O JAPÃO

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O Japão
Aspectos gerais
1- Japão ocupa um arquipélago no “circulo de fogo” do oceano Pacífico, área onde há um encontro de placas tectônicas. Isso
explica a existência de vários vulcões em atividade naquele território, bem como a ocorrência de maremotos e terremotos
freqüentes. O terremoto mais violento ocorreu em 1923 e atingiu Tóquio, matando cerca de 140 mil pessoas.
2- O país é formado por um conjunto de aproximadamente quatro mil ilhas num território de 377.748 km². As quatro maiores e
mais importantes dessas ilhas correspondem a 97% do território japonês. São elas: Hokkaido, Honshu, Shikoku e Kiushu. Nesse
espaço relativamente reduzido – pouco maior que o estado de SP – e com amplas extensões montanhosas (cerca de 80% da
área total) vivem cerca de 127 milhões de habitantes. Esse fato explica a existência de elevadas densidades demográficas no
país.
2.1- As atividades econômicas mais importantes estão concentradas nessas quatro ilhas. Para encurtar a distância entre elas, a
engenharia japonesa construiu dois túneis e uma ponte entre Honshu e Kiushu. Entre Honshu e Shikoku, duas grandes pontes
também estão sendo construídas; um imenso túnel, com 54 km de extensão, liga Honshu e Hokkaido.
3- O país do extremo oriente, como era chamado pelos
europeus, não dispõe de muitos recursos naturais.
3.1- Cerca de 80% do território japonês apresenta relevo
montanhoso. As montanhas das ilhas Honshu, Shikoku e
Kiushu exibem uma vasta vegetação subtropical. A ilha de
Hokkaido é coberta de taiga. Essas condições permitiram
uma intensa utilização da madeira, até mesmo para a
construção de embarcações, casas, utensílios e artesanato.
3.2- Ao contrário do que ocorre nas outras potências
econômicas mundiais, o Japão não apresenta importantes
reservas de jazidas minerais, o que o leva a importar
praticamente todo o petróleo que consome, além de 92% do
ferro, 93% do manganês e 83% do cobre utilizados por suas
indústrias. Apesar disso, o país é superindustrializado – é a
segunda economia nacional do mundo, atrás apenas da
norte-americana - e possui um grande desenvolvimento
tecnológico.
4- O Japão desenvolveu uma agricultura altamente produtiva.
4.1- Embora a maior parte do território japonês apresente
relevo montanhoso, sua cultura mais característica e
tradicional é a rizicultura (cultivo de arroz). Da mesma forma
que em outros países do Leste e do Sudeste Asiático –
Tailândia, Filipinas, China, Indonésia e outros-, a rizicultura
japonesa é praticada na forma de agricultura de jardinagem,
o que significa que predominam as pequenas propriedades
rurais e, principalmente, que existe um intenso uso de mãode-obra. O arroz japonês é tido como o mais caro do mundo
e o produto importado é bem mais barato; essa atividade só
continua graças aos enormes subsídios governamentais, que
continuam a existir por causa da tradição da rizicultura e da
importância para a cultura japonesa em geral.
4.2- Há muito tempo o país também se dedica à pesca,
explorada simultaneamente por grandes e pequenas empresas. Pequenos portos para pesca são encontrados em toda a sua
área costeira, principalmente no litoral do Pacífico, cujas águas são mais piscosas. Devido ao grande consumo de peixes, o
Japão desenvolveu a técnica de reproduzir algumas espécies em reservatórios de água doce.
Desenvolvimento industrial
5- A industrialização ganhou seu primeiro impulso entre 1867 e 1912, na Era Meiji, período em que o Japão foi governado pelo
imperador Mutsuhito, que procurou modernizar o país.
5.1- Visando acompanhar o desenvolvimento tecnológico do mundo ocidental, o governo japonês já no século XIX começou a
investir na implantação de estabelecimentos industriais em todos os setores nos quais o capital privado não tinha condições de
atuar. Posteriormente, algumas dessas indústrias foram vendidas a baixo preço a empresários particulares. A venda de algumas
empresas estatais originou os Zaibatsu, verdadeiros monopólios que tiveram um grande desenvolvimento entre as duas guerras
mundiais, porque o governo japonês lhes proporcionou inúmeras vantagens e privilégios.
5.2- No final do século XIX, as empresas de materiais bélicos já desfrutavam de certos benefícios, pois o desenvolvimento da
industrialização japonesa até a 2ª Guerra Mundial tinha objetivos militaristas. Da mesma forma que a industrialização livrou o país
de qualquer dominação por parte de nações ocidentais, ela se constituiu também numa estratégia de expansão da área territorial
japonesa para o Extremo oriente.
