1 SOCIEDADE BRASILEIRA DE TERAPIA INTENSIVA-SOBRATI MARIA JOSÉ BANDEIRA PAZ CUIDADOS DE ENFERMAGEM NO TRANSPORTE INTRA E INTERHOSPITALAR DO PACIENTE CRÍTICO ADULTO JOÃO PESSOA/PARAÍBA 2013 2 MARIA JOSÉ BANDEIRA PAZ CUIDADOS DE ENFERMAGEM NO TRANSPORTE INTRA E INTERHOSPITALAR DO PACIENTE CRÍTICO ADULTO. Dissertação apresentada ao Mestrado da SOBRATI, como parte dos requisitos para a obtenção de título de Mestre. Prof ª.Msc Sara Machado Miranda JOÃO PESSOA 2013 3 SUMÁRIO I- INTRODUÇÃO II- OBJETIVOS III- METODOLOGIA IV- CONCLUSÃO V- JUSTIFICATIVA REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 4 9 9 9 10 4 1-INTRODUÇÃO O local mais seguro para o paciente crítico é a Unidade de Terapia Intensiva, monitorado e conectado a ventiladores sofisticados, com todos os parâmentos ventilatórios, bombas de infusão que correm tranquilamente, supervisionado continuamente por um enfermeiro ¹. Caso ocorra alguma intercorrência com esse paciente uma equipe bem treinada, formada por médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem e fisioterapeutas atuará em conjunto, tendo todo o equipamento necessário ao alcance. Porém, existem situações em que o paciente terá que deixar esse local seguro, considerando que o objetivo maior é melhorar o seu prognóstico, necessitando de recursos que nem sempre estão disponíveis na Unidade de Terapia Intensiva ou mesmo na Instituição em que se encontra². Com o avanço tecnológico alguns exames como a ultrassonografia, o ecodoppler, o raio X, assim como alguns procedimentos, como a punção venosa profunda, as passagens de cateteres de múltiplos lumens, a traqueostomia ou as drenagens, podem ser realizadas à beira do leito. No entanto, outros recursos como a tomografia, a ressonância magnética e a angiografia, procedimentos cirúrgicos mais complexos, requerem a transferência do paciente para setores específicos. A decisão de transferência deverá ser do médico que levará em consideração os riscos e benefícios desse transporte a ser utilizado³. A freqüência de transporte intra-hospitalar para pacientes internados em terapia intensiva varia entre 22,5% a 52,4%, sendo que os pacientes cirúrgicos apresentam uma freqüência maior de transportes do que os pacientes clínicos (55% versus 45%) por necessitarem de múltiplos diagnósticos4. O transporte interhospitalar somente deverá ser realizado quando as necessidades do paciente suplantarem os recursos do hospital e, nessa situação, a estabilização do paciente, o preparo para o transporte e o contato com o hospital de destino serão fundamentais para que não haja complicações que piorem o prognóstico do paciente5. Atualmente não é raro nos depararmos com a necessidade de transportes por motivos administrativos (limitações de convênios e seguros-saúde, lotação do hospital) e/ou financeiros. Nessas situações, o paciente só deverá ser transportado 5 se estiver estável e o médico-assistente seguro de que o hospital de destino poderá prover e manter todos os recursos necessários6. O número de transporte inter-hospitalares tem crescido devido à regionalização de hospitais terciários que possuem serviço de Terapia Intensiva e recursos diagnósticos complexos. O processo pelo qual o médico identifica os pacientes que se beneficiarão do transporte ainda é desconhecido, embora existam vários protocolos sobre a transferência de pacientes politraumatizados para centro de traumas. AVALIAR AS CONDIÇÕES DO PACIENTE GRAVE ESTÁVEL INSTÁVEL EVITAR TARNSPORTAR AVALIAR NECESSIDADES DA TRANSFERÊNCIA . HÁ RECURSOS DISPONÍVEIS? RISCOS E BENEFÍCIOS DA TRANSFERÊNCIA AVALIAR RECURSOS: - INICIAR O TRANSPORTE. - DISTÂNCIA; - SE NECESSÁRIO: CONTER O PACIENTE; SEDAR OU - GRAVIDADE DO PACIENTE; -CONDIÇÕES DO TRANSPORTE. - MANTER USO DE MEDICAÇÕES PRESCRITAS. - PLANEJAMENTO; - SEGUIR PRONTUÁRIO. - COMUNICAÇÃO; - DISPONIBILIDADE DA EQUIPE; - PREPARO