓGICOS: Nega patologias ou intervenções cirúrgicas prévias. HÁBITOS E VÍCIOS: nega tabagismo e etilismo. ANTECEDENTES FAMILIARES: pai hipertenso, mãe diabética EXAME FÍSICO: REG, descorado (+/+4), desidratado (+/+4), eupneico, anictérico,acianótico, febril. Pressão arterial : 90/60mmhg, freqüência cardíaca: 100bpm, freqüência respiratória : 20ipm, temperatura axilar : 38. Pulmões: MV+ bilateralmente, com roncos difusos. Coração: BRNF s/ sopro. Abdome: doloroso, flácido, em avental. Presença de dreno localizado em hipocôndrio esquerdo, com saída de secreção amarelada, cerca de 600 ml/ dia. DIAGNÓSTICO CLÍNICO: Gastroplastia à Capella Obesidade Fístula entérica de alto débito DIAGNÓSTICO NUTRICIONAL ????? AVALIAÇÃO NUTRICIONAL Peso habitual = 160 kg l l l • • • • • • • • • • • • • Peso atual = 120 kg Altura = 1,82 Circunferência abdominal: maior que 1,5 metros Albumina =2,5 g/dL, Hb=9,3 g/l, P= 5,7 mg/dL Mg=1,6 mEq/l creatinina : 1,8mg/dl Creatininúria= 1.000 mg/dia Este paciente é desnutrido ou eutrófico? Precisa de terapia nutricional? Se positivo, qual a terapia nutricional a ser utilizada? Via de acesso? Cuidados gerais? Efeitos colaterais e evolução clínica? Oferta calórica inicial: 20-25 kcal/kg (equivalente ao gasto basal) Gasto calórico máximo: o dobro do inicial Oferta protéica: 0,8-1,0 g/kg/dia Via: oral , enteral ou parenteral ? Caso 2: M.A.G., 45 anos, solteiro, natural de Tambaú e procedente de Ribeirão Preto, pedreiro. HPMA : Paciente internado devido dor abdominal há cerca de 1 ano e emagrecimento de 25 Kgs no período. Relatava diarréia desde então associado à anorexia , desconforto abdominal e saciedade precoce.Internado no hospital para investigação diagnóstica, sendo que nesse período perdeu 5 kgs. ISDA : Sistema nervoso: relatava tonturas , parestesias e dores em membros inferiores. Cabeça: diminuição da acuidade visual. Pele e fâneros: relatava que há 3 meses observou a pele mais seca, descamativa e queda de cabelo. ANTECEDENTES PATOLÓGICOS:Nega patologias ou intervenções cirúrgicas prévias. HÁBITOS E VÍCIOS: Informou ser etilista por 20 anos (meio litro de aguardente por dia). ANTECEDENTES FAMILIARES: pai hígido, mãe falecida por complicações de acidente vascular cerebral. DIAGNÓSTICO CLÍNICO: hepatocarcinoma cirrose hepática DIAGNÓSTICO NUTRICIONAL ?????? EXAME FÍSICO: REG, descorado (++/+4), hidratado, eupneico, ictérico(+++/4), acianótico, afebril. PA: 100/60mmhg, freqüência cardíaca:65bpm, freqüência respiratória: 16ipm. Pulmões: MV+ bilateralmente, com estertores crepitantes em ambas as bases. Coração: BRNF s/ sopro. Abdome: plano, flácido, doloroso difusamente, fígado palpável a 8 cm do rebordo costal direito. Baço não palpável, RHA+. AVALIAÇÃO NUTRICIONAL l Peso habitual = 70 kg l l • • • • • • • • • • • • • Peso atual = 40 kg Altura = 1,72 Albumina = 2,0 g/dL, Hb= 8,0 g/l, P= 2,0 mg/dL Mg=1,2 mEq/l Creatininúria = 800 mg/dia Esse paciente tem desnutrição? Esse paciente tem deficiências vitamínicas? Quais? Necessita de terapia nutricional e qual ? Via de acesso? Quais os cuidados na terapia nutricional? Efeitos colaterais e evolução clínica? Oferta calórica inicial: 20-25 kcal/kg (equivalente ao gasto basal) Gasto calórico máximo: o dobro do inicial Oferta protéica: 0,8-1,2 g/kg/dia Via: oral ,enteral ou parenteral? Caso 3: N. B. B., 65 anos, viúvo, natural e procedente de Barrinha, aposentado. HPMA : Paciente vítima de atropelamento há cerca de 20 dias .Levado à Unidade de Emergência foi diagnosticado Traumatismo crânio- encefálico, fratura em antebraço à esquerda além de fratura em fêmur à esquerda.Paciente já era sequelado de AVC com hemiparesia à esquerda.Submetido à cirugia para fixação de fraturas e drenagem de hematoma subdural à direita.Evoluiu bem no pós operatório porém paciente mantinha-se apático, pouco comunicativo e não aceitava as refeições.Durante período intrahospitalar não foi pesado. ISDA : Sistema nervoso: relatava dificuldade de deambulação previamente ao acidente, porém no período de hospitalização estava acamado. Boca: paciente usava prótese dentária. Sistema genitourinário: relatava polaciúria e urgência micccional. ANTECEDENTES PATOLÓGICOS: Relatava hipertensão arterial há 15 anos e acidente vascular cerebral há 2 anos. HÁBITOS E VÍCIOS: Informou ser tabagista por 20 anos, parou há 2. ANTECEDENTES FAMILIARES: pai e mães já falecidos ( não sabe informar patologias). DIAGNÓSTICO CLÍNICO: Traumatismo crânio- encefálico fratura em antebraço à esquerda fratura em fêmur à esquerda Acidente vascular cerebral Hipertensão arterial sistêmica DIAGNÓSTICO NUTRICIONAL ?????? EXAME FÍSICO: REG, corado, hidratado, eupneico, anictérico, acianótico, afebril. PA: 140/90mmhg, freqüência cardíaca:65bpm, freqüência respiratória: 22ipm. Pulmões: MV+ bilateralmente, sem ruídos adventícios. Coração: BRNF s/ sopro. Abdome: plano, flácido, indolor a palpação, sem visceromegalias, RHA+. Membro superior direito: presença de tala gessada Membro inferior esquerdo: presença de fixador externo, devido fratura de fêmur AVALIAÇÃO NUTRICIONAL l Peso habitual = 58 kg l Peso atual = ?? l Altura = 1,72 l Antropometria: prega tricciptal: percentil 50 CMB: percentil 50 CB: percentil 50 • Albumina = 3,5 g/dL, Hb= 10,0 g/l, P= 4,0 mg/dL • Mg= 2,0 mEq/l • Creatininúria = 1.400 mg/dia • Esse paciente tem desnutrição? • Há algum fato referido pelo paciente na história da moléstia atual ou no interrogatório de diversos aparelhos que possa estar impedindo o paciente de comer? • Necessita de terapia nutricional e qual ? • Via de acesso? • Quais os cuidados na terapia nutricional? • Efeitos colaterais e evolução clínica? • Qual deve ser a oferta calórica inicial ? • Qual deve ser a oferta protéica? • Via: oral ,enteral ou parenteral? B) Questões 1. Como definir e diagnosticar desnutrição intra hospitalar e fatores de risco? 2. Na história clínica, quais os sinais e sintomas que devem ser observados e poderiam sugerir desnutrição protéico-calórica? Relacione com as hipóteses diagnósticas. 3. No que consiste a avaliação subjetiva global e como ela pode auxiliar na conduta frente aos pacientes? 4. Quais os exames antropométricos e bioquímicos que podem auxiliar no diagnóstico de desnutrição protéico-calórica? 5. Como deve ser feito o planejamento da terapia nutricional com relação à quantidade total de calorias e cada substrato: hidratos de carbono, proteínas e lipídios? Dê exemplos de fármacos nutricionais 6. Como optar pela melhor via de administração da terapia nutricional? 7. Quais os cuidados que se deve ter durante a administração de terapia nutricional enteral e quais as complicações decorrentes dessa terapia? 8. Com relação à nutrição parenteral quais exames laboratoriais devem ser colhidos no início e durante a evolução? 9. Quais as complicações decorrentes da terapia nutricional via parenteral? 10. Enumere as situações clínicas diretamente associadas à necessidade de terapia nutricional. DISPEPSIA, DOENÇA DO REFLUXO GASTROESOFÁGICO E ÚLCERA PÉPTICA Prof. Dr. Luiz Ernesto de Almeida Troncon A) Resumos de casos ilustrativos Caso 1 – Homem de 48 anos, refere "azia" desde a adolescência, em episódios que duram 10 a 15 dias, separados por períodos de acalmia de até 6 meses. Nas "crises", tem queimação epigástrica, que sobe até a garganta e se inicia cerca de 2 horas após as refeições. Piora quando come muito, quando ingere condimentos ou qualquer tipo de fritura. Às vezes, é acordado no meio da noite "sufocado" por um líquido ácido que volta do estômago até a bôca. Melhora rápidamente com anti-ácidos e passa longos períodos bem, quando toma anti-ácidos regularmente, ou evita o que lhe faz mal. Não apresenta outros sintomas. Fumou (20 cigarros/dia) e bebeu (8 a 10 cervejas/semana) dos 18 aos 40 anos. Nega outros dados de interesse. O exame físico é completamente normal. A seriografia de esôfago mostra pequena hérnia hiatal às manobras de esfôrco. A endoscopia digestiva alta mostra hérnia hiatal de 2 cm de extensão e intensa hiperemia da mucosa do esôfago distal, que apresenta algumas erosões lineares. Caso 2 - Homem de 54 anos, apresenta dor epigástrica bem localizada, em surtos, há 10 anos, com piora há 4 meses, quando passou a tomar remédios para "bronquite". Refere que tinha dor quando ficava muito tempo sem comer, que melhorava quando comia ou mesmo quando tomava água. A dor aparecia duas a três vezes ao dia e quase todas as noites, acordando o paciente. Os episódios duravam alguns dias e a dor desaparecia quando tomava anti-ácidos. Informa que, desde há mais de 20 anos, apresenta tosse seca, que atribui ao cigarro (fuma mais de 30 cigarros por dia). Há cerca de 4 meses, piorou da tosse, sobrevindo "chiadeira no peito". Procurou pôsto de saúde, sendo medicado com xarope e comprimidos. Melhorou da tosse, mas piorou muito da dor epigástrica, que se apresenta mais intensa e constante. Ao exame apresenta-se em bom estado, corado, com facies pletórica, tórax enfisematoso e roncos esparsos. O abdome é globoso, palpa-se borda hepática romba, levemente endurecida no rebordo costal direito. Há dor moderada à palpação profunda do epigástrio. A endoscopia digestiva alta revela gastrite antral, úlcera gástrica pré-pilórica ativa e úlcera duodenal cicatrizada. O teste rápido da urease é negativo. Caso 3 – Mulher de 64 anos, queixa-se de dificuldade para deglutir há cerca de 6 semanas. Refere que desde a adolescência apresenta "azia" quase todos os dias, de leve intensidade. Nas suas 4 gravidezes (a última há mais de anos) teve intensa piora deste sintoma, que perdurava por toda a gestação, era muito incomodativo e, ocasionalmente, vinha junto com certa dificuldade para engolir alimentos muito duros. Havia melhora quase completa dos sintomas após o parto. Nunca fez tratamento médico, apenas fazia uso de pastilhas cujo nome ignora. Há pouco menos de 2 meses, voltou a ter dificuldade para engolir alimentos sólidos, que "entalam" e a obriga a tomar água váras vezes durante o almoço para a comida "descer". Não nota progressão deste sintoma nas últimas semanas. Não apresenta outros sintomas ou qualquer antecedente mórbido de interesse. Nunca fumou ou fez uso de bebidas alcoólicas. Apresenta-se em bom estado geral, corada, levemente emagrecida, com discreta dor à palpação do epigástrio. A seriografia do esôfago mostra afilamento da luz do terço inferior do orgão, com a mucosa do segmento mais distal apresentando irregularidades nos seus contornos. Há discreto retarde do esvaziamento do esôfago. Caso 4 – Homem de 22 anos refere dor epigástrica difusa desde há cerca de 4 anos; a dor é pouco intensa, mas incomodativa, e ocorre mais quando está com o estômago vazio e melhora assim que ingere qualquer alimento. Porém, logo que começa a refeição já se sente saciado e sobrevem sensação de pêso no estômago. Refere que apresenta os sintomas com maior frequência e intensidade quando fica nervoso. Não bebe e não fuma, mas tem horários muito irregulares para comer, toma muito café e coca-cola. Não tem outros antecedentes de interesse. O exame físico é inteiramente normal. A endoscopia digestiva alta mostra gastrite enantemática leve. Caso 5 – Mulher de 34 anos queixa-se de "má digestão" constante, desde há cerca de 8 anos. Refere que "tudo o que come lhe faz mal", tendo plenitude gástrica e sensação de ter comido muito, mesmo com pequenas quantidades de comida. Quando este sintoma é mais intenso apresenta também naúseas, mas não chega a vomitar. Apresenta esta queixas quase que diariamente, sendo pior quando ingere alimentos gordurosos ou toma refrigerantes. Não apresenta dor ou queimação epigástrica, pirose ou regurgitação. Refere constipação intestinal, evacuando a cada 3 ou 4 dias, fezes endurecidas. Não está emagrecendo, nem refere alteração da disposição. Não há qualquer alteração ao exame físico. A endoscopia digestiva alta é normal. B) Questões 1. Qual o conceito atual de dispepsia? 2. Quais os pontos da história clínica dos pacientes com sintomas dispépticos que devem ser especialmente esmiuçados ? 3. Quais os aspectos do exame físico que devem ser valorizados nos pacientes com sintomas dispépticos? 4. Quais as indicações estritas da endoscopia digestiva alta ? 5. Quais as principais indicações de outros exames complementares (seriografia esôfago-gastro-duodenal, manometria esofágica, pH-metria de 24h)? 6. Quando e como iniciar tratamento sem dispor de exames comprobatórios da causa dos sintomas dispépticos ? 7. Quais os principais medidas para o tratamento da doença do refluxo gastroesofágico ? 8. Quais as principais medidas para o tratamento da dispepsia funcional ? 9. Como é feito o tratamento da úlcera péptica gastro-duodenal? 10. Como e porque efetuar o tratamento de erradicação do H. pylori em pacientes com úlcera péptica gastro-duodenal ? Doença do Refluxo Gastroesofágico (DRGE) Introdução: DRGE rotula indivíduos portadores de quaisquer alterações clínicas ou histopatológicas que possam ser atribuídas ao fenômeno da passagem anormal do conteúdo gástrico ao esôfago, ou seja, ao refluxo gastroesofagiano. É uma das doenças do trato GI mais freqüentes. Sua estimativa de prevalência é de cerca de 10% da população geral. Patogenia e fisiopatologia: Fatores que dificultam refluxo: angulação oblíqua do esôfago abdominal em relação a sua entrada no estômago, ligamento freno-esofágico, difragma crural, ondas peristálticas (depuração esofágica). Disfunção do esfíncter inferior esofágico (EIE): pcte com esofagite apresenta baixos níveis de pressão do EIE. Porém, indivíduos com níveis normais ou até elevados tb podem apresentar esofagite. Relaxamentos transitórios do EIE (independentes da deglutição): são o ppal fator desencadeante de refluxo tanto fisiológico (assintomático, curta duração, identificado através de pHmetria) qto patológico, sendo detectados nos períodos pós e interprandiais. Não se sabe a causa. São abolidos pelo bloqueio do nervo vago. Uma vez ocorrido o refluxo, a depuração esofagiana ineficaz potencializa a agressão: força da gravidade, contração esofagiana, saliva (pH neutro), secreção de muco e bicarbonato, epitélio escamoso estratificado, fluxo sanguíneo submucoso. Desestruturação da junção gastrointestinal: é outra anormalidade que pode estar associada ao refluxo (80% dos casos)-hérnia de hiato. Condições que aumentem a pressão intra-abdominal: ascite, obstrução, neuropatia. Procedimentos como dilatações do EIE, operações. Quadro clínico: a pirose (dor retroesternal que irradia do epigástrio para a base do pescoço) é a manifestação mais comum e pode ser acompanhada por regurgitação do alimento pela boca ou regurgitação ácida. Podem estar presentes fenômenos de broncoaspiração (asma, tosse crônica, hemoptise, pneumonia de aspiração, fibrose pulmonar...), dçs otorrinolaringológicas (rouquidão, globus, halitose, dor de ouvido...), dçs odontológicas (perda do esmalte dentário). Também pode ter disfagia, hemoptise. A pirose do DRGE tem algumas características: até 2 horas após as refeições; é facilitado por movimentos que aumentem a pressão intra-abdominal, pela posição horizontal. Diagnóstico: O diagnóstico deve ser suspeitado pelos sinais e sintomas descritos. O quadro clínico, com a presença de pirose típica, acompanhada de regurgitação ácida, em pacientes com menos de 40 anos, com doença de instalação recente e sem sinais de alarme (disfagia, odinofagia, hemorragia, anemia, perda ponderal) ou de manifestações clínicas que lembrem outras doenças é suficiente para o diagnóstico. Em outras situações, (pirose crônica, associação de disfagia, odinofagia ou sgto, ausência de resposta ao tto clínico) se faz necessária investigação mais detalhada. Exames complementares: Endoscopia e biópsia: é o método de escolha para diagnóstico objetivo da esofagite causada pelo DRGE. Avalia a gravidade e permite realizar biópsia qdo necessário. Os graus de esofagite são dados pelas classificações de Savary-Miller (mais comum) e de Los Angeles. Também pode detectar complicações. Deve-se ter em mente que ~ 50% dos portadores de DRGE não possuem lesões endoscopicamente identificáveis. A indicação de endoscopia são queixas sugestivas de patologia esofagiana, gástrica ou duodenal com mais de 2 semanas de duração.e em casos de sgto digestivo alto deve ser feita nas primeiras 12 horas. Radiologia: feita com contraste. Tem baixa sensibilidade. É possível ver ondas terciárias indicativas de distúrbio motor. Manometria: não diagnostica DRGE, mas sim avalia a motilidade esofágica (ex: localização de EIE, investigação de peristalse). pHmetria intra-esofágica ambulatorial de 24 hs: é o melhor teste para caracterizar o refluxo gastroesofágico. O refluxo é considerado patológico se o pH se mantiver abaixo de 4 por mais de 4% do tempo total de registro. Teste terapêutico: pcte com menos de 40 anos, que apresentam sintomas típicos, sem manifestação de alarme, com freqüência inferior a 2x/ semana e tempo de história não superior a 1 mês, podem ser submetidos ao teste terapêutico com o uso de inibidores de bombas de prótons em dose plena, associado a medidas comportamentais , por 2 a 4 semanas, sem necessidade de exames diagnóstico prévio. O teste será + se os sintomas desaparecerem completamente nesse período. Diagnóstico diferencial: esofagite infecciosa, gastrite, úlcera péptica, dç do trato biliar, distúrbios motores do esôfago, dç coronariana. Tratamento: Medidas gerais: 1) elevação da cabeceira do leito (10 a 15 cm); 2) restrição de alimentos e líquidos antes de deitar; 3) restrição de cigarros, álcool, menta, chocolate e drogas que diminuem a pressão do EEI (bloqueador de canal de cálcio, nitrato, diazepam, derivado de morfina); 4) perda de peso. Tto farmacológico: 1. Antiácido: hidróxido de alumínio/magnésio, 30 ml, 1h e 3 h após as ppais refeições e antes de dormir. São pouco usados no tto de DRGE. 2. Bloqueadores dos receptores H2 de histamina: 1-cimetidina (tagamet)-1600mg/dia, 2-ranitidina (antak,zilium)600mg/dia e 3-famotidina (famox)-80 mg/dia. São usados para esofagite e DRGE leve, sem erosão.Usar por 6 a 8 semanas. 3. Inibidores e bombas de prótons: reduzem a secreção ácida do estômago com maior eficácia que os bloqueadores H2. São considerados o tto de 1 escolha. O omeprazol pode ser administrado na dose de 20-40 mg/dia (15 minutos do café da manhã). Usar por 6 a 8 semanas. 4. Pró-cinéticos: 1-metoclopramida: estimula o tônus e atividade de todo o trato GI, aumentando acima pressão do EEI, a velocidade de esvaziamento gástrico e a eficácia da peristalse esofagiana.Tem seu uso limitado por ação colateral no SNC. É encontrada em cp de 10 mg e pode ser administrada até 4x/dia 30 minutos antes das ppais refeição; 2- Cisaprida: igual metoclopramida. Tto cirúrgico: qdo a esofagite recidiva com freqüência ou qdo o tto clínico não funciona dentro de 6 meses. A cirurgia realizada é a fundoplicatura. Complicações: Epitélio colunar: Metaplasia de Barret- o epitélio escamoso estratificado é substituído por epitélio colunar, altamente resistente aos efeitos do refluxo. A importância deste epitélio está no fato de ser um tecido precursor de adenocarcinoma (risco aumentado de 30 a 125 x). Provavelmente resulta de úlceras profundas. Estenose de esôfago: É rara. A disfagia é a característica clínica mais importante. Úlcera esofágica: superficiais (mais comuns) e profundas, as quais podem causar dor e hemorragia.Em geral estão localizadas no epitélio colunar (Barret). Aspiração pulmonar: o material refluído pode ser aspirado, causando sintomas de VAS: asma, tosse, rouquidão (ppal/e pela manhã), pigarros freqüentes e sibilos noturnos. Às vezes podem abrir o quadro de DRGE. Doença ulcerosa péptica Definição: erosão profunda da mucosa gastrintesnial, que atravessa a muscular da mucosa seja no estômago, no duodeno (mais comum) ou até no esôfago. Fisiologia: o fundo e o corpo são revestidos por células parietais que secretam HCl e fator intrínseco e pela células principais que secretam pepsinogênio. No antro há as células G que secretam gastrina. O controle da secreção ácida é feita pela acetilcolina (estimulação vagal), histamina e gastrina (estimulação pelo pH, por proteínas alimentares). A gastrina estimula tanto a proliferação qto à secreção das células parietais. As defesas da mucosa são o muco, bicarbonato (produzido por células epiteliais do estômago-proteção potencial), renovação celular, fluxo sanguíneo da mucosa, prostaglandinas, as quais medeiam todas as ações de defesa da mucosa. As úlceras pépticas são o resultado do desequilíbrio entre a agressão péptica do conteúdo gastrointestinal e barreiras de defesa da mucosa, com falha no processo de reparação tecidual, esta última induzida por fatores externos como H. pylori, AINEs, stress. H. pylori: acomete igualmente homens e mulheres. Sua prevalência aumenta com a idade. 2 evidências estabelecem o HP como fator crucial para o desenvolvimento de úlceras: 1) 30 a 60% dos pctes com úlcera duodenal e 70% dos pctes com úlcera gástrica tem HP; 2) o tto para HP altera a evolução natural da dç, reduzindo o número de recidivas. Porém restam ainda questionamentos: 1) sendo a infecção pelo HP tão comum, pq apenas alguns desenvolvem úlceras; 2) 80 a 90% dos indivíduos infectados nunca desenvolvem sintomas. Condições raras associadas à úlcera: 1) síndrome de ZollingerEllison (gastrinoma); 2) hiperfunção de células G antrais; 3) mastocitose e leucemia basofílica (aumenta secreção de gastrina). Quadro clínico: ~ 40% que tem úlcera negam dor abdominal. A dor abdominal da úlcera duodenal ocorre ppal/e entre 1,5 e 3 hs após as refeições e com freqüência é aliviada após o uso de antiácidos ou alimentação. 2/3 dos pctes com úlcera duodenal descrevem episódios de dor noturna, de grande intensidade, geralmente entre meia noite e 3hs. Náuseas, vômitos, perda de peso e dor precipitada pela alimentação são mais freqüentes em pacientes com úlcera gástrica. Náusea e vômitos também podem anunciar uma complicação da úlcera péptica: obstrução intestinal alta. Dor abdominal difusa (não apenas epigástrica), peristalse ausente, e abdômen em tábua indicam úlcera perfurada, assim como taquicardia, hipotensão, melena e HDA indicam úlcera sangrante. Diagnóstico: quadro clínico e exames complementares: EDA e seriografia esôfago-estômago-duodeno. Na maioria dos serviços utiliza-se a EDA para investigação. É importante ppal/e para úlcera gástrica que está muito aassociada a CA e por isso devem ser colhidas várias biópsias. A duodenal raramente é maligna. Todo pcte com úlcera tb deve investigar HP.Existem vários testes: 1) teste rápido da urease (CLOtest-biópsiamais usado); 2) histopatologia, 3) cultura, 4) sorologia, 5) teste da uréase respiratória (ideal para controle da cura). Tto: Medidas gerais:1) dieta: evitar comidas que causem sintomas, 2) evitar fumo (cicatriza mais rápido e com maior freqüência), 3) evitar álcool. Tto farmacológico: 1. 1) antiácidos: neutralizam o pH e determinam um rápido alívio dos sintomas. São exemplos: hidróxido de alumínio (constipante) e magnésio (relaxante), bicarbonato de sódio e carbomato de cálcio. Devem ser tomados 1 hora após as ppais refeições e antes de dormir. 2. Bloqueadores dos receptores H2 da histamina: Produzem alívio sintomático mais rápido que os antiácidos. São exemplos: 1-cimetidina (tagamet)-800mg/dia, 2ranitidina (antak,zilium)-300mg/dia e 3-famotidina (famox)-40 mg/dia. Não devem ser ingeridos concomitantemente com os BH2, excreção renal, aumenta a sensibilidade ao álcool. Geralmente trata por 6 a 8 semanas. 3. Inibidores vde bomba de prótons (IBPs): maior potência que os anteriores.São exmplos: 1- omeprazol: 20mg/dia 15 minutos antes do desejum, 2-lansoprazol: 30mg/dia, 3- pantoprazol: 40mg/dia. Todos por 4 a 8 semanas. 4. Sucralfato:não se sabe como funciona. Pensa-se que protege as bases injuriadas da úlcera, uma proteção viscosa sobre a úlcera. Na terapia aguda: 1g antes das refeições e ao deitar ou 2g de 12/12 hs. Na terapia de manutenção: 1g de 12/12 hs. 5. Prostaglandinas: não são de 1 linha. Ex: misoprostol. Tto do H. pylori: tto geralmente por 3 drogas, por 7 (Europa) ou 14 (USA) dias. Esquemas:1) bismuto, metronidazol e tetraciclina, 2) bismuto com ranitidina, metro e clarito, 3)omeprazol, claritro e metro, 4)omeprazol, bimuto, metro e tetra. Tto cirúrgico: indicações: complicações (hemorragia, perfuração e obstrução), tto clínico não cicatrize a úlcera, e recidivas constantes após tto. 1. Procedimentos para úlcera duodenal: vagotomia (troncular, seletiva e superseletiva). Na prática a vagotomia, exceto a superseletiva, necessita de outras cirurgias para que haja a drenagem gástrica. Vagotomia troncular+piloroplastia ou Vagotomia troncular+antrectomia (gastroduodenostomia= billroth I ou gastrojejunostomia= billroth II). 2. Procedimentos para úlcera gástrica: ver tabela tipo Localização tto I de Johson Corpo Hemigastrctomia (billroth I) II de Johson Assoc. a úlcera Vagotomia e duodenal antrectomia (billroth II) III de Johson Pré-pilórica Vagotomia e antrectomia IV de Johson Próxima a junção Vagotomia esofagogástirca. troncular+antrectomia+Y de Roux. Complicações pós-operatórias: Precoces: recidiva de sgto, deiscências ou fístulas,gastroparesias e perfurações gástricas. Tardias: diarréia pós vagotomia, síndrome de Dumping (esvaziamento rápido pós prandial), gastrite alcalina ( refluxo do conteúdo intestinal para o estômago) Complicações agudas da dç ulcerosa péptica: Perfuração: maioria (90%) da parede anterior do bulbo duodenal. Pode ser livre ou tamponada (úlcera penetrante ou terebrante = tamponda por tecido pancreático). Os AINEs estão envolvidos em 20% dos pcte >60 anos. O tto clínico raramente é suficiente. O tto cirúrgico tem 3 objetivos: fechamento da perfuração, irrigação da cavidde abdominal e operação definitiva. Obstrução: plenitude epigástrica, saciedade precoce, náuseas e vômitos. TTo clínico: hidratação, correção de distúrbios hidroeletrolíticos e ácido-base, IBP, lavagem gástrica e jejum por 3 a 5 dias.No tto clínico, tb podese tentar a dilatação endoscópica. Cerca de 75% dos pacientes necessitarão de tto cirúrgico. Sangramentos: complicação mis comum. Geralmente n aparede posterior do duodeno. Estabilizar hemodinamicamente o pcte e submetê-lo a EDA ( coagulação com laser, ligadura de vasos, temocoagulaçõa, injeção de epinefrina). Dispepsia Distúrbio da função digestiva, sem aparente substrato fisiológico. A dispepsia funcional é caracterizada por sintomas que sugerem lesão da mucosa do esôfago, estômago e duodeno, na ausência de qualquer anormalidade de natureza orgânica, estrutural ou metabólica que possa explicar o quadro. Os sintomas mais comuns são a dor ou desconforto epigástricos, a “má-digestão” (que pode ser mais bem definida como peso, plenitude e empachamento pós-prandias), a saciedade precoce, as eructações, as náuseas e a pirose. O exame físico é normal e a investigação diagnóstica não evidencia qualquer alteração. Os pacientes podem ser divididos em: Dispepsia do tipo ulcerosa: sintomas semelhantes aos da úlcera péptica. Dispepsia do tipo refluxo: predomina queixa de pirose retroesternal. Dispepsia motora: os sintomas de plenitude gástrica e saciedade precoce sugerem alterações da motilidde gastroduodenal e retardo do esvaziamento gástrico. Dispepsia inespecífica. A patogenia não é perfeitamente conhecida, mas acredita-se que há fatores predisponentes com influências genética ou ambiental: 1) anormalidade da motilidade digestiva, 2) alteração da sensibilidade e da percepção sensorial visceral, 3)distúrbios da área psico-emocional. A sobreposição de fatores desencadeantes (alimento, medicamento, stress...) podem explicar o início dos sintomas. Uma vez instalados, os fatores mantenedores (dieta, estilo de vida..) podem explicar a persistência do quadro clínico. O diagnóstico somente é estabelecido após a exclusão de causa orgânica que explique os sintomas, feita por meio de investigação exaustiva. Na abordagem inicial, a história clínica e o exame físico, junto com exames laboratoriais mais simples (HMG, VHS, exames de urina e de fezes) são essenciais na identificação de fatores que sugiram causa orgânica para os sintomas apresentados. Esta abordagem tb é importante para detectar elementos que indiquem a necessidade de investigação imediata ou mais intensiva (mais de 45 anos, sintomas de início recente, mudança em padrão conhecido do sintoma, disfagia, vômitos incoercíveis, sgto digestivo, anorexia importante, perda de peso, uso imoderado de álcool, uso de antiinflamatórios, história familiar de dçs orgânicas importantes, história familiar de câncer, alterações relevantes ao exame físico, resposta pobre ou ausente ao tto empírico, recidiva precoce após melhora inicial com tto). No tratamento, o pcte deve ser orientado com franqueza sobre o conhecimento atual de sua dç, ser tranqüilizado sobre o caráter benigno dos sintomas. Cuidado para não dizer que o pcte não tem nada, pois pode criar situação de rejeição. Algumas medidas gerais úteis são a mudança de estilo e vida, orientação alimentar, moderação do uso do álcool, fumo e dos alimentos contendo cafeínas ou análogos (café, chámate, chocolate, refrigerantes). O tto medicamentoso deve ser mais dirigido ao sintoma predominante: no tipo ulcerosa, recomenda-se o uso se agentes anti-secretores, no tipo refluxo, o tto recomendado é idêntico ao que se aplica a DRGE, no tipo motora, o tto deve recair nas drogas prócinéticas. Se predominar náuseas, usar metoclopramida. Na dispepsia inespecífica deve-se verificar qual o sintoma preponderante e relacioná-lo comum dos tipos mais freqüentes da dispepsia funcional.Caso haja refratariedade ao tto , as drogas de escolha são anti-depressivos em pequenas doses. OBESIDADES E HIPERLIPEMIAS Prof. Dr. José Ernesto dos Santos A) Resumos de casos clínicos ilustrativos Caso 1 - RPD, 28 anos, branca, do lar, procedente de Ribeirão Preto. Q.P.: elevação do colesterol sangüíneo há 3 anos HMA: Refere que desde os 9 anos tem "problema cardíaco", com seguimento médico anual, porém não sabe o diagnóstico. Há 3 anos começou apresentar desânimo que atribuiu a problemas pessoais que vinha enfrentando. Ao longo deste período houve piora progressiva dos sintomas com surgimento de intolerância ao frio, constipação de mais de 7 dias, pele seca e descamativa e boca seca. Não procurou atendimento médico por este motivo. Há 2 anos em consulta de rotina em UBS foi diagnosticada elevação da colesterolemia e da trigliceridemia e iniciado tratamento com hipolipemiante. Durante mais de um ano de uso das medicações (estatinas ou fibratos) não obteve redução concomitante da colesterolemia e da trigliceridemia séricos. Foi então encaminhada a este Hospital para diagnóstico e tratamento. IDA: Cabeça: cefaléias freqüentes, sem localização definida. OORE: sem queixas Sistema cardio-respiratório: sem queixas Sistema digestivo: vide HMA, sem outras queixas. Sistema gênito-urinário: diminuição do fluxo menstrual, sob uso de ACO Sistema nervoso: fala enrolada, dificuldade em articular palavras Sistema linfohematopoiético e Sistema osteomuscular: sem queixas Sistema endócrino: vide HMA Antecedentes pessoais: Refere diagnóstico de "problema cardíaco" aos 9 anos, com seguimento médico anual, porém não sabe o diagnóstico. Gestação única há 8 anos, sem intercorrência. Nega outros tratamentos anteriores. Nega tabagismo e etilismo. Antecedentes familiares: mãe teve "trombose" e uma prima com colesterol e triglicérides plasmáticos aumentados. Nega outros problemas de saúde como HAS, DM na família. Exame Físico: Regular estado geral, orientada, lúcida, porém com voz arrastada, demonstrando dificuldades em articular palavras. Peso: 50,6 kg Altura: 1,56 m IMC: 21,6 Kg/m2 Pele hipocorada, seca, descamativa, com lesão hipercrômica em região malar direita e esquerda. Mucosas úmidas, hipocoradas. Tiróide palpável, sem aumento de volume, com aumento de consistência. AR: MV simétrico, sem ruídos adventícios audíveis. FR: 16 mpm ACV: RR, 2T, sem sopros FC: 60 bpm PA BD – 140 x 90 cmHg Pulsos carotídeos radiais e pediosos simétricos Abdome: plano, sem visceromegalias Giordano: negativo Membros inferiores com edema não compressível de +/4. Presença de edema facial. Exames iniciais: Encaminhados com a paciente. 09/99 Colesterol total 354 mg/dl Colesterol HDL: 37,9 mg/dl Triglicérides = 440 mg/dl Colesterol LDL: indeterminado. 10/99 Colesterol total 410 mg/dl HDL-c 51 mg/dl Triglicérides 451 mg/dl LDL-c indeterminado Ácido úrico – 3m8 mg/dl CPK – 388 U/l Glicose – 85 mg/dl TGO – 45 U/l TGP – 50 U/l HT – 32,4% Hb – 11,1 g/dl VCM – 99,7 fl HCM – 34,3 pg VHS – 48 mm/1ª hora Questões 1. Como você analisa a conduta do médico da Unidade Básica de Saúde? 2. Como você decide na conduta entre fibratos e estaturas? Caso 2 - Sra. AJ com 46 anos o procurou por apresentar obesidade ( IMC de 30,2 Kg/m2 ), diabetes melito controlada com hipoglicemiante VO. A paciente nunca apresentou episódios de dor pré-cordial, nem apresenta história familiar de doença isquemica cardiovascular. Ao exame a paciente não apresenta sinais dignos de nota . PA : 112x78 cm Hg. Foram solicitados os exames de rotina a dosagem de lípides séricos mostrou : colesterol 256 mg/dl, triglicérides 320 mg/dl, HDL-colesterol de 40 mg/dl . Glicemia - 113 mg/dl. Tabagista; 15 cigarros/dia. Questões 1. Como você avalia esse resultado em termos de risco cardiovascular. 2. Sugira um plano terapêutico para a Sra. AJ. OBESIDADE Distribuição anormal de gordura corporal. É uma doença universal de prevalência crescente. Acarreta risco aumentado para diversas doenças crônicas: DM, dislipidemia, cardio e cerebro-vasculares, alteração de coagulação, doenças articulares, esteatose hepática com ou sem cirrose, apnéia do sono, etc. Diagnóstico Quantitativo: IMC que é fácil e rápido, mas não distingue massa magra de gordurosa, podendo superestimar grau de obesidade em indivíduos musculosos. Em crianças deve-se usar uma tabelas de percentis de altura e peso, o IMC percentual (%IMC=(peso/altura):(50o percentil para idade/50o percentil altura) x 100%), sendo >110% sobrepeso e >120% obesidade. A impedância bioelétrica é altamente precisa e de fácil utilização permitindo avaliar massa adiposa e massa magra (valores normais: <25% para homens e <33% para mulheres). IMC Doença <18,5 Classificação magreza 18,5-24,9 normal Obesidade grau Risco de 0 elevado 0 normal 25-29,9 sobrepeso I elevado 30-39,9 obesidade II muito elevado >=40,0 elevado obesidade grave III muitíssimo Qualitativo: excesso de gordura pode estar mais concentrado em algumas partes do corpo (abdominal, tronco: obesidade andróide; quadris: obesidade ginecóide). Obesidade andróide se correlaciona mais com complicações cardiovasculares e metabólicas, enquanto ginecóide se correlaciona-se mais com doenças vasculares periféricas e problemas ortopédicos e estéticos. Cálculo da relação cintura-quadril: divisão do maior perímetro abdominal pelo perímetro dos quadris entre trocanteres femorais com indivíduo em decúbito dorsal (>0,8 em mulheres e0,9 em homens definem distribuição central de gordura e se relacionam com maior quantidade de gordura visceral ou portal. Medida isolada da cintura: <95cm em homens e <80cm mulheres; risco de fator coronariano aumenta muito quando >104cm em homens e >88cm em mulheres. Diagnóstico de Doenças Associadas Outros fatores de risco cardiovascular: hipertrofia ventricular esquerda, HAS, dislipidemia, DM ou intolerância a glicose, hiperinsulinemia, hipercoagulabilidade e hipofibrinólise, hiperuricemia com ou sem gota, que podem levar a doenças coronarianas e aterotrombótica. Doenças digestivas: colelitíase, esteatose hepática que pode levar a cirrose Aumento de risco de neoplasias relacionado a obesidade: mama, endométrio, vesícula biliar, próstata. Infertilidade, HA gestacional, maior chance de ter filhos obesos. Prejuízo da função pulmonar, apnéia ou hipopnéia obstrutiva do sono. Doenças articulares degenerativas, distúrbios psicológicos, transtornos alimentares, bulimia nervosa. Diagnóstico Etiológico Pesquisar síndromes genéticas (Prader-Willi, Bardet-Biedl, Cohen, Alström), defeito produção de leptina, no receptor de leptina, hipotireoidismo, hiperinsulinização no tratamento de DM, insulinoma, alterações hipotálamo-hipofisárias. Entretanto todas essas causas constituem-se minoria absoluta em relação ao total de obesos. Tratamento Objetivo primário não é estético, mas sim diminuir risco de doenças coronarianas. Perdas modestas de peso podem produzir ganhos significativos para a saúde, ou seja, muitas vezes não é possível normalizar o peso do paciente, mas reduzi-lo já traz muitos benefícios. Deve-se também estimular atividade física. Perdas maiores de peso podem ser conseguidas com intervenções cirúrgicas e, potencialmente, com farmacoterapia, desde que o risco/benefício seja válido para justificar tais tratamentos. Tratamento Dietético: redução da ingesta de energia. Utilização de diários alimentares em que paciente escreve tudo que ingere é útil para avaliação dos hábitos alimentares do paciente antes do início do tratamento (períodos de jejum, beliscar, etc.) e para avaliar aderência ao tratamento proposto. Pode-se usar também uma tabela de calorias para que paciente possa controlar melhor suas refeições. Incentivar consumo de alimentos pobres em gordura, rico em fibras (frutas, vegetais, arroz, feijão, etc.). Tratamento Comportamental: Avaliar e adequar motivação do paciente (expondo custos e benefícios das mudanças propostas), avaliar e adequar desajustes do comportamento alimentar (compulsões alimentares, night eating, hiperfagia prandial noturna, velocidade e estado de humor durante alimentação, bulimia nervosa), avaliar e adequar atividade física (programada e espontânea: aumentar caminhadas, uso de escada, reduzir uso de automóvel, diminuir tempo que se permanece sentado). Exercício e Atividade Física: Exercício aeróbio (nadar de bicicleta, caminhar, correr, nadar) pode promover perda de peso e massa adiposa. Exercícios de resistência (musculação, ginástica localizada) tem efeito menor sobre peso mas aumentam massa muscular. Exercício físico é um importante preditor de manutenção do peso. Tratamento Farmacológico: Indicado quando IMC > 25Kg/m2 ou adiposidade central ou andróide com outras doenças associadas ou IMC > 30,0 quando tratamento farmacológico não resolve isoladamente. 3 grupos de medicamentos: anoxeriantes de ação central, termogênicos e que afetam absorção de nutrientes. As termogênicas podem levar a perda de peso por estimulação adrenérgica e aumento da lipólise (efedrinas, metilxantinas, fenilpropanolamina). No grupo das drogas que diminuem absorção encontram-se os inibidores de lipases (orlistat), que diminui absorção de gordura em 1/3 , levando a uma perda de peso gradual. Há evidências que melhoram comorbidades relacionadas como hiperglicemia, dislipidemia, HA. Efeitos colaterais: fezes amolecidas e gordurosas; diarréia, flatus com descarga e incontinência fecal apenas pacientes que ingerem muita gordura. Medicamentos anorexiantes com ação simpatomimética levam a aumento do tônus noradrenérgico e/ou dopaminérgico. Efeitos colaterais: insônia, irritabilidade, agitação psicomotora, sudorese, taquicardia). Agentes farmacológicos de ação central com mecanismo serotonérgico (ex. antidepressivos inibidores seletivos da recaptação da serotonina) levam a aumento da saciedade. A sibutramina, agente com mecanismo serotonérgico e noradrenérgico, leva a redução do peso por diminuição da ingestão de alimentos (saciedade) e aumento da atividade termogênica. Efeitos colaterais: boca seca, insônia, constipação intestinal, cefaléia. Tratamento Cirúrgico: Deve ser considerada em pacientes obesos mórbidos resistentes ao tratamento clínico. A mais utilizada em nosso meio é a cirurgia de Capela, que constitui na diminuição da câmara gástrica e anastomose gastrojejunal. Geralmente leva a redução de 40% do peso em um ano e manutenção desta perda após um ano. DISLIPIDEMIAS Diagnóstico Grande maioria dos pacientes não apresenta sinais ou sintomas decorrentes das alterações lipídicas. Portanto seu diagnóstico se baseia na determinação sérica dos lípides plasmáticos. Em alguns casos mais graves pode haver acúmulos lipídicos (colesterol e triglicérides) em vários tecidos como olhos, pele, tendões e SN) permitindo suspeita da alteração lipídica antes das determinações laboratoriais. Avaliação Laboratorial Colesterol total (CT), triglicérides (TG), colesterol ligado a HDL (HDLc) e colesterol ligado a LDL (LDLc). LDLc = CT – (HDLc + TG/5) Dislipidemias podem ser classificadas em: 1. Hipercolesterolemia pura: elevação isolada do colesterol (LDLc) 2. Hipertrigliceridemia pura: elevação isolada dos TG 3. Hiperlipidemia mista: elevação de LDLc e TG 4. Redução do HDLc isolado ou acompanhado de alterações do colesterol e/ou TG É importante diferenciar entre dislipidemia primária (causa hereditária reconhecida ou não) e secundária (por doença de base – DM, sind nefrótica, hipotireoidismo, obesidade, alcoolismo, IRC ou uso de medicamentos – diuréticos, anticoncepcional, corticoesteróides, anabolizantes) Tratamento Objetivo: prevenção da doença aterosclerótica e da pancreatite aguda. Deve ser mantida indefinidamente. Para pacientes com risco cardiovascular muito elevado as metas de LDLc são reduzidas para <70 mg/dl. Pacientes com risco baixo LDLc <100 mg/dl. Tratamento Dietético e Mudanças de Estilo de Vida Modificações de alimentação, procurando atingir peso adequado; prática regular de atividades físicas, abandono do fumo e redução do estresse emocional. Dieta e Triglicérides Lembrar que hiperTG está muitas vezes associada com DM. Deve-se reduzir ingesta total de gorduras (principalmente saturadas e da forma trans), assim como carboidratos simples (doces, açúcares, refrigerantes, bebidas alcóolicas). Dieta e Colesterol Redução da ingestão de gorduras saturadas Redução da ingesta de colesterol para <200 mg/dia Uso de esteróides vegetais (margarinas especiais – 2 a 3g/dia) Uso de fibras (20 a 30g/dia) 1. Ácidos graxos saturados: Alimentos de origem vegetal (carnes, leite, derivados), polpa de coco, dendê. Ácidos graxos trans estão presentes em gordura vegetal hidrogenada, em biscoitos, bolachas recheadas = aumentam LDLc e TG, além de reduzir HDLc. 2. Ácidos graxos insaturados: reduzem CT e LDLc, aumentando HDLc. Os monoinsaturados (óleo de oliva, azeitonas, castanhas, nozes, amêndoas), reduzem CT sem diminuir HDLc. Os polinsaturados (óleos vegetais, exceto de coco, dendê e cacau) reduz LDLc, mas também HDLc. Omega 3 (peixes água fria) diminui TG 3. Colesterol alimentar: possui menor efeito sobre colesterolemia quando comparado com gordura saturada. Presente em alimentos com gordura animal (fígado, miolo, miúdos, leite integral, queijo, manteiga, creme de leite, amanteigados, croissants, sorvetes cremosos, salsicha, salame, mortadela, pele de aves, frutos do mar e principalmente gema de ovo (225mg/unidade). 