5.3- graças à ajuda financeira recebida dos EUA após a guerra, a economia japonesa voltou a crescer rapidamente. Para isso, foi
de fundamental importância a manutenção da estrutura social tradicional, que permitiu o constante pagamento de baixos salários
para uma população extremamente disciplinada e movida pela idéia de que o principal objetivo de seu trabalhão era reerguer o
país.
5.4- Em outras palavras, a elevação da produtividade industrial foi obtida pela exploração da força de trabalho, ou seja, de baixos
salários, elevado número de horas de trabalho semanais, ausência de preocupação com as condições de trabalho nas fábricas,
etc. mas, a partir dos anos 1970, os níveis salariais e de consumo subiram bastante no Japão, que deixou de ser somente uma
economia voltada para atender ao mercado externo (para exportação) e passou a ser também uma importante sociedade de
consumo.
5.5- O comportamento abnegado do povo japonês pode ser explicado pela permanência de características da sociedade feudal,
baseada na obediência servil da classe subalterna a classe dominante.
6- A política trabalhista no Japão se apóia, entre outros, nos seguintes aspectos:
 As empresas recrutam os jovens para o trabalho assim que eles concluem seus cursos na Universidade ou em outra escola, e
uma vez contratados, geralmente permanecem na mesma empresa até se aposentar.
 É comum os filhos terem emprego garantido na empresa em que o pai trabalha, alguns até mesmo antes de nascer.
 O aumento de salário depende do tempo de serviço na empresa e da qualificação para o trabalho.
 Cada empresa procura ter seu próprio sindicato, que inclui tanto os trabalhadores quanto seus diretores.
 Em vez de acirrar os conflitos, lançando as empresas contra os trabalhadores (tal como ocorreu muitas vezes nos EUA e na
Inglaterra, onde o governo incentivou as firmas a se transferirem de regiões onde os salários eram maiores para outras áreas
com nível salarial mais baixo), o modelo japonês procura integrá-los com acordos que garantem não haver greves desde que os
salários subam no mínimo os índices da inflação (que são baixos).
6.1- Cabe destacar ainda o papel estratégico dos Estado no desenvolvimento industrial do Japão. Ao contrario dos EUA, onde o
governo sempre procurou não intervir na economia e deixar cada empresa fazer a sua política particular de investimentos ou
pesquisas, no Japão o governo procura coordenar a política industrial da economia nacional. O Estado japonês investe
pesadamente na educação publica de ótima qualidade (que garante mão-de-obra qualificada para as empresas) e na pesquisa
tecnológica e exerce ainda um papel ativo na conquista de mercados externos, na proteção à indústria nacional, etc.
6.2- O Japão apresentou, de 1955 a 1990, um extraordinário crescimento da produção industrial, com níveis acima dos obtidos na
Europa ocidental e nos EUA. A economia do Japão, na realidade, foi a que mais cresceu no mundo na segunda metade do
século XX, especialmente dos anos 1950 até o início dos anos 1990. Depois disso, contudo, o pais ingressou numa crise
econômica, com crescimento extremamente baixo ou, às vezes, até negativo. É o chamado esgotamento do modelo japonês.
6.3- A maior parte dos estabelecimentos industriais do Japão localiza-se na área litorânea, pois depende da importação de
matérias-primas. O desenvolvimento dessa poderosa concentração de indústrias no litoral explica o extraordinário movimento dos
diversos portos, os quais podem ser considerados verdadeiros complexos industrial-portuarios. Esses complexos também são
conhecidos como combinados, porque integram várias atividades industriais, como a indústria siderúrgica e a mecânica.
6.4- Algumas das grandes empresas japonesas encontram-se entre as maiores do mundo: Toyota, Nissan e Honda
(automobilísticas), Shin Nippon (Siderúrgica), Hitachi, Toshiba, Mitsubishi e Sony (eletrônicas), etc.
6.5- Internamente, destacam-se três grandes grupos, chamados zaikai: Mitsubishi, Mitsui e Sumitomo. Os dois primeiros são
excelentes exemplos da eficiente integração entre indústria, comércio e sistema financeiro.
6.6- Da poderosa industrialização japonesa depende a influência que o Japão exerce principalmente nas novas nações
industrializadas do Extremo Oriente e Sudeste da Ásia: Taiwan, Coréia do Sul e Cingapura, alem da importante cidade chinesa
de Hong Kong. Nessas regiões estão localizadas muitas de suas indústrias pesadas.