DO PACIENTE; AO TÉRMINO: - CHECAR DRENOS, SONDAS, ACESSOS VENOSOS; - AVALIAR A TRANSFERÊNCIA PARA MELHORAR A QUALIDADE; - - ESTABILIZAR O PACIENTE. DISPONIBILIZAR PARA USO Recomenda-se a TRANSPORTE; MEDICAÇÃO DURANTE O comunicação entre o hospital/unidade de origem com o hospital/unidade de destino e que seja feita entre as equipes, de médico para 6 médico, enfermeiro para enfermeiro e fisioterapeuta para fisioterapeuta 7 . A equipe de origem deverá certificar-se de que os recursos (humanos e técnicos no hospital/unidade destino) estão disponíveis para o paciente que será transferido. O médico deverá ainda, preparar um relatório minucioso sobre a história, os exames e as condutas tomadas até o momento, no sentido de se evitar a perda de informação ou o desperdício de recursos, como, por exemplo, repetir um exame já realizado8. Quanto a escolha do transporte, seja intra ou inter-hospitalar para o atendimento do paciente crítico adulto, a decisão deve ser do médico. A transferência deverá ser realizada por uma equipe treinada para tal e preparada para as possíveis complicações e a respectiva conduta que deverá ser tomada, pois o prognóstico do paciente durante o transporte depende em grande parte, da tecnologia empregada e da experiência da equipe disponível para realizá-lo. Tipos de Transportes: Terrestres, aéreos, aquáticos ou marítimos. Quando o quadro clínico do paciente exigir uma intervenção rápida e as condições de trânsito tornem o transporte terrestre muito demorado, ou para percorrer grandes distancias em um intervalo de tempo aceitável, diante das condições clínicas do paciente é recomendável o transporte aéreo. A operação deste tipo de transporte deve seguir as normas e legislações específicas vigentes do Comando da Aeronáutica através do Departamento de Aviação Civil (DAC) e da Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC). O serviço de transporte aeromédico deve estar integrado ao sistema de atendimento pré-hospitalar e à Central de Regulação Médica de Urgências da região e deve ser considerado sempre como modalidade de suporte avançado de vida. Levar em consideração as condições e os critérios clínicos do paciente8. Caso seja feita a opção pelo transporte aéreo por helicóptero, checar se o hospital de destino possui heliponto, se o mesmo é homologado, se está ativo e se é seguro. Ao decidir-se pelo transporte aéreo por avião, o médico deve está ciente que, após o pouso no aeroporto, o paciente deverá ser encaminhado, via terrestre (ambulância) ou aérea (helicóptero), para o hospital do destino. Antes da decolagem, o médico deve checar se os recursos para o transporte do paciente no 7 destino estão disponíveis. É importante que cada hospital estabeleça uma rotina de transporte, incluindo o preenchimento da documentação, a autorização do paciente e/ou família e o registro da equipe de transporte, lembrando que é de responsabilidade do médico do hospital de origem a decisão sobre qual o tipo de transporte será necessário (terrestre ou aéreo), e também o recurso (suporte básico ou avançado). Obviamente, que, em se tratando de paciente crítico, o recurso deverá ser sempre avançado. No Brasil, uma equipe de suporte avançado sempre será composta por um médico e um auxiliar (que poderá ser um enfermeiro, um técnico de enfermagem ou ambos). Nos Estados Unidos e em alguns países europeus, existe a possibilidade de o recurso avançado ser composto por enfermeiro especialista ou terapeuta respiratório e não por um médico. Lembrar que estudos realizados constataram que a incidência de complicações durante o transporte foi maior em ambulâncias sem médico9. Com relação à distancia do hospital destino, quanto menor o tempo de deslocamento, menores as chances de complicações ou iatrogenias. Deve-se levar em conta que em grandes altitudes, embora as aeronaves