4. Fibras: carboidratos complexos não absorvíveis e que auxiliam digestão. Solúveis em água: derivados de leguminosas, aveia, cevada, pectina originada das frutas. Retarda esvaziamento gástrico, reduz CT e LDLc e diminui absorção de glicose. Insolúveis em água: grãos, hortaliças, trigo. Aumentam trânsito intestinal e volume fecal, retardam absorção de glicose e amidos; não reduzem colesterol, mas auxiliam redução de ingesta calórica. 5. Fitosteróis: encontrados apenas nos vegetais. Reduz LDLc em aproximadamente 10 a 15%, não alterando níveis de TG e HDLc. Competem com colesterol na formação de miscelas, levando a excreção de colesterol nas fezes. 6. Soja: ajuda a reduzir LDLc e TG. Principais fontes: feijão de soja, óleo de soja, tofu, farinha de soja, leite de soja, etc. 7. Antioxidantes: vit C, E, flavonóides, carotenóides (frutas, verduras, grãos, ervas, castanhas, sementes, vinho, chá); diminuem oxidação do LDLc. 8. Atividade Física: forma regular, exercícios aeróbios reduzem glicemia, PA, peso corporal e TG. Medidas Gerais Controle de peso Redução/interrupção do consumo de bebidas alcóolicas Atividade física Tratamento Medicamentoso Avaliar minuciosamente tipo de dislipidemia. Fármacos que agem no metabolismo exógeno das lipoproteínas Sequestrantes de ácidos biliares: (resinas) Agem em nível intestinal unindo-se aos ácidos biliares levando a eliminação de colesterol nas fezes. Com isso há aumento de receptores de LDL resultando em maior depuração dessa lipoproteína. Ex. Colestiramina em pó (pacotes 4g) – dose diária até 24g/dia Efeitos colaterais: constipação, flatulência, náuseas; pode aumentar TG Inibidor da absorção intestinal de colesterol: (ezetimiba) Inibe transporte através da parede intestinal do duodeno e jejuno. Reduz adicionalmente TG e aumenta HDL, tendo sido bem tolerada com poucos efeitos colaterais. Pode ser associado a estatina potencializando seu efeito. Fármacos que agem no metabolismo endógeno do colesterol Inibidores da HMG-CoA redutase: (estatinas) Redutores mais eficazes de LDLc, diminuindo colesterol endógeno e aumentando receptores de LDL (reduzindo LDL circulante). Podem também reduzir TG por aumentar sua depuração hepática. Melhoram também função endotelial, diminui fatores inflamatórios, diminui oxidação de lipoproteínas, etc. Fluvastatina (20 a 80 mg), Pravastatina (10 a 40 mg), Lovastatina (10 a 80 mg), Sinvastatina (10 a 80 mg), Atorvastatina (10 a 80 mg), Rosuvastatina (10 a 40 mg). A principal via de eliminação é hepática. Efeitos colaterais: intolerância gástrica, flatulência, dores musculares, prurido, exantema cutâneo. Fármacos para redução dos níveis de triglicérides Derivados do ácido fíbrico – fibratos Aumenta catabolismo de lipoproteínas ricas em TG, baixando seus níveis e elevando HDL. 1/3 reduzem também LDL, e outros 1/3 podem elevar LDL. Existem 6 fibratos no mercado: clofibrato, bezafibrato, genfibrozil, etofibrato, fenofibrato, ciprofibrato. Efeitos colaterais: Dist gastrintestinais, dist sono, diminuição libido, erupção cutânea, fraqueza muscular; podem aumentar cálculos de colesterol. A associação com estatinas pode levar a miosite e rabdomiólise, podendo ser empregados criteriosamente. A dosagem de CPK e TGP deve ser realizada rotineiramente, principalmente no primeiro ano de tratamento. Niacina ou ácido nicotínico: vitamina do complexo B que reduz TG, LDL e eleva HDL. Deve ser usada com precaução em hepatopatas, etilistas e pacientes com doença renal. Ácidos graxos omega3: efeitos antitrombóticos e na diminuição dos TG. Seu efeito se dá pela diminuição da atividade das enzimas hepáticas responsáveis pela síntese de TG. Sua interação mais importante antiplaquetários pois pode causar hemorragia. é com ENDOCRINOLOGIA DISTÚRBIOS DA FUNÇÃO TIREÓIDEA Profª Drª Léa Maria Zanini Maciel A. Resumos de Casos Ilustrativos Caso 1 - Homem negro de 18 anos, solteiro e inativo, refere aumento do volume cervical anterior, intolerância ao calor, tremores de extremidades, palpitações, edema de membros inferiores e diarréia ocasional há 2 anos. Há 1 ano notou exoftalmia bilateral, com dor ocular, lacrimejamento e "sensação de areia nos olhos", além de uma diminuição dos movimentos dos olhos. Ao exame apresenta-se descorado (+/4), com peso = 66,7 kg (IMC = 19,7). Pele quente e úmida e tremores de extremidades. Tireóide aumentada difusamente de tamanho (10 vezes), parenquimatosa, móvel à deglutição, com superfície irregular, sopro e frêmito. Ritmo cardíaco regular, em 2 tempos, com algumas extrassístoles. FC = 120 bpm e PA = 140 X 90 mmHg. Edema (+/4) de membros inferiores. Olhos com exoftalmia grave, hiperemia e edema conjuntivais, edema e ptose palpebrais e oftalmoplegia bilaterais. T3 = 1.229 ng/dl (normal = 80 – 200); T4 livre > 6 ng/dl (normal = 0,7 – 1,7) e TSH = 0,007 IU/ml (normal = 0,3 – 4,0). Caso 2 - Mulher branca de 34 anos, viúva e do lar, refere quadro insidioso de desânimo, fraqueza, indisposição para o trabalho, cansaço fácil, pele ressecada intolerância ao frio, edema de face e pernas, constipação intestinal e irregularidade menstrual há 6 anos, associado a dispnéia aos esforços e queda da pressão arterial (SIC). Já fez uso de "remédios para o coração", sem melhora. Há 2 meses refere aumento do volume cervical anterior, tendo sido encaminhada para avaliação. Ao exame apresenta peso = 60,9 kg (IMC = 24,8), FC = 60 bpm, PA = 110 X 70 mmHg, pele ressecada, com descamação em placas em membros inferiores e tireóide de tamanho normal, consistência parenquimatosa, com nódulo de 2 cm de diâmetro em lobo direito inferiormente. O restante do exame físico encontra-se normal. T4 < 1,0 g/dl (normal = 4,9 – 12,9) e TSH > 60 IU/ml (normal = 0,3 – 4,0); plasma turvo. Anticorpos antimicrossomal reagente até 1:1602 e anti-tireoglobulina negativo. Cintilografia de tireóide: Tireóide tópica e hipocaptante. Captação de 2 horas = 2,9% (normal = 3,3 – 12,3%) e 24 horas = 1,3% (normal = 10,2 – 34,1%). Punção biópsia aspirativa de tireóide: células foliculares soltas, ativadas células de Hürthle, freqüentes linfonodos maduros, sem sinais de malignidade. H.D. – Provável Tireoidite de Hashimoto. Triglicerídeos = 1.287 mg/dl e colesterol = 467 mg/dl. Caso 3 - Mulher branca de 19 anos, solteira e estudante, refere nódulo em região cervical anterior esquerda há 1 ano e meio, indolor, móvel e endurecido, sem sinais flogísticos locais. Nega aumento do nódulo desde o seu aparecimento. Há 4 meses refere outro nódulo em face anterior do músculo esternocleidomastoideo esquerdo, endurecido e indolor. Nega queixas de hiper ou hipotireoidismo, rouquidão, disfagia e dispnéia. Nega irradiação cervical e/ou cefálica prévia e antecedentes familiares de doença tireoidiana. Ao exame apresenta tireóide aumentada difusamente 2 vezes, com nódulo de 2,5 X 1,5 cm em metade superior do lobo esquerdo, endurecido, indolor e móvel à deglutição. Apresenta ainda 2 gânglios de 1 - 1,5 cm de diâmetro em face anterior do músculo esternocleidomastoideo esquerdo, ambos endurecidos, indolores e aderidos a planos profundos. O restante do exame físico é normal. T4 livre = 1,3 ng/dl (normal = 0,7 – 1,7) e TSH = 1,2 IU/ml (normal = 0,3 – 4,0). Tireoglobulina = 32,6 ng/ml. Cintilografia de tireóide: Tireóide tópica, com volume preservado e morfologia alterada; distribuição heterogênea do radiofármaco, com área hipoconcentrante no pólo superior do lobo esquerdo. H.D. – Bócio nodular, com nódulo "frio" em pólo superior do lobo esquerdo. Glândula normocaptante. Captação de 2 horas = 6,4% (normal = 3,3 – 12,3%) e 24 horas = 10,9% (normal = 10,2 – 34,1%). Ultra-som de tireóide: Nódulo heterogêneo em lobo esquerdo de tireóide, predominantemente hipoecóico, de contornos ligeiramente lobulados, sem halo ao redor, com vascularização na periferia e no interior ao exame com doppler, medindo 2,35 X 2,1 X 1,7 cm. Vários nódulos sólidos, com diâmetro de até 1,4 cm, adjacentes a artéria carótida comum esquerda, sugerindo adenomegalia, tendo os maiores áreas anecóicas no interior. Medidas: LD = 1,67 X 0,98 X 3,66 cm; LE = 3,57 X 0,87 X 0,57 cm e istmo 0,26 cm. H.D. – Nódulo tireoidiano de natureza a/e. Adenomegalia a esquerda. Punção biópsia aspirativa de tireóide: moderada quantidade de células foliculares, geralmente agrupadas, às vezes formando arranjos papilares com numerosas fendas nucleares e poucas pseudoinclusões nucleares; algumas células com estas características apresentam diferenciação oxifílica; numerosos macrófagos, alguns com hemossiderina e poucos leucócitos. H.D. – carcinoma papilífero de tireóide em bócio colóide. Caso 4 - Mulher branca de 51 anos, refere nódulo "frio" em lobo direito (LD) de tireóide há 26 anos (1974), que foi retirado cirurgicamente. Há 23 anos (1977) refere outro nódulo, móvel e endurecido, 2 X 3 cm, em pólo inferior de lobo esquerdo (LE) de tireóide, o qual desapareceu espontaneamente. Há 14 anos (1986) relata novamente nódulo tireoidiano em LE, de consistência normal, com crescimento lento até há 3 anos, quando passou a crescer mais rapidamente. Nega queixas de hiper ou hipotireoidismo, sintomas de compressão local e irradiação cefálica e/ou cervical prévia. Refere 3 irmãs com "problema de tireóide" e avó materna com bócio. Ao exame apresenta nódulo de 3 cm de diâmetro, indolor, móvel, consistência firme, em LE; outro nódulo de 1,5 cm de diâmetro com as mesmas características mais superiormente em LE e um nódulo de 1 cm de diâmetro em pólo superior de LD. O restante do exame físico encontra-se normal. Exames laboratoriais (revisão de pasta e recentes): 1977: T3 = 195 ng/100 ml (normal = 80 – 220) e T4I = 4,9 g/100 ml (normal = 2,9 – 7,5) 1980: Cintilografia tireoidiana: Discreto bócio normocaptante. Captação de 2 horas = 12,4% (normal = 3,3 – 12,3%) e de 24 horas = 24,6% (normal = 10,2 – 34,1%). 1986: T3 = 145 ng/100 ml, T4I = 6,4 g/100 ml e TSH = 1,2 IU/ml (normal = 0,3 – 4,0). Cintilografia tireoidiana: Bócio difuso com registro de maior tamanho e atividade em LE, com nódulo "frio" em pólo superior de LE. Captação de 131I em 2 e 24 horas dentro da normalidade (2h = 10% e 24h = 29,5%). 1988: T3 = 90 ng/100 ml e T4I = 5,8 g/100 ml. Anticorpos antimicrossomal reagente até > 1:100.000 e anti-tireoglobulina negativo. 1996: T4 = 9,7 g/100 ml (normal = 4,9 – 12,9) e TSH = 0,3 IU/ml. 1998: T4L = 1,1 ng/dl (normal = 0,7 – 1,7) e TSH = 0,1 IU/ml. Anticorpo anti-TPO = 16 U/ml. Ultra-som tireoidiano: Glândula tireoidiana aumentada difusamente, com ecotextura heterogênea e com 4 nódulos, todos sem halo periféricos e sem calcificações: 1 em PS LD, heterogêneo, de 1,5 X 0,8 X 1,0 cm; 1 em PI LD, heterogêneo, de 0,9 X 0,9 X 1,1 cm; 1 em PS LE, isoecóico, 3,0 X 2,7 X 2,2 cm e 1 em PI LE, isoecóico, 2,3 X 1,6 X 1,5 cm. PBA Tireóide: Bócio colóide. 2000: T4L = 1,1 ng/dl, T3 = 246 ng/100 ml e TSH = 0,03 IU/ml. Cintilografia de tireóide: bócio nodular ("quente") no LE, com supressão do restante da glândula. Glândula hipercaptante, às custas do nódulo "quente" em LE. Captação 2h = 25% e 24h = 54%. Ultra-som de tireóide: discreto aumento da nodulação de pólo inferior LE, sendo que esta não apresenta cápsula; demais nódulos mantiveram-se sem alterações. A. Questões 1. Como avaliar a função tireóidea? Explique. 2. Quais os principais sintomas e sinais de uma disfunção tireóidea? 3. Quais as etiologias do hipertireoidismo? Como fazer o diagnóstico diferencial em bases clínicas e laboratoriais? 4. Como tratar o hipertireoidismo? Considerar as diferentes etiologias. 5. Quais as principais etiologias do hipotireoidismo adquirido? 6. Como tratar um paciente hipotireóideo? 7. Quais os principais exames para avaliar uma doença nodular tireóidea? 8. Quais as limitações da Punção Biópsia Aspirativa do nódulo de tireóide? 9. Quais os tipos de nódulos benignos e malignos existentes na glândula tireóidea? 10. Qual a conduta na doença nodular da tireóide? TIREÓIDE Relação anatômica importante com traquéia, esôfago e laríngeos recorrentes. Formada por: Células foliculares: produtoras de hormônios tireodianos Células C ou parafoliculares: produtoras de calcitonina A produção de hormônios é regulada pelo eixo hipotálamo-hipófise-tireóide. Neurônios hipotalâmicos sintetizam TRH, adenohipófise o TSH, que vai agir nas células foliculares. TSH na célula folicular: 1) efeito trófico (hipertrofia das células foliculares), 2) estímulo síntese hormônios, 3) estímulo liberação dos hormônios tireoidianos TRH – Hipotálamo TSH – Adenohipófise T3 e T4 - Tireóide TRH é liberado de forma pulsátil com pico entre 0 e 4 da manhã. O iodo é proveniente dos alimentos e da água. Ingesta recomendada pela OMS: 150 g/dia. Eliminação se dá através da urina (+++) e das fezes (+). Auto-regulação tireoidiana pelo iodo: quando há depleção de iodo há um aumento da captação e síntese de T3 em relação a T4. Em casos de excesso de iodo a organificação é inibida (efeito Wolff-Chaikoff). Em pacientes com doenças da tireóide esse mecanismo pode estar abolido. A forma livre dos hormônios que possui importância fisiológica. Mesmo em estado eutireoideo, condições que alteram proteínas carreadoras podem alterar significativamente os níveis de T3 e T4 totais. TSH: 0,5 – 5,0 mU/l T4 total: 5 – 12 g/dl T4 livre: 0,9 – 2,0 ng/dl T3 total: 70 – 190 ng/dl T3 livre: 0,2 – 0,52 ng/dl A tireóide produz 20 vezes mais T4 do que T3. Tecidos periféricos transformam T4 em T3 (principalmente fígado e rim). T3 penetra no núcleo das células aumentando ou diminuindo a atividade da RNA polimerase. Efeito dos Hormônios Tireoidianos: Crescimento, desenvolvimento cerebral, maturidade óssea (feto). Consumo de O2 e produção de calor Efeito inotrópico + e cronotrópico +, aumentando débito e freqüência cardíaca Rapidez de raciocínio e capacidade de concentração eritropoese motilidade da musc lisa Degradação do colesterol HIPERTIREOIDISMO Hipertireoidismo: hiperfunção da glândula tireóide Tireotoxicose: excesso de hormônio tireoediano. O hipertireoidismo leva a tireotoxicose. Doença de Graves Principal causa de hipertireoidismo em nosso meio. É uma desordem auto-imune (anticorpos anti-receptor de TSH - TRAb), com aumento da síntese e secreção de hormônios tireoideanos. Parece haver uma predisposição familiar. Aumento na incidência em indivíduos submetidos a dieta rica em iodo e na gravidez (tolerância imunológica baixa) A glândula encontra-se simetricamente aumentada, com hipertrofia e hiperplasia de células foliculares. Manifestações Clínicas: I) da Tireotoxicose em geral: Insônia, cansaço, agitação psicomotora, incapacidade de concentração, nervosismo, dificuldade de controlar emoções, agressividade, sudorese excessiva, intolerância ao calor, hiperdefecação, amenorréia, oligomenorréia Perda ponderal, apesar de polifagia Pele quente e úmida, tremor fino Hipertensão sistólica, taquicardia sinusal, pode ter FA Atrofia, fraqueza muscular, desmineralização óssea II) da Doença de Graves especificamente: Bócio difuso e simétrico, podendo ter sopro e frêmito sobre a tireóide ( vascularização) Oftalmopatia infiltrativa (20 – 40% dos casos): exoftalmia, olhar fixo, retração palpebral, edema periorbitário, edema e hiperemia conjuntival Dermopatia (menos de 5%): mixedema pré-tibial (espessamento da pele) Acropatia (menos de 1%) baqueteamento digital Achados Laboratoriais: o TSH suprimido o Elevação de T3 e T4 Quando apenas TSH suprimido chamamos hipertireoidismo subclínico o Leucopenia é comum o Anticorpo anti-TPO elevado em 80% dos casos (marcador de doença tireoideana auto-imune) o Anti-receptor do TSH (TRAb) – característico da doença de Graves, mas pesquisa não é necessária na maioria dos casos, já que diagnóstico se faz pelas manifestações clínicas e pela dosagem hormonal o Captação de iodo radioativo nas 24 horas – diferenciar de uma tireotoxicose por tireoidite subaguda (captação baixa ou desprezível) Tratamento: 10 a 20% - remissão espontânea da doença, 50% torna-se hipotireoideo após 20 a 30 anos da doença Drogas anti-tireoideanas: (até remissão) 1. Beta bloqueadores – propranolol, atenolol – fases iniciais, agem nas manifestações adrenérgicas 2. Anti-tireoideanos: (tionamidas) propiltiouracil (PTU) e metimazol (MMI) - Propiltiouracil: Dose de ataque (4-8 semanas) 300 – 600 mg/dia em 3 tomadas Manutenção: 100 – 400 mg/dia em 2 tomadas Inibe formação de hormônios, efeito imunossupressor reduzindo níveis de anticorpos, e em doses elevadas (>600mg/dia) inibe conversão de T4 em T3 - Metimazol: (Tapazol) Dose de ataque (4-6 semanas) 40 mg/dia e 1 – 2 tomadas Manutenção: 5 – 20 mg/dia em 1 tomada Efeito semelhante do PTU O efeito desses medicamentos torna-se mais significativo após cerca de 15 dias de tratamento, pois não agem no hormônio já estocado. A função tireoideana é avaliada pelo T4 livre, cujo alvo é o eutireoidismo. 3. Radioablação com Iodo 131 Risco de crise tireotoxica por lesão glandular. Em idosos ou cardiopatas tratar com drogas anti-tireoideanas por pelo menos 1 mês antes do uso do iodo, suspendendo 3 – 4 dias antes para facilitar captação do iodo Hipoteireoidismo após esse tratamento é quase inevitável (80% dos casos) - acompanhar TSH e T4 livre do paciente. Gravidez e aleitamento são contra-indicações absolutas. Não recomendado em < 21 anos (risco de desenvolver câncer. 4. Tratamento Cirúrgico: índice de complicações não é baixo Indicações: recusa dos outros tratamentos, bócio volumoso com deformidade estética ou comprimindo traquéia, suspeita de neoplasia subjacente, grávidas ou crianças com hiper grave não controlado por drogas antitireoideanas. 5. Tratamento da Oftalmopatia: Prednisona em doses imunossupressoras 60 – 80mg, por 2 a 4 semanas; cirurgia de descompressão da órbita quando necessário. Na gestante o PTU é preferido devido menor passagem pela placenta. No último trimestre tende a abrandar, muitas vezes suspendendo-se o PTU, mas no puerpério é comum exacerbação da doença. Aleitamento materno é seguro com doses baixas. Anticorpos anti TSH podem atravessar placenta causando tireotoxicose fetal ou neonatal. Tratar com PTU dada à própria mãe (fetal) ou ao neonato. OBS: Drogas contendo iodo = amiodarona, contrastes iodados HIPOTIREOIDISMO Síndrome clínica por síntese insuficiente ou ação inadequada dos hormônios tireoideanos com lentificação generalizada dos processos metabólicos. Em formas avançadas ou graves há deposição de mucopolissacarides na derme levando a edema (sem cacifo) = mixedema. Pode ser primário (90%), secundário ou terciário. Etiologia: Tireoidite de Hashimoto: causa mais comum em nosso meio. Podem se apresentar como eutireoideos (2/3), hipotireoideos (1/3) ou hipertireoideos (raro). Doença de Graves: em estágio final Tireoidites subagudas: transitório em 90% dos casos Terapia com Iodo 131 Tireoidectomia subtotal Ingesta excessiva de iodo, medicamentos ricos em iodo, carbonato de lítio Hipopituitarismo, deficiência isolada de TSH, doença hipotalâmica Sinais e Sintomas: Cansaço, fraqueza Pele seca, fria e grossa Pele seca Intolerância ao frio Perda de cabelo Dificuldade de concentração Depressão Amnésia Constipação Ganho de peso com pouco apetite reflexo aquileu Dispnéia Rouquidão Menorragia (depois amenorréia) Parestesias Hipoacusia Edema facial Edema de mãos e pés Alopécia difusa Madarose lateral Hipertensão arterial Bradicardia Edema periférico Retardo na recuperação do Síndrome do túnel do carpo Derrame pericárdico Derrame pleural Perda de libido, fraqueza muscular, cãimbras, demência (no idoso), anasarca. Hipercolesterolemia, hipertrigliceridemia. A intensidade da sintomatologia depende do grau e duração da doença, existindo pacientes assintomáticos ou com sintomas discretos. Cretinismo: hipotireoidismo congênito associado a retardo mental, baixa estatura, freqüente surdo-mudez, inchaço de face, mãos, sinais neurológicos. Diagnóstico laboratorial: TSH elevado e níveis baixos de T3 e T4 (queda de T4 sempre vem antes – por isso não precisa dosar T3). Tratamento: Levotiroxina, dose única, de preferência pela manhã. Dosagem varia com peso do paciente (50 a 200 g/dia....1 – 2 g/kg/dia). Idosos ou coronariopatas (25 a 100 g/dia). Inicia-se com dose baixa (25-50 g/dia) e vai aumentado a cada 7 dias, ou 30 dias no caso de coronariopatas. T4 melhor para reposição devido maior tempo de meia vida (7 dias). Avaliar função tireoideana através da dosagem de TSH em 6 semanas. Se continuar elevado aumentar dose em 25 g/dia até conseguir níveis de 0,5 – 3,0 Ul/ml. Hipotireoidismo Subclínico: Tratar quando tiver pelo menos um de: TSH muito elevado (> 10 um/ml) Anticorpo anti-TPO elevado Dislipidemia Alterações neuro-psiquiátricas atribuíveis ao hipotireoidismo depressão) (ex. Síndrome do Eutireoideo Doente Doenças sistêmicas graves (desnutrição, sepse, AIDS, IAM, grandes queimados, neoplasias, cetoacidose diabética) levam produção exacerbada de citocinas, causando anormalidades no TSH ou no nível de hormônios circulantes, na ausência de doença tireoideana. Coma Mixedematoso Expressão mais grave do hipotireoidismo. Diminuição do nível de consciência Hipoventilação Hipotermia Bradicardia Hiponatremia Hipoglicemia Infecção associada Com baixos níveis de T3 e T4 e TSH elevado. Tratamento: levotiroxina em altas doses, hidrocortisona venosa (evitar crise adrenal). Suporte respiratório, rastreamento microbiológico, correção da hiponatremia, da hipoglicemia e aquecimento. TIREOIDITES da tireóide. Infeccioso, Acometimento inflamatório auto-imune, trauma, radiação, drogas. Levam a lesão do parênquima tireoideano, com extravasamento do conteúdo de colóide dos folículos, liberando T3 e T4 para circulação. Após certo tempo pode se instalar um hipotireoidismo. Tireoidite de Hashimoto Característica de mulheres mais velhas (5 a 8 vezes mais comum em mulheres). Devido auto-imunidade, sendo o principal o anti-tireoperoxidase (TPO) 95 – 100% dos casos. Aumenta significativamente o risco de linfoma de tireóide. Não há tratamento específico. Reposição hormonal ad eternum Tireoidite de De Quervain Quadro álgico associado ou não a tireotoxicose. Acomete mais sexo feminino. É uma doença reativa pós viral (reação cruzada de anticorpos). Diagnóstico é clínico, mas pode-se pedir hemograma, VHS. Tratamento: AINEs doses plenas ou corticóide. DIABETES MELLITUS Prof. Dr. Milton Cesar Foss A) Resumos de casos clínicos ilustrativos Caso 1 - Paciente N.T.; 13 anos – masculino H.M.A.: Referem os familiares do paciente que há cerca de um mês passou a apresentar aumento acentuado de diurese, tanto em volume como na frequência, acompanhada de muita sede, fraqueza geral e perda de peso (mais ou menos 15 quilos), apesar do aumento do apetite. Nos últimos 5 dias o processo agravou-se e o paciente começou a apresentar dor abdominal e confusão mental, sendo trazido ao HC. (Unidade de Emergência). No momento sem outras queixas. Restante: n.d.n. Antecedentes: não tem antecedentes de diabetes na família. E.F.: Estatura – 1,60 m Peso: 45 kg: Estado Geral: regular. Emagrecimento com panículo adiposo escasso. Desidratado (mucosas secas). Musculatura hipotônica e hipotrófica. Hálito cetônico, diminuição do nível de consciência. FC: 120 bpm: PA: 120 x 80 mmHg; Taquipnéia (32 mrp/min.). Restante do exame: n.d.n. Laboratório: Glicemia de jejum: 510 mg/dl (N = 70-115 mg/dl). Glicosúria: ++++. Cetonúria: +++. Uréia: 60 mg/dl (N = 15-30). Gasometria: pH: 7.19 HCO3: 7.3. Na+: 149 mEq/l. K+: 4.0 mEq/l Caso 2 - Paciente 0. B., 59 anos - masculino H.M.A.: Paciente vem encaminhado por seu médico cardiologista. Refere que sentia-se bem até 4 meses, quando iniciou com dor pré-cordial intensa. Procurou o HC., sendo internado na CTI com diagnóstico de I.A.M. Durante internação foi constatado glicemia de jejum de 220mg/dl, sendo-lhe prescrito "dieta para diabético", com restrição de C.H. de absorção rápida. Após alta hospitalar vêm se mantendo bem. Nega poliúria, polifagia ou polidipsia, vago emagrecimento. Persiste seguindo orientação dietética. No momento sem outras queixas. Restante: n.d.n. Antecedentes: tem pai e irmão com diabetes. Em ambos a doença iniciou após os 40 anos. E.F.: Estatura: 1,70m, Peso: 87 kg. Estado geral bom, paciente lúcido e coerente. Obeso, grosso panículo adiposo, hidratação e musculatura sem alterações. Sem hálito cetônico. FC: 80 bpm PA: 150/100 mmHg. FR: 18 mrp/min. Restante do exame: n.d.n. Laboratório: Glicemia de jejum: 115 mg/dl (N = 70-115 mg/dl). Glicosúria: O. Cetonúria: O. Teste de tolerância à glicose (75g de glicose via oral) – Glicemia aos: 0 min: 115 mg/dl; 60 min: 212 mg/dl; 120 min: 201 mg/dl. B) Questões 1. Qual o conceito atual de diabetes mellitus? 2. Quais são os tipos clínicos de diabetes mellitus e intolerância à glicose? 3. Quais os sintomas e sinais clínicos dos casos apresentados que são indicativos de diabetes? Faça a interpretação fisiopatológica destes dados? 4. Qual o procedimento diagnóstico para diabetes em suas várias apresentações clínicas? 5. Tratamento dietético do paciente diabético. 6. A importância da atividade física no tratamento e controle metabólico dos pacientes com diabetes. 7. Quais são as opções do tratamento medicamentoso do diabetes e como elas devem ser indicadas em cada caso? 8. Complicações agudas do diabetes. 9. Quais são as complicações macrovasculares mais frequentes nos pacientes diabéticos? 10. Complicações microvasculares e controle metabólico do diabetes. PNEUMOLOGIA ASMA BRÔNQUICA E RINITE Prof. Dr. Élcio dos Santos Oliveira Viana A) Resumos de casos ilustrativos Caso 1 - Homem, 19 anos, estudante, solteiro. Queixa-se de asma que se iniciou no primeiro ano de vida. Usava medicações durante os episódios de agudização. Não fazia uso crônico de medicamentos (entre as crises). Piora no inverno e por causa de tensão emocional. As crises se caracterizam por cansaço, falta de ar e aperto torácico. Nega outros sintomas respiratórios. Nunca necessitou internação. Apresentou pneumonia uma vez há 10 anos após uma crise de asma. Nunca fumou. Pais são fumantes, nega patologias respiratórias ou alérgicas nos familiares próximos. É míope. Exame físico normal. Espirometria durante crise aguda: VEF1 = 1.37 L (31% do valor previsto), CVF = 1.96 L (36%), VEF1/CVF = 0.70 (86%), Pico de Fluxo = 5.79 L/s (60%). Após uso de salbutamol 200 mcg, os valores mudaram para VEF1 = 1.76 L (melhora de 28%), CVF = 2.78 L (melhora de 42%), Pico de Fluxo = 7.41 L/s (melhora de 28%). Após tratamento da crise, o paciente sentia-se bem e não fazia uso de medicamentos quando nova espirometria foi realizada: VEF1 = 3.0 L (68%), CVF = 5.2 (95%), VEF1/CVF = 0.58 (71%), Pico de Fluxo = 7.55 L/s (78%), houve aumento de 15% do VEF1 após broncodilatador. Caso 2 - Mulher, 46 anos, faxineira, procedente de Pontal-SP. Apresenta, nos últimos 6 anos, episódios de dispnéia, chiado no peito e tosse seca, que pioram quando exposta a odores fortes, nervosismo e alterações climáticas. Nesses períodos, tem sintomatologia durante todo o dia e à noite. Já necessitou de internação por diversas vezes, porém nunca foi intubada e nem internada em CTI. Iniciou uso de medicações há 4 anos, irregularmente, obtendo melhora parcial dos sintomas com as seguintes drogas: aminofilina, fenoterol (inalatório) e prednisona. Relata piora com o uso de beclometasona inalatória. Atualmente, usa prednisona 20 mg/dia e os episódios de dispnéia, tosse e chiado no peito estão menos intensos, menos freqüentes e facilmente melhoram com medicação. Apresenta espirros quando em contato com perfumes e poeira. Na maior parte do tempo, permanece sem espirros, coriza ou obstrução nasal. É tabagista 1 maço/dia, por 25 anos. Piora o quadro respiratório quando toma AAS. Tem um gato em casa, filho e marido são fumantes, reside em casa de alvenaria com forro, piso frio, sem tapetes, sem brinquedos de pelúcia, não usa cobertor (só acolchoado) e tem uma cortina. Tem 3 filhos, um tem rinite alérgica. Ao exame físico, apresentava pele seca, ausculta pulmonar revelava murmúrio vesicular diminuído com sibilos bilateralmente. FR = 22. Espirometria: CVF = 75.7% do previsto, VEF1 = 39.2%, VEF1/CVF = 44.0, FEF25-75 = 13.3%, CPT = 76.4%, VR = 77.7%. Gasometria arterial normal, RX de tórax com espessamento de paredes brônquicas e RX de seios da face com espessamento de mucosa de seio maxilar D e velamento de seio maxilar E. Caso 3 – Mulher, 25 anos, faxineira, procedente de Serra Azul. Aos 9 anos de idade, sentiu chiado e dispnéia durante esforço físico. Aos 11 anos, usava Celestamine (1 vez por mês) e inalações quando tinha sintomas. Há 2 anos, não vinha apresentando sintomas até 5 dias atrás quando teve chiados no peito, dispnéia, obstrução nasal, coriza amarelada e cefaléia. Procurou UBS onde foi medicada (inalação) e teve melhora. Há um dia da internação, os sintomas pioraram e chegou à UBS de Serra Azul apresentando confusão mental, intensa dificuldade respiratória e foi trazida à UE. Ao exame físico, depois de medicada com terbutalina via subcutânea na UBS e na ambulância, apresentava FR = 60, fala entrecortada, murmúrio vesicular presente com sibilos bilateralmente e dor à palpação de seios da face. RX de tórax normal, RX de seios da face revelava velamento de seio maxilar, Gasometria arterial (AA): pH = 7.44, pO2 = 69.3, pCO2 = 31.2, Bic = 21. Hemograma com Hb = 12.4 e leucócitos = 10500 (4% bast, 71% seg, 8% eos). Medida do pico de fluxo (depois de medicada por 24 horas) = 300 L/min (66.6% do previsto). Caso 4 – Mulher, 42 anos, do lar, procedente de Santo Antonio da Alegria. Paciente encaminhada para avaliação pré-operatória com história de asma brônquica. Queixa-se, há 2 anos, de dispnéia, chiado no peito e tosse seca desencadeados por médios esforços, por contato com poeira, fumaça e mudança de tempo. Relata ainda obstrução nasal e cefaléia frontal freqüentes. Freqüência das crises: 1 a cada 2 meses. Fumou (5 cigarros/dia) durante 11 anos, parou há 20 anos. Trabalhou na colheita de café por 20 anos. É hipertensa. Teve pneumonia há 2 anos. Pai apresentou pneumonias de repetição. Medicações em uso: aminofilina 100 mg, 2 vezes ao dia; digoxina ¼ cp ao dia; hidroclorotiazida 50 mg/dia. Ao exame físico: obesidade, PA = 160/120, murmúrio vesicular diminuído difusamente sem ruídos adventícios. Gasometria arterial normal. RX tórax: cardiomegalia. Hemograma: Hb = 14.4, leucócitos = 10.000, eosinófilos = 3%. Espirometria: CVF = 102.1% do previsto, VEF1 = 94.4%, FEF25-75 = 75.9%, VR = 85.4%, CPT = 98.9% o valor de VEF1 aumentou de 2.54 L para 2.64 L (4%) após uso de broncodilatador e o valor de CVF aumentou de 3.27 L para 3.46 L (5.8%). A medida de reatividade brônquica será discutida. B) Questões 1. Quais são os critérios que nos permitem confirmar o diagnóstico de asma? 2. Quais são as características que classificam a asma crônica em termos de gravidade? 3. Como interpretar a função pulmonar antes e depois do tratamento crônico da asma? 4. Qual é a importância da medida de função pulmonar na crise, exacerbação aguda, de asma? 5. Cite sinais ao exame físico que indiquem a gravidade da asma durante exacerbação aguda? 6. Quando devemos intubar o paciente asmático? 7. Como avaliar e tratar o paciente com rinite? ASMA É a mais comum das doenças crônicas pulmonares, atingindo pacientes de todas as idades. É uma situação de hiperresponsividade e processo inflamatório crônico da árvore brônquica, levando à obstrução das vias aéreas, reversível espontaneamente ou após tratamento. Epidemiologia: Prevalência mundial: 3-7 %. No Brasil: 10% (maioria nos centros urbanos). Apresenta distribuição etária bimodal: principal pico na infância entre 3-10 anos (50%) e outro pico nos adultos entre 5070 anos (25%). Fatores de Risco: 1- fator genético (25% se 1 dos pais e 50% se ambos asmáticos); 2- atopia (prevalência pode ↑ 1-20 x nestes indivíduos), principalmente rinite alérgica; 3vida urbana (maior contato a alergenos); 4- baixas condições sócio- econômicas (maior confinamento e piores condições de moradia) Patogênese: é uma doença inflamatória crônica das vias aéreas. Afeta tanto as vias aéreas proximais (traquéia, brônquios fontes e lobares) qto as distais (brônquios de pq calibre, bronquíolos). A hiperreatividade brônquica é conseqüência direta da inflam crônica. A obstrução é devido a: broncoespasmo, edema da mucosa e formação de tampões de muco e céls epiteliais descamadas no interior da árvore brônquica. A reação inflamatória é dependente de vários fatores: os eosinófilos e linf. T possuem um papel crucial na patogênese e os mastócitos possuem importância mandatória na asma alérgica. Classificação: 1- Extrínseca alérgica: responsável por 70% em menores de 30 anos e em cerca de 50% nos maiores. È mediado pôr IgE ligados à superfícies de mastócitos. È desencadeado por alergenos (ex.: ácaros, grão de pólen) 2- Extrínseca não- alérgica: principalmente a asma ocupacional. Também existe a asma induzida por aspirina, desencadeada pelo uso curto ou prolongado e pode permanecer por vários anos após suspensão da droga ( 2-3% dos casos em adultos). Quadro Clínico: episódios de dispnéia, tosse, e sibilância (tríade clássica) Caracteristicamente esses sintomas são desencadeados por: alérgenos, infecções virais, exercício, emoções, mudança climática, fármacos e fumo. Exame Físico: taquipnéia, tempo expiratório prolongado. Nos casos + graves: sinais de esforço ventilatório franco ( tiragens, batimento de asas nasais, respiração abdominal paradoxal). Na crise grave que cursa com hipoxemia podese observar cianose do tipo central (lábios, lobo da orelha). Na ausculta há: sibilos, geralmente difusos, podem ser apenas expiratórios (tb inspiratórios qdo obstrução brônquica é + intensa). Na crise muito grave pode- se não escultar sibilos devido ao fluxo aéreo extremamente baixo, neste caso há tb ↓ do MV associado a esforço respiratório importante. Também podem haver roncos qdo vias aéreas cheias de muco. Os principais critérios de gravidade são: dificuldade de falar, taquipnéia >30rpm, taquicardia >110bpm, uso da musc. Acessória, cianose central e pulso paradoxal. Diagnósticos Diferenciais: Ins. Cardíaca, TEP, Obstrução da laringe ou traquéia, Traqueomalácia, Corpo estranho, Esofagite de refluxo. Exames Complementares: -RX Tórax: pode ser solicitada visando afastar complicações (pneumonia, pneumotórax). No asmático leve é normal. No mod a grave pode- se observar sinais de hiperinsuflação pulm ( padrão semelhante ao da DPOC). - Prova de Função Pulmonar (PFP): de fundamental importância. Estabelece gravidade e a resposta à terapêutica. Basea- se em 4 elementos: 1-Espirometria (exame mais importante): 1.1- VEF 1: está reduzido na crise e freqüentemente no período intercrítico. Pode ser utilizado p/ quantificar gravidade da doença. O VEF 1 de adulto de 70Kg deve ser de 2 L. 1.2- Pico Expiratório de Fluxo ( PEF) 1.3- Capac Vital Forçada (CVF): na asma mod a grave pode haver aprisionamento de ar nos pulmões, portanto a CVF se encontrará reduzida. 1.4- VEF 1/ CVF ( Índice de Tiffenaud): está ↓ na asma, sendo + específico q o VEF 1 isolado. O VEF ! pode estar ↓ nas dçs pulm restritivas, porém nelas a CVF reduz- se proporcionalmente, não alterando importântemente este índice. Já nas dçs obstrutivas o VEF 1 ↓ muito mais q a CVF, e nestes casos o índice está menor que 0,75. 1.5- FEF 25-75%: Neste momento da expiração forçada, o ar está vindo das vias aéreas + distais, q são aquelas + acometidas na asma e na DPOC, portanto se encontrando bastante reduzida. Este é o exame + sensível (1° q se altera e último a se normalizar). 2- Cálculo dos volumes pulmonares 3- Estimar a capacidade de difusão do CO 4- Gasometria Arterial Critérios Diagnósticos: 1- ↓ do VEF1/ CVF, sendo q o VEF1 ↑ em + de 12% com a inalação de B2- agonista de curta duração ( Prova Broncodilatadora Positiva) 2- Se o VEF! For normal no período intercrítoco, procedese ao Teste Provocativo, utilizando- se baixas [] de metacolina (um broncoconstritor). ↓ de + de 20% no VEF1 denota hiperreatividade brônquica 3- Se a PEF variar + de 20% num período de 2-3 semanas. Deve- se considerar a média de três medidas efetuadas pela manhã e à noite. Ou então se a PEF ↑ + de 20% ( 30% em crianças) 15 minutos após inalação de B2agonista de curta duração Gravidade da Asma: Intermitente Persistente leve Persist. Mod. Persist. Grave Sintomas Atividades Crises PFE Diários mas Diários não contínuos contínuos Limitação diária Falta freqüente. Sintomas com exercícios leves (andar no plano) Ocasionais Infrequentes Freqüentes Freqüentes(leves) Algumas Algumas graves controladas requerendo com ida à Necessidade com Bd, curso de emergência, de sem ida à corticóide uso de corticóide emergência corticóides sistêm., sistêm. ou internação internação ou com risco de vida Raros ≤2x/mês Prejudicadas Algumas faltas. Sintomas com exercício moderado (subir escadas) Ocasionais Comuns Quase >2x/mês > 1x/ sem diários e≤ 1x/sem > 2x/sem 2 > 2x/sem ≥ 2 x/ dia p/ ≤ 1 vez/ ≤ sem vezes/sem e < 2x/dia Pré-Bd < ou Pré-Bd > Pré-Bd ≥ Pré-Bd Sintomas Noturnos Bd alívio vez/ ≥ 1vez/sem e < 1 vez/dia Em geral Limitações normal, p/ gdes falta esforços. ocasionais Faltas em escola ocasionais. ou trabalho ≤ 1 sem VEF 80% do 80% do entre 60 e 60% previsto previsto 80% previsto previsto do Algoritmo de tratamento da exarcebação de asma no adulto no PS: Rápida avaliação da gravidade: Não consegue falar, exaustão, cianose, Clínica, PFE, rebaixamento de consciência ↓ ↓ Até 3 doses de B2- agonista a Cuidados Intensivos OxigÊnio 3 L/min se SatO2 ≤ 95% → SaO2 cada 10-30 min RESPOSTA COM 30 MINUTOS: Boa Ausente/ Pequena Sem sinais de Persistência de sinais de Gravidade Gravidade PFE > 70% PFE 30 a 50% Parcial Piora Redução dos sinais de Piora dos sinais Gravidade de gravidade PFE 50 a 70% PFE < 35% Alta Manter no PS Manter no PS Manter B2 via inalatória, 2 a B2 a cada 30 a 60 min até Manter B2 a cada 20 a 30 5 jatos cada 4h por 48h. 4h. Associar ipratrópio. min até 4h. Associar ipra- Prednisona,ou equivalente, 1 a equivalente, trópio e/ou xantina e corti 2mg/kg, max. 40 a 60 mg, VO cóide IV: metilprednisolo no PS e em casa por 3 na 40-60mg ou hidrocort. Prednisona, ou 60 mg a 7 dias RESPOSTA ENTRE UMA A QUATRO HORAS: Boa Parcial ou não resposta Sem sinais de gravidade ou fatores Sinais de gravidade ou asma de risco PFE> 70% (aceitável >50%). PFE < 70%. INTERNAR Continuar B2 em dose alta, orientar técnica de uso dos dispositivos. Prednisona 40-60mg por 7 a 10 dias. Referir ao especialista. de risco. ALTA Dose dos medicamentos: Aerossol dosimetrado (AD) + espaçador de gde volume: B25 jatos; ipratrópio- 3 jatos Nebulizador de jato- SF 0,9% 3 a 5 ml, O2 6 L/min, máscara bem adaptada à face B2-agonista: 2,5mg (10 gotas); ipratrópio: 250nanogramas (20 gotas) Pacientes graves podem beneficiar- se com o dobro da dose usual. Medicamentos utilizados: - De alívio: p/ melhorar os sintomas agudos e exacerbações. São os: Badrenérgicos, teofilina, anticolinérgicos, corticosteróides. - De controle: p/ obter e manter a doença assintomática. São: corticóides, cromoglicato dissódico, antagonistas de leucotrienos. B2- agonistas: drogas de escolha no tto da crise asmática. Causam broncodilatação, tb ↓ a liberação de mediadores e ↑ o transporte mucociliar. B2 de curta duração: terbutalina, fenoterol e salbutamol. São altamente seletivos p/ trato resp. e praticamente ñ efeitos cardíacos significativos (exceto em doses altas). Principal efeito colateral: tremor.São ativos por todas as vias de administração. Seus efeitos são relativamente duradouros (4 a 6h). B2 de longa duração: salmeterol e formoterol. Ação muito prolongada (9-12h). Qdo fornecido a cada 12h é eficaz ao fornecer alívio sintomático mantido. Útil na asma noturna e induzida por exercícios, mas ñ em crises agudas devido início de ação lento (30 min). Metilxantinas (teofilina/ aminofilina): têm sido cada vez mais abolidos no tto da crise asmática, especialmente depois do advento da utilização rotineira de corticóides nas crises + graves. O efeito broncodilatador é pequeno e elas possuem um perfil de toxicidade desfavorável. São os efeitos imunomoduladores e estimulantes do movimento ciliar, bem como o efeito analéptico respiratório (maior contratilidade diafragmática) que ainda garantem algum papel dessa medicação na asma, especialmente na terapia de manutenção. Corticóides: são os antiinflam. + potentes e ficazes disponíveis. Os orais e EV são úteis na dç aguda ou na dç crônica qdo houve falha de um esquema previamente ideal com recorrências freqüentes de sintomas de gravidade crescente. Os glicocorticóides inalatórios sãousados no tto prolongado da asma. Anticolinérgicos: brometo de ipratrópio. É administrado por via inalatória, com propriedades broncodilatadoras. Estas drogas são menos eficazes e demoram + p/ agir (30-60 min), qdo comparadas aos B2. Porém podem ser associadas com os B2 p/ efeito aditivo nos casos de crise mod/grave ou pouco responsiva à terapia inicial. O brometo de ipratrópio é a droga de escolha p/ tratar a crise precipitada por Bbloqueadores. Agentes estabilizadores do mastócito: cromoglicato dissódico. São excelentes alternativas como terapia de manutenção na asma alérgica leve persistente e na induzida pelo exercício (a aplicação deve ser feita 30 min antes do exercício). Podem eventualmente ser associados aos cortic. Inalatórios na asma mod. Estão disponíveis na forma inalatória. Devem ser administrados de 6/6h (meia vida curta) Antagonistas de receptores de leucotrienos: montelucast e zafirlucast. É um broncodilatador modesto que reduz a morbidade da asma, fornece proteção contra a asma induzida pelo exercício e ↓ os sintomas noturnos, mas tem eficácia limitada contra alérgenos. Tb podem ser usados no tto da asma leve persistente, especialmente qdo induzido por aspirina; podem tb ser associado aos cortic. Inalatórios p/ tto da asma mod ou grave. Comodidade posológica: 1x/dia VO, mas muito caros. OBS.: além do tto medicamentoso, na asma a eliminação de agentes causais do ambiente de um indivíduo alérgico com asma é o meio + bem-sucedido disponível p/ tratar esta afecção. Necessidade de intubação: qdo o paciente se encontra com confusão mental e/ou SatO2 < 90% (dado em aula). Quando há alteração da consciência, exaustão óbvia, tórax silencioso, cianose, uso de musc. Acessória e movimento paradoxal do abdômen. Indicações: -Absoluta: Parada respiratória; Alt. do nível de consc. c/ inabilidade de manter a ventilação. -Relativa:Arritmias;Isquemia miocard.;Acidose láctica ñ resolvida;sinais d fadiga da musc. RINITE ALÉRGICA É reação de hiperssensibilidade imediata, mediada por IgE, contra alérgenos como pó domiciliar, esporos de fungos, pêlos de animais e + raramente por alimentos, sobretudo o leite de vaca. A interação desses alérgenos c/ a IgE dos mastócitos nasais promove liberação de mediadores farcacologicamente ativos, o principal é a histamina ( a qual provoca vasodilatação, edema da mucosa e ↑ na produção de muco). Clinicamente caracteriza- se por obstrução e prurido nasais, espirros em salva, rinorréia (que pode ser fluida e hialina ou espessa e mucopurulenta), respiração bucal, roncos e cefaléia. A tosse noturna é muito + freqüente em crianças. Ao exame físico observamos palidez cutânea, escurecimento periorbitário e dupla linha infra- orbitária. O palato em ogiva, assim como a má oclusão dentária, ocorrem + freqüentemente em crianças devido à respiração bucal por longo tempo (fascies adenoidiana). É freqüente o acometimento dos seios paranasais e do ouvido médio. Como a mucosa q reveste o nariz prolonga- se p/ os seios da face, é praticamente impossível dissociar rinite alérgica da sinusopatia. O acometimento dos seios da face no adulto leva a queixas típicas (cefaléia, dor na face, etc), o que ñ se observa na criança. A avaliação laboratorial da rinite e sinusite alérgicas é feita por: citograma nasal (pesquisa de eosinófilos), radiografia dos seios paranasais, avaliação audiológica (audiome- tria e impedanciometria), testes cutâneos de hipersensibilidade imediata (inaláveis) e nível sérico de IgE total e especifica. Tratamento:dividido em cuidados ambientais e tto medicamentoso. Tto sintomático: -Agentes adrenérgicos: vasoconstrição na mucosa nasal. Podem ser usados topicamente por curto prazo (3 a 5 dias) p/ alívio de sintomas agudos. Sua indicação atual é associadamente a anti- histamínicos. Os de uso tópico são: fenilefrina, nafazolina, oximetazolina e xilometazolina. O uso prolongado leva a efeito rebote: edema cada vez + acentuado da mucosa, c/ o uso progressivamente maiorda droga, caracterizando rinite medicamentosa. -Anti- histamínicos: os por VO são + eficazes qdo usados precocemente no quadro da rinite alérgica e têm maior dificuldade em controlar a obstr. nasal já estabelecida. Existem várias classes de anti- H1 (ex.: etanolamina, piperidina, etc). Efeitos colaterais: já foram descritas complicação cardíacas cardícas, principalmente qdo associado a atb macrolídeos ou antifúngicos. Aquisição recente foi a de anti- H1 p/ uso tópico nasal a azelastina (1 jato/narina 2x ao dia); vantagem: menores efeitos colaterais; principal indicação:qdo obstr. nasal ñ é tão importante no quadro clínico. - Cromoglicato dissódico: como medicação profilática, na [] de 2-4% em salina, apresenta bons resultados. Usar c/ freqüência (6x/ dia). - Corticóide: o tópico nasal (beclometasona, fluticasona...) deve ser iniciado qdo não haver controle dos sintomas c/ as medicações acima citadas. Sistêmicos: qdo quadros de rinite muito intensos , por curto prazo (prednisona ou prednisolonaVO). OBS.: tto da rinite aguda dado em aula: anti- alérgico por 15-20 dias + corticóide nasal INFECÇÕES DAS VIAS AÉREAS SUPERIORES Prof. Dr. José Antonio Baddini Martinez A) Resumos de Casos Ilustrativos Caso 1 - Mulher de 25 anos há dez dias iniciou com quadro de coriza, espirros, prurido nasal e astenia. Há sete dias notou sensação de febre e tosse seca esporádica que foi progressivamente aumentando em intensidade. Há três dias vem apresentado cefaléia frontal, acompanhada por tosse várias vezes ao dia com expectoração amarelada, sensação da presença de secreção retrofaríngea e mau hálito. Hoje apresentou um episódio febril de 38,5oC. Nega outros dados relevantes. Exame Clínico normal a não ser pela presença de dor a compressão facial em região maxilar e supra orbitária. A inspeção da garganta mostrava a presença de secreção purulenta descendo pela parede posterior da faringe. Caso 2 - Paciente masculino de 45 anos, fumante de dois maços de cigarro ao dia desde os 20 anos de idade. Há sete dias iniciou com sensação de mau estar geral, coriza hialina, astenia e febre medida de 37,7oC. Há quatro dias iniciou tosse inicialmente seca, que no momento se apresenta com expectoração amarelo-esverdeada. A tosse vem em salvas levando a desconforto e ardor retro-esternal. Não observou febre nos últimos dois dias nem sente dispnéia atualmente. Ao exame físico foi observado a presença de raros roncos esparsos pelo tórax e alguns estertores grossos nas bases. Uma radiografia de tórax tirada no CSE foi compatível com a normalidade. Caso 3 - Paciente masculino de 16 anos, sem nenhum antecedente patológico significante, procurou o CSE referindo que há 12 horas iniciou com quadro de dor para deglutir e febre de 38,5oC. Em seguida iniciou rouquidão tendo se auto medicado com dipirona VO há seis horas. Há três horas iniciou dificuldade respiratória intensa e ruídos para respirar. Ao exame físico encontrava-se agitado, febril (39oC) e dispnéico, sendo ouvido estridor laríngeo à distância. A freqüência respiratória era de 34 ipm e à ausculta pulmonar revelava roncos disseminados. Uma radiografia de tórax foi normal, mas um estudo radiológico da face lateral do pescoço mostrava imagem compatível com alargamento da epiglote. Caso 4 - Uma mulher de 24 anos procurou serviço médico relatando dor para deglutir há cinco dias, acompanhada por febre de até 38oC. Relatava ainda mau estar geral e mialgia. Há dois dias notou surgimento de "caroço no pescoço" doloroso. Negava qualquer outro antecedente significante. Ao exame físico foi detectada linfadenomegalia submandibular direita e a faringe mostrava mucosa congesta e hiperemiada, com aumento do volume das amígdalas e presença de pontos purulentos. Os demais dados de exame físico foram normais. Caso 5 - Um homem de 37 anos procurou o CSE relatando que há dois dias iniciou com quadro de cefaléia frontal, espirros, coriza nasal e sensação de fadiga. Negava outros sintomas ou qualquer antecedente médico relevante. Ao exame físico estava em bom estado geral, com coriza nasal hialina, e sem outras anormalidades de exame físico. B) Questões 1. Quais são os sintomas e sinais que em conjunto sugerem um diagnóstico de sinusite aguda? 