Espaço Industrial-urbano
7- Nas economias de mercado é comum o parque industrial ficar geograficamente concentrado. No Japão, essa característica é
agravada pelo fato de o país ser pequeno e estar localizado num arquipélago.
7.1- Considerando a elevada população desse país, sua concentração industrial atinge proporções alarmantes. Esse fato levou o
governo a tomar medidas para a descentralização do complexo industrial. Os resultados só se fizeram sentir a partir da década
de 1980, com a implantação de novos estabelecimentos industriais e a ampliação dos existentes fora das áreas de maior
concentração.
7.2- Como dissemos, a concentração industrial do Japão ocorre sobretudo nas zonas litorâneas, entre as baías de Tóquio, Isé e
Osaka, e o mar Interior (localizado entre o sudeste da ilha de Honshu e as ilhas de Shikoku e Kiushu). E aí que se encontram as
maiores e mais importantes indústrias de base e químicas, implantadas entre 1935 e 1975.
7.3- A região de Tóquio, a mais industrializada, é responsável por um terço da produção total do país. Embora apresente todos os
tipos de atividade industrial, nela sobressai a indústria mecânica. Na região de Osaka, que foi a primeira cidade a se
industrializar, destaca-se também a indústria mecânica. Já a região de Nagóia apresenta uma industrialização diversificada.
7.4- Essas três cidades – Tóquio, Osaka e Nagóia –, além de serem os maiores centros industriais do país, também são suas
principais metrópoles. Tóquio é a capital política, econômica e cultural. Sua área metropolitana possui cerca de 20 milhões de
habitantes.
7.5- A intensa relação entre Tóquio e Osaka, fruto de um processo de industrialização com forte intervenção do Estado, acabou
por centralizar grande parte da atividade econômica naquela porção do território. Isso levou ao surgimento de uma megalópe –
Tokaido, no eixo Kioto-Osaka-Nagóia-Tóquio -, onde se dá a maior concentração urbana do mundo contemporâneo. Aí vive mais
de 60% da população japonesa.
7.6- A partir da década de 1970, Tóquio reafirmou sua posição privilegiada, passando a sediar a maioria das grandes empresas
do setor de tecnologia de ponta e seus laboratórios de pesquisa. Mas aí se concentram também grandes problemas urbanos:
poluição de vários tipos, deficiências no transportes, especulação imobiliária, infra-estrutura deficitária, principalmente quanto ao
abastecimento.
Impasses da atualidade
8- O Japão atualmente enfrenta dois grandes desafios: tornar-se uma grande potencia mundial, juntamente com os Estados
Unidos, a UE e talvez a China, e voltar a ter um bom crescimento econômico. Para ser considerado uma grande potencia – não
apenas econômica, mas também político-militar – falta ao Japão o desenvolvimento das forças armadas. Existe um impedimento
para que o Japão tenha um efetivo poder militar, imposto pelos Estados Unidos, que o derrotaram no fim da Segunda Guerra
Mundial, em 1945, e administraram esse país durante alguns anos. Os Estados Unidos temiam o rearmamento do Japão e a volta
da política expansionista da primeira metade do séc. XX. Mas, afinal de contas, esse impedimento acabou sendo benéfico para o
Japão, pois, proibido de investir na indústria bélica, ele investiu seus recursos na modernização industrial, fato que ajuda a
explicar seu acelerado crescimento econômico na segunda metade do séc. XX.
8.1- O fim da Guerra Fria e da disputa entre o capitalismo e o socialismo teve repercussões negativas no Japão. Os Estados
Unidos estavam acostumados a ver no Japão um aliado contra o comunismo e não se importavam em ter freqüentes déficits
comerciais com esse país asiático, o que já não ocorre. Assim, o governo norte-americano passou a cobrar do Japão maiores
importações de seus produtos, além de não se importarem mais com os gastos do Japão com o setor militar, que agora são até
mesmo incentivados. Nesse sentido, os japoneses que exercem certa influencia na Ásia e na Oceania e acabaram se tornando a
segunda economia nacional do planeta, iniciaram recentemente e com cautela uma política de maiores gastos na área
armamentista.