sejam pressurizadas, as moléculas gasosas se expandem. Pacientes com pneumotórax, doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), síndrome de angústia respiratória do adulto (SARA) ou que estejam sendo ventilados com pressão expiratória final elevada (PEEP), deve ser transportado com cautela e devem ser levados em consideração os benefícios do transporte aéreo versus terrestre, desde que as distâncias assim o permitam10. Logo após a decisão do transporte, deve ser iniciado imediatamente o preparo do paciente, levando em consideração o tipo de transporte. Para transportes aéreos, se houver suspeita clínica de pneumotórax, mesmo na impossibilidade da confirmação diagnóstica por meios de exames radiológicos, este deverá ser obrigatoriamente drenado, se a previsão for de um transporte prolongado, deve-se proceder à passagem de sondagem vesical, assim como a sondagem nasogástrica. O posicionamento e a fixação de tubos, de acessos venosos, de sondas e de cateteres devem ser checados. Deve-se avaliar as condições respiratórias do paciente. Caso haja instabilidade ou esteja em insuficiência respiratória, o paciente deverá ser entubado antes do transporte. A mesma regra vale para pneumotórax 8 pequeno que supostamente teria tratamento clínico, pois a deterioração gradual poderá passar despercebida pela equipe. Outra peculiaridade é o conteúdo dos cuffs (balonetes), para evitar que se rompam durante o transporte aéreo, principalmente em aviões. A desaceleração durante o pouso e a aceleração nas decolagens causam, momentaneamente, o aumento da pressão intracraniana11. Todos os pacientes que serão transportados devem receber, pelo menos, uma monitoração básica, que inclui no mínimo: - Oximetria de pulso; - Monitoração cardíaca contínua; - Medida periótica da pressão arterial (PA) e da freqüência cardíaca (FC) e respiratória. As complicações relacionadas ao transporte são definidas como um evento inesperado ou mal planejado. São exemplos: - Instabilidade hemodinâmica; - Extubação endotraqueal; - Parada cardíaca; - Pneumotórax; - Acidente vascular cerebral; - Arritmias. A mais comum é a falha no controle das funções cardiorespiratórias e a instabilidade fisiológica com prejuízo da oxigenação tecidual. Essas alterações fisiológicas nem sempre estão correlacionadas a erros técnicos, podem ser resultantes de alterações respiratórias e cardíacas oriundas do movimento do paciente durante o deslocamento do veículo ou da maca. 9 Existem três tipos de complicações: as fisiológicas, as técnicas e as humanas, as quais podem ser prevenidas, por meio de um bom preparo do paciente e organização da equipe. Das complicações 54% são devidas à falha humana8. II- Objetivos: Geral: Avaliar por meio de uma revisão de literatura os riscos e/ou benefícios do transporte de pacientes críticos. Específicos: Reconhecer a importância da comunicação entre os elementos relacionados ao transporte intra e inter-hospitalar; Entender as complicações relacionadas ao transporte de pacientes críticos. III- Metodologia Trata-se de uma revisão bibliográfica sobre o cuidado de enfermagem no transporte intra e inter-hospitalar do paciente crítico. Foram utilizados textos literários e artigos bibliográficos relacionados ao tema nas bases de dados do LILAC´S, Scielo ,Bireme e BVS. A análise desses artigos ocorreu no período de janeiro à dezembro de 2012. Como critérios de exclusão foram retirados os artigos envolvendo crianças e também artigos publicados anteriores ao ano 2000. IV- Conclusão Vários estudos literários demonstraram mudanças terapêuticas e alterações fisiológicas relacionadas ao transporte de pacientes críticos. A decisão de transportar ou não um paciente, deve levar em consideração não somente as necessidades diagnósticas, controle ou de tratamento, mas principalmente as características do paciente, o