2. Como diferenciar temporalmente uma sinusite aguda de uma sinusite sub-aguda, e de uma sinusite crônica? Quais são os germes mais freqüentemente associados a tais situações? 3. Quais são os fatores predisponentes para sinusites? 4. Quais são as complicações potenciais de um quadro de sinusite aguda? 5. Qual a real utilidade dos estudos radiológicos dos seios da face e quando indicalos em um paciente com quadro de sinusite? 6. Quais são as drogas de primeira linha e de segunda linha para o tratamento das sinusites? 7. Quais são os agentes envolvidos com quadros de faringite aguda e como tratala? 8. Qual o quadro clínico do crupe e da epiglotite? 9. Como tratar pacientes com quadros de gripe e resfriado comum? 10. Quais são as manifestações clínicas e radiológicas da bronquite aguda e como trata-la? SINUSITE Infecção dos seios da face, princ. como complicações das rinofaringites. Classificação: o Aguda: 10 dias a 4 semanas. o Subaguda: 4 a 12 semanas. o Crônica: > 12 semanas. o Recorrente: ≥ 4 episódios agudos/ano. Fatores predisponentes para sinusites: Infecção viral (precursor mais comum), inflamação de origem alérgica ou por poluentes. A mucosa da região nasal torna-se edemaciada e obstrui a comunicação dos seios paranasais com as fossas nasais (óstios). Como o epitélio dos seios é o mesmo do nariz (pseudoestratificado ciliado), com células produtoras de muco e ciliadas, esta obstrução leva à retenção de secreções e desenvolvimento de uma infecção. Por isso é chamada de rinossinusite. Infecções dentárias tb podem evoluir para sinusite, único caso em que a sinusite não é acompanhada de rinite. Uma criança abaixo de 1 ano não evolui de rinofaringite para sinusite e sim para abscesso periorbitário, pois ela ainda não tem os seios completamente formados. Agentes mais comuns na sinusite aguda: o Pneumococo o Haemophilus influenzae o Moraxella catarrhalis o S. aureus Agentes mais comuns na sinusite crônica: o Pneumococo o Bacterióides (anaeróbios gram +) Sintomas: o Resfriado por mais de 10 dias e menos de 30 dias (que não melhora) o Sensação de peso na face, não conseguindo baixar a cabeça. É uma dor característica, princ. matutina (devido a estase de secreção à noite) e localizada. Ex. no canto interno dos olhos – etmoidal; região occipital e temporal - esfenoidal o Tosse seca ou produtiva o Febre o Corrimento nasal – rinorréia purulenta o Cefaléia o Mau hálito e mau-cheiro oriundo do nariz o Mal-estar generalizado Sinais: o Dor à palpação e percussão dos seios da face. o Presença de secreção saindo do óstio para o meato médio na rinoscopia. o Na oroscopia, presença de secreção purulenta em região retrofaríngea, descendo pela parede posterior da faringe. Raio X: Não é necessário para fazer diagnóstico de sinusite aguda, que é clínico. É indicado, por exemplo, qdo criança impede o exame físico. As incidências que devem ser pedidas são: o Naso-fronto o Mento-naso (Waters) o Perfil o s/n Cavum perfil: para ver adenóides o Achados: Opacificação completa, nível hidro-aéreo (aguda), desvios de septo, cornetos nasais aumentados obstruindo a fossa nasal, espessamento de mucosa ≥ 4 mm. Tratamento da sinusite aguda: o Antiinflamatórios e Vasoconstrictores tópicos s/n o 1ª Linha: Amoxacilina VO 500mg de 8 em 8 hs por 10 a 14 dias (14 a 21 dias em crianças) ou associado com Clavulanato (Clavulin), no caso de resistência. o 2ª Linha: Claritromicina ou Eritromicina(32,5% de resistência) o Há muita resistência contra o Bactrin: 80% pelo Pneumococo. Tratamento da sinusite crônica: deve ser realizado por 3 a 6 semanas. o Amoxicilina-Clavulanato (Clavulin) o Cefuroxima o Cefpodoxima o Claritromicina o Azitromicina Complicações da sinusite: o Extracranianas: Celulite orbitária e abscesso orbitário, que originam-se geralmente da sinusite etmoidal. Abscesso subperósteo frontal (tumor edematoso de Pott), a partir da sinusite frontal. Os abscessos devem ser imediatamente drenados cirurgicamante, assim como o seio da face. É feita ATBterapia EV. o Intracranianas: Abscesso epidural, empiema subdural, abscesso cerebral e tromboflebite venosa dural, principalmente decorrentes de sinusite frontal ou esfenoidal. Como o seio esfenoidal se aloja entre os dois seios cavernosos, a sinusite esfenoidal é uma causa importante de trombofelbite do seio cavernoso. BRONQUITE AGUDA Inflamação da árvore brônquica, geralmente precedida por uma infecção das vias aéreas superiores, que ocorre quando seus minúsculos cílios param de eliminar o muco presente nas vias respiratórias. Esse acúmulo de secreção faz com que os brônquios fiquem permanentemente inflamados e contraídos. A bronquite pode ser aguda ou crônica. A diferença consiste na duração e agravamento das crises, que são mais curtas (uma ou duas semanas) na bronquite aguda, enquanto, na crônica, não desaparecem e pioram pela manhã. Ela é mais comum no inverno e muitas vezes é causada pelos mesmos vírus dos resfriados. Em alguns casos pode ser uma infecção bacteriana. O cigarro é o principal responsável pelo agravamento da doença. Poeiras, poluentes ambientais e químicos também pioram o quadro. Vírus: o Adenovírus o Influenza o Coronavírus o Rinovírus Bactérias: o Chlamydia pneumoniae o Bordetella pertussis o Mycoplasma pneumoniae Essas bactérias podem invadir secundariamente a árvore brônquica numa bronquite aguda viral. Transmissão dos vírus: pelo ar em que o doente tossiu ou objetos contaminados. Sintomas: Tanto na forma aguda quanto na crônica, a tosse é o principal sintoma da bronquite. Pode levar a desconforto retroesternal. Tosse seca que evolui para produtiva com escarro denso e mais adiante torna-se purulento (amarelo ou esverdeado) ocorre na bronquite aguda. Na crônica, porém, a tosse é sempre produtiva e a expectoração, espessa. Dispnéia, chiado e febre são outros sintomas da doença. Exame físico: roncos e sibilos difusos Raio X: serve para afastar possibilidade de PNM. O tratamento geralmente é sintomático e visa o alívio da febre, dores no corpo e a fluidificação da secreção para facilitar a eliminação. A inalação de broncodilatadores pode aliviar a dificuldade respiratória. A fisioterapia respiratória contribui para a eliminação da secreção através de manobras de higiene brônquica; aliviam o desconforto respiratório através de técnicas que melhoram a ventilação e oxigenação, além de ensinar tosses mais efetivas e com menor gasto energético. A prevenção se baseia em hábitos como lavar as mãos e tapar a boca e o nariz, quando tossir ou espirrar, já que a contaminação pode ocorrer através do contato entre as pessoas. BRONQUIOLITE A bronquiolite é uma doença, que se caracteriza por uma obstrução inflamatória dos bronquíolos. Geralmente é causada por uma infecção viral e afeta principalmente crianças até 2 anos de idade. Assim como a bronquite, a bronquiolite também é uma doença sazonal, ocorrendo principalmente nos meses de outono e inverno. A obstrução bronquiolar origina-se do espessamento das paredes bronquiolares e por tampões de muco e detritos celulares. A obstrução parcial dos bronquíolos pode acarretar aprisionamento de ar (hiperinsulflação) e se a obstrução for completa, atelectasia (colapso pulmonar). Dentre as várias causas da bronquiolite estão: danos pela inalação de poeira; fogo; gases tóxicos; cocaína; tabagismo; reações induzidas por medicações; infecções respiratórias. O vírus sincicial (VSR) é o principal responsável, embora outros, como o parainfluenza e o adenovírus possam ser também causadores. O VSR pode causar infecção no nariz, garganta, traquéia, bronquíolos e pulmão, sendo que os sintomas são leves como os da gripe em adultos e crianças maiores, já nas crianças com menos de 1 ano, o VSR pode causar pneumonia ou uma infecção freqüente na infância, a bronquiolite. O VSR é muito contagioso e se dissemina de pessoa a pessoa, por meio do contato das secreções contaminadas do doente com os olhos, nariz, boca do indivíduo sadio. O doente, ao levar sua mão à boca, nariz ou olhos, acaba contaminando as suas mãos e, ao tocar em outra pessoa, a doença se espalha. Os fatores de risco para o desenvolvimento da doença são: ter menos de 6 meses de idade; exposição a fumaça de cigarro; viver em ambientes com muitas pessoas; criança que não foi amamentada pela pela mãe ou é prematura. Os sintomas mais comuns são: tosse intensa; febre baixa; irritabilidade; diminuição do apetite; taquicardia, FR>60ipm, vômito (em crianças pequenas); otalgia (nas crianças); conjuntivite, BAN e cianose. Os sintomas desaparecem dentro de uma semana e a dificuldade em respirar melhora no terceiro dia. A administração de oxigênio é necessária, exceto em casos muito leves. Broncodilatadores (adrenalina, isoproterenol, aminofilina, salbutamol e outros) podem facilitar a entrada e saída de ar nos pulmões. Corticoesteróides não mostram vantagens em alguns estudos feitos. Em casos graves seu uso é admitido. Nos casos graves em que a criança faz apnéia utiliza-se a ventilação mecânica. Manobras de higiene brônquica (exceto tapotagens, pois pode aumentar a obstrução das vias aéreas) para ajudar a fluidificar e eliminar secreções, ensinar e fazer técnicas para melhorar a ventilação e eliminação de secreções, quando o paciente não for criança. Complicação: sibilância recorrente pós bronquiolite. EPIGLOTITE A epiglotite aguda (supraglotite) é uma celulite rapidamente progressiva da epiglote, ameaçadora à vida, que pode provocar obstrução completa das vias respiratórias. É uma emergência médica, pois a oclusão pode ocorrer de forma súbita. Começa com uma celulite entre a base da língua e a epiglote, empurrando a epiglote posteriormente e tornando-a edemaciada. Antes da vacina contra H. influenzae tipo b (Hib) era mais comum em crianças de 2 a 4 anos. Hoje está reduzida em mais de 95% nas crianças. Nos adultos não se modificou. Quadro: Febre de algumas horas, irritabilidade, disfonia (voz abafada, de batata quente), odinofagia e disfagia, dispnéia (25%), salivação (15%) e estridor (10%). A criança geralmente fica quieta, sentada e numa posição característica, com hiperextensão do pescoço. O estridor aparece tardiamente quando a obstrução já é quase completa. Radiografia lateral do pescoço: Mostra epiglote aumentada (sinal do polegar). Esse exame é valioso qdo positivo, mas pode ser falso negativo. Subglote é normal. Não se deve fazer a visualização direta da faringe com uso de abaixador de língua pelo risco de laringoespasmo imediato e obstrução. Utilizar laringoscópio flexível (em adultos) de fibra óptica e providências para garantia das vias aéreas. As hemoculturas são positivas em 25% dos casos e todos são por H. influenzae. microorganismos isolados da faringe: H. parainfluenzae, S. pneumoniae, Streptococcus do grupo A e S. aureus. Tratamento: no mínimo por 7 dias o Cefuroxima o Ampicilina/Sulbactan: 3g EV 6x6hs o Clindamicina + Bactrin ou Ciprofloxacina, em casos de alergia à penicilina Profilaxia: Utiliza Rifampicina. Deve ser feito qdo o pcte possui contatos domiciliares que incluam uma criança não vacinada <4anos, para erradicar o estado portador. Outros CRUPE É uma laringotraqueobronquite aguda, uma infecção que causa edema subglótico acentuado. Faixa etária: princ. crianças de 2 e 3 anos de idade. Etiologia: A mais comum é o vírus parainfluenza, mas tb pode ser provocado por outros como influenza ou VSR. Sintomas: o Febre o Rouquidão o Tosse “metálica” o Estridor inspiratório Deve ser diferenciado da epiglotite, que evolui com maior rapidez e produz uma aparência mais toxêmica. Radiografia ântero-posterior do pescoço: Mostra edema subglótico (sinal da ampulheta), enquanto que na epiglotite mostra uma epiglote espessa. Pctes com crupe gravedevem ser hospitalizados, monitorados para hipoxemia e observar necessidade de intubação. A umidificação é comumente prescrita, mas há poucos estudos. A epinefrina racêmica nebulizada proporciona melhora temporária (2hs) nos pctes com estridor acentuado, mas observar ocorrência de edema rebote. Glicocorticóides, por nebulização ou EV, são muito benéficos, e seus efeitos evidenciam-se em 1 hora. Também diminuem a necessidade de hospitalização. Ex. Doses únicas de Dexametasona IM ou Budesonida nebulizada. FARINGITE Muitos casos ocorrem como parte de resfriados comuns provocados por rinovírus, coronavírus e parainfluenza. Sensação de arranhadura ou dor na faringe, bem como coriza e tosse. A faringe está edemaciada e inflamada, mas sem exsudato. O vírus influenza e o adenovírus podem causar faringite grave, com febre e mialgias. Nesses tb há edema e eritema faríngeos, mas o adenovírus frequentemente causa um exsudato, simulando a faringite estreptocócica. A mononucleose infecciosa pelo vírus Epstein-Barr tb provoca exsudação (em 50% dos casos) e tb simula a faringite estreptocócica. Herpangina: originada pelo vírus Coxsackie, apresenta febre, faringite, mialgia e um enantema vesiculoso no palato mole entre a úvula e as amígdalas. A causa bacteriana mais importante é o Streptococcus pyogenes beta-hemolítico do grupo A, responsável por 15% de todas as faringites. Pode ter complicaões supurativas (abscesso periamigdaliano e retrofaríngeo) e não-supurativas (escarlatina, Sd do choque tóxico estreptocócico, febre reumática, glomerulonefrite aguda pós-estreptocócica) Quadro clássico: o Febre o Faringite grave o Adenopatia cervical o Inflamação das amígdalas e da faringe que ficam cobertas por exsudato Mas muito casos de faringite estreptocócica são leves, com eritema mínimo e sem exsudato, simulando a faringite do resfriado comum. O diagnóstico é definido por cultura, em que um teste positivo confirma, mas um teste negativo exige uma cultura para confirmação. Tratamento: Dose única de Penicilina Benzatina IM - 1,2 milhões UI ou um ciclo de 10 dias de penicilina VO (amoxacilina) – 250 mg 4x/dia ou eritromicina (em casos de alergia a penicilina) por 10 dias, mas é melhor avaliar a resitência a este ATB primeiro. Outras causas bacterianas de faringite: Streptococcus dos grupos C e G, Neisseria gonorrhoeae, Corynebacterium diphtheriae (muito raramente), etc. GRIPE Infecção respiratória causada pelo vírus Influenza. É altamente contagiosa, e ocorre mais no final do outono, inverno e início da primavera. Indivíduos com dça respiratória crônica, imunossuprimidos e idosos têm uma tendência a apresentarem infecção mais grave, com risco de morte. Disseminação ocorre princ. pelo ar. O vírus reproduz-se na mucosa nasal e dissemina-se para o restante das vias aéreas. Período de incubação de 1-2 dias. Tem início súbito e é mais grave que o resfriado comum. Os sintomas são: o Febre, que pode durar 3 a 8 dias e Calafrios o Suor excessivo o Tosse seca, que pode durar mais de duas semanas o Dores musculares e articulares que podem durar de 3 a 5 dias o Fadiga que pode levar mais de duas semanas para desaparecer o Mal-estar, Cefaléia o Obstrução nasal Pode melhorar completamente dentro de uma a duas semanas. Nos idosos pode durar várias semanas. Complicações: sinusite, otite e bronquite; piora da asma e ICC Tratamento: Repouso, analgésicos e antitérmicos. Anti-virais como Amantadina e Rimantadina podem ser usados desde que nas primeiras 48hs da dça. Vacina: anual, antes de iniciar o inverno. Ajuda a prevenir os casos de gripe ou, pelo menos, diminuir a gravidade da dça. Está indicada para: o >50 anos o Adultos portadores de cardiopatias, pneumopatias ou nefropatias crônicas o Diabéticos e hemoglobinopatias o Imunocomprometidos o Trabalhadores da área da saúde o Familiares e cuidadores de indivíduos com alto risco de ficarem doentes o Gestantes com risco de infecção e complicação o Crianças entre 6m e 18ª que fazem uso de AAS a longo prazo (risco de Sd de Reye após uma infecção viral) RESFRIADO COMUM Infecção viral leve e auto-limitada. Em média melhoram em 3 a 4 dias, podendo durar até 2 semanas. Caso dure mais que isso, pensar em complicações, como PNM, laringite, sinusite ou otite. Ocorre destruição do revestimento das vias aéreas pelo vírus, ocorrendo inflamação como reação do organismo. Adultos têm de 2 a 4 resfriados no ano, enquanto que crianças têm de 5 a 9. As causas mais comuns são o Rinovírus (40% dos casos) e o Coronavírus (pelo menos 10%), mas tb pode ser por parainfluenza, VSR, influenza e adenovírus. A via de transmissão mais comum é o contato direto ou através de objetos contaminados. Não existem evidências de que o resfriamento do corpo leve a desenvolver resfriado. Período de incubação é de 1 a 3 dias, até 1 semana. Sintomas: o Coriza intensa o Obstrução nasal e voz anasalada, espirros, tosse e odinofagia o Diminuição do olfato e da gustação o Rouquidão o Febre baixa ou ausente nos adultos e alta nas crianças o Cefaléia O resfriado termina quando o revestimento lesado se regenera. Tratamento: Não existe tratamento específico o Anti-histamínicos o Descongestionantes nasais o Sprays nasais de brometo de ipatrópio PNEUMONIAS EM ADULTOS DA COMUNIDADE Prof. Dr. Roberto Martinez A) Resumos de casos ilustrativos Caso 1 – Operário com 30 anos, previamente hígido, há 4 dias vem apresentando febre diária, que chega a 39oC, calafrios, tosse acompanhada de expectoração castanhoavermelhada e dor torácica localizada abaixo da escápula direita. Esta dor é intensificada pela tosse e quando respira mais profundamente. Nega dispnéia. Sente-se fraco, incapacitado para o tabalho e inapetente. Queixa-se, também, de cefaléia quando a febre está mais elevada, melhorando com antitérmicos. Nega outras queixas. Nega contato com pessoas doentes. Não fuma e bebe socialmente, 1 garrafa de cerveja nos finais de semana. O exame físico mostrou paciente em bom estado geral, porém toxemiado e febril (38,5oC). Pressão arterial = 110 x 70 mmHg; FC = 96/min., FR = 18/min. Havia submacicez e redução do murmúrio vesicular na base do hemitórax D, posteriormente; nesta área, o frêmito e a ausculta da voz eram mais intensos do que na região correspondente do hemitórax E. Alguns estertores inspiratórios finos foram notados logo acima e lateralmente à área de submacicez. O restante do exame físico era normal. Foi solicitada uma radiografia de tórax que revelou velamento flocoso no lobo pulmonar inferior D, homogêneo e tomando quase todo o lobo, contrastando com os brônquios aerados. Caso 2 - A mãe de uma jovem com 17 anos relatou que esta vinha tendo febre baixa (até 38oC) desde há 7 dias e tosse, que inicialmente era seca e nos últimos 3 dias parecia vir acompanhada de catarro muco-purulento, ignorando a quantidade expectorada. Ao ser interragada, a paciente negou dor torácica, hemoptise, dispnéia e calafrios. Além de uma certa indisposição para o estudo, não tinha outras queixas. Nunca tivera doenças respiratórias, a não ser resfriados e gripe, ou outras moléstias mais graves. Negou contato com pessoas doentes e com tosse. A mãe recordou-se que há 10 dias a filha ao ingerir bebida láctea engasgou e teve violento acesso de tosse que, durou alguns minutos. O exame da paciente mostrou desenvolvimento compatível com a idade e sexo e bom estado geral. Estava afebril, eupnêica, hidratada e acianótica. Não foram encontradas anomalias, com exceção do exame torácico, que revelou discreta redução do murmúrio vesicular e presença de roncos e estertores de finas e médias bolhas, além de crepitações no terço médio do hemitórax D, posteriormente. Uma radiografia de tórax feita após a consulta mostrou velamento no lobo pulmonar inferior direito, consistindo de áreas heterogêneas e confluentes de velamento flocoso localizado no segmento superior desse lobo. Caso 3 – Uma paciente com 15 anos de idade foi trazida pelos pais para consulta médica por estar apresentando falta de ar desde o dia anterior. Completamente saudável e com a imunização em ordem, informou que várias colegas da escola haviam ficado gripadas logo antes dela. Há 4 dias vinha tendo febre, que atingiu 39oC no primeiro dia, juntamente com tosse seca, cefaléia vespertina, mialgia difusa, fraqueza e inapetência. No dia anterior sentiu falta de ar e cansaço mesmo em repouso. O volume urinário diminuiu e a urina tornou-se mais escura. Não tinha outras queixas ou antecedentes de importância. Ao ser examinada apresentava-se em regular estado geral, febril (38,4oC), algo ansiosa, desidratada (+/++++) e taquipnêica (FR = 28/min.) acianótica. Foram palpados 6 gânglios linfáticos na região cervical, bilateralmente, com diâmetro aproximada de 0,5 cm, móveis, indolores. Orofaringe hiperemiada, sem pontos ou placas purulentas. Ausculta pulmonar: alguns roncos difusos e murmúrio vesicular globalmente diminuído. Fígado palpado a 1 cm do RCD, discretamente doloroso. PA = 100 x 70 mmHg, FC = 112/min. Não foram observadas outras alterações ao exame físico. Foi solicitada uma radiografia de tórax que evidenciou infiltrado reticular discreto e bilateral e micro-nódulos distribuídos difusamente em ambos os pulmões. Caso 4 - Homem com 69 anos de idade, inativo, foi levado à UBS pelos familiares por estar apático, e dormindo muito, não se alimentando. Há 10 dias vinha tendo febre, principalmente à noite, e sensação de frio. Habitualmente tinha tosse discreta e pigarro matinal, mas na última semana a tosse tornou-se mais frequente, passando a ter expectoração mucóide acastanhada, em pouca quantidade. Levado ao farmacêutico no início dos sintomas, foi medicado com Benzetacil intramuscular, xarope para a tosse e dipirona. Não melhorou e há 2 dias está cansado, com dor no peito, recusando sair da cama. O paciente era fumante de longa data, mas tinha diminuido o número de cigarros diários no último ano, pois tivera dois episódios de bronquite e de falta de ar, necessitando de medicação para respirar melhor. Os familiares negaram que tivesse outras doenças e que usasse medicamentos regularmente. O exame físico mostrou um paciente afebril, desidratado (++/++++), acianótico, consciente, mas pouco cooperativo, toxemiado. FC = 88/min. P.A. = 110 x 60 mm Hg. FR = 24/min. Tórax enfisematoso, mas sem alterações à percussão e palpação. Ausculta pulmonar: MV difusamente diminuído, presença de roncos à D e de raros estertores crepitantes na região infraclavicular D. Fígado palpado a 1 cm abaixo do RCD; sem alterações. Não foram encontradas outras anomalias significantes pelo exame físico. Radiografia de tórax revelou área cardíaca normal, enfisema pulmonar e velamento flocoso confluente no lobo superior D, com abaulamento da cissura horizontal para o baixo. Caso 5 – Paciente com 18 anos, masculino, queixa-se de tosse frequente e persistente, com pouca expectoração esbranquiçada e de fraqueza desde há 3 semanas. No início da moléstia havia tido febre, calafrios, cefaléia, dor de garganta, e otalgia. Procurou UBS onde foi receitado ampicilina, que tomou durante 7 dias, até 1 semana antes. Teve certa melhora, mas a tosse aumentou e tem a sensação de ter febre baixa. Negou dispnéia, dor torácica e outros sintomas além dos referidos. Não fumante ou etilista, o único antecedente pertinente obtido é que ingressara na universidade e estava tendo aulas há 2 meses, lembrando que alguns colegas tossiam na sala de aula. Apresentava-se em bom estado geral ao exame físico, ativo, afebril, eupnêico, mas tossindo periodicamente. Orofaringe discretamente hiperemiada. Exame torácico sem alterações, exceto por roncos no hemitórax E e poucos estertores de finas bolhas e crepitantes na base pulmonar E, posteriormente. Nenhuma outra anomalia foi detectada, inclusive na otoscopia. Na radiografia de tórax verificou-se infiltrado reticular bilateral, irradiado a partir dos hilos e pequena área de velamento flocoso na base pulmonar E, posteriormente. B) Questões 1. Quais são os principais agentes etiológicos de pneumonia em crianças e jovens, no adulto até os 60 anos e no idoso? 2. Quais são as principais diferenças nos sintomas e sinais apresentados em casos de infecção aguda predominantemente alveolar (pneumonias) e intersticial (pneumonias atípicas ou pneumonites)? 3. Quais são as alterações radiológicas características das pneumonias e das pneumonias atípicas? 4. Como se manifesta e em qual infecção está tipicamente presente a síndrome de condensação pulmonar? 5. Quais as condições predisponentes da pneumonia causada por bacilos Gramnegativos em pessoas da comunidade? 6. Agentes causais da pneumonia aspirativa: quais são, tipo e localização do processo inflamatório e tratamento para pacientes da comunidade. 7. Como reconhecer, confirmar laboratorialmente e medicar doentes com infecção respiratória por Micoplasma e por Clamídia? 8. Além da radiografia de tórax, quais exames laboratoriais são úteis para o esclarecimento etiológico e conduta terapêutica nos casos de infecção pulmonar aguda? 9. Quais são os antimicrobianos preferencialmente utilizados no tratamento de pacientes com diferentes tipos de infecção pulmonar aguda? 10. Qual é a situação atual da susceptibilidade/resistência do pneumococo à penicilina G e implicações desse fato na prática médica? Pneumonia comunitária Definição: pelo enfoque histopatológico significa preenchimento do espaço alveolar por infiltrado necroinflamatório o que é diferente de pneumonite ou alveolite. Pelo enfoque clínico se refere à infecção aguda do pulmão (parênquima). Histopatologia: Fases evolutivas da pneumonia com consolidação alveolar: congestão, hepatização vermelha (exsudação de hemácias para o interior do alvéolo), hepatização cinzenta (fase supurativa), resolução ou organização. Tipos de pneumonia bacteriana: LOBAR (consolidação alveolar extensa, ocupando gde área do parênquima); BRONCOPNEUMONIA (consolidação alveolar multifocalmais freqüente) Pneumonia típica x atípica: TÍPICA forma hiperaguda (25 dias), com febre alta (39, 40C), calafrios, queda do estado geral, expectoração purulenta, RX com consolidação (infiltrado flocoso, desde um pequeno foco até áreas extensas e bilaterais de velamento. ATÍPICA forma subaguda (dias a semanas), febre baixa, calafrios infreqüentes, tosse seca ou pouco produtiva, RX com infiltrado intersticial, observado como trama reticulada e micronódulos, associando-se em parte dos casos a velamento flocoso. Pneumonia comunitária típica Agentes etiológicos: 1. Streptococcus pneumoniae: pensar em todos os casos 2. Haemophilus influenzae e Moraxella catarrhalis: pensar qdo > 65, criança e em DPOC. 3. Legionella pneumophila: pensar qdo pneumonia grave 4. Klebsiella pneumoniae: alcoólatra, diabético. 5. Staphilococcus aureus: usuário de drogas EV, pósinfluenza. 6. Anaeróbios: pneumonia aspirativa Patogênese: o agente coloniza o epitélio faríngeo e através de micro ou macroaspirações do material das vias aéreas superiores, atinge o alvéolo. Também pode ocorrer através da disseminação hematogênica (S. aureus) e da inalação de aerossol contaminado (Legionella). Quadro clínico: forma hiperaguda (2-5 dias), com febre alta (39,40C), calafrios, queda do estado geral, expectoração purulenta, dor torácica pleurítica. Exame físico: prostração, taquipnéia (>24 ipm), taquicardia (>100bpm). Na ausculta: som brônquico, aumento do frêmito tóraco-vocal, submacicez, broncofonia e pectorilóquia. Qdo há derrame pleural, ocorre abolição do MV e do frêmito tóraco-vocal, submacicez e egofonia. Os exames laboratoriais geralmente mostram leucocitose (15000-35000), com granulações tóxicas ou microvacúolos em neutrófilos, com desvio a esquerda. Também pode ocorrer neutrofilia, linfocitopenia e eosinopenia discretas.A leucopenia pode ocorrer e é sinal de mau prognóstico. Diagnóstico: quadro clínico–laboratorial em conjunto com RX tórax (PA e perfil). Também pode-se pedir exame de escarro para identificar o agente etiológico. Exames invasivos (aspirado transtraqueal, transtorácico e broncofibroscopia) devem ser pedidos em casos selecionados. 1. RX tórax: pode até ser normal, mas isso não é comum! Normalmente encontramos infiltrado pulmonar que geralmente é do tipo alveolar broncopneumônico e é caracterizado pela presença de broncograma aéreo. Algumas vezes pode ter área de grande consolidação alveolar. 2. Exame de escarro: deve ser solicitado (incluindo gram e cultura) em todos os pacientes com pneumonia comunitária com indicação de internação ( American Thoracic Society -2001). 3. BAAR: também deve ser realizado de rotina para detectar os casos de TB que eventualmente se apresentem de forma semelhante à pneumonia. 4. Broncofibroscopia: indicado em casos de pneumonia nãoresponsiva aos ATB e pneumonia em imunodeprimido. Duas técnicas: 1)lavado bronco-alveolar, 2) escovado com catéter protegido. 5. Culturas outras: hemocultura. Todo paciente internado merece pelo menos com amostras diferentes. 6. Exames outros: gasometria, função renal, eletrólitos. Em casos mais graves. Particularidades de cada agente: 1. S. aureus: RX com pneumatocele (pequenas cavidades, <2cm, de preds finas e sem nível hidro-aéreo, abscesso, pneumonia necrosante (lesão < 2cm, contendo pus). Causa mais comum de disseminação hematogênica. Não é comum. Cerca de 70% ocorre em criança com menos de 1 ano. 2. Klebsiella p. :”pneumonia do lobo pesado” (geralmente compromete lobo superior,e pode haver abaulamento da cisura por edema??? – na aula foi falado por formação de gás); abscesso, pneumonia necrosante. Não é comum qdo é pneumonia comunitária. 3. Legionella: hiponatremia, elevação de enzimas hepáticas. Alt. gastrintestinais como diarréias,náusea e vômitos. 4. Streptococcus: mais comum, quadro típico, expectoração ferruginosa. RX principalmente com broncopneumonia. Porém, a maioria dos casos de pneumonia lobar são causados por ele. 5. Haemophilus e moraxella: quadros clínicos típico, semelhantes a strepto. Pneumonia comunitária atípica Agentes etiológicos: 1. Mycoplasma pneumoniae: mais comum; não tem parede celular.Pode causar pneumonia grave, inclusive com SARA. Infiltrado intersticial 2. Clhamydia pneumoniae: Infiltrado intersticial 3. Legionella pneumophila: causa uma das piores pneumonias em termo de gravidade e letalidade. Habitat natural: meios aquosos. 4. Vírus respiratórios: influenza, parainfluenza, adenovírus. Infiltrado broncopenumônico 5. Vírus Sincicial Respiratório: em crianças Quadro clínico: parece com virose prolongada. Geralmente faixa etária acima de 5 anos e menos de 40 anos. Forma subaguda (dias a semanas), febre baixa, calafrios infreqüentes, tosse seca ou pouco produtiva (em alguns casos pode ser purulenta).O laboratório só mostra leucocitose neutrofílica em 20% dos casos. O hemograma pode apresentar leucopenia, neutropenia e linfocitose relativa. O que é importante é a grande dissociação clínica radiológica encontrada nestes pacientes. Enquanto o exame do aparelho respiratório é nl ou apenas com discretos estertores crepitantes ou sibilos, o RX mostra infiltrado intersticial (micoplasma ou clamídia) ou broncopenumônico (viroses), mais do que o esperado. * Toda “gripe” com mais de 1 semana , sugere infecção por germes atípicos. Diagnóstico: quadro clínico–laboratorial em conjunto com RX tórax (PA e perfil). Ao contrário da pneumonia típica, os exames de escarro, cultura e gram não têm muito que acrescentar. Para micoplasma pode-se fazer o “teste a beira do leito” (colhe sg, coloca na geladeira e as hemácias aglutinam; após, aquecer com as próprias mãos, o sg refluidifica-crioglutininas). Particularidades de cada agente: 1. micopolasma: a maioria das infecções envolve apenas o quadro respiratório superior.A infecção geralmente é autolimitada, com duração de 15-20 dias. Pode causar ainda manifestações extra-respiratória: miringite bolhosa, anemia hemolítica por crioaglutininas, síndrome de StevensJonhson, fenômeno de Raynaud. 2. clamídia: manifestações clínicas semelhantes ao micoplasma. A duração da doença é ainda mais prolongada. Pode haver rouquidão e sibilos. 3. legionela: hiponatremia, elevação de enzimas hepáticas. Alt. gastrintestinais como diarréias,náusea e vômitos. 4. Viral: sintomas respiratórios altos (dor de garganta, coriza, tosse) são freqüentes. Prognóstico e tratamento Prognóstico: existe o score de Port, cuja classificação é a seguinte: classe I e II (até 70 ptos): tto ambulatorial; classe III(71-90): interna por breve período para estabilizar; classe IV(91-130) e V(>130): internados e tto no hospital. Escore de pontos de Port: 10 pontos- reside em abrigo, IC, dç cérebro vascular,dç renal, FC>125bpm, glicose>125mg/dl, ht <30%, PaO2 <60 mmHg ou SaO2 <90%, derrame pleural. 15 pontos: Tax <35C ou >40C. 20 pontos: dç hepática, confusão mental, FR> 30 ipm, PA sist. 90 mmHg, uréia >30, sódio <130. 30 pontos: neoplasia maligna ativa, pH< 7,35. Para mulher: idade -10+ escore. Para homem: idade + escore. Tto: o atb deve ser iniciado empiricamente de acordo com o quadro clínico e epidemiológico. 1. Pneumococo: Sensível: amoxicilina, cefalosporina ou macrolídeo. Resistência intermediária: amoxicilina ou cefuroxime. Alta resistência: cefalosporina de 3, penicilina G cristalina ou fluorquinolona de nova geração. 2. Micoplasma, clamídia: macrolídeo (azitro, eritro e claritromicina) ou doxiciclina. 3. Legionela: macrolídeo +/- rifampicina ou fluoroquinolona. 4. Haemophilus (gram -): cefalosporina de 2 ou 3 ou amoxa-clavulanato. 5. Estafilo: oxacilina; raramente vanco 6. Anaeróbios: amoxa-clavulanato ou clinda Terapia empírica gravidade Tipo de pneumonia 1-comunitária, pcte com 14 a 60 anos, velamento alveolar (agentes prováveis: pneumococo, estreptococo, haemophilus, moraxela). 2-comunitária, pcte >60 anos ou com comorbidades, velamento alveolar (agentes prováveis: os mesmos do 1, maior freqüência de gram -) 3-comunitária, provavelmente estafilocócica. 4-comunitária, aspirativa (agentes prováveis: estreptococus e anaeróbios) 5-comunitária, atípica, velamento intersticial (com ou sem velamento alveolar)- (agentes prováveis: micoplasma, clamídia e legionela). baixa média e alta Amoxicilina VO, 500mg 8/8 hs por 7 dias. Doxiciclina VO 100mg 12/12 hs por 7 dias. Amoxicilina (com ou sem ac. Clavulânico) EV, 1g 8/8 hs Cefuroxima EV 750 mg 8/8 hs.** Amoxicilina+ ac. Amxicilina+ac. Clavulâmico VO Clavulâmico EV 1g 500mg 8/8 hs. 8/8/ hs Cefuroxima VO, Ceftriaxona EV 1g 500 mg 12/12 hs. 12/12 hs. ** Clindamicina VO, 300 mg 6/6 hs Amoxicilina+ ac. Clavulâmico VO 500mg 8/8 hs. Doxiciclina VO 100mg 12/12 hs por 14-21 dias. Oxicilina EV, 2g 6/6 hs + genatmicina EV 1 mg/ Kg de 8/8 hs. Amxicilina+ac. Clavulâmico EV 1g 8/8/ hs Ceftriaxona EV 1g 12/12 hs. ** Claritromicina EV, 15mg/KG de 12/12 hs Azitromicina EV Fluoroquinolona EV Ceftriaxona EV 1g Esquema 12/12 hs. individualizando o Ceftriaxona EV + estado do pcte, amicacina EV fatores causais, atb 500mg 12/12 hs prévia e local de Ciprofloxacina EV hospitalização 200-400 mg (resistência 12/12 hs bacteriana) ** em casos de insuficiência respiratória, associar macrolídeo ou fluoroquinolona EV. 6-hospitalar, bacteriana (agentes prováveis: os mesmos dos itens 1 a 4 ,maior freqüência de enterococus, estafilococus e bacilos gram-) Pneumonia nosocomial Definição: inicia-se após 48 hs de internação hospitalar. Etiologia: gram negativo - 60%, estafilo - 15-25%, anaeróbios- 35%, polimicrobiana-30-40%. Pseudomonas aeruginosa: ppal agente etiológico da pneumonia ventilação mecânica associada. Tratamento: a droga de escolha varia com a gravidade da pneumonia, com a presença ou não de fatores de risco e com o início precoce ou tardio da pneumonia (5 dias). Complicações pulmonares Abscesso pulmonar: lesão intracavitária >2 cm, contendo pus, localizada no parênquima pulmonar, geralmente contendo nível hidro-aéreo. Tto com clinda por mínimo de 3 semanas. Derrame parapneumônico: é o derrame pleural associado à pneumonia. Empiema pleural: todo líquido pleural purulento no seu aspecto macroscópico ou qdo é observado bactérias no gram. O empiema está quase sempre associado à formação de septos e ao espessamento das pleuras visceral e parietal. Quadro de doses dos principais ATB para pneumonia bacteriana. penicilinas Amoxicilina 500mg VO 8/8 hs Amoxicilina-clavulanato 500mg VO 8/8 hs ou 0,51,0g EV 8/8hs cefalosporina Cefuroxime 500mg VO 12/12 hs ou 750g EV 8/8hs Ceftriaxone 1-2g EV ou IM 1x dia Cefotaxima 1g EV ou IM 8/8 hs Cefalosporina anti pseudomonas Ceftazidime 1-2g EV 8/8 hs Carbapenêmicos Imipenem 500 mg EV 6/6 hs ou 1 g EV 8/8 hs Macrolídeos Eritromicina 500 mg EV 6/6 hs Azitromicina 500 mg VO 1x/dia Claritromicina 500 mg VO 1x/dia Fluoroquinolonas Ciprofloxacina 400 mg VO 12/12 hs Fluoroquinolonas respiratórias levofloxacina 500 mg VO ou EV 1x/dia. Questões 5. gram negativo: idade avançada, DPOC, DM, tabagismo, uremia crônica, (aumenta a colonização faríngea e da árvore tráqueo-brônquica por gram -, seja por diminuição do sist. Imune, seja por diminuição da atividade ciliar e capacidade fagocítica). 