A anamnese deve seguir o modelo adotado na

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Anamnese: alguns comentários
A anamnese deve seguir o modelo adotado na instituição. Ele deve ser visto
como um roteiro, uma referência e deve ganhar uma particularidade
dependendo do paciente e do contexto em que ele é atendido. Não se deve
procurar responder necessariamente (e a qualquer custo) a todos os itens do
roteiro num primeiro momento.
É interessante registrar as palavras iniciais dos pacientes quando descrevem
o motivo que os trouxe ao hospital ou a uma determinada consulta. Sugiro
que ao paciente seja permitido falar livremente por algum tempo sem
interrupção. Poucos minutos podem ser suficientes para que ele delineie
suas idéias. Três exemplos: 1) No consultório (psiquiátrico) numa primeira
consulta um paciente me disse: “Dependo de um Diazepam de 5 mg no
café da manhã há 40 anos”. 2) Um outro: “Tenho uma coceira insuportável
de fundo emocional”. 3) Outro: “Dr. Fulano achou que eu deveria vir aqui
conversar com o Sr. mas eu não vejo a menor necessidade, meu problema é
que eu tenho colite”.
Na identificação procurar indagar sobre o grau de instrução, estando atento
para se o paciente sabe ler. Um número expressivo de nossos clientes tem
grande dificuldade de compreender o que lhes dizemos e o que lhes
recomendamos por escrito (e em muitos nossa letra não ajuda nada!) Outro
ponto que deve merecer atenção é a situação profissional. O paciente
trabalha, está de licença, aposentado, desempregado e há quanto tempo?
Como é composta a renda familiar?
Com relação a filhos, irmãos e pais indagar a idade e como se vincula a
eles. Procure saber se ele mantém contato regular com eles e se pode contar
com seu apoio (ou é fonte de apoio) em momentos de dificuldade. O apoio
familiar é muito importante para todos os indivíduos, e crucial para os mais
velhos e aqueles com doenças mais graves. Caso não conte com apoio da
família o paciente dispõe de outros suportes na comunidade?
Na HDA é importante registrar as circunstâncias em que se deu a
internação e quando ela ocorreu ( um mês, quinze dias, quatro dias antes da
entrevista?).
*** Procure sempre investigar as concepções que o paciente tem sobre sua
doença e seu tratamento. Essas informações são muito importantes para que
você possa compreender a atitude e o comportamento do paciente que
favorecem ou dificultam sua cooperação e adesão as nossas orientações. Na
medida em que ele nos revela o que pensa sobre seus problemas clínicos,
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podemos e devemos expor nossas idéias sobre sua doença e a terapêutica
que lhe está sendo proposta. É muito difícil um paciente revelar claramente
o que pensa e o que faz em relação a seu tratamento para o médico ou o
estudante de Medicina. Uma grande proporção dos nossos clientes não
segue integramente o que lhes propomos seja por não concordarem, por
não compreenderem, por não disporem de recursos financeiros, por não
disporem de tempo, de disposição, de equilíbrio emocional entre outros
fatores. Só uma boa relação com nossos pacientes vai nos permitir ter
conhecimento desses fatores o que vai contribuir para o sucesso do
tratamento.
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***Em toda avaliação de um paciente é imprescindível estar atento a como
ele está emocionalmente. Está ansioso, tenso, assustado, desconfiado,
desanimado, apático, calmo, alegre, eufórico, indiferente, confiante,
irritável, cooperativo? Esse registro é relevante porque entre outras coisas
ele pode variar dentro de uma mesma internação ou através do tempo, e é
importante acompanhar o que se passa com o paciente e em sua vida. É
evidente que não basta constatar que o paciente está calmo ou ansioso, mas
compreender porque, e para isso alguma atenção deve ser dispensada a esse
tópico. Devemos procurar aos poucos nos inteirarmos de como ele vem
vivendo sua vida, qual o padrão de seu comportamento, como tende a se
relacionar com as pessoas e como ele costuma reagir perante os problemas
que enfrenta. Mudanças de comportamento devem ser registradas e
compreendidas. Podemos estar diante de pacientes com problemas
familiares, com conflitos na relação com membros da equipe de saúde,
apresentando reações emocionais à doença ou ao tratamento, com quadros
mentais secundários a doença clínica (por exemplo, o Delirium ou mesmo
alguns quadros depressivos), efeitos adversos mentais dos medicamentos
ou com transtornos mentais mais ou menos graves (que aos poucos vocês
estão conhecendo). Quando cursarem a Psiquiatria vocês aprenderão a
fazer um exame psíquico mais específico, porém a história da pessoa é
sempre indispensável.
*** É muito importante estarmos atentos para o que sentimos quando
atendemos alguém, a rigor em qualquer encontro humano as emoções são
um componente essencial e determinante do rumo que as relações tomam.
Os sentimentos podem variar muito de um paciente para outro, durante o
mesmo atendimento ou no curso de um acompanhamento. Observem e
reflitam sobre seus sentimentos buscando compreender ao que podem estar
associados. Estejam atentos ao que chamamos de linguagem não-verbal, ao
que o paciente e nós mesmos transmitimos pelas nossas expressões faciais,
tom e ritmo da fala, postura e gestos. De certa forma esse tipo de
comunicação é tão importante quanto o que é expressado pelas palavras.
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Uma pessoa pode nos dizer que está bem (ou compreendendo tudo que lhe
está sendo dito) e transmitir exatamente o oposto pela sua expressão facial
e corporal, e isso deve ser considerado.
Acompanhantes
O papel dos acompanhantes no tratamento de nossos pacientes é muito
variável. Alguns ajudam muito e outros criam muitas dificuldades. Certos
pacientes dependem demais de seus acompanhantes devido a seu estado.
Muitas vezes os acompanhantes são imprescindíveis para a obtenção de
uma boa anamnese. Em outros casos criam uma grande barreira entre o
paciente e nós, resistindo a aceitar que tenhamos contato direto e privado
com o paciente. Em outras situações eles têm que ser alvo de uma atenção
especial devido a seu desgaste físico e/ou emocional. Precisamos em
algumas circunstâncias convocá-los ativamente para tentar uma
reaproximação entre os pais e os filhos, entre um casal, entre irmãos etc. já
que a situação requer que eles estejam mais presentes na vida de nossos
pacientes.
Disciplina de Psicologia Médica
Prof. Maurício Tostes
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