nível de treinamento da equipe, os tipos de transportes, o tempo, os recursos necessários e os aspectos técnicos e 10 organizacionais dos hospitais de origem e/ou destino. O planejamento, a comunicação, o conhecimento e o uso de técnicas adequadas durante o transporte, com certeza darão resultados esperados, sem prejuízos para o paciente, melhorando o seu prognostico. V- Justificativa O trabalho em UTI, local de maior concentração de pacientes graves que necessitam de monitoração contínua e a necessidade cada vez mais de transferência de pacientes, despertam a necessidade de um conhecimento especifico, direcionado ao transporte de paciente, seja para fins terapêuticos ou diagnósticos, objetivando a otimização, a estabilidade, o conforto, a segurança e a melhoria do prognóstico. Tais situações levaram-me a aprofundar o estudo sobre o assunto. As revisões literárias selecionadas mostraram que equipes bem treinadas, a escolha do transporte adequado, o planejamento criterioso e a comunicação entre as instituições envolvidas, mostraram que os benefícios sobrepõem aos riscos, diminuindo as complicações e as morbimortalidades advindas de causas fisiológicas, técnicas ou humanas. 11 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1Botani, Fernando Antonio PROAMI: programa de atualização em medicina intensiva: organizado pela Associação de Medicina Intensiva Brasileira, Antonio Fernando Botani, Fernando Suporregui Dias – Porto Alegre: Artemed, Panomericana, 2011. 2 Audebert HJ, Clarman von Clarenau S, Schenkel J, Furts A, Ziemus B, Metz C, et ai. Problems of emergency transfers of patients after a stroke. Results of a telemedicine pilot project for integrated stroke accommodation in southeasta Bavaria (TEMPIS). Dtsch Med Wochenschr. 2005; 130(44):2495-500. 3 Brasil. Ministério da Saúde. Portaria n. 2.048/GM, de 05 de novembro de 2002. Normatiza o serviço de atendimento pré-hospitalar móvel. Estabelece regras que vão desde as especializações da equipe médica até as características dos veículos e os equipamentos a serem utilizados nas ambulâncias. Brasília, DF: Ministério da Saúde; 2002. 4 Alfaro-Léfevre R. Aplicação do processo de enfermagem: um guia passo a passo. Porto Alegre (RS): Artes Médicas; 2002. 5 Barroso MGT. Cuidado humano, ética e tecnologia: reflexão teórica. In: Anais do 56o Congresso Brasileiro de Enfermagem; 2004 Out 24-29; Gramado, Brasil. Brasília (DF): ABEn-Nacional; 2005 [acesso em 2005 Abr 25]. Disponível em: http://bstorm.com.br/enfermagem 6 Garcia TR, Nóbrega MML. Sistematização da assistência de enfermagem: reflexões sobre o processo: livro resumo. In: Anais do 52o Congresso Brasileiro de Enfermagem; 2000 Out 21-26; Recife, Brasil. Recife (PE): Associação Brasileira de Enfermagem; 2000. p.680. 7 Inaba LC, Silva MJP, Telles SCR. Paciente crítico e comunicação: visão de familiares sobre sua adequação pela equipe de enfermagem. Rev Esc Enfermagem USP. 2005; 39(4): 426-9. 8 Beckmann U, Gillies DM, Berenholtz SM, Wu AW, Pronovost P. Incidents relating to the intra-hospital transfer of critically ill patients. An analysis of the reports 12 submitted to the Australian Incident Monitoring Study in Intensive Care. Intensive care Med. 2004;30(8):1579-85. 9 Ligtenberg JJ, Arnold LG, Stienstra Y, van der Werf TS, Meertens JH, Tulleken JE, ET AL. Quality of interhospital transport ofr criatically ill patients: a prospective audit. Crit Care. 2005;9(4):r446-51. 10 Brasil. Ministério da Saúde. Resolução CFM n. 1.672, de 2003. Dispõe sobre o transporte inter-hospitalar de pacientes e dá outras providências. Brasília, DF: Ministério da Saúde; 2003. 11 Santos KMAB. Percepção dos profissionais de saúde sobre a comunicação com os familiares de pacientes em UTIs e análise proxêmica dessas interações [tese]. São Paulo: Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo; 2004.