6. Pneumonia aspirativa: anaeróbios (peptostreptococcus,peptococcus, bacterióides,prevotella...). Pode apresentar pneumonia necrosante e/ou abscesso.Tto: Clindamicina VO, 300 mg 6/6 hs ou moxicilina+ ac. Clavulâmico VO 500mg 8/8 hs. 7. Várias cepas de pneumococo atualmente têm revelado resistência de grau intermediária (20-25%) a alto (5%) à penicilina G. Então, para essas cepas é necessário doses altas de penicilina ou cefalosporinas. DOENÇA PULMONAR OBSTRUTIVA CRÔNICA Prof. Dr. João Terra Filho A) Resumo dos casos ilustrativos Caso 1 - Homem de 59 anos refere que até 5 anos atrás, aproximadamente, tinha boa disposição física, caminhando normalmente longas distâncias sem nada sentir. A partir desta época surgiu a dispnéia, inicialmente quando tinha de caminhar mais depressa e que foi aos poucos se intensificando até chegar à situação atual, quando sente dispnéia ao caminhar, em passo normal, cerca de 300 metros no plano. Em subidas, a dispnéia surge mesmo em distâncias menores. Nega dispnéia de decúbito e em repouso. Também nega que acorde à noite com crise de falta-de-ar. Embora já apresentasse, há mais de 5 anos, discreta tosse matutina acompanhada de expectoração clara e mucosa, uma espécie de "pigarro", nos últimos 3 a 4 anos a tosse se tornou mais intensa e acompanhada de secreção mais abundante, na quantidade estimada em duas xícaras de café por dia. Raramente a expectoração era amarelada ou mostrava a presença de estrias de sangue no escarro. Nega emagrecimento nos últimos anos. Presença de cianose discreta nas extremidades das mãos quando insiste em caminhar mesmo com dispnéia. Nessas ocasiões também nota que o coração bate um pouco mais depressa. Tabagista há 42 anos (2 maços/dia). Crises de bronquite na infância. Ao exame: bom estado geral. Um pouco obeso, com panículo adiposo bem desenvolvido. Sem edema. Cianose discreta nas polpas digitais e leito subungueal. Gânglios linfáticos não aumentados. Pescoço: sem estase jugular. Carótidas bem palpáveis. Tórax: diâmetro AP discretamente aumentado. Expansão torácica respiratória preservada. Hipersonoridade discreta à percussão das regiões infraclaviculares. A ausculta revelou murmúrio vesicular diminuído em todas as regiões, estertores grossos ins e expiratórios e roncos esparsos, alguns sibilos. Os estertores diminuíram de intensidade após um acesso de tosse que o paciente apresentou durante o exame. Coração: bulhas cardíacas rítmicas e discretamente hipofonéticas. Não havia sopros. FC: 84 bat/min. PA: 130/85 mmHg. Abdômen: fígado e baço não palpáveis. Caso 2 - Homem de 22 anos se queixa que a partir dos 02 anos de idade, aproximadamente, vem apresentando tosse com expectoração pouco abundante, praticamente contínua. No início predominava a expectoração mucosa, mas ultimamente a expectoração se tornou mais abundante e às vezes é amarelada ou amarelo-esverdeada e freqüentemente acompanhada de estrias de sangue. Concomitantemente ao aumento da expectoração passou a apresentar períodos freqüentes de febre, tendo sido forçado, por várias vezes, a procurar atendimento médico em sua cidade. Numa dessas consultas, o exame radiológico do tórax revelou pneumonia (sic). Não se lembra dos nomes dos medicamentos que tomou. Como os episódios de agravamento dos sintomas se tornaram mais freqüentes e mais intensos, resolveu procurar atendimento neste hospital. Quando criança, sofria de resfriados freqüentes e era mais fraco do que outras crianças de mesma idade. Atualmente não trabalha por se sentir muito fraco. Fuma mais ou menos 10 cigarros por dia, há 2 anos. Ao exame físico: estado geral regular, magro, sem edema periférico, gânglios linfáticos pouco aumentados nas regiões axilares, porém indolores à palpação, cianose moderada nas extremidades. Temperatura axilar: 37,4o C. Pescoço: sem estase jugular; carótidas bem palpáveis. Tórax: simetria preservada, mas discretamente piriforme. Presença de tiragem intercostal. Freqüência respiratória de 18 ciclos/min. Sem alterações de sonoridade às percussão do tórax. Estertores grossos abundantes em todas as regiões do tórax. Roncos e sibilos presentes e menos intensos nas regiões infraclaviculares. Coração rítmico e sem sopros. Bulha P2 moderadamente hiperfonética. FC = 88 bat/min. PA: 110/60 mmHg. Abdômen: fígado palpável a dois dedos abaixo do rebordo costal. Baço não palpável. Caso 3 - Homem de 77 anos, relata que há 10 anos percebeu que estava com dispnéia, que aparecia principalmente aos esforços físicos como carregar compras, mesmo assim, conseguia caminhar 2 a 3 kg no plano, desde que devagar. Estes sintomas pioravam no período de seca. Nesta época foi medicado com Aminofilina e Aerolin, medicações que usou por 6 anos, sem melhora evidente. Há 4 anos trocou a Aminofilina por Duovent, usando 1 "puff" quando está sentindo cansaço. Há 2 anos resolveu, por conta própria, comprar um "tubo de oxigênio" que faz uso quando não melhora com o Duovent. Nega dispnéia paroxística noturna e ortopnéia. Tosse esporádica com pequena quantidade de secreção esbranquiçada, mas que nunca chegou a incomodá-lo. Nega escarro hemoptóico. Foi tabagista durante 58 anos (palha, papel, charuto). Parou há 7 anos por orientação médica. Etilista crônico (3 garrafas cerveja/dia). Ao exame físico: bom estado geral, emagrecido, afebril, discreta cianose de extremidades. Sem estase jugular, Carótidas palpáveis. Tórax: com aumento do diâmetro antero-posterior, expansibilidade discretamente diminuída, presença de tiragem em regiões infra-axilares. Hipersonoridade à percussão. Murmúrio vesicular presente, mas diminuído, presença de sibilos ins e expiratórios, principalmente nas regiões infraescapulares bilateralmente. Coração: bulhas rítmicas e hipofonéticas. Sem sopros. FC: 80 bat/min. PA: 140/85 mmHg. Abdômen: fígado a 1,0 cm RCD. Baço não palpável. B) Questões 1. Porque a literatura médica passou a utilizar a expressão "Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica? 2. Qual o espectro de condições clínicas por ela englobada? Nela você incluiria a Fibrose Cística e a Asma Brônquica? Justifique. 3. Qual o conceito de bronquite crônica e de enfisema? Procure relacionar as possíveis diferenças e semelhanças em relação à etiopatogenia. 4. Quais os principais mecanismos envolvidos na obstrução das vias aéreas nestas condições clínicas? 5. A hiperresponsividade brônquica pode estar presente na bronquite crônica e no enfisema? 6. Quais aspectos da História Clínica são relevantes? É possível apontar particularidades? 7. Quais aspectos do exame físico devem ser valorizados? Como podem contribuir no diagnóstico diferencial entre bronquite crônica e enfisema? 8. Do ponto de vista clínico/funcional existem aspectos diferenciais entre o paciente bronquítico e o enfisematoso? 9. Como você diferenciaria a bronquite crônica da fibrose cística? 10. Em qual grupo o "cor pulmonale" é mais freqüente? Justifique. 11. Quais são os mecanismos de hipoxemia nestes pacientes? Ocorre hipercapnia? 12. A insuficiência respiratória é comum nestes pacientes? Como pode ser desencadeada? Qual o tipo habitual? Contribuição da gasometria arterial. 13. Quais as principais medidas terapêuticas na situação acima? 14. O que você espera encontrar na avaliação funcional pulmonar do "paciente bronquítico"? Há como diferenciá-lo do enfisematoso? 15. O CT pode auxiliar no diagnóstico? Você o solicitaria de rotina? 16. Qual os principais objetivos das medidas terapêuticas da bronquite crônica e do enfisema pulmonar? Podem ser diferentes? 17. Discuta as medidas terapêuticas, inclusive quando estiver presente o "cor pulmonale" clínico. 18. Tente justificar porque até o presente momento este roteiro não abordou/citou diagnóstico clínico de bronquiectasia? Esta pode fazer diagnóstico diferencial com bronquite crônica? Pode estar presente nesta condição clínica? Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica Definição: DPOC é definida como uma síndrome caracterizada pele obstrução crônica difusa das vias aéreas inferiores, de caráter irreversível. Geralmente estão incluídos nesta definição os pacientes com bronquite obstrutiva e/ou com enfisema pulmonar, os dois ppais componentes histopatológicos da dç, ambos relacionados à exposição à fumaça do tabaco. Epidemiologia: prevalência vem aumentando, especialmente no sexo feminino. É uma dç mais comum em velhos e idosos (50 -60 anos). É mais comum tb em homens, o que é explicado pela maior prevalência do tabagismo em neste sexo. A mortalidade vem aumentando. Fatores de risco: 1. Tabagismo e DPOC: é o ppal. Está presente em 90% dos casos. As alterações causadas pelo tabaco são: 1)estimula produção de muco e hipertrofia das glândulas submucosas, 2)reduz ou bloqueia o movimento ciliar, 3)ativa os macrófagos alveolares a secretarem fatores que recrutam neutrófilos, 4)ativa neutrófilos que passam a produzir enzimas proteolíticas, como a elastase, 5)inibem a atividade da alfa 1antitripsina, enzima inibidora da elastase. 2. Asma e DPOC: não se conhece exatamente a relação patogênica entre eles. São dçs distintas que podem superpor-se. Alguns casos de asma grave persistente podem evoluir com o fenômeno do remodelamento das VA, levando a obstrução crônica progressiva por mecanismo fibrinogênico, o que é um quadro fisiopatológico mto semelhante ao DPOC. O DPOC por sua vez, pode apresentar hiperrreatividade brônquica. 3. Outros fatores: tabagismo passivo, poluição atmosférica, exposição à poeiras orgânicas (minas de carvão e ouro), fumaças e vapores são fatores de risco menores. 4. Deficiência de alfa 1- antitripsina: dç autossômica recessiva em que indivíduos homozigotos têm uma concentração menor que 10% do valor normal, o que deixa livre a elastase neutrofílica para degradar paulatinamente o parênquima pulmonar. 5. CA de pulmão e DPOC: DPOC é um fator de risco para esse CA. Fisiopatologia: 1. Os achados histopatológicos são: Bronquite obstrutiva crônica: ocorre hipertrofia das glândulas submucosas secretoras de muco e redução do lúmem das VA distais devido ao espessamento da parede brônquica por edema com atividade inflamatória e fibrose. Enfisema pulmonar: é um alargamento dos espaços aéreos distais aos bronquíolos decorrentes da destruição de porções do septo alveolar. Causa obstrução crônica das VA distais pelo fato de haver perda no tecido elástico de sustentação da parede brônquica, o que permite a redução do seu lúmem, ppal/e na fase expiratória. 2. Hiperinsuflação- Aprisionamento de ar: A obstrução da VA aumenta na fase expiratória pois aí , a pressão pleural e intra-torácica elevam-se, podendo chegar a níveis +, isto é, acima da pressão atmosférica. Neste momento, as VA podem colapsarse, impedindo a liberação do ar armazenado nas porções periféricas do pulmão, o que aumenta o volume residual, a capacidade residual funcional e a capacidade funcional. Sendo assim, o pulmão desses pctes está cronicamente hiperinsuflado. Isso altera a mecânica diafragmática na qual este tende a retificarse o que torna improdutiva a sua contração para puxar o ar na inspiração. 3. Distúrbio da troca gasosa: os alvéolos são mal ventilados, mas bem perfundidos (tanto na bronquite como no enfisema), distúrbio V/Q. Nesses alvéolos o sg venoso passa recebendo poço oxigênio, o que é denominado shunt. No início é em exercícios, depois pode evoluir para o repouso, indicando um prognóstico. A eliminação de CO2 também pode estar comprometida por 3 mecanismos (fase avançada) : 1)agravamento do distúrbio V/Q, 2)aumento do espaço morto fisiológico (área ventilada e não perfundida) e 3)hipossensibilidade do centro respiratório bulbar ao CO2. *ATENÇÃO: o centro respiratório bulbar, ao tornarse hipossensível ao CO2, fica mais sensível ao O2. A hiperoximia pode inibir o centro respiratório, reduzindo perigosamente a ventilação alveolar, fazendo o paciente reter abruptamente ainda mais CO2 e evoluir com acidose respiratória agudizada. Por isso, os retentores crônicos de CO2, nunca podem ser hiperoxigenados! A administração de O2 nesses pctes não deve ultrapssar 3L/min , mantendo-se a PaO2 entre 80 e 90 mmHg. 4. Cor pulmonale: A DPOC é a causa mais comum. O ppal mecanismo é a hipóxia pulmonar crônica porque a vasoconstricção de arteríolas e pequenas artérias pulmonares. Quadro clínico: 1. História clínica: a queixa mais comum é dispnéia aos esforços, que acaba por evoluir para ortopnéia e dispnéia paroxística noturna ou mesmo dispnéia ao repouso (DPN). A evolução é insidiosa. A ortopnéia e a DPN podem ser explicados pela piora da dinâmica do diafragma no decúbito e aumento da secreção brônquica, pela hiperatividde vagal noturna. A tosse produtiva pela manhã tb é bastante freqüente. Bronquite crônica é definida por o pcte apresentar tose produtiva (geralmente matinal) por mais de 3 meses consecutivos de um ano e há mais de 2 anos. Qdo a bronquite não está relacionada à obstrução de VA, não é DPOC. 2. Exame físico: pcte pletórico: policitemia reativa à hipoxemia. cianose: desaturação da HB. Tórax em tonel: aumento do diâmetro ântero-posterior. Cor pulmonale: edema MMII, turgência jugular. Ausculta da bronquite: sibilos, roncos, estertores creptantes e subcreptantes, diminuição do MV. Ausculta do enfisema: diminuição do MV, sem RA. A elasticidade e expansibilidade do tórax estão diminuídas e a percussão mostra aumento do timpanismo. Respiração: fase expiratória mais longa que a inspiratória. Nos dispnéicos, o esforço maior é na expiração. “Sopradores róseos” (esteriótipo do enfisematoso): pletora, tórax em tonel. Geralmente magros, dispnéia do tipo expiratória (sopradores), mas sem sinais de cor pulmonale e hipoxemia significativa. A ausculta com diminuição do MV e sem RA. “Inchados azuis” (esteriótipo do bronquítico grave): hipoxemia significativa, cianose. A hipoxemia leva ao cor pulmonale, com quadro de IC direita e congestão sistêmica. Geralmente são obesos e apresentam apnéia do sono. A ausculta é rica em RA. 3. Exames complementares inespecíficos: Hemograma: pode mostrar eritrocitose (Ht maior que 50%). RX tórax: os sinais clássicos de DPOC são:1retificação das hemicúpulas diafragmáticas, 2hiperinsuflaçõ pulmonar, 3-aumento dos espaços intercostais, 4-redução do diÂmetro cardíaco, 5aumento do espaço aéreo retroesternal no perfil, 6espessamento brônquico. Gasometria arterial: o dado mais comum é hipoxemia. A hipercapnia com acidose respiratória crônica (aumento de BE) está presente em 30%. O pH costuma ser normal ou pouco baixo. ECG: alterações de cor pulmonale (ex: onda P alta e pontiaguda, desvio de QRS para direita) 4. Prova de função pulmonar: Diagnóstico e prognóstico Na espirometria atentar para: VEF 1 < 80% do previsto CVF reduzida Índice de Tifennaud (VEF1/ CVF) <70% FEF 25-75% extremamente reduzido. Volume residual, Capacidade Residual Forçada, Capacidade Total Pulmonar estão aumentados. 5. Exacerbação da dç: DPOC possui reserva funcional diminuída. Qualquer fator que afete o quedro respiratório pode piorar o quadro clínico. O ppal fator descompensante é a infecção respiratória, geralmente de etiologia viral. O critério diagnóstico para DPOC é o índice de Tiffenaud < 70%, mesmo após prova bronco dilatadora! estadiamento características Estágio 0: em risco Estágio 1: DPOC leve Estágio 2: DPOC moderada Estágio 3: DPOC grave Espirometria normal, bronquite simples Tiffenaud<70%, VEF1 ~80% Tiffenaud<70%,VEF1 entre3080%, com ou sem sintomas de bronquite crônica Tiffenaud<70%, VEF1 <30%ou <50% associado a ins. Respiratória ou sianis de corpulmonale. Tratamento: Abstinência do tabagismo: pode-se conseguir o controle sobre a progressão da dç. Os sintomas tendem a melhorar, mas não totalmente pois a lesão pulmonar é irreversível. Oxigenoterapia domiciliar: o uso contínuo de oxigênio domiciliar aumenta a sobrevida e melhora a qualidade de vida. As indicações são: 1-PaO2 <55 mmHg, 2SaO2 < 88%, 3- PaO2 55 -60 mmHg+ policitemia (Ht>55%) e/ou cor pulmonale, 4-SaO2 88-90%+ policitemia (Ht>55%) e/ou cor pulmonale. TTo farmacológico das exacerbações: o tto deve conter ATB,broncodilatador, teofilina ou aminofilina (opcional), mucolíticos (em alguns casos) ventilação não invasiva ou invasiva qdo necessário. 1. ATB: se houver possibilidade de infecção bacteriana das VA. O uso de cada atb vai depender da gravidade do caso e pode ser: bactrim, amoxa, doxiciclina, cafalosporina, macrolídeo... 2. Broncodilatadores: associação de β2-agonista de curta duração (salbutmol, fenoterol ou terbutlina) com o anticolinégico brometo de ipratrópio, por via inalatória (nebulização ou spray)de 4/4 ou 6/6 hs. 3. Corticosteróides sistêmicos: qdo há broncoespasmo refratário, nas mesmas doses da asma grave. 4. Aminofilina: pelo seu potencial de aumentar a contratilidade diafragmática, de ser broncodilatador e ativador de movimento ciliar, deve ser usada em casos de refartariedade. Atenção para sua toxicidadde. 5. mucolíticos: ex: acetil-cisteína. Pode auxiliar na secreção do excesso de muco. 6. Ventilação não invasiva com pressão positiva (VNPPI): as indicações ppais são: dispnéia moderada a grave, com auxílio dos músculos respiratórios; acidose moderada a grave , entre 7,30 e 7,35 com hipercapniaentre 45-60 mmHg e Fr> 25 ipm. EX: CPAP e BIPAP. 7. ventilação invasiva (intubação traqueal+ventilação mecânica): indicações:1- dispnéia grave , com o uso importante da musculatura acessória, 2FR>35ipm, 3-PaO2<40mmHG, 4-pH<7,25 com PaCO2>60mmHg, 5- sonolência, estdo mental debilitado, 6- outras complicações graves (sepse, pneumonia extensa), 7- insuficiência da VNPPI. Farmacoterapia de manutenção: atualmente os consensos consideram as medicações broncodilatadoras fundamentais para o tto crônico de todos os pctes com DPOC sintomático! 1. Brometo de ipratrópio: é 1 linha na DPOC pelo fato de terem duração mais prolongada e menos efeitos adversos que os β2-agonistas. 2. β2-agonistas inalatório: há benefícios tanto com os de ação curta qto com os de longa. Devem ser asociados a brometo de ipratrópio. 3. Corticóides inalatórios: devem ser usados em pacientes com resposta positiva, que é definida como melhora de 15% do VEF1 na espirometria após 6 semanas a 3 meses de uso. 4. Corticóides sistêmicos: como regra, não devem ser usados, a não ser no tto das exacerbações. 5. Teofilina: a administração da teofilina de liberação lenta pode beneficiar alguns pacientes com DPOC, do ponto de vista sintomático, além de melhorar a queda noturna da função pulmonar e os sintomas matinais. Reabilitação cárdio-pulmonar: com a fisioterapia ocorre aumento significativo da capacidade funcional do paciente. É de fundamental importância no tto do DPOC. Cirurgia na DPOC: 1. transplante de pulmão: aumenta sobrevida e qualidade de vida. É limitada pelo número de doadores e o perfil de histocompatibilidde do doador/receptor. 2. cirurgia redutora pulmonar (pneumoplastia): feita em pacientes com enfisema e tem o objetivo de melhorar a mecÂnica diafragmática e o distúrbio V/Q. Não se sabe se a sobrevida aumenta. NEFROLOGIA INSUFICIÊNCIA RENAL Prof. Dr. Osvaldo Merege Vieira Neto A) Resumos de casos clínicos ilustrativos Caso 1 - J.E.B., 45 anos, refere episódios de cefaléia occipital há cerca de 20 anos, porém nunca procurou médico. Há 3 meses, iniciou com perda do apetite, e refere que sua esposa notou que estava pálido. Há 3 dias iniciou com astenia intensa e dispnéia. Nega história familiar de nefropatia e refere pai hipertenso. Nega tabagismo e etilismo. Ao exame físico se mostra pálido, com tonalidade cutânea amarelo palha, PA=185/118 mm Hg, ritmo cardíaco em 2 tempos, com extra-sístoles freqüentes, pulmões limpos, e abdome sem alterações. Nega edema. Exames laboratoriais foram colhidos e mostraram: GV=2.85 milhões Hb=6.85 mg% Ht=19% Na=134 mEq/l K=8.0 mEq/l Uréia=275mg% Creatinina=14.1mg% Ca=7.5mg% PO4=8.5mg% pH=7.21 pO2=85mm Hg pCO2=23mm Hg HCO3=12 mEq/l BE=-14 Sat O2=96% Urina tipo 1=prot:+++ SR:neg Cel:numerosas Leuc: 4-5 por campo Hem: 15-20 por campo Caso 2 - C.S.F. , 87 anos, internado no hospital das clínicas há 10 dias devido a queda ao solo, com muita dor em MID e incapacidade de deambular. Realizado raio X à admissão, onde foi constatada fratura trans-trocantérica de fêmur direito e internado para cirurgia. No mesmo dia foi operado, porém evoluiu com queda do estado geral no 2o pós-operatório (há 8 dias). Realizado raio X de tórax, que mostrou pneumonia bilateral. Medicado com cefalotina e gentamicina, com melhora progressiva do estado geral, porém, há 2 dias iniciou com quadro de dispnéia, oligúria, e queda do estado geral. Exames laboratoriais foram colhidos e mostraram: Na=131 mEq/l K=6.0 mEq/l Uréia=212mg% Creatinina=4.5mg% Ca=8.1mg% PO4=5.5mg% Caso 3 - G.B.C. , 32 anos, internado há 1 dia com quadro de politraumatismo, após acidente automobilístico. À internação foi detectado traumatismo hepático e sofreu cirurgia de urgência, sendo colocado dreno no local da cirurgia. Hoje evoluiu com queda da diurese, tendo apresentado diurese de 200 ml nas últimas 12 horas. Foi avaliado clinicamente, e se encontrava desidratado. Foram colhidos exames laboratoriais, e hidratado com solução salina 0.9%. Os exames laboratoriais mostraram: Na=147 mEq/l K=5.1 mEq/l Uréia=195 mg% Creatinina=2.0 mg% Sódio urinário=15mEq/l FENa=0.7% Osmolaridade urinária=600 mOsm Caso 4 - H.L.B., 16 anos, internado no Hospital das clínicas devido a acidente de moto, onde perdeu muito sangue e foi submetido a neurocirurgia. Evoluiu com oligúria, foi hidratado, porém não apresentou melhora da diurese. Exames laboratoriais no 2o dia de internação mostraram: Na=130 mEq/l K=5.5 mEq/l Uréia=85 mg% Creatinina=2.5 mg% Sódio urinário=50mEq/l FENa=7% Osmolaridade urinária=310 mOsm No dia seguinte, novos exames foram colhidos, e mostraram os seguintes valores: Na=128 mEq/l K=6.5 mEq/l Uréia=185 mg% Creatinina=5.5 mg% Foi submetido a hemodiálise nesse mesmo dia, e nos dias subseqüentes, por 1 semana, passando então a realizar sessões a cada 2 dias. Após 12 dias, passou a apresentar melhora da diurese, e evoluiu com poliúria, sendo então hiperidratado, com os níveis de escórias nitrogenadas apresentando queda progressiva. B) Questões 1. Qual a fisiopatologia da anemia na insuficiência renal crônica ? Como deve ser tratada? 2. Quais alterações no metabolismo do cálcio e fósforo ocorrem na insuficiência renal crônica, e quais são as suas causas e suas conseqüências? 3. Qual distúrbio do equilíbrio ácido-base ocorre na insuficiência renal crônica, e qual é sua causa? 4. Qual o distúrbio do potássio na insuficiência renal, e como pode ser tratado? 5. Quais distúrbios do equilíbrio do sódio e cloro ocorrem a insuficiência renal e qual sua causa? 6. Quais as etiologias da insuficiência renal aguda? 7. Como pode ser diferenciada azotemia pré-renal e necrose tubular aguda através de exames laboratoriais ? 8. Como é feito o diagnóstico de insuficiência renal aguda hipercatabólica, e qual o tratamento desta condição? 9. Por quê ocorre poliúria na fase de recuperação da insuficiência renal aguda? INSUFICIÊNCIA RENAL AGUDA Definição: sind caracterizada pelo declínio rápida (horas a sems) da filtração glom e pela retenção de compostos nitrogenados. Epidemiologia: -A IRA ocorre em ±5% das hospitalizações e até em 30% de pac em UTI -Oligúria (<400ml/24h) ou anúria (<150ml/24h) ocorre em ± 50% dos pac -A IRA, em geral, é assintomática e o diagn é feito laboriatorialmente -Mortalid.: ±50%,podendo chegar a 80% em UTI (freq associado a SDMO) Classificação e Etiologia: 1. Pré- Renal: causa + comum de IRA (55% dos casos). Pode ocorrer por: - ↓ do vol intravasc.: baixa ingestão ou oferta de água, perdas renais (diuréticos, diab insipitus, dç renal intrínseca), extra- renais (do TGI, gde queimado, hemorragia), perdas p/ 3° espaço (pancreatite, peritonite, hipoalbuminemia) - Estados de baixo déb. cardíaco: choque cardiogênico, TEP, tampon. card., arritmias - Situações de ↓ da Resist. Vasc. Sist.: sepse, insuf. hepática, anafilaxia Obs.: causa hipovolêmica é a + comum e a desidratação acomete + crianças e idosos. 2. Renal: 40% dos casos. Destes, 90% são mediado por isquemia e/ou nefrotoxidade (drogas, quimioterápicos, etc). Outras causas: acometimento renais (ex.: tromboembol.), microvasculatura glomerulopatias (principal: glomerulonef. Progressivas), dçs túbulo- intersticiais, 2° à HAS e por NTA contrastes, de vasos acometida, Rapidam. 2° à DM 3. Pós- Renal: - de 5% dos casos. Decorrem de obstrução ao fluxo urinário. Ex.: ↑ da próstata no homem idoso e tumores uterinos ou anexiais em mulheres. Conceitos: - Azotemia X Uremia: Azotemia é o ↑ plasmático das escória nitrogenadas detectado pelo aumento de uréia e creatinina. Já uremia é um termo sindrômico, é caracterizado pelo conjunto de sinais e sintomas q resultam da perda de todas as funções renais (excretora, endócrina e metabólica). - Diferenciação entre azotemia pré- renal e NTA: feito através de testes bioquímicos. O + sensível é a Fração de excreção de sódio (Fe Na= U Na x P Cr / P Na x U Cr). Na urinário Fe Na Rel. Uréia:Creatin. Pré- Renal < 20 mEq/L < 1% > 20 : 1 NTA > 40 mEq/L ≥ 1% ≤ 20 : 1 Obs.: Em até 20% dos pac c/ NTA ñ- oligúrica a Fe Na é <1%, principalmente em situações como sepse, rabdomiólise ou queimados, provavelmente devido intensa vasoconstrição renal, baixo fluxo tubular e lesão heterogênia do parênquima renal. Por outro lado, a Fe Na pode ser >1% naqueles c/ IRA pré- renal q receberam diuréticos, apresentam bicarbonatúria, glicosúria e cetoacidose diabética. - Valores normais de Exames Laboratoriais: Uréia: 20-40mg/dL Creatin:< 1,2mg/dL PTH: 12-72 Sódio: 135-145mEq/L Cloro: 97-106mEq/L Potássio: 3,5-5,0 mEq/L Fósfato: ♂: 2,4-4,6mg/dL Fosf. Alcal.: ♂ adultos: 15- 41,3 U/L ♀: 2,3-4,3mg/dL ♀ 25-55 a:11,6-30,6, ♀ >55 a:14,8-43,4 Clear. de Creat.:80-120ml/min {Cl Cr= (140 – idade)x peso / 72x Cr pl} - ♀ x por 0,85 - Diferenciação entre IRA e IRC: Procurar exame antigo p/ comparar níveis de Ur e Creat Na IRA temos: freqüentemente história é pobre. Fazer investigação p/ exposição a nefrotoxinas e determinação do estado de hidratação e do desempenho cardiovasc. são elementos inicias na busca de sua etiologia. Na IRC temos: história de dç renal prévia, fadiga crônica, anorexia, prurido, pele seca, poliúria/nictúria, palidez (anemia normocítica/normocrômica), rins peqs ao US, etc. Obs.: melhor exame é o US. Rins reduzidos indicam IRC, já rins de tamanho normal ou aumentados sugerem IRA. (6 das dçs crônicas provocam ↑ do tamanho do rim: rins policíst., nefrop. diab., amiloidose, nefrop. falciforme, esclerodermia e nef. obstrutiva) Dado em aula: Alteração apenas de ↑ de K, uréia e creatinina podem ser devido dç aguda; e ↓Ca, ↑PO4 e ↓Hb são alterações q aparecem a longo prazo. Quadro Clínico: Na maioria das vezes a IRA é um diagn laboratorial e os sinais e sintomas apresentados são devido à condição causal (ex.:hipovolemia,sepse,etc). Nos casos + graves de azotemia (geralmente Creat>3 e Ur>120) podem aparecer os sintomas e sinais que compõem a chamada Sind Urêmica Aguda ou Uremia Aguda. Esta síndrome é composta por 3 distúrbios básicos: acúmulo de toxinas nitrogenadas dializáveis, hipervolemia e desarranjo hidro- eletrolítico. Uremia Aguda: Hipert. Arterial (devido hipervolemia) Edema pulm (hipervol.), SARA (toxinas uremicas ↑ permeab cap pulm) Distúrbio da Hemostasia c/ sangramentos (toxinas dão disfunção plaquet) Encefalopatia, Crise Convulsiva, Coma Hiperreflexia, Asterixis, Mioclônus Sind das pernas inquietas, Neuropatia Periférica Distúrbios Eletrol. (↑K, ↑PO4, ↓Na, ↓Ca) e Ácido- Bás. (acidose metab.) Náuseas, vômitos, Diarréia, Soluços Incoercíveis Pericardite e Tamponamento Cardíaco Exames Complementares: Urina I c/ pesquisa de dismorfismo eritrocitário e eosinofilúria US dos rins e vias urinárias Biópsia renal (exame capaz de dar etiologia da IRA intrínseca) Outros: Doppler vasos renais, cintilografia, TC, RM e angiografia. Tratamento: 1. da Pré- Renal: correção rápida da hipovolemia (infusão de cristalóides, colóides e transfusão) e dos distúrbios hemodinâmicos subjacentes (inotrópicos, drogas vasoativas, trombolíticos, suporte mecânico) evitando- se estado de hipoperfusão renal prolongado e evolução p/ NTA. 2. da Renal: Na NTA isquêmica o principal objetivo é a otimização da volemia e do estado hemodinâmico do pac (a lesão renal pode piorar se a isquemia persistir). Foram avaliadas numerosas abordagens p/ atenuar a lesão renal ou acelerara a recuperação, mas estas são válidas apenas em modelos experimentais. Na NTA nefrotóxica devemos retirar agente causador, visando eliminar as nefrotoxinas. Na IRA causada por dçs intrínsecas tem- se tto específicos (ex.: glicocorticóides p/ vasculite ou glomerulonefrite aguda). 3. da Pós- Renal: desobstrução das vias urinárias o + precocemente possível. Quando indicar tto dialítico: Sind urêmica isquestionável (encefalopatia, pericardite, sgto) Hipervolemia refratária (edema pulm, HAS, ascite) Hipercalemia grave refratária ou recorrente (alter. no ECG) Acidose metab grave refratária ou recorrente Azotemia grave: Ur>200 ou Creat>8-10 * IRA hipercatabólica: A IRA freqüentemente é associada c/ estado de hipercatabolismo que aumenta a diferença entre a geração destes solutos e sua depuração. O diagnóstico de hipercatabolismo pode ser pensado pela história (ex.: acidentados) e pode ser firmado por exames laboratoriais: ↑ de K em 1mEq/24h, ↑ de Ur em 60-100 mg%/24h,↑ de Creat em 1mg%/24h, ↓ de bicarbonato na gasometria em 1/24h. No tratamento deve-se realizar diálise precocemente ( de preferência hemo q é + rápida) e dieta hiperproteica (rica em aminoácidos essenciais). Fase de Recuperação e poliúria: Na NTA oligúrica, na fase de recuperação, instala- se uma fase poliúrica. A poliúria em parte é apropriada, isto é, será eliminado o excesso de fluido e eletrólitos acumulados, porém, em parte é excessiva, devido à diurese osmótica mediada pelo excesso de uréia. Um outro fator responsável pela poliúria é o atraso da recuperação da função reabsortiva em relação à melhora da TFG (epitélio renal – funcionante). Tem- se que tomar cuidado c/ mortalidade nesta fase, pois os pacs podem ser expoliados de volume e eletrólitos, causando desequilíbrio eletrolítico, se a reposição ñ for adequada. INSUFICIÊNCIA RENAL CRÔNICA Definição: é o estado de disfunção renal persistente, irreversível, geralmente decorrente de processo patológico lentamente progressivo; mas pode-se instalar rapidamente após agressão renal aguda (ex.: necrose cortical aguda e glomerulonef rapidamente progressiva). A IRC consiste assim, em perda progressiva da FG q pode ser avaliada clinicamente pela medida da depuração de creat em urina de 24h. FG normal= 110-120 mL/min = função de filtração de ± 2000000 de néfrons (glomérulos+ túbulos). Etiologia: Diversa. Mais comuns: DM e HAS (principais), glomerulonef crônica, nefropatia túbulo-intest crônica (pielonefrite), necrose cortical, processos obstrutivos crônicos, LES, amiloidose e dçs hereditárias como rins policísticos e sind de Alport. Classificação da IRC: Obs.: em todas as fases temos lesão renal presente. Estágio 1 2 3 4 5 TGF(mL/min) Normal ≥ 60- 26-59 16-25 ≤15 ou ou ↑ 90 diálise Fisiopatologia: Etiologias de Base (mecanismos iniciais diversos) ↓ ↓ inicial de nefros → remanescentes hipertrofiam- se, sofrem alt da superf glom e modificações de permeab da MG às proteínas. Ocorre: proteinúria+ produção renal de fatores de crescimento, endotelina, angiotensina II,etc. ↓ prolif cel (endotelial, mesangial e tubular), ↑ da matriz mesangial, fibrose e obliturações glom, dilatações e obstruções tubulares, fibrose interst generalizada, além de eventual deposição renal de substâncias estranhas ao rim, caso da amiloidose. OBS.: O caráter progressivo da IRC ocorre até mesmo na falta da causa inicial desta insuficiência. Quadro clínico: Perdas de função de até 50% ñ se manifestam clinicamente. Acima disso, ocorre a síndrome urêmica (constelação de sinais, sintomas e complicações que atingem praticamente todos os órgãos e sistemas). Ela ocorre devido: retenção de solutos tóxicos e do excesso de ação de mecanismos homeostáticos reguladores da [] plasm de solutos. Sinais e Sintomas da Sínd Urêmica: Neurológicos Centrais (irritabilidade, asterrixis, dificuldade [], ↓ memória, coma...) Neurol Centrais por intox por alumínio (disartria- dislalia, alt do equil, convulsões..) Neurol Perif (polineuropatia, hipoestasia, parestesia, soluço,câimbras,...) TGI (hálito urêmico, gengivite e estomatite, anorexia, vômitos, úlceras, pancreat...) Cardiopulm (HA, pericardite, insuf card, edema, EAP, derrames, terosclerose acel..) Hematológicos (anemia, sangramentos,alter quimiotaxia neutrof, ↓ função linfocit..) Endócrinos (↑glicemia, glucagon e insulina, distúrbios da função sexual...) Metabólicos (↓peso, fraqueza, osteodistrofia renal, acid metab, ↑ K e Uréia...) Infecciosos (↑ suscetibilidade, devido transfusões ↑ chance de HIV, hep B e C ...) Dermatológicos (prurido, pele seca, onjuntivites, calcif distróficas, despigmentação) Alterações que ocorrem na IR: - Anemia normocítica normocrômica: ocorre devido ↓ prod de eritropoetina renal e também pela ↓ vida média das hemácias (50%), pois medula está toxemiada. - Equilíbrio ácido- básico: ocorre acidose metabólica por acúmulo de íons H, pois há deficiência de tamponamento ( maior produção de ácidos, menor reabsorção renal de bicarbonato. - Hiperpotassemia: devido ↓ excreção renal (pode haver alter no ECG). - Hipernatremia: pesar de haver ↑ de Na no organismo, laboriatorialmente isto ñ ocorre pq tb há acúmulo de água. - Hipo ou normocloremia: vai depender de outros fatores associados(há maior tendência a normo). Tto na fase pré- dialítica: = prevenção da perda continuada da função renal - IECA ou ARA II: p/ prevenir e combater proteinúria e HA - Dieta hipoproteica (0,6-0,8g/kg/dia) que tenham aminoácidos essenciais em qtdade adequada: prot de origem animal (carnes e clara de ovo) - Dieta hipossódica: apenas se edema, HA e insuf cardíaca. Por outro lado, pac normotensos e c/ nefropatia perdedora de sal devem ingerir sódio. - Ingestão de K: ñ usar diuréticos poupadores, ñ fornecer frutas ricas em K (pêssego, uva, manga, abacaxi) Se ainda assim houver hipercalemia usar resinas permutadoras de cátions. - Diuréticos: qdo edema importante - Bicarbonato de Na: p/ acidose metab - Carbonato de Ca e Vit. D: p/ osteodistrofia renal - Colestiramina: tto do prurido (resposta desanimadora; as melhores são obtidas c/ o tto do hiperpara 2°). Fase dialítica: Qdo o pac renal crônico alcança níveis de TFG ao redor de 10-15 mL/min. Há manifestações clínicas que melhoram c/ a diálise e outras q ñ melhoram. 1. Melhoram: hipervolemia, HA, insuf card, edema, alter eletrol e do equil ácido-basico, alter decorrentes de solutos tóxicos (digestivas, intolerância a carboidratos, neurol centrais, distúrbios da hemostasia, dermatológicos) 2. Persistem: disfunção sexual (↓ libido,fertilidade e amenorréia),alter lipídicas, pericardite, neuropatia perif, osteodistrofia renal, anemia) 3. Surgem: infecções virais, demência da diálise, hiperesplenismo OSTEODISTROFIA RENAL Definição: É um distúrbio da sind urêmica que leva à alter da matriz do osso e desmineração do mesmo, predispondo o pac à dor óssea, fraturas patológicas e deformidade óssea. Compreendendo espectro de distúrbios clínico- laboratoriais q varia desde simples alteração de calcemia até dç óssea grave e incapacitante. Fisiopatologia: Vit D (produzida na pele e adquirida na dieta) ↓ No fígado: hidroxilação p/ 25(OH)D3 ↓ liga-se a prot carreadora (alfa2- globulina) No rim: 1,25(OH)2D3 = calcitriol = vit D ativa ↓ No intestino delgado: absorção de Ca (no duodeno e íleo) e P (no jejuno) No rim: reabsorção de Ca e excreção de P No osso: essencial tanto p/ formação qto p/ reabsorção óssea. Junto c/ PTH ↑ n° e atividade de osteoclasto. In vitro estimula prod de Fosf Alc e fatores de crescimento Na paratireóide: ↓ prod de PTH Estimulação de prod de PTH por: hipocalcemia, hiperfosfatemia, ↓ de vit D Ações do PTH: Estimula produção de calcitriol pelo rim Estimula reabsorção óssea (↑ Ca no sangue) Na IRC há: ↑ P, por menor excreção ↓ prod de vit D ativa → hipocalcemia ↓ ↓ maior produção de PTH Padrões de doença óssea: 1. Osteíte Fibrosa: conseqüente a hipersecreção de PTH, podendo chegar ao ponto de hiperpara 3° (produção independente de PTH). Há descalcificação do osso. Alterações radiológicas: reabsorção subperiosteal das falanges dos dedos das mãos crânio em ´sal e pimenta` (áreas líticas e outras blásticas) depósitos teciduais e vasculares de cálcio (devido ↑ produto CaxP) coluna em ´rugger jersey` (camisa americana listrada) osteoclastoma ou tumor marrom (lesões císticas entremeadas a esclerose óssea, encontrada especialmente nas extremidades) Tratamento: calcitriol (vit D) + quelante de P (ex.: hidox de alumínio); paratireoidectomia (p/ casos +graves) 2. Dç Óssea Adinâmica: relacionada à redução excessiva da secreção de PTH, representa freqüentemente conseqüência do tto excessivo do hiperpara. É uma Osteopatia de Baixo Turn Over muito semelhante à osteomalácia, pode ser bem diferenciada da osteíte fibrosa somente pela biópsia óssea. Há redução simultânea nataxa de mineralização e na síntese de colágeno, resultando suturas osteóides de largura normal. Ainda não existe tto efetivo p/ este tipo de osteopatia (q é menos grave q a osteíte fibrosa) 3. Dç Óssea Mista: embora os 2 distúrbios anteriormente citados sejam freqüentemente discutidos como se fossem distintos, é comum sua superposição num pac, resultando numa dç mista (“qdo parte do osso está em hierpara e outra em hipopara”). 4. Osteomalácia: A osteomalácia ñ relacionada ao alumínio, presente na IRC, define- se por grave defeito de mineralização óssea, c/ excessivo ↑ da matriz osteóide, sendo sua principal característica a deficiência de substrato p/ a mineralização (déficit de vit D paralelamente a ↓ de Ca, ↓ de P e acidose metab). A osteomalácia por intoxicação pelo alumínio ocorre pelo depósito deste afetando adversamente o depósito de mineral no front de mineração. As fontes de Al incluem agentes quelantes do fosfato e a água antes utilizada na preparação do dialisado. Um terço dos pac com IRC submetidos a diálise ingerem pelo menos certa quantidade de Al. Essa intoxicação pode levar a manifestações agudas ou crônicas; a mais grave delas é uma encefalopatia (quadro semelhante à encefalopatia urêmica, mas que era desencadeado- e ñ revertido- pela diálise), a forma crônica desta encefalopatia leva a um quadro de demência. A Anemia Microcítica Refratária e a Osteomalácia são os outros 2 componentes importantes desta intoxicação.Tto: suspender uso de sais de Al; + graves: Desferoxamina (quelante de Al). INFECÇÕES DO TRATO URINÁRIO (ITU) Prof. Dr. José Abrão Cardeal da Costa A) Resumos de casos clínicos ilustrativos Caso 1 – Menina com 4 anos, foi encaminhada com história de bacteriúria assintomática desde 2 anos e 4 meses. Nessa época coincidindo com nascimento de seu irmão, iniciou perda de urina com cheiro forte, quando criança já controlava as micções durante o dia e raramente urinava, a noite, durante o sono. Procurou pediatra que, após insistência dos familiares, solicitou urina rotina e urocultura. A urina rotina mostrou 300 a 350 leucócitos/campo e o urocultura revelou + 100.000 colônias/ml de E. coli sensível várias drogas antibacterianas. Foi prescrito cefradoxil (Cefamox ), durante 10 dias, com desaparecimento do cheiro forte da urina, porém manteve a perda urinária o que levou a família a retornar o uso de fraldas descartáveis durante a noite. Não foram repetidos exames de urina para seguimento do caso. Após 1 ano e 2 meses retornou cheiro forte da urina. Nos meses seguintes a criança apresentou infecção urinária várias vezes, sendo encaminhada ao especialista que após tratar episódio de infecção urinária seguido de quimioprofilaxia com trimetropim-sulfametoxazol e apresentar urocultura negativa, foi realizado uretrocistografia miccional que mostrou Refluxo Vésio-Ureteral grau II bilateralmente. Com a finalidade de discutir a necessidade ou não de cirurgia anti-refluxo a criança foi submetida a uma avaliação geral, e verificou que se tratava de criança bem nutrida e desenvolvimento ponderoestatural normal, mas apresentava constipação intestinal de até 3 dias, e alimentação irregular com poucas fibras. Inicialmente, a família foi orientada a correção dos horários alimentares, aumento da ingestão de fibras e água, regularidade nos horários de dormir e aumento da atividade física. Após 3 meses a criança passou a evacuar diariamente fezes pastosa sem esforço e desapareceram as perdas urinárias. Como as uroculturas mantinham-se negativas, as perdas urinárias desapareceram e a uretrocistografia miccional mostrou desaparecimento do refluxo vésico-ureteral, após 9 meses da primeira consulta, foi suspensa a quimioprofilaxia. Caso 2 – Menino de 6 anos de idade foi levado ao Hospital das Clínicas com queixas de disúria, polaciúria há 4 dias, febre alta (39º a 40º C) e comprometimento do estado geral há 3 dias. Nos antecedentes havia referência de ITU com 1 ano e 6 meses de idade. O desenvolvimento ponderoestatural era absolutamente normal. Solicitado urina rotina (200 a 300 leucócitos/campo com agrupamentos), hemograma (leucócitos 32.000 mm3, bastonetes – 12%, segmentados – 62%, linfócitos – 24%, monócitos – 2%) e urocultura. Os valores de uréia (25 mg%) e de creatinina (0,6 mg%) eram normais. Com impressão diagnostica de ITU alta foi iniciada gentamicina, 2 mg/kg/dia. No 3º dia estava sem febre com melhora do estado geral. A urocultura mostrou + 100.000 colônias/ml de E. coli. No 7º dia de tratamento foi realizada uretrocistografia miccional que mostrou Válvula de Uretra Posterior (VUP) com moderada dilatação da uretra prostática, discreta hipertrofia da parede vesical e ausência de Refluxo Vésico-Ureteral. A urografia excretora realizada no mesmo dia mostrou moderada dilatação dos ureteres, da pélvis e dos cálices renais. No 10º dia foi realizada a ressecção endoscópica da VUP. No ato cirúrgico foi observada pequena VUP com hipertrofia de apenas um folheto lateral. A evolução foi ótima com normalização do calibre dos ureteres e desaparecimento das alterações pielocaliciais. No momento da alta ambulatorial, 2 anos após, o clearance de creatinina era de 130 ml/min/1,73 m2 de superfície corporal. Caso 3 – Paciente do sexo masculino com 32 anos de idade, e paraplégico há 2 anos em conseqüência de acidente automobilístico, procurou a Unidade de Emergência do Hospital das Clínicas referindo que há 2 dias vem apresentando febre (38º C), mal estar geral, dor lombar bilateral e urina escura com odor fétido. Paciente apresenta bexiga neurogênica e faz auto cateterismo. Ao exame físico o paciente se apresentava prostrado, toxemiado, febril, taquicárdico e Giordano positivo bilateralmente. Foi feito diagnóstico de ITU alta e solicitado urina rotina que revelou campo tomado por leucócitos com agrupamentos e urocultura. Valores de uréia (36 mg%) e creatinina (1,2 mg%) eram normais. Foi iniciado amicacina 500 mg EV a cada 12 horas. A urocultura mostrou + 100.000 colônias/ml de P. aeruginosa, e sensível entre outros à ceftazidime e amicacina, sendo então associado a prescrição de ceftazidime na dose de 1g EV a cada 8 horas. No 5º dia de tratamento o paciente se apresentava bem e afebril. Paciente foi reorientado quanto aos cuidados de assepsia no momento do autocateterismo, e após negativação da urocultura foi encaminhado para seguimento ambulatorial. Caso 4 – Paciente do sexo feminino com 19 anos de idade, procurou o Hospital das Clínicas com história de disúria, ardor miccional e dor suprapúbica há 2 dias. Paciente saudável, sem antecedentes de infecção urinária. Feito diagnóstico de ITU foi solicitado urina rotina que evidenciou 100 a 150 leucócitos/campo com agrupamentos e solicitado urocultura. Foi iniciado tratamento com cefalexina 500 mg VO a cada 6 horas. No terceiro dia o resultado da urocultura evidenciou + 100.000 colônias/ml de E. coli, sensível ao antibiótico utilizado. A evolução foi ótima com desaparecimento dos sintomas após o terceiro dia. Exames realizados não evidenciaram má formação do trato urinário, presença de litíase ou qualquer outro fator que justificasse a etiologia do processo infeccioso. Caso 5 – Paciente do sexo masculino com 53 anos de idade, procurou pronto socorro com queixas de febre (38º C), dor lombar do lado direito, urina com odor fétido e náuseas. Na avaliação clínica o paciente se encontrava toxemiado, prostrado, febril e taquicárdico. Paciente dizia saber ser hipertenso há alguns anos, mas fazia tratamento irregular, e que episodicamente apresentava hematúria macroscópica, mas jamais havia procurado tratamento médico para este problema. Foi solicitado urina rotina que evidenciou 100 a 150 leucócitos por campo com agrupamentos, 50 a 100 hemáceas por campo e solicitado urocultura. Iniciou-se tratamento com amicacina 500 mg EV a cada 24 horas, após exames laboratoriais de rotina terem evidenciado alteração da função renal (Creatinina – 2,6 mg/dl e uréia – 84 mg/dl). O resultado da urocultura evidenciou + 100.000 colônias/ml de E. coli sensível à amicacina, e após o terceiro dia o paciente apresentava melhora significativa do quadro clínico. Na investigação subsequente com a realização do exame ultrassonográfico foi feito diagnóstico de Doença Renal Policística, e o paciente foi orientado a seguir tratamento rigoroso com a finalidade de preservar a função renal e controle da Pressão Arterial. B) Questões 1. Qual a definição de bacteriúria assintomática? 