8.2- A cautela se explica porque os japoneses sabem que esses gastos atrapalham a economia civil, enfraquecendo o seu ritmo
de crescimento. No entanto, é o fato que toda potencia econômica acaba se transformando numa potencia militar. Toda potencia
econômica mundial tem interesses a preservar no restante do mundo, e há ocasiões em que o uso da força militar se torna
necessário. Por exemplo: se os Estados Unidos não tivessem liderado uma guerra contra o Iraque em 1991, pela libertação do
Kuwait (que tinha sido invadido no ano anterior pelas tropas iraquianas), o preço do petróleo teria aumentado bastante, o que
prejudicaria as grandes potencias mundiais. E convém não esquecer que o Japão é mais dependente de petróleo e outras
matérias-primas que os demais países desenvolvidos, pois seu território é pequeno e pobre em recursos naturais. Esse fato
mostra a necessidade de o Japão ter um forte sistema de defesa, principalmente com a crescente militarização chinesa, seu
tradicional rival na Ásia.
8.3- Outro grande desafio do Japão é voltar a ter uma economia que cresça rapidamente. O seu modelo de desenvolvimento se
esgotou no inicio dos anos 1990 e necessita de reformas urgentes. Basicamente, a economia japonesa precisa deixar de voltarse para fora (exportação) e se voltar para o mercado interno.
8.4- De fato, o grande segredo do enorme desenvolvimento japonês foram as exportações, as maiores do mundo durante
décadas, que inundaram o mercado mundial com automóveis, produtos eletrônicos, relógios, etc. O Japão chegou a ter a maior
indústria automobilística do mundo nos anos 1980, dispondo de menos da metade da população dos Estados Unidos. A maior
parte dessa produção japonesa era exportada. 30% de todos os carros vendidos naquela época eram japoneses, mas isso
começou a mudar a partir do final dos anos 1980, por vários motivos.
8.5- 1º, os demais países industrializados começaram a copiar, adaptar e até aperfeiçoar certos métodos japoneses de produzir
com maior qualidade e menores custos. Os automóveis dos Estados Unidos hoje, por exemplo, tem a mesma (ou superior)
qualidade e os mesmos preços que os japoneses. Logo, houve um reerguimento da indústria dos Estados Unidos e uma perda
relativa do mercado para os carros japoneses. E o mesmo ocorreu com os outros produtos. Houve uma modernização nas
indústrias de outros países e hoje a vantagem japonesa não mais existe.
8.6- Segundo, surgiram competidores importantes para as exportações japonesas. Inicialmente foram os Tigres Asiáticos. Eles
não incomodaram muito até os anos 1980, na medida em que exportavam produtos em que o Japão estava deixando de lado,
tais como tecidos e roupas, brinquedos, etc. Mas, a partir dessa década, eles passaram a exportar também automóveis,
motocicletas e produtos eletrônicos e outros produtos básicos para a economia japonesa. E também a China entrou na
competição a partir dos anos 1980, com uma força de trabalho fortíssima e disciplinada, matérias-primas abundantes e baratas e
que recebeu grandes investimentos estrangeiros nessa década e começou a se tornar um dos maiores exportadores mundiais de
equipamentos eletrônicos.
8.7- A economia japonesa enfrentou também reivindicações dos demais países industrializados, especialmente dos Estados
Unidos, que compravam muito desse país e vendiam a ele pouco. Para esses países, o Japão deveria exportar mais do resto do
mundo. Para continuar muitos automóveis aos Estados Unidos, o Japão consentiu, algo difícil, devido ao grande nacionalismo
japonês, acostumada a preferir os produtos nacionais, mesmo quando mais caros. Essa é uma questão ainda não resolvia, pois o
Japão não consegue aumentar muito o consumo de produtos estrangeiros. Mas, sem isso, ele dificilmente voltará a ter seus
produtos aceitos nos principais mercados mundiais.
8.8- Por fim, a economia japonesa precisa deixar de depender tanto do mercado externa, voltando-se mais para o mercado
interno. Entretanto, a população japonesa não é tão grande quanto a dos Estados Unidos ou a européia, e, em média, um
japonês consome bem menos que um norte-americano, o que significa que o Japão é um mercado consumidor bem menor que
os Estados Unidos.
8.9- Se, por um lado, a poupança de uma parte da rendas das pessoas é algo positivo, por outro lado o excesso de poupança é
negativo, pois limita o consumo e a produção, como ocorre no Japão. Com a diminuição das exportações para o resto do mundo,
o objetivo agora é expandir o mercado interno, para vender no próprio país aquela imensa produção que era em grande parte
exportada no início dos anos 1990.
Atividades
I- Qual a importância histórica da rizicultura para a sociedade japonesa? Relacione esse fato com as resistências do Japão à
importação de arroz estrangeiro, que tem preços bem menores.
II- Você acredita que a luta milenar contra um meio físico hostil pode ter contribuído para desenvolver a mentalidade laboriosa e
paciente do povo japonês? Justifique.
III- Explique quais são os impasses ou problemas atuais do Japão.
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