2. Bacteriúria assintomática: quando devemos tratar? 3. Aderência bacteriana e outros fatores de virulência para infecções do trato urinário. 4. Epidemiologia, microbiologia e patogenia da pielonefrite aguda. 5. Como fazemos o diagnóstico de infecção do trato urinário? 6. Quais são os fatores predisponentes para infecção do trato urinário? 7. Quais exames devemos realizar no diagnóstico da infecção do trato urinário? 8. Qual a diferença entre recaída e reinfecção nas infecções do trato urinário recorrentes? 9. Qual o esquema terapêutico no tratamento das infecções do trato urinário baixo? 10. Qual o esquema terapêutico no tratamento das pielonefrites agudas? 11. Qual o esquema terapêutico no tratamento das infecções do trato urinário de pacientes portadores de cateteres intravesical, e devemos ou não fazer tratamento profilático? INFECÇÕES DO TRATO URINÁRIO DEFINIÇÃO Caracteriza-se pela presença de microorganismos nas vias urinárias, habitualmente, bactérias, seja na bexiga, próstata, sistema coletor ou rins. INCIDÊNCIA No primeiro ano de vida é mais comum no sexo masculino, devido à maior incidência de mal-formações congênitas, como válvula de uretra posterior, mal-formações da uretra (hipospádia, epispádia, etc.). Após tal período, passa a ser mais freqüente no sexo feminino. Na idade pré-escolar, tende a ser de 10 a 20 vezes maior em crianças do sexo feminino. No adulto, a freqüência de ITU aumenta, também, com predomínio no sexo feminino, com picos de incidência, relacionado com atividade sexual, gestação e menopausa. A incidência volta a aumentar no sexo masculino após a 5ª e 6ª década de vida, devido a problemas da próstata. A menor incidência de ITU, no sexo masculino, deve-se a fatores anatômicos: uretra mais longa, atividade bactericida do fluido prostático e ambiente periuretral mais úmido. No sexo feminino, além da uretra mais curta, há também maior proximidade do ânus com a uretra e o vestíbulo vaginal, o que possibillita a colonização destes por enterobactérias que, habitualmente, causam ITU. CLASSIFICAÇÃO - NÃO COMPLICADA: sexo feminino, não grávida; ausência de alterações anatômicas do trato urinário; ausência de alterações funcionais do trato urinário; ausência de cateteres urinários; ausência de alterações da imunidade; adquirida na comunidade. COMPLICADA: sexo masculino; obstrução urinária; - alterações anatômicas do trato urinário; alterações funcionais do trato urinário; patógeno multirresistente; corpo estranho; imunossupressão; cateteres urinários; presença de cálculos urinários e/ou nefrocalcinose. FATORES PREDISPONENTES Os microorganismos uropatogênicos colonizam o intestino grosso e a região perianal. Nas mulheres, pode haver colonização do vestíbulo vaginal e do intróito uretral e, posteriormente, ocorre ascensão para a bexiga e/ou rins. Em condições normais, há competição entre esses uropatógenos e a flora vaginal, constituída predominantemente por lactobacilos. A colonização da vagina é facilitada, principalmente, pelo uso de antibióticos e pela má higiene perineal. A migração para a uretra e bexiga é desencadeada, principalmente, pela atividade sexual, pelo uso de contraceptivos com espermicida, e pela alteração do pH vaginal, que pode ocorrer com a alteração da flora pelo uso de antibióticos e pelo hipoestrogenismo que, habitualmente, ocorre na menopausa. MICROBIOLOGIA As enterobactérias são as principais causadoras de ITU: - Escherichia coli (> 85% ITU comunitárias e 50% ITU hospitalares) - Staphylococcus saprophyticus - Proteus sp - Klebsiella sp - Pseudomonas sp (Princ. ITU hospitalar) - Serratia sp - Enterobacter sp - Enterococo, etc. FATORES DE VIRULÊNCIA As enterobactérias podem apresentar as seguintes estruturas, relacionadas a seguir: - Flagelo (antígeno H), responsável pela motilidade - Cápsula (antígeno K), confere resistência à fagocitose. - Lipopolissacarídeo (antígeno O), determinante antigênico. - Hemolisina, toxina polipeptídica, que provoca lise de hemácias. - Aerobactina, quelante de ferro secretado, devido à importância deste no crescimento e divisão bacteriana. - Fímbrias, estruturas responsáveis pela aderência da bactéria ao urotélio e pela transmissão de informação genética para outras bactérias através dos plasmídeos. Há 2 tipos de fímbrias(2): 1. Fímbria tipo I: o receptor é a manose ou a proteína de Tamm Horsfall, relaciona-se às cistites. 2. Fímbria P: liga-se ao grupo sanguíneo P, presente em hemácias e em células epiteliais, o receptor é parte de um glicoesfingolípide (Gal-Gal), associa-se com pielonefrite. DIAGNÓSTICO LABORATORIAL O diagnóstico definitivo é firmado através do crescimento de microorganismos na urocultura. A bacteriúria significativa, habitualmente, caracteriza-se por crescimento bacteriano > 100.000 colônias/ml, porém valores mais baixos são aceitos em algumas situações: - > 100 colônias/ml de coliformes em mulher sintomática; - Qualquer crescimento em urina colhida através de punção suprapúbica; - > 1000 colônias/ml em homem sintomático A amostra de urina deve ser obtida através do método do jato médio e colhida com assepsia em pacientes que não apresentem anormalidades funcionais do trato urinário e, preferencialmente, a 1ª urina do dia. Se não for colhida a 1ª urina do dia, deve ser colhida amostra de urina com intervalo mínimo de 2 h após a última micção, o que corresponde ao período de latência para o crescimento bacteriano. A presença de leucocitúria com agrupamentos, no exame de urina do tipo I, tem alta especificidade, principalmente se associar a sinais e/ou sintomas atribuíveis ao trato urinário, e é muito útil enquanto se aguarda a urocultura. A presença de nitrito no exame bioquímico da urina também é específica para infecção do trato urinário. Indica a presença de esterase leucocitária (ocorre quando há leucocitúria) ou atividade redutora de nitrato (causada por enterobactérias). Sempre pedir antibiograma, mesmo que iniciar tratamento: - Sensibilidade com melhora dos sintomas: mantém - Resistência com melhora dos sintomas: mantém e observa - Resistência sem melhora ou com piora dos sintomas: substitui antimicrobiano de acordo com sensibilidade no antibiograma INVESTIGAÇÃO POR IMAGEM DO TRATO URINÁRIO Deve ser feita em pacientes do sexo masculino com ITU e em mulheres com ITU de repetição. Os exames para avaliação são os seguintes: - US de vias urinárias: Não invasivo, é o primeiro a ser realizado. Útil para mostrar cálculos, mal-formações, abcessos, rins policísticos e dilatação da árvore pielocalicial. Deve também ser usado como exame de triagem, para a indicação de outros exames mais sensíveis. - Urografia excretora: Não deve ser realizada na fase aguda da infecção, pois os resultados são ruins, além da nefrotoxicidade do contraste. Possui grande utilidade para o diagnóstico de alterações anatômicas, como dilatação pélvica, calicial e ureteral, estenose de junção uretero-piélica e duplicidade ureteral, entre outras. - Uretrocistografia miccional: exame de escolha para o diagnóstico de RVU. Também tem grande utilidade para o diagnóstico de VUP. Deve ser solicitado para crianças < 6 anos com ITU de repetição: do sexo feminino, e para qualquer episódio de ITU no sexo masculino, desde que não haja um diagnóstico prévio da causa. Para adultos: só em caso de ITU de repetição pós-transplante renal. - Cintilografia com DMSA (ácido dimercaptossuccínico): é útil na detecção de cicatrizes renais em crianças com refluxo vesicoureteral. Pode, também, ser realizado na fase aguda de ITU em crianças, para detectar a presença de pielonefrite. Vantagem: não utiliza contraste. - Cistoscopia: indicada em pacientes idosos com ITU de repetição sem causa aparente, e em pacientes com hematúria, especialmente se houver história de tabagismo, para o diagnóstico de câncer de bexiga. - Tomografia computadorizada: raramente é necessária. Útil, quando há suspeita de tumor renal ou de abcesso, e na investigação de rins policísticos. LACTENTES: Nessas crianças torna-se importante excluir: obstruções, refluxo vésico ureteral. E confirmar se os Rins são normais. Portanto, na sua avaliação necessita-se solicitar: o Ultrassonografia do trato urinário o Uretrocistografia Miccional o RX simples abdominal e se possível o DMSA (ácido dimercaptossucinico) CRIANÇAS ENTRE 1 E 5 ANOS DE IDADE: o Ultrassonografia do trato Urinário o Uretrocistografia Miccional CRIANÇAS MAIORES DE 5 ANOS DE IDADE: Crianças nessa faixa etária terão menores chances de após uma infecção urinária de desenvolverem comprometimento do tecido renal, portanto, necessitarão unicamente de uma Ultrassonografia do Trato Urinário na avaliação inicial. OBSERVAÇÃO: Em qualquer das situações anteriores, se houver qualquer anormalidade detectada é imperioso solicitar: o Urografia Exretora ou/e DMSA. SÍNDROMES CLÍNICAS CISTITE: Também denominada ITU baixa, se caracteriza pela invasão e aderência de microorganismos na bexiga, levando a uma resposta inflamatória. Clinicamente caracteriza-se por presença de disúria, polaciúria, tenesmo vesical e dor hipogástrica. Cerca de 30% das ITU baixas apresentam comprometimento alto oculto, e o tratamento nestes casos deve ser feito para ITU alta. O diagnóstico de ITU alta oculta deve ser feito, quando estiver presente um dos um dos fatores mencionados a seguir: • Sexo masculino • Idade avançada • Infecção hospitalar • Gravidez • Urolitíase • Pielonefrite aguda ou mais de 3 ITUs no último ano • Cateter urinário • Instrumentação recente do trato urinário • Alterações anatômicas ou funcionais do trato urinário • História de infecção do trato urinário na infância • Presença de sintomas por 7 dias ou mais • Uso recente de antibióticos • Diabetes Mellitus • Imunossupressão PIELONEFRITE: também denominada ITU alta e nefrite intersticial bacteriana, caracteriza-se pela invasão e aderência de microorganismos no rim, levando a uma resposta inflamatória. Clinicamente caracteriza-se por dor em flanco, sensibilidade na região lombar (sinal de Giordano), febre, calafrios, náuseas e vômitos. BACTERIÚRIA ASSINTOMÁTICA: caracterizada pela presença de bacteriúria significativa em pacientes sem sintomas atribuíveis ao trato urinário. Para que se possa diferenciar da contaminação, deve ocorrer o crescimento do mesmo germe em 2 uroculturas e com contagem de colônias > 100.000/ml ou próxima a esse valor. SÍNDROME URETRAL: sintomas de disúria e polaciúria exuberantes, porém com urocultura negativa, e sedimento urinário normal ou com leucocitúria. Habitualmente, associa-se a infecções por germes não habituais (Chlamydia trachomatis, Ureaplasma Trychomonas, urea-lyticum, Mycoplasma, Cândida, Mycobacteria), e Gonococo, cistites não infecciosas. RECORRÊNCIA RECAÍDA: Presença do mesmo microorganismo, que não foi efetivamente eliminado. Ocorre até 2 semanas após o término do tratamento. REINFECÇÃO: Novo episódio de infecção, pelo mesmo ou por outro microorganismo. Sintomas reaparecem em período maior do que 2 semanas após o término do tratamento. Nesse caso, investigar com US e Urografia excretora. TRATAMENTO Deve ser feito de acordo com a localização e presença de fatores complicantes, tais como os relacionados a seguir: - ITU baixa não complicada: deve ser tratada por 7 dias. As drogas mais indicadas são: norfloxacin (400mg VO 12/12 h), ácido pipemídico (400mg VO 12/12 h), cefalexina (500mg VO 6/6 h), nitrofurantoína (100mg VO 6/6 h), e cefuroxima (250mg VO 8/8 h). As quinolonas são contraindicadas na gravidez e em crianças com menos de 12 anos de idade. Em caso de recaída, o tratamento deve ser realizado por um período de 14 dias. - ITU baixa comunitária em pacientes com sonda vesical: deve ser tratada por 7 dias. As drogas mais indicadas são: norfloxacin (400mg VO 12/12 h), ácido pipemídico (400mg VO 12/12 h), e cefuroxima (250mg VO 8/8 h). Na aula: sempre inicia com ciprofloxacina, esperar antibiograma e fazer trat. específico. NÃO fazer profilaxia (seleção). - ITU baixa comunitária em gestantes: deve ser tratada por 7 dias. As drogas mais indicadas são: cefalexina (500mg VO 6/6 h) e cefuroxima (250mg VO 8/8 h). - ITU alta comunitária (tratamento ambulatorial): deve ser tratada por 14 dias. As drogas indicadas pela Comissão de Uso e Controle de Antimicrobianos do HCRP são: norfloxacin (400mg VO 12/12 h), cefuroxima (250mg VO 8/8 h) e gentamicina (3mg/Kg/dia IM em dose única). Na Divisão de Nefrologia da FMRP-USP, é indicado tratamento inicial com ciprofloxacin (500mg VO 12/12 h). - ITU alta comunitária (tratamento hospitalar): a internação está indicada para pacientes com febre, toxemia e queda do estado geral, e o tratamento deve durar 14 dias. Deve ser iniciado por via EV e, quando houver melhora do estado geral, transferido para VO. As drogas indicadas pela Comissão de Uso e Controle de Antimicrobianos do HCRP são: cefalotina (2g EV 6/6 h), cefuroxima (750mg EV 8/8 h), gentamicina (3mg/Kg/dia IM) e ciprofloxacin (400mg EV 12/12 h). Na Divisão de Nefrologia da FMRP-USP é indicado tratamento inicial com ciprofloxacin (400mg EV 12/12 h até melhora clínica e 500mg VO 12/12 h até o término do tratamento). - ITU alta comunitária em gestantes: o tratamento deve durar 14 dias. Deve ser iniciado por via EV, e quando houver melhora do estado geral, passar para via oral. As drogas mais indicadas são: cefalotina (2g EV 6/6 h) e cefuroxima (750mg EV 8/8 h). - ITU por Pseudomonas: Ceftazidima, associado ou não a amicacina (aminoglicosídeo, assim como a gentamicina, e são nefro e ototóxicos). Os antimicrobianos devem ter sua efetividade avaliada 24 a 72hs após o início do tratamento. terapêutica ITU DE REPETIÇÃO É condição freqüente em pacientes do sexo feminino com investigação do trato urinário sem anormalidades. Tais pacientes apresentam maior susceptibilidade à colonização vaginal, mesmo em períodos assintomáticos. Existe uma maior propensão dos uropatógenos coliformes para aderir ao urotélio, em comparação com mulheres normais. Há vários fatores de risco: - Genéticos e biológicos: Fenótipo não secretor do grupo sanguíneo ABH (maior tendência à aderência de uropatógenos) e receptor de IL-8. - Comportamentais: Ato sexual; uso de contraceptivos com espermicida no último ano; novo parceiro sexual no último ano; primeira infecção urinária antes dos 15 anos; mãe com história de infecção urinária. - Anatomia pélvica: distância significativamente menor entre o ânus e a uretra. - Pós-menopausa: Incontinência urinária; cistocele; resíduo pós-miccional; alteração do Ph vaginal (associada a alterações hormonais). - Determinantes de virulência do uropatógeno PROFILAXIA Várias medidas podem ser adotadas, como as relatadas a seguir: - Alteração do método contraceptivo - Maior ingesta hídrica - Micção pós-coital - Estrogênios tópicos na vagina (pós-menopausa) - Acertar hábito intestinal, com dieta rica em fibras (para diminuir a força para evacuar) - Limpar-se sempre da frente para trás, após usar o toalete - Lavar a região perianal após as evacuações - Evitar o uso de absorventes internos - Evitar o uso constante de roupas íntimas de tecido sintético, preferir as de algodão - Usar roupas mais leves para evitar transpiração excessiva na região genital - Quimioprofilaxia - Nitrofurantoína (100mg/dia) - Sulfametoxazol-trimetoprim (480mg/dia) - Norfloxacin (400mg/dia) - Ácido pipemídico (400mg/dia) BACTERIÚRIA ASSINTOMÁTICA O diagnóstico é firmado com 2 uroculturas positivas, com crescimento bacteriano >100.000 colônias/ml, com o mesmo agente nas 2 amostras. Sua incidência é maior em alguns grupos: Grávidas; Idosos; Diabéticos; Transplantados; Pacientes com cateteres urinários; Crianças com refluxo vesicoureteral; Pacientes com cálculos de estruvita O tratamento é discutível em idosos e em mulheres em idade reprodutiva, pois o índice de recorrência é alto, e o tratamento não altera o prognóstico e a evolução. Pessoas idosas devem ser sempre tratadas uma vez, e se recorrer não trata mais. Devem ser sempre tratados: - Gestantes: aumenta o risco de trabalho de parto prematuro. - Crianças, princ. <5a: tratar o refluxo vesicoureteral, que contaminado causa fibrose renal. Avaliar benefícios do tratamento da ITU. - Transplantados renais: têm maior risco de desenvolver sépsis, devido à imunossupressão, e o risco de desenvolvimento de nefropatia crônica do enxerto também é mais elevado em pacientes não tratados. - Diabéticos: apresentam risco mais elevado de desenvolver complicações, como abcesso perinefrético, necrose de papila e pielonefrite enfisematosa. - Pacientes com cálculo de estruvita: os cálculos devem ser eliminados, caso contrário o processo infeccioso perpetua-se. - Pacientes com cateteres urinários apresentam risco de bacteremia por gram-negativos elevado em 5 vezes, e o aumento do risco é proporcional ao tempo de cateterização. Graus de RVU: I. Urina chega somente até ureter II. Urina volta até o rim, mas não há dilatação dos cálices renais III. Já há discreta dilatação dos cálices renais IV. Há dilatação importante dos cálices renais V. Megadolicoureter I e II: Tratamento clínico III: Tratamento deve ser discutido IV e V: Tratamento sempre cirúrgico DERMATOLOGIA INFECÇÕES AGUDAS E CRÔNICAS DA PELE Profa Dra Norma Tiraboschi Foss A) Resumos de casos clínicos ilustrativos Caso 1 - Paciente de 60 anos de idade, sexo masculino, lavrador, refere área de parestesias em lesão eritêmato-infiltrada de crescimento centrífugo há 4 anos. Há 2 meses observou lesões semelhantes em outras regiões do tegumento. 1. 2. 3. 4. Quais os diagnósticos possíveis? Quais exames clínicos e/ou laboratoriais poderiam ser solicitados? Explique. Cite sua hipótese diagnóstica. Qual a conduta terapêutica e orientação? Caso 2 - Uma paciente de 35 anos de idade apresentava pápulas, nódulos e múltiplas placas eritêmato infiltradas, simétricas, algumas com alopecia distribuidas pelo dorso e membros. Referia parestesia nas lesões e em região lateral de membro superior D. Para esclarecimento diagnóstico que exames deveriam ser efetuados? 1. Descreva os exames subsidiários indicados. Qual sua conduta e orientação? Caso 3 - Paciente do sexo feminino, 55 anos de idade referindo febre de 39ºC, cefaléia, inapetência e mal estar geral há 3 dias, apresenta no membro inferior esquerdo, placa eritematosa com acentuado calor e dor no local. Adenopatia regional. 1. 2. 3. 4. Qual o seu diagnóstico e o agente etiológico? Que fatores aumentam a suscetibilidade a essa infecção? Quais exames laboratoriais solicitaria? Qual sua conduta? Caso 4 - Diante de uma criança de 6 anos de idade que apresentou erupção com exsudato sero purulento, presença de erosões e crostas em regiões peri-orificiais há cinco dias. 1. 2. 3. 4. 5. Qual sua hipótese diagnóstica? Que organismos são os responsáveis pelo quadro? Como você esclarece o diagnóstico? Qual doença interna é uma rara complicação? Qual sua conduta? Caso 5 - Um homem de 48 anos, lavrador, apresenta lesão úlcero-vegetante na região nasal, placa papulosa no mento e ulceração de lábio inferior há 6 meses. Presença de gânglios submandibulares de consistência parenquimatosa bilateralmente. 1. Qual o diagnóstico provável? 2. Discuta diagnóstico diferencial. 3. Descreva os exames subsidiários, prognóstico e tratamento. Caso 6 - Paciente masculino de 54 anos, lavrador, queixou-se de lesão pápulo-pustulosa que evoluiu para úlcera com crescimento progressivo em membro superior esquerdo há 2 meses. Foi tratado com antibióticos tópico e sistêmico, entretanto, não obteve melhora. Relatou residir em área rural e possuir hábito de pescaria em rios próximo a sua região. Quais as doenças cutâneas que apresentam lesão ulcerada? 1. Discuta qual seria o diagnóstico provável definindo agente etiológico; 2. Qual a conduta? 3. Discuta quais são os exames complementares que você solicitaria para confirmar ou excluir seus diagnósticos. PELE Um dos maiores órgão do corpo, 16% do peso corporal. Age como barreira. Composta por 3 camadas. Estruturas e espessura variam muito, de acordo com local. 1. Epiderme: epitéilo escamoso estratificado; espessura varia dependendo da região (mais espessa em palma, planta). Principal célula: ceratinócito (produtor queratina) 2. Derme: matriz de tecido conjuntivo rijo (colágeno, elastina); contém estruturas especializadas (gland sebácea, folículo piloso); vasos e nervos 3. Hipoderme ou Subcutâneo: composto por tecido conjuntivo e gordura HANSENÍASE Br: maior prevalência mundial por habitante Micobacterium leprae (bacilo de Hansen): parasita de céls cutâneas e de nervos periféricos intracelular obrigatório). São resistentes ao meio ambiente, 10 dias em temperatura ambiental (30-36o C); com umidade relativa elevada (70-80%) pode sobreviver até 45 dias. Transmissão: vias aéreas superiores (principal) ou lesão cutânea através de solução de continuidade Mas transmissão depende de um contato prolongado e íntimo, dependendo também da susceptibilidade do indivíduo; a maioria das pessoas é resistente ao bacilo e não adoece. Obs: pacientes multibacilares são a principal fonte de infecção. Patogênese: período de incubação 3 a 7 anos Bacilo vai se localizar nas células de Schwann e na pele. Disseminação para outros tecidos vai ocorrer nas formas mais graves. A defesa é efetuada pela imunidade celular. Formas clínicas: 2 formas polares (virchowiana e tuberculóide) e outros 2 grupos (indeterminada e dimorfa). Hanseníase indeterminada (HI): manchas hipocrômicas com alteração de sensibilidade (primeiro térmica, depois tátil, depois dolorosa). Lesões em pequeno número. Baciloscopia negativa. É considerada a primeira manifestação clínica da hanseníase. Após meses ou anos ocorre evolução para cura ou para outra forma clínica. Hanseníase tuberculóide (HT): lesões bem delimitadas, em número reduzido, eritematosas com perda total da sensibilidade, distribuição assimétrica. Há atrofia no interior da lesão com bordas papulosas; não há bacilos na lesão. Baciloscopia negativa. As formas tuberculóide e indeterminada são as formas paucibacilares da hanseníase. Apesar da possibilidade de cura espontânea na HT, os casos devem ser tratados para reduzir tempo de evolução e risco de dano neural. Hanseníase Virchowiana (HV): Forma multibacilar, polo de baixa resistência imunológica. Caracteriza-se pela infiltração progressiva e difusa da pele, mucosas, olhos, testículos, nervos, linfonodos, fígado, baço. Infiltração é mais acentuada em membros e face. Há rarefação dos pelos de membros, cílios, sobrancelha (madarose). Fácies leonina. Baciloscopia fortemente positiva, importante foco infeccioso ou reservatório da doença. Microorganismo pode ser isolado de qualquer tecido ou órgão (exceto pulmão e SNC). Hanseníase Dimorfa (HD): Instabilidade imunológica o que leva a grande variação de manifestações clínicas. Lesões de pele numerosas, mesclando morfologia de HV e HT. Pode Ter baciloscopia positiva na borda da lesão. Diagnóstico: manifestações clínicas, baciloscopia e histopatologia, sorológicos. Reação de Mitsuda: teste intradérmico de leitura tardia (28 dias) não possui valor para diagnóstico, consiste na aplicação intradérmica de preparado com bacilos mortos; a intensidade da reação é proporcional ao tamanho do nódulo formado, sendo medida em cruzes. Tratamento: Forma paucibacilar: tuberculóide, dimorfa tuberculóide, indeterminada Rifampicina 600 mg dose mensal (bactericida) supervisionada Dapsona doses diárias 100 mg/dia (bacteriostático) auto-administração Comparecimentos mensais para medicação supervisionada, no período de tratamento de 6 doses mensais até 9 meses Forma multibacilar: dimorfa, dimorfa virchowiana e virchowiana Rifampicina 600 mg dose mensal, supervisionada Dapsona 100mg uma vez ao dia, autoadministradas Clofazimina 50 mg doses diárias, autoadministradas Comparecimento mensal para medicação supervisionada, no período de tratamento de 12 doses até 18 meses IMPETIGO Infecção bacteriana da pele, comum em crianças, causada pelos germes S. aureus (principal) e S. pyogenes. A doença caracteriza-se pelo surgimento de vesículas e bolhas com pus que rapidamente se rompem (muitas vezes as bolhas nem são vistas) deixando áreas erosadas recobertas por crostas espessas de aspecto semelhante ao mel ressecado. Podem ser várias pequenas lesões disseminadas ou poucas que vão aumentando progressivamente de tamanho. São bem superficiais, portanto não deixam cicatriz. Predomínio na região oro facial. Mais frequente nas épocas quentes do ano, a doença atinge principalmente as áreas de dobra da pele Transmissão: S. aureus: se dissemina por contiguidade; S. pyogenes se dissemina por vias aéreas O tratamento consiste na remoção das crostas e limpeza das lesões, antibioticoterapia local. ECTIMA É uma dermatite estreptocócica de caráter erosivo e ulcerativo que ocorre geralmente em condições de higiene precária ou como resposta a microtraumatismos e se manifesta como úlceras múltiplas bacterianas, revestidas por crostas e localizadas predominantemente nas pernas. O estreptococo envolvido também é o betahomolítico do grupo A e a infecção é favorecida por trauma, coçagem, manipulação da lesão inicial e má -higiene. O quadro clínico da ectima tem início com o aparecimento de vesícula, vésico-pústula ou pústula, que se aprofunda, originando lesão ulcerada recoberta por crosta espessa. Ao regredir, a ectima deixa cicatrizes (uma ou várias). Tratamento: 1) lavagem da área comprometida com água e sabão duas a quatro vezes ao dia; 2) tratamento tópico com creme de mucipirocina ou spray de rifocina, duas vezes ao dia; 3) antibioticoterapia sistêmica: oxacilina ou eritromicina. FOLICULITE SUPERFICIAL Lesão centrada no folículo piloso. Sempre que anexos acometidos pensar em S aureus A invasão bacteriana pode ocorrer espontaneamente ou favorecida pelo excesso de umidade ou suor, raspagem dos pêlos ou depilação. Atinge crianças e adultos podendo surgir em qualquer localização onde existam pêlos, sendo frequente na área da barba (homens) e na virilha (mulheres). Quando superficial, a foliculite caracteriza-se pela formação de pequenas pústulas ("bolhinhas de pus") centradas por pêlo com discreta vermelhidão ao redor. Alguns casos não apresentam pus, aparecendo apenas vermelhidão ao redor dos pêlos O tratamento é feito com antibióticos de uso local ou sistêmico específicos para a bactéria causadora e cuidados anti-sépticos. Algumas lesões podem necessitar de drenagem cirúrgica. FURUNCULO Infecção bacteriana da pele que causa a necrose (destruição) do folículo pilosebáceo. É causada pela bactéria estafilococos. A lesão inicia-se por um nódulo muito doloroso, vermelho, inflamatório, endurecido e quente e centrado por um pêlo, onde pode aparecer pequeno ponto de pus. Com a evolução do quadro ocorre o rompimento do nódulo e a eliminação do "carnegão", deixando área ulcerada que vai cicatrizar geralmente deixando marca escura no local. As lesões são mais frequentes em áreas de dobras da pele, sendo muito comuns nas nádegas e virilhas. Quando ocorrem repetidamente, a doença recebe o nome de furunculose e está associada à uma deficiência do organismo em evitar a infecção do folículo. Quando várias lesões surgem simultaneamente, próximas e interligadas, o quadro recebe o nome de antraz, ocorrência mais comum na região da nuca. O tratamento é feito com antibióticos locais e sistêmicos. Nos casos muito dolorosos e com superfície amolecida, pode ser feita a drenagem da lesão, com alívio imediato da dor. Quando ocorre a furunculose, deve-se pesquisar o que está favorecendo o surgimento das lesões e estimular a defesa orgânica do indivíduo. HIDROSADENITE É uma infecção bacteriana das glândulas sudoríparas apócrinas. A obstrução do ducto glandular com retenção de suor pode ser o fator facilitador da infecção. A doença ocorre nas axilas, regiões perianal e pubiana, virilhas e mamas, locais onde são encontradas as glândulas apócrinas. Caracteriza-se por um nódulo avermelhado e doloroso, semelhante a um furúnculo. Pode ser pequeno e pouco inflamatório ou grande com muita inflamação, vermelhidão e dor. A ruptura da lesão deixa sair pus mas, nem sempre, isto é suficiente para a sua regressão. Como a obstrução do ducto glandular pode estar associada ao surgimento da hidradenite, deve-se evitar o uso de desodorantes antitranspirantes, depilação e raspagem dos pêlos com gilete. O tratamento é feito com antibióticos locais e sistêmicos. Nas lesões maiores, geralmente muito dolorosas, pode ser feita a drenagem da lesão, facilitando a saída do pus e diminuindo a dor. ERISIPELA infecção bacteriana da pele que atinge sua porção mais profunda (derme profunda e tecido gorduroso) É causada pela bactéria estreptococos beta hemolítico. Caracteriza-se por vermelhidão, dor e edema (inchaço) da região afetada, com distinta demarcação entre tecido normal e comprometido. A progressão é rápida, podendo atingir áreas extensas em pouco tempo. A pele se apresenta lisa, avermelhada e quente e, em alguns casos, pode haver a formação de bolhas (erisipela bolhosa) ou feridas. Acompanha-se de febre e mal estar geral e habitualmente ocorre o aumento dos gânglios regionais ("ínguas"). A "porta de entrada" da bactéria para os tecidos profundos da pele pode ser uma pequena lesão muitas vezes imperceptível. Na erisipela da perna é muito comum a porta de entrada ser uma “frieira" entre os dedos dos pés. O tratamento é feito com antibioticoterapia específica para a bactéria causadora. Deve ser tratada também a origem da infecção (porta de entrada da bactéria), para evitar o retorno da doença (erisipela de repetição). CELULITE Acomete derme profunda e subcutâneo. Agentes variados, inclusive fungos, mas principalmente S.aureus. Difícil diferenciação entre tecido normal e acometido, mas nem sempre se distingue da erisipela. Porta de entrada distante ou inaparente. Pode Ter disseminação hematogênica ou linfática. Comum em usuários de drogas. Sintomas sistêmicos da celulite/erisipela podem anteceder manifestações cutâneas. Podem levar a linfedema crônico com espessamento da pele, edema que predispõe a novos quadros de infecção. Diagnósticos diferenciais com TVP, tromboflebite. Exames laboratoriais: gram, cultura (erisipela tem baixa confirmação diagnóstica) Tratamento: erisipela = primeira escolha penicilinas cristalina ou benzatina (ou despacilina) Staphylo resistente a penicilinas = cafalosporinas, macrolídeos, oxacilina SÍNDROME DO CHOQUE TÓXICO A síndrome do choque toxico e uma doença potencialmente fatal, causada por uma bactéria (S.aureus) resultante da liberação de toxinas pelas bactérias. Pode ocorrer por ferimentos ou Infecções na garganta, pulmões, pele ou osso. Entretanto e mais comum acometer mulheres em idade fértil principalmente as mulheres que usam absorventes internos (Ob, Tampax, etc.) Estes podem alojar a bactéria e fornecer o meio ambiente para o seu desenvolvimento, principalmente quando o absorventes internos são deixados no local por tempo muito prolongado. Além disso, as fibras superabsorventes de alguns absorventes internos podem causar ferimentos microscópicos na vagina, que permitem transmissão da toxina bacteriana para o sangue. Apesar de não ser comum, a síndrome do choque toxico pode ocorrer após cirurgias, incluindo mulheres que foram submetidas a parto cesáreo. Os sintomas aparecem rapidamente e geralmente são severos. Eles incluem: febre alta, de aparecimento súbito, dores musculares, vômitos, diarréia, vermelhidão na pele similar a uma queimadura solar, incluindo descamação da pele nas mãos e pés, pulso acelerado, cansaço e fraqueza extremos, dor de garganta, tontura, desmaio, queda da pressão arterial. SÍNDROME PELE ESCALDADA Doença epidermolítica mediada por toxinas que se caracteriza por eritema, desprendimento generalizado das camadas superficiais da epiderme, envolvendo principalmente recém nascidos e lactentes com menos de 2 anos de idade. O agente é o S.aureus produtor de toxinas. A produção de toxinas origina-se de focos de infecção, como conjuntivite purulenta, otite média e nasofaringite, ou localmente por lesões de impetigo bolhoso. Os tratamentos tópicos são banhos e compressas para desbridamento da epiderme superficial necrótica. Agentes antimicrobianos tópicos (sulfadiazida de prata, bacitracina). Há indicação do tratamento com oxacilina EV para comprometimentos extensos da pele, além de reposição de perdas hidroeletrolíticas. Obs.pele escaldada = clivagem intraepidérmica (não deixa cicatriz); farmacodermia = clivagem subepidérmica LEISHMANIOSE Doença causada por protozoários Leishmania, transmitidos por picada de mosquitos flebótomos. Observada em regiões tropicais e subtropicais. Hospedeiros: animais silvestres (roedores), domésticos (cães) e homem (hospedeiro acidental. Cutânea: lesão única ou múltipla; pode ter resolução espontânea com cicatrização não estética. Pápula, nódulo, úlcera com borda emoldurada; pode ter lesões mais vegetantes, verrucosas. Mucosa: preferência por parte distal do nariz (nariz em tapir), em geral deixando estruturas ósseas íntegras. Pode acometer mucosa oral e até traquéia. Calazar: afeta principalmente crianças e tem mortalidade significativa; causa hepatoesplenomegalia, anemia, debilidade. Diagnóstico: não tem dor ou prurido, lesões resistentes a tratamentos de rotina. Pesquisa direta, biópsia de pele, PCR, sorologias, reação de Montenegro (positiva após 3 a 4 meses e permanecendo positiva para o resto da vida). Pode ser negativa em imunossuprimidos ou lesões recentes. Tratamento: sistêmico = antimoniais EV ou IM (por 20 – 30 dias, dependendo das lesões). O tratamento é feito com o objetivo de obter a cura clínica dos doentes, evitar recidivas e evolução das formas cutâneas para muco-cutâneas e prevenir o aparecimento de lesões mutilantes. A droga de primeira escolha para todas as formas clínicas da leishmaniose é o antimonial pentavalente conhecido por glucantime. A droga é de fácil aplicação com poucos efeitos colaterais e baixa toxicidade. Como efeito colateral pode ocorrer dores musculares e articulares, náuseas, dores abdominais, febre, dor de cabeça. Geralmente, estes sintomas são discretos e não exigem a suspensão do tratamento. A posologia varia de idade para idade. Pode-se usar também Anfoterecina B ou crioterapia (quando só cutânea). Diagnóstico diferencial: PB micose, tumores cutâneos, esporotricose, TB verrucosa, cromomicose, histoplasmose, sífilis, criptococose, hanseníase virchowiana. DOENÇAS SEXUALMENTE TRANSMISSÍVEIS Profª Drª Ana Maria Ferreira Roselino A) Resumos de casos clínicos ilustrativos Caso 1 - MMB, Reg. 068292-H, 26 anos, branca, procedente de Ribeirão Preto (SP), do lar. Atendida em 5/8/83, referindo lesão dolorosa em lábio inferior há 2 semanas. Havia usado formol e pomadas. A seguir, surgiu lesão em espelho em lábio superior. Refere adenomegalia cervical. Negava febre, artralgia, lesões genitais. Antecedentes: O marido apresentava lesão semelhante, na mesma época, que resolveu em 1 semana. Ao exame físico: gânglios submandibulares, de 0,5 a 1cm, sendo 1 deles maior à direita. Exame dermatológico: 2 lesões ulceradas em espelho, em lábios inferior e superior à esquerda, com bordas induradas e fundo necrótico (formol?). Exames laboratoriais: Hemograma (8/8/83): GB=13.900/mm3, VHS=24mm/1ªh. Wasserman e VDRL (8/8/83, 20/9/83, 30/7/85, 27/12/85, 29/10/93): não reagentes. Marido (8/8/83): não reagentes. Foi tratada, assim como o marido, com 3 frascos de penicilina benzatina (1 frasco = 1.200.000UI), IM, doses semanais, retornando em 27/9/83 com lesões cicatrizadas. Caso 2 - MABG, Reg. 050225-F, 44 anos, branca, natural de Orlândia (SP), procedente de São Joaquim da Barra (SP), doméstica. 24/6/82: Há 1 mês, lesões assintomáticas em região cervical, tronco e membros superiores. Refere rouquidão. Nega febre, mal estar geral e queda de cabelos. Antecedentes: asma. Exame físico geral: obesidade. Adenomegalia submandibular e epitroclear. Restante normal. Exame dermatológico: lesões pápulo-eritematosas, algumas com descamação discreta furfurácea, em regiões supracitadas. Tratamento: 100.000UI de penicilina procaína IM (1 ampola: 400.000UI) e 1 frasco IM semanal de penicilina benzatina por 6 semanas (1 frasco: 1.200.000UI). Retornou, 2 meses após, com lesões regredidas. 6/8/84: Internada na Dermatologia com lesões generalizadas, cujo diagnóstico foi de dermatite de contato. Foi-lhe prescrito prednisona e 2 frascos de benzatina. 23/4/86: Há 20 dias, lesões assintomáticas em membros superiores e dor em joelho esquerdo. Nessa ocasião, apresentou crise asmatiforme e fez uso de vários medicamentos. Ao exame: lesões eritematosas, anelares, em membros superiores. Teste de sensibilidade dolorosa conservada. Foi-lhe prescrito 5 frascos de benzatina. Dois meses após, as lesões regrediram. Exames laboratoriais: vide figura abaixo. 16/12/91: VDRL/Wasserman: não reagentes 23/9/96: VDRL: 1/8; reação de hemaglutinação para sífilis: positiva; RIF para Chagas: negativa; Elisa para anti-HIV: cut-off: 0,135, título: 0,030 11/9/97: FTA-abs (sangue): positiva 5/2/98: FTA-abs (sangue): positiva; VDRL: não reagente Caso 3 - SB, Reg. 412820-F, branca, 21 anos, natural de São Carlos (SP), procedente de Ribeirão Preto (SP), amasiada, do lar. Atendida em 20/11/96, com 1 semana de surgimento de lesões papulosas assintomáticas generalizadas, associadas à cefaléia intensa. Negava febre, inapetência, indisposição, queda de cabelos. Procurou facultativo que lhe prescreveu Celestamine , sem melhora, além de prometazina, aspirina e leite de magnésia. Relata adenomegalia dolorosa em regiões inguinais. Antecedentes: Nega prosmicuidade sexual. Eventualmente usa maconha. O cônjuge apresentou lesão peniana há 4 meses, que involuiu espontaneamente. Ao exame físico: adenomegalia cervical, submandibular, epitroclear e inguinal, de 0,5 a 1cm, parenquimatosos. Restante normal. Exame dermatológico: Língua depapilada em bordas. Pápulas eritêmato-acastanhadas generalizadas. Lesão palmar esquerda. Ex-ulcerações isoladas em grandes e pequenos lábios da vulva. Exames laboratoriais: Elisa para anti-HIV: cut-off: 0,139, título: 0,029; esposo: título: 0,032 VDRL: reagente até 1/64; esposo: 1/16 Reação de hemaglutinação para sífilis: ambos: positiva Tratamento para a paciente e cônjuge: penicilina benzatina 2.400.000UI IM/semana/3 semanas. Não retornou após a 1ª consulta. Caso 4 - JAC, Reg. 394410-G, 4 anos, branca, natural e procedente de Jardinópolis (SP). Atendida em 13/3/96. Há 1 mês, lesão perianal, que não se modificou com o uso de metronidazol. Negava febre, dor abdominal, crises convulsivas e não havia história de traumatismo. Antecedentes: Parto normal, vacinação em dia. Pneumonia 4x, otite de repetição. Negava atopia. Mãe e irmãos saudáveis. Exame físico geral: adenomegalia cervical, axilar e inguinal, móveis, indolores. Fígado a 3cm do RCD. Exame dermatológico: placa papulosa, ex-ulcerada, com superfície esbranquiçada, em região perianal à direita. Lesão papulosa, erosada, esbranquiçada, com bordelete mais eritematoso em região perianal à esquerda. Em mucosa oral, lesões ex-ulceradas, esbranquiçadas, de contornos irregulares, sobre base eritematosa, em palato duro e mole. Exames complementares: Hemograma (14/3/96): GB=12.600 (17% de eosinófilos). Parasitológico de fezes, urina rotina, bioquímica do sangue: normais. PT=8,9; albumina=4,8; 2=0,75 e =2,4g%. 14/3/96: Citologia de raspado de lesão perianal: células epiteliais pavimentosas, muitas delas ceratinizadas, neutrófilos e bactérias. Ausência de alterações virais. Biopsia de lesão perianal (19/4/96): Intensa acantose. Ulceração superficial com crosta fibrino-leucocitária. Intenso infiltrado inflamatório mononuclear em derme, com predomínio de plasmócitos e alguns histiócitos. Imunohistoquímica para HPV resultou negativa. Culturas para BAAR e fungos: negativas. ‘Swab’ de lesão perianal (13/3/96): Scherichia coli, Streptococcus hemolítico. 14/3/96: VDRL: >1/128, FTA-abs: positivo; Elisa para anti-HIV: cut-off: 0,123, título: 0,041. 19/3/96 (mãe): VDRL: >1/128, FTA-abs: positivo. 21/3/96 (irmãos): VDRL: não reagente. Tratamento: Foram-lhe prescritos 5 frascos de penicilina benzatina (1 frasco=600.000UI), IM, doses semanais, havendo cicatrização completa das lesões após a 4ª dose. 14/5/96: VDRL: >1/64, FTA-abs: positivo. A mãe tb foi tratada com penicilina benzatina. Caso 5 - SRC, Reg. 017848-F, 33 anos, mulata, natural de Altinópolis (SP), procedente de Ribeirão Preto (SP), doméstica, casada. Em 15/4/91, atendida na Ginecologia, com história de, há 1 semana, nódulo doloroso, 4cm, pouco móvel, com aumento de temperatura, sem eritema, firme, em região inguinal direita. Referia calafrios. Negava alterações urinárias, uso de drogas e promiscuidade (G6P6A0). Além do nódulo, apresentava úlcera de 0,5cm em pequeno lábio à direita, próximo à comissura inferior. Leucorréia fétida (Trichomonas vaginalis). Atendida na Dermatologia em 4/6/91. Há 2 meses, tumoração e fistulização, com drenagem de exsudato sanguinolento, em região inguinal à direita. Fez tratamento com Vibramicina e penicilina procaína e benzatina, sem melhora. Antecedentes: pneumonia bilateral em 1986, cuja pesquisa de BAAR no escarro foi negativa. Ao exame físico geral: adenomegalia inguinal bilateral, mais acentuada à direita. Restante normal. Ao exame dermatológico: ulceração linear, 3cm, com vários pontos de drenagem amarelada circundando a úlcera, em região inguinal direita. Exames laboratorias: 6/6/91: Hemograma, urina rotina e bioquímica do sangue normais. Cultura de exsudato da úlcera: Staphylococcus aureus e Proteus mirabilis. Citologia (HE e Giemsa): moderada celularidade constituída por material fibrino-necrótico leucocitário em fundo seroso. Quadro compatível com processo inflamatório crônico inespecífico. Biópsia de pele: úlcera inespecífica. A pesquisa de corpos de inclusão intracitoplasmáticos resultou negativa. 5/6/91: VDRL: reagente (várias amostras negativas), Wasserman: não reagentes; pesquisa de anti-HIV: cut-off: 0,215; título: 0,042. RX de tórax: velamento com padrão reticular em 1/3 inferior de ambos os pulmões: velamento intersticial pulmonar bilateral a/e. 10/1/96: RX de tórax: velamento com densidade de partes moles nas bases pulmonares, mais evidente posteriormente à esquerda: velamento pulmonar compatível com processo inflamatório [em 13/10/86: velamento com densidade de partes moles no 1/3 inferior dos pulmões: pneumonia bilateral]. 10/10/96: VDRL: não reagente, pesquisa de anti-HCV: cut-off: 0,540, DO > 2.200, enzimas hepáticas normais. Tratamento: foi-lhe prescrito sulfametoxazol-trimetropim, sendo que, após 10 dias, a úlcera apresentava-se sem exsudato, com fundo granuloso e reepitelização das fístulas ao redor da úlcera. Recebeu alta em 14/6/91, não mais retornando. B) Tópicos 1. Herpes simples. 2. Condiloma acuminado. HPV. 3. 4. 5. 6. 7. Sífilis. Sorologia para sífilis. Cancro mole. Linfogranuloma inguinal ou linfogranuloma venéreo. Granuloma venéreo ou Donovanose. Diagnóstico diferencial de úlceras genitais. DSTs SÍFILIS Também chamada de Lues ou Cancro duro. Agente etiológico: Treponema pallidum, bactéria espiroqueta, que não se cora pelo gram e nem cresce em cultura. Transmissão sexual, transfusão de sangue e pela placenta (sífilis congênita). Período de incubação de 3 a 90 dias (média de 21 dias). Se não tratada, progride tornando-se crônica. Foi dividida em 3 fases distintas, sendo as duas primeiras as que têm mais sintomas e maior transmissibilidade, seguindo-se uma fase de aparente cura (fase latente) antes da última fase: - Sífilis primária: caracterizada pelo cancro duro, uma lesão primária clássica nos órgãos genitais, mas pode aparecer em outros locais, onde entrar o Treponema. Possui bordas endurecidas e profundas com o fundo macio e indolor. Ocorre adenomegalia na região inguinal (sendo o maior gânglio chamado de prefeito). O cancro leva de 3 a 6 semanas para se curar, não deixando marcas. Na mulher, é intragenital e alta, e a drenagem linfática é para dentro (a lesão e os gânglios não são visíveis). - Sífilis secundária: 4 a 8 semanas após o aparecimento do cancro. Fase de maior espiroquetemia, apresentando adinamia, febrícula, cefaléia, perda de apetite e peso e adenomegalia generalizada. Caracteriza-se pelo aparecimento de lesões cutâneo-mucosas, assintomáticas, não-ulceradas, chamadas roséola (eritêmato-descamantes) e sifílides papulosas que, localizadas nas superfícies palmo-plantares, sugerem fortemente o diag. de sífilis secundária. Outra é o condiloma plano que é uma lesão do secundarismo em mucosa, lesão infiltrada esbranquiçada, e é altamente contagiosa. Observa-se tb alopecia em clareira, princ. no couro cabeludo e porções distais da sobrancelha. A presença de gânglio epitroclear (cotovelo) é quase patognomônico da sífilis. Apesar de haver dificuldade para o diagnóstico diferencial, nessa fase o teste diagnóstico é + em 99% dos casos. Dessa fase, o pcte pode evoluir ou não para a sífilis terciária, ou então ficar recidivando a fase secundária (e transmitindo). - Sífilis terciária: Fase crônica (progressiva e lenta), entre o terceiro e o quinto ano, após a infecção (em casos não tratados). As lesões terciárias comprometem princ. pele (sifilomas tuberosos e gomas), sistema cardiovascular e SNC. No sistema cardiovascular acomete valvas e grandes vasos, princ. aorta, causando o aneurisma sifilítico da aorta. A neurossífilis apresenta-se em aproximadamente 10% dos casos não tratados, entre 4 e 35 anos após a infecção, e caracteriza-se por: meningite sifilítica, tabes dorsalis (ataxia motora) e paralisia progressiva. Diagnóstico: história de sexo desprotegido, lesões genitais e manifestações cutâneas. Exames laboratoriais: - VDRL: Sorologia para detecção de acs contra o Treponema. É um exame que utiliza como antígeno a cardiolipina, extrato de coração de boi (ag não treponêmico). O resultado é dado em diluições. Positiva-se após 4 sem. da contaminação (viragem sorológica). E se tratar antes das 4 sem., esse exame nem se torna positivo. Sua desvantagem é a baixa especificidade, havendo reações falso-positivas em numerosas patologias (reação cruzada). Apresenta elevada sensibilidade na sífilis secundária (100%), e os falso-negativos decorrem do excesso de acs que induzem a falha técnica. Pode ficar variando (ora positivo, ora negativo), o que quer dizer que o pcte está se reinfectando. Presta-se ao controle da cura, que é feito por 2 anos ocorrendo negativação ou persistência de baixos títulos além de 2 anos (cicatriz sorológica). Sorologias persistentes em altos títulos, mesmo com LCR normal, devem ser acompanhadas por mais tempo, devido à possibilidade de existirem outros reservatórios de treponemas. Quando o VDRL é positivo, mas os títulos são baixos, pode ser: o Reação cruzada o Início de infecção o Cicatriz sorológica Portanto, repetir exame, e se dobrar, tratar. - FTA-abs: Utiliza fluorescência direta e ags do próprio Treponema. Tem alta sensibilidade (99,5%) e especificidade (88,7%), sendo o primeiro a positivar na infecção, ou junto com o VDRL. Tb apresenta reação cruzada (falso-positivo) em situações como dças autoimunes, infecções crônicas (hanseníase, tb) e gestação. Ele é muito importante na sífilis congênita. - Microscopia de campo escuro: Detecção direta do agente na lesão. Deve ser solicitada quando há lesão (cancro duro) e a sorologia é negativa, assim como pode ser solicitado o PCR do esfregaço do cancro duro nessa situação. - LCR: Comprova o comprometimento do sistema nervoso, podendo ser encontradas pleocitose, hiperproteinorraquia e a positividade das reações sorológicas. Deve ser solicitado tanto na sífilis terciária quanto na latente. - Na sífilis terciária: LCR + PCR tecido + histopatologia OBS.: Não esquecer de pesquisar sífilis em pctes com HIV e Clamídia, assim como solicitar outras sorologias (Hepatites, HIV, etc) para quem tem diag. de sífilis. Diagnóstico Diferencial: -Sífilis primária: cancro mole (úlcera dolorosa); herpes genital; donovanose; linfogranuloma venéreo; CEC (princ. para lesões em face) -Sífilis secundária: farmacodermias (q. têm prurido); viroses; hanseníase virchowiana; colagenoses; pitiríase rósea de Gilbert (q. tb é assintomática). Tratamento: Penicilina benzatina - 1.200.000 UI em cada região glútea. - Se tiver alergia à penicilina: Eritromicina - 2g/dia por 10 dias. - Antes do tratamento da sífilis secundária (período que tem muito ac. e com o trat há liberação de muito ag.), dar aspirina ou outros anti-inflamatórios, para evitar um rash cutâneo. - RN: com lesões, sempre trata. Com sorologia positiva, mas sem lesões, pedir IgM. - Neurossífilis: Penicilina G cristalina (EV) 50.000 UI/Kg/dia durante 10 dias. Controle de Cura: Por 2 anos. Sorologias trimestrais no primeiro ano e semestrais no segundo (durante a gestação pode ser mensal); Decréscimo de 4 títulos ou mais da sorologia inicial e melhora clínica. HERPES GENITAL Agente: Herpes simples vírus do tipo II (predominantemente). Período de incubação indeterminado. Pródromo: prurido ou ardência na região genital Lesão ativa: múltiplas vesículas em cacho, sobre uma base eritematosa, que ulcera, causando dor. No imunocompetente, a lesão raramente ulcera, mas nos imunocomprometidos, ulcera causando dor intensa. Primoinfecção: geralmente apresenta um quadro mais exuberante. Acompanha-se de mal-estar como na gripe. Pode haver microadenomegalia bilateral dolorosa. Podem ocorrer recorrências em períodos de stress, frio, sol em excesso, menstruação. Diagnóstico: Sorologia (princ. na primoinfecção) e citologia, em que são visualizadas células grandes, multinucleadas, amoldamento nuclear e inclusões virais. Diagnóstico diferencial: Sífilis; piodermites; cncro mole; trauma. Complicações: infecção secundária da lesão. Tratamento: Aciclovir - 400mg VO 8x8hs por 5 dias. CANCRO MOLE (CANCRÓIDE) Agente: Haemophilus ducreyi (cocobacilo gram-negativo, princ. intracelular de PMN. Período de incubação: 2 a 5 dias. Surgem lesões purulentas que evoluem para ulcerações dolorosas, com o fundo irregular recoberto por exsudato necrótico amarelado com odor fétido, bordas irregulares e contornos eritêmato-edematosos. Principalmente em genitália externa, mas podem comprometer também o ânus e mais raramente os lábios, a boca, língua e garganta. Estas feridas são muito contagiosas e, portanto, frequentemente múltiplas (auto-inoculação). Em alguns pacientes pode ocorrer infartamento ganglionar na região inguino-crural (doloroso). Não é rara a associação do cancro mole e o cancro duro (cancro misto de Rollet). Diagnóstico: gram (bacilos gram-negativos intracelulares acompanhados de cocos gram-positivos – Fenômeno de satelitismo). Cultura é difícil. Diagnóstico diferencial: cancro duro; herpes simples; linfogranuloma venéreo; donovanose; erosões traumáticas infectadas. Tratamento: Azitromicina – 1g VO dose única; Ciprofloxacina – 500mg 2X/dia por 7 a 10 dias LINFOGRANULOMA INGUINAL OU VENÉREO Agente: Chlamydia tracomatis (de sorotipo diferente daquela que causa tracoma e uretrite). Envolve o sistema linfático. Mais comum entre a primeira e terceira semana após o contato sexual. No local de inoculação haverá o aparecimento de pápulas, vesículas, pústulas ou exulceração fugaz e indolor, desaparecendo sem deixar sequelas. Freqüentemente não é percebida pelo paciente e, raramente constatada pelo médico. Após a inoculação do agente na genitália lesada, há a invasão dos linfáticos e gânglios nas proximidades do local, com reação inflamatória (linfadenites), formando-se necrose central dos gânglios, infiltrado plasmocitário e granuloma de corpo estranho no local. Daí resultam fistulizações, com linfonodos coalescentes, que podem fundir-se, havendo então uma flutuação com posterior drenagem de material sero-purulento. Após este processo, pode haver fibrose com destruição da arquitetura dos linfáticos, prejudicando sua drenagem, levando a linfoestase e linfedema (elefantíase) pricipalmente da região escrotal, peniana e vulvar. Pode causar retite e glossite. O diagnóstico é eminentemente clínico-epidemiológico Tuberculose cutânea (raramente acomete genitália); Micoses profundas (meio rural endêmico); Donovanose (deve ser considerado por apresentar adenopatia semelhante a do LGV, mas na donovanose há a presença de lesão ulcerada, sangrante, lesões vegetantes em genitália, durante o infartamento ganglionar, sendo estas ausentes no LGV); Sífilis (não tem adenopatia de caráter inflamatório agudo); Cancróide (caracterizada por multiplicidade das lesões). Tratamento: A droga de escolha é a Doxicilina, 100mg VO 2x/dia por 21dias. Adenites podem ser tratadas por punção com agulha de grosso calibre. Estreitamentos retal ou vulvar e outras seqüelas devem ser tratadas cirurgicamente. DONOVANOSE (GRANULOMA INGUINAL) Agente: Calymmatobacterium granulomatis. É uma dça crônica e progressiva, com aparecimento de lesões granulomatosas, ulceradas e indolores, que localizam-se na região genital, perianal e inguinal, podendo, eventualmente, ocorrer em outras regiões do organismo, inclusive órgãos internos. Quando vizinhas, as lesões podem se unir formando úlceras maiores. É característico surgir mau cheiro no local. O parceiro pode não possuir lesões. Pode cursar com deformidades genitais, elefantíase, tumores. Não há sorologias nem culturas, sendo o diag. pela procura de corpúsculos intracitoplasmáticos de Donovan. Tratamento: Sulfa até cicatrização completa da lesão. OUTROS PRINCÍPIOS DE ANTIBIOTICOTERAPIA Prof. Dr. José Fernando de Castro Figueiredo A) Resumos de casos clínicos ilustrativos Caso 1 - Paciente do sexo masculino, com 23 anos de idade e préviamente hígido, procurou atendimento médico com queixas de febre alta há 2 dias, acompanhada por tosse produtiva com espectoração acastanhada e dor na face anterior direita do torax, que se acentua com a tosse e com a inspiração profunda. O quadro febril teve início súbito e foi acompanhado por episódio único de calafrios intensos e tremores. Queixava-se ainda de indisposição geral, adinamia e cefaléia frontal. O paciente negou qualquer antecedente mórbido. Negava tabagismo, ingestão abusiva de bebidas alcoólicas e não fazia uso de drogas ilícitas.Ao exame físico apresentava-se em bom estado nutricional, consciente, toxemiado, com temperatura axilar de 39 C. Estava eupneico e sem cianose. O exame do aparelho respiratório revelou murmúrio vesicular diminuído em faces lateral e anterior do hemitorax direito, com presença de estertores de finas bolhas e crepitantes nestes locais. A ausculta da voz e o frêmito toraco-vocal estavam aumentados em face anterior do hemitorax direito e havia submacicez à percussão no local. O restante do exame físico era normal. Caso 2 - Criança com 7 anos de idade começou a apresentar irrritação na garganta há 4 dias. Há 12 horas iniciou quadro de febre alta e cefaléia holocraneana intensa, além de náuseas e vômitos. Há 4 horas a mãe notou que a criança se tornou apática, gemente e passou a apresentar manchas arroxeadas pelo corpo. A mãe referia também que um colega de escola do filho havia sido internado com meningite há 10 dias atrás. Apresentava as seguintes alterações ao exame físico: estava inconsciente e febril (39 C), reagindo débilmente aos estímulos dolorosos. Apresentava lesões vinhosas na pele, de tamanhos variados e limites bem definidos, localizadas predominantemente em extremidades dos membros superiores e inferiores. O exame do aparelho circulatório revelava: freqüência cardíaca=140bpm; pressão arterial = 80x 30mmHg . Apresentava ainda rigidez de nuca e sinal de Brudzinsky positivo. Caso 3 - Mulher grávida de 6 meses, primigesta, procurou atendimento médico queixando-se de disúria e polaciúria há um dia. Desde hoje pela manhã vem apresentando, além dos sintomas já referidos, febre e dor lombar à direita. Exame físico: bom estado geral, ativa, hidratada, corada, febril (38 C). Abdomen gravídico, feto com boa mobilidade, sem sinais de sofrimento. Sinal de Giordano positivo à direita. O restante do exame físico é normal. Caso 4 - Jovem de 16 anos, préviamente saudável, refere que há 15 dias apresentou um furúnculo na nádega esquerda. Como doía muito, fez expressão manual do mesmo, com saída de pequena quantidade de líquido achocolatado. Há 5 dias vem apresentando febre diária, sem horário preferencial para o seu aparecimento, acompanhada por calafrios e tremores, e que cede com antitérmicos comuns. Há 3 dias começou a apresentar tosse seca e que no dia seguinte se tornou produtiva, com espectoração amarelada. Há 2 dias começou a apresentar falta de ar que vem se acentuando desde então. Hoje pela manhã houve aumento importante da falta de ar e começou a apresentar também dor no joelho direito. Ao exame físico apresentava-se em mau estado geral, toxemiado, desidratado( +/++++), febril(39,5 C), taquipneico(FR=35ipm), sem cianose. Pele: lesão hipercrômica medindo 2x2cm circundada por halo de descamação e com necrose central recoberta por crosta sero-hemática, localizada na região glútea esquerda. Joelho direito aumentado de volume, doloroso à movimentação e com aumento da temperatura e rubor no local. Aparelho respiratório : murmúrio vesicular abolido em base pulmonar direita, posteriormente. Nesta região o frêmito toraco-vocal está diminuido e há macicez à percussão. Auscultam-se estertores de médias e finas bolhas em áreas esparsas do parenquima pulmonar. Aparelho circulatório: batimentos cardíacos rítmicos, com hiperfonese de segunda bulha no foco pulmonar. Sopro holossistólico suave, ++/++++, no foco mitral, sem irradiações. Freqüência cardíaca=120bpm, pulsos radiais cheios, rítmicos. Bom enchimento capilar distal. Pressão arterial= 110x60mmHg. O restante do exame físico não apresenta alterações significativas. Raio-X de toráx revelou áreas de velamento com densidade de partes moles , flocosas, localizadas no terço médio do pulmão direito e na base e terço medio do pulmão esquerdo. Verifica-se ainda velamento homogêneo, com densidade de partes moles, acometendo o terço inferior do pulmão direito. Caso 5 - Homem de 35 anos, sofreu traumatismo craneano após acidente automobilístico há 10 dias. Foi submetido a traqueostomia e internado em unidade de terapia intensiva, onde permanece internado em ventilação mecânica desde então. A partir do oitavo dia de internação começou a apresentar febre e instabilidade hemodinâmica, com taquicardia e hipotensão arterial, parcialmente controladas com reposição de líquidos e uso de aminas vasoativas. Está em uso de cefalosporinas de primeira geração desde sua internação. Ao exame físico nota-se paciente inconsciente, em bom estado nutricional, traqueostomizado, ligado a aparelho de ventilação mecânica em respiração assistida, com cateter endovenoso em subclávia direita e com sonda vesical de demora. Não há secreção purulenta no ponto de inserção do cateter endovenoso. As extremidades estão quentes e com boa perfusão sanguínea. A freqüência cardíaca é de 110bpm, a pressão arterial de 110x70mmHg e os pulsos radiais são ritmicos e amplos. A ausculta dos pulmões revela estertores de médias e finas bolhas na base do pulmão direito. O exame clínico do coração e do abdomen não revela outras alterações. Os exames laboratoriais de ontem mostraram: hemograma: GB=15.400/mm3 (B=10; S=60; E=0; B=0; L=30; M=0; P=0); gasometria arterial: pH=7,36;PO2=70mmHg;PCO2=30mmHg;BE=-10; creatinina=3,5mg/dl; uréia=85mg/dl; glicemia=75mg/dl. O raio-X de torax revelou velamento com densidade de partes moles em base pulmonar direita. Cultura de aspirado da cânula endotraqueal demonstrou crescimento de Acinetobacter baumanii. B) Questões 1. Quais são os determinantes de ordem clínica considerados relevantes para a escolha inicial de um antibiótico? 2. Quais vias de administração dos antibióticos estão indicadas em cada caso relatado acima? 3. Quais são os efeitos colaterais dos antibióticos que devemos levar especialmente em conta nos casos n 2, 3 e 5? Quais são os grupos de antibióticos que você evitaria prescrever nestes casos? 4. Selecione duas drogas indicadas para o tratamento inicial de cada caso acima. Justifique sua escolha com base no agente etiológico mais provável. 5. Quais são os métodos empregados para a determinação da susceptibilidade/resistência das bactérias aos antibióticos? Como é feita a sua interpretação? 6. Qual é o conceito de resistência bacteriana? Quais são os principais mecanismos indutores desta resistência? 7. Defina "Concentração Inibitória Mínima"e "Concentração Bactericida Mínima". 8. Quais fluidos biológicos seriam os preferencialmente indicados para o isolamento de patógenos em cada caso relatado acima? Defina o termo "colonização bacteriana". 9. Quais são os cuidados necessários para a coleta, transporte e processamento de um espécime a ser utilizado para o diagnóstico microbiológico? Como se aplicam no caso das hemoculturas? 10. Qual é o conceito de antibioticoprofilaxia? Quais são os seus princípios gerais? Princípios da Antibioticoterapia Antibiótico: substância produzida por algum ser vivo que possui efeito bactericida ou bacteriostático. Seleção do ATB: depende de: foco infeccioso (estado geral do paciente), farmacodinâmica, farmacocinética, toxicidade, efeitos adversos, interação medicamentosa, condições especiais do hospedeiro, custo, eficácia, agente etiológico. MIC: concentração mínima necessária (mg/ml) para um ATB inibir o crescimento bacteriano in vitro. Considera-se um ATB eficaz na prática clínica qdo atinge [ ] plasmática pelo menos 4 x superior ao MIC. [ ] bactericida mínima:[ ] em que não há crescimento bacteriano em placas. Geralmente é maior que MIC. Deve ser até 4 diluições maior que o MIC, senão o risco de permanecer bactérias viáveis no organismo fica mto grande. Atbs de ação na parede bacteriana Beta-lactâmicos: inibem a síntese da parede bacteriana de gram +(parede celular de camada simples) e – (parede celular de camada dupla) pela ação do anel beta-lactâmico que se liga às PBP( proteína com função de enzima) da parede da bactéria. Como a parede é continuamente degrada por autolisinas, basta inibir sua síntese que irá culminar na morte da bactéria. Os ppais mecanismos de resistência são: a produção de beta-lactamase, PBP (proteínas ligadoras de penicilina) com baixa afinidade pelo ATB e “porinas” que impedem ou dificultam a passagem do ATB. A resistência pode ser intrínseca ou adquirida. De uma forma geral, são bem tolerados na gravidez. Efeito adverso mais importante é a hipersensibilidade, geralmente cutânea (anafilaxia em 0,05%). Pode ocorrer mais raramente: nefrite intersticial aguda alérgica, anemia, convulsões. A penicilina G cristalina tem K, então cuidado com ins. renal que pode causar hiperpotassemia. Penicilinas: 1. Penicilina G (benzil penicilina): coco gram + (estreptos) e gram – (neisseria), bacilos gram +(listeria), anaeróbios da boca e orofaringe e espiroquetas (treponema e leptospira). De forma geral, os gram – tem resistência natural. 1) penicilina G cristalina: EV, para infecções mais graves, que indicam internação (ex: meningites meningocócicas, endocardite, listeriose, leptospirose, sífilis 3ária). 2) penicilina G procaína (despacilina): IM, para gravidade intermediária. 3) penicilina G benzatina: (benzetacil): IM, liberação lenta, efeito dura 10 dias. Usada em faringoamigdalites estreptrocócicas, impetigo estrepto, sífilis sem acometimento de SNC, profilaxia de febre reumática. Todos passam a BHE, exceto se esta estiver íntegra. Excreção renal. 2. Penicilina penicilinase-resistentes: semi-sintéticas. Ex: oxacilina. EV. É a droga mais eficaz contra S. aureus. Tb age contra as mesmas bactérias que a penicilina G. Excreção renal. 3. Aminopenicilinas: mesma eficácia contra os gram + que a penicilina G, porém conseguem atravessar as “porinas” das gram – (haemofilus, moraxela, E. colli, salmonela, shiguela). Usadas em ITU, ITUG, leptosprose, pneumonia comunitária (1 opção). Atenção para a gde resistência que está surgindo.Ex: ampicilina (VO e EV) e amoxicilina (VO). Excreção renal. 4. Penicilinas + inibidores de beta-lactamase: são inibidores de beta-lactamase. EX: clavulanato e sulbactam. 5. Carboxipenicilinas: Usados para enterobacter, proteus e pseudomonas. Pouco eficazes contra gram +. Ex: carbenicilina e ticarcilina. 6. Ureidopenicilinas: são mais eficazes que o grupo acima contra enterobacter e pseudomonas. Ex: piperaciclina. Cefalosporina: substância tb isolada de fungo. Nenhuma cefalosporina é eficaz contra o Enterococcus fecalis. Toxicidade resumida em: 1) hiperssensibilidade cutânea—1ª 5 % dos casos, 2) coombs direto positivo, raramente com anemia hemolítica, 3) efeito dissulfiram-símile. 1. Cefalosporina de 10 geração: são eficazes contra a maioria dos germes gram +, incluindo o estafilo oxacilina-sensível, mas são efetivos contra poucos gram -. Ex: cefalotina (keflin- não passa bem a BHE; Excreção renal), cefazolina, cefalexina (Keflex), cefadroxil (Cefamox). A cefalotina e a cefazolina são mto utilizados para profilaxia peri-operatória. A cefalexina e o cefadroxil são usados para tto VO de infecções estafilo de pele e subcutâneo, uma vez que não há análogo da oxacilina VO. Tb usados para cistite bacteriana. 2. Cefalosporina de 20 geração: possuem espectro mais ampliado para gram– qdo comparadas com as de 10 geração. Ex: cefuroxime (Zinnat, Zinacef). Têm gde atividade contra haemofilus, neisseria e estrepto. Muito usado em ITU e IVA comunitários. Excreção renal. Não passa bem a BHE. 3. Cefalosporina de 30 geração: são muito mais ativos contra os gram – que os de 1 e 2 geração, principalmente contra os gram – entéricos. Há 2 subgrupos: 1) drogas sem atividade contra pseudomonas, ex ceftriaxona- (Rocefin- passa BHE, excreção parte renal, parte hepática. 1 opção para meningite purulenta), cefotaxima (Claforan), cefozidima (Timencef). 2) drogas com atividade anti-pseudomonas: ceftazidime (Fortaz- é mto mais fraco para gram + que a ceftriaxona, excreção renal). Todas acima são EV. A VO é cefpodoxime (Orelox) e pode ser usada para completar em casa o tto iniciado no hospital. 4. Cefalosporina de 40 geração: são reservadas para os casos de infecção nosocomial por gram- multi-resistente. Ppal/e pseudomonas e enterobactérias. Ex: cefepime (Excreção renal) e cefpiroma. Carbapenêmicos: São o imipenem (Tienam) e o meropenem ( Meronem). São EV, passam a BHE. Excreção renal. São extremamente resistentes as beta-lactmases das gram +, gram - e anaeróbios. Existem poucas bactérias resistentes. Risco de convulsões. Evitar em pcte predisposto. O restante dos efeitos adversos é semelhante a penicilinas e cefalosporinas. Monobactâmicos: Aztreonam (Azactam). Tem atividade apenas contra gram – anaeróbio (espectro semelhante a aminoglicosídeo). Os efeitos adversos é semelhante à penicilinas e cefalosporinas. Glicopeptídeos: são bactericidas que agem impedindo a síntese da cadeia de peptidioglicanas,inibindo a síntese da parede bacteriana. Não tem nenhum efeito nos gram - ,uma vez que não conseguem ultrapassar a membrana externa dessas bactérias. Agem contra gram +. São os únicos ATB confiáveis para tto de de S. aureus MRSA e S. epidermidis (coagulase negativo) nosocomial. São exemplos: vancomicina (vancocina)- 1g EV 12/12 hs e teicoplamida (targocid) 6 mg/Kg de 12/12 hs. Polimixina B: é bactericida e atua como detergente da membrana plasmática, exclusivamente em gram - . É usada para tto tópico de lesões cutâneas, otite externa. O uso parenteral é limitado pele toxicidade (irritabilidade, sonolência, ataxia, nefrotoxicidade, parada respiratória...). Atbs de ação no citoplasma bacteriano Macrolídeos: atb bacteriostático e raramente bactericida. Age inibindo a síntese de proteínas do microorganismo ao se ligar no ribossomo do organismo. Mecanismo de resistência: 1) alteração do sítio de ligação do ribossomo, 2) efluxo ativo da droga pela membrana da bactéria, 3) não passar pelas “porinas” dos gram negativos como pseudomonas e acinetobacter. Não atinge SNC. São exemplos: Eritromicina (1 geração):VO. Ativa contra a maioria dos gram +. É muito usada para infecções estreptocócicas, gonocócicas e treponêmicas. É droga de escolha para Mycoplasma pneumoniae e coqueluche. Ppal efeito adverso é intolerância gastrintestinal. Azitromicina e claritromicina (nova geração): Possuem vantagens sobre a eritro que são: melhor biodisponibilidade por resistir mais ao pH do estômago e distribuição tecidual muito superior. Também têm menos intolerância gastrintestinal, mas podem estar associados a hepetite colestática (azitro). Possuem o mesmo espectro da eritromicina, mas com maior eficácia contra certos gram -: haemófilus e moraxela. A diferença entre essas duas drogas é que a claritro é um pouco mais eficiente contra os gram + e a azitro contra os gram - .A associação amoxa+ claritro+ inibidor de bomba de prótons tem tido bons resultados na erradicação do Heliobacter pylori. A claritromicina não deve ser usada em gestantes (teratogênica), mas a azitro pode ser usada. Lincosamidas: atb que age da mesma forma que os macrolídeos. São exemplos: Lincomicina: droga obsoleta. Clindamicina: VO, EV e IM. Possui atividade contra os gram + semelhante a da eritromicina. Também faz parte do grupo dos anaerobicidas clássicos, juntamente com o metronidazol. Possui ainda atividade contra o toxoplasma e o pneumocisitis carini, então são usadas como terapia alternativa para pacientes alérgicos a sulfas. É 1 escolha para pneumonia aspirativa. É o ppal atb que causa diarréia. Excreção ppal/e hepática. Cloranfenicol: atb bacteriostático, mas para alguns microorganismos é bactericida. Age da mesma forma que os macrolídeos, inibindo a síntese de proteínas, mas é diferente do ponto de vista biomolecular. O mecanismo de resistência é a inativação da molécula de cloranfenicol no citoplasma bacteriano. Possui espectro de ação amplo para alguns gram +, gram – , anaeróbios, clamídia e espiroqueta. Possui grande toxicidade e por isso não é tão empregado. Usa-se colírio para conjuntivites bacterianas. Atualmente está indicado para tto de meningite bacteriana em indivíduos alérgicos à penicilina e cefalosporina, na terapia de febre tifóide em população de baixa renda. Toxicidade: é contra indicado para gestante pela possibilidade de teratogênese. Não pode ser feito na lactação, pois a risco de morte RN (síndrome do bebê cinzento: distensão abdominal, flacidez, cianose, colapso repiratório e morte). O que mais é temido é a aplasia de medula. Excreção renal e metabolização hepática. Passa BHE. Tetraciclina: São bacteriostáticos que inibem a síntese protéica bacteriana. Os ppais mecanismos de resistência são: 1) redução da afinidade pelo atb- gram +, 2) efluxo ativo da droga pela membrana plasmática da bactéria- gram -. São exemplos: tetraciclina e doxiciclina (VO- não mto usado para SNC, excreção hepato-biliar). São ativas contra gram + e ,ppal/e o penumococo, e o haemofilus e podem ser usadas (doxiciclina) como droga alternativa para o tto da sinusite e exacerbação de bronquite crônica, bronquiectasia, terapia empírica de DST. Porém há cepas de pneumococo resistente à tetraciclina. São uma excelente alternativa para o tto de micoplasma e clamídia. Não podem ser usadas em gestantes pelo risco de toxicidade fetal. São contra indicadas em cças menores de 8 anos pq deixam os dentes marrom-amarelados (hipoplasia do esmalte) e tb alteração do desenvolvimento ósseo. Agravam insuf. renal e hepática.A intolerância do trato GI é bastante relatada. Devem ser tomadas em jejum (diminuição de 50% da absorção na presença de alimentos). Aminoglicosídeos: São bactericidas inibindo a síntese protéica. Não tem ação na presença de anarobiose e pH baixo. Ao contrário da maioria dos ATbs , demonstram uma relativa estabilidade contra o desenvolvimento de resistência bacteriana. São bastante eficazes contra gram -. Fazem sinergismo com os β-lactâmicos contra o Enterococcus fecalis. São ex: gentamicina (EV), tobramicina, amicacina, estreptomicina (IM), neomicina...Não devem ser usados em grávidas. É um dos ATBs com maior potencial tóxico, o qual é dependente da dose e do tempo de uso. Por isso, é indicado o uso em 1 dose diária. Os efeitos adversos são nefrotóxicos (NTA não oligúrica) e ototóxicos. Sulfonamidas+Trimetropim: VO e EV. As sulfas são antimicrobianas (não são produzidas por microorganismo). A distribuição pelos tecidos é excepcional, incluindo SNC, globo ocular, próstata. A associação de SMZ-TMP tem espectro bastante amplo: a maioria dos gram+ e dos gram - . Existem certos gram – que são resistentes a todos os betalactâmicos, incluindo carbapenêmicos, mas são sensíveis a SMZ-TMP. Também é usado para p. carini. É contra indicado no último trimestre da gestação devido o risco de kernicterus. Os efeitos adversos mais comuns são a hipersensibilidade cutânea e a intolerância GI. Fluoroquinolonas: São bactericidas semi-sintéticos e agem por inibição da síntese de DNA bacteriano. Não passam BHE. Excreçaõ renal. As ppais são: norfolxacina, ofloxacina, pefloxacina, ciprofloxacina, ac. Pipemídico, ac. Nalidixo (“antigas”); levofloxacina, gatifloxacina, moxifloxacina e trovafloxacina (“novas”). Ambas possuem ótima ação contra gram-. As antigas são droga de escolha para ITU e gastroenterite bacteriana. Cipro é excelente para pseudomonas. Apenas as novas são ativas contra gram+. São altamente eficazes na pneumonia comunitária grave (quinolonas respiratórias). Ainda não há estudos suficientes para o uso na gestação. Impregnam cartilagem (chance de má–formação), então não usar abaixo de 7 anos. Idosos podem ter impregnação cerebral. Os efeitos adversos mais comuns são do trato GI, seguidos de sintomas neurológicos (cefaléia, insônia). Metronidazol: Age atuando na formação de radicais livres altamente tóxicos à bactéria. Atua contra bactérias anaeróbias estritas e quase não há resistência. Também age contra alguns protozoários: giárdia entamoeba e tricomonas. Só deve ser usado em gestante se estritamente necessário. Na lactação, deixa o gosto do leite amargo. Efeito adverso GI é comum, como o gosto metálico na boca. Pode causar efeito semelhante ao dissulfiram se ingerir etanol. Rifamicina:VO e EV. Tem ação bactericida. Atua contra micobactérias. Usado para tto de TB e hanseníase. É hepatotóxico. EX: rifampicina “Novos ATBs”: Estreptogramidas: São exemplos: quinupristina e dalfopristina. São vendidos de forma agrupada com o nome: Synercid®. Agem ppal/e contra gram +. Atuam contra estafilo resistente à oxa e vanco. É tto de escolha para E. faecium. Oxazolidinonas: São exemplos: linezolida e eperezolida. Possuem excelente espectro contra gram +, incluindo estafilo resistente à oxa e vanco , pneumococo com alta resistência a penicilina e enterococo. Droga Penicilina G Penicilina V Oxacilina Dose Dose int.8-12 milhões U/dia; dose alta: 24 milhões U/dis 4/4hs 250-500 mg VO 6/6 hs (250mg= 400000 U) 1-2 g EV 4/4 hs Ampicilina 1-2 g EV 6/6 hs Amoxicilina(amoxil,flemoxon,velamox) 500mg 8/8 hs; 1g EV 8/8 hs;750mg VO 12/12 hs Amoxicilina-clavulanato (clavulin) 0,5-1 g VO ou EV 8/8 hs Ampicilina-sulbactam (unasyn) 1,5-3 g EV 3/6 hs Cefalotina (keflin) 1 g EV 6/6 hs Cefazolina (kefazol) 1,5 g EV 6/6 hs Cefalexina (keflex) 0,5-1g VO 6/6 hs Cefadroxil (cefamox) 0,5-1g VO12/12 hs Cefuroxime zinacef) 0,75-1,5g EV 8/8 hs Ceftrixone (rocefin) 2-4g EV 1x/dia Cefotaxima (mefoxin) 1g EV 8/8 hs 2g EV 4/4 hs Cefepime (maxcef) 200-400mg VO 12/12 hs Cefpiroma (cefrom) 1-2g EV 12/12 hs Imipenem (tienam) 500mg EV 6/6 hs Meropenem (meronem) 0,5-1g EV 6/6 hs Aztreonam (azactam) 1g EV 8/8 hs 2g EV 6/6 hs Vancomicina (vancocina) 1g EV 12/12 hs Eritromicina (eritromicina, eritrex) 251-500mg VO 6/6 hs Azitromicina (zitromax, clindal AZ) 500mg VO 1 dia e 250 mg do 2 ao 5 dia Claritromicina (klaricid) 500mg VO ou EV 12/12 hs Clindamicina (dalacin) 150-900mg EV 8/8 hs ou 140-450mg VO 6/6 hs Cloranfenicol (quimecetina) 50mg/Kg/dia em 4 Tetraciclina Doxiciclina (vibramicina) Gentamicina Amicacina Estreptomicina Droga Tobramicina Sulfametoxazol-trimetopim Norfloxacina (floxacin) Ciprofloxacina (cipro) Levofloxacina (levaquin) Gatifloxacina (tequin) Metronidazol (flagyl) Quinupristina-dalfopristina Linezolida (zyvox) toadas 250-500mg VO 6/6 hs 100mg VO ou EV 12/12 hs 5 mg/Kg EV 1x/dia 15mg/Kg EV 1x/dia 15mg/Kg IM 1x/dia Dose 5mg/Kg EV 1x/dia (bactrim) 800/160mg VO 12/12 hs 400mg vO 12/12 hs 200-400mg EV 12/12 hs ou 500mg VO 12/12 hs (ITU= 250m 12/12 hs) 250-500mg VO ou EV 1x/dia 400mg VO ou EV 1x/dia 500mg VO ou EV 6/6 hs ou 8/8 hs (synercid) 7,5 mg/Kg EV 12/12 hs 600mg EV 12/12hs DISTÚRBIOS DA HEMOSTASIA E TROMBOSES Prof. Dr. Rendrik França Franco A) Resumos de casos clínicos ilustrativos Caso 1 - Paciente de 18 anos, sexo feminino, iniciou quadro espontâneo de dor, edema e aumento de temperatura em perna esquerda há 3 dias, com piora progressiva dos sintomas desde o aparecimento. Há um dia notou extensão do processo para coxa esquerda, e há 6 horas iniciou quadro de tosse, dispnéia, hemoptise e dor pleurítica. Sem antecedentes patológicos pessoais relevantes. Em uso de anticoncepcional oral há 6 meses. Mãe apresentou quadro de trombose venosa cerebral aos 37 anos. Questões 1. Qual o significado do termo trombofilia? 2. Quais as principais diferenças entre trombose venosa e arterial? 3. Quais são os principais fatores de risco adquiridos e genéticos para trombose venosa? 4. Como é feita a investigação diagnóstica das trombofilias hereditárias? 5. O que é resistência a proteína C ativada (RPCA)? 6. Como é estabelecido o diagnóstico de trombose venosa profunda? 7. Quais as principais complicações da TVP? 8. Como é feito o tratamento do tromboembolismo venoso? 9. Qual é o mecanismo de ação da heparina e dos anticoagulantes orais e de que modo sua administração é monitorizada? 10. Qual a conduta em casos de sangramento associado ao uso de anticoagulantes orais? Caso 2 - Paciente de 1 ano, sexo masculino, iniciou quadro de hematomas e equimoses espontâneos e pós-trauma desde que iniciou a deambulação. Mãe refere que 12 horas após queda notou aparecimento de edema, aumento de temperatura, dor e dificuldade de mobilização em articulação em joelho esquerdo. Tio materno (32 anos) com quadro hemorrágico caracterizado por hematomas, equimoses e hemartroses desde a infância. Exames laboratoriais revelam exame hematológico normal, plaquetas de morfologia normal no sangue periférico, TTPA prolongado, TP/INR normal, TT e fibrinogênio plasmático normais. Tempo de sangramento de Ivy modificado normal. Questões 1. Qual a hipótese diagnóstica mais provável? 2. Defina hemostasia primária e secundária. 3. Quais as principais diferenças de manifestações dos distúrbios de hemostasia primária e secundária? 4. Quais os exames utilizados na avaliação inicial da hemostasia primária e secundária em casos de suspeita de distúrbios hemorrágicos? 5. Como é estabelecido o diagnóstico das Hemofilias? 6. Como é realizado o diagnóstico diferencial entre hemofilia e doença de von Willebrand? Caso 3 - Paciente de 72 anos, sexo masculino, admitido com quadro de pneumonia extensa à esquerda, com agente etiológico identificado (S. aureus). Apresentou piora progressiva do quadro geral e respiratório na evolução. Iniciou quadro de gengivorragia, sangramento por sonda digestiva e em sítios de venopunção, petéquias, equimoses, sonolência e oligúria. Ao exame físico nota-se ainda presença de sinais focais de isquemia em quirodáctilos, necrose de pavilhão auricular à esquerda e hemiparesia. Exames laboratoriais revelam hipoxemia, acidose metabólica não compensada, elevação de creatinina, uréia e DHL, plaquetopenia acentuada, prolongamento de TTPA, TP/INR e TT, fibrinogênio plasmático em níveis diminuídos, presença de eritrócitos fragmentados em sangue periférico, e elevação de dímeros-D e PDF. Questões 1. Qual a definição de CIVD? 2. Quais são os principais estados patológicos associados a CIVD? 3. Quais os principais mecanismos fisiopatológicos determinantes dos quadros de CIVD? 4. Quais as manifestações clínicas possíveis da CIVD? 5. Como é estabelecido o diagnóstico de CIVD? 6. Tratamento da CIVD? DISTÚRBIOS DA HEMOSTASIA E TROMBOSES Hemostasia Primária: Refere-se ao processo de formação do tampão plaquetário (aderência plaquetária, liberação dos grânulos e agregação das plaquetas) nos locais de lesão e é de suma importância na interrupção da perda sanguínea por capilares, peq. arteríolas e vênulas. Hemostasia Secundária: Consiste nas reações do sistema plasmático da coagulação que resultam na formação de trombina e, consequentemente, fibrina. São mecanismos de coagulação, anticoagulação e fibrinólise que vão tornar o trombo hemostático primário estável. Demora vários minutos. Manifestações dos distúrbios de hemostasia: Manifestações Primária (defeitos Secundária (defeitos plaquetários) das proteínas plasmáticas) Início do sangramento Tardio – horas ou Imediato após traumatismo dias Profundo – Superficial – pele, Locais de articulações, mucosas, nariz, TGI sangramento músculos, e TGU retroperitônio Petéquias e Hematomas e Achados físicos equimoses hemartroses Autossômica Autossômica ou História familiar Dominante recessiva ligada ao X Imediata; medidas Exige terapia Resposta à terapia locais eficazes sistêmica prolongada Exames utilizados na avaliação inicial da hemostasia em casos de distúrbios hemorrágicos: Primária: TS (medida sensível da função plaquetária) e contagem de plaquetas (VN: 150.000 a 450.000) Secundária: TPT (avalia via intrínseca e fatores XII, XI, IX e VIII); TP (avalia via extrínseca, dependente do fator tecidual); TT e dosagem do fibrinogênio. DISTÚRBIOS PLAQUETÁRIOS Trombocitopenia Diminuição da produção pela MO Aumento do seqüestro esplênico Destruição acelerada das plaquetas Trombocitopenia medicamentosa PTI (púrpura trombocitopênica idiopática) Distúrbios funcionais das plaquetas: ex. Doença de von Willebrand DOENÇA DE VON WILLEBRAND (DvW) Distúrbio hemorrágico hereditário mais comum. É decorrente da deficiência quantitativa e/ou qualitativa do fator von Willebrand. O factor de von Willebrand é essencial, tanto para a adesão das plaquetas ao subendotélio como para a agregação plaquetária após lesão vascular quanto como transportador plasmático do fator de coagulação VIII. Os sintomas clínicos incluem hemorragias cutâneas e das mucosas, bem como hemorragias pós-cirúrgicas dependendo do tipo da doença. Diagnóstico: Apresenta diferentes fenótipos clínicos, sendo o sangramento mucocutâneo o mais comum, principalmente epistaxe e menorragia. A quantidade de plaquetas é normal, mas o tempo de sangramento é anormalmente longo. Para diagnóstico exames que mensuram a quantidade do fator de von Willebrand no sangue. Como ele é a proteína que transporta o fator VIII no sangue, o nível sérico de fator VIII também pode estar diminuído. A contagem de plaquetas, por método automatizado ou manual, auxilia na detecção de plaquetopenia, que faz parte do diagnóstico diferencial de coagulopatias hemorrágicas resultantes de alteração no sistema hemostático primário. Um valor de TTPA normal não exclui o diagnóstico de DvW. Tratamento: Muitos indivíduos que apresentam a doença de von Willebrand nunca necessitam de tratamento. Há duas opções terapêuticas: concentrados de FVIII, que retêm FvW e uso de DDAVP ou desmopressina (evita o uso de plasma), um análogo da vasopressina, com propriedades mínimas de elevar PA e reter líquido e que aumenta os níveis plasmáticos de FvW. DISTÚRBIOS DA COAGULAÇÃO E TROMBOSE HEMOFILIA Hemofilia A: Ausência, redução ou defeito na produção do fator VIII (FVIII). 85% dos hemofílicos. Hemofilia B: Similar à A, mas com o fator IX (FIX). 15% dos hemofílicos. A Hemofilia é uma doença recessiva ligada ao X. A hemofilia A é a mais freqüente, ocorrendo em cerca de 1:10.000 homens, sendo que a hemofilia B é 3-4 vezes menos freqüente. Grave qdo atividade do fator de coagulação afetado é <1% do nl, e está associada a sangramentos espontâneos. Leve qdo atividade é >5%, mas menor que o nl. E moderada qdo atividade está entre 1 e 5% do nl. A grave geralmente começa a se manifestar nos primeiros anos de vida, em que a criança começa a se movimentar independentemente. Pacientes hemofílicos com inibidores: A maioria dos pacientes é tratada com reposição dos fatores ausentes, que são derivados de plasma ou desenvolvidos através de tecnologia recombinante. Uma das complicações mais temidas do trat. da hemofilia é o desenvolvimento de inibidores, que são anticorpos ao FVIII ou FIX. Sua incidência é de 30% na Hemofilia A e 5% na Hemofilia B. O trat. desses hemofílicos é muito difícil. Clinicamente, a maioria dos inibidores é detectada qdo os pctes não respondem ao trat. de reposição convencional. Hemofilia adquirida: Desenvolvimento espontâneo de inibidores ao FVIII da própria pessoa. Causa é geralmente idiopática, mas pode decorrer de gravidez, dças auto-imunes e uso de certos medicamentos contra o câncer. Diagnóstico: Episódios hemorrágicos que iniciam-se na infância, com a deambulação. Manifestações clínicas dependem da atividade residual do fator deficiente e inclui hemartroses (hemorragias nas articulações, principalmente joelhos e tornozelos, causando muita dor e se não tratadas adequadamente, danos permanentes e incapacitantes), sangramentos musculares e intracavitários, espontâneos e após traumas. O diagnóstico é feito qdo a avaliação laboratorial da dosagem da atividade dos fatores VIII e IX for menor que 25%, baseado no TTPa. Outro parâmetro é que a mistura de plasma do pcte com um plasma nl é capaz de corrigir o prolongamento do TTPa. Composição do trombo Fluxo sanguíneo Pressão intravascular Lesão endotelial Se não houver correção, suspeita-se Venosa Fibrina Arterial Plaqueta Baixo Baixa Alto Alta da Geralmente Ateroma (dano da parede ausente arterial) presença de um inibidor. Tratamento: infusão dos concentrados plasmáticos do fator de coagulação deficiente. Não esquecer da prevenção antes de procedimentos. TROMBOFILIA Definição: Alterações congênitas ou hemostasia, que predispõem a trombose. adquiridas da Diferenças entre trombose venosa e arterial: Tríade de Virchow (fatores primários que predispõem os pacientes à TVP): 1. Estase venosa 2. Lesão endotelial 3. Hipercoagulabilidade Fatores de risco adquiridos e genéticos para trombose venosa: tromboembolismo prévio, imobilização, pósoperatório (duração da cirurgia e tipo de anestesia), idade (>40a), doença maligna, trauma de extremidade, estado pré-trombótico (deficiência de antitrombina III, deficiência de proteínas C e S, doenças mieloproliferativasd, hiperviscosidade, anticoagulante lúpico e ac anticardiolipina), terapia hormonal, gravidez, puerpério, e obesidade. Investigação diagnóstica das trombofilias hereditárias: Relação TTPa (+PCa) / TTPa (-PCa), cujo valor nl é entre 2 e 2,5. Na trombose esse valor é aprox. 1. O normal é a proteína C ativada aumentar o TTPa e a relação ser maior. Se há resistência a ela, tanto faz sua presença ou ausência e a relação é 1. Dímeros-D, que são resultados da degradação de fibrina. Se há acúmulo de fibrina (princ. Composição do trombo venoso), há aumento da formação de dímeros-D. Se negativo, partir para investigar outra doença. Resistência à proteína C ativada (RPCA): Essa proteína inibe os fatores V e VIII, ou seja, tem efeito de anticoagulação. Se há resistência a essa proteína por parte dos fatores, eles atuam mais e aumentam a coagulação. Diagnóstico, Complicações e Tratamento da TVP: Quadro clínico de dor, edema e aumento da temperatura da pele da região afetada. A dor é espontânea, permanente ou intermitente ao esforço, localizada na panturrilha, ombro ou membro todo. O edema é tenso, nem sempre depressível. Pele fica pálida, lisa e brilhante. O empastamento da panturrilha caracteriza o edema muscular. Sinal de Homans: dor na panturrilha pela dorsoflexão ativa ou passiva do pé. Cianose de extremidades, explicada pela lentidão do fluxo devido à estase e acúmulo de hemoglobina reduzida. Quadros graves de TVP: “Flegmásia alba dollens”: associação de fenômeno vasoespástico e a conseqüente isquemia. “Flegmásia cerúlea dollens”: a trombose venosa é tão extensa e o retorno venoso tão prejudicado que a estase compromete, de forma grave, o leito capilar com risco de necrose cutânea. Nesta situação, o membro adquire coloração fortemente violácea. Exame de escolha é a flebografia (contrastação do sist. venoso profundo. Outro é a ecografia associada ao doppler (“duplex-scan”), que é um exame menos invasivo e pode ser repetido. Por isso, é o primeiro a ser realizado, e a flebografia só é feita se houver dúvida no US. Complicações: organização do trombo e oclusão venosa, traduzida tardiamente por estase venosa, princ. no MI, caracterizando a Sd. Pós-trombótica; trombos que se fragmentam e vão para o coração direito e daí para o pulmão, determinando o quadro de embolia pulmonar; recidiva da trombose. Tratamento: Conservador é o mais indicado, envolvendo anticoagulação e fibrinólise; repouso; elevação do membro para facilitar drenagem venosa; uso de meias eláticas de alta compressão (40mmHg) depois da alta; Cirúrgico é a trombectomia venosa. Droga de escolha para iniciar é a heparina sódica, que tem ação rápida de impedir a formação de novos trombos. Administração de 5 a 10.000 UI EV dose de ataque, e manter 400 a 600 UI/Kg/dia. Deve ser mantida por 5 a 7 dias. Paralelamente à heparina, inicia-se no 1º dia o anticoagulante oral, que tem ação mais lenta, com pico máximo de ação em 48 a 72hs. Administra-se 2 cps de Warfarina no 1º dia , 1 no 2º e no 3º, e solicita-se o TP. Com base neste, administra-se meio a 1 cp como dose de manutenção. Mecanismo de ação da Heparina e dos anticoagulantes orais e monitorização de sua administração: Heparina: aumenta ação da antitrombina III, que se liga à trombina e bloqueia seu efeito sobre o fibrinogênio. Heparina+Antitrombina III removem instantaneamente a trombina. O controle deve ser diário com o TTPa ou o TC. Manter o TTPa em 1,5 a 2,5 vezes o controle ou o TC entre 10 a 15 minutos. É contra-indicada em hipertensos graves, HDA, AVCH, pós-operatório recente, etc. A ação da heparina é inibida com protamina . Anticoaguantes orais: Impedem a formação hepática dos fatores de coagulação (protrombina, que é o fator II e fatores VII, IX e X, todos formados pela vit. K), bloqueando a transformação da vit. K e sua utilização na produção desses fatores. Tb interfere na produção das prot C e S, que têm efeito de anticoagulação, e meia vida curta, por isso tb usar heparina nos primeiros dias. Controle é feito com o TP, mantendo-se o INR entre 2 e 3. Como o fator II (protrombina) tem meia-vida mais longa, só se deve mexer na dose da Warfarina após 3º dia do início. Conduta em casos de sangramento associado ao uso de anticoagulantes orais: Tratamento deve ser imediato. Diminuir a dose ou suspender momentaneamente e reiniciar com doses menores; e administrar vit. K (EV) e plasma fresco. CIVD (COAGULAÇÃO INTRAVASCULAR DISSEMINADA) Definição: É uma síndrome adquirida caracterizada pela ativação difusa da coagulação no espaço intravascular, levando à formação e deposição de fibrina na microvasculatura. Principais estados patológicos associados a CIVD: É sempre secundária a uma doença de base, como doenças infecciosas (em particular a septicemia), trauma grave, tumores sólidos e neoplasias hematológicas, complicações obstétricas (descolamento de placenta, embolia de líquido amniótico, feto morto retido, eclâmpsia e pré-eclâmpsia), doenças vasculares (hemangiomas gigantes, aneurismas de aorta), falência hepática, reações alérgicas ou tóxicas, etc. Principais mecanismos fisiopatológicos: Exposição de fator tecidual em excesso e liberação de interleucinas e ocitocinas, que provocam ativação da coagulação, diminuição dos inibidores e diminuição da fibrinólise. Os fatores da coagulação e as plaquetas são consumidos e consequentemente depletados. Manifestações clínicas: sinais de reação inflamatória sistêmica como febre, hipotensão, acidose; manifestações hemorrágicas (petéquias, equimose, sangramento em locais de punção venosa, de feridas cirúrgicas e sondas, hematúria, sangramento digestivo, hematêmese, melena, sangramento de SNC, epistaxe, gengivorragia, etc.); sinais de trombose que se manifestam como lesão de órgão-alvo: isquemia focal em pele, necrose/gangrena de extremidades, rebaixamento da consciência, delírio, coma e déficits neurológicos, insuficiência renal (oligúria e azotemia), ulceração aguda e sangramento digestivo, insuficiência respiratória e SARA e anemia hemolítica microangiopática. Diagnóstico: É feito através de uma associação de alterações clínicas e laboratoriais, e presença de uma doença de base sabidamente relacionada à síndrome. Exames laboratoriais: Contagem de plaquetas: inicialmente nl ou baixa e com queda progressiva, já que a agregação plaquetária é conseqüência da geração de trombina. Esfregaço do sg periférico: presença de hemácias fragmentadas indica trombose microvascular, mas pode estr presente ou não nos quadros de CIVD. TP, TTPa e TT: Inicialmente normais ou prolongados. O prolongamento do TP e do TTPa reflete o consumo dos fatores da coagulação e, portanto, fase de ativação franca da coagulação. O TT reflete a hipofibrinogenemia relacionada ao consumo de fibrinogênio. Fibrinogênio plasmático e PDFs (produtos da degradação de fibrina): O fibrinogênio é inicialmente nl ou mesmo elevado, por ser uma proteína de fase aguda., mas diminui em casos graves de CIVD. Aumento de PDFs é observado desde o início do quadro de CIVD. A quantificação de dímeros-D (um dos produtos da degradação da fibrina no plasma) é mais sensível que os PDFs. Valores normais de Dímeros-D têm alto valor preditivo negativo para a CIVD. Como os PDFs e os dímeros-D são tb degradados em regiões extravasculares, sua elevação não implica necessariamente na presença de fibrinólise intravascular, além de que como têm excreção renal e metabolização hepática, seus valores são influenciados pela função desses órgãos. A CIVD evolui em fases: 1) Ativação compensada (exames normais ou se alterando), 2) Ativação descompensada (exames alterados) e 3) CIVD evidente (exames muito alterados e sangramentos) Tratamento: Tratar a doença de base e trazer a doença da forma grave para a forma leve. Medidas de suporte são: adm. de fluidos, correção de distúrbios hidroeletrolíticos e do equilíbrio ácido-base, suporte ventilatório e cardiocirculatório. Há 3 linhas de trat. dependendo do quadro predominante, sangramento ou trombose: o Reposição dos fatores deficientes, ex. plasma e palquetas. o Anticoagulantes, ex. heparina (pois princ. causa é ativação da coagulação e a heparina inibe) o Concentrados de inibidores da coagulação, ex. Proteína C. EXAMES LABORATORIAIS Tempo de sangramento (TS): mede a formação de tampão plaquetário, primeira etapa da coagulação. Valores normais: 4 a 7 minutos. Encontra-se prolongado em distúrbios da hemostasia primária. Tempo de tromboplastina parcialmente ativado (TTPa): avalia a maioria dos fatores de coagulação (via intrínseca e comum), exceto o fator VII. Encontra-se prolongado em distúrbios da hemostasia secundária, tais como: def. do fator I (fibrinogênio), II (protrombina), V, VIII, IX, X, XI e XII, podendo tb estar aumentado na presença do anticoagulante lúpico (sem distúrbio hemorrágico associado). Usado para avaliação e monitorização da heparina. Isso porque a heparina acelera a taxa de ação da antitrombina, a qual degrada os fatores IIa, IXa, Xa, XIa, XIIa. Tempo de protrombina (TP): Avalia os fatores V, VII, X (via extrínseca ou tecidual), II (protrombina), I (fibrinogênio). Não se altera na deficiência dos fatores VIII, IX, XI, XII. Logo, é normal em distúrbios da hemostasia secundária. É alterado por doenças hepáticas e def. de vitamina K (II, VII, IX, X). Seu resultado atualmente é dado por um índice somatizado internacional (INR) visando à comparação entre os valores obtidos em diferentes laboratórios, devido a diferenças na tromboplastina utilizada. É o teste usado para monitorar o uso dos anticoagulantes cumarínicos. Tempo de trombina (TT): avalia a transformação de fibrinogênio em fibrina. Vai estar alterado quando houver def. de fibrinogênio, inibidor de trombina, alteração funcional do fibrinogênio, CIVD, alteração da fibrinólise e em heparinizações. Tempo de coagulação: não é específico, podendo estar alterado quando o TP, TTPa ou o TT estão alterados. ANEMIAS Prof. Dr. Roberto Passetto Falcão A) Resumos de casos clínicos ilustrativos Caso 1 - A.M.N., 15 anos, masculino, branco, estudante, natural de Cafelândia, SP e procedente de Promissão, SP. Há 20 dias notou o aparecimento de manchas puntiformes avermelhadas nos membros inferiores, simétricas, que aumentaram em número rápida e progressivamente. No dia seguinte, notou o aparecimento de manchas arroxeadas nos membros inferiores e superiores não relacionadas a trauma. Cinco dias após o início dos sintomas, começou a apresentar fraqueza generalizada, cansaço e falta de ar aos esforços cotidianos. Há 10 dias começou a apresentar epistaxe e gengivorragia, quando procurou atendimento médico em sua cidade, sendo observadas queda do estado geral, palidez cutâneomucosa, equimoses e petéquias em membros inferiores. O exame físico não revelou adenomegalia, hepato ou esplenomegalia nem febre. Foi encaminhado para hematologista em Bauru 5 dias antes da admissão, onde foi feito exame hematológico, transfundida 1 unidade de plaquetaférese e encaminhado para este Hospital. No dia da admissão, queixava-se de dispnéia aos médios esforços, porém não apresentava sangramento ativo nem febre. Não apresentou adenopatia. Antecedentes Pessoais Nasceu de parto normal, a termo. Apresentou viroses da infância. Negou tuberculose, doença de Chagas, esquistossomose, diabetes, hipertensão arterial sistêmica, doença sexualmente transmissível. Apresentou otite média aguda na infância tratada com antibióticos. Negou antecedentes cirúrgicos ou internações hospitalares, entretanto recebeu transfusão de 1 unidade de plaquetaférese 5 dias antes da admissão. Negou vícios, promiscuidade sexual. Refere exposição a pesticidas. Antecedentes Familiares Pais saudáveis. Avó materna teve câncer de mama, avô materno, câncer de esôfago e avó paterna, diabetes mellito e artrite (sic). Possui uma irmã saudável. Exame Físico BEG, hidratado, anictérico, acianótico, afebril (temperatura axilar= 36,8oC). Palidez cutâneo-mucosa acentuada, múltiplas equimoses na região anterior do tronco, membros superiores e inferiores menores que 2 cm no maior diâmetro. Múltiplas petéquias nos membros inferiores, principalmente nas pernas. TSC: ausência de adenomegalia. Discreto edema de 1+/4 de membros inferiores, frio depressível, simétrico, indolor. AR: eupnéico. FR= 20 ipm. Ausência de deformidades à inspeção estática e dinâmica. Som claro-pulmonar à percussão. Murmúrio vesicular presente, simétrico, sem sons adventícios. Ausculta da voz normal.ACV: Ritmo cardíaco regular, 2 tempos, bulhas normofonéticas, com sopro sistólico suave 2+/6, pancardíaco, sem irradiações. FC=P=100. PA= 110x50 mmHg. Abdome: plano, normotenso, indolor. Fígado e baço não palpáveis, baço não percutível. Sem outra massa palpável. Ruídos hidroaéreos presentes, normativos Exame Hematológico GV: 1.830.000/ L GB: 1.700/ L, Ne: 200/ L ,Li: 1.500/ L, Mo: 0, Eo: 0 Hb: 5,7 g/dL Plaquetas: 7.000/ L HCM: 30,9 pg RDW: 15,7 % Ht:16,1 % VCM: 87,8 fL Reticulócitos: 0,3 % Punção de Medula Óssea M.O. obtida por punção da CIPE, com fragmentos extremamente hipocelulares para a idade, relação L:E= 1:100. SV: acentuadamente hipocelular. SB: hipocelular, contituída na sua maioria por linfócitos maduros: BL=0, PM=0, ML=0, MM=1%, NB=1%, NS=2%, EO=0, BA=0, LI=92%, MA=0, PL=4%. SM: megacariócitos ausentes no esfregaço Biópsia de Medula Óssea M.O. hipocelular para a idade (20%), maturação celular preservada. Há raros megacariócitos, menos de 1 por campo em aumento de 400 vezes. Imunofenotipagem para CD55 e CD59 Expressão compatível com a normalidade de CD55 e CD59 em eritrócitos e granulócitos do sangue periférico Teste de Sensibilidade ao Diepoxibutano Sensibilidade normal ao diepoxibutano, sem quebras cromossômicas Questões: 1. Qual a causa da anemia deste paciente? 2. Sem o conhecimento do resultado do mielograma e da biópsia de medula óssea, quais os outros diagnósticos compatíveis com a históri clínica e o hematológico. 3. Qual o tratamento indicado para este paciente? O que limita a aplicação desta terapêutica? Qual seria a conduta se o paciente tivesse 60 anos de idade. Evolução Clínica Paciente tinha 1 irmã HLA não compatível e foi submetido a tratamento imunossupressor com globulina antitimocitária e ciclosporina associados a filgrastima (G-CSF) iniciado em 12 de novembro de 1999. Tornou-se independente de transfusões no 2 mês de tratamento. Último hematológico de setembro de 2000, Hb=12,7 g/dL; Ht= 35,3%; Reticulóticos=2,8% GB=2.300; Ne=800; Plaquetas=26.000. Mielograma (maio de 2000) medula óssea com fragmentos moderadamente hipocelulares para idade, relação L:E=3,4:1; SV: hipocelular com diseritropoese leve a moderada; SB: normocelular, maturação preservada e SM: megacariócitos presentes no esfregaço, com discreta dismegacariocitopoese. Caso 2 - Paciente masculino de 42 anos procurou assistência médica com queixa de tenesmo retal. Foi submentido a sigmoidoscopia que evidenciou uma massa localozada a 8 cm da borda anal. Procedeu-se à retirada cirúrgica da massa, seguida de quimioterapia com 5-fluoracil e radioterapia pélvica. Após 6 meses do término do tratamento, ele procurou novamente o médico com queixa de cansaço e dispnéia aos esforços. Como parte da avaliação laboratorial foi solicitado um hemograma que apresentou o seguinte resultado: Hb 8,2 g/dl; GB: 3,9 x 103 /ul; Hto: 24,4%; VCM: 86 fl; contagem de reticulócitos: 1%; plaquetas 250 x 103/ul. A dosagem de ferro de 23 ug/dl; TIBC 256 ug/dl; ferritina: 10 ng/ml. Questões 1. Qual a causa provável da anemia deste paciente? Como você conduziria a investigação diagnóstica? 2. Se o paciente apresentar deficiência de ferro qual seria a explicação para o VCM ser 86 fl e não estar diminuído? 3. Como poderia ser descartada ou considerada a hipótese de se tratar de anemia de doenças crônicas, visto que o paciente apresentou uma neoplasia, que é uma das causas deste tipo de anemia? 4. Qual o tratamento a ser prescrito (dosagem, tempo de tratamento)? Como poderá ser avaliada a resposta ao tratamento? Caso 3 - Paciente feminina de 73 anos procurou o clínico com queixa de fraqueza há 3 meses aos médios esforços, sem outros sintomas associados. Há um ano teve pneumonia, que foi tratada com sucesso com eritromicina. Faz uso regular de Captopril há 5 anos para HAS. Nega perda de sangue ou de peso. Nega febre. É vegetariana restrita (não ingere produtos animais de qualquer espécie) há 8 anos. Há 2 meses fez extratação dentária, após a qual apresentou hemorragia local abundante, exigindo sutura. Ao Exame: BEG, hidratada, pálida 2+/4+, anictérica. Sem adenomegalias. Sem alterações dos demais sistemas. O hemograma revelou:Hb: 8.4 g/dl,GV: 3.8 x 106/ l,VCM: 102 fl,HCM: 31pg RDW: 16;WBC: 3.1 x 103/ l,Neutrófilos: 1.8 x 103/ l, Linfócitos: 1.2 x 103/ l Monócitos: 0.1 x 103/ l;Plaquetas: 70.000 x 103/ l O hematologista ao qual a paciente foi encaminhada solicitou novo hemograma (com resultado semelhante ao anterior); reticulócitos: 0.6 %; ureia: 5.3 mmol/l (VN: 3 – 6.5); creatinina: 89 mol/l (VN: 60 – 125); bilirrubina total: 7 mol/l (VN: < 17). Sorologias para HIV, hepatites B e C e Epstein Barr todas negativas, dosagem de folato: 513 g/l (VN: 150-700); de B12: 132 ng/l (VN: 150-700 ng/l), ferro sérico: 20 mol/l (VN: 11-28)(120 mg/dl; 49-151), TIBC: 50 mol/l (VN: 45-75) ferritina: 80 g/l (VN 15-300) (230mg/dl;112-346). Após o retorno com estes resultados de exames, o hematologista realizou punção de medula óssea, cujo laudo foi: MO hipercelular para a idade, principalmente as custas da série vermelha, a qual exibe evidente transformação megaloblástica e discreta displasia. S.B.: normocelular, presença de pleocariócitos e metamielócitos gigantes. Megacariócitos diminuídos em número. Questões 1. Qual o diagnóstico mais provável? E quais são os diagnósticos diferenciais mais relevantes? 2. Como você conduziria a investigação diagnóstica a partir destes resultados? Caso 4 - Paciente masculino, 18 anos, procurou a unidade de emergência com queixa de febre (38.3 C), dor em hemitórax D, ventilatório dependente, acompanhada de tosse seca e dispnéia em repouso. O quadro iniciou-se há 4 dias e evoluiu com piora progressiva. Queixa-se também de artralgia e edema em cotovelo D há 5 dias. Nega edema de mmiis, alterações do hábito intestinal, do volume de diurese ou das características da urina. Acha que já apresentou pelo menos 15 "pneumonias" desde os 7-8 anos de idade. Conta também que desde criança apresenta quadros de artralgia migratória, acometendo grandes e pequenas articulações, acompanhada de sinais flogísticos, sendo que várias vezes a artralgia associou-se as pneumonias. Fica esporadicamente com os olhos "amarelos", que regridem espontaneamente e não se acompanha de distúrbio visuais. O médico de sua cidade fez o diagnóstico de hepatite (sic). Trabalha como balconista. Nega tabagismo ou etilismo. Comportamento de risco para HIV. Ao exame: levemente desidratado, pálido (2+/4+), ictérico 2+/4+, febril, taquidispnéico (FR=36irm) e taquicárdico (FC=P=120bpm). Cotovelo D: edemaciado 1+/4+, com sinais flogísticos, e doloroso a movimentação passiva e ativa. Tórax: estertores subcrepitantes em base D, com sibilos expiratórios e roncos difusos. Sem sinais de derrame pleural. Precórdio: 2 BRNF, c/ SS 2+/4+ pan sistólico, audível principalmente em FA e FP. FC=FP=120 bpm. Abdome: indolor, sem visceromegalias. S.N.: sem sinais localizatórios e sem sinais meníngeos. Avaliação laboratorial: Hemograma Hb: 6.4 g/dl, GV: 2.8 x 106/ l, VCM: 69 fl, HCM: 23 pg, RDW: 16 WBC: 14,5 x 103/ l, Neutrófilos: 11.8 x 103/ l, Linfócitos: 2.7 x 103/ l, Plaquetas: 270.000 x 103/ l, Reticulócitos: 5.6 % Observação: anemia microcítica e hipocrômica. Poiquilocitose acentuada com numerosos drepanócitos, hemácias em alvo e esquisócitos. Policromatofilia. Eritroblastos: 3/100GB. Neutrófilos apresentando abundantes granulações tóxicas e microvacúolos. Uréia: 5.3 mmol/l (VN: 3 – 6.5); Creatinina: 89 mol/l (VN: 60 – 125); Bilirrubina total: 42 mol/l (VN: < 17) (3,2 mg/l;; bilirrubina indireta: 35 mol/l (2,7 mg/l). Sorologias para HIV, hepatites B e C e Epstein Barr todas negativas; Ferro sérico: 20 mol/l (VN: 11-28) (120 mg/dl; 53-167), TIBC: 50 mol/l (VN: 4575) (230 mg/dl; 112-346), Ferritina: 80 g/l (VN 15-300) Questões 1. Qual o diagnóstico mais provável? E quais são os diagnósticos diferenciais mais relevantes? 2. Como você conduziria a investigação diagnóstica a partir destes resultados? 3. Como você trataria este paciente ? ANEMIAS Termo que se aplica a um quadro clínico e laboratorial em que há diminuição do hematócrito, da concentração de hemoglobina no sangue ou da concentração de hemácias por unidade de volume. < 13 g/dl no homem adulto < 12 g/dl na mulher adulta < 11g/dl na mulher grávida <12 g/dl nas crianças Pode ser duas situações: 1. anemia verdadeira: redução da massa eritrocitária 2. anemia relativa: por diluição, quando aumenta volume plasmático – menos comum (ex. gravidez, mas que não ultrapassa valores menores de 10,5 g/dl; hiperhidratação, hipoalbuminemia Dentre as anemias verdadeiras pode-se dividir em 3 causas: perdas sanguíneas agudas (hemorragia aguda) menor produção de eritrócitos diminuição da sobrevida dos eritrócitos Hemorragia Aguda Acidentes, cirurgias, hemorragias (ex. úlceras pépticas, ruptura de varizes esofagianas). Quando volume perdido não for muito grande organismo tem mecanismos que permitem recuperação espontânea. Nas primeiras horas: dosagem de Hb não reflete níveis perdidos, pois há perda de hemácias e plasma. Avaliar gravidade através de dados clínicos (frequência cardíaca, PA, palidez cutaneo-mucosa, sudorese, temperatura de extremidades, estado de consciência e fluxo urinário). Mesmo assim colher hematócrito quando paciente chega no hospital para acompanhar evolução e diferenciar pacientes que já tinham anemia antes do quadro de hemorragia (suportam perda sanguínea muito menor). Mecanismos hormonais (renina-aldosterona, horm antidiurético) atuam retendo água e eletrólitos, ocorrendo então diluição das hemácias, estabilizando-se em torno de 48 – 72 horas. Devido hipóxia renal há um aumento da eritropoetina que estimula medula óssea, aumentando níveis de hemoglobina, havendo portanto um aumento do número de reticulócitos. A síntese de Hb é feita às custas de mobilização de ferro. Portanto, se hemorragia não causar choque o sangue perdido se recompõe 2 a 3 semanas após, havendo uma discreta redução nos depósitos de ferro. Em pacientes que já tinham anemia antes, essa reposição pode não ser efetiva, levando a um quadro de anemia crônica. Anemias por menor produção de hemácias Maioria por produção insuficiente pela medula óssea. Reticulócitos vão estar normais ou diminuídos. Essa menor produção pode ser por distúrbios de diferenciação eritróide, da proliferação dos eritrócitos ou de sua maturação. Distúrbios de Diferenciação: Células mielóides (eritrócitos, granulócitos, monócitos, megacariócitos) são formadas a partir de células progenitoras multipotenciais. No caso de distúrbio de diferenciação, a produção de todas essas células vai estar prejudicada. Paciente vai ter anemia, manifestações hemorrágicas ( prod plaquetas), propensão a infecções (granulocitopenia). Aula: Aplasia de medula pode acontecer por quimioterapia (quadro esperado, depende da dose, geralmente reversível, latência de horas ou dias) ou por AINEs (que vai depender da susceptibilidade do indivíduo, não depende de dose, geralmente irreversível, latência de meses). o tratamento é transplante de medula óssea (sobrevida 70 – 80%); se não houver doador fazer imunossupressão (recuperação mais lenta e sobrevida um pouco menor). Pode ser causada por drogas, subst tóxicas, infecções, irradiação, mecanismos imunológicos. Medula óssea estará hipocelular, com hipoplasia ou aplasia das células mielóides, com predomínio de tecido gorduroso e células não mielóides (linfócitos, plasmócitos, mastócitos). Isso também pode acontecer quando há substituição da medula por outro tecido (como no caso das leucemias, mieloma múltiplo, mielofibrose, metástases – acúmulo de células neoplásicas). Nesses casos, série vermelha pode estar afetada isoladamente – aplasia pura de série vermelha. Hipotireoidismo e hipopituitarismo pode levar a anemia por menor estímulo da diferenciação da série vermelha. Insuficiência renal geralmente acompanhada de anemia (menor produção de eritropoetina). Distúrbios de Multiplicação Celular: Folatos e vit B12 tem papel fundamental, pois são essenciais para a síntese de DNA. Mas a síntese de RNA e proteínas prossegue normalmente, aumentando relação RNA/DNA dos megaloblastos. Multiplicação celular vai estar retardada ou bloqueada. Devido altos níveis de eritropoetina vai haver acentuada hiperplasia eritróide na medula óssea, mas com poucos reticulócitos circulantes (eritropoese ineficaz). Essas anemias são conhecidas como megaloblásticas. Aula: B12 = dieta exclusivamente vegetal, tênia do peixe, anemia perniciosa (deficiência de fator intrínseco), gastrectomia total/parcial, má absorção (ressecção íleo, diarréia). Folato: ingesta inadequada, alcoolismo, idoso, gravidez (maior demanda), anemia hemolítica crônica (maior demanda), menor absorção Distúrbios da Maturação ou Hemoglobinização: Hemoglobina representa mais de 95 % do peso da célula eritrocitária. Quando há menor produção de hemoglobina formam-se hemácias de menor volume – anemias hipocrômicas e microcíticas. Os principais defeitos que levam a hemoglobinização deficiente são: a) carência de ferro, b) talassemias, c) anemias sideroblásticas Maior parte do ferro corporal encontra-se nas hemácias. Depósitos encontram-se no baço, fígado e medula óssea. Na carência de ferro depósitos esgotam-se, comprometendo síntese de hemoglobina. Nos adultos normais 97% da Hb é do tipo A, formada por duas cadeias, e . Normalmente a síntese das duas cadeias é equilibrada, sendo produzidas quantidades semelhantes das duas cadeias. Talassemias são doenças hereditárias em que a síntese dessas cadeias encontra-se desequilibrada ( - talassemia ou - talassemia) . Isso vai levar a uma queda da produção de hemoglobina completa (hipocromia) e um acúmulo da cadeia que está sendo produzida em excesso, que precipitam-se no interior dos eritroblastos provocando lesão e destruição na medula óssea ou na circulação. São também anemias hipocrômicas e microcíticas. Aula: ferro sérico pode ser por: anemia ferropriva (ferritina baixa) ou doença crônica degenerativa (ferritina nl ou aumentada). Obs: No início da anemia por carência de ferro vai começar como uma anemia normocrômica, normocítica. Só depois é que vai evoluir para microcítica, hipocrômica. Anemias por Maior Destruição das Hemácias Hemácias têm meia vida média de 120 dias. Coma idade vão perdendo atividade enzimática, sofrendo alterações da superfície, favorecendo sua remoção pelo baço e fígado. Normalmente as hemácias são destruídas por macrófagos no fígado, baço e medula óssea. Nas anemias hemolíticas a hemólise exacerbada pode ser intravascular ou mais frequentemente extravascular. Hemólise intravascular: devido traumas diretos sobre as hemácias, fixação complemento ou toxinas exógenas. Assim há liberação de Hb no plasma; parte dessa Hb é filtrada no rim e excretada na urina – hemoglobinúria (sinal específico de hemólise intravascular) Hemólise extravascular: células captadas por macrófagos do baço, fígado e medula óssea, destruídas intracelularmente e digeridas. Baço é eficiente na captação e destruição de hemácias envelhecidas e defeituosas. Baço aumentado pode sequestrar e destruir hemácias normais (hiperesplenismo). As alterações que favorecem encurtamento da vida das hemácias são: a) anormalidades da membrana eritrocitária, b) anormalidades da Hb, c) anormalidades das enzimas das vias metabólicas, d) agressão direta às hemácias (medicamentos, anticorpos, lesão mecânica). Pode ocorrer destruição dentro da medula óssea se a síntese ou maturação forem anormais (eritropoese ineficaz). Manifestações das anemias hemolíticas: Aumento do catabolismo da Hb: bilirrubina indireta, icterícia, hepatomegalia, esplenomegalia, litíase biliar Hiperplasia mielóide e produção aumentada de eritrócitos: reticulócitos, eritroblastos (céls imaturas) em circulação, alterações esqueléticas Anemias hemolíticas podem ser hereditárias ou adquiridas, crônicas ou agudas. Dependendo da intensidade da hemólise, da rapidez da instalação, causa da doença, e da compensação pela medula óssea (desde oligossintomática até fraqueza, tontura, taquicardia, IRA). Aula: Doença falciforme: palidez + icterícia (anemia hemolítica) com quadro pulmonar e articular. Pode apresentar quadros de crises dolorosas articular, pulmonar (princip no frio), síndrome torácica aguda (tratar como pneumonia), AVC, priapismo (pode levar a impotência sexual). Fatores desencadeantes das crises dolorosas: hipóxia, infecções, febre, desidratação, frio. Tratamento: hidratação + analgesia MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Variadas, dependendo da causa, grau da anemia, idade do paciente, atividade física, velocidade em que se estabeleceu anemia. Pacientes jovens, com coração íntegro suportam níveis mais baixos de Hb. Sintomatologia mais aparente quando quadro se instala rapidamente; portadores de anemia hemolítica hereditária podem adaptar-se a níveis de 7 g/dl, com manifestações mínimas. As manifestações acontecem por redução da capacidade de transporte de oxigênio e menor oxigenação dos tecidos. Mecanismos compensatórios contribuem para sintomatologia. Sintomas Ocasionados pela Hipóxia Cefaléia, vertigens, tonturas, lipotímia, zumbidos, fraqueza muscular, cãibras, claudicação intermitente, angina. Nas hereditárias podem comprometer desenvolvimento somático, neuromotor e sexual. Sintomas Ocasionados pelos Mecanismos Compensatórios Atingem principalmente aparelhos respiratório e cardiovascular. Aumento do volume-minuto cardíaco Redução da resistência vascular sistêmica global Redistribuição do fluxo sanguíneo para os diferentes tecidos Diminuição da afinidade da Hb pelo oxigênio Volume cardíaco minuto tende a aumentar mais durante os exercícios físicos ( freq cardíaca e do volume sistólico). Nas anemias crônicas de moderada intensidade, a FC em repouso é habitualmente normal. Podem aparecer palpitações durante exercícios físicos. Pode haver choque de ponta impulsivo e hiperfonese de segunda bulha. viscosidade sanguínea e da resistência vascular: P diastólica, aumento da diferencial da pressão, pulsações arteriais evidentes na base do pescoço, pulsos periféricos amplos, pulso em martelo d’água. Há também maior tendência de formação de turbilhão (sopros) em precórdio e pescoço. Redistribuição fluxo sanguíneo: fluxo sang para mãos, tecido subcutâneo e rins é acentuadamente reduzido, desviado para áreas mais sensíveis a hipóxia como miocárdio, cérebro e músculos, levando a palidez de mucosas e pele (melhor observado em palma das mãos, planta dos pés, leito ungueal, mucosa da conjuntiva, boca, orofaringe e língua. Redução do fluxo para o rim não tem importância pois a redução do fluxo renal plasmático é menor do que a redução do fluxo sanguíneo e filtração renal fica pouco afetada. Insuficiência cardíaca com alto débito: quando o aumento do volume-minuto cardíaco embora aumentado não é mais suficiente para atender demanda metabólica do organismo. Afinidade da Hb pelo oxigênio: diminuição da afinidade não altera a saturação da Hb nos pulmões (onde PO2 é elevada), mas condiciona uma maior liberação de O2 nos tecidos. Algumas manifestações clínicas são sinais e sintomas da doença subjacente que conduziu à anemia. Ex. Paciente com úlcera – dispepsia, pirose, dor epigástrica Manifestações hemorrágicas e infecções na anemia aplástica ou leucemias agudas Esplenomegalia e linfonodomegalia em leucemias e linfomas Icterícia e esplenomegalia nas anemias hemolíticas Dores ósseas, fraturas sob trauma mínimo e síndrome de compressão de medula espinhal em mieloma múltiplo ou metástases carcinomatosas Análise da Observação Clínica Ao analisar um paciente com anemia vários aspectos devem ser rigorosamente questionados e observados: Sinais e sintomas de anemia: fraqueza muscular, claudicação intermitente, tonturas, zumbidos, amenorréia, dispnéia, taquicardia, aumento da pressão diferencial, sopros cardíacos, hipodesenvolvimento, palidez Sinais e sintomas que ajudam esclarecer etiologia: manifestações hemorrágicas, esplenomegalia, adenomegalia, icterícia, dores ósseas, articulares, febre, sangr genital anormal, sangr gastrointestinal, diarréia, manifestações neurológicas Antecedentes pessoais e familiares: anemia em outros familiares, consangüinidade entre os pais, origem racial, retardo de desenvolvimento Hábitos: alimentação (qualidade, quantidade), alcoolismo, profissão e ambiente de trabalho, contato com substancias tóxicas, uso de medicamentos Condições que favorecem ou facilitam aparecimento da anemia: períodos de crescimento, gravidez, neoplasias, insuf renal, doença infecciosa ou inflamatória crônica, hipotireoidismo INFECÇÕES DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL Profa.Dra. Alcyone Artioli Machado Caso 1 Paciente com 45 anos foi encontrado caído em casa, sendo levado ao atendimento médico por seus familiares. Segundo a esposa, paciente estava resfriado dias antes, negou que o mesmo fosse etilista, tabagista ou usasse drogas. Ao exame físico constatou-se leve torpor, com reação aos estímulos dolorosos, pouco cooperativo ao exame, hidratado, corado, febril (39°C), rigidez de nuca importante sem quaisquer outros sinais meníngeos, estertores de finas bolhas em região de base pulmonar direita, sem outras alterações. Foi realizado radiografia de tórax que evidenciou velamento flocoso em base pulmonar direita e pequeno derrame pleural à esquerda, obliterando o seio costo frênico. Hemograma apresentava: Hb =12,5; GV = 4.500.000 ; GB= 16500 (Neut basto= 20%; segm=60%; linfócitos= 20%; demais ndn) Foi realizado LCR, lombar, que evidenciou 540 células com 90% de neutrófilos, 8% de linfócitos e 2% de monócitos, Glicose =40mg%, Proteínas = 65 mg%, Cloretos=130 mEq/l. Tinta da China negativa, Gram presença de cocos gram positivo, hemocultura, três amostras, encontro de Streptococcus pneumoniae. Cultura do LCR: Streptococcus pneumoniae. Pesquisa de antígenos bacterianos, pela aglutinação de látex em líquor revelou-se positiva para Streptococcus pneumoniae Evolução: paciente foi internado e tratado por 15 dias tendo alta sem sequelas. Caso 2 Paciente 35 anos, branco, masculino, pedreiro, procedente de Sertãozinho, SP, procurou atendimento com queixas de cefaléia há 2 meses, holocraniana, inicialmente leve com piora importante há 10 dias, refere dificuldade para fixar o olhar e fotofobia, que melhorava ao ficar no escuro. Há dois dias a dor de cabeça piorou havendo concomitante náuseas e vômitos. Refere que seus familiares acham que seu olho entortou (sic). Diz estar apresentando dor no fundo dos olhos. Não sabe referir sobre febre, acha que está tendo há uma semana, porém não mediu. Não vem se alimentando devido a dor, não está conciliando o sono e há dois dias não tem conseguido trabalhar pelo mesmo motivo. Diz ter tratado de sinusite no início do quadro, há dois meses, com leve melhora por uma semana. Não sabe dizer quais remédios usou. Negou qualquer antecedente de uso de drogas ou comportamento de risco para HIV. Nunca esteve doente. Vinha trabalhando em uma construção próximo de sua casa, retirando cimento e demolindo muro. Ao exame: apresenta-se com dificuldade para olhar, mantendo os olhos fechados hora com a mão, hora com auxílio de um lenço. Apresenta paralisia do III e IV pares cranianos (estrabismo do olho E, negou quando perguntado se já possuia), demais dados do exame neurológico sem alterações. Afebril, hidratado, cooperativo. Sem sinais meníngeos. PA=10x 6, FC=FP= 88 bpm. Sem qualquer outra alteração. Foi realizado exame de LCR, lombar, que revelou 10 células, 100% de linfócitos. Proteínas de 80 mg %, Glicose = 50 mg %; Cloretos=120 mEq/l. Tinta da China positiva, com presença de gemulação. Gram ausência de bactérias. Hemoculturas para fungos, em três amostras presença de Criptococcus neoformas. Cultura do LCR: Criptococcus neoformas. Sorologia para anticorpos contra HIV = negativa. Evolução: paciente foi internado e tratado com melhora. Após dois meses com a terapia endovenosa foi iniciado tratamento de manutenção via oral. Caso 3 Paciente 25 anos, masculino, branco, estudante de engenharia, procedente de São Carlos, deu entrada na Unidade de Emergência com história de febre e mal estar há dois dias. Refere que estava bem até uma semana antes, quando passou a sentir cansaço que vem progressivamente aumentando. Refere inapetência e mialgia. Febre é diária, sem horário preferencial, de 38-39 °C. Há cinco dias como não estivesse bem, pensando ser resfriado, fez uso de amoxacilina que sua irmã estava tomando para sinusite, sem qualquer melhora. Nega qualquer outro antecedente. Há 15 dias espremeu várias espinhas em rosto e costas. Ao exame: paciente ativo, comunicativo, cooperando com o exame. Febril= 38,5 °C, hiperemia em face e tronco, hidratado, corado, presença de lesões de acne em face e tronco, algumas cicatriciais, outras em atividade. Mucosas bem hiperemiadas. FC=FP=120 bpm, PA= 12x6 mmHg. Coração presença de frêmito sistólico em FM e sopro ++/+++ em FM, irradiado para FT e axila E. Pulmões estertores de finas bolhas em têrço médio à direita. Abdomen presença de fígado 2cm do RCD e ponta de baço à palpação, indolor, parenquimatoso. Gânglios vários em cadeias cervicais, axilares e inguinais, 0,2 x 0,2 cm, móveis, pouco dolorosos, sem sinais flogísticos. Presença de rigidez de nuca, Brudzinsky e Laségne positivos. Raio X de tórax revelou velamento de partes moles em terço médio e base do pulmão direito e algumas imagens arredondadas, flocosas, em têrco médio à esquerda. Hemograma: Hb=15g/dl, GV= 5000000/mm3, GB 21000/mm3 (meta=1%, bast=20%,seg=70%, eosi=0%, baso=0%, linf=9%, mono=0%, plasm=0%). LCR, lombar: 350 células, 95% de neutrófilos, 5% de linfócitos, glicose=30mg%, proteínas 45 mg%, cloretos normais, Gram ausência de bactérias, tinta da China negativa. Cultura do LCR: crescimento de Staphylococcus aureus. Foi realizado ecocardiograma que revelou presença de vegetações em válvula mitral. Hemoculturas, três amostras, crescimento de Staphylococcus aureus. Evolução: paciente internado, iniciado terapia endovenosa. Durante internação apresentou piora do quadro com visualização de abcesso cerebral ao CT, o qual foi drenado cirurgicamente. Fez uso de terapia EV por 40 dias tendo alta em boas condições com leve dislalia e dificuldade ao deambular, a qual regrediu após 6 meses de fisioterapia. Caso 4 Criança de 12 anos, feminina, negra, procedente de Ribeirão Preto, estudante, deu entrada na Sala de Urgência trazida por sua mãe a qual relata que há 8 horas notou febre alta (39 °C) e intensa moleza na filha. Refere que criança vomitou três vezes no caminho para o hospital. Segundo a criança há um dia estava com dor de garganta mas não falou para a mãe. Nega qualquer antecedente, refere que sua amiga de escola não tem ido às aulas, pois está com gripe (sic). Durante o atendimento disse estar sentindo dor de cabeça. Ao exame: criança em bom estado geral, hidratada, corada, afebril no momento. Pulmões limpos, coração 2BRNF sem sopros, abdomen sem qualquer alteração, PA=10x6 mmHg, FC=FP=100 bpm. SNC presença de rigidez de nuca, de Brudzinsky e de Kerning, sem outras alterações. Raio X de tórax foi normal. Hemograma:Hb = 11g/dl, GV=3400000/mm3, GB=13000/mm3 (miel=2%,bast=15%, seg=60%, e=0%, baso=0%, linf=23%, mon=0%, plasm=0%), plaquetas=100000/mm3 . LCR, lombar, 1000 células, 100% de neutrófilos, sem hemácias. Glicose = 30 mg%, Proteínas = 50 mg%, cloretos normais. Tinta da China negativa, Gram presença de diplococos Gram negativo. Cultura do LCR= Neisseriae meningitis, a tipagem revelou o subtipo C. Aglutinação látex para pesquisa de antígenos em liquor revelou positividade para meningococo. Evolução: paciente internada, tratada com antibiótico EV, com boa evolução recebendo alta após 10 dias da internação sem qualquer seqüela. B) Atenção: Parâmetros normais do LCR no células até 4/mm3 glicose – 50 a 80 mg% Proteína 12 a 43 mg% - lombar 10 a 25 mg% - SO Cloretos 118 a 132 mEq/l C) Questões relevantes: 1) Quais são os principais sinais e sintomas que assinalam comprometimento do SNC? 2) Quais antecedentes epidemiológicos são importantes para os diagnósticos etiológicos? 3) Quais as indicações para realização do LCR? Quais suas contra indicações? Quais os valores normais deste exame? 4) Como o LCR pode colaborar para o diagnóstico clínico e etiológico? 5) Qual o valor do hemograma, da tomografia e das culturas para o diagnóstico? E para o tratamento? 6) Qual o valor da pesquisa de antígenos com LCR? 7) Quais os tratamentos instituídos? 8) Quais os critérios de cura? E de alta? 9) Em quais casos é importante a instituição de profilaxia? Quais são elas? MENINGITE BACTERIANA AGUDA (MBA) Definição: infecção purulenta aguda dentro do espaço subaracnóideo (ESA), associada a uma reação inflam do SNC. Além das meninges e do ESA, o parenq cerebral tb é acometido c/ inflamação, sendo o termo meningoencefalite o + correto. Trata- se da infecção intracraniana supurativa + comum (> 2,5 casos/ 100.000 hab). Fisiopatologia: ESA por patógenos meníngeos ↓ Invasão do Multiplicação e lise de microorganismos (por PMN e ATB) ↓ Liberação de componentes da parede cel bacter ↓ _____________________Produção de citocinas inflamatórias _____________ ↓ ↓ ↓ ↓ Alt da permeabilidade Aderência de leucs às cels Alt do fluxo sg Prod de espécies da BHE endoteliais dos capilares cerebral reativas de O2 e N ____│___________________________│___ │ ↓ │ ↓ ↓ │ Lesão e morte cels │ ↑ Permeab dos vasos sg c/ Leuc mogram p/ o │ ↑ │ extravasa/o de proteínas LCR, desgranulam e │ │ │ plasmat p/ o LCR liberam metabs toxic │ │ │ ↓ │ __│________ │ │ Exsudato no ESA obstrui → isquemia │ ↓ ↓ │ │ fluxo de saída e reabs de ↓ Fluxo sg ↑ Fluxo sg │ │ LCR e infiltra vasculat ↓ ↓ │ │ ↓ citotóxico, │ Hidrocefalia obst e comuconvulsões │ nicante │ │ ↓ │ │ Edema vasogênico │ │ cerebral │ ↓ │ Edema │ │ AVC e │ e edema │ interst │ │ │ │ │ │______________│_________________│__________________ ___│______│ ↓ ↑ Pressão intracraniana → Coma OBS.: observe que a maioria das manifestações neurológicas e complicações resultam da resposta imune!!! Etiologia: 1. S. pneumoniae (50% dos casos): - é a causa +comum de MBA em > 20 anos. - primeiramente coloniza a nasofaringe -fatores de risco: pneumonia pneumocócica (o + importante), otite média ou crônica, alcoolismo, DM, esplenectomia, hipogamaglobulinemia, deficiência de complemento e traumatismo craniano c/ fratura de base de crânio c/ rinorréia de LCR. 2. N. meningitidis (25% dos casos): - quase 60% dos casos em cça e pessoas entre 2-20 anos. - primeiramente coloniza a nasofaringe - fatores de risco: deficiência de qualquer componente do complemento 3. Gram negativos entéricos: associados a: dças crônicas e debilitantes (DM, cirrose ou alcoolismo), ITUs crônicas e após procedimentos neurocirúrgicos. 4. L. monocytogenes (10% dos casos): - infecção adquirida por: ingestão de alimentos contaminados (salada de repolho cru, leite, carnes, queijos cremosos...) - resistência a ele requer imunidade celular eficaz, portanto são susceptíveis: idosos, transplantados, grávidas, câncer, dça crônica ou terapia imunossupressora. 5. H. influenzae (< 10% dos casos): acomete cças e adultos ñ vacinados c/ Hib. 6. S. aureus: predomina após procedimentos neurocirúrgicos. 7. Estreptococo do grupo b (S. agalactiae)- 10% dos casos: antes acometia sobretudo RNs, mas tem sido relatado cada vez + em >50anos, particularmente naqueles c/ dças subjacentes. OBS.: Os + comuns em meningites adquiridas na comunidade são os n°: 1, 2, 7 e 4. Quadro clínico: Pode apresentar- se como dça fulminante aguda q evolui rapidamente em algumas horas ou como uma infecção subaguda q piora de ao longo dos dias. Temos: -Tríade clássica: febre, cefaléia e rigidez de nuca (90% dos casos) -Alteração do estado mental (75%): letargia ao coma -Náuseas, vômitos e fotofobia também são queixas comuns - Sinais de Kernig e Brudzinski presentes (= irritação meníngea/ Obs.:Lasegue + é = irritação radicular) -Convulsões (40%): parte do quadro inicial ou durante a evolução da doença Focais: por isquemia arterial ou infarto local, trombose venosa cortical c/ hemorragia, ou edema focal Generalizada: por febre, hiponatremia (SIAD), anoxia cerebral -Exantema: + comum na meningococcemia (lesões tornamse petequiais) -Hipertensão IC: os sinais são ↓ nível de consciência, papiledema, pupilas dilatadas e pouco reativas, paralisia do 6° par craniano, postura de descerebração e o reflexo de Cushing (bradicardia, hipertensão arterial e respiração irregular). Complicação: herniação cerebral em 1-8% dos casos. Diagnóstico: -Hemocultura (30-40% de positividade): sempre deve ser colhida -Análise do LCR: o diagnóstico de meningite bacteriana é definido por este exame. A necessidade de RM ou CT antes de punção lombar é uma questão controversa e deve ser abordada especificamente em cada caso. Num pac c/ nível de consciência e exame neurológico normais e s/ evidências de papiledema ou déficits focais é seguro realizar a punção s/ estes exames. (Se a punção for adiada a fim de obter exames de neuroimagens, deve- se iniciar ATB empírica após coleta da hemocultura.) Serve p/: contagem cel, ver [] de glicose e proteína, teste de aglutinação do látex (temos p/ pneumococo, meningococo, criptococo e haemófilo), coloração de Gram (+ em >60% dos casos) e cultura (+ em >80% dos casos). A PCR no LCR é mais útil em diagnóstico de infecção viral do q bacteriana. Diagnóstico diferencial: -O + importante é c/ a meningoencefalite viral (principalmente o HSV). -Infecções supurativas do SNC (empiema subdural e extradural e abscesso cerebral): manifestações focais deve ser sinonimo de exame de imagem (RM é preferível). -Processos ñ- infecciosos: a hemorragia subaracnóidea é o principal exemplo. Costuma iniciar com quadro explosivo de cefaléia intensa ou perda súbita e transitória de consciência seguida por cefaléia intensa. Tb pode haver rigidez de nuca e vômitos. Tratamento: MBA é uma emergência médica! Deve- se iniciar rapidamente ATB empírica! -Tto empírico: Ceftriaxona ou cefotaxima: boa cobertura contra S. pneumoniae, H. influenzae,N. meningitidis e estreptococo do grupo B. (Obs.: devido aparecimento de cepas de pneumococo resistentes á penicilinas o tto empírico deve ser c/ cefalosporina de 3° ger.) Ampicilina: deve ser acrescentado no esquema p/ cças <3 meses, pac >55 anos ou pac c/ imunodeficiência cel p/ dar cobertura contra L. monocytogenes. Vancomicina + ceftazidima: p/ infecções adquiridas no hospital (principalmente após procedimentos neurocirúrgicos), pois agentes + comuns são: estafilo e gram negativos, incluindo a pseudomonas (ceftazidima é a única cefalosporina q atua neste agente). -Tto específico: Agentes ATBs N. Pen G meningitidis cristalina ou Ampicilina H. influenzae Ceftriaxona S. Sensível: pneumoniae Pen G cristalina Resist intermed: Ceftriaxona Resist alta: Vanco+ ceftriax S. aureus Oxa (sensível) ou Vanco (resist) Enterobactérias Ceftriaxona P. aeruginosa Ceftazidima L. Ampicilina monocytogene Intervalos 4/4 h 4/4 h Tempo 7-10 dias 12/12 h 7-10 dias 4/4 h 10-14 dias 12/12 h Vanco: 6/6 h 4/4 h 6/6 h 21 dias 12/12 h 8/8 h 4/4 h 14-21 dias 21 dias 21 dias Doses (cça; adulto): Pen G cristalina= 300-500milUI/Kg/d; 20-24milhõesUI/dia Ampicilina= 200400 mg/Kg/d; 12 g/dia Ceftriaxona= 100 mg/Kg/d; 4 g/dia Vancomicina= 3040 mg/Kg/d; 2 g/dia Oxacilina= 200 Ceftazidima= 60- mg/Kg/d; 12 g/dia 100 mg/Kg/d; 6 g/dia -Terapia adjuvante: Dexametazona: reduz incidência de mortalidade se iniciada antes (de preferência) ou concomitantemente c/ ATB em infecções por pneumococo e haemófilo, ñ foi evidenciado vantagem no uso em infecções meningocócicas. Na hipertensão IC: tto de emergência é: elevação da cabeceira do pac em 30-45°, intubação e hiperventilação( PaCO2 de 25 a 30 mmHg) e manitol. O pac deve ficar em UTI -Profilaxia: N. meningitidis: o pac e todos os contatos íntimos devem receber. Esquema: rifampicina (600 mg p/ adultos e 10mg/Kg/dia p/ cça > 1 ano,12/12h por 2 dias). Grávidas: usar por ex.: dose única de 750mg de ciprofloxacina. H. influenzae: a profilaxia é indicada p/ todos os familiares apenas qdo houver cça <5 anos na casa, além do caso índice. Esquema: rifampicina 20mg/d p/ cça e 600mg 1x/dia por 4 dias. Prognóstico: -Mortalidade: 3-7% p/: haemófilos, menongococo ou estrepto grupo B; 15% p/ L. monocytogenes e 20% p/ pneumococo -Risco de morte associado c/: 1.↓ nível de consciência à internação; 2. convulsões nas 1°s 24h de internação; 3. sinais de HIC; 4.lactância ou > 50 anos; 5.co-morbidades (choque e/ou necessidade de ventilação mecânica); 6. demora no início do tto. -Sequelas: mod ou graves em ~25% (incidÊncia varia dependendo do agente- pneumococo maior chance). As + comuns são: ↓ função intelectual, deficiência de memória, convulsões, perda auditiva, tontura e pertubações da marcha. -Obs.: nova punção lombar em 24-36h confirmar a esterilização do líquor qdo pneumococo.Independente do agente, nova realizada nos casos q ñ evoluem bem nas avaliar troca de ATB. está indicada p/ o agente é o punção deve ser 1°s 24-48 h p/ MENINGITES NÃO PURULENTAS (MNP) Inúmeros são os microorganismos q podem produzir MNP, isto é, c/ reação cel linfomononuclear. Dentre eles temos: tuberculose, fungos e o grande grupo dos vírus, ao qual podemos associar o das leptospiras, por sua semelhança clínica e laboratorial. Diante de quadro febril agudo, em que o LCR esteja límpido ou levemente turvo após 24h de dça, devemos considerar seriamente meningite por vírus ou por leptospira. Finalmente qdo o pac apresenta quadro meníngeo associado a queda do estado geral e emagrecimento, sugerindo processo insidioso, e o LCR está turvo, deve- se suspeitar de TB ou fungos. Meningite Viral: -Clínica: quadro agudo c/ febre, cefaléia, náuseas e vômitos, diarréia e rash maculopapular. Uma infecção resp pode preceder o quadro. Alguns tb tem ↓ consciência e convulsões. O ↑ das parótidas pode ocorrer qdo o agente é o paramixovírus. Determinados vírus ,como o herpex simplex comprometem preferencialmente o encéfalo. -Diagn Laboratorial: cultura e PCR do LCR, sorologia pareada, coprocultura p/ vírus (suspeita de enteroviroses) e culturas de secreções de nasofaringe -Tto: sintomático e de suportr c/ reposição hidroeletrolítica e controle das convulsões qdo presentes. O aciclovir pode ser útil por ex. em infecções herpéticas. Obs.: no lactente meningite c/ LCR claro= pensar em comprometimento sifilítico. No adulto jovem e sexualmente ativo a pesquisa de HIV é mandatória. Meningite Fúngica: - Agentes + comuns: Cryptococcus neoformans, Hystoplasma capsulatum e P. brasiliensis. -Frequentes em pac imunocomprometidos -Criptococos: está amplamente disseminado na natureza (solo e em excrementos de aves) e não tem transmissão homemhomem. É a 2° maior infecção oportunista do SNC em pac c/ HIV. Causa dça c/ evolução subaguda ou crônica. Pode se apresentar como meningite, encefalite e + raramente como um pseudotumor (criptococoma). É possível suspeitar da etiologia se na anamnese existir moléstia pulm ñ identificada precedente ou concomitante ao quadro. É um quadro grave, costuma dar hipertensão IC muito elevada. O diagnóstico é feito através do LCR, sendo facilmente demonstrável ao exame direto pelo método da tinta da China. Cultura se desenvolve de 7-10 dias. Tto: anfotericina B por IV, gota a gota até dose acumulada de 2 gramas (efeitos colaterais: calafrios, tremores, cefaléia e dor no local de infusão; mas o + tóxico são os renais= avaliar função renal a cada 48 h). Depois substituir por fluconazol VO. Critério de cura: qdo pesquisa direta do agente e prova cultural forem neg e houver normalização do LCR. Diagnóstico diferencial de meningites: Tipo Cel Tipo Pressão Proteínas Glicose Bacterios Cultura p/ de liquórica mg/ml mg/ml copia mm3 cel Ñ pur 1 < LM Nl ou 20-80 normal Neg Neg 500 1+ Ñ pur 2 < LM* 3+ > 100 < 40 Neg ou Neg 500 + ou + Purulenta > N 4+ > 40 < 40 + + 500 LCR 0-4 100% < 18 40 >40 Neg Neg normal LM cmH2O ou 2/3 da plasm Legenda: LM= linfomononucleares N= neutrófilos Nl= normal 1+= pouco eleveda 3+= elevada 4+= muito elevada * Nas fases inicias pode haver predomino de PMN (repetir punção lombar 12 horas após) Ñ pur 1 incluem: viróticas ou leptospirose Ñ pur 2 incluem: granulomatosas (TB, criptococos) ABORDAGEM CLÍNICA DO PACIENTE REUMÁTICO Prof. Dr. Júlio César Voltarelli Prof. Dr. Paulo Louzada Jr. A) Resumos de casos ilustrativos Caso 1 - Homem de 45 anos é acordado de madrugada por apresentar dor muito intensa na articulação do primeiro podáctilo (metatarsofalangiana) à direita, acompanhada de inchaço, calor e vermelhidão no local. Refere que até o peso da coberta sobre o seu dedo o incomoda muito. Não apresenta outros sintomas. Refere história de hipertensão arterial há 2 anos. Refere fumar cerca de 1 maço de cigarros por dia e beber 10-15 cervejas, somente aos fins de semana. No dia anterior, tinha ido a um churrasco, comido e bebido muito. Ao exame, apresentava grande aumento de volume na primeira MTF, com eritema, aumento de temperatura e muita dor à palpação. Ácido úrico sérico: 9,0 mg%. A radiografia do pé D mostrava apenas aumento de partes moles. A punção articular mostrou líquido sinovial de aspecto transparente, com 10.000 células/mL, com mais de 50% de neutrófilos, contendo cristais em forma de agulha à luz polarizada. 1.1 – Como deve ser tratado este quadro articular agudo? 1.2 - Qual é a conduta a ser tomada, após o paciente sair da crise aguda? Caso 2 - Homem de 18 anos refere mal-estar e febre desde há 4 dias. Refere dor articular em cotovelo direito há 4 dias, havendo melhora completa da dor com o uso de 500 mg de paracetamol. Há 3 dias, começou apresentar dor no joelho E e, em seguida, no punho D. Há 2 dias, essas dores desapareceram, sem tratamento, porém começou a apresentar dor na região do tendão de Aquiles e no tornozelo E. Desde o dia anterior, além da dor, começou a apresentar inchaço e vermelhidão no tornozelo E. Nega outras queixas. Não bebe, não fuma, não usa drogas ilícitas. Refere usar preservativo nas relações sexuais. Ao exame, apresentava-se em BEG, febril (38°C), lesões eritematosas e pustulosas, de 2-3 mm cada, em regiões peri-ungueais. Eritema na faringe, com exsudação esbranquiçada. Dor, edema e eritema em tendão de Aquiles, além de importante aumento de volume e de temperatura em tornozelo E. O RX de tornozelo mostra apenas discreto aumento de volume. A punção sinovial mostrou líquido amarelo opaco, com cerca de 90 000 células/mL, sendo mais de 75% neutrófilos. As culturas de orofaringe e do líquido sinovial mostraram a presença de diplococos gram-negativos. Sorologia para HIV negativa. 2.1 – Como deve ser tratado este caso? Caso 3 - Homem de 35 anos, casado, carregador de malas, refere história de dores articulares desde há 4 meses. Inicialmente, a dor apareceu em joelho D, com discreto inchaço, apresentando melhora com o uso de ibuprofeno (600 mg/dia), mas, sem desaparecimento da dor. Há 3 meses, começou a apresentar também inchaço doloroso nos dois tornozelos. Três semanas mais tarde, observou inchaço e dolorimento nos 2o e 3o dedos do pé direito. Concomitantemente a essas dores, vem apresentando dor na região da coluna lombar, que piora com longos períodos de repouso ou inatividade e melhora com o movimento. È comum acordar de madrugada com muita dor lombar. Relata procurar atendimento médico, devido a inúmeros episódios de tendinite. Nega febre, anorexia ou perda de peso. Refere relações sexuais exclusivamente com a esposa. Ao exame, apresenta limitação da mobilidade da coluna lombar, teste de Schöber positivo e manobra de Patrick positiva a esquerda. Exames subsidiários mostraram FAN e FR negativos, HIV negativo, HLA-B27 positivo. A radiografia das articulações sacroilíacas (posição de Fergünson) evidenciou estreitamento e esclerose marginal da sacroilíaca a E. 3.1 – Quais outras alterações clínicas devem ser procuradas neste caso? 3.2- Como deve ser tratado este paciente? Caso 4 - Mulher de 44 anos vem apresentando dores articulares desde há 4 anos. As dores começaram insidiosamente, atingindo IFP, MCF, punhos e cotovelos, bilateralmente, apresentando calor e inchaço em punhos e cotovelos. Tomou piroxicam 20 mg/dia, sem melhora importante. Há 2 anos, além das dores já referidas, começou a apresentar dores em joelhos, tornozelos e ATM, com discreto inchaço em ambos os joelhos. Desde o início do quadro, apresenta rigidez matinal nas mãos, com duração de até 3 horas. Há 1 ano, percebeu deformidades nos dedos das mãos. Nada de importante nos antecedentes. Ao exame das mãos, apresentava aumento de volume das IFP, simétrico, deformidade em flexão das IFP dos 2 o e 3 o dedos, atrofia da musculatura interóssea e da musculatura das regiões tenar e hipotenar. Aumento de volume e calor em ambos os punhos. Dor à palpação em cotovelos e joelhos. Coluna cervical: dor à rotação direita e esquerda. FR: positivo (456UI/ml), pesquisa de anticorpos anti-CCP (peptídeo C citrulinado) positiva; Radiografia de mãos: osteoporose peri-articular em IFP e MCF, diminuição simétrica dos espaços articulares, lise óssea, com subluxação em 2 o e 3 o MCF. 4.1 – Como deve ser tratado este caso? Caso 5 - Mulher de 22 anos apresentando história de manchas avermelhadas no rosto, que pioram com a exposição solar e dores articulares em IFP, MCF, punhos, cotovelos, joelhos e tornozelos, bilateralmente, não acompanhadas de outros sinais flogísticos e sem rigidez matinal, desde há 6 meses. Com o uso de nimesulida, 200 mg/dia, apresentou melhora apenas das dores articulares. Há cerca de 1 semana, começou apresentar manchas pequenas, puntiformes, avermelhadas, por todo o corpo. Há 3 dias, os familiares vêm observado que a paciente encontra-se bastante agressiva e, as vezes, apresentando distúrbio de comportamento. Refere queda acentuada de cabelo desde o início do quadro, urina espumosa desde há 3 meses e amenorréia há 2 meses A paciente é solteira e tem diversos namorados, fazendo uso irregular de preservativos. Ao exame, a paciente encontrava-se agitada, consciente, afebril, lesões eritematosas infiltradas, com discreta descamação nas regiões malares e pavilhões auriculares, petéquias em membros e tronco, lesões exulceradas no palato duro. PA: 16 x 10 cm Hg. Osteoarticular sem sinais de flogose. Exames subsidiários: GB 3200/mm3 (50% de neutrófilos, 23% de linfócitos), plaquetas 15.000/mm3, Hb 9,8 g%. Urina rotina: com proteinúria +++, cilindros granulosos e hemáticos, proteinúria de 24 h, > 1,0g, em 3 amostras. FR negativo, FAN positivo, padrão pontilhado, 1/320, anti-Sm positivo e antiDNA nativo positivo. VDRL positivo, FTAbs negativo. HIV negativo. Radiografia das articulações: normal. 5.1 – Qual o próximo passo na condução deste caso? 5.2 – Como planejar a terapêutica? GOTA Definição:Ocorre qdo o ácido úrico (AU) está elevado no soro, ultrapassando seu limite de solubilidade, ocorrendo precipitação. (normal do Ac. Ur.= ♀: 2-6mg/ dL ♂: 37 mg/dL) Epidemiologia: ♂ adultos > 50 anos. Pouco comum em ♀, geralmente após menopausa. Nos ♂ susceptíveis à gota clássica, a hiperuricemia costuma iniciar na puberdade. Existe fator genético. Origem do ↑ do ac. Úrico: o AU costuma ser produzido no organismo a partir das purinas. O seu aumento ocorre por excesso de produção ou falha na eliminação. -A oferta excessiva acontece pela própria dieta ou pela reutilização exagerada dos ac. nucleicos teciduais (particularmente nas neos hematológicas e na terapia citotóxica- sind de “lise tumoral”). -A maioria dos casos apresentam hiperuricemia idiopática (1°) e o fazem principalmente por falha na eliminação renal. -Fatores externos q ↑ AU: álcool, obesidade, diuréticos (especialmente tiazídicos) e hipertrigliceridemia. Clínica: 1. Hiperuricemia Assintomática: pode permanecer a vida toda sem sintomas. O risco de desenvolver artrite gotosa e nefrolitíase ↑ em função do grau e duração do ↑ de AU. 2. Artrite Gotosa Aguda: sua patogênese depende da fagocitose dos cristais recém liberados no espaço sinovial por neutrófilos, os quais são ativados e inicia- se a atividade inflam. Há instalação súbita de artrite extremamante dolorosa ,geralmente monoarticular (50% dos casos 1° crise se localiza na 1° artic MTF e 90% dos pac já tiveram alguma crise aguda localizada aí- podagra). As gdes crises se iniciam à noite. Freqüentemente existem fatores predisponentes. As crises persistem por tempo limitado (geralmente 3 a 7 dias) e ñ há sequelas. Há hiperestesia tátil (pac ñ tolera nem o peso dos cobertores). Acomete principalmente artic distais dos MMII. 3. Gota intercrítica: é o período entre as crises agudas e é fundamental na caracterização do quadro de gota. Cerca de 60% dos pac q já tiveram uma crise vão ter outra em 1 a 10 anos. Com o tempo as recaídas são + freqüentes e duradouras, podendo deixar comprometimento residual. As crises posteriores são + graves, tendem a assumir caráter poliarticular e + freqüentemente vem acompanhadas de febre. 4. Gota tofosa crônica: Qdo há ↑ de AU ñ tratado por longo tempo há deposição de tofos em cartilagens, articulações, tendões e partes moles (ex.: hélice do pavilhão auricular). Os tofos são acúmulos de cristais de urato monossódico cercado por tec granulomatoso. Muitas vezes os tofos se ulceram eliminando subst de aspecto calcário ou pastoso. Os tofos tendem a regredir completamente c/ o tto adequado da hiperuricemia.Achados radiológicos: erosões em “saca-bocado”, erosões c/ margens escleróticas e bordas proeminentes; preservação do espaço articular e ausência de osteopenia justa- articular. OBS.: O AU pode causar Nefropatia Gotosa por deposição no parenq renal, e ainda podem causar uropatia obstrut por deposição em túbulos coletores e ureteres. Até 25% dos pac c/ gota têm formação de cálculos renais (devido: pH urinário ácido e ↑ da [] urinária). Diagnóstico: Punção do liq articular: presença de cristais típicos (em forma de bastonetes ou agulha) de urato monossódico em leucócitos do liq sinovial, visualização em microscópio de luz polarizada. Obs.: numa monoartrite deve- se sempre afastar artrite piogênica. (Sempre puncionar monoartrites!!!) Tratamento da Crise Aguda: 1° escolha= AINEs: os + potentes= ENo e ACO. Tb pode ser usado indometacina. 2° escolha= colchicina: inibe microtúbulos e microfilamentos (estruturas cel responsáveis pela movimentação cel), portanto inibem movimentação dos leucócitos.É muito eficaz, mas muitos efeitos colaterais: TGI (náuseas e vômitos); altas doses = gastroenterites hemorrágicas e até distúrbio mioneuropático. 3° escolha= corticóides intraarticulares Período de Intercrise: Medidas gerais: não ingerir álcool, frutos do mar, miúdos e embutidos evitar excessos de carnes Realizar exames: AU sérico e AU urinário em 24h (normal= 250-750mg/ 24h) ARTRITE INFECCIOSA Definição: Artrite Infecciosa X Artrite Reativa -Artrite Infecciosa (AI): Este termo dever ser reservado p/ os tipos de inflam articular q resultarem da invasão direta das articulações pelo agente microbiano. -Artrites Reativas: são estéreis, e surgem freqüentemente no período de coalescência de determinadas infecções, sendo originadas por ação de complexos imunes circulantes. Os agentes + comuns associados a este tipo de artrite são vírus (ex.:hepatite), bactérias implicadas nas gastroenterites (Salmonella, Shigella, Yersinia, Campylobacter) e clamídias. Mecanismos da AI: 1. Via hematogênica (+ comum) 2. Inoculação direta ( injeções, traumas...) 3. Disseminação por contigüidade (ex.: osteomielite) Artrite Infecciosa Bacteriana:Resulta habitualmente da infecção hematogênica -Etiologia: Faixa Etária Principal Agente Outros Agentes RN S. aureus S.agalactiae(B-hem grup B) Gram - entéricos Cça entre 1 mês e Vacinadas anti- S. pyogenes(b-hem 5 anos hemófilo: grup A) S. aureus S.pneumoniae (na Ñ vacinadas: H. anemia falciforme) influenzae Cça > 5 anos S. aureus S. pyogenes Adultos jovens N. gonorrhoeae S. aureus sexualmente ativos Restantes dos S. aureus S. pyogenes adultos Gram negat entéricos (em inumodeprimidos, idosos e usuários de drogas EV) Anaeróbios (contigüidade a abscessos abdominais) Obs.: em próteses é cada vez + comum infecção por S. epidermidis -Clínica: responsável pela gde maioria dos casos de quadro monoarticular.Temos: febre (39-40°C), calafrios, sintomas inflam articular. Diagnóstico por punção articular. -Artrite não- gonocócica: Obs.: durante um processo bacteriêmico o principal fator de risco p/ ter artrite bacteriana é existência de lesão articular prévia (ex.: AR, osteoartrose...) -Geralmente há monoartrite francamente inflam (20% oligoartrite, geralmente acometendo articulações próximas) - + freqüente em cças, idosos, imunocomprometidos ou viciados em drogas EV - Tenossinovite rara - Hemoculturas + em > 50% dos casos - Cultura do liq sinovial + em 90% dos casos -Artrite gonocócica: Pode se apresentar de 2 formas, uma podendo se seguir a outra: 1. Sind Artrite- Dermatite (“Fase poliarticular”): - envolvimente poliarticular ( artralgias/ artrite) - lesões cutâneas como pústulas ou vesículas indolores, com fundo eritematoso, c/ centro necrótico ou hemorrágico, em 75% dos casos (preferencialmente em extremidades, principalmente em mãos). O gonococo raramente é isolado nestas lesões - comum ter tenossinovite - freqüentemente:Hemocultura + e cultura do liq sinovial – - a Neisseria pode ser encontrada em: orofaringe, reto, cérvice e uretra 2. Artrite supurativa (“Fase monoarticular”): - há monoartrite (predomínio em gdes articulações periféricas) - freqüentemente: hemoculturas – e do liq sinovial + em 30% dos casos -Tratamento: Empírico: - p/ RN: Oxacilina + Gentamicina - p/ cça entre 1 mês e 5 anos Oxacilina + Ceftriaxone (p/ ñ vacinadas) - p/ cça >5 anos: Oxacilina - p/ adultos onde há dúvida entre estafilo e gonococo: Oxacilina + Ceftriaxona Específica: - p/ Estafilo: Oxacilina por 3 sem - p/ Gonococo: Ceftrixone por 14 dias (Obs.: usar por 21 dias a doxaciclina p/ tratar clamídia associado) - p/ H. influenzae e p/ Gram - entéricos: Ceftrixone por 14 dias Artrites Virais: tipicamente poliarticular e simétrica, de evolução rápida e transitória, ocorrendo na fase prodrômica ou principal do doença. Os vírus + importantes são: rubéola, parvovírus B19 e vírus da hepatite B. Artrites fúngicas e por TB: geralmente monoarticulares, tendo curso indolente e arrastado, c/ diagnóstico feito nas fases + tardias. ESPONDILOARTROPATIAS Generalidades: periféricas - acometimento de - articulações lesão axiais proeminente e das ênteses - associadas a determinadas lesões sistêmicas - superposição entre suas formas formas clínicas - tendência à hereditariedade ausência do fator reumatóide - associação c/ o HLA-B27 Grupo das espondiloartropatias: 1. Espondilite Anquilosante 2. Artrite Reativa (incluindo Sínd de Reiter) 3. Artrite Psoriásica 4. Artropatias Enteropáticas Espondilite Anquilosante (espôndilo= vértebra; anquilose= fusão) - Característica: comprometimento progressivo das articulações sacroilíacas e vertebrais (esqueleto axial), de forma ascendente e c/ eventual anquilose dessas articulações. O grau de comprometimento da EA pode variar muito, desde acometimento exclusivo da articulação sacro-ilíaca até anquilose completa da coluna (”coluna em bambu”) - Predomínio em ♂ (3:1), maior incidência no final da adolescência - causa desconhecida, ocorre algum descontrole imunológico (devido agente ambiental?) em indivíduos geneticamente predispostos (HLA-B27 presente em 90% dos casos). - Anamnese: classicamente, ♂ jovem (<40 anos), que inicia c/ queixas insidiosas de dor lombar persistente associada à rigidez matinal, aliviada por atividade física. As articulações periféricas são acometidas em < 30% dos casos (oligoartrite assimétrica) - Ex Físico: Hipersensibilidade óssea (ex.: Manobra de Patrick) Limitação da mobilidade lombar (teste de Schöber) - Manifestações extra-artic.: Oftalmológicas: a uveíte anterior aguda acomete 30% dos pac (manif extra-artic + comum), é quase sempre unilateral c/ dor, lacrimejamento excessivo, fotofobia e turvação visual. Costuma ser auto- limitado e eventualmente exigem uso de corticóides. Pulmonares: o + comum é fibrose pulm dos lobos superiores. Costuma aparecer após 2 décadas de dç, há tosse produtiva crônica e dispnéia progressiva. Cardíacas: até 10% dos pac graves desenvolvem insuf aórtica, cardiomegalia, e distúrbios permanentes de condução (devido fibrose) Renais: Amiloidose 2° (1-3%) e nefropatia por IgA Neurológicas: deslocamentos e fraturas da col cervical, “Sind da cauda eqüina” (anestesia perineal em sela, dor e fra queza dos MMII c/ hiporreflexia e flacidez, podendo haver perda do tônus dos esfíncteres retal e urinário) -Critérios diagn: (o n°4 + 1 dos outros) 1. dor lombar há > 3 meses (melhora c/ exercício e ñ c/ repouso) 2. limitação funcional da col lombar (planos sagital e frontal) 3. redução da capacidade de expansão do tórax 4. presença de sacroiliíte (Critério Radiológico= Rx simples de quadril mostrando sacroiliíte bilateral- estágio 2-4 ou sacroiliíte unilat- estágios 3-4) - Tratamento: objetivos= aliviar dor, rigidez e desconforto, ↓ aparecimento de deformações. Fisioterapia (mobilização articular do esqueleto axial + prática de ex respiratórios) AINES (Indometacina) Artrites Reativas (ARe) - Existem 2 formas: a)pós- disentérica ou epidêmica: ocorre + em cças, após surtos disentéricos (Shigella, Salmonella, Campylobacter e Yersinia) b)pós- venérea ou endêmica: predomina em adultos jovens, geralmente após episódios de uretrite ou cervicite (Chamydia trechomatis) - Sind de Reiter: qdo a ARe está associada a outras manifestações inflam, compondo a sínd: artrite + conjuntivite + uretrite (tríade clássica) Uretrite: infecciosa (ñ- gonocócica) ou ñ- infecciosa (participando do processo inflam reativo). A secreção uretral é intermitente e de pq qtidade, podendo passar desapercebida. Conjuntivite: costuma ser mínima, raramente é sintomática (c/ eritema, ardência, prurido e secreção purulenta) - Clínica: a artrite, em geral, é oligoarticular, assimétrica e afeta principalmente MMII (em especial o joelho) outras manifestações reumatológicas incluem: artralgias, dactilite (dedo em salsicha), tendinite do tendão de Aquiles, fasciíte plantar, sacroileíte e acometimento ascendente da col vertebral,etc. Outras manifestações associadas: balanite circinada, uveíte anterior, úlcera oral, ceratoderma blenorrágico (em até 30% das AResc/ forma pós- venéria, muitas vezes indistinguível da psoríase). Sintomas constitucionais: fadiga, mal-estar, febre e perda ponderal. - Diagnóstico: clínico e de exclusão. Existe presença de oligoartrite inflam c/ histórico positivo de infecção diarréica ou venérea. Diag diferencial principal: gonococcemia. - Tratamento: Sintomas agudos com AINEs Infecção venéria deve ser irradicada ( se houver) Casos crônicos: sulfasalazina ou metotrexate - Prognóstico: imprevisível. Ou inicia curso intermitente ou segue curso crônico (o qual tem maior risco de espondilite progressiva) Artrite Psoriásica - Atinge pq proporção de portadores de psoríase, costuma aparecer após as lesões típicas. - Há 5 formas de apresentação: 1.Oligoartrite Periférica Assimétrica (lembra sind de Reiter) 2.Poliartrite Periférica Simétrica (lembra artrite reumatóide) 3. Envolvimento do Esqueleto Axial (lembra Espondilite Anquilosante) 4.Artrite mutilante: pouco comum, mas característica. trata- se de grave poliartrite destrutiva e deformante; há anquilose dos dedos das mãos. 5.Envolvimento da Interfalangianas Distais: típico. É quase sempre associado c/ comprometimento da unha adjacente pelas alterações psoriásicas. - tratamento: Casos leves: AINEs (indometacina p/ esq axial e por ex. neproxeno p/ perif. ) Sintomas refratários ou recidivantes: metotrexate ou sulfasalazina Artropatias Enteropáticas - Ocorre sempre que pudermos responsabilizar condições intestinais na origem da artropatia - As artropatias entéricas incluem as: 1. Donça Intestinal Inflam (Dça de Crohn e Retocolite Ulcerativa) Há 2 padrões: Artropatia Periférica: poliartrite assimétrica migratória aguda, início abrupto acomentendo gdes articulações dos MMII. Espondiloartropatia: indiferenciável da Espondilite Anquilosante. 2. Enterocolites Infecciosas: é uma artrite reativa 3. Dça de Whipple (lipodistrofia intestinal): afeta predominantemente ♂ de meia- idade. Há: artrite, serosite, diarréia, ↓ peso, hiperpigmentação cutânea e linfadenopatia. 4. Dça Celíaca (enteropatia pelo glúten): a col lombar, quadris, ombros e joelhos são os + acometidos. ARTRITE REUMATÓIDE (AR) Definição: é dç inflam crônica auto- imune caracterizada por poliartrite simétrica, erosiva e, geralmente progressiva resultando em deformidades. Tb acomete outros órgãos. O paciente apresenta uma ativação policlonal, produzindo uma infinidade de anticorpos; o + importante deles é o Fator Reumatóide (uma IgM contra porções Fc de IgGs). Epidemiologia: - atinge 1% da pop adulta (2° principal dça reumática) -3 ♀: 1 ♂, maior incidência entre 35-65 anos - há componente genético (4x + freq em parentes de 1° grau) - HLA-DR 4 em 70% dos casos - Fator reumatóide (FR) em 70% dos casos Mecanismo de lesão: afeta especialmente a membrana sinovial (sinovite) e a cartilagem que reveste as articulações diartrodiais. Clínica: 70% se inicia insidiosamente, comprometendo preferencialmente as articulações das mãos, de forma aditiva, simétrica e c/ rigidez matinal. Pode ser precedida de sintomas gerais (adinamia, fraqueza, febrícula e mialgia). - 20% se inicia de forma oligoarticular, acometendo preferencialmente as gdes articulações como joelhos, tornozelos ou cotovelos. - 10% pode se iniciar c/ poliartrite aguda OBS.: Polpa IFD (diferenciar de osteoartrite e artrite psoriásica) Do esq axial costuma acometer apenas col cervical (subluxação atlanto- axial) Exame Físico Articular: -Sinal de Phalen: sind do túnel do carpo desencadeada por flexão forçada dos punhos por 30 a 60 seg -Deformidades + típicas: desvio ulnar dos dedos mãos em ‘pescoço de cisne’: hiperextensão de IFP + flexão de IFD mãos em ‘abotoadura’: hiperflexão de IFP + extensão de IFD punhos em ‘dorso de camelo’ -Outros: Cisto de Baker:uma espécie de bolsa q se forma no joelho e na clinica simula TVP Cricoaritenoidite: na clínica há rouquidão, disfagia e dor na face anter do pescoço Manifestações extra- articulares: é importante lembrar q a AR é uma dça sistêmica e vários órgãos e sistemas podem ser acometidos, tornando possível o surgimento de diversas manifestações extra- articulares. Critério Diagnóstico: ≥ 4 critérios há pelo menos 6 semanas 1.Rigidez matinal: ≥ 1 hora 2.Artrite de 3 ou + articulações: simultaneamente e c/ sinais inflam observados pelo médico 3.Artrite de mãos ou punhos: 4.Artrite simétrica 5.Nódulos reumatóides subcutâneos: em superf extensoras e regiões periarticulares, observado pelo médico 6.Fator Reumatóide 7.Alter radiológicas:erosões ou descalcific ósseas e áreas subjacentes à artic acometida Tratamento: visa aliviar dor, manter ou melhorar capacidade funcional, prevenir incapacidade e adaptar o pac ao meio. 1.Medidas gerais: -repouso articular, principalmente em fase aguda (manter articulação em posição de menor estresse e evitar deformidades). Muitas vezes requer o uso de talas -fisioterapia p/ fortalecimento de musculatura periarticular -orientação sobre a doença e apoio psicológico 2. Tto medicamentoso: -AINE (ENo ou ACO): ↓ dor e edema e melhora da função articular. Ñ alteram curso da doença nem previnem destruição articular. -drogas anti-reumáticas modificadorras da doença: para os pac q permanecem c/ dça ativa, apesar do uso de AINEs. Obj.:conseguir remissão ou o ótimo controle da inflam, antes q haja alter articulares irreversíveis. Há limitações qto tolerabilidade e efeitos colaterais. Ex.: metrotexato, antimaláricos,etc... 3.Tto cirúrgico: deve ser feito qdo as deformidades + graves ainda ñ estão instaladas e os objetivos são melhora da dor e manutenção ou melhora da função articular Prognóstico: -Pac s/ tto: tem vida média menor q a pop;incapacitação levando à ↓ da qualidade de vida -Pac tratados: apresentam curso favorável, <10% terão curso deformante e incapacitante LUPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO Definição: é a maior representante do grupo das colagenoses (patologias inflam sistêmicas do tec conjuntivo- colágeno). Epidemiologia: compromete principalmente ♀ jovens, em idade fértil (20-45 anos)- 9♀: 1♂ discreto predomínio na raça negra Patogênese: é resultado da ação de diversos IGs (principalmente contra antígenos nucleares), formados por um desequilíbrio do sist imunológico. Etiologia: Multifatorial - fatores genéticos (ex.: HLA DR2 e DR3 ) - fatores ambientais: luz ultra- violeta (explica o comportamento ‘epidêmico’ no verão) hormônios sexuais ( estrogênio é imuno- estimulante) medicamentos (lúpus fármaco-induzido: metildopa, isoniazida...) agentes microbiológicos (vírus causando ‘mimetismo molecular’) Clínica: Pode começar de forma aguda ou insidiosa, mas é, por definição uma dça crônica, remitente e recidivante. A dça evolui c/ períodos de exarcebações e remissões, comprometendo principalmente: pele, articulações, serosas, glomérulos e o SNC. Há tb presença de sintomas constitucionais: febre (80%), fadiga (90%), emagrecimento (60%), queda do estado geral. Critérios Diagnósticos: ≥ 4 critérios, intercalados ou simultâneos 1.Eritema Malar: erupção em asa de borboleta 2.Erupção Discóide: predomina na face e couro cabeludo (levando à alopecia irreversível). È eritematosa c/ atrofia central, hiper ou hipopigmentação, teleangectasias, rolhas foliculares e hiperceratose. É a lesão relacionada ao LES q + deixa cicatrizes. 3.Fotossensibilidade 4.Úlceras Orais: nasofaríngea, habitualmente indolor 5.Artrite: ñ-erosiva, c/ acometimento de pelo menos 2 articulações periféricas, e caracterizada por dor, tumefação ou derrame 6.Serosite: pleurite ou pericardite 7.Distúrbio Renal: proteinúria persistente > 500mg/dia (ou > 3 +) ou presença de cilindros celulares 8.Distúrbio Neurológico: convulsões ou psicose 9.Distúrbio Hematológico: anemia hemolítica c/ reticulocitose ou leucopenia ou linfopenia ou trombocitopenia 10.Distúrbio Imunológico: Ig antifosfolpídeo ou anti-DNA nativo ou anti-Sm ou VDRL falso +. 11.Anticorpo Antinuclear Imunoglobulinas: - FAN (fator antinuclear) Padrões do FAN Auto -anticorpo Associação clínica Periférico Anti-DNA nativo LES (nefrite) (dupla hélice) Pontilhado Anti-ENA (Ro ,La, LES, Sjögren, (salpicado) Sm, RNP) DMTC Nucleolar Anti-ScL 70 e Esclerose Sistêmica outras enzimas (forma difusa) nucleolares Homogênio Anti- histonas LES, LE por droga, HAI Legenda:anti- ENA: antígenos nucleares extraíveis anti- RBN: anti ribonucleoproteína anti- Sm: antígeno Smith Ro e La: fosfoproteínas complexadas a fragmentos de RNA nuclear DMTC: Dça Mista do Tec Conjuntivo HAI:Hepatite auto- imune -Outras Anticorpo Anti-DNA nativo (dupla hélice) AntiDNA desnaturado (hélice simples) Anti- histonas Frequência no LES 75% 90% 60% Anti- SSA (Ro) 30% Anti- SSB (La) 10% Anti- Sm 30% Anti- RNP Anti- P 30% 10% Anticardiolipina 20% Comentário Forte associação nefrite lúpica Pouco específico c/ Característico do LES por drogas Característico da Sind de Sjögren Característico da Sind de Sjögren Considerado o + específico p/ LES Característico de DMTC Associado à psicose lúpica Caracteriza Sind do Ig Anti-fosfolipídeo Tratamento: visa controle sintomático, prevenir ou ↓ complicações, ↑ sobrevida do paciente -Medidas Gerais: Repouso acima do normal (10 horas de sono, evitar exaustão) Uso de protetor solar, roupas q protegem contra o sol, chapeus Evitar uso de estrógenos Fazer dieta balanceada Controlar fatores de ro]isco p/ dça coronariana Evitar estresse emocional -Tratamento Medicamentoso: Drogas Cutâneo Artrite Serosite/misite Nefrite SNC Hematológico V AINE ++ + Anti-mal +++ +++ ++ Pred<0,5 ++ ++ +++ + ++ mg/kg/d Pred 1+ +++ +++ +++ 2mg/kg/d Solumedrol + ++ ++ + IMS oral + ++ ++ + Ciclofosfamida +++ ++ Plasmaférese -/+ -/+ Ig IV -/+ -/+ Legenda: -: ñ indicados +: pouco utilizados ++: moderadamente utilizados +++: muito utilizados Pred= predinisona Os anti- maláricos devem ser usados sempre p/ reduzir recidivas e poupar uso de corticóides OSTEARTROSE / OSTEOARTRITE (OA) Definição: dça degenerativa das articulações sinoviais. Características: -Clínicas: dor e limitação funcional -Radiológicas: osteófitos, ↓ do espaço articular, eslerose do osso subcondral -Histopatológicas: perda da integridade da cartilagem articular (elemento alvo deste processo mórbido. Epidemiologia: -1° dça reumática + prevalente (20% da pop mundial) - Mais prevalente em ♀ - Incidência aumenta após os 40 anos Fatores de risco: - Idade> 45 anos - Sexo feminino *# -história familiar positiva *# - Obesidade -Trauma: Rotura de menisco ou meniscectomia # Rotura do ligamento cruzado # Fraturas - Patologias ortopédicas: Dça de Legg-Perthes $ Displasia acetabular $ Genu valgo ou varo # -Patologias clínicas: acromegalia, ocronose, hemocromatose, DM, Dça de Wilson -Atividades esportivas: ciclismo (#), futebol (#$), ginástica olímpica -Atividades profissionais: trabalhadores do algodão (*), moedores (*), mineiros (#) OBS.: * OA da mão # OA do joelho $ OA do quadril Tratamento: visa melhora da dor e manutenção da função articular -Medidas ñ- farmacológicas: ↓ na sobrecarga articular: redução de peso, uso de bengalas e andadores, calçados acolchoados ou palmilhas especializadas Exercício Físico: melhora condicionamento físico, reforça musculatura periarticular e amplia mobilidade da articulação acometida. Fisioterapia motora -Medidas medicamentosas: visam exclusivamente controle da dor. Usa- se o paracetamol, e se ñ tiver resulta do os AINEs, e se ñ tiver resultado o tramadol. O corticóide intraarticular podem ser utilizados nos casos refratários (alívio da dor por 4-6 semanas) c/ período de intervalo trimestral (pois ↓ regeneração da cartilagemarticular). -Medidas cirúrgicas: A artroplastia total da articulação é reservada p/ pac